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ECONOMIA DE DEFESA: RESPOSTA TECNOLÓGICA PARA OS DESAFIOS ORÇAMENTÁRIOS DO CENÁRIO ESTRATÉGICO DO BRASIL

Márcio Saldanha Walker* Ricardo Borges Gama Neto** RESUMO

A Economia de Defesa ocupa um importante papel indutor do desenvolvimento brasileiro. O artigo tem o objetivo de analisar as condições brasileiras para otimizar ainda mais esse setor da economia. O método utilizado considera o cenário de defesa do Brasil, a questão orçamentária, a alternativa tecnológica para a economia de defesa e uma proposta para a integração orçamentária da defesa. O artigo conclui que a estratégia de defesa encontrará benefícios com as inovações tecnológicas, pela complementaridade e dualidade da natureza dos investimentos. Assim, o Brasil poderá cooperar regionalmente em assuntos de defesa, com o estabelecimento do ambiente estável e seguro, pela vigilância de suas fronteiras.

Palavras-chave: Economia de Defesa. Vigilância de Fronteiras. Orçamento de Defesa. Inovações Tecnológicas. Cooperação regional.

DEFENCE ECONOMY: TECHNOLOGICAL RESPONSE TO THE BUDGET CHALLENGES OF THE BRAZIL’S STRATEGIC SCENERY

ABSTRACT

The Defense Economy plays an important role inducing the Brazilian development. The paper aims to analyze the Brazilian conditions to optimize the development Defense Economy. The method considers the Brazil defense scenario, the budget issue, the alternative technology for the defense economy and a proposal for the defense of budgetary integration. The paper concludes that the defense strategy will find benefits with technological innovations, complementarity and duality of investment nature. Thus, Brazil could cooperate regionally in defense matters, with the establishment of stable and secure environment for the surveillance of its borders.

Keywords: Defense Economy. Border Surveillance. Defense Budget. Technological Innovations. Regional Cooperation.

____________________

* Mestre em Operações Militares pela Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO). Atualmente é Doutorando em Ciências Militares do Instituto Meira Mattos/ Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (IMM/ECEME). Contato: <walker22ms@yahoo.com.br>.

** Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Atualmente é professor da Universidade Federal de Pernambuco e do Instituto Meira Mattos/ Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (IMM/ECEME). Tem experiência na área de Ciência Política, com ênfase em Política Comparada. Contato: <ricardobgneto@gmail.com>

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ECONOMÍA DE DEFENSA: RESPUESTA TECNOLÓGICA A LOS DESAFÍOS PRESUPUESTARIOS DEL ESCENARIO ESTRATÉGICO DEL BRASIL RESUMEN

La Economía de Defensa ocupa un importante papel de inductor de desarrollo brasileño. Este artículo tiene como objetivo analizar las condiciones brasileñas para optimizar este sector de la economía. El método utilizado considera el escenario de defensa de Brasil, la cuestión presupuestaria, la alternativa tecnológica para la economía de defensa y una propuesta de integración presupuestaria de defensa. El artículo concluye que la estrategia de defensa encontrará beneficios con las innovaciones tecnológicas, la complementariedad y la dualidad de la naturaleza de la inversión. De esta forma, Brasil podrá colaborar a nivel regional en asuntos de defensa, con el establecimiento de un ambiente estable y seguro, por la vigilancia de sus fronteras.

Palabras clave: Economía de Defensa. Vigilancia de Fronteras. Presupuesto de Defensa. Innovaciones tecnológicas. Cooperación regional.

1 INTRODUÇÃO

A Economia de Defesa está relacionada diretamente com três setores do poder nacional: o econômico, o militar e o científico-tecnológico. Cada uma dessas áreas tem planejamento próprio e depende de constante investimento, considerando ainda que variam de acordo com o contexto político (LOONEY; FREDERKSEN, 2000, p. 437).

A política de defesa do Brasil é responsável por planejar o emprego de capacidades do campo militar para neutralizar as ameaças ao interesse nacional e aos cidadãos, principalmente nas fronteiras, com reflexos para a influência no entorno estratégico da América do Sul (BRASIL, 2012)1. Como o Brasil definiu ser constitucionalmente uma nação pacífica (BRASIL, 1988)2, vem adotando uma estratégia eminentemente voltada para ações militares de defesa ligada a questões do conceito de segurança (BRASIL, 2012)3. Dentro dessa perspectiva, o desafio para o desenvolvimento do setor de defesa está em atrair o interesse dos demais setores da sociedade para o problema securitizador, ao mesmo tempo que precisa acompanhar a tendência mundial globalizante e o intenso fluxo tecnológico das relações internacionais (CHECA GONZALEZ, 2010).

Nesse sentido, este trabalho visa evidenciar uma alternativa nesta época de restrições orçamentárias do Brasil, à procura de soluções pertinentes ao contexto social do país, sem perder de vista a finalidade constitucional das Forças Armadas de defesa da pátria. Tais iniciativas dependem de formas de atrair recursos, permitindo investimentos e buscando a integração orçamentária nacional e internacional (DANNEELS, 2007).

1 Ver item 5.1 e 7.15 da Política Nacional de Defesa (PND, 2012). 2 Ver Art. 4º da Constituição da República Federativa do Brasil (1988). 3 Ver Livro Branco da Defesa (2012).

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Para alcançar o objetivo, o presente artigo busca analisar o cenário político de defesa do Brasil, com ênfase nos objetivos nacionais brasileiros e novas tendências das relações estatais regionais. Em seguida, o texto analisa os propósitos de segurança de fronteiras da América do Sul, sob enfoque de um contexto mundial que busca ampliar sua multilateralidade por iniciativas com outros países. Para apresentar sugestões, o texto discute sobre a alternativa tecnológica para a economia de defesa, a fim de enfrentar o cenário orçamentário conturbado, bem como discorre sobre a integração de esforços no setor de defesa, com o desafio de integrar os custos das aspirações civis e militares, nacional e internacionalmente. 2 CENÁRIO DE DEFESA DO BRASIL

Desde que a força é o meio mais resolutivo para exercer o domínio do homem sobre o homem, quem detém o uso deste meio com a exclusão de todos os demais dentro de certas fronteiras é quem tem, dentro destas fronteiras, a soberania entendida como summa potestas, como poder supremo. (BOBBIO, 1987, p. 81).

Por resultado de um processo histórico de nosso país, a sociedade brasileira demostra ter avançado na consolidação da relação civil-militar4. Num sentido amplo, os setores componentes do Estado passaram a discutir assuntos de defesa, o que resultou na normatização de leis que amparam o uso da força em defesa do território nacional. De acordo com essa linha de pensamento, foram estabelecidas legislações que amparam e concentram as reais intenções políticas, como a publicação do Livro Branco da Defesa, a definição da Política Nacional de Defesa (PND) e da Estratégia Nacional de Defesa (END).

A PND diz que a Defesa Nacional é o conjunto de medidas e ações de vários setores componentes do poder nacional do Estado, com ênfase no campo militar. Dessa forma, cabe às Forças Armadas estarem preparadas para a defesa do território, da soberania e dos interesses nacionais contra ameaças preponderantemente externas, potenciais ou manifestas (BRASIL, 2014).

A noção de soberania de um Estado sobre um determinado território vem do conceito westfaliano, após a Guerra dos Trinta Anos. Essa relação de poder e autoridade é garantida pelo acordo social interno que permite o exercício do poder coercitivo do Estado dentro desse território, de forma que a população se submeta às leis e respeite normas e diretrizes desse Estado (BOBBIO, 1987).

Porém, o perfil fronteiriço brasileiro é um desafio para essa estratégia de defesa. Segundo Raza (2014, p. 62), há diferentes imperativos relativos à fronteira: desenvolvimento econômico, controle policial, segurança internacional e identidade de fronteira. O país é ao mesmo tempo continental e marítimo, equatorial, tropical e subtropical, de longa fronteira terrestre com quase todos os países sul-americanos,

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com extenso litoral e águas jurisdicionais. Essa circunstância confere ao Brasil grande profundidade geoestratégica e torna complexa a tarefa do planejamento geral de defesa. Dessa maneira, a diversificada fisiografia nacional conforma cenários diferenciados que, em termos de defesa, demandam, ao mesmo tempo, uma política abrangente e abordagens específicas.

A PND, em seu item 4.5, ressalta que a existência de zonas de instabilidade e de ilícitos transnacionais nas fronteiras pode provocar o transbordamento de conflitos para outros países da América do Sul. A persistência desses focos de incertezas é, também, elemento que justifica a prioridade à defesa do Estado, de modo a preservar os interesses nacionais, a soberania e a independência (BRASIL, 2012, p.22).

Segundo Alsina Jr (2009), o controle de fluxos na fronteira permite fortalecer os propósitos da soberania e contribui para a segurança dos indivíduos. Com a recente evolução globalizante, proveniente da velocidade tecnológica, ocorre o aumento dos fluxos de pessoas, mercadorias e bens nas fronteiras. Esse movimento, no entanto, também pode representar o aumento de ilícitos e crimes transnacionais, bem como comprometer a segurança nacional de todo espectro do poder estatal.

As novas tendências das relações estatais regionais, por sua trasnacionalidade, potencializam a interferência de novos atores não estatais ou de Estados extrarregionais que podem penetrar em diferentes áreas da sociedade brasileira. Os atos de interferência podem ser verificados pela intensificação do interesse pelo efeito da degradação ambiental que provocou a modificação de legislações, apoiadas na aparente aceleração da mudança climática e da redução das fontes de suprimento de água potável. Também chama a atenção do mundo o progressivo esgotamento das reservas conhecidas de matérias-primas essenciais, como água e petróleo, que atraem o interesse para as reservas brasileiras. Além desse fato, o impacto dessas questões no setor de defesa é potencializado pela ampliação da população e pelo aumento do diferencial de renda entre países ricos e pobres (ALSINA JR, 2009).

Do ponto de vista do setor econômico regional, segundo Angell (2002), as nações tendem a cooperar mutuamente e a buscar o aumento das relações comerciais em troca do seu desenvolvimento. O autor afirma que o descrédito e o colapso de qualquer nação pertencente à região econômica em que está inserida faz com que a hipótese de divergência militar seja eliminada, pois o caos de um país ocasionaria o colapso da relação do sistema financeiro regional. Assim sendo, a pobreza ou o enfraquecimento de um país da América do Sul acarretaria o enfraquecimento do seu entorno estratégico, comprometendo a segurança coletiva pela fragilidade de seus membros, por essa razão, para o autor, o mais adequado seria estabelecer um complexo de segurança regional.

De acordo com Buzan (1998), um complexo de segurança regional poderia ser definido da seguinte forma: “(…) um grupo de unidades cujos principais processos de securitização e dessecuritização, ou ambos, estão tão interligados que os seus problemas de segurança não podem ser corretamente analisados ou resolvidos independentemente um do outro.” Assim sendo, o fortalecimento do setor de defesa pode encontrar benefícios na união de Estados contra ameaças em comum.

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Em conformidade com esse pensamento, a PND considera que a segurança do Brasil pode ser afetada pelo grau de estabilidade da região. Seria desejável, portanto, estabelecer o consenso, a harmonia política e a convergência de ações entre os países vizinhos para reduzir os delitos transnacionais e alcançar melhores condições de desenvolvimento econômico e social, tornando a região mais coesa e mais forte. Nessa linha de pensamento, a END, no seu item 18 (BRASIL, 2012, p. 58), registra que os esforços nacionais devem estimular a integração da América do Sul e, ao mesmo tempo, desenvolver o potencial de mobilização militar5 e nacional para assegurar a capacidade dissuasória e operacional das Forças Armadas.

Porém, verifica-se que as respostas adequadas às ameaças, de acordo com as tendências dos próximos anos, dependem de constante investimento. Como complicador, está claro o aprofundamento do fosso tecnológico entre os exércitos de países desenvolvidos e em desenvolvimento, com ênfase nas transformações suscitadas pelo aumento do alcance, letalidade, precisão e automação dos sensores e complexidade das plataformas de combate (BUZAN, 1998). O aspecto levantado implica a necessidade de continuado investimento no setor de defesa.

No intuito de acompanhar essa evolução tecnológica, a PND, item 7.5, estabelece que o País deve dispor de meios com capacidade de exercer vigilância, controle e defesa: das águas jurisdicionais brasileiras, do seu território e do seu espaço aéreo. Assim sendo, cabe às Forças Armadas, além de outras ações pertinentes, atuar por meio de ações preventivas e repressivas, na faixa de fronteira terrestre, no mar e nas águas interiores, contra delitos transfronteiriços e ambientais, isoladamente ou em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo6.

Portanto, considerando o cenário de defesa do Brasil, mesmo que o país exerça certa expressão de poder regional, as ameaças adquiriram grande capacidade transacional. O investimento em defesa exige uma política externa brasileira adequada à defesa do status quo no que se refere às questões de segurança dos recursos nacionais e dos cidadãos (RAZA, 2014). Nessa linha de raciocínio, a conclusão parcial indica a prioridade orçamentária para o esforço militar integrador.

3 QUESTÃO ORÇAMENTÁRIA

A verdade e a liberdade só são possíveis em países que o soberano tem o apoio de um exército efetivo bem organizado. Defender a sociedade contra a violência e a injustiça de outros países torna-se gradualmente cada vez mais dispendioso, à medida que o país vai se tornando mais civilizado. A grande mudança introduzida na arte bélica pela invenção das armas de fogo aumentou ainda mais os gastos necessários para treinar e disciplinar qualquer 5 Ver Lei nº 11.631, de 27 de dezembro de 2007. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/

ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11631.htm>.

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contingente de soldados em tempo de paz, quanto os necessários para utilizá-los em período de guerra. (ADAM SMITH, 1776).

O poder militar é uma forma de alterar o equilíbrio econômico entre os países (BURCHILL; LINKLATER, 2005). Na guerra do ambiente complexo, o dispêndio com armas de guerra e não guerra7 dá evidente vantagem à nação que pode gastar mais. Poder gastar implica ter o recurso e, ainda, ter a vontade política de utilizá-lo em determinado setor.

Nas questões orçamentárias do século XXI, segundo Pieroni (2008, p. 688), seria pertinente identificar um contexto mundial econômico aberto para um novo keynesianismo militar, isso porque a prioridade para a Economia de Defesa pode auferir o crescimento econômico. Porém, tal como declara Fiani (2002, p.145), há uma preocupação evidente em aprofundar a inter-relação entre o político e o econômico dentro do espectro social para além da simples relação entre o governante em busca de receita fiscal e a sociedade que demanda a definição de direitos e oferta de bens públicos.

A Tabela 1 mostra como o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão tem priorizado o destino dos recursos para o setor da defesa. No entanto, verifica-se também que a demanda orçamentária permanece um desafio pela competição por recursos em um ambiente de restrições orçamentárias.

Tabela 1 – Recursos Orçamentários

Fonte: BRASIL, 2014b.

No estudo dos dados da execução orçamentária do Brasil entre 2011 e 2014, Tabela 2, é possível constatar que o setor de segurança e defesa precisa competir para obter prioridade política. Isso porque os assuntos de defesa no Brasil têm baixa relevância no meio político e não são unanimidade (LOONEY; FREDERKSEN, 2000, p. 441).

Segundo Almeida (2010, p.223), o Brasil precisa estabelecer uma política de Estado subjacente à estrutura de defesa nacional que, ao reunir militares e civis, partidos políticos e sociedade, permita sua condução acima das simples rivalidades. Dessa forma, será possível a participação ativa na definição de prioridades, alocação de recursos e elaboração do orçamento.

7 De acordo com o MD33-M-10, Manual de Garantia da Lei e da Ordem, do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, as Operações de Garantia da Lei e da Ordem (Op GLO) caracterizam-se como operações de “não guerra”.

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Tabela 2 – Execução Orçamentária - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

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Ainda, o Brasil registra um grau de articulação insuficiente entre a política de defesa e política externa, o que pode ser evidenciado por alguns fatores, tais como: a histórica baixa prioridade da política de defesa, a ausência de direção efetiva sobre a política de defesa, o perfil avesso a conflitos na política externa e a insipiência de mecanismos operacionais de articulação entre os países do continente. Existe, portanto, certa ausência de securitização contra as ameaças externas e falta de percepção de ameaças internas (ALSINA JR, 2009).

De acordo com RAZA (2009, p. 82), se os custos para o desenvolvimento de armas estratégicas entrassem em pauta política, o orçamento seria de US$ 74 bilhões, o que não seria muito ao se considerar a ambição do Brasil de buscar expressão regional, mas impede qualquer iniciativa efetiva do MD na competição por recursos. Assim sendo, mesmo que na PND, no seu item 7.18, mostre que seria prioritário para o Brasil assegurar continuidade e previsibilidade na alocação de recursos para permitir o preparo e o equipamento adequado das Forças Armadas, de fato isso não tem sido posto efetivamente em prática no orçamento.

Ao gerar a análise de forma comparativa, Tabela 3, considerando-se o entorno estratégico do Brasil, que abrange o espaço geopolítico da União das Nações Sul-Americanas, verifica-se uma grande variação quanto à prioridade de recursos de defesa.

Tabela 3 - Gastos com defesa na UNASUL

UNASUL População

2014

(milhões) PIB 2014 (USD) % PIB/ ano 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Valor em USD (2014) 41.8 540.200.000.000,00 Argentina 0.8 0.7 0.7 0.7 0.8 0.7 0.7 0.7 0.8 0,008 4.321.600.000,00 10.85 34.180.000.000,00 Bolivia 1.8 1.6 1.7 2.0 2.0 1.7 1.5 1.5 1.5 0,014 478.520.000,00 202.00 2.346.000.000.000,00 Brazil 1.5 1.5 1.5 1.4 1.5 1.5 1.4 1.4 1.4 0,013 30.498.000.000,00 17.77 258.100.000.000,00 Chile 2.4 2.4 2.3 2.5 2.2 2.2 2.2 2.1 1.9 0,020 5.162.000.000,00 48.93 377.700.000.000,00 Colombia 3.4 3.3 3.3 3.7 3.9 3.6 3.1 3.2 3.4 0,035 13.219.500.000,00 15.98 100.500.000.000,00 Ecuador 2.3 2.0 2.6 2.7 3.1 3.0 3.1 2.7 2.8 0,027 2.713.500.000,00 0.8 3.228.000.000,00 Guyana 2.2 1.3 1.4 1.6 1.5 1.4 1.3 1.2 1.2 0,012 38.736.000,00 6.91 30.980.000.000,00 Paraguay 0.9 1.1 1.0 1.0 1.1 1.1 1.2 1.4 1.4 0,015 464.700.000,00 30.77 202.900.000.000,00 Peru 1.5 1.4 1.2 1.1 1.4 1.3 1.2 1.2 1.5 0,014 2.840.600.000,00 0.54 5.299.000.000,00 Suriname # # # # # # # # # # # 3.41 57.470.000.000,00 Uruguay 2.1 2.1 1.8 2.0 2.1 2.0 1.8 1.8 1.9 0,016 919.520.000,00 30.85 510.000.000.000,00 Venezuela, RB 1.4 1.6 1.3 1.4 1.2 0.9 0.8 1.3 1.4 0,011 5.610.000.000,00 Fonte: THE WORLD BANK, 2015.

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De forma geral, os dados indicam que uma hipótese para o axioma básico na decisão orçamentária seria o fato de que o plano doméstico é mais relevante do que o internacional para a produção da política de defesa. Tal situação corre em função do fato de que os inputs emanados do Conselho de Defesa Sul- americano e do nível sistêmico em tempos de paz não são suficientemente intensos para suplantar a preponderância da dinâmica burocrática relacionada à gestão dos assuntos militares no Brasil e seu entorno estratégico (ALSINA JR, 2009).

Ainda, autores como Looney e Frederksen (2000, p. 438) consideram que na realidade dos países do Cone Sul existe uma distância entre as ideias estabelecidas nas políticas de defesa e os orçamentos destinados às forças armadas. Aguilar (2008, p. 119) acrescenta:

Pode-se afirmar que as Forças Armadas do Cone Sul não evoluíram o necessário para assegurar a dissuasão prevista em todas as políticas de defesa, além de os orçamentos comprometerem a preparação para assegurar os interesses vitais das nações, conforme expressos nas políticas.

Já no contexto mundial, por sua importância econômica, o Brasil busca ampliar sua multilateralidade estabelecendo iniciativas conjuntas com outros países, tal como o esforço de entendimento pelo Fórum dos BRICs e acordos bilaterais com países mais poderosos economicamente e militarmente. Porém, diferente do Brasil, tais países têm dado grande continuidade ao espaço orçamentário para o setor de segurança e defesa, tal como representado nos gráficos abaixo:

Tabela 4 - Gastos com defesa nos BRICS

BRICS Pop 2014

(milhões) PIB 2014 (USD) % PIB/ ano 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 Valor em USD (2014) 202.00 2.346.000.000.000,00 Brazil 1.5 1.5 1.5 1.4 1.5 1.5 1.4 1.4 1.4 0,013 30.498.000.000,00 1.364.00 10.360.000.000.000,00 China 2.0 2.1 2.0 2.0 2.2 2.0 2.0 2.0 2.0 0,021 217.560.000.000,00 1.267.00 2.067.000.000.000,00 India 2.8 2.5 2.3 2.6 2.9 2.7 2.6 2.5 2.4 0,024 49.608.000.000,00 143.80 1.861.000.000.000,00 Russian Federation 3.6 3.5 3.3 3.4 4.2 3.9 3.7 4.0 4.2 0,045 83.745.000.000,00 54.00 349.800.000.000,00 South Africa 1.4 1.3 1.2 1.1 1.2 1.1 1.1 1.1 1.1 0,011 3.847.800.000,00 Fonte: The WORLD BANK, 2015.

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Tabela 5 - Gastos com defesa das maiores potências econômicas e militares

Potências Econômicas e Militares

318.90 17.420.000.000.000,00 United States 3.8 3.8 3.8 4.2 4.6 4.7 4.6 4.2 3.8 0,035 609.700.000.000,00 64.51 2.942.000.000.000,00 United Kingdom 2.3 2.2 2.2 2.4 2.5 2.4 2.3 2.2 2.1 0,021 61.782.000.000,00 66.20 2.829.000.000.000,00 France 2.4 2.3 2.3 2.3 2.5 2.3 2.3 2.2 2.2 0,022 62.238.000.000,00 80.89 3.853.000.000.000,00 Germany 1.3 1.3 1.2 1.3 1.4 1.4 1.3 1.3 1.3 0,012 46.236.000.000,00 127.10 4.601.000.000.000,00 Japan 1.0 1.0 1.0 1.0 1.0 1.0 1.0 1.0 1.0 0,010 46.010.000.000,00 8.21 304.200.000.000,00 Israel 7.6 7.5 6.8 6.6 6.8 6.3 6.0 5.7 5.8 0,052 15.818.400.000,00 Fonte: THE WORLD BANK, 2015.

Se os dados apresentados forem analisados com relação à população do país, verifica-se mais nitidamente o baixo investimento do Brasil em Defesa, conforme segue:

Tabela 6 - Gastos com defesa 2014, em relação à população

UNASUL

% PIB/ ano Valor em milhões USD (2014) População 2014 (milhões)

Valor investimento nas Forças Armadas per

capita Argentina 4.321,60 41,80 103,39 Bolivia 478,52 10,85 44,10 Brazil 30.498,00 202,00 150,98 Chile 5.162,00 17,77 290,49 Colombia 13.219,50 48,93 270,17 Ecuador 2.713,50 15,98 169,81 Guyana 38,74 0,80 48,42 Paraguay 464,70 6,91 67,25 Peru 2.840,60 30,77 92,32 Suriname # 0,54 # Uruguay 919,52 3,41 269,65 Venezuela, RB 5.610,00 30,85 181,85

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BRICS

% PIB/ ano Valor em milhões USD (2014) População 2014 (milhões)

Valor investimento nas Forças Armadas per

capita Brazil 30.498,00 202,00 150,98 China 217.560,00 1.364,00 159,50 India 49.608,00 1.267,00 39,15 Russian Federation 83.745,00 143,80 582,37 South Africa 3.847,80 54,00 71,26 Potências Militares % PIB/ ano Valor em milhões USD (2014) População 2014 (milhões)

Valor investimento nas Forças Armadas per

capita United States 609.700,00 318,90 1.911,88 United Kingdom 61.782,00 64,51 957,71 France 62.238,00 66,20 940,15 Germany 46.236,00 80,89 571,59 Japan 46.010,00 127,10 362,00 Turkey 17.589,00 75,84 231,92 South Korea 36.660,00 50,42 727,09 Israel 15.818,40 8,21 1.926,72

Fonte: The World Bank, 2015.

Do exposto, mesmo que existam propostas abrangentes, a questão orçamentária é um obstáculo à continuidade do investimento e carece de soluções criativas. No que se refere à política de defesa, há, portanto, um visível descolamento entre o estabelecido nos documentos da política de defesa do Brasil e o orçamento destinado à sua realização. Assim sendo, cabe espaço para iniciativas inovadoras nas Forças Armadas, como as apresentadas pelas oportunidades tecnológicas. A seguir, será abordada uma alternativa integradora para a economia de defesa.

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4 ALTERNATIVA TECNOLÓGICA PARA A ECONOMIA DE DEFESA

Líderes e analistas quase sempre argumentam que uma economia forte, vibrante e tecnologicamente inovadora constitui a verdadeira pedra angular do poder nacional abrangente. O poder econômico, por sua vez, é sustentado pela qualidade dos sistemas político e militar de um país, da ciência e tecnologia, da diplomacia e outros fatores menos tangíveis... a capacidade do governo não só para sustentar altas taxas de crescimento, mas também para promover a crescente riqueza social, estão na sua capacidade para desenvolver a sua própria tecnologia militar, bem como no uso dual da tecnologia, importantes fatores que determinarão quanto, e quão efetiva, será a resposta da China para responder à transformação militar dos Estados Unidos da América. (MULVENON et al., 2006, tradução nossa).

No âmbito internacional da Economia de Defesa, a alternativa tecnológica para a redução de custos é uma experiência já corrente em países como a China e membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) (DOMBROWSKI et al., 2002), (MULVENON et al., 2006). Além de aumentarem o poder militar e econômico, estas iniciativas demonstram ter benefícios orçamentários resultantes da substituição de estruturas físicas pela inovação tecnológica, constituindo assim uma importante ferramenta para responder aos desafios da competição e restrição de recursos. Esse pensamento torna-se adequado a um país como o Brasil, que possui uma extensa área a ser protegida.

Um exemplo bem atual de política integrada para a redução de custos convencionais pelo investimento em tecnologia pode ser verificado nos países da União Europeia, que tem priorizado gastos com defesa, politicamente justificados pela melhoria da eficiência das indústrias de defesa, com foco na inovação e na tecnologia, trazendo benefícios para outros setores da sociedade. Assim, procuram-se efeitos duais multiplicadores que podem procuram-ser gerados pelo aumento da utilização da capacidade industrial e da inovação tecnológica (HARTLEY, 2003).

No Brasil, o exame das diretrizes da END permite concluir que o Ministério da Defesa e a Secretaria de Assuntos Estratégicos pretendem promover um processo de modernização e de transformação. No entanto, as iniciativas dependem da interação sul-americana no setor, o que representa um desafio para a exequibilidade do sistema, pois a tecnologia de defesa é historicamente um assunto sensível pelo controle de fronteiras (OLIVEIRA, 2009, p.75).

Buscando dirimir os problemas no campo político, a proposta tecnológica brasileira foi exposta na PND no seu item 7.10, que estabelece que os setores espacial, cibernético e nuclear são estratégicos para a defesa do País. Entre os principais projetos de modernização das Forças Armadas, destaca-se o Sistema

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de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron8), que será conectado com o Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Sisdabra), da Força Aérea, bem como com o Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz), da Marinha. Os sistemas, além de assegurar o exercício da soberania nacional, também garantem a segurança dos recursos econômicos brasileiros (RAZA, 2014, p.69).

Como afirmam KUGLER (2008) e SLOAN (2008), tais projetos têm benefícios duais, pois, além de aumentarem a capacidade de dissuasão estratégica, também podem contribuir como estimuladores do desenvolvimento tecnológico modular. No entanto, considerando que esses sistemas têm projeção transacional, deve-se obdeve-servar que a sustentação dos projetos dependerá também da participação complementar e direta dos demais países da América do Sul (ALMEIDA, 2010, p. 230).

Segundo o Comandante do Exército (Informação verbal)9, o sensoriamento remoto do Sisfron representa o principal esforço do Exército para a fiscalização da Faixa de Fronteira e, como afirma Kugler (2008), projetos modulares são importantes para adequar a estrutura aos objetivos; do mesmo modo, o corrente projeto de transformação da Força Terrestre busca equilibrar as capacidades com as novas demandas de Defesa e Segurança (SLOAN, 2008). Dessas demandas, 16% das ações são Operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO), 22% de atuação do Exército diretamente na Faixa de Fronteira e 62% do esforço do Exército direcionado para as ações subsidiárias. Em valores financeiros, essas operações representam o direcionamento de 7,5% do orçamento para as ações de GLO, 2% para as ações diretas do Exército na Faixa de Fronteira e 90,5% para as operações subsidiárias interagências.

De acordo com o Escritório de Projetos do Exército (EPEx), o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (SISFRON), que está inicialmente sendo implantado em Dourados, na 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada (4ª Bda C Mec), depende de investimento continuado e visa monitorar toda a área de fronteira do País. Muitas unidades que compõem a 4º Bda C Mec estão espalhadas na divisa com o Paraguai, em uma área de cerca de 600 quilômetros, no Mato Grosso do Sul, sendo que o projeto piloto do Sisfron busca alcançar toda essa extensão, com previsão de conclusão para 2016. O desafio é a continuidade do investimento, pois, desde a criação do Sisfron, em 2013, o governo já investiu cerca de R$ 1,3 bilhões na iniciativa, o que equivale a 11% do orçamento total do projeto final (BRASIL, 2015).

Na sua próxima fase, segundo o EPEx, o projeto vai se estender em direção

8 Ver Projeto SISFRON. Escritório de Projetos do Exército. Disponível em: <http://www.epex.eb.mil.br/ index.php/novidade/13-sisfron.html>.

9 Palestra do Comandante do Exército, General de Exército Eduardo Dias da Costa Villas Bôas, na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), no dia 21 de agosto de 2015.

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ao norte e ao sul do Brasil. Na região Norte, o Sisfron será acolhido pela 13ª Brigada de Infantaria Motorizada e pela 17ª Brigada de Infantaria de Selva. A 13ª Brigada tem sede em Cuiabá, no Mato Grosso, estado que tem 780 km de fronteira com a Bolívia. Já a 17ª Brigada fica em Porto Velho, capital de Rondônia, mas possui unidades também no Acre. Rondônia tem 1.342 km de fronteira com a Bolívia, enquanto o Acre faz fronteira com o Peru, numa faixa de 1.430 km. No sul do país, o Sisfron alcançará a área pela qual responde a 15ª Brigada de Infantaria Mecanizada, no Paraná, estado que tem região de fronteira com o Paraguai (208 km) e com a Argentina (293 km) (BRASIL, 2015).

Outra iniciativa tecnológica relevante é o Projeto Amazônia Conectada, do Ministério da Defesa, em conjunto com o Ministério das Comunicações e com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, instituído com o objetivo de expandir a infraestrutura de comunicações e contribuir para as ações do Governo Federal desenvolvidas no âmbito do Programa Nacional de Banda Larga – PNBL, na região amazônica. O Amazônia Conectada, além de captar recursos de P&D da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e de outras fontes de investimentos, prevê a instalação de cerca de 8 mil quilômetros de cabos de fibra óptica nos leitos dos rios Negro, Solimões, Madeira, Juruá, e Purus, interligando 52 municípios e atendendo 3,8 milhões de pessoas da região (BRASIL, 2015).

Segundo o Comandante do Exército (BRASIL, 2015), a transformação das Forças Armadas dependerá do equilíbrio da inovação com a tradição e do fator humano com a tecnologia, a fim de adequar as necessidades do presente com as perspectivas do futuro. O Projeto Amazônia Conectada, além assegurar eficiência e segurança de conectividade, incentivando e melhorando as atividades de pesquisa e educação, contribuirá também para a interiorização de políticas públicas, alcançando benefícios duais (SOUZA, 2006).

Em que pese as iniciativas já mencionadas, a constante evolução globalizante da Economia de Defesa cria vulnerabilidades orçamentárias para a viabilização da implantação dos sistemas. Para superar essas vulnerabilidades, além do investimento do Estado em setores de tecnologia avançada, seria essencial buscar a integração de esforços dentro do Brasil e no seu entorno estratégico de defesa.

5 INTEGRAÇÃO ORÇAMENTÁRIA DA DEFESA

Em termos mais concretos e imediatos, decidimos buscar convergências no setor da indústria de defesa. Neste caso, parto da premissa de que, quando se trata de modernizar material de emprego militar, é claramente salutar que os governos da América do Sul atuem em conjunto, tanto como compradores e importadores quanto como produtores e exportadores. Agindo dessa forma, os países do subcontinente – com suas respectivas

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indústrias – serão capazes de alcançar coerência e escala econômicas propícias a um aproveitamento mais racional dos recursos disponíveis. Ademais, há que se ter presente o fato de que a integração de indústrias de defesa constitui uma medida adicional de reforço de confiança mútua. (Informação Verbal)10.

A Economia de Defesa tem sua base no desafio de integrar os custos das aspirações civis e militares, nacionalmente e internacionalmente (TURNELL; COLOUMB, 2004). Nessa direção, a END de 2008 foi um importante marco para redefinir o compromisso entre a sociedade e seus objetivos nacionais, facilitando garantir iniciativas que estabeleçam a retomada dos programas da BID com ênfase nos aspectos tecnológicos.

Tal integração encontra-se no elo econômico que pode impulsionar o desenvolvimento. Como justificativa racional para esse propósito, destaca-se

spin-off da revitalização da indústria de defesa, isto é, um efeito de transbordamento

ou “espirramento” dos resultados tecnológicos e econômicos desencadeados pelo gasto militar no setor da defesa para o setor civil da economia. Outras justificativas seriam: a obtenção de ganhos de comércio exterior através da exportação de material de defesa (MD), substituição de importações, ou o aumento da capacidade de barganha em relação às grandes potências, ou de projeção de poder em relação a países mais fracos (DAGNINO, 2009, p.64).

Além da integração interna da economia, o esforço de defesa do Brasil depende de envolver os custos da integração militar sul-americana (RUIZ-DANA; GOLDSCHAGG; CLARO, 2007, p. 6). As iniciativas englobariam assuntos de interesse comum, tal como a Amazônia Internacional, que é dividida entre Brasil, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e França (Guiana Francesa). De acordo com RAZA (2014), para tais iniciativas avançarem, precisa-se adequar a obstáculos como a sua extensão territorial. Assim sendo, a solução mais eficiente dependeria da complementaridade da defesa pela inovação com tecnologia da informação, com a utilização de satélites, com o sensoriamento eletrônico e outros aperfeiçoamentos tecnológicos (SLOAN, 2008).

Relembrando Pieroni (2008, p. 688), seria pertinente identificar um contexto mundial econômico aberto para um novo keynesianismo militar, o que significaria dizer que os gastos militares poderiam ainda ser investimentos radiantes para a economia como um todo. Ao discutir os resultados empíricos em sua pesquisa com gastos militares, Pieroni descobriu que os dados agregados forneceriam a evidência consistente de que os gastos de defesa e os gastos civis são cointegrados com os resultados econômicos e taxa de juros reais.

10 Palavras do Exmo Senhor Ministro de Estado da Defesa, José Viegas Filho, aos oficiais generais das três Forças, por ocasião do fim do ano de 2003.

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No estudo mencionado, Pieroni (2008, p. 677) demonstrou com seu modelo matemático que a taxa de lucro (j) seria um indicador alvo do banco central, em um período (t), e conduziria a política monetária nacional, podendo ser representada por (Rjt). O valor dos bens e serviços finais produzidos na economia seria representada por (Yt). Assim, a renda agregada seria Yt =W(rjt), com a equação entrando em equilíbrio pela formulação matemática expressa como: Yt = −ζRt + μt. Nesse caso, o micro tesla (μt) seria um termo estocástico que incluiria choques de política fiscal e/ ou exportação líquida. O lado direito da equação descreveria a relação inversa entre a taxa de lucro (real), alvo das escolhas do banco central, e a produção agregada econômica. O termo estocástico da equação desempenha um papel central na análise, evidenciando as estimativas sobre os efeitos para o governo dos gastos com defesa. (PIERONI, L.; D’AGOSTINO; LORUSSO, 2008, 675–691)11

Esse modelo de Pieroni mostrou que os gastos militares são indutores econômicos, e, se o Brasil tem pretensões ao desenvolvimento, deve considerar a influência desse setor no cenário nacional e internacional. A importância dessa afirmação é reforçada pela dependência das ações orçamentárias e pelo aspecto dual da tecnologia, já mencionados neste artigo, bem como pelo volume econômico do PIB entre os países do Mercosul. Se a projeção for ampliada para o cenário da UNASUL, reforça-se ainda mais a necessidade de que as iniciativas sejam integradas.

Tabela 7- Principais Indicadores Econômicos, Ministério das Relações Exteriores (MRE) - 2014

PIB PIB (US$ bilhões)

PIB per capita (US$) PIB PPP (US$ bilhões) PIB PPP per capita (US$) Projeção do crescimento para 2015 População (milhões de habitantes) Participação % na população mundial Argentina 540,2 12.873 947,6 22.582 -0,31 42 0,60% Brasil 2.353,00 11.604 3.263,80 16.096 -1,03 202,8 2,80% Paraguai 29,7 4.305 58,3 8.449 3,99 6,9 0,10% Uruguai 55,1 16.199 70 20.556 2,8 3,4 0,05% Venezuela 205,8 6.757 538,9 17.695 -7 30,5 0,40% MERCOSUL 3.184 10.348 4.879 17.076 --- 285,5 4,00% Fonte: BRASIL, 2015.12

11 A derivação do modelo matemático de PIERONI, L.; D’AGOSTINO A. G.; LORUSSO, M. pode ser encontrada em Journal of Policy Modeling, 675–691, 2008.

12 Elaborado pelo Ministério das Relações Exteriores - MRE/DPR/DIC - Divisão de Inteligência Comercial, com base em estimativas do IMF - WEO World Economic Outlook, April 2015 e do MERCOSUR (www. mercosur.int).

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A importância dessa hipótese tem aplicações no cenário orçamentário do Brasil, bem como no seu entorno estratégico, pois investimentos em tecnologia dependem de esforço contínuo integrado à sociedade. Por isso, o crescimento econômico integrado do Brasil, bem como do continente, dependeria de investimentos nos setores civis e militares (TURNELL; COLOUMB, 2004).

Paralelo à prospectiva intenção de crescimento econômico sul-americano, infere-se infere-ser necessário investir em poder militar tecnológico para coerção de ameaças (RUIZ-DANA; GOLDSCHAGG; CLARO, 2007). Isso porque, segundo estudos das Nações Unidas para a América Latina e Caribe, a região apresenta as maiores taxas de violência no mundo. O Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime (UNODC) publicou, em 26 de junho de 2013, que existe forte correlação entre as altas taxas de violência e o tráfico de drogas na América Latina, em virtude de existir grande produção de drogas em países limítrofes, que aproveitam a natureza transfronteiriça do problema.

O relatório supramencionado diz ainda que, na América do Sul, o Brasil seria um importante entreposto para tráfico internacional de cocaína, principalmente para Europa e África Ocidental. Ainda, o Brasil encabeçaria a lista da origem de cocaína e crack apreendidas no mundo, à frente de Colômbia, Bolívia e Peru, que produzem 100% da folha de coca mundial. De acordo com a UNODC (2013, pág. 43), os dados da produção mundial da folha de coca são os seguintes: 17, 5% da Bolívia, 41,1% do Peru, 41, 4% da Colômbia; sendo que quanto à origem da folha de coca, da cocaína e do crack no Brasil vêm: 54 % da Bolívia, 38% do Peru, 7,5% da Colômbia.

As ameaças referidas fomentam um múltiplo desconforto nas relações entre o poder político e os custos do aparelho militar brasileiro. Essa situação se deve ao fato de existir uma fragilidade decisória com os demais ministérios em questões orçamentárias da estrutura de Defesa Nacional do Brasil (OLIVEIRA, 2009).

Portanto, verifica-se que a capacidade de segurança precisa ser ampliada por um

continuum de segurança tecnológica que se estenderia pela fronteira sul-americana, a

fim de conseguir integrar os objetivos de defesa em todo o entorno estratégico nacional. Ressalta-se, nesse processo, a importância da colaboração internacional para a criação das condições de uma efetiva segurança de fronteiras (RUIZ-DANA; GOLDSCHAGG; CLARO, 2007). Isso porque os principais dispositivos de sensoriamento ativos dos novos sistemas, como os radares, SR (surveillance radar), podem ultrapassar as fronteiras políticas e, portanto, precisam ser coordenados dos dois lados dessas fronteiras (RAZA, 2014, p.65).

A ação do continuum de segurança também tem o aspecto dual do custo, pois existe a contribuição do investimento em defesa com aspectos da segurança pública. Assim, não pode deixar de ser considerada (SOUZA, 2006). Dessa forma, as demandas por defesa nacional, bem como por outros bens e serviços públicos, poderiam ser classificadas como uma oportunidade para a integração, com a inserção do assunto no debate das políticas públicas do continente (ALMEIDA, 2010, p. 230).

Como conclusão, verifica-se que o Brasil, seja no Mercosul ou em conjunto com os demais países da UNASUL, precisa alinhar-se com as ações orçamentarias, a fim de

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atender aos objetivos nacionais e internacionais. Ainda nesse sentido, a integração por tecnologias de defesa, entre civis e militares, parece ser um importante facilitador para o planejamento de ações inovadoras em Economia de Defesa.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Economia de Defesa ocupa um importante papel indutor do desenvolvimento nacional e sul-americano, pois está relacionada diretamente a três setores do poder: o militar, o econômico e o tecnológico. Assim sendo, o desenvolvimento da defesa brasileira depende da integração desses setores internamente e da ação conjunta em suas fronteiras, permitindo acompanhar a tendência de globalização e a complexidade de ameaças.

O Brasil definiu como princípio fundamental ser uma nação pacífica e, portanto, adota uma estratégia eminentemente voltada para ações de defesa. Os objetivos nacionais brasileiros alinham-se com a articulação de posição regional em foros multilaterais, com o propósito de segurança da América do Sul. Assim sendo, a estratégia nacional baseia-se no reforço da segurança de suas fronteiras, de forma a construir uma visão comum com seus vizinhos em assuntos de defesa.

No entanto, as dificuldades do setor de defesa envolvem a vontade política da nação brasileira e a integração do país ao seu entorno estratégico. Em virtude das restrições orçamentárias, de uma nação em desenvolvimento, e da velocidade tecnológica que acompanham a indústria de defesa, a eficiência do sistema depende da complementaridade dos projetos nacionais e internacionais. Ser competitivo em segurança depende da eficiência no orçamento, bem como depende de definir o grau de investimento adequado para efetivar os objetivos nacionais de defesa e, ainda, de contribuir com as demais iniciativas do Conselho Sul-Americano de Defesa.

Assim sendo, a exposição de motivos mostrou que o investimento continuado em tecnologia é na verdade uma alternativa para o cenário de restrição orçamentária. Isso porque o Brasil poderá se fortalecer tecnologicamente internamente e pela integração com seu entorno estratégico e preparar-se para o desenvolvimento econômico. No exemplo abordado, foi possível entender como a resposta tecnológica brasileira nas fronteiras permitirá o estabelecimento do ambiente seguro e estável que atenderá aos seus interesses, público e privado, nacionais e internacionais e, ainda, poderá cooperar regionalmente em assuntos de defesa.

Conclui-se, finalmente, que a Economia de Defesa encontrará benefícios com as inovações tecnológicas, pois as iniciativas podem estimular a base industrial de defesa, pela complementaridade e dualidade da natureza dos investimentos, otimizando os custos de defesa e possibilitando a resposta aos desafios do cenário estratégico do Brasil. Portanto, a resposta tecnológica representa a melhor alternativa para unir o esforço civil e militar no setor de defesa, bem como os interesses comuns do continente sul-americano.

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Tabela 2 – Execução Orçamentária - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
Tabela 3 - Gastos com defesa na UNASUL
Tabela 4 - Gastos com defesa nos BRICS
Tabela 5 - Gastos com defesa das maiores potências econômicas e militares
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