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A profissão de arquiteto - competências e aptidões fora da arquitetura.

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Academic year: 2021

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PROFISSÃO

A

ARQUITETO

DE

ISCTE-IUL Luís Martins Novembro, 2016 Ana Ar agão

CONEXÕES MORFOLÓGICAS

O MUSEU DE SINES

COMPETÊNCIAS E APTIDÕES FORA DA ARQUITETURA

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Escola de Tecnologias e Arquitetura Departamento de Arquitetura e Urbanismo

Mestrado Integrado em Arquitetura

Luís Sérgio Gonçalves Santos Martins

Trabalho de projeto submetido como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Arquitetura

A profissão de arquiteto: competências e aptidões fora da arquitetura Orientador:

Doutor, Vasco Nunes da Ponte Moreira Rato, Professor Auxiliar, ISCTE-IUL

Acupuntura Urbana Orientador:

Doutor, Pedro da Luz Pinto, Professor Auxiliar, ISCTE-IUL

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Caminhos longos Criam vitórias únicas Sim, acabou Novembro, 2016

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VERTENTE TEÓRICA

A profissão de arquiteto Competências e aptidões fora da arquitetura

VERTENTE PRÁTICA

Acupuntura Urbana Conexões Morfológicas - Museu de Sines Centro de Apoio Social

Parte I

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VERTENTE TEÓRICA

A profissão de arquiteto

competências e aptidões fora da arquitetura

Parte I

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Acho a arquitetura uma das profissões mais bonitas do mundo. Ao projetar, eu sentia-me um Deus.'

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Resumo

Aos olhos de uma sociedade em constante mutação, a profissão de arquiteto é a chave principal na incessante procura de soluções aos diversos problemas sociais. Define-se, essencialmente, por uma profissão de planeamento capaz de atuar no presente e pensar sobre o futuro, recaindo sobre si a forte responsabilidade de assumir o que a todos nos envolve, hoje e amanhã.

Numa fase amplamente crítica das ações diretas de cada arquiteto, o fraco investimento e consequente diminuição de trabalho faz desesperar inúmeros jovens arquitetos a cada novo ano, na expetativa de seguir o sonho para que tanto lutaram. Numa profissão cada vez mais fustigada pela crise económica que se instalou em Portugal em 2008, torna-se essencial repensar a sua estrutura e ligação direta ao mercado de trabalho, procurando mudar o futuro mais próximo.

Esta realidade vem colocar à prova as competências de um profissional em arquitetura, abrindo novas opções em diferentes eixos da sociedade. Marcadamente jovem e abrangente no seu leque de ações, o arquiteto tem vindo a procurar alternativas práticas na sua profissão de modo a encontrar a sua estabilidade profissional e financeira.

Num longo de trabalho e pesquisa, procura-se definir o que é a profissão de arquiteto atualmente em exercício em Portugal, encontrando caminhos de ação noutras áreas fora da arquitetura. Numa primeira fase, uma breve apresentação da profissão de arquiteto, nomeadamente das suas funções na área profissional e a evolução em Portugal. De salientar a tensão entre vocação e profissão, muito debatida no seio da sociologia das profissões. Numa segunda parte, sublinha-se a diferença entre os cursos de arquitetura do ensino superior em Portugal, destacando os pontos positivos e negativos na formação, comprovados com inquéritos a atuais estudantes e recém-formados em arquitetura, resultando num breve estado da profissão. Por fim, destacam-se as opções fora da arquitetura pelas quais o arquiteto tem optado nos últimos anos, numa coleção de testemunhos reais de recém-diplomados em busca da sua estabilidade noutras áreas.

Não é apenas um trabalho de investigação. É uma conclusão de que o panorama arquitetónico português precisa de ser repensado e estruturado. É um alerta para a situação de milhares de jovens arquitetos em busca de um sonho. É a realidade da profissão de arquiteto em Portugal. Mas acima de tudo, a procura de uma solução, e a abertura de novos caminhos nas funções do arquiteto.

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Abstract

In the eyes of a constantly changing society, the architectural profession is the main key in the incessant search for solutions to various social problems. It is defined mainly by a profession of planning capable of acting in the present and thinking about the future, that regards and bears strong responsibility about what surrounds everyone, today and tomorrow.

A broadly critical phase of the direct actions of each architect, weak investment and consequent reduction of work is despairing countless young architects every year, with the expectation of following the dream for witch they fought so hard. A profession increasingly buffeted by the economic crisis that has taken place in Portugal in 2008, it is essential to rethink its structure and direct link to the labour market, seeking to change the near future.

This reality has been put to the test the skills of a professional in architecture, opening up new options in different axes of society. Markedly young and comprehensive in its range of actions, the architect has been looking for alternative practices in his/her profession in order to meet professional and financial stability.

In a long research work, this dissertation seeks to define what is currently the architecture profession in Portugal, finding courses of action in other areas outside of architecture. Initially, a brief presentation of the architectural profession is presented, in particular the functions in the professional field and the evolution in Portugal. The tension between vocation and profession, much debated within the sociology of professions. The second part highlights the difference between academic architecture programs in higher education in Portugal, highlighting the strengths and weaknesses in training, proven by surveys of current students and recent graduates in architecture, resulting in a brief state of the profession. Finally, the professional options outside architecture that have been the option for architects in recent years are highlighted, through a collection of real testimonies of recent graduates in search of stability in other areas.

It is not just a research work. It is a conclusion that the actual landscape Portuguese architecture needs to be rethought and restructured. It is an alert to the situation of thousands of young architects in search of a dream. It is the reality of the architectural profession in Portugal. But above all, the search for a solution, and the opening of new paths in the architect functions.

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Para a pessoa mais importante. Para a pessoa que sempre acreditou.

Para a melhor pessoa de todas. Para a minha mãe.

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À a minha avó Lurdes, por toda a força que me deu ao longo dos tempos. Ao meu avô, cujas últimas palavras foram de força e desejo de sucesso.

Aos meus dois 'pais', pelo que me ajudaram a conseguir os meus objetivos de diferentes formas e proximidades.

À minha madrinha, pela constante palavra de força e coragem, e à minha prima, que aos poucos vai crescendo sem se notar.

Ao António, à Liliana e ao Martim, e a todo o grupo do Aventura Radical por todos os bons momentos (Inês, Bernardo, Nádia, Ivo, Louro, Filipa). São família.

À Caca, todo o apoio que me deu dia após dia, pela amizade constante e pelo carinho sentido.

Ao Pedro Abalada, à Juliana Mota, à Inês Viegas, ao João Fonseca, ao Samuel Dias, ao Hugo Coelho, ao afilhado Hugo Martins, à Adriana Afonso, ao Chen Tao, e a todos os colegas do curso que me ajudaram a cada dia.

À Luísa Gouveia, à Ana Carolina, à Joana Dinis, ao Rúben Mendonça, ao João Ribeiro, ao André Pereira, ao João Mineiro, à Catarina Monteiro, à Lia Nóbrega, à Ângela Silva, à Maria Inês, e a todos os amigos que fiz no ISCTE-IUL.

À AEISCTE-IUL e a todos os bons amigos que lá fiz, por tudo o que aprendi e me ajudou a crescer, e pelo espaço marcado para eu trabalhar.

Ao melhor orientador, Vasco Rato, pela confiança e amizade desde o primeiro minuto e por todo o apoio que me deu ao longo destes anos.

Ao melhor tutor, Pedro Pinto, pelo incansável apoio a alguém que tanto precisava, e por nunca ter desistido nem me ter deixado desistir.

Ao professor Paulo Tormenta Pinto, pela força no momento certo que me fez ultrapassar uma fase complicada.

Ao meu grupo de trabalho, Ana Fragata, Andreia Tavares, Nádia Gomes, Sara Baião e Susana Rego, pela paciência e esforço que levou à distinção na Trienal de Arquitetura de Lisboa.

À Adriana Afonso, Alexandra Correia, Ana Aragão, Ana Rita Dias, António Baeta, Cátia Almeida, Cátia Martins, Carolina Medeiros, Clara Pereira, Daniela Simões, Duarte Silva (Feeders), Eduardo Filho, Eugénio Almeida, Fábio Correia, Inês Mendes Trigo, Ismael Prata, Joaquim Silva (Feeders), João Santa Rita, José António Saraiva, José Capela, José Piteira, Juliana Mota, Lara Seixo Rodrigues,

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Leandro Ribeiro, Leonor Cício, Lourenço Thomaz, Mafalda Souto Pinheiro, Manuel Rebello de Andrade, Margarida Marques, Miguel Ângelo, Nuno Potier, Paulo Aguiar, Pedro Abalada, Pedro Pinto, Ricardo Borges Duarte, Rita Cepa, Rúben Viegas, Sara Pinheiro, Tiago Pedro e Tomé Gouveia pela

disponibilidade e colaboração nas entrevistas para esta dissertação.

Aos que nunca acreditaram, aqui está a vossa resposta.

Ficaram imensos por citar. Um percurso tão longo e tão rico nunca é feito sozinho, onde as relações que se criam em cada momento o torne tão único e especial. A todos os que citei, e aos que ficaram por citar, um grande MUITO OBRIGADO! Foi uma prova longa demais, mas que será certamente inesquecível em todos os momentos!

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Índice Índice de tabelas Índice de gráficos 1. Introdução 1.1. Contextualização 1.2. Objetivos 1.3. Metodologia 1.4. Estrutura da tese 2. Estado da Arte 3. A profissão de arquiteto

3.1. Profissão e vocação – A sociologia das profissões 3.2. Ser arquiteto ao longo dos tempos

3.3. O arquiteto em Portugal 3.4. A função do arquiteto atual

4. A formação de arquiteto

4.1. O ensino da arquitetura em Portugal 4.2. O processo de Bolonha

4.3. O panorama do ensino da arquitetura visto pelos estudantes

4.4. Síntese das entrevistas a Pedro Pinto, arquiteto e docente do ISCTE-IUL e a João Santa Rita, arquiteto e Presidente da Ordem dos Arquitetos.

5. Já sou arquiteto/a. E agora?

5.1. O panorama da profissão visto pelos arquitetos 5.2. As razões de uma mudança

10 10 11 11 12 14 18 18 19 21 23 28 28 32 33 39 44 44 49

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5.3. Síntese das entrevistas a Adriana Afonso, Alexandra Correia, Ana Rita Dias, Cátia Almeida, Carolina Medeiros, Clara Pereira, Daniela Simões, Eduardo Filho, Eugénio Almeida, Fábio Correia, Inês Mendes Trigo, Ismael Prata, José Piteira, Juliana Mota, Leonor Cício, Mafalda Souto Pinheiro, Manuel Rebello de Andrade, Margarida Marques, Nuno Potier, Paulo Aguiar, Pedro Abalada, Ricardo Borges Duarte, Rita Cepa, Rúben Viegas, Sara Pinheiro, Tiago Pedro, Tomé Gouveia, diplomados em arquitetura a trabalhar em diferentes áreas.

6. O arquiteto do futuro

6.1. As características do arquiteto

6.2. A mãe de todas as áreas: a arquitetura

 6.3. Síntese de entrevistas a casos de sucesso de arquitetos noutras áreas: Ana Aragão, António Baeta, Cátia Martins, Duarte Silva e Joaquim Silva (Feeders), José António Saraiva, José Capela, Lara Seixo Rodrigues, Leandro Ribeiro, Lourenço Thomaz e Miguel Ângelo.

7. Conclusões

Referências bibliográficas

Anexo A

A.1. Entrevista a João Santa Rita, arquiteto e Presidente da Ordem dos Arquitetos;

A.2. Entrevista a Pedro Pinto, arquiteto e docente no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa;

Anexo B

B. Entrevistas a jovens arquitetos a desenvolver atividades fora da área da arquitetura: 51 54 54 56 59 64 70 74 74 76 96

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B.1. Adriana Afonso, funcionária numa empresa de moldes de carros; B.2. Alexandra Correia, dentista;

B.3. Ana Rita Dias, supervisora de loja; B.4. Cátia Almeida, seguradora;

B.5. Carolina Medeiros, joalharia; B.6. Clara Pereira, investigadora;

B.7. Daniela Simões, guia turística e intérprete do património; B.8. Eduardo Filho, fundador da empresa INSPIRING FUTURE; B.9. Eugénio Almeida, business developer;

B.10. Fábio Correia, designer de comunicação no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa;

B.11. Inês Mendes Trigo, consultora de gestão na área da banca e seguros; B.12. Ismael Prata, fotógrafo de moda;

B.13. José Piteira, em formação na área dos videojogos; B.14. Juliana Mota, agente de turismo;

B.15. Leonor Cício, marketing e comunicação numa empresa de restaurantes; B.16. Mafalda Souto Pinheiro, subgerente na empresa Continente (SONAE); B.17. Manuel Rebello de Andrade, gestor de marca na empresa OLÁ (Unilever Jerónimo Martins);

B.18. Margarida Marques, gestora numa clínica veterinária; B.19. Nuno Potier, analista consultor;

B.20. Paulo Aguiar, contabilista na empresa MAIN; B.21. Pedro Abalada, funcionário de restauração;

B.22. Ricardo Borges Duarte, Key account numa multinacional de centros comerciais;

B.23. Rita Cepa, mediadora imobiliária e gerente na empresa REMAX; B.24. Rúben Viegas, freelancer;

B.25. Sara Pinheiro, fotógrafa e produtora de vídeos;

Indíce 96 97 98 99 99 100 101 102 103 105 105 106 109 110 110 111 112 113 114 115 116 116 117 119 119

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B.26. Tiago Pedro, engenheiro de software e programação como bolseiro de investigação e cofundador de uma start-up;

B.27. Tomé Gouveia, assistente de cozinha de restaurante, designer gráfico, gestão de redes sociais e travel blogger;

Anexo C

C. Entrevistas a um conjunto de arquitetos com trabalho de sucesso noutras áreas, e a parceiros de arquitetos em diferentes projetos.

C.1. Entrevista a José António Saraiva, arquiteto e jornalista português; C.2. Entrevista a Miguel Ângelo, arquiteto e músico na banda Delfins; C.3. Entrevista a Lourenço Thomaz, arquiteto e sócio fundador da empresa PARTNERS;

C.4. Entrevista a José Capela, arquiteto e Codirector artístico e cenógrafo da companhia Mala Voadora;

C.5. Entrevista a Duarte Silva e Joaquim Silva, Feeders, empresa de arquitetura, design e eventos;

C.6. Entrevista a António Baeta, professor e diretor de um campo de férias; C.7. Entrevista a Cátia Martins, ilustradora e fotógrafa;

C.8. Entrevista a Ana Aragão, ilustradora e pintora;

C.9. Entrevista a Lara Seixo Rodrigues, arquiteta e artista; C.10. Entrevista a Leandro Ribeiro, arquiteto e cenógrafo;

120 121 123 123 125 127 130 132 137 138 140 143 145

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Índice de tabelas

Tabela 1: Comparação dos planos de estudo de 11 cursos de arquitetura em diferentes instituições portuguesas, em julho de 2016.

Tabela 2: Comparação dos resultados do inquérito por curso de arquitetura/instituição, considerando apenas o curso com mais do que 2 respostas; Avaliação de 1 a 5, considerando o 1 'Muito Fraco' e o 5 'Muito Bom'.

Tabela 3: Comparação dos resultados do inquérito por ano escolar;

Tabela 4: Comparação entre os inscritos na Ordem dos Arquitetos e os inquiridos a trabalhar na área de arquitetura.

Tabela 5: Comparação dos resultados do inquérito por curso de arquitetura/instituição, considerando apenas o curso com mais do que 3 respostas; Avaliação de 1 a 5, considerando o 1 'Muito Fraco' e o 5 'Muito Bom'.

Tabela 6: Comparação dos resultados dos dois inquéritos (atuais alunos e ex-alunos).

Índice de gráficos

Gráfico 1: Percentagem de inscritos na Ordem dos Arquitetos entre os 252 inquiridos. Gráfico 2: Percentagem de inquiridos a trabalhar na área da arquitetura.

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INTRODUÇÃO

ESTADO DA ARTE

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1. Introdução

'A forma como os arquitectos exploram o mercado de trabalho está a mudar. Se antes, a maioria dos novos profissionais era absorvida pelos gabinetes, hoje em dia o cenário é outro. Há cada vez mais arquitectos que traçam novas linhas e projectam outros caminhos, das artes ao design, passando pela edição ou curadoria. Mas conseguem marcar a diferença por continuarem a ser arquitectos.'

(Barcellos, 2014) 1.1. Contextualização

A realidade com que os arquitetos se têm deparado aquando da conclusão da sua formação é, atualmente, uma das questões mais discutidas entre o mundo da arquitetura em Portugal. A notícia acima referida, datada de 2014, foi apenas uma das provas de que a questão já ultrapassa as fronteiras da arquitetura. Nos mais recentes dados apresentados pelo Instituto Nacional de Estatística – edição 2015 do Relatório da Cultura (Instituto Nacional de Estatística, 2015) – existiam, à data, cerca de 9052 alunos inscritos nas áreas de Arquitetura ou Urbanismo (menos 306 do que em 2013 e menos 2266 do que em 2010), resultando em 2028 diplomados nesse mesmo ano. Por outro lado, a Ordem dos Arquitetos apresentou, em janeiro de 2013, a atualização dos dados referentes ao trabalho de Manuel Villaverde Cabral e Vera Borges, intitulado Relatório Profissão: Arquitecto/a (Cabral & Borges, Relatório Profissão: Arquitecto/a. Estudo promovido pela Ordem dos Arquitectos, 2006), onde retratam a profissão de arquiteto e a sua evolução. Nessa atualização, havia um universo de 15843 arquitetos inscritos na Ordem dos Arquitetos, comparados com os 12632 arquitetos aquando do relatório inicial, o que perfaz uma diferença de 3211 inscritos em 7 anos. Um dado curioso, verificando o número de diplomados entre 2010 e 2014 (11445), o que nos deixa uma questão: quantos serão (e o que fazem) os arquitetos em Portugal?

No seio destes números expressivos, ressalva a escassa oferta de emprego que se exponenciou com a crise financeira que assolou Portugal a partir de 2008. O desemprego e respetiva falta de oportunidades numa área congestionada de profissionais colocou um sério desafio aos novos diplomados: o que fazer a partir de agora? Em mercados cada vez mais competitivos e em adaptação às novas tecnologias, este aumento do número de diplomados revela um “desajuste entre a oferta e a procura, o que teve um impacto

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negativo sobre o volume de trabalho, os salários e os rendimentos da profissão.” (Ordem dos Arquitectos, 2013, p. 10)

1.2. Objetivos

O trabalho aqui iniciado coloca uma questão pertinente: o que será o futuro da profissão de arquiteto?

Com esta base problemática define-se como objetivo perceber as reais capacidades do arquiteto, de modo a que este possa expandir as suas opções de empregabilidade. Pretende-se igualmente explorar a profissão de arquiteto no seio da arquitetura, de modo a clarificar os limites da profissão e, porventura, ajudar na definição das funções de um arquiteto. Por outro lado, pretende-se estudar o concorrido curso de arquitetura no ensino superior, procurando novos caminhos e opções de forma a que a formação seja cada vez mais completa e direcionada a um futuro.

1.3. Metodologia

A elaboração desta dissertação envolveu a necessidade de alargar as fontes de informação, visto ser um tema em constante mutação e bastante recente, até pelo elevado número de diplomados que não parou de aumentar nos últimos anos. Além das publicações referidas nas referências bibliográficas, com destaque para o ponto de situação efetuado em 2006 através do Relatório Profissão: Arquiteto/a, a novidade do tema leva a uma pesquisa mais alargada. Na procura de uma amostra sobre a profissão, pretende-se recorrer a dois inquéritos on-line, através de grupos de alunos de diferentes universidades. Um, mais focado nos atuais alunos de arquitetura, onde se pretende avaliar as considerações sobre o ensino e o futuro em cada ano letivo; e um segundo a jovens arquitetos, na expetativa de avaliar os caminhos optados e os planos de futuro, percebendo as dificuldades sentidas no início de cada percurso.

Por outro lado, é necessário compilar diversas opiniões que este tema suscita: a membros de relativa importância na arquitetura, que se tenham debruçado sobre o tema em diversos casos; e o ponto de vista de alguns exemplos de antigos alunos que seguiram caminhos fora da arquitetura, explicando as suas dificuldades e as opções tomadas.

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1.4. Estrutura da tese

A exploração do tema está dividida em quatro capítulos, na tentativa de reforçar a base teórica e, consequentemente, construir uma ideia conclusiva.

1. A definição da profissão de arquiteto, tanto a nível sociológico como a nível profissional, reforçando o confronto entre vocação e profissão, e o crescimento da profissão em Portugal. Para as conclusões deste capítulo, é importante sublinhar o trabalho da investigadora Vera Borges, com várias publicações sobre a sociologia das profissões, e o trabalho do arquiteto Pedro Brandão na análise à evolução do arquiteto em Portugal.

2. A formação do arquiteto, numa análise aos planos de estudo de diversos cursos do ensino superior de arquitetura, sublinhando a importância do Processo de Bolonha na transformação do ensino e procurando uma noção geral do estado do ensino em Portugal. Neste capítulo é elaborado um inquérito a atuais alunos do curso de arquitetura, na tentativa de perceber as expetativas quanto ao futuro e as avaliações de diversos tópicos à própria formação. Sublinha-se, igualmente, o contributo do Presidente da Ordem dos Arquitetos, o arquiteto João Santa Rita, e do docente Pedro Pinto, do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, com uma tese de doutoramento sobre o ensino da arquitetura.

3. A situação dos jovens arquitetos após a formação, relatando alguns exemplos que seguiram um novo rumo através de uma nova profissão. Torna-se fulcral, neste capítulo, a perceção de um setor cada vez mais jovem e acompanhado por uma taxa de desemprego cada vez mais elevada. Para isso contribui um inquérito realizado a jovens arquitetos, analisando a formação e os primeiros anos de profissão, e diversas entrevistas que complementam a informação de uma forma direta e eficaz.

4. A procura de um novo caminho como solução para alguns jovens arquitetos, culminando com exemplos práticos de sucesso noutras áreas.

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2. Estado da Arte

O tema em desenvolvimento ao longo desta dissertação debate-se na realidade dos jovens arquitetos, numa procura incessante de procurar um lugar na área da arquitetura. Ao longo dos últimos anos, tem havido a necessidade de regular a profissão devido ao excessivo número de arquitetos diplomados em cada ano, atingindo os 2028 profissionais em 2014 (Instituto Nacional de Estatística, 2015). Depois da criação dos cursos de arquitetura no ensino superior público nos anos 50 e o privado nos anos 80, a Ordem dos Arquitetos tem procurado avaliar a situação profissional dos arquitetos desde a sua formação, que coincidiu num relatório encomendado aos sociólogos Manuel Villaverde Cabral e Vera Borges denominado Relatório Profissão: Arquitecto/a. Publicado em 2006, em véspera de entrada do Processo de Bolonha no ensino superior português, o relatório desenvolve uma visão sociológica sobre a profissão de arquiteto através do confronto Vocação vs Profissão, confrontando os arquitetos com os advogados, economistas e engenheiros na génese da sua profissão. Por outro lado, o relatório apresenta um inquérito realizado a 3198 arquitetos inscritos na Ordem (num total de 12632 inscritos nesse ano), com um olhar sobre o estado da profissão em Portugal. Em 2006 era possível perceber a extrema juventude na profissão, com 'a maioria absoluta dos arquitectos inscritos actualmente na Ordem não completou ainda 35 anos e chegou, portanto, à profissão há dez anos ou menos.' (Cabral & Borges, Relatório Profissão: Arquitecto/a. Estudo promovido pela Ordem dos Arquitectos, 2006, p. 26), e na diferença ainda acentuada entre géneros, com as arquitetas a serem mais críticas com a profissão, mas a serem menos participativas e empreendedoras na organização da profissão e, consequentemente, na estrutura da Ordem dos Arquitetos. Lisboa e Porto constituem-se como os centros dos formados, reforçados pela presença das instituições de ensino superior e pelas oportunidades de emprego. Através dos inquéritos é também possível perceber que a maioria dos arquitetos exerce mais do que uma atividade (compatível ou não com a arquitetura), muitas vezes ainda durante a formação. Este fator está em decréscimo, acentuando a dificuldade em entrar no mercado de trabalho, levando muitas vezes a uma continuação dos estudos para pós-graduações ou doutoramentos, principalmente no caso das arquitetas. Apesar da maioria exercer mais do que uma atividade, os rendimentos tendem a ser baixos, um dado que se acentua nas arquitetas por trabalharem como assalariadas ao invés dos arquitetos que trabalham preferencialmente por conta própria. Para finalizar, o relatório destaca a concorrência, o excesso de profissionais e os problemas legais como os principais problemas que a profissão sente no seu desenvolvimento. Na continuação deste

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relatório, a socióloga e investigadora Vera Borges desenvolve dois artigos sobre a profissão de arquiteto: um onde explora o tema vocação vs profissão através do capítulo 'Muitos são os chamados, poucos os escolhidos: entre a vocação e a profissão de arquiteto' no livro Profissão e Vocação da autora Ana Delicado; e outro na revista científica 'Sociologia: Problemas e Práticas', onde explora os conceitos de renome e reputação na arquitetura no artigo 'Reputação, mercado e território: o caso dos arquitetos'.

Porém, no mesmo ano, o arquiteto Pedro Brandão publica o livro 'O arquitecto e outras imperfeições', onde vai mais longe na análise da profissão e desenvolve um historial da mesma ao longo de séculos passados, incidindo depois no desenvolvimento da profissão de arquiteto em Portugal tanto a nível organizacional como a nível legal.

Num caminho paralelo a estas visões da profissão, muitas vezes sociológicas, a Ordem dos Arquitetos tem vindo a desenvolver diversos temas através do 'Boletim Arquitectos', com foco nas edições 230 de março de 2013 (com o tema 'Emprego'), 232 de outubro de 2013 (com o tema 'Ensino/Formação'), e 235 de julho de 2015 (com o tema 'Estatuto'). Entre estas, é importante destacar a atualização do Relatório Profissão: Arquitecto/a de 2006 mencionado acima, encomendado pela Ordem dos Arquitetos e apresentado em janeiro de 2013 denominado “Estudo de caracterização dos Arquitetos portugueses e da sua atividade profissional”, com 2633 respostas em 15843 inscritos na Ordem nessa altura, reforçando as ideias do original, principalmente a juventude da profissão, ultrapassando já os 55% de arquitetos formados entre 2000 e 2012, e o aumento exponencial do desemprego, atingindo os 26,5% dos inquiridos nesta atualização. Fica por saber nos dois inquéritos (e até aos dias de hoje) o número de arquitetos que não estão inscritos na Ordem dos Arquitetos.

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3. A rofissão de arquiteto

3.1. Profissão e vocação – A sociologia das profissões

'Tal como se apresenta hoje, a arquitectura continua dividida entre um ethos estético-social, que a coloca entre as profissões de índole artística, caracterizadas por um crescimento exponencial da oferta profissional, e um ethos tecnocientífico que, por seu turno, a coloca no caminho do profissionalismo da base académica. Em suma, um conjunto de profissionais partilhado (…) entre vocação e profissão.'

(Cabral & Borges, Muitos são os chamados, poucos os escolhidos: entre a vocação e a profissão de arquitecto. , 2010, p. 159)

A tensão entre vocação e profissão no seio da arquitetura é uma das questões mais discutidas na sociologia das profissões, que destaca duas teorias na tentativa de definir 'o que é uma profissão':

- Teoria funcionalista, que tem como base a comparação entre as 'profissões tradicionais' (Medicina ou Advocacia), em que uma profissão é controlada por uma formação normativa, um conjunto de regras e um código de conduta, que tem como base a ética da profissão. Nesta teoria torna-se essencial o papel das universidades na definição da prática da profissão, e a criação de entidades que regulem a profissão.

- Teoria interaccionista, que define 'a profissão como um produto da vida social, dedicando especialmente atenção ao conflito social. É pertinente considerar esta abordagem nas profissões com cunho artístico (…) em que o resultado é medível pelo reconhecimento social (pela crítica, pelo público, pelas instituições, etc).' (Brandão, 2006, p. 36).

Descreve-se, portanto, uma profissão que não só depende dos conhecimentos técnicos conjugados à sua função prática, mas também das relações que desenvolve no seu exercício, levando cada vez mais jovens profissionais à busca de uma recompensa simbólica (ao invés da recompensa monetária). Define-se, por isso, numa profissão artística, sendo que 'a arte não é um ofício, nem uma actividade de lazer. É um híbrido anormal entre os dois' (Freidson, 1994, p. 134). É nestas questões simbólicas que a 'vocação' em arquitetura se manifesta, sendo 'associadas a tarefas não rotineiras, com gratificações psicológicas e sociais elevadas em caso de sucesso' (Cabral & Borges, Muitos são os chamados, poucos os escolhidos: entre a vocação e a profissão de arquitecto. , 2010, p. 152), destacando o 'dom' e o 'reconhecimento' como principais eixos. É, por isso, uma forte tensão entre a criatividade, inspiração, experiência e intuição em

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busca de um reconhecimento social (vocação) e todas as questões técnicas desenvolvidas na profissão de arquiteto, muitas vezes discutidas até com a profissão de engenheiro. Por ser a profissão mais abrangente entre as de índole artística, é que a tensão apresentada se destaca em prol de outras profissões, reunindo um maior número de jovens e cursos de ensino superior e, consequentemente, jovens profissionais.

3.2. Ser arquiteto ao longo dos tempos

A profissão de arquiteto na história nem sempre teve a posição demarcada que tem hoje, sendo muitas vezes aclamada apenas pelo seu contributo teórico ou participação em edifícios com caraterísticas próprias e que requeria um profissional com conhecimentos manuais ou práticos. Apesar de ter relações com os ricos e poderosos da sociedade, nem sempre o arquiteto foi uma figura de destaque, quer económica ou socialmente, sendo muitas vezes o artista e, ao mesmo tempo, o trabalhador intelectual.

Desde cedo na história que a função do arquiteto se destaca na resposta às questões levantadas pela sociedade, surgindo muitas vezes em casos de necessidade ou, num caminho oposto, de prova de luxo e poder. Assim foi no Antigo Egipto, associados à classe sacerdotal na elaboração de obras divinas, garantindo o acesso ao conhecimento científico e artístico, passado no seio das famílias. Mais tarde, no esplendor da arquitetura grega, o arquiteto ganha destaque pelos seus conhecimentos técnicos (num aproximar à engenharia, física, geometria e mecânica), passando além dos templos e palácios dos impérios agrários, surgindo agora na fundação da cidade e a todos os programas agregados: praças, avenidas, aquedutos e estruturas urbanas, aumentando assim a sua importância e respetiva procura. Após a dicotomia sentida entre autor e construtor até então, o arquiteto passa a ter relevo na sociedade, passando a ser reconhecido pela sua intelectualidade e autoridade no domínio do conhecimento da obra. No entanto, é no Império Romano que a profissão de arquiteto se destaca socialmente, chegando a libertar-se das obrigações militares e aproximando-se da Corte, ou até do Imperador. Era uma profissão caraterizada pelos seus conhecimentos em diversas áreas, principalmente no desenho e construção, e recompensadas através de um salário e a respetiva responsabilização presente na lei.

Porém, na época medieval a profissão ganha destaque na articulação com o seu principal cliente – a Igreja, assumindo uma autoridade estilística (Brandão, 2006, p. 54), tornando-se no principal responsável pela construção e, ao mesmo tempo, o principal transmissor de conhecimento (numa forma fechada e muitas vezes familiar) a grupos de artesãos.

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O Renascimento é, porventura, a base da profissão do arquiteto moderno. Este define-se como culto, transmitindo o seu conhecimento à sociedade e tornando a profissão um estudo para letrados (Brandão, 2006, p.58). É nesta época que a profissão se torna liberal, tanto nos processos de trabalho como na escolha dos métodos, enfatizando o desenho como principal ferramenta de trabalho, e a separação das responsabilidades entre o projeto e a obra. Mais tarde, ainda em período Barroco, surgem as grandes oficinas de trabalho e o nascimento de uma nova disciplina: a engenharia.

É a partir do século XIX que o arquiteto se aproxima da profissão que é hoje, como descreve o Presidente do RIBA (Royal Institute of British Architects) em 1878 (Sir John Soan): 'O dever do arquitecto é fazer os desenhos e cálculos, dirigir as obras e medir e avaliar as distintas partes; é o agente intermediário entre o patrão, cuja honra e interesse deve ter em conta, e o mecânico, cujos direitos deve defender. A sua situação implica grande confiança; é responsável pelos erros, negligências e ignorância daqueles a quem dirige; e sobre tudo deve ter cuidado com que as facturas dos trabalhadores não excedam os seus próprios cálculos.'

Não se identifica, por isso, uma profissão demarcada ao longo dos tempos, numa dicotomia entre o artista e o artesão, o mestre e o detentor do conhecimento, numa estreita proximidade e respetiva passagem de conhecimento direta. Por outro lado, Pedro Brandão levanta uma série de caraterísticas e aptidões técnicas que define o arquiteto de hoje, no longo percurso histórico da profissão, com destaque para os 'Processos e métodos de trabalho, posição na estrutura social e económica, valores éticos da profissão, organização coletiva e relações com o poder político', entre outros (Pedro Brandão, 2006, 65). Concluiu-se, portanto, haver uma evolução da profissão ao nível do seu estatuto e passagem de testemunho, destacando-se pelo seu conhecimento técnico e convicções na relação com a sociedade.

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3.3. O arquiteto em Portugal

'(…) de (19)85 para a frente Portugal entrou na Europa, começaram a entrar aos milhões e eram só universidades, quartéis de bombeiros, hospitais, equipamentos, e havia trabalho para toda a gente. Depois quando a coisa esmoreceu, venha de lá o CCB (centro Cultural de Belém), depois venha de lá os museus todos, depois venha os museus mais os teatros, mais os anfiteatros, mais os auditórios, mais os não sei quê municipais, mais tudo. Depois quando tudo ai ai, venha de lá a Expo 98, depois venha de lá o Europeu de 2004 e, como não foi suficiente, tomem lá 25 pólis, 25 cidades todas para revolucionar.

O que acontece é que depois vem uma crise e tudo acabou...' João Santa Rita, entrevista em anexo (Anexo A.1.)

A história da profissionalização do arquiteto em Portugal é relativamente escassa, sobressaindo mais a arquitetura portuguesa ao invés do seu autor. Importa destacar, no entanto, a reconstrução pombalina, em que o prestígio e poder social da profissão teve uma maior dimensão. Até aqui, o arquiteto era detentor do conhecimento, normalmente importado, passado em torno de mestres em estaleiros de grandes obras. A família continuava a ser a principal passagem de conhecimento, em que os maiores clientes eram a Igreja ou a Corte, numa arquitetura erudita. (Brandão, 2006)

O início do associativismo dos arquitetos em Portugal remonta a 1602, com a Irmandade de São Lucas, uma associação religiosa que agregava arquitetos e outras profissões artísticas. Mais tarde, e após uma longa procura de proteção do património arquitetónico existente, nasce a Associação dos Arquitetos Civis Portugueses, a cargo do arquiteto da casa real Joaquim Possidónio da Silva, que viria mais tarde a tornar-se a Real Associação dos Arquitetos Civis e Arqueólogos Portugueses. É entre 1902 e 1948 que acontece o primeiro grande período de importância da profissão de arquiteto em Portugal, coincidindo com a criação da Sociedade dos Arquitectos Portugueses (1902) e o 1º Congresso de Arquitetura (1948). A Sociedade dos Arquitectos Portugueses foi a primeira Organização Profissional dos arquitetos em Portugal, atuando maioritariamente em Lisboa e com a filiação de um número reduzido de arquitetos. Reúne todas as questões relacionadas com a profissão, desde o ensino, as competências profissionais, as carreiras, os honorários, entre outros. Aquando da instauração do Estado Novo, em 1930, despoleta uma crise no trabalho, levando os arquitetos a procurarem soluções económicas e simplificadas. É esta geração de arquitetos que passa a controlar a Organização Profissional, passando a denominar-se Sindicato Nacional

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dos Arquitectos, mantendo-se até ao Congresso de 1948. Destaca-se neste período o arquiteto Raúl Lino pela sua busca de uma Identidade Arquitectónica Nacional, ou o aclamado 'portuguesismo' na arquitetura, e Pardal Monteiro na liderança do Sindicato Nacional dos Arquitectos. Foi uma fase relativamente estável, apesar do diminuto número de arquitetos associados à Organização Profissional (30 em 1902, 49 em 1933 e 124 em 1948 – (Brandão, 2006, p. 74), onde se procurou defender os interesses profissionais dos arquitetos.

É com o 1º Congresso, em 1948, que se promove a reinserção da profissão de arquiteto na sociedade, após o período de pós-guerra, revelando uma crise de identidade na profissão. É nesse intuito que um ano antes, em 1947, é lançada a ideia de um Inquérito à Arquitetura Regional Portuguesa, através de Keil do Amaral e Fernando Távora. Concretizado nos anos 50, viria a tornar-se importante no desempenho da profissão de arquiteto, desvinculando a ideia de uma 'arquitetura nacionalista' (Brandão, 2006, p. 79), libertando os arquitetos para as suas convicções arquitetónicas. É precisamente nesta década que se implementa a integração dos cursos de arquitetura de Lisboa e Porto no sistema de ensino superior português, levando à liberalização do ensino e a um consequente aumento de formados.

A década de 50 expõe-se como um período recetível a novos movimentos, como acontece em 1953 com o MRAR (Movimento de Renovação da Arte Religiosa) e a 'Arquitetura do Porto' com uma nova geração de profissionais no Porto, como consequência do sucesso obtido pela 'plataforma social' do Congresso de 1948. O expoente máximo desta resposta às necessidades sociais acontece com o programa 'Casas Económicas', em que trabalharam inúmeros arquitetos da nova geração. Porém, os anos seguintes mostraram uma relação algo tensa entre os arquitetos e o Estado Novo, principalmente pelos ideais defendidos em cada uma das partes.

O final dos anos 60 distingue-se pela importância da construção na economia, levando inclusive a um aumento dos honorários das Obras Públicas. Porém, o esgotamento da 'plataforma social' desenvolvida nos anos 50 leva à realização do Encontro Nacional sobre a Habitação, em 1969, promovido pelo Governo, que culmina com a criação do SAAL (Serviço de Apoio Ambulatório Local) em 1974/76. É nesta onda de crescimento que surge uma crise de identidade, com destaque para a discussão entre os 'patrões' e os 'assalariados', nomeadamente nos ateliers de pequena dimensão, num conflito entre gerações.

Esta 'crise de identidade' ocorre num período em que se dá um crescimento exponencial do número de profissionais (650 em 1969 a 1500 em 1979) e uma diminuição drástica da encomenda. Com a extinção

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do Sindicato Nacional dos Arquitectos surge a Associação dos Arquitectos Portugueses em 1979, que culmina com a procura de uma 'nova identidade' no 2º Congresso em 1981 lançando as bases de uma nova regulamentação. O 3º Congresso, datado de 1984, é o culminar de uma profissão rejuvenescida, não só com o aparecimento de novos profissionais, mas também o desenvolvimento da profissão, com a criação de um Código Deontológico mas, acima de tudo, com uma série de normas que visam a organização profissional e, por isso, uma 'mensagem simples e irrecusável pela opinião pública: os cidadãos têm direito à Arquitetura' (Brandão, 2006, p. 89). Surgia, assim, uma nova 'plataforma social'. É em 1986, no 4º Congresso no Porto, que surgem os Estatutos da Associação dos Arquitectos Portugueses, publicados em 1988, podendo assim fazer registo dos arquitetos.

Em 1998, dez anos depois, é criada a Ordem dos Arquitetos, num período de grandes projetos (Expo 98 como principal marco social e urbano), marcado pelo contínuo crescimento do número de profissionais em consequência da abertura dos cursos de arquitetura no ensino superior privado (havendo nesse ano cerca de 20 escolas de arquitetura com um número próximo aos 5000 estudantes). Antevia-se, portanto, um início de século de crescimento contínuo do número de profissionais, que se agonizou logo após o Euro 2004 e consequente diminuição de trabalho e investimento, culminado com a crise financeira de 2008 de que, ainda hoje, se sofrem as consequências no setor da construção.

3.4. A função do arquiteto atual A profissão de arquiteto é aclamada, na generalidade da sociedade, por uma profissão

importante na conceção de todo o espaço envolvente, destacando-se normalmente os arquitetos

autores de projetos de maior dimensão ou importância na arquitetura, muitas vezes na procura de uma resposta às necessidades dessa sociedade. A expressão popular 'o arquiteto desenha casas' vai

perdendo o fulgor de outros tempos numa sociedade pouco familiarizada com a profissão, cabendo ao arquiteto uma panóplia grande de ações no exercício da sua função.

Já em 2006, Manuel Villaverde Cabral e Vera Borges relatavam a diversidade de funções do arquiteto em Relatório Profissão: Arquitecto/a, destacando:

- Estudo prévio;

- Esboços de desenhos/maquetas; - Projetos de execução;

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- Licenciamento de obras; - Acompanhamento de obras; - Planos pormenor; - Memórias descritivas; - Desenho em DWG; - Gestão de atelier;

Numa análise profunda executada à profissão, o relatório começa por destacar as ações diretas de execução, funções essas realizadas, normalmente, em atelier. Apesar da diferença de dez anos para a atualidade, importa destacar outras funções de que o arquiteto esteja responsável na ação da sua profissão:

- Gestão e direção de obras;

- Avaliação, coordenação e planificação de projetos de arquitetura; - Arquitetura de interiores;

- Design de equipamento; - Desenho urbano;

- Gestão e administração do território; - Reabilitação e manutenção de edifícios; - Estudos, consultoria e peritagem; - Modelação 3D;

- Renderização; - Investigação; - Ensino.

Conclui-se, portanto, que no desenvolvimento da sua profissão o arquiteto apresenta um abrangente leque de ações que lhe permite, cada vez mais, ser multidisciplinar e qualificado no exercício da sua profissão. Está habilitado a trabalhar em ateliers de arquitetura (desempenhando, no seio do atelier, diversas funções), autarquias locais, câmaras municipais, empresas de construção, empresas de conservação do património arquitetónico e centros de ensino e investigação, como as escolas e universidades. É, por isso, uma profissão abrangente e multidisciplinar, conferindo ao arquiteto uma diversificada panóplia de funções.

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4. A formação de arquiteto

'Paixão, convicção, disponibilidade, disposição, vontade e muita coragem. Porque eu acho que é preciso muita coragem para ser arquiteto e muita coragem para tirar o curso de arquitetura, porque é um esforço grande.'

João Santa Rita, entrevista em anexo, (Anexo A.1.)

4.1. O ensino da arquitetura em Portugal

A formação do curso de arquitetura em Portugal divide-se entre dezassete instituições de ensino superior, nomeadamente:

Ensino Público:

 - ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa;

- Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa; - Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa;

- Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra; - Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto;

 - Universidade do Minho;

 - Universidade da Beira Interior;  - Universidade de Évora;

 - Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade dos Açores (Preparatórios – 1º e 2º anos). Ensino Privado:

 - Universidade Lusíada do Porto;

 - Universidade Lusíada de Vila Nova de Famalicão;  - Universidade Lusíada de Lisboa;

 - Universidade Autónoma de Lisboa;  - Escola Superior Artística do Porto;

 - Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes;

 - Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias de Lisboa; - Universidade Lusófona do Porto.

Observação: Todos os cursos listados estão acreditados pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior (A3ES),

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Tabela 1: Comparação dos planos de estudo de onze cursos de arquitetura em diferentes instituições portuguesas, em julho de 2016.

NOTA 1: As horas de contato apresentadas são semanais, juntando todas as unidades curriculares avaliadas nessa área científica. NOTA 2: Dados retirados dos sites de cada instituição de ensino, não havendo, no entanto, todos os tópicos disponíveis.

* Na Universidade do Minho, o 2º ciclo do curso de arquitetura dá a possibilidade ao estudante de escolher as suas UC, podendo seguir vários caminhos entre as três áreas científicas analisadas: Tecnologias da Construção, História/Teoria e Desenho.

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Com a passagem para o novo modelo através do Processo de Bolonha (capítulo seguinte), os cursos de arquitetura em Portugal organizam-se em dois ciclos, com frequência obrigatória em ambos no acesso à profissão de arquiteto. Após a conclusão dos cinco anos, o recém-diplomado tem ainda que frequentar um estágio de nove a doze meses de acesso à Ordem dos Arquitetos, na qual só ficará formalmente inscrito após a realização de um exame. Concluindo este processo, o arquiteto poderá desenvolver a sua atividade livremente.

 Na tabela 1 são comparados onze cursos de arquitetura, entre oito institutos públicos e três institutos privados. Porém, as Faculdades de Lisboa e Porto assumem o maior número de vagas em instituições exclusivas no ensino de arquitetura e urbanismo. A Universidade do Porto é, igualmente, a que detém a maior média de entrada do último colocado nos últimos três anos, com o maior índice de força entre as universidades portuguesas (188% em 2015, numa relação entre os candidatos em 1ª opção e o número de vagas). De ressalvar igualmente a contínua diminuição das médias de entrada em todas as universidades, dependentes das provas de ingresso correspondentes a cada universidade e a respetiva procura, numa altura em que a área de arquitetura atravessa uma crise no mercado de trabalho. É, por esta altura, o grande desafio das universidades, elaborando alternativas de inovação aos seus estudantes, e procurando prepará-los para diversos caminhos.

Analisando os dados, é possível verificar a importância do projeto no desenvolvimento do estudante (um a dois por ano, com programas e locais diferentes em diversas escalas), e a estruturação do ensino em três diferentes eixos principais: o desenho, a história/teoria e as tecnologias de construção, variando depois o número de créditos dedicados a cada um. Apesar da relativa variação entre estes eixos, é de salientar os conteúdos semelhantes entre cada um, sendo que cada universidade desenvolve mais alguns conteúdos. Numa análise direta aos números, sublinha-se uma forte conexão da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto ao desenho e às optativas que apresenta, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra à história/teoria, do Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa às tecnologias de construção e o ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa às optativas que apresenta. Um resultado facilmente interpretado pelas ligações às raízes das universidades (Instituto Superior Técnico é aclamado pelos cursos de engenharia e o ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa reconhecido nas áreas das ciências sociais e de gestão e economia), o que as faz apresentar aos seus estudantes ligeiras

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diferenças na formação. Cada universidade apresenta, para além das áreas científicas citadas, ligações às áreas da Matemática, Física, Antropologia, Sociologia, Economia, Geografia, Artes Visuais, Engenharia Civil, Filosofia, Sustentabilidade, Geometria, Computação, Urbanismo e Legislação, entre outras. Define-se, assim, com uma formação multidisciplinar e completa no exercício da profissão.

Porém, o mais importante de salientar na formação de arquiteto é a ausência de um estágio curricular e da proximidade ao mercado de trabalho, um tópico analisado no inquérito realizado nesta dissertação. As instituições de ensino superior detêm, hoje em dia, um papel fundamental na passagem entre a formação e o exercício da profissão, algo que parece não acontecer em relação aos cursos de arquitetura. Uma das soluções encontradas tem sido a exploração de novas áreas através da criação de unidades curriculares optativas, de destacar:

- Acompanhamento de Obra e Fotogrametria e diversas Competências Transversais de desenvolvimento pessoal (Línguas, Técnicas de Comunicação, Trabalho em Equipa e Competências para o Mercado de Trabalho no ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa;

- Gestão e Avaliação Ambiental do Edifício da Cidade e do Território; Sistemas Integrados de Modelação (BIM), Projeto e Fabricação Digital e Requalificação de Áreas Costeiras na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa;

- Gestão de Energia em Edifícios, Intervenção no Património Cultural Edificado, Instalações Técnicas em Edifícios e Construção e Materiais Sustentáveis na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra;

- Espaços Construídos e Impactes Ambientais no Instituto Superior Técnico da Universidade de Lisboa;

- Instalações Urbanas e Reabilitação de Edifícios na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto;

- Construção Sustentável e Domótica na Universidade da Beira Interior;

- Representação e Processos de Fabrico Assistidos por Computador na Universidade de Évora; - Sustentabilidade e Durabilidade das Construções, Conservação e Restauro do Património Construído e Formas e Técnicas do Digital na Universidade do Minho.

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São, assim, disponibilizadas possibilidades de o estudante desenvolver novas ferramentas, com um olhar inovador no futuro da arquitetura. As áreas da reabilitação, ferramentas digitais e proximidade ao mercado de trabalho tornam-se importantes num currículo de um recém-diplomado em arquitetura. De destacar a criação de laboratórios de fabricação digital, nomeadamente o VFABLAB no ISCTE-IUL com ferramentas disponibilizadas aos estudantes para a criação de modelos 3D a diversas escalas.

De concluir, por outro lado, a diminuição das horas de contato entre docente e estudante, libertando-o para um trabalho autónomo, resultando muitas vezes em trabalhos de grupo facilitando o trabalho de equipa e cooperação entre colegas.

4.2. O Processo de Bolonha

O Processo de Bolonha teve início na Declaração de Bolonha, assinada em junho de 1999 em Bolonha pelos Ministros da Educação de vinte e nove países da Europa, num compromisso de reforma no sistema de ensino superior europeu. Este processo desenvolveu como eixos principais da mudança:

 - Promover a competitividade entre o ensino superior europeu e os respetivos estudantes, possibilitando a mobilidade entre países aderentes através de programas, numa oferta mais alargada e na criação de experiências diferenciadoras no mercado de trabalho;

 - Divisão em três ciclos diferentes, num sistema de créditos (European Credit Transfer System, ECTS) acumuláveis ao longo da formação: 1º ciclo (bacharelado ou licenciatura) de 3 a 4 anos, com 6 a 8 semestres de 180 a 240 créditos (30 por semestre), 2º ciclo (mestrado ou pós-graduação) de 1 a 2 anos de duração, com 2 a 4 semestres de 60 a 120 créditos; e o 3º ciclo (doutoramento) de 3 anos;

 - Permitir a interação entre universidades europeias, numa mobilidade de conhecimento e práticas de ensino, atingindo inclusive o corpo docente e investigadores;

 - Permitir a aproximação do ensino superior público, politécnico e privado, tendo como principais diferenças a qualidade de ensino e a percentagem de entrada no mercado de trabalho;

 - Reconhecer a formação de arquiteto entre os países europeus, permitindo assim o exercício da profissão na Europa;

 - Diminuição das horas de contato com os docentes e o respetivo aumento do trabalho autónomo do estudante.

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Os cursos de arquitetura do ensino superior português necessitaram de alterações para se adequarem ao modelo de Bolonha. A principal mudança cinge-se na passagem de uma licenciatura de 5 anos para um modelo de 3+2 anos, adotando a continuidade através do Mestrado Integrado obrigatório para o exercício à profissão, segundo a Diretiva 2005/36/CE do Parlamento Europeu e do Conselho da União Europeia, datada de setembro de 2005, de reconhecimento das qualificações profissionais. Porém, ao terminar o 1º ciclo o estudante passa a ter liberdade de prosseguir um mestrado numa área diferente, havendo assim máxima mobilidade entre áreas. Para ser arquiteto, o estudante tem, obrigatoriamente, que realizar os 5 anos de formação (3+2), acabando com o grau de Mestre. No entanto, a área da arquitetura obriga a uma inscrição na Ordem dos Arquitetos, passando por um estágio obrigatório de 9 a 12 meses e a um exame de admissão para que, findo este processo, o recém-diplomado possa exercer livremente a profissão de arquiteto.

4.3. O panorama do ensino da arquitetura visto pelos estudantes (Inquéritos)

'Podemos argumentar que as universidades educam, não formam profissionalmente. E que essa formação profissionalizante será realizada da melhor forma na própria profissão.'

Pedro Pinto, entrevista em anexo, (Anexo A.2.)

A ausência de dados relativos aos últimos anos sobre a profissão de arquiteto levou à necessidade de elaborar dois inquéritos, na tentativa de se perceber o percurso dos arquitetos em Portugal. Neste primeiro inquérito, abrangendo apenas atuais estudantes do curso de arquitetura do ensino superior, verificou-se uma amostra de 236 respostas de diversas instituições de ensino superior, com o objetivo de recolher as opiniões sobre o ensino da arquitetura e as expetativas para o futuro. A estrutura do inquérito, realizado on-line, pressupõe uma análise aos inquiridos através de dados base anónimos (idade, sexo, localidade de residência atual e naturalidade), assim como dados do acesso ao ensino superior (ano de entrada, opção de escolha do curso que frequenta, a justificação da escolha de um curso de arquitetura, a instituição que frequenta, o ano e a média), rematando o inquérito com a opinião do inquirido a diversos tópicos sobre a sua formação (numa avaliação de 1 a 5), com a indicação da frequência em estágios de a arquitetura e as expetativas para o futuro, seja em Portugal ou no estrangeiro.

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Nas 236 respostas podemos verificar uma esmagadora maioria das futuras arquitetas, com uma percentagem de 63.9%, o que parece contradizer os dois inquéritos realizados em 2006 (Relatório Profissão: Arquitecto/a) e 2012 (Estudo

de caracterização dos Arquitetos portugueses e da sua atividade profissional), apesar da evolução em prol das arquitetas no relatório mais recente. Porém, esta maioria vem justificar o lado mais crítico das arquitetas já verificado no relatório de 2006, muito devido ao trabalho assalariado e à insatisfação com as condições de execução da profissão, o que leva as mulheres na procura de uma evolução e, consequentemente, à participação neste tipo de avaliações. As áreas metropolitanas de Lisboa e Porto continuam a ser os centros de residência dos estudantes de arquitetura, comprovado pelos fortes polos universitários em ambas as cidades, chegando a 75.0% dos inquiridos. É importante salientar os 36.4% de mudanças de residência, muito devido aos polos universitários referidos acima. Para completar a caracterização do universo dos inqueridos, as idades variam entre os 18 e os 54 anos, com uma média de idades de 22,7 anos, facilmente explicável com a maioria de alunos a frequentar o 5º ano. De sublinhar a presença de alguns arquitetos mais experientes a frequentar o 2º ciclo, no desejo de aumentar o seu conhecimento.

 No contexto de vocação vs profissão desenvolvido no capítulo anterior, é de referir a ligação dos futuros arquitetos à área, tendo 79.2% dos inquiridos optado pelo curso de arquitetura na 1ª opção, enquanto que 11.4% entrou na segunda opção.

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Tabela 2: Comparação dos resultados do inquérito por curso de arquitetura/instituição, considerando apenas o curso com mais do

que 2 respostas; Avaliação de 1 a 5, considerando o 1 'Muito Fraco' e o 5 'Muito Bom'.

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Considerando as principais instituições de ensino superior do curso de arquitetura em Portugal, não existe grande diferença nos resultados obtidos, havendo consenso nas opiniões gerais dos estudantes de arquitetura. Enquanto que os valores de nota média não variam muito entre si, a maioria dos tópicos avaliados são considerados positivos no inquérito realizado (superiores ao valor mediano de 2.5 valores). Não havendo diferenças entre o ensino público e o privado (avaliação de 6 universidades públicas portuguesas e uma universidade privada), os estudantes identificam como lacunas a frágil 'Ligação ao mercado de trabalho', como uma média de 2.66 pontos, a pouca 'Oferta extra-curricular', com uma média de 2.53 pontos e, com largas variações, as 'Condições das instalações da faculdade', com uma média de 3.07 pontos.

Por outro lado, os itens avaliados que recebem melhor avaliação são: a 'Possibilidade de frequentar o programa Erasmus', com uma média de 4 pontos, o 'Nível de aprendizagem' ao longo do curso, com uma média 3.87 pontos e, por fim, a avaliação do curso no geral, com uma média de 3.76 pontos, que vem comprovar a ligação emocional à formação de arquiteto que a investigadora Vera Borges fala como vocação, explorado no capítulo anterior.

Verifica-se, assim, uma preocupação elevada com o futuro da profissão, vendo nos programas de Erasmus uma possibilidade de ligações profissionais no estrangeiro.

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Tabela 3: Comparação dos resultados do inquérito por ano escolar;

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Após a verificação dos resultados através da divisão por curso/instituição, torna-se necessário avaliar os resultados por cada ano letivo, na tentativa de se perceber a importância de cada ano, assim como o ano de entrada, o ano como finalista do 1º ciclo e o último ano, no qual se finaliza o curso. Neste contexto, é possível verificar a ligeira diferença na média entre os dois ciclos, numa altura em que os estudantes já estão totalmente adaptados ao curso e a preparar-se para o exercício da profissão. Por outro lado, é curioso verificar que na maioria dos itens avaliados os estudantes do 1º ano avaliam com melhor média, o que pode ser explicado com o entusiasmo da entrada no ensino superior e respetivo começo de um futuro enquanto arquitetos. Essas expetativas altas acabam por esmorecer logo no segundo ano, só voltando a subir no último ano, o ano de conclusão do Mestrado Integrado. De ressalvar que os aspetos negativos verificados na tabela 1 verificam-se na tabela 2 com mais destaque nos estudantes do 2º ciclo, numa altura em que se aproxima a entrada no mercado de trabalho.

 Nesta tabela são ainda apresentados dados novos relativos aos inquéritos realizados:

- Como era de esperar, o 1º ciclo apresenta poucos estudantes que tenham frequentado um estágio de arquitetura, com os estudantes do 5º ano a terem uma percentagem próxima dos 87.0% na resposta afirmativa a uma presença num estágio. Um dado que vem reforçar a aposta na formação fora da universidade, na busca de garantir um emprego no futuro próximo.

- A grande maioria dos inquiridos pretende-se manter na área, havendo, porém cerca de 35.0% dos inquiridos que planeia aventurar-se noutra área se o futuro em arquitetura for difícil (com 15.0% a garantirem deixar a área da arquitetura mesmo antes de terminarem a formação).

- Conhecedores do estado profissional da área em Portugal, a maioria dos inquiridos preveem já uma procura de emprego no estrangeiro (36.9%), com apenas 20.8% a garantirem o desejo de permanecer em Portugal e cerca de 42.4% a ponderarem ambos os cenários.

 Na escolha do curso do ensino superior, os inquiridos escolheram o curso de arquitetura pelo 'Gosto e interesse pela área', atingindo 71.2% de consenso, com 10.6% a identificarem a versatilidade e multidisciplinariedade da área como razão principal; 'Sempre quis esta área' reúne 7.6% dos inquiridos e, por fim, o 'Legado familiar', muito falado no Relatório Profissão: Arquitecto/a de 2006 é uma das razões para apenas quase 3.0%, o que vem provando que a profissão de arquiteto é cada vez menos uma passagem familiar.

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 Para finalizar a análise ao inquérito, importa salientar o que acham os inquiridos do que é necessário para ter sucesso como Arquiteto: 48.3% definem o empenho, dedicação e perseverança como a principal característica a ter; 17.4% a originalidade e criatividade do futuro arquiteto e 13.9% o gosto pela profissão e respetiva função; 13.6% os seus conhecimentos e portfólio e a curiosidade é definida por 9.8% dos inquiridos. Com valores mais pequenos, mas importantes a salientar, ficam os contatos (8.0%), a sorte (3.8%), a motivação, a experiência, a oportunidade e, por fim, o talento, todos com percentagens residuais para o estudo em causa.

4.4. Entrevistas a Pedro Pinto, arquiteto e docente do ISCTE-IUL e a João Santa Rita, arquiteto e Presidente da Ordem dos Arquitetos.

'O que falta à formação? Podemos argumentar que as universidades educam, não formam profissionalmente. E que essa formação profissionalizante será realizada da melhor forma na própria profissão.'

Pedro Pinto, Entrevista em Anexo, (Anexo A.2.)

Pedro Pinto, arquiteto e docente da Unidade Curricular de Projeto Final de Arquitetura no ISCTE-IUL, apresenta um importante contributo para esta dissertação pela sua experiência no atelier RISCO (e participação em grandes projetos como o Plano do Estádio do Dragão e a Expo '98, entre outros), e pela sua Tese de Doutoramento sobre o ensino da arquitetura, em que muito contribuiu a sua experiência como docente.

 Numa curta entrevista o docente destaca as diversas funções de um arquiteto em atelier, através de um trabalho multidisciplinar com outros profissionais, e 'dadas as múltiplas possibilidades, paralelas à própria fragmentação do mercado de trabalho e do entendimento do que é a arquitetura, talvez faltem, em Portugal, modelos alternativos de educação, seja na universidade, seja fora dela' (Pedro Pinto, Entrevista em Anexo - Anexo A.2.). Conclui o pensamento destacando a necessidade de 'formar de uma forma abrangente', sublinhando a importância do Processo de Bolonha no ensino da arquitetura.

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'Como viu quando foi o Euro 2004 só não se entregou os estádios todos aos mesmos arquitetos porque não calhou, porque a vontade era essa. É mais fácil, é mais barato, dá menos trabalho, sai sempre bem, dá-se ao mesmo gajo! Isto assim dificilmente o país encontra futuro para uma profissão. Pode encontrar futuro para 10 ou 20 arquitetos, mas não encontra futuro para uma profissão.'

João Santa Rita, Entrevista em Anexo, Anexo A.1.

João Santa Rita é arquiteto no atelier Santa Rita Arquitetos e ocupa, atualmente, o cargo de Presidente da Ordem dos Arquitetos, sendo por isso um importante contributo para esta dissertação. Numa longa entrevista realizada presencialmente, o arquiteto desenvolve um ponto de vista sobre a profissão em Portugal, como destaque para a falta de planeamento a longo prazo e a respetiva falta de investimento no setor. Mostra-se preocupado com a profissão, 'que está com um conjunto de sintomas complicados aos quais se juntam uma sociedade que dificilmente está a provocar respostas e a favorecer oportunidades que ajudassem também a alavancar uma revolução nisto' (João Santa Rita, Entrevista em Anexo - Anexo A.1.). Conclui a entrevista afirmando que o arquiteto 'não tem que ler uma história e saber interpretá-la, tem que pegar num papel em branco e saber criar uma história', sublinhando as variadas qualificações que um arquiteto possui.

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JÁ SOU ARQUITETO/A.

E AGORA?

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5. Já sou arquiteto/a. E agora?

Numa tentativa de se conhecer a fundo a profissão de arquiteto, foi necessário conhecer em que moldes se define como profissão e a formação do curso de arquitetura no ensino superior. Porém, a abrangência da formação enquanto arquiteto e as múltiplas possibilidades que a profissão oferece levam a uma necessidade de perceber a opinião dos arquitetos em exercício da profissão, de modo a entender que alterações podem ser feitas num futuro próximo.

5.1. O panorama da profissão visto pelos arquitetos (Inquéritos)

Neste segundo inquérito, realizado a diplomados em arquitetura, foram obtidas 252 respostas de diplomados por diversas instituições de ensino superior portuguesas, com uma pequena abrangência de instituições estrangeiras. O inquérito, realizado on-line, continha uma definição do universo inquirido (idade, sexo, localidade de residência atual e naturalidade), assim como dados relativos à sua formação (instituição de ensino, ano de conclusão do curso, tempo de frequência do curso – 5 a 9 ou mais, média final e se está inscrito na Ordem dos Arquitetos ou a trabalhar na área). Numa segunda parte do inquérito, pretendia-se que os inquiridos avaliassem a sua formação para diversos tópicos (de 1 a 5), destacando depois o que tinha faltado à formação e uma breve opinião sobre o estado do mercado de trabalho na área da arquitetura em Portugal.

Na classificação do universo inquirido, existe um maior equilíbrio entre arquitetas (52.0%) e arquitetos (48.0%) em comparação com o inquérito anterior, o que se justifica pelo maior número de arquitetos no mercado de trabalho. Tal como aconteceu no primeiro inquérito, os centros metropolitanos de Lisboa e Porto continuam a ser os locais de residência da maioria dos inquiridos, enquanto que as idades variam entre os 22 e os 66 anos, atingindo uma média de 31.3 anos, o que vem comprovar a extrema juventude na profissão. Quanto aos anos de conclusão de curso, 55.6% terminou em 6 ou mais anos, o que vem demonstrar a longevidade na execução do curso como Mestrado Integrado.

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Gráfico 1: Percentagem de inscritos na Ordem dos Arquitetos entre os 252 inquiridos.

Gráfico 2: Percentagem de inquiridos a trabalhar na área da arquitetura.

Nos gráficos 1 e 2 é possível verificar que cerca de um quarto dos inquiridos não está inscrito na Ordem dos Arquitetos, e um pouco mais não está a trabalhar na área. Torna-se, portanto, necessário cruzar estas duas informações para se perceber se as duas premissas se conjugam numa ação comum.

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Tabela 1: Comparação dos planos de estudo de onze cursos de arquitetura em diferentes instituições portuguesas, em julho de 2016
Tabela 2: Comparação dos resultados do inquérito por curso de arquitetura/instituição, considerando apenas o curso com mais do  que 2 respostas; Avaliação de 1 a 5, considerando o 1 'Muito Fraco' e o 5 'Muito Bom'
Tabela 3: Comparação dos resultados do inquérito por ano escolar;
Tabela 4: Comparação entre os inscritos na Ordem dos Arquitetos e os inquiridos a trabalhar na área de arquitetura
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Referências

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