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Gestão das infestantes do arroz: Orivárzea - Orizicultores do Ribatejo, S.A. .Relatório de Estágio

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Academic year: 2021

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Gestão das Infestantes do Arroz

Orivárzea – Orizicultores do Ribatejo, S.A.

Pedro da Veiga Mègre Pacheco

Relatório de Estágio para a obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Agronómica, especialidade em Protecção de Plantas

Orientador: Prof.ª Doutora Ana Maria da Silva Monteiro

Coorientador: Eng.º José Rodolfo Castro Pinto

Júri:

Presidente: Professora Doutora Maria José Antão Pais de Almeida Cerejeira, Professora Associada com Agregação, Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa.

Vogais: Professora Doutora Ana Maria da Silva Monteiro, Professora Auxiliar com Agregação, Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa.

Professor Doutor João Martim de Portugal e Vasconcelos Fernandes, Professor Adjunto, Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Beja.

Doutora Isabel Maria Silva Monteiro Miranda Calha, Investigadora Auxiliar, Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária.

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2 AGRADECIMENTOS

À Profª Doutora Ana Monteiro, por ter aceitado orientar este relatório de estágio, pela simpatia, pela disponibilidade e pelo interesse demonstrado.

Ao Engenheiro Rodolfo Pinto, por me ter seleccionado para realizar o estágio na Orivárzea, por todo o conhecimento que me transmitiu, pela boa disposição, por aceitar os meus erros numa perspectiva de melhorar todos os dias.

À Profª Doutora Sara Amâncio, por me ter convidado a participar num estudo na área do arroz, tendo influenciado o início da minha vida profissional.

Aos agricultores e arrozeiros da Orivárzea, por tudo o que me ensinaram, pelos sermões após falhas cometidas, pelas conversas, pelas histórias partilhadas. Um especial agradecimento ao Sr. Eusébio Domingos e ao Sr. Orlando Silva.

A todos os trabalhadores da Orivárzea por me fazerem sentir muito bem-vindo desde o primeiro dia, por me fazerem sentir que faço parte da “família Orivárzea”.

À Engenheira Carla Rocha, por me ajudar sempre, pelo que me ensina, pelas conversas, por ser quem é.

A todos os professores do ISA que, de diferentes formas, contribuíram para a minha formação.

À Maria João, por toda a ajuda que me dá diariamente, por me fazer rir quando as coisas estão complicadas.

À minha afilhada Carolina Palma, por me fazer sentir que tive alguma influência no gosto que tem pela agronomia.

À Mónica. Apesar de tudo o que se passou, foste muito importante para mim. À Vânia, pelos bons momentos, pelo carinho, pela cumplicidade que houve. Ao Nuno, por seres o amigo que és, pela constante parvoíce, pelas discussões, pelas tardes e noites bem passadas. Sem ti não tinha sido a mesma coisa.

À Martinha, à Rita, ao Pinto, ao João, ao Gasparinho e ao David, pela companhia, pela amizade, pelo vinho, por me mostrarem que as tradições académicas estão vivas no ISA, por sermos um grupo brutal.

À Marta Camões, pelo companheirismo, pela maluquice, pelas conversas, pela política, pela humildade, por me fazeres pensar, por seres tu.

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À minha irmã. Sempre foste um exemplo para mim. Quero-te agradecer por me ouvires sempre que preciso, por seres muito diferente de mim, dando-me algum equilíbrio, pelo que me mostraste ao longo da vida, por estares sempre de braços abertos, pelas brincadeiras, por te importares comigo. És muito importante para mim.

Aos meus pais por serem quem são, por todo o apoio que me deram ao longo da vida, por apoiarem as minhas escolhas sem deixarem de dar a opinião. Obrigado pela educação que me deram e pelas oportunidades que me proporcionaram. É a vocês que dedico este trabalho de final de mestrado.

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4 RESUMO

Este trabalho teve como objectivo principal descrever as actividades desenvolvidas ao longo do estágio profissional realizado na empresa Orivárzea, S.A., designadamente as actividades relacionadas com a gestão de infestantes em arroz. Desta forma, é apresentada uma breve descrição do ciclo cultural do arroz, do sistema de produção e das principais infestantes que surgem na área geográfica dos orizicultores da Orivárzea, e que originam tratamentos herbicidas.

A Orivárzea produz arroz lote geral, diferenciando o arroz destinado à alimentação infantil, e arroz semente. As operações culturais apresentam-se idênticas independentemente do destino do arroz, no entanto, existem determinadas exigências de mercado que têm que ser acompanhadas da implementação de algumas práticas no campo. O arroz para a alimentação infantil obriga à não aplicação de determinados herbicidas, e a produção de arroz semente obriga à monda manual no final do ciclo cultural, minimizando a contaminação com sementes de infestantes.

Este trabalho culmina na apresentação de um guia prático para o orizicultor, no que respeita à gestão química das infestantes do arroz.

PALAVRAS-CHAVE

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5 ABSTRACT

The present work had as main objective the description of all the activities developed during the professional internship in Orivárzea, S.A. In detail, it reportes the activities concerning weed management in rice fields. It is presented a short description of the rice cycle, the production system and the main weeds that appear in Orivárzea´s rice farmer’s area.

Orivárzea produces rice for direct consumption, producing rice specifically for child consumers, but also rice for seeding. The cultural operations are very similar, however, there are different requirements depending on the rice destiny. Those requirements influence directly the operations in the field, demanding a proper weed control management. Child´s rice production, specifically, does not allow the use of some herbicides and in other hand, rice´s seed production demands an extra operation at the cycle´s end, ensuring weed seeds absence in the harvested rice.

This work ends with a practical guide for rice farmers, concerning to weed chemical control management.

KEY WORDS

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6 EXTENDED ABSTRACT

This report, carried out during a professional internship at Orivárzea (Ribatejo region), describes all the activities carried out during 2014´s rice campaign.

Orivárzea is a rice farmers´ company founded in 1997 when ten of the most important producers decided to get together to face the constant sector instability. This structure allowed the concentration of several steps of the production and post-harvest processes in the rice industry, resulting in economic benefits to its farmers. This concept worked out so well that today the company unites 51 rice farmers, including Orivárzea itself, in an area of five thousand hectares.

The weed management is an extremely important component in rice crop, making the difference between high productions and good quality harvested rice and poor productions infested with weed seeds. For this reason this report focuses on the different infestation levels and on the tools that rice farmers can use for the best weed control, specifically the chemical control. Weed species belonging to Echinochloa spp. are the most challenging because of its development similarities to the culture. However we can not ignore others as Alisma plantago-aquatica, Alisma lanceolatum, Schoenoplectiella mucronata, Cyperus difformis, Bolboschoenus maritimus and also a Oryza sativa primary subspecies (red rice). There are others easily controlled with the herbicides in the market however it is important to refer that weed species as Heteranthera rotundifolia are becoming a problem in some fields.

At the moment, in result of constant prohibitions from the European Union, there is now a small group of herbicides that farmers can use in rice crop. For this reason, the knowledge of the rice and weeds’ life cycle is very important to understand the right moment for herbicide application. The information about problems and herbicides used in a certain field is also very important for the right management and to avoid resistance development. If the farmer is applying the same herbicide for several years, it is imperative to change to a product with a different mode of action. At Orivárzea, we battle every day to transmit this idea to our farmers: herbicides change and application in right dosage is essential to avoid future problems.

The weeds’ management has some differences depending on the harvested rice’s destiny. Orivárzea produces rice for general consumers, for child consumers and also produces rice for seeding. All of them respect integrated weed management however there are some limitations and extra operations relating to the two last ones, respectively. In rice production for child consumers the farmer cannot use herbicides that leave residues considered dangerous. In 2014´s campaign the only commercial product with this potential was quincloraque (Facet® SC), used only with DGAV (Direcção Geral de Agricultura e Veterinária) authorization. The rice seed production

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goal is to obtain a harvested material free of weed seeds. For this reason it demands an extra operation at the end of rice cycle, manual weeding.

Considering the close work developed with Orivárzea´s farmers and being aware of their concerns, this report culminates with a practical guide for herbicides’ use, crossing information about rice development stages and weeds. This guide pretends to give an idea of application times and herbicide mixtures allowed but the technical support is always necessary. The weed problems are not linear and fixed, each situation is different.

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8 ÍNDICE AGRADECIMENTOS ... 2 RESUMO ... 4 ABSTRACT ... 5 EXTENDED ABSTRACT ... 6 LISTA DE QUADROS ... 10 LISTA DE FIGURAS ... 11

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS ... 12

INTRODUÇÃO ... 13

2. ENQUADRAMENTO DAS ACTIVIDADES DESENVOLVIDAS ... 15

2.1. ARROZ... 15 2.1.1. Ciclo vegetativo... 15 2.1.2. Condições ambientais ... 17 2.1.3. Solo e fertilização ... 21 2.2. AS INFESTANTES DO ARROZ ... 24 2.2.1. Gramíneas ... 25 2.2.2. Ciperáceas ... 28 2.2.3. Ponteridáceas ... 29 2.2.4. Alismatáceas ... 31 2.2.5. Litráceas ... 32 2.2.6. Poligonáceas ... 32

2.3. PERÍODO CRÍTICO DE INFESTAÇÃO ... 33

2.4. GESTÃO DAS INFESTANTES DO ARROZ ... 35

2.4.1. Métodos preventivos ... 35

2.4.2. Práticas culturais ... 35

2.4.3. Métodos químicos ... 36

3. DESCRIÇÃO DAS ACTIVIDADES E MÉTODOS... 38

3.1. ORIVÁRZEA, ORIZICULTORES DO RIBATEJO, S.A. ... 38

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3.2.1. Apoio técnico aos agricultores ... 39

3.2.2. Outras funções... 41

4. ESTUDO DE CASO – GESTÃO DAS INFESTANTES NA ORIVÁRZEA ... 44

4.1. PRODUÇÃO DE ARROZ LOTE GERAL ... 44

4.2. PRODUÇÃO DE ARROZ SEMENTE ... 48

4.3. PRODUÇÃO DE ARROZ “BABYRICE” ... 52

4.4. PROGRAMAS HERBICIDAS E SEUS CUSTOS ... 54

4.5. OPORTUNIDADE DE TRATAMENTOS HERBICIDAS E SUAS DOSES ... 57

4.6. GUIA PRÁTICO PARA O ORIZICULTOR 2015 ... 62

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 67

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 69

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10 LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Classificação do ciclo vegetativo consoante o nº de dias desde a sementeira

à maturação completa……… 15

Quadro 2. Temperaturas mínimas, óptimas e máximas, relativas às diferentes fases de desenvolvimento do arroz………. 18

Quadro 3. Extração média (palha e grão) de elementos químicos, para uma boa colheita (kg.tonelada de arroz-1)……… 22

Quadro 4. Principais infestantes do arroz que se manifestam na área dos agricultores da Orivárzea………. 24

Quadro 5. Produtos herbicidas homologados, em Portugal, para a cultura do arroz……….. 36

Quadro 6. Folha de rosto de Caderno de Campo PRODER………45

Quadro 7. Caracterização de zonas homogéneas……….45

Quadro 8. Registo das operações de preparação do solo………46

Quadro 9. Registo de aplicação de oxadiazão em pré-sementeira……….46

Quadro 10. Registo de aplicação de imazamox em Sistema Clearfield………….47

Quadro 11. Registo de adubações com 20-20-00 e Ureasol 40%...47

Quadro 12. Registo de aplicação de herbicidas (imazamox e bentazona) e insecticida (flonicamida)………48

Quadro 13. Registo de aplicação glifosato em pré-sementeira………49

Quadro 14. Registo de adubação com 12-24-12………49

Quadro 15. Registo de aplicação de oxadiazão em pré-sementeira………50

Quadro 16. Registo de aplicação de mistura penoxsulame e cialofope-butilo……50

Quadro 17. Registo de adubação com ureia granulada……….50

Quadro 18. Registo de aplicação de mistura profoxidime e quincloraque………..51

Quadro 19. Registo de adubação com 20-00-15………51

Quadro 20. Identificação de zona homogénea e registo de aplicação de glifosato em pré-sementeira……….52

Quadro 21. Registo de adubação com 20-20-00………53

Quadro 22. Registo de aplicação herbicida com bispiribace-sódio………..53

Quadro 23. Registo de adubação com 20-20-00 e Ureasol 40%...53

Quadro 24. Registo de aplicação de profoxidime………...54

Qaudro 25. Registo de adubação com 20-00-15………54

Quadro 26. Pogramas de aplicações herbicidas mais comuns e seus custos associados……… 55

Quadro 27. Oportunidade óptima de aplicação de herbicidas, cruzando o estado fenológico do arroz e das suas infestantes ……….… 59

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11 LISTA DE FIGURAS

Fig.1. Esquema representativo do ciclo vegetativo do arroz……… 16

Fig.2. Echinochloa crus-galli (L.) P. Beauv. subsp. crus-galli………...… 25

Fig.3. Inflorescência Echinochloa phyllopogon (Stapf) Stapf ex Kossenko……… 25

Fig.4. Detalhe pilosidade em Echinochloa phyllopogon (Stapf) Stapf ex Kossenko……… 25

Fig.5. Glyceria declinata Bréb……… 26

Fig.6. Detalhe da inflorescência de Glyceria declinata Bréb...26

Fig.7. Detalhe do nó de Leersia oryzoides (L.) Sw. ……….. 26

Fig.8. Inflorescência Leersia oryzoides (L.) Sw. ……… 26

Fig.9. Comparação entre os portes do arroz-bravo e o arroz cultivado …………. 27

Fig.10. Amadurecimento precoce do arroz-bravo. Detalhe da coloração avermelhada……… 27

Fig.11. Detalhe da lígula membranosa característica da espécie Leptochloa fusca subsp. fascicularis (Lam.) N.Snow ………. 27

Fig.12. Detalhe inflorescênca Schoenoplectiella mucronata (L.) J. Jung & H. K. Choi.………. 28

Fig.13. Detalhe inflorescência Cyperus difformis L. ………. 28

Fig.14. Detalhe inflorescência Bolboschoenus maritimus (L.) Palla ………... 29

Fig.15. Heteranthera limosa (Sw.) Willd. ……… 29

Fig.16. Heteranthera reniformis Ruiz & Pav. ………. 30

Fig.17. Heteranthera rotundifolia (Kunth) Griseb. ………. 30

Fig.18. Alisma plantago-aquatica L. ……… 31

Fig.19. Alisma plantago-aquatica L. ……… 31

Fig.20. Alisma lanceolatum With. ……… 31

Fig.21. Alisma lanceolatum With. ……… ………. 31

Fig.22. Ammania coccinea Rottb. ……….. 32

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12 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

IAF Índice de Área Foliar

DRAPLVT Direcção Regional de Agricultura e Pescas de Lisboa e Vale do Tejo PRODER Programa de Desenvolvimento Rural

IFAP Instituto de Financiamento de Agricultura e Pescas PDR 2020 Programa de Desenvolvimento Rural 2014-2020 IB Identificação do Beneficiário

CAP Confederação dos Agricultores de Portugal

N Azoto

DGAV Direcção Geral de Agricultura e Veterinária GIN Gestão Integrada do Negócio

Ex. Exemplo

DAS Dias após sementeira

kg/ha Quilograma por hectare °C Graus Celsius

% Percentagem

cal/cm2 Calorias por metro quadrado t/ha Toneladas por hectare

P Fósforo

Mn Manganês

CO2 Dióxido de carbono NH4+ Amónio

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13 INTRODUÇÃO

O arroz (Oryza sativa L.) é uma cultura bastante importante na alimentação dos portugueses, sendo uma das principais fontes de rendimento no Ribatejo, entre outras zonas do país. Por este motivo e devido aos custos crescentes com que a actividade agrícola se tem vindo a deparar, a eficiência da cultura e dos seus “inputs” torna-se cada vez mais importante. A cultura do arroz, devido ao seu sistema de produção, é das que maiores custos apresenta, nomeadamente em água, adubos e herbicidas, sendo estes últimos os responsáveis por uma grande fatia da despesa desta actividade.

As infestantes do arroz e o seu nível de infestação podem comprometer toda a produção de uma parcela, sendo de grande importância a sua correcta gestão. Para tal, contribui o conhecimento profundo da cultura, do seu sistema de produção e da relação competitiva entre o arroz e suas infestantes. As infestantes que mais afectam o arroz podem ser classificadas em três grandes grupos, tendo importâncias distintas: gramíneas (destacando as milhãs, Echinochloa spp.), folhas-largas e ciperáceas. As milhãs, apresentando uma estrutura e ciclo de desenvolvimento bastante semelhantes ao arroz, são as de mais difícil controlo, sendo também as que causam maiores prejuízos.

Actualmente, os métodos químicos são os únicos que permitem um controlo eficaz, sendo essencial adoptar determinadas práticas culturais de forma a diminuir a pressão das infestantes. Infelizmente, as substâncias químicas herbicidas disponíveis, são utilizadas há bastantes anos, havendo uma necessidade cada vez maior de conhecer as suas particularidades. Tendo o conhecimento sobre a oportunidade ideal de aplicação, relacionando os estados fenológicos do arroz e das infestantes, é possível realizar uma intervenção mais oportuna, maximizando os proveitos com esta actividade económica.

Sendo uma cultura que, no nosso país, apresenta um período de possível cultivo bastante curto, apresenta também um período de tempo diminuto para a realização de todas as operações culturais necessárias à sua instalação. Muitas vezes as terras são mal preparadas e/ou não há oportunidade para a adopção de técnicas que permitam a redução de densidades de infestantes, nomeadamente falsas sementeiras. Por estes motivos, os agricultores deparam-se muitas vezes com situações de desenvolvimento avançado das infestantes em relação ao arroz, impedindo tratamentos precoces e com os resultados esperados.

Este relatório incide no trabalho levado a cabo ao longo do estágio profissional realizado na Orivárzea, descrevendo as principais ferramentas químicas disponíveis e os principais problemas de infestação que foram presenciados em campo. Tendo em

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conta o destino do arroz produzido pelos agricultores da Orivárzea, há a necessidade de diferenciar arroz produzido para lote geral, arroz produzido especificamente para bebés e alimentação infantil, e arroz para semente, levando-se a cabo diferentes técnicas ou produtos para o controlo das infestantes.

Este trabalho apresenta uma breve descrição do ciclo cultural do arroz, das condições edafo-climáticas ideais à cultura e uma descrição mais pormenorizada das principais espécies infestantes que se manifestam na área da Orivárzea. De seguida, são relatadas as principais actividades e funções desenvolvidas ao longo do estágio, dando maior relevância ao apoio prestado aos orizicultores. Por fim e como objectivo principal deste relatório, são discriminados os principais problemas arroz : infestantes observados na Orivárzea e o controlo químico realizado, adaptado a cada situação.

Este relatório culmina na apresentação de um guia prático para o orizicultor, para a campanha de 2015, pretendendo ser um documento de orientação, não dispensando o apoio de um técnico agrícola.

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2. ENQUADRAMENTO DAS ACTIVIDADES DESENVOLVIDAS 2.1. ARROZ

2.1.1. Ciclo vegetativo

O ciclo vegetativo do arroz (nº de dias desde a sementeira até à maturação completa) varia consoante as espécies e as cultivares. A subespécie indica possui um ciclo entre os 80 a 220 dias, enquanto a subespécie sativa possui um ciclo que varia entre os 120 e os 180 dias.

Em Portugal e consoante as cultivares, podemos diferenciar cinco ciclos vegetativos: muito precoce, precoce, semi-precoce, semi-tardia e tardia (Quadro 1).

Precocidade varietal Nº dias do ciclo Cultivar (ex.)

Muito precoce Até 125 -

Precoce 125 a 135 'Corimbo', 'Adret'

Semi-Precoce 135 a 146 'Ariete', 'Albatroz', 'Gládio'

Semi-Tardia 147 a 157 'Tejo'

Tardia Superior a 157 'Thaibonnet'

Segundo Alves (1985), o ciclo vegetativo do arroz é normalmente dividido em três períodos ou fases de desenvolvimento:

- Fase vegetativa, da sementeira ao início da formação da panícula; - Fase reprodutiva, do início da formação da panícula à floração; - Fase de maturação, da floração ao amadurecimento.

A duração das fases acima referidas, irá depender de diversos factores como a cultivar, as adubações realizadas (excesso de azoto irá prolongar a fase vegetativa) e as aplicações de herbicidas (utilizações inapropriadas poderão causar fitotoxicidade). As condições climáticas irão naturalmente influenciar estas fases, nomeadamente em certos períodos críticos.

Quadro 1. Classificação do ciclo vegetativo consoante o nº de dias desde a sementeira à maturação completa. (Adaptado de Alves, 1985)

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A germinação inicia-se quando o grão de arroz absorveu um quarto do seu peso em água, observando-se o aparecimento do caulículo que emerge no sentido ascendente, seguido da radícula que se desenvolve no sentido descendente (Silva, 1986). Este período inicial, que termina quando a planta apresenta entre três a quatro folhas totalmente formadas, depende bastante da qualidade da semente pois utiliza as suas reservas (Tinarelli, 1986).

A etapa do afilhamento inicia-se entre o 20º e 30º dia após a sementeira, tendo a planta entre quatro a cinco folhas. Os primeiros filhos nascem a partir da planta mãe (primários), podendo nascer filhos secundários e terciários. Segundo Yoshida (1981), quando a planta se encontra neste estado de desenvolvimento, a primeira folha do filho começa a nascer a partir da axila da segunda folha do colmo principal. De forma semelhante, quando a planta principal apresenta seis folhas, começa a desenvolver-se outro filho a partir da axila da terceira folha, podendo aplicar-se esta regra aos filhos secundários e terciários. Para a mesma cultivar e para as mesmas condições o número de filhos não varia muito. No entanto, as condições culturais, a profundidade de sementeira, a densidade de plantas, a presença de infestantes e a água disponível, influenciam este processo, provocando a maior ou menor dormência de gomos (Grist, 1970; Yoshida, 1981). É por este motivo que, em teoria, seria de esperar o desenvolvimento de até 40 filhos, observando-se na realidade o aparecimento de 2 a 5 filhos (Yoshida, 1981). Em geral, o afilhamento termina com o aparecimento da inflorescência, podendo prolongar-se, dando origem a filhos que não terminam em inflorescências e que acabam por morrer até à maturação da cultura (Grist, 1970). O afilhamento influencia directamente o número de panículas por m2, tendo um papel muito importante no aumento da produtividade.

A fase reprodutiva inicia-se com o encanamento e alongamento dos entrenós (períodos onde se intensifica a diferenciação da panícula), seguindo-se o emborrachamento e espigamento.

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O emborrachamento, que ocorre entre 70 a 80 dias após a sementeira, é consequência do aumento de tamanho da jovem panícula, que ascende de dentro da bainha da folha bandeira, fazendo-a inchar (Castelo, 2009).

Após esta última etapa, a panícula sai de fora da bainha da folha bandeira, dando-se o espigamento e floração. A autopolinização no arroz é bastante elevada (cerca de 99,5%), visto que grande parte da fecundação ocorre durante o espigamento (Vianna e Silva, 1969; Castelo, 2009).

Dada a fecundação, os grãos de arroz iniciam o seu enchimento e maturação, iniciando a senescência das folhas da planta. Segundo Portero (2001), este é um processo contínuo, passando o grão por distintas fases:

- Fase leitosa, com grande número de grãos de amido e máximo conteúdo de água. Define-se por uma cor leitosa, ligeiramente esverdeada.

- Fase pastosa, em que o grão vai perdendo água, ganhando uma consistência pastosa.

- Fase dura, em que o grão se torna consistente, tomando a coloração e textura próximas das definitivas. Define-se pela curvatura das panículas devido ao peso dos grãos.

- Fase de colheita, com a maturação completa e pronto a colher. Nesta fase, é suposto ser difícil partir o grão com a unha do polegar, estando a humidade ideal de colheita do grão entre os 18 e os 22%, consoante as variedades (Portero, 2001). Se a colheita tardar, o grão torna-se quebradiço e desgrana com facilidade.

Ainda segundo este autor, o ritmo de transporte e acumulação de matéria seca das folhas para o grão depende de cada variedade, dando-se a temperaturas óptimas de 25-30°C.

2.1.2. Condições ambientais

As principais condições ambientais que influenciam a performance da cultura do arroz são a temperatura, a radiação solar e a água. No caso desta cultura, a presença ou ausência de água não depende maioritariamente do clima mas algumas das suas características sim. A humidade relativa e o vento também têm o seu lugar em certos períodos da cultura, pelo que será dada uma breve caracterização destes factores climáticos.

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18 Influência da Temperatura

O factor temperatura apresenta-se como um dos mais importantes e cruciais na implantação da cultura do arroz, sendo este o motivo para a sua produção estar condicionada a determinadas zonas geográficas. No caso de Portugal, vemos estas áreas limitadas a norte pelo Vale do Vouga (temperaturas mais baixas e maior nebulosidade), podendo estender-se até ao Algarve (temperaturas mais elevadas e maior luminosidade) (Vianna e Silva, 1969).

Para que as plantas possam crescer e atingir o seu completo desenvolvimento é necessário que o calor recebido ao longo da cultura, somatório das temperaturas médias diárias no período cultural, atinja valores que podem variar entre os 3500°C e 4000°C, para cultivares precoces ou tardias, respectivamente (Vianna e Silva, 1969).

Existe alguma diferença, consoante os autores, relativamente à temperatura média que se deve observar ao longo do ciclo, estando todas compreendidas entre os 22° e os 28°. No entanto, cada fase de desenvolvimento tem os seus intervalos de temperaturas, sendo importante não ultrapassar os seus limites (Quadro 2).

Fases de desenvolvimento Temperatura (°C)

Mínima Óptima Máxima

Germinação 10-13 20-35 45

Plântula 12-13 25-30 35

Afilhamento e Encanamento 9-16 25-31 33

Floração 15-22 22-24 35

Maturação 12-18 20-25 30

Quando a temperatura é inferior a certo limites, chamados críticos, dá-se a redução da intensidade de processos fisiológicos como a transpiração, a fotossíntese, a absorção radicular e a translocação de substâncias até ao grão (Portero, 2001). É nas regiões de clima temperado, como Portugal, onde se acentuam as dificuldades resultantes das baixas temperaturas, levando ao encurtamento do período cultural do arroz. É por este motivo que, ao contrário das regiões tropicais, apenas podemos produzir nos meses de Verão (Pereira, 1989).

As baixas temperaturas no estado de plântula aumentam a vulnerabilidade relativamente a inimigos, diminuem a absorção de nutrientes, alargando o ciclo da planta e diminuindo a sua altura.

Quadro 2. Temperaturas mínimas, óptimas e máximas, relativas às diferentes fases de desenvolvimento do arroz (Adaptado de Yoshida, 1981 e de Alves, 1985 – extraído de Pereira, 1989)

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Temperaturas excessivas na fase do afilhamento causam o encurtamento desta fase, diminuindo a taxa deste processo.

Após a floração, temperaturas superiores a 35°C, acompanhadas de ventos fortes, levam à redução do peso dos grãos (Portero, 2001).

Influência da Radiação Solar

A importância da radiação solar é bem conhecida pois, interfere directamente na fotossíntese e nos fotoassimiliados produzidos, influenciando o crescimento, desenvolvimento e produção. Segundo Alves (1985), intensidades luminosas fracas originam folhas mais finas, causa de menores taxas fotossintéticas. No entanto, embora uma fraca intensidade luminosa durante a fase vegetativa afecte a produção de matéria seca e o índice de área foliar (IAF), a sua influência em termos produtivos é bastante pequena nesta fase, se houver maior insolação nas fases posteriores. Se se mantiver uma baixa luminosidade permanente, o afilhamento será certamente afectado, sabendo-se já as consequências para o número de espiguetas por m2.

Já na fase reprodutiva, se houver ensombramento, dá-se uma diminuição significativa do número de espiguetas por m2, resultante da menor quantidade de matéria seca formada. As espiguetas formadas poderão ainda apresentar-se estéreis, com baixos níveis de insolação (Alves, 1985). Da mesma forma, se houver ensombramento na fase de maturação, a produção também será afectada pois existe uma interferência com a percentagem de grãos cheios (Pereira, 1989). Nesta situação, serão os grãos das ramificações inferiores que serão mais afectados (Alves, 1985)

Segundo Yoshida (1981), a radiação solar média que permite obter produções aceitáveis (5 t.ha-1) encontra-se a 300 cal.cm-2. A importância da radiação solar dá-se de forma decrescente nas seguintes fases: fase reprodutiva, fase de maturação e fase vegetativa (Pereira, 1989).

Influência da Água de Rega

Para além da água ser parte essencial em alguns componentes das plantas e participar em reacções bioquímicas bem conhecidas, na cultura do arroz desempenha outras funções importantes. Entre outras, a água facilita a disponibilidade de nutrientes (nomeadamente P e Mn), auxilia no combate a infestantes e pragas e atenua diferenças térmicas, sendo esta uma característica essencial para evitar danos nas plantas (Beija, 1959). Também aumenta a disponibilidade de azoto (apesar de maiores perdas por volatilização) e beneficia a variação do pH do solo, que tende para a neutralidade. No entanto, tem como desvantagens, a diminuição da solubilidade de

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zinco e cobre e a emissão de gases e substâncias tóxicas. Estas características devem-se essencialmente aos processos de oxidação-redução desencadeados pelo esgotamento do oxigénio presente (Portero, 2001).

Para potenciar as funções da água, conseguindo-se melhorias quantitativas e qualitativas da produção, é essencial o seu adequado fornecimento através da correcta gestão de rega.

Existem diversas formas de realizar a gestão da água, classificando-se os processos de cultivo em arroz de terras altas e arroz de terras baixas. No primeiro caso, o arroz depende exclusivamente da água proveniente da precipitação, crescendo e desenvolvendo-se em solos cujo teor hídrico permanece abaixo da capacidade de campo. No segundo caso e como acontece no nosso país, a terra é preparada a seco ou sob alagamento, sendo a água fornecida por precipitação e rega (Pereira, 1989).

A baixa temperatura da água de rega pode retardar ou cessar o crescimento das plantas, podendo-se recorrer a superfícies ou canais de estacionamento de água para aumento de temperatura. No entanto, na pré-germinação, temperaturas elevadas da água podem atrasar a germinação, danificando o embrião e reduzindo o poder germinativo (Vianna e Silva, 1969), sendo a temperatura ideal da água nesta fase entre 26 e 28°C (Portero, 2001).

O aumento ou redução da lâmina de água permite-nos uma maior protecção da cultura consoante a temperatura do ambiente. Por exemplo, no caso de temperaturas do ar mais baixas que o ideal, o aumento da lâmina de água irá diminuir a percentagem de panículas estéreis (Portero, 2001).

Influência da Humidade Relativa

A humidade relativa condiciona a transpiração, influenciando processos fisiológicos que afectam a produção, regula o processo de fecundação, sendo prejudicial uma elevada humidade ou precipitação durante a floração (possível aborto de espiguetas) e tem uma influência positiva no desenvolvimento de doenças (Vianna e Silva, 1969).

Segundo Pereira (1989), valores de humidade relativa abaixo ou próximos de 50% são os indicados para a cultura do arroz. Acima deste valor, a maturação dos grãos é atrasada, não sendo benéfico. É ainda aconselhado, pelo mesmo autor, retirar a água dos canteiros apenas na fase de colheita, de forma a garantir humidades relativas adequadas até ao final do ciclo.

(21)

21 Influência do Vento

A ocorrência de vento fraco é benéfico para a renovação do substrato de CO2 na cultura. Ventos fortes, associados a outros factores (duração do período de vento, humidade, estádio de desenvolvimento, entre outros) já se apresentam desfavoráveis, podendo causar efeitos nefastos, tais como:

- Arranque de plantas;

- Redução do crescimento aéreo e radicular; - Aumento da dispersão de doenças;

- Dessecação de plantas pelo aumento de Evapotranspiração; - Esterilidade de espiguetas, se ocorrer durante a floração; - Danos mecânicos nas folhas e panículas;

- Desgrana;

- Acama, causando problemas na fase de colheita se ocorrer em fase tardia.

2.1.3. Solo e fertilização

Quando falamos sobre a problemática da fertilização, existem inúmeras características relativas ao solo que temos que ter em conta. Um solo adequado à cultura do arroz deve ser argilo-limoso, ter uma boa estrutura e baixa permeabilidade, ter uma boa percentagem de matéria orgânica, ter um pH próximo da neutralidade e não apresentar problemas de salinidade.

O objectivo da fertilização realizada pode ser diverso: correcção simples das deficiências, restituição ao solo dos nutrientes retirados na colheita (Quadro 3), aumento da fertilidade do solo, adubação de acordo com as normas de produção Integrada, entre outros (Portero, 2001). De qualquer dos modos, há uma crescente preocupação com o meio ambiente, estando os produtores cada vez mais sensibilizados para tal.

Para proceder à correcta fertilização devem ser feitas análises ao solo a cada dois a três anos, o mais próximo possível da sementeira. É também aconselhável realizar análises à água, pois esta poderá ser uma fonte de nutrientes (Portero, 2001). Irei referir alguns pontos da fertilização azotada, fosfatada e potássica, não ignorando a importância que os outros nutrientes têm nesta cultura.

(22)

22

Elemento Palha Grão Total

N 9 10 19 P 1,6 2,7 4,3 K 44,7 2,3 47 Ca 4,6 2,6 7,2 Mg 3,4 1,9 5,3 S 1,1 0,9 2 Fe 2,3 0,3 2,6 Mn 2,1 0,5 2,6 Fertilização Azotada

Atendendo às condições de alagamento em que se realiza a cultura do arroz, a adubação azotada deve ser realizada sobre a forma amoniacal, pois este elemento neste estado não é arrastado e apresenta-se com lenta e gradual solubilidade (Vianna e Silva, 1969). No entanto, as plantas mais jovens absorvem melhor ou em maiores quantidades o azoto sob a forma NH4+, enquanto as mais antigas preferem NO3 -(Tinarelli, 1989). Caso se aplique azoto nítrico, deve ser apenas depois do sistema radicular atingir um desenvolvimento suficiente, para absorver e impedir as perdas por arrastamento e lixiviação (Portero, 2001).

Existem alguns períodos onde a satisfação das necessidades de azoto se tornam essenciais para um bom rendimento. O primeiro coincide com o afilhamento, onde a planta aumenta a sua área foliar e se define o número de panículas por unidade de superfície. Na fase de reprodução, durante o desenvolvimento da panícula, o azoto irá influenciar o número de espiguetas cheias por panícula e após a floração, terá bastante influência sobre o aumento do peso de 1000 grãos.

Segundo Portero (2001), a adubação de fundo é muito importante para garantir um bom afilhamento, para alcançar o número desejado de espiguetas, para elevar a percentagem de grãos cheios e o peso do grão.

Uma adubação excessiva provoca um grande desenvolvimento vegetativo, aumento do número de filhos sem panícula, o risco de acama, aumento da percentagem de grãos vazios, atraso no amadurecimento e redução da qualidade do grão.

Quadro 3. Extração média (palha e grão) de elementos químicos, para uma boa colheita. (kg.tonelada de arroz-1) (Portero, 2001)

(23)

23 Fertilização Fosfatada

Como apresentado no Quadro 3 e à semelhança do que acontece nas outras culturas, as necessidades de fósforo são relativamente pequenas. No entanto, não se aconselha a sua redução ou eliminação sistemática na adubação, com risco de se comprometer a fertilização química do solo, a mais ou menos curto prazo (Silva, 1986).

A eficiência de utilização do fósforo para grão é maior nos primeiros estados de desenvolvimento da planta, sendo distribuído para os diferentes órgãos se for absorvido em quantidades suficientes, nas fases iniciais (Yoshida, 1981). Deste modo, é preferível fazer uma boa adubação fosfatada de fundo, alguns dias antes da sementeira, não havendo vantagens da sua aplicação gradual. Isto, porque existe uma grande mobilidade deste elemento das folhas velhas para as folhas mais jovens, verificando-se que a sua disponibilidade em solo alagado aumenta com o tempo, com baixas perdas por lixiviação (Yoshida, 1981; Portero, 2001).

Convém colocar este nutriente ao alcance das raízes das plântulas (3 a 10 cm), visto que a maior parte permanece no local onde é aplicado. Apenas 10 a 15% do adubo fosfatado aplicado é absorvido pelas plantas, estando a restante percentagem disponível lenta e progressivamente nas campanhas seguintes (Portero, 2001).

Fertilização Potássica

O potássio é absorvido em quantidades consideráveis. No entanto, a maioria deste elemento é utilizado na formação de palha e não de grão. Tendo em conta que a maioria da palha é restituída ao solo durante a colheita, leva a que as quantidades a aplicar deste elemento se encontrem próximas das quantidades de fósforo. Mesmo que a palha seja queimada, este elemento, bem como o fósforo, não é volátil, permanecendo nas cinzas (Silva, 1986).

Com semelhança ao fósforo, a eficiência de utilização de potássio para grão é maior durante os primeiros estados da planta, sendo importante para o desenvolvimento de raízes e na determinação e desenvolvimento do número de panículas férteis.

No entanto, também tem um papel importante nos estados finais, promovendo a síntese e translocação de açúcares, influenciando a formação e peso dos grãos e protegendo a planta de baixas temperaturas e doenças (Yoshida, 1981; Tinarelli, 1989).

A sua aplicação deve ser realizada em adubação de fundo (50 a 70%), sendo a restante aplicada em cobertura, na fase de afilhamento ou na formação de panícula (Yoshida, 1981; Tinarelli, 1989).

(24)

24 2.2. AS INFESTANTES DO ARROZ

No quadro 4 apresentam-se as principais infestantes que aparecem na área dos agricultores da Orivárzea. No entanto, existem algumas que, devido à dificuldade no seu controlo, exigem maior atenção (ex. arroz-bravo, milhãs, ciperáceas, leptocloa e orelhas-de-mula).

Ordem Família Espécie Nome Vulgar Tipo

Fisionómico Tipo Biológico

M o n o c o ti le d ó n e a s Gramíneas

Echinochloa crus-galli (L.) P.Beauv.

subsp. crus-galli milhã-pé-de-galo Terófito Anual

Echinochloa crus-galli (L.) P.Beauv.

subsp. hispidula (Retz) Honda

milhã-do-arroz ou

milhã-branca Terófito Anual Echinochloa phyllopogon (Stapf)

Stapf ex Kossenko milhã-peluda Terófito Anual

Glyceria declinata Bréb. azevém-baboso Helófito Anual Leersia oryzoides (L.) Sw. carriço Helófito Anual Oryza sativa L. arroz-bravo Terófito Anual Leptochloa fusca subsp.

fascicularis (Lam.) N.Snow leptocloa Hidrófito Anual

Ciperáceas

Schoenoplectiella mucronata (L.)

J.Jung & H.K.Choi espeto Terófito

Anual ou vivaz

Cyperus difformis L. negrinha Terófito Anual Bolboschoenus maritimus (L.) Palla junça Helófito Vivaz

Ponteridáceas

Heteranthera limosa (Sw.) Willd. falsas-alismas Hidrófito Anual Heteranthera reniformis Ruiz &

Pav. falsas-alismas Hidrófito Perene

Heteranthera rotundifolia (Kunth)

Griseb. falsas-alismas Hidrófito

Anual ou Perene

Alismatáceas

Alisma plantago-aquatica L. orelha-de-mula Helófito

Anual ou vivaz

Alisma lanceolatum With.

orelha-de-mula-lanceolada Helófito Anual ou vivaz Dic o ti le d ó n e a s

Litráceas Ammannia coccinea Rottb. carapau Terófito Anual

Poligonáceas Polygonum persicaria L. erva-pessegueira Terófito Anual

De seguida é apresentada uma descrição mais detalhada das infestantes referidas no quadro anterior.

(25)

25 2.2.1. Gramíneas

O grupo das gramíneas é o que apresenta maior número de espécies infestantes no ecossistema orizícola, sendo também aquele que apresenta as espécies mais complicadas de controlar, o arroz-bravo e as milhãs.

Echinochloa crus-galli (L.) P.Beauv. subsp. crus-galli – milhã-pé-de-galo Espécie anual que se reproduz por sementes, glabra ou quase, frouxamente cespitosa. Colmos (25-90 cm) geniculado-ascendentes a erectos, com cerca de 5 nós. Nós glabros e esverdeados. Folhas planas e lineares, mais ou menos curvadas (7-35 cm x 6-20 mm). Apresenta os filhos bastante abertos, com tonalidades avermelhadas a violáceas na base (Fig.2).

As panículas são erectas, inclinadas, lanceoladas a ovadas, com 6 a 22 cm de comprimento. Espiguetas ovado-elípticas (2,8-3,5 x 1,6-2 mm), agudas, com arista até 6 mm (Medina, 2008)

Echinochloa crus-galli (L.) P.Beauv. subsp. hispidula (Retz) Honda – milhã-do-arroz

Espécie anual que se reproduz por sementes, de porte geniculado-ascendente a erecto (colmo com 25 a 90 cm). Apresenta nós glabros ou pubescentes, de coloração esverdeada. As folhas são lineares (7-35 cm x 6-20 mm), rectas, estreitas e arredondadas na base.

A panícula apresenta um comprimento de 6 a 22 cm, de erecta a pendente, lanceolada a ovada. As espiguetas são ovado-elípticas (3,2-3,8 mm x 1,7-2,2 mm), com aristas de 13 mm, esverdeadas ou esverdeado-purpurascentes (Medina, 2008).

Echinochloa phyllopogon (Stapf) Stapf ex Kossenko – milhã-peluda Planta anual que se reproduz por sementes. Colmos com 50-100 cm, erectos e glabros. Cada colmo apresenta cerca de 5 nós, glabros ou pubescentes, de coloração avermelhada. As folhas (55-85 cm x 6-8 mm) são lineares, rectas e estreitas, glabras

Fig. 2. Echinochloa crus-galli (L.) P.Beauv. subsp. crus-galli. (Foto: Centre Français du Riz).

Fig. 3. Detalhe da inflorescência em Echinochloa phyllopogon (Stapf) Stapf ex Kossenko). (Foto: Centre Français du Riz).

Fig. 4. Detalhe da pilosidade em

Echinochloa phyllopogon (Stapf)

Stapf ex Kossenko). (Foto: Centre Français du Riz).

(26)

26 ou com pilosidade na base (Fig.4).

Na maturação, as panículas apresentam-se rectas, de aspecto denso e coloração de verde a purpurascente (Fig.3). As espiguetas (3,8-4,8 mm x 2-2,4 mm) são densas, ovadas, podendo ter arista até 20 mm (Medina, 2008).

Glyceria declinata Bréb. – azevém-baboso

Espécie vivaz que se reproduz através do rizoma e por fragmentos de caules radicantes, de porte prostrado (30-90 cm de altura) (Fig.5). As folhas são lineares (5-8 mm de largura), de coloração verde-cinza a verde-azulada, com lígulas membranosas e pontiagudas.

A panícula apresenta uma dimensão que varia entre os 5 e 30 cm, sendo estreita e unilateral. Dos nós centrais das inflorescências saem entre 1 a 3 ramas, com 1-6 espiguetas cilíndricas. Cada espigueta (8-30 mm) tem entre 6 a 16 flores de cor verde pálido (Márquez, 2002; Maurici, 2009) (Fig.6).

Leersia oryzoides (L.) Sw. - carriço

Esta espécie pode comportar-se como vivaz, propagando-se através de fragmentos do rizoma, ou como anual, através de sementes. Planta rizomatosa com colmos ascendentes (50-100 cm) e pilosidade característica na zona dos nós (Fig.7). Folhas lineares (8-30 cm x 5-10 mm), muito ásperas, de coloração verde-clara e nervo central branco.

Inflorescência em forma de panícula piramidal alargada (5-20 cm), laxa, com ramas flexuosas e ásperas. Espiguetas de 5-6 mm, compridas e sem glumas (Marquéz, 2002) (Fig.8).

Fig. 5. Glyceria declinata Bréb. (Foto: José Quiles)

Fig. 6. Detalhe da inflorescência em Glyceria declinata Bréb. Foto: José Quiles

Fig. 7. Detalhe da pilosidade nos nós em

Leersia oryzoides (L.)

sw. (Foto: Centre Français du Riz)

Fig. 8. Detalhe da inflorescência em Leersia oryzoides (L.) Sw. Foto: Franck Le Driant

(27)

27 Oryza sativa L. – arroz-bravo

Espécie anual que apresenta um ciclo de desenvolvimento muito semelhante ao arroz cultivado comercialmente. Apresenta um porte robusto, colmo erecto e uma altura um pouco superior ao arroz cultivado, atingindo os 80-120 cm (Fig.9). Folhas lineares (30-60 cm x 15-20 mm), de coloração verde-amarelada, com lígula membranosa e de forma triangular. A bainha apresenta aurículas bem desenvolvidas. A inflorescência do arroz selvagem desenvolve-se umas semanas antes do arroz cultivado, constituindo-se por uma panícula erecta, que se vai curvando ao longo da maturação. As espiguetas são muito compridas, com uma arista bastante comprida, havendo variedades que não possuem arista. As espiguetas desgranam antes do arroz cultivado (Portero, 2001; Marquéz, 2002)

(Fig.10).

Leptochloa fusca subsp. fascicularis (Lam.) N.Snow - leptocloa Espécie anual que se reproduz através das sementes que produz. Colmos erguidos ou ascendentes, com 30-120 cm de comprimento. Folhas lineares (30-50 cm x 1-6 mm), glabras, de coloração verde clara e nervos paralelos. Bainhas com lígula membranosa de 2-4 mm (Fig.11).

Inflorescência em forma de panícula (10-25 cm de comprimento), ascendente, com os ramos erguidos e separados da ráquis principal. Espiguetas de 5-12 mm de comprimento com 5 a 12 flores. (Marquéz, 2002)

Fig. 9. Comparação de porte entre arroz-bravo e uma cultivar de arroz. (Foto: Centre Français du Riz).

Fig. 10. Detalhe da coloração dos grãos de arroz-bravo, durante o amadurecimento. (Foto: Centre Français du Riz).

Fig. 11. Detalhe da lígula membranosa de

Leptochloa fusca subsp. fascicularis (Lam.)

(28)

28 2.2.2. Ciperáceas

Schoenoplectiella mucronata (L.) J.Jung & H.K.Choi - espeto

Espécie anual que também se pode comportar como vivaz. Hastes erectas com 22-87 cm x 2,5-4,5 mm, rectas, com secção triangular,

de coloração verde ou glauca. As folhas reduzem-se a bainhas herbáceas com rebordo escarioso.

A inflorescência é formada por um glomérulo de espiguetas sésseis, desprovido de pedúnculo (Fig. 12). As espiguetas (6 – 16 mm), de contorno ovado ou ovado-lanceolado, têm entre 22 a 36 flores e uma coloração entre o avermelhado e pardo-alaranjado, com zonas esverdeadas (Castroviejo et al., 2015).

Os frutos têm uma conformidade triangular e são de coloração negra (Maurici, 1999).

Cyperus difformis L. - negrinha

Ciperácea anual, herbácea e cespitosa. Hastes com 30-59 cm, rectas, com secção triangular, bastante agudas na ponta. As folhas (21-36 x 0,3-0,5 cm) são de menor comprimento que as hastes, na maioria basais, deixando a maior parte das hastes a descoberto (Castroviejo et al., 2015).

As inflorescências desenvolvem-se no topo da haste, no interior de duas ou três brácteas parecidas às folhas, havendo uma que se desenvolve bastante mais que as restantes. Estas inflorescências são constituídas por glomérulos (por vezes apenas um) com espiguetas lanceoladas, de coloração verde ou castanha escura (3,5-5,8 x 0,7-1 mm), formadas por 12 a 21 flores (Castroviejo et al., 2015) (Fig.13).

As sementes são de cor amarelada, triangulares, de tamanho muito pequeno (Maurici, 1999).

Fig. 12 – Detalhe da inflorescência de

Schoenoplectiella mucronata (L.) J.Jung &

H.K.Choi (Foto: Wayne Longbottom)

Fig. 13 – Detalhe da inflorescência de Cyperus difformis L. (Foto: Marco Banzato)

(29)

29 Bolboschoenus maritimus (L.) Palla - junça

Ciperácea perene. Hastes com 10-115 cm de comprimento e 1-7,5 mm de diâmetro, agudamente trígonas, verdes ou algo glaucas. As folhas (2-7,5 mm de largura) são planas, antrorso-escábridas nas bordas.

Inflorescência formada por um fascículo de 1-10 espiguetas sésseis. Espiguetas 7-40 x 3-8,5 mm, de contorno ovado a ovado-lanceolado, com 12-46 flores (Castroviejo et al., 2015) (Fig.14).

2.2.3. Ponteridáceas

Heteranthera limosa (Sw.) Willd. – falsa-alisma

Planta anual. Apresenta um caule entre 8 e 20 cm de comprimento, erecto ou procumbente e pouco ramificado. As folhas são oblongas a lanceoladas (1-5 x 0,3-3,3 cm), atenuadas na base. Os pecíolos podem ter entre 2 e 24 cm, são glabros e flexuosos (Castroviejo et al., 2015).

As inflorescências são constituídas por uma única flor que se desenvolve na axila das folhas. As flores são constituídas por 6 pétalas dispostas em forma radial, de coloração branca ou violácea (Maurici, 1999) (Fig.15).

O fruto é formado por uma cápsula cilíndrica (16-18 x 2,5-3 mm) que contém uma grande quantidade de sementes pequenas (Castroviejo et al., 2015).

Fig. 14 – Detalhe da inflorescência de

Bolboschoenus maritimus (L.) Palla (Foto:

Glen Mittelhauser)

Fig. 15 – Heteranthera limosa (Sw.) Willd. (Foto: José Quiles) Fig. 14 – Detalhe da inflorescência de

Bolboschoenus maritimus (L.) Palla (Foto:

(30)

30 Heteranthera reniformis Ruiz & Pav. – falsa-alisma

Planta perene. Apresenta caules entre 8 e 20 cm de comprimento, procumbentes e com nós enraizantes. As folhas são reniformes (1-4 x 1-5 cm). Os pecíolos podem ter entre 2 e 13 cm, sendo glabros. (Castroviejo et al., 2015).

As inflorescências são constituídas por uma espiga de 2 a 8 flores, desenvolvendo-se na axila das folhas (Flora Ibérica). As flores são constituídas por 6 pétalas dispostas em forma radial, de coloração branca. (Maurici, 1999) (Fig.16).

Heteranthera rotundifolia (Kunth) Griseb. – falsa-alisma

Planta anual. Apresenta caules entre 8 e 20 cm de comprimento, erectos ou procumbentes e muito ramificados. As folhas são ovais a lanceoladas (1-5,3 x 0,5-2,5 cm), de truncadas a cordiformes, de cor verde brilhante. Os pecíolos podem ter entre 3 e 12 cm, são glabros e flexuosos (Castroviejo et al., 2015).

As inflorescências são constituídas por uma única flor que se desenvolve na axila das folhas. As flores são constituídas por 6 pétalas com a particularidade de que 3 das 6 pétalas aparecem juntas. A coloração é mais vistosa que as outras duas espécies, sendo azulada ou violácea. Do conjunto das três pétalas agrupadas, podemos observar uma mancha amarela na base da pétala central (Maurici, 1999) (Fig. 17).

O fruto é formado por uma cápsula cilíndrica (15-18 x 3-5 mm) (Castroviejo et al., 2015)

Fig. 16 – Heteranthera reniformis Ruiz & Pav. (Foto: José Quiles)

Fig. 17 – Heteranthera rotundifolia (Kunth) Griseb. (Foto: Alexis Hernández)

(31)

31 2.2.4. Alismatáceas

Alisma plantago-aquatica L. – orelha-de-mula

A orelha-de-mula é uma planta vivaz, reproduzindo-se através do seu rizoma tuberoso, mas também pode adquirir o comportamento de planta anual, reproduzindo-se por semente (Maurici, 1999; Marquéz, 2002). As plantas adultas possuem folhas de forma oval (Fig. 19), de tamanho

entre os 10 e os 50 cm, agrupadas em roseta basal e com um pecíolo comprido (8 - 70 cm) (Castroviejo et al., 2015).

Posteriormente, desenvolvem-se inflorescências em forma de panícula piramidal verticilada, formando-se umbelas de flores brancas ou rosa-violáceo nos últimos ramos (Fig. 18) (Marquéz, 2002).

Alisma lanceolatum With. – orelha-de-mula-lanceolada A orelha-de-mula-lanceolada é uma espécie vivaz mas, como a anterior, pode comportar-se como planta anual, reproduzindo-se por sementes. As folhas têm entre 12,5 a 105 cm de comprimento, tendo o limbo forma lanceolada (5-30 x 0,6-5 cm) (Fig.20).

As inflorescências (50-140 cm de comprimento) apresentam entre 4 a 8 nós no eixo principal, cada um com vários ramos em disposição verticilada. Estes ramos terminam em umbelas com 3

a 7 flores (Castroviejo et al., 2015). As flores apresentam uma coloração violácea (Fig. 21), abrindo as pétalas durante a manhã, enquanto as da Alisma plantago-aquatica L. abrem pela tarde (Maurici, 1999).

Fig. 19 - Alisma plantago-aquatica L. (Foto: Andrea Moro)

Fig. 18 - Alisma plantago-aquatica L. (Foto: Ron Vanderhoff)

Fig. 20 - Alisma lanceolatum With. (Foto: Ana Gonçalves)

Fig. 21 - Alisma lanceolatum With. (Foto: Ron Vanderhof)

(32)

32 2.2.5. Litráceas

Ammannia coccinea Rottb. - carapau

Espécie anual, de 30-70 cm de altura, com caule robusto, erecto e pouco ramificado, com as ramas mais curtas que o eixo principal. As folhas (20-100 x 2-15 mm) são opostas, têm forma linear ou linear-lanceoladas com a base de cordiforme a auriculada (Fig.22).

As flores são sésseis ou com um pequeno pedúnculo (até 4 mm) e estão agrupadas em glomérulos axilares. As pétalas têm 2 mm de longitude e são de coloração púrpura (Castroviejo et al., 2015; Maurici, 1999).

2.2.6. Poligonáceas

Polygonum persicaria L. – erva-pessegueira A erva-pessegueira ou mal casada é uma planta anual, herbácea, com caules erectos ou postrado-ascendentes, de coloração avermelhada. As folhas (6-13 x 1-3 cm) são lanceoladas, glabras ou pouco pelosas e, usualmente, apresentam uma mancha enegrecida central (Fig. 23).

As inflorescências são espiciformes, densas e cilindráceas (Castroviejo et al., 2015).

Fig. 23 - Polygonum persicaria L. (Foto: Centre Français du Riz)

Fig. 22 - Ammannia coccinea Rottb. (Foto: Shirley Denton)

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33 2.3. PERÍODO CRÍTICO DE INFESTAÇÃO

Em qualquer cultura sujeita à interferência de infestantes, maioritariamente culturas temporárias, existem períodos críticos em que a menor ou maior infestação leva a distintas perdas de produção (Azmi et al., 2007). O período crítico representa o intervalo de tempo entre duas componentes: período após sementeira em que a cultura deve estar livre de infestantes de forma a não haver reduções de produção; período em que as infestantes que emergem com a cultura podem permanecer na parcela sem causar perdas de produção (Nieto et al., 1968).

Existem culturas sujeitas a vários períodos críticos ao longo do seu ciclo cultural, culturas com um período crítico delimitado, podendo influenciar a produção de toda a campanha, e existem culturas que, devido à sua forma de desenvolvimento, são sensíveis à presença de infestantes durante todo o seu ciclo cultural.

No caso do arroz existe um período crítico correspondente às fases iniciais do desenvolvimento da cultura, sendo imperativo o avanço do arroz em relação às restantes infestantes. Considerando que esta cultura leva à cobertura quase total da área dos canteiros, é fácil concluir que o ensombramento apresenta-se como um factor determinante na competição entre o arroz e as outras espécies.

Estudos específicos sobre esta temática revelam que, em relação às espécies do género Echinochloas spp. (espécies infestantes de mais difícil controlo), o ensombramento provocado pelo desenvolvimento avançado do arroz pode levar a reduções significativas de densidades de milhãs e do seu peso seco, ou mesmo à obtenção de searas limpas destas espécies (Gibson et al., 2001). É portanto essencial intervir o mais precocemente possível na parcela de forma a permitir este desfasamento entre o desenvolvimento do arroz e das infestantes.

Exemplificando, o gráfico 1, relativo a um estudo realizado na Malásia, revela que para distintas perdas percentuais de produção o período crítico pode ser mais curto ou mais longo, correspondente a várias alturas de intervenção herbicida na parcela. Podemos observar que para perdas de produção de 5 % e 10 %, o período crítico pode iniciar-se aos 16 DAS e 22 DAS, respectivamente. Concluímos que aplicações herbicidas mais tardias levam a maiores perdas de produção e que o controlo das infestantes nos primeiros dias da cultura do arroz é determinante.

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Gráfico 1. Período crítico de infestação no arroz para perdas de produção de 5% e 10%. Adaptado de Azmi et al., 2007.

Apesar de se apresentar como um conceito científico, é fácil observar no campo que os agricultores têm o conhecimento empírico sobre a necessidade de deixar a seara limpa o mais cedo possível, permitindo um desenvolvimento mais “desafogado” do arroz.

A questão que se coloca é, se existem ferramentas que permitam ao orizicultor realizar este controlo precoce sem prejuízos para o arroz. Para as infestantes de controlo mais difícil, o mercado actual apenas disponibiliza soluções químicas eficazes e suportáveis, de pós-emergência do arroz e de aplicação relativamente tardia, permitindo que as infestantes atinjam estádios de desenvolvimento mais avançados que o arroz.

(35)

35 2.4. GESTÃO DAS INFESTANTES DO ARROZ

2.4.1. Métodos preventivos

O objectivo principal dos métodos preventivos é minimizar a introdução de sementes ou propágulos de infestantes nas parcelas de cultivo do arroz.

A semente utilizada na sementeira deve estar isenta de material reprodutivo de espécies infestantes, devendo-se ter especial cuidado com a presença de sementes de milhãs e arroz-bravo, sendo estas as que apresentam maior dificuldade no seu controlo. Para tal, é essencial utilizar semente certificada.

As máquinas agrícolas utilizadas nas operações de preparação da cultura também podem constituir um meio de transporte de sementes e propágulos, devendo-se proceder à sua limpeza quando devendo-se iniciam trabalhos em outras parcelas.

Os canais de rega, muros e marachas devem ser mantidos livres de infestantes, pois poderão constituir um foco de propagação importante (Portero, 2001).

2.4.2. Práticas culturais

Qualquer prática cultural afecta a competição entre o arroz e as suas infestantes. No entanto, podemos referir alguns aspectos que poderão minimizar a pressão das infestantes sobre esta cultura.

Se a preparação do solo for realizada com tempo, o arejamento e o aumento da temperatura do solo favorecem a germinação das infestantes, podendo-se realizar, posteriormente, uma destruição mecânica destas plântulas. A utilização de charruas é considerada desadequada, pois poderá trazer à superfície sementes de infestantes que se encontravam dormentes.

O tamanho dos torrões também irá influenciar a competição com as infestantes. Torrões com 5-6 cm são benéficos à protecção contra o vento, permitindo um melhor enraizamento. Torrões com tamanhos exagerados, levam a que sementes de infestantes que se encontrem a um nível superior germinem e compitam mais eficientemente, que sementes de arroz que se encontram em níveis inferiores ou mesmo escondidas.

O nivelamento do solo evita que se formem zonas com níveis de água superiores que outras. Assim, existe uma maior uniformidade de germinação, evitando-se a formação de manchas de infestação em algumas zonas dos canteiros (Luzes, 1990).

O período de tempo entre o início do alagamento e a sementeira deve ser o menor possível. Se assim não for, quando ocorrer a germinação do arroz, as infestantes já estarão mais desenvolvidas, havendo uma pressão maior sobre a

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cultura. O mesmo acontece se a sementeira for realizada com temperaturas baixas, sendo o crescimento do arroz mais afectado que o das infestantes.

Como já foi referido, a gestão da água, associado a um bom nivelamento, irá influenciar positivamente a germinação do arroz, levando a um maior poder de competição frente às infestantes. Quando das aplicações de herbicidas, a gestão da água deve ser realizado conforme os rótulos dos produtos.

A monda manual, bastante utilizada antes da generalização das aplicações herbicidas, apresenta-se como uma boa opção de redução de populações infestantes a médio e longo prazo. Geralmente, esta operação realiza-se em campos de multiplicação de semente mas, aplicada em campos de produção de arroz lote geral, pode resultar numa redução bastante acentuada do banco de sementes de infestantes em determinada parcela.

2.4.3. Métodos químicos

Os métodos químicos, foco deste trabalho, compreendem a aplicação de herbicidas homologados, apresentando-se no Quadro 5 os produtos actualmente disponíveis. Os produtos homologados podem ser consultados na “Lista de produtos com venda autorizada”, disponível no site da Direcção Geral de Agricultura e Veterinária.

Grupo

químico Família química Substância activa Modo de acção Produto comercial

A Ariloxifenoxipropionatos cialofope-butilo Inibidor da acetil coA carboxilase

Clincher®

Ciclohexanodionas profoxidime Aura®

B

Imidazolinonas imazamox

Inibidor da acetolactato sintetase

Pulsar40®

Pirimidiniloxibenzóicos bispiribace-sódio Nominee®

Sulfunilureias bensulfurão-metilo Pull®52

azimsulfurão Gulliver®

Triazolopirimidinas penoxsulame Viper®

C Benzotiadiazinonas bentazona Inibidores da fotossíntese no

fotosistema II

Vários produtos comerciais com venda autorizada

G Oxadiazinas oxadiazão Inibidor da protoporfirina

oxidase Ronstar®

I Ácidos Fenil Carboxílicos MCPA Disruptor do crescimento

celular (Auxinas de síntese)

Vários produtos comerciais com venda autorizada M Glicinas glifosato (sal isopropilamónio)

Inibidores da EPSP sintetase

Vários produtos comerciais com venda autorizada

glifosato (sal potássio)

Quadro 5. Produtos herbicidas homologados em Portugal, para a cultura do arroz. Adaptado da

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No quadro anterior podemos observar que existem produtos homologados para o arroz pertencentes ao mesmo grupo químico. Esta é uma questão muito importante porque poderá observar-se o desenvolvimento de algumas resistências a determinado produto devido à utilização consecutiva de outros herbicidas com modo de acção semelhante.

Por exemplo, após aplicações de penoxsulame (Viper®) em campanhas consecutivas, não é aconselhável alterar o produto a aplicar para bispiribace-sódio (Nominee®). Nesta situação, é aconselhável a mudança para outros como é o caso do profoxidime (Aura®), com modo de acção distinto. Deste modo, evita-se o desenvolvimento de resistências cruzadas.

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3. DESCRIÇÃO DAS ACTIVIDADES E MÉTODOS 3.1. ORIVÁRZEA, ORIZICULTORES DO RIBATEJO, S.A.

A Orivárzea, Orizicultores do Ribatejo, fundada em 1997, nasce quando dez dos orizicultores mais importantes da Lezíria Ribatejana decidem unir-se, produzindo e comercializando o seu próprio arroz. Tal união permitiu rentabilizar meios, levando arroz 100% português ao consumidor, a um preço justo. A empresa dedica-se então à produção, recepção, secagem, armazenamento e transformação do arroz.

O sucesso levou a que, ao longo dos anos, mais orizicultores se juntassem a este agrupamento, tendo hoje 51 produtores, incluindo a própria Orivárzea. A área total de arroz compreende cerca de 5000 hectares (cerca de 1/6 da área total em Portugal (Estatísticas Agrícolas 2013)), estendendo-se por diversos concelhos, nomeadamente Vila Franca de Xira, Benavente, Salvaterra de Magos, Azambuja e Coruche.

Existem diversas características nesta empresa que a tornam distinta, em relação a grande parte da sua concorrência. Os orizicultores não se limitam a pedir apoio técnico e a entregar a sua produção nas instalações da Orivárzea. Os produtores são também

accionistas da empresa, participando activamente nas decisões tomadas. Assim, formou-se uma estrutura que toma em

consideração as preocupações dos agricultores, oferecendo ao mercado arroz de elevada qualidade, com certificações de nível superior aos padrões oficiais.

A Orivárzea vende o seu arroz a outras empresas transformadoras e a causas humanitárias (nomeadamente para os refugiados da Síria) mas, tem vindo a apostar cada vez mais em marcas próprias. A sua marca principal é a “Bom Sucesso”, comercializando também as marcas “Belmonte”, “Arroz Carolino da Lezíria Ribatejana”, o primeiro arroz português de Indicação Geográfica Protegida e a “Baby Rice”, arroz carolino isento de qualquer agente químico ou bacteriológico passível de prejudicar a saúde de uma criança.

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