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Transformações através da convencionalização da cafeicultura orgânica: o caso de cafeicultores da província de San Ignacio - Peru / Transformation through conventionalization of organic coffee production: the case of coffee producers in San Ignacio Provin

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Academic year: 2020

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Transformações através da convencionalização da cafeicultura orgânica: o caso

de cafeicultores da Província de San Ignacio - Peru

Transformation through conventionalization of organic coffee production: the

case of coffee producers in San Ignacio Province - Peru

DOI:10.34117/bjdv6n6-648

Recebimento dos originais: 08/05/2020 Aceitação para publicação: 29/06/2020

Darwin Aranda Chuquillanque

Mestrando em Desenvolvimento Rural pelo Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PGDR/UFRGS.

Instituição: da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Endereço: Av. João pessoa n° 31, Centro-Porto Alegre-RS, Brasil

E-mail: darwin.aranda@ufrgs.br

Carmem Rejane Pacheco Porto

Doutora em Geografia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS

Professora no curso de Agroecologia da Universidade Federal do Rio Grande- FURG, Campus São Lourenço do Sul.

Instituição: Universidade Federal do Rio Grande (FURG)

Endereço: Av. Marechal Floriano Peixoto n° 2236, São Lourenço do Sul-RS, Brasil. E-mail: carmem.porto@furg.br

Marcelo Tempel Stumpf

Doutor em Zootecnia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS

Professor no curso de Agroecologia da Universidade Federal do Rio Grande- FURG, Campus São Lourenço do Sul.

Instituição: Universidade Federal do Rio Grande (FURG)

Endereço: Av. Marechal Floriano Peixoto n° 2236, São Lourenço do Sul-RS Brasil. E-mail: marcelo.stumpf@furg.br

Carlo Juliantro Gielh

Mestrando em Zootecnia pelo Programa de Pós-Graduação em Zootecnia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul-UFRGS.

Instituição: da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Endereço: Av. Bento Gonçalves 7712, Porto Alegre-RS, Brasil

E-mail: Carlo.giehl@ufrgs.br

RESUMO

Esta pesquisa buscou discutir sobre a convencionalização e apropriacionismo das práticas agrícolas de produção orgânica e como essas interferem na produção e comercialização de cafés especiais no município de San Ignacio, no Peru. A pesquisa que originou este artigo justifica-se não apenas pela relevância da cafeicultura no desenvolvimento socioeconômico de milhares de famílias das áreas rurais, como também pela escassez de estudos empíricos realizados na referida província. Os dados analisados nesta pesquisa foram coletados em trabalho de campo em 2018. A convencionalização dos cafés especiais gerou mudanças nas estruturas de organização social, produção, comercialização e consumo das famílias camponesas da província de San Ignacio/Peru, destacando-se o cooperativismo como a principal forma de organização que passa a ser utilizada pelas famílias para inserir-se nos

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mercados de cafés especiais. A produção de cafés especiais na província de San Ignacio, segundo os critérios apontados ao longo deste trabalho, poderia ser caracterizada pela produção em volume e monocultivo, definindo-se assim como produção de commodities orgânicas para mercados de nichos específicos, sendo que os selos cumprem um papel de diferenciação do produto. Ademais, a distribuição desse produto segue os modelos dos produtos convencionais. Os agentes que controlam o mercado de cafés especiais se apropriaram de práticas e valores que os agricultores já realizavam muito antes da exigência dos selos de produção orgânica. Ao mesmo tempo, os agricultores estão perdendo soberania e a segurança alimentar. A exportação do café através das cooperativadas deveria gerar maior autonomia aos agricultores, porém eles são dependentes dos preços internacionais, de modo que as cooperativas são usadas simplesmente como uma intermediadora para exportação. A renda dos agricultores provém principalmente da comercialização do café, o que gera vulnerabilidade socioeconômica às famílias.

Palavras-chave: Convencionalização, Café orgânico, Cooperativas. ABSTRACT

This study addresses a discussion about conventionalization and appropriation of organic agricultural practices and how they interfere in the production and commercialization of special coffees in San Ignacio Province, in Peru. The present research has its justification in the relevance of coffee production in the socioeconomic development of thousands of families in rural areas, as well as the scarcity of empirical studies in San Ignacio Province. Data was collected in a fieldwork in 2018. Conventionalization of special coffees affected social organization, as well as production, commercialization and consume of farmers, with cooperativism as the main way to access special coffees market. Special coffees production in San Ignacio Province can be characterized by its high volumes and by monoculture, which defines it as a production of organic commodities to access specific market niches, with organic stamps as a way to identify the product. Besides being organic, its distribution follows conventional products model. Special coffees production has appropriated agricultural practices and values long used by producers, even before organic production stamps. At the same time, producers are losing their sovereignty and food safety is prejudiced. Coffee export through cooperatives should impose greater sovereignty to farmers but they are still dependent on international prices, thus cooperatives are used merely as export intermediates. Producers’ income is mainly due to coffee commercialization, which engenders socioeconomic vulnerability to their families.

Keywords: Conventionalization, Organic coffe, Cooperativism. 1 INTRODUÇÃO

A produção e consumo de produtos orgânicos é uma tendência nos mercados nacionais e internacionais, a qual se encontra relacionada aos atributos que são outorgados a esse tipo de produção, quais sejam, melhorar as condições socioeconômicas dos agricultores, a saúde das pessoas e preservar o meio ambiente (ALLEN E KOVACH, 2000). Nesse sentido, os governos e agentes que atuam nos sistemas agroalimentares foram induzidos a adaptar novas formas de organização e a aprimorar e criar novos dispositivos técnicos que sejam capazes de garantir a qualidade dos produtos. Uma das funções desses dispositivos é a estandardização da produção dos produtos agrícolas, a exemplo da produção orgânica de vegetais e animais. Essa estandardização permitiu maior facilidade para exportação de produtos agrícolas dos países denominados "subdesenvolvidos", ampliando as

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oportunidades de agricultores organizados na inserção em mercados globais de alimentos (GRANJA & WOLLNI, 2017).

O mercado do café, por exemplo, passou por muitas transformações. Segundo Guimarães et al. (2018), a partir do século XIX, o mercado internacional do café passou por diferentes mudanças, também denominadas de "ondas". Para esses autores essas ondas do café estão relacionadas com "a produção, os critérios de qualidade e diferenciação, os objetivos e filosofias de consumo" (GUIMARÃES et al., 2018, p.1). Diante das transformações na cadeia do café, os governos e agentes que atuam nesse mercado tiveram que adaptar novas formas de organização, aprimorar e criar estruturas de governança e dispositivos que sejam capazes de acompanhar essas transformações em toda a cadeia do café.

Esse é o caso de muitos cafeicultores da província de San Ignacio/Peru que, nas últimas décadas, organizaram-se em associações ou cooperativas, com a finalidade de encontrar rotas de comercialização e alternativas de desenvolvimento sustentável por meio da comercialização de cafés especiais. Esse novo nicho de mercado está dentro do que Le Velly (2017) denomina de mercados alternativos dentro dos Sistemas Alimentares Alternativos (SAA). Esses mercados apresentam-se como oportunidades à geração de renda de inúmeras famílias agricultoras. O mesmo autor assinala que uma característica intrínseca dos mercados alternativos é a "promessa da diferença", ou seja, a “promessa de outra modalidade de organização da produção, das trocas e/ou do consumo alimentar, e a promessa de benefícios associados” (LE VELLY, 2017, p. 9). É por meio da promessa de produtos diferenciados que os produtores e consumidores definem as razões pelas quais é necessário agir e, a partir disso, manifestam a capacidade de projetar e mover-se em favor da criação de alternativas ao modelo hegemônico. Porém, o mercado é marcado por ambiguidades e imprecisões, o que implica que “os projetos não se conectam com as práticas locais dos agricultores", em outras palavras, a teoria

nem sempre condiz com a prática, a exemplo de experiências de comércio justo e circuitos curtos de comercialização (LE VELLY, 2017). De modo mais explícito, o autor argumenta que em sistemas alternativos de produção e comercialização também existe concorrência de preços, empregos precários e a lógica da produção industrial também pode estar presente.

Nesse contexto, este artigo tem como objetivo ampliar as discussões sobre a convencionalização e apropriacionismo das práticas agrícolas de produção orgânica e como essas interferem na produção e comercialização de cafés especiais no município de San Ignacio, capital da província do mesmo nome, no Peru. A pesquisa que originou este artigo justifica-se pela relevância da cafeicultura no desenvolvimento socioeconômico de milhares de famílias rurais e pela escassez de estudos empíricos realizados na Província de San Ignacio que mostrem as transformações sociais e

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produtivas dos agricultores inseridos no mercado de cafés especiais. As análises aqui escritas se baseiam em um conjunto de dados coletados em trabalho de campo realizado em 2018.

O texto está dividido em seis seções, sendo que a primeira seção compreende esta breve introdução. A segunda seção discorre sobre as características gerais da cafeicultura peruana; na continuidade, a terceira seção apresenta a área de estudo e a metodologia de pesquisa, ao passo que na quarta é exposta a fundamentação teórica sobre a convencionalização e os dispositivos técnicos na agricultura orgânica. Na quinta seção o estudo de caso destaca principalmente os perfis socioeconômicos dos cafeicultores e os processos de convencionalização da cafeicultura orgânica do município de San Ignacio-Peru e, por fim, na sexta seção, são tecidas as considerações finais.

2 CARACTERÍSTICAS DA CAFEICULTURA NO PERU

Segundo o International Federation of Organic Agriculture Movement - IFOAM (2016), o café orgânico é o principal cultivo perene produzido em sistemas orgânicos no mundo. Para a Comissão de Promoção do Peru para a Exportação e o Turismo - PROMPERÚ (2019), o Peru é o segundo exportador de café orgânico do mundo, depois do México. No ano de 2016, 70% do café orgânico exportado pelo Peru foi certificado por uma única empresa certificadora, a "Biolatina Certificadora SAC". Essa certificadora está presente em quase todos os países produtores de café da América Central e América do Sul, concentrando assim o mercado de certificações (Junta Nacional del Café - JNC, 2016).

O café orgânico é cultivado seguindo as regras da agricultura orgânica estabelecidas pelos países produtores, contudo, caso a produção vise exportação, as normas estabelecidas pelo IFOAM também devem ser atendidas. Caso não haja normas de produção orgânica do país produtor, os agricultores utilizam exclusivamente as normas que o IFOAM estabelece1. Campos (2018) destaca que no Peru o café é cultivado em 15 regiões, 95 províncias e 450 municípios, totalizando 425.400 hectares. Segundo o Banco Mundial (2016) a produção de café está concentrada em cinco regiões do Peru: Junin (27,5%), San Martin (22,2%), Cajamarca (20,9%), Cusco (16,8%) e Amazonas (12,5%).

É oportuno assinalar que o estado de Cajamarca é o terceiro entre os estados com maior concentração de produção, o que equivale a 20,9% da produção nacional, da qual 12,6% se encontra na província de San Ignacio. Segundo Landa (2013), no ano 2010, a produção de café na província chegou a 29.000 toneladas.

1 Recomenda-se ler o texto "The IFOAM NORMS for Organic Production and Processing Version 2014" sobre normas

de produção e processamento de produtos orgânicos. Publicado no ano de 2018 pelo IFOAM. Documento disponível em: https://www.ifoam.bio/sites/default/files/ifoam_norms_july_2014_t.pdf

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Complementarmente a esses dados, o Banco Mundial (2016) aponta que a produção de café nas regiões do país é realizada predominantemente em pequenas áreas, entre 1 a 5 hectares, representando 85% dos cafeicultores do Peru; o cultivo se concentra nas variedades arábicas, que se caracterizam por produzir um café com menor concentração de cafeína, aroma suave e agradável, em outras palavras, se pode dizer que os cafés arábicos possuem melhor qualidade organoléptica comparado com outros cafés das variedades robustas, por exemplo.

Por sua vez, o Serviço Nacional de Sanidade Agrária - SENASA do Ministério de Agricultura do Peru argumenta que na cadeia do café participam mais de 223 mil famílias agricultoras. Nesse sentido, Cahuapaza (2016) assinala que 2,5 milhões de pessoas dependem diretamente da renda do café (produção, beneficiamento e comercialização).

Não existem dados claros sobre o volume de cafés especiais e convencionais que são exportados; o que existe é o volume total de café exportado. Segundo a Junta Nacional del Café-JNC do Peru, entre janeiro e junho de 2019, o Peru exportou 971,700 sacas2, totalizando 117,937.404

dólares americanos. Nessa totalidade de exportação de café, as cooperativas tiveram participação de 27.19%, enquanto as demais empresas tiveram participação de 72.81% (JNC, 2019). Entre os principais países importadores do café peruano se destacam Estados Unidos, Alemanha, Bélgica, Inglaterra, Japão, Austrália, Nova Zelândia e Canadá.

Os sistemas de produção de cafés especiais3 estão divididos em sistemas de cafés de origem e

sistemas de cafés sustentáveis. Segundo Espinoza (2017), no Peru existem 155 mil hectares para a produção de cafés em sistemas sustentáveis. Conforme sustenta Arcila et al. (2007), os cafés sustentáveis podem ser comercializados com diferentes selos, entre os quais se destacam: café orgânico, UTZ Certified, café de comércio justo (Fair Trade), selo 4C, café amigável com as aves. Os mesmos autores salientam que esses cafés também podem ser comercializados utilizando mais de um selo ou todos juntos, por exemplo: café orgânico e selo de comércio justo, café com selo de comércio justo mais selo de UTZ Certified, sendo que para utilizar todos esses selos os agricultores têm que atingir as exigências estabelecidas internacionalmente.

2 Sacas de 60 kg.

3 O conceito de cafés especiais nasce na Conferência Internacional do Café na França 1978, referindo-se a cafés

produzidos em determinadas regiões com micro climas específicos, que permitam a produção de café com sabor único e características particulares que preservem sua identidade (ARCILA, et al, 2007). Os mesmos autores argumentam que os cafés especiais são aqueles que conservam suas características físicas (tamanho, aparência, umidade, etc.), sensoriais e práticas culturais, desde a colheita até o processo de preparação. Toda essa característica diferencia-os dos cafés convencionais e os consumidores estão dispostos a pagar um preço superior.

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3 ÁREA DE ESTUDO E METODOLOGIA DE PESQUISA

A área de estudo localiza-se no município de San Ignacio, capital da província de mesmo nome, localizada ao norte da região Cajamarca, Peru. A província foi criada em 1965 e atualmente é dividida geograficamente em sete municípios (distritos) (Mapa 1). Tem uma extensão de 4 990,30 km2 e população estimada em 148.364 pessoas (Instituto Nacional de Estadística e Informática - INEI, 2018). Segundo o Centro Nacional de Planejamento Estratégico - CEPLAN (2018) do Peru, San Ignacio tem um índice de pobreza4 de 64,5%, pobreza extrema de 30,8% e 21,7% de desnutrição crônica5 em crianças menores de cinco anos.

Mapa 1. Localização geográfica da Província de San Ignacio, estado de Cajamarca-Peru, sua divisão distrital com

destaque à área de estudo.

Fonte: Instituto Nacional de Estatística e Informática-INEI, 2017. Elaboração técnica OLIVEIRA, C.F

A província de San Ignacio tem sua economia movimentada pela agropecuária, destacando-se principalmente a produção e comercialização de café orgânico. Além do café, existe a produção de banana, mandioca, arroz, frutas, verduras, a criação de galinhas, patos, suínos, bovinos, entre outros, destinados principalmente para o autoconsumo e em alguns casos para o abastecimento dos mercados locais da província.

4 "A pobreza está associada com a incapacidade das pessoas de satisfazer suas necessidades básicas de alimentação".

INEI. Disponível em: https://www.inei.gob.pe/preguntas-frecuentes/. Acesso em: 01 de julho de 2019.

5 "A desnutrição crônica é o retardo de crescimento em estatura para a idade, é determinada pela comparação do tamanho

da criança com o esperado para sua idade e sexo". INEI. Disponível em: https://www.inei.gob.pe/preguntas-frecuentes/. Acesso em: 01 de julho de 2019.

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A pesquisa foi realizada de 22 de janeiro a 23 de fevereiro de 2018, no município de San Ignacio/ Peru. Para a realização da pesquisa utilizou-se a modalidade de Pesquisa Explicativa proposta por SEVERINO, (2007). A técnica utilizada para a coleta de informações foi questionário semiestruturado, contendo questões fechadas (múltipla escolha) e questões abertas.

O questionário foi aplicado a uma amostra de 30 cafeicultores escolhidos aleatoriamente. A análise dos dados restringiu-se a 29 dos 30 cafeicultores, uma vez que a produção de café de um dos entrevistados era zero, ou seja, a renda vinha de outras fontes que não é a cafeicultura. Para as análises dos dados foi utilizado Software Microsoft Excel®e o Software Statistical Package for the Social

Sciences (SPSS).

4 CONVENCIONALIZAÇÃO E DISPOSITIVOS NA PRODUÇÃO ORGÂNICA

Na esteira da modernização da agricultura e da indústria voltada ao processamento de produtos agropecuários, Goodman, Sorj e Wilkison (2008, p. 6) argumentam que os capitais industriais incapacitados de dominar todos os processos biológicos da produção agrícola, como, por exemplo, "[...] a transformação biológica da energia solar em alimento [...]", adotaram novas estratégias de dependência e de controle dos processos agrícolas. Esse é o caso de processos como, por exemplo, a "[...] semeadura à mão pela máquina de semear, a colheita manual pela inserção de máquinas colheitadeiras, o esterco por produtos químicos cada vez mais solúveis [...]" (GOODMAN, SORJ e WILKISON 2008, p. 6), entre outros processos agrícolas que se tornaram indissociáveis dos capitais industriais. Esse fenômeno de dependência, indissociabilidade e transformação dos processos agrícolas em atividades industriais ligadas diretamente à indústria é denominado por Goodman, Sorj e Wilkison (2008) de apropriacionismo. Em outras palavras, para esses autores, o apropriacionismo tenta reduzir a importância da natureza na produção agrícola. No entanto, o avanço do apropriacionismo teve limitações pela própria natureza (áreas consideradas improdutivas e de difícil mecanização) e em alguns casos resistência por parte de algumas sociedades. Contudo, é importante assinalar que esse modelo produtivo era seletivo e voltava-se especialmente a agricultores capitalizados, portanto, era excludente com os agricultores não capitalizados.

Nesse sentido, Bastian (2018) assinala que a discussão acadêmica acerca do processo de convencionalização dos alimentos orgânicos iniciou com a publicação de Buck, Getz e Guthman (1997), autores que, reportando-se ao contexto da Califórnia, Estados Unidos, identificam e discutem tal processo. Esses autores, ao analisarem o mercado de hortaliças orgânicas naquele contexto, averiguaram que havia semelhanças com o mercado dos alimentos convencional, principalmente no que se refere a aspectos operacionais e organizacionais. Buck, Getz e Guthman (1997) são assertivos

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ao dizer que o processo de industrialização da agricultura orgânica pelo agronegócio é denominado convencionalização.

Para Buck, Getz; Guthman (1997) as estratégias na produção orgânica têm dois extremos. Em um extremo a "produção artesanal", mediada por relação direta entre produtor e consumidor por meio de cadeia curtas. O outro extremo da produção orgânica é caracterizada pela produção em volume e monocultivo, ou seja, produção de commodities orgânicas para mercados de massa e de nicho. Nesse caso, o "orgânico" cumpre papel apenas de diferenciação de produto visto que o alcance desses produtos é extenso e segue o modelo de distribuição de produtos convencionais (BUCK; GETZ; GUTHMAN, 1997, p. 5). É no segundo extremo que a produção de cafés especiais se encontra, abastecendo os mercados internacionais, atendendo principalmente nichos de mercados específicos. No entanto é importante chamar a atenção ao modelo de produção desses cafés, uma vez que geralmente a produção desse tipo de produto está concentrada no trabalho de milhares de agricultores no mundo que cultivam pequenas parcelas, o que significa dizer que não são as práticas agrícolas que o torna uma commoditie orgânica, mas sim a cadeia, a comercialização, o beneficiamento e o consumo. Nesse sentido, os diversos selos que existem nos cafés especiais somente cumprem o papel de diferenciação do produto orgânico do convencional no que tange as técnicas e práticas de cultivo, desconsiderando os outros vários elos necessários para permitir que o produto chegue até seu consumidor final.

De acordo com Niederle e Almeida (2013), as discussões sobre o processo da convencionalização dos mercados de orgânicos estão relacionadas com a entrada de novos atores que atuam de acordo com lógica mercantil nos mercados de orgânicos. Esses novos atores podem ser produtores, certificadoras, supermercados ou agroindústrias que, motivados pelo lucro econômico, acabam promovendo modificações nesse setor. Para os mesmos autores, a convencionalização procura simplificar e reduzir os processos de manejo dos agroecossistemas, conduzindo os sistemas orgânicos a processos parecidos aos pertinentes à agricultura industrial, o que envolve aumento da produção em monocultivos e substituição de insumos. Os autores sugerem que a emergência de mercados alternativos aos convencionais, a partir da reconexão entre agricultores e consumidores e da aproximação da relação produtor-consumidor pode apresentar suporte, práticas e valores específicos que dificilmente podem ser apropriados por atores dominantes nos sistemas convencionais de agricultura. Nesse sentido, Niederle e Radomsky (2017, p. 253) argumentam que a convencionalização da agricultura orgânica está marcada pela "proliferação de normas e padrões globais".

Para Niederle (2014, p. 182), a convencionalização seria a “apropriação de valores vinculados à agroecologia pelos atores líderes do sistema agroalimentar”. Entretanto, afirma o autor, essa

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apropriação nem sempre ocorre de modo integral. Mesmo que alguns desses atores integrem discursos e, em alguma medida, métodos de produção, beneficiamento e comercialização vinculados ao movimento alternativo da agricultura orgânica, isso não está necessariamente relacionado com práticas de preço e condições justas junto aos provedores dos produtos e das matérias primas, por exemplo. Quer dizer, o aspecto social da agricultura orgânica pode ser pouco ou nada abrangido.

Salienta Guthman (2004) que riscos surgem ou podem surgir a partir da disseminação e influência da convencionalização sobre produção orgânica. A autora considera que o progresso da convencionalização não dominará qualquer tentativa de resistência à incorporação dos mercados de orgânicos ao modelo explicitado pela agricultura industrial, porém operará de modo que todos os produtores orgânicos colaborem no setor através de imediata e inusitada lógica de intensificação.

Acrescenta Guthman (2004) que há pelo menos três ameaças relacionadas entre si e com o processo de convencionalização dos mercados de orgânicos. A primeira das ameaças é a possibilidade de grandes fornecedores de insumos de companhias internacionais influenciarem os padrões de certificação. A segunda ameaça seria a autorização do uso de insumos que podem distorcer os significados do que é um produto orgânico conforme os princípios da agricultura orgânica. E por fim, a terceira ameaça apontada pela autora seria a adoção desses insumos por amplo espectro de produtores, entre grandes e pequenos, capitalizados e não capitalizados.

Com a convencionalização da agricultura orgânica, as agroindústrias, cooperativas, associações, entre outras organizações, tendem a exigir que os agricultores entreguem volumes constantes e periódicos, condicionando-os, assim, a utilizarem práticas voltadas à produtividade focada em monocultivos. Nesse sentido, De Wit e Verhoog (2007) assinalam que na Holanda o setor de orgânicos está sendo influenciado pelas cadeias de commodities agrícolas, aumentando o uso de insumos não agrícolas. Ademais, os autores mostram que as práticas atuais em agricultura orgânica podem ter efeitos negativos sobre questões como uso de energias externas e perda e ciclagem de nutrientes.

De Wit e Verhoog (2007) argumentam que na Holanda alguns produtores saíram ou se especializaram no mercado de produção de suínos orgânicos. Em decorrência disso, a produção de suínos orgânicos passou a ser padronizada e controlada principalmente por empresas especializadas e capitalizadas que produzem em grande escala. A especialização e produção em grande escala trouxeram consequências, dentre elas se destacando a dependência de alimentos provenientes de longas distâncias. Um comportamento similar a esse também foi observado entre os avicultores daquele país. Nesse sentido, os mesmos autores assinalam que a agricultura orgânica não distingue altos níveis de proteção ambiental e bem estar animal; além disso, a agricultura convencional está adotando novos mecanismos de proteção ambiental e bem estar animal. Portanto, naquele contexto e

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de acordo com a análise de Wit e Verhoog (2007), a agricultura orgânica está se tornando menos distinguível da agricultura convencional. Nessa direção, Darnhofer et al. (2009, p. 5) fazem uma ressalva ao defender que, para "ser capaz de capturar com precisão a convencionalização exigiria uma análise que diferencie, por exemplo, os tipos de fazendas, as commodities e os canais de comercialização".

Darnhofer et al. (2009) destacam que, dependendo do país, o processo de convencionalização da agricultura orgânica ainda não é um fenômeno universal, uniforme e globalizante. Nesse sentido, pode-se inferir que a convencionalização é seletiva a produtores capitalizados. Os autores argumentam ainda que para avaliar o processo e convencionalização da produção orgânica os olhares devem estar direcionados ao nível da fazenda, isso porque a avaliação dos produtos orgânicos é baseada principalmente no processo de produção.

Motivados por interesses sociais, econômicos, ambientais, e políticos diversos agricultores se inserem no mercado de produtos orgânicos. Sobre isso, Allen e Kovach (2000, p. 1) questionam se a "[...] agricultura orgânica cumpre a promessa de alcançar a solidez ecológica [...]". Esses autores assinalam que muitos agricultores de orgânicos compartilham e tem como principal filosofia o comprometimento com a sensibilidade ecológica e holística, contudo, poucos desses agricultores conseguem ter a sustentabilidade ecológica como principal suporte da agricultura orgânica. Tendo em vista que existem diversos fatores que influenciam agricultores a atuarem na agricultura orgânica, isso pode gerar conflitos nesse processo, uma vez que agricultores que preconizam somente o viés econômico recebem o mesmo selo de um agricultor que busca seguir princípios mais amplos da agricultura, relacionados com a saúde, precaução, justiça e ecologia (IFOAM, 2005). Se considerarmos os dispositivos e normas de produção orgânica, se percebe que tais regulamentos não conseguem incluir os princípios preconizados, principalmente quando se fala de justiça social. Allen e Kovach (2000, p. 10) argumentam que, por exemplo, a "[...] rotulagem orgânica simplesmente não é suficiente para criar um sistema agroalimentar que forneça valor real". Portanto, podemos dizer que um certificado ou uma rotulação de produto orgânico descomplexifica e transforma as relações sociais e naturais a uma tabela de normas padronizadas, principalmente relacionadas a insumos.

Na seguinte seção serão apresentadas as características gerais dos cafeicultores de província de San Ignacio.

5 PERFIL SOCIOECONÔMICO DOS CAFEICULTORES E PROCESSOS DE CONVENCIONALIZAÇÃO DA CAFEICULTURA ORGÂNICA DE SAN IGNACIO-PERU

Os cafeicultores que participaram desta pesquisa perfazem 16 mulheres e 13 homens. Esses apresentam idade média de 45,21 anos, com uma variação de 23 a 67 anos. No tocante à escolaridade,

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dezoito cafeicultores frequentaram o Ensino Fundamental, o que representa 62% do total, seguido do Ensino Médio em que aparecem oito (27,6%) e por último o Ensino Técnico com três (10,4%) cafeicultores.

Em relação ao tipo de produção, os 29 cafeicultores assinalaram que sua produção é orgânica. Desses, 55% do total contam com certificação de produção orgânica, e os outros 45% não possuem certificação. É oportuno mencionar que a certificação é realizada pela cooperativa que o cafeicultor se encontra associado. Os que se consideram orgânicos, mas não possuem certificado, argumentam que não utilizam adubos sintéticos e agrotóxicos nas lavouras e por isso a sua produção é orgânica.

Se é certo que a mecanização não conseguiu atingir os cafeicultores da província de San Ignacio, o sistema capitalista encontrou outras formas de apropriação, entre as quais podemos citar as práticas de produção orgânica que esses agricultores vinham realizando muito antes da proliferação dos selos de sustentabilidade exigidos pelos mercados internacionais dos cafés especiais. Entre os principais selos que supostamente garantem aos consumidores que normas de sustentabilidade ambiental e socioeconômica estão sendo atingidas, vale mencionar: Certificado de Produção Orgânica, UTZ Certified, Fair Trade, Rainforest Alliance Certified. Esses selos têm como prioridade a diminuição da pobreza no campo, a preservação do meio ambiente e a construção de uma sociedade justa e equilibrada, além de garantir que as normas de produção e processamento para atingir a qualidade dos produtos sejam atingidas

Retomando as práticas de produção orgânica que os agricultores já vinham realizando, o cultivo do cafeeiro em sistema sombreado, por exemplo, está relacionado a uma questão estratégica de produção, visto que quando cultivado em sistemas sombreados a qualidade organoléptica é maior comparado com sistemas de produção intensivos (cafés não sombreados). Além disso, esse sistema também contribui com a diminuição da perda de nutrientes, diminui a erosão do solo e ajuda a evitar deslizamentos, principalmente em áreas íngremes. Cabe considerar que, entre os motivos evidenciados para realizarem esse tipo de agricultura (agricultura orgânica), mencionam a produção em pequenas áreas de cultivo, em locais distantes e de difícil acesso, e como se não bastasse, o acesso ao crédito financeiro também é dificultado. Diante disso, se pode dizer que as condições socioeconômicas, de relevo, de solo e clima da região é que influenciaram o tipo de produção realizada, e não a tentativa de atender a uma legislação específica ou determinações com vistas à obtenção de algum tipo de certificação do produto. É perceptível, pois, que os agentes que atuam na comercialização e regulamentação de cafés especiais se valeram de práticas que já eram realizadas pelos cafeicultores para incrementar o valor de mercado do café. Em outras palavras, esses agentes utilizaram o discurso da sustentabilidade social, ambiental e econômica exclusivamente para acessar nichos de mercado, objetivando maior lucratividade, a qual não foi e não tem sido repassada aos

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produtores. Tal prática evidencia que existe apropriação de práticas e valores tangíveis e intangíveis pelo sistema capitalista o que, de certa forma, desvaloriza o histórico das práticas agrícolas estabelecidas localmente pelas comunidades.

A principal justificativa dos agricultores para aderir à certificação orgânica foi a promessa de maior preço, maior produção, empréstimos, entre outros benefícios. Ou seja, "promessa da diferença", que, segundo Le Velly (2017, p. 9), quer dizer a “[...] promessa de outra modalidade de organização da produção, das trocas e/ou do consumo alimentar, e a promessa de benefícios associados [...]”. Para obter a certificação as cooperativas pagam à empresas certificadoras multinacionais US$ 10.000,00 por 350 sócios. Esse pagamento é realizado por safra, ou seja, de forma anual. Por sua vez, o custo para obter o selo de comércio justo é de US$ 6.000.00 por 350 sócios, pagamento realizado a cada três anos. Indubitavelmente, esses altos custos cobrados pelas empresas certificadoras, as quais são poucas e acabam por monopolizar o processo de certificação, inviabilizam a certificação orgânica para os agricultores de San Ignacio que não pertencem à cooperativas. No ano de 2016, 70% do café orgânico exportado pelo Peru foi certificado por uma única empresa certificadora, a "Biolatina Certificadora SAC" (Junta Nacional do Café -Peru, 2016).

Os altos preços cobrados para a certificação da produção tornam esse modelo de comércio dominante e excludente, uma vez que condiciona os agricultores a ser parte de uma cooperativa e, consequentemente, seguir todas as normas de produção que lhe são impostas. Além disso, economicamente é inviável para um agricultor sozinho obter a certificação de seu produto. Em tal modelo de comércio, cabe questionar: onde fica o valor da justiça social preconizado pelo IFOAM e pelo Fair Trade6?,

As propriedades rurais possuem tamanho médio de 3,84 hectares, com amplitude de 14,5 hectares entre os cafeicultores. Observou-se que 23 dos 29 cafeicultores que participaram do estudo possuem parcelas de terra menor ou igual a cinco hectares. A média da área destinada ao cultivo do café é 1,9 hectares. No geral, a produção do café não passa de cinco hectares, o que coincide com os dados divulgados pelo Ministério de Agricultura do Peru e pelo Banco Mundial, instituições que assinalam que o cultivo do café no Peru é realizado.

O teste-T de Student foi aplicado para comparação das médias das áreas cultivadas entre os agricultores que produzem de maneira orgânica com certificação (16 cafeicultores/sócios de cooperativas) e os que consideram que produzem de maneira orgânica (13 cafeicultores), porém, sem

6 Conforme sustenta Arcila et al., (2007) "O comercio justo (Fair Trade) promove o desenvolvimento social, econômico

e democrático, além disso, garante que os agricultores recebam uma recompensa equitativa pelo seu trabalho. O selo de comércio justo é uma forma de cooperação comercial com a finalidade de melhorar as possibilidades de pequenos agricultores e suas organizações e desta forma sobreviver na competência econômica internacional. Nesse sistema se oferecem relações a longo prazo, um preço que cubra todos os custos de produção, ademais as compras realizam-se com redução do número de intermediários .

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certificação. Os agricultores que possuem certificação cultivam em áreas significativamente maiores do que aqueles sem certificação: 2,41 x 1,21 ha, respectivamente (P = 0.004).

A produção média de café na safra 2017 foi de 1.804 kg por propriedade. Se for considerado o desvio padrão de 1.541 kg, é possível verificar que existe heterogeneidade nas produções. A produção média por hectare foi de 861,84 kg.

Na regressão linear múltipla variada (Modelo I), as variáveis independentes idade, escolaridade, canais de comercialização (cooperativa, intermediário e ambos os canais) e tipo de produção (orgânica e não orgânica) explicam em 37,7% (R² = 0,377) o volume colhido pelos cafeicultores na safra de 2017. Em nível de confiança de 95%, os resultados mostram que idade (P=0,590), escolaridade (P=0,965) e canais de comercialização (P=0,645) não influenciaram no volume colhido pelos agricultores no ano de 2017. A correlação linear dessas variáveis mostra R de 0,29; -0,01 e 0,14 respectivamente, ou seja, existe correlação fraca e até negativa entre essas variáveis quando relacionadas ao volume colhido. A significância é de 5% com a aplicação do teste ANOVA, o que indica que o volume colhido entre e dentro dos grupos de agricultores com diferentes níveis de escolaridade não difere (P=0,810).

Por outro lado, a variável tipo de produção orgânica certificada e não certificada teve influência positiva no volume colhido (P=0,03). Para conhecer o grupo que teve maior volume de café colhido foi realizado o teste-T Student. Os resultados mostram que a média colhida pelos cafeicultores orgânicos certificados (sócios de cooperativas) é significativamente maior se comparada com os sem certificação (P=0, 001).

Para explicitar melhor o volume colhido na safra de 2017, acrescenta-se ao modelo I da regressão múltipla variada a variável independente "área cultivada com café", de forma que o modelo melhorou em 69,4% (R²=0, 694). Atingindo nível de confiança de 95%, a idade (P=0,703), escolaridade (P=0,158) e canais de comercialização (P=0,206) e tipo de produção (P=0,463), estatisticamente não interferem no volume colhido. Nesse modelo, o volume colhido é explicado estatisticamente pela variável "área cultivada" (P<0,001).

A maior produção por hectare para cafeicultores que possuem certificação orgânica pode estar relacionada com o aumento dos tratos culturais que esses produtores realizam nos cafeeiros, o que envolve capinas, podas e adubação. Ademais, os sócios das cooperativas se comprometem a entregar determinado volume de café ao ano. Em alguns casos, as cooperativas vendem adubos para seus sócios. Observa-se que a finalidade das cooperativas é a produtividade e, como consequência, os agricultores ficam dependentes de insumos externos. Nesse sentido, Guthman (2004) salienta que uma das ameaças do processo de convencionalização da produção orgânica seria o emprego de adubos externos entre os produtores, grandes e pequenos, capitalizados e não capitalizados.

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Para atingir mercados de cafés especiais, referente à qualidade e volume, as variedades dos cafeeiros adaptados à região foram substituídas por variedades exóticas que garantem maior produção, porém, com intensificação no desenvolvimento de doenças, como a ferrugem do cafeeiro, e predação por lagartas. A mão de obra dos agricultores foi intensificada na lavoura e no processamento para atingir a qualidade exigida. Informações empíricas desta pesquisa mostram que a produção para o autoconsumo também foi reduzida; áreas destinadas à produção de alimentos foram tomadas por produção de café. A exemplo de algumas comunidades do município de San Ignacio, o cultivo de arroz de sequeiro, produzido para o consumo das próprias famílias, não é mais realizado. Esse é também o caso de variedades de milho crioulo que antes eram cultivadas e agora estão em perigo de extinção, pois as áreas de produção têm sido crescentemente destinadas ao cultivo do café. Relatos de agricultores sugerem que não existem mais sementes crioulas e quando existem essas são improdutivas ou são tomadas por "pragas". Informações reveladas durante a visita à região indicam que na atualidade muitos dos agricultores compram sementes de "milho melhorado" na fronteira Peru-Equador ou na mesma província de San Ignacio. Essas sementes têm sua origem desconhecida, além de que, para produzir essa nova variedade de "milho melhorado", faz-se necessário comprar fertilizantes e agroquímicos para as "pragas". Goodman, Sorj e Wilkison (2008) que, como já discutido na seção anterior, analisam o setor agroalimentar, apontam que a produção do milho híbrido vem acompanhada de aumento significativo do uso de fertilizantes e produtos químicos para proteção das plantas. Nota-se que, nessa lógica produtiva, existe não apenas perda da biodiversidade dos cafeeiros como também perda da autonomia e da segurança alimentar por parte dos agricultores.

Os canais utilizados pelos agricultores para comercializar o café são as cooperativas, intermediários ou ambos os canais, sendo que o destino final do produto é o mercado internacional. A cooperativa funciona tanto como centro de coleta do café dos agricultores como também se encarrega de procurar compradores no exterior, ou seja, atua como intermediadora. Vale destacar que o café exportado pelas cooperativas peruanas geralmente é na forma de grãos verdes ou torrados (BANCO MUNDIAL, 2016). Nesse sentido, é importante ressaltar que os agentes que atuam na comercialização de café exportam o café em grão, quer dizer, San Ignacio se especializou nos elos inferiores da cadeia global de valor (CGV) de café, justamente na etapa em que o valor agregado é menor. Segundo a Fundação João Pinheiro (2018), no Brasil, o estado de Minas Gerais, que figura entre os estados com maior produção de café, também se especializou na exportação in natura do grão. Fica evidente que países como o Peru, Brasil e outros países da America Latina utilizam o modelo primário exportador como principal gerador de divisas, o qual perdura desde o período colonial.

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Segundo relatos dos entrevistados o café que não atinge a qualidade exigida pela cooperativa fica sob responsabilidade dos agricultores, que precisam dar destino final ao produto, ou seja, precisam comercializar em outro canal, com os intermediários. A cooperativa não conta com planos estratégicos e não oferece nenhuma orientação aos sócios para procurar melhores mercados em relação ao produto "descartado". Nesse caso, os agricultores sentem que a cooperativa não os representa. Diante disso surgem questionamentos como: Quais são os critérios utilizados para recusar o café? Os agricultores conhecem os critérios de qualidade? Os agricultores conseguem diferenciar um café especial de um café convencional? Os agricultores participam minimante da construção dos critérios de qualidade? Qual é o principal papel das cooperativas na cadeia de comercialização? Em que medida as cooperativas preconizam os princípios fundamentais do cooperativismo, ou seja, gestão democrática pelos cooperados; participação econômica dos cooperados; autonomia e independência; educação, formação e informação; intercooperação e interesse pela comunidade? Como e quais são as estruturas de governança propostas ou impostas pelas empresas multinacionais que condicionam toda a cadeia dos cafés especiais?

Talvez essa discussão não fosse interessante se os níveis de pobreza e de desigualdade fossem inexistentes ou pelo menos o preço do café comercializado fosse superior ao custo de produção. Segundo a Junta Nacional do Café - JNC (2016) do Peru, desde 2002 até 2016, com exceção de 2011, o custo na produção por kg de café é maior que o preço de venda. A mesma organização aponta que no ano de 2016 o preço de venda ficou em média U$ 2,00 por kg e o custo de produção em média foi de U$ 2,70 por kg. Vargas e Willems (2017) citam um trabalho de Xocium (2016), trabalho que foi realizado na região San Martin/Peru, onde argumentam que os agricultores precisam de produtividade de 2364 kg/ha de café para equilibrar os custos de produção. Porém, os mesmos autores apontam que a média de produtividade chega a 780 kg/hectare, ou seja, a produtividade está muito abaixo da necessária para que a atividade seja vantajosa economicamente para os agricultores. Se levarmos em conta essa média proposta pelos autores como referência para equilibrar os custos de produção, fica evidente que os cafeicultores desde sempre trabalharam e continuam trabalhando para um sistema econômico que pouco ou nada contribui na geração de condições de uma vida digna às famílias cafeicultoras.

Diante desse cenário é importante ressaltar também a relevância que toma a produção para o autoconsumo. Essa produção assume uma das mais importantes estratégias que contribui para a manutenção do complexo familiar. Conforme Grisa e Conterato (2011) a produção para autoconsumo é compreendida como toda a produção realizada pela família e destinada ao seu consumo ou ao dos animais existentes no estabelecimento rural. Vale lembrar que geralmente essa produção não é contabilizada pelo produtor, portanto a renda real não é conhecida. Os pontos positivos dessa

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estratégia são o fácil acesso a alimentos e a segurança alimentar e nutricional disponível para os membros da família, sendo que os alimentos advindos da própria produção estão, em sua maioria, livres de agrotóxicos, além disso, garantem segurança econômica frente às oscilações de preços nos mercados. A produção para o autoconsumo colabora com a manutenção da cultura alimentar regional (GRISA e CONTERATO, 2011).

No ano de 2017 o preço de venda da saca de café de 60 kg foi em média 103,737 dólares americanos, sendo que a variação do preço foi de 59,34 a 127,60, com desvio padrão 19 dólares em relação à média. Ao analisar a regressão linear múltipla a uma significância de 5%, utilizando variáveis independentes (tipo de produção, canais de comercialização, idade e escolaridade) para explicar a variável dependente (preços de venda), os resultados sugerem que os canais de comercialização, assim como o tipo de produção influenciam positivamente no preço de venda, mas estatisticamente não tem relação com o preço de venda, P=0,065 e P=0,303 respectivamente. O preço de venda não é influenciado pela idade (P=0,630) nem pela escolaridade (P=0,844) dos cafeicultores. O teste-T Student indica que estatisticamente o preço de venda do café com certificação orgânica é maior que o café não certificado (P=0,003). Os agricultores que utilizam os intermediários como único canal de comercialização recebem em média 91,5 dólares por saca de 60 kg, por sua vez, os que utilizam as cooperativas para comercializar seu produto recebem em média 108,74 dólares; por seu turno, os que utilizam ambos os canais (cooperativa/intermediários) recebem em média 121,10 dólares a saca de 60kg. O teste ANOVA indica que existe diferença significativa de médias nos preços de venda nos canais de comercialização que acessam os cafeicultores (P=0,003). O teste Tukey indica que as médias dos preços de venda dos cafeicultores que utilizam os intermediários como único canal de comercialização são 17,25 dólares menores em comparação com os que utilizam as cooperativas (P=0,033) e, 29,57 dólares menores em comparação aos que utilizam ambos os canais (P=0,004). Não se encontrou diferença estatística entre os cafeicultores que utilizam unicamente a cooperativa e os que utilizam ambos os canais (P=0,322). Em suma, agricultores que utilizam diversos canais de comercialização tendem a obter melhores preços pelo produto. Contudo, agricultores sócios de cooperativas assinalam que o preço pago pelas cooperativas em alguns casos não difere do preço pago pelos intermediários, uma vez que os intermediários não exigem a mesma qualidade destas, sendo assim as perdas são menores, além disso, reduz a mão de obra e os custos de produção.

É oportuno destacar que as cooperativas não possuem controle sobre o preço do café. Quem dita as regras sobre qualidade, quantidade, volume e preço são grandes corporações que trabalham nesse mercado. Nesse sentido, as cooperativas atuam simplesmente como agentes intermediadores entre agentes internacionais e agricultores locais.

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A outorga de empréstimos e em alguns casos a entrega de adubos orgânicos seguido de melhores preços são as principais vantagens para os agricultores que participam de cooperativas. Após a colheita do café, a cooperativa entrega empréstimos e adubos para os sócios e esses pagam com a safra do próximo ano. Esse adiantamento em dinheiro é utilizado pelos agricultores para a alimentação e para cuidados com a saúde da família e, em alguns casos, compra de fertilizantes. De certa forma, a cooperativa dá “segurança” aos cafeicultores, contudo esses ficam "reféns" das mesmas, já que a futura safra fica comprometida e nada garante que ela não seja atingida por “pragas” ou pelos eventos climáticos.

É importante apontar que na maioria das vezes o preço pago pelos intermediários não leva em conta a qualidade do café, o que independente de ser um café orgânico ou não. Por sua vez, as cooperativas pagam de acordo com a qualidade física e organoléptica. De acordo com o relato dos agricultores sócios de cooperativas o preço pago pelas cooperativas em alguns casos não difere do preço pago pelos intermediários, esses agricultores alegam que exigências relacionadas à qualidade aumentam os custos de produção. Nesse sentido Ruben e Fort (2012) em pesquisa realizada na região central do Peru sobre o impacto da certificação orgânica e Fair trade na vida dos cafeicultores dessa região, concluem que não existem resultados significativos em questão de maior renda entre famílias inseridas nesse mercado comparado com agricultores produtores de cafés convencionais.

Entre as desvantagens ou problemas apontados pelos sócios de cooperativas, são citadas: pagamento a prazo, exigências na qualidade do café, má administração das cooperativas pelos quadros administrativos, desejos individuais em detrimento dos desejos coletivos, falta de transparência nas contas, assembleia geral somente utilizada como mera formalidade. Esses problemas identificados junto aos agricultores que produzem café são semelhantes aos encontrados por Crúzio (1999) em estudo realizado em uma cooperativa agropecuária em São Paulo/Brasil.

Observa-se que esses problemas das cooperativas transpassam fronteiras e não são recentes. Faz-se importante que os dirigentes e sócios das cooperativas e os interessados no cooperativismo revejam e ponham em prática os princípios fundamentais do cooperativismo, porque do contrário se estará utilizando a palavra Cooperativismo como um mero "marketing", disfarçando o atual sistema econômico liberal e ainda contribuindo mais para o fortalecimento das "falsas cooperativas8"

As cooperativas não realizam beneficiamento do café; elas exportam o grão in natura (grão verde). Uma das possíveis causas para que as cooperativas exportem o grão in natura pode ser a falta de capital de giro e de incentivos do governo com o setor. Em pesquisa realizada por Régio Gimenes e Fátima Gimenes no ano de 2006 com 41 cooperativas agropecuárias localizadas no Estado do

8 Também denominadas "cooperativas pragmáticas". "As cooperativas “pragmáticas” são cooperativas organizadas com

o objetivo de terceirizar atividades de empresas e reduzir custos". Lima, J. C. O trabalho autogestionário em cooperativas de produção: o paradigma revisitado. RBCS Vol. 19 nº. 56 outubro/2004.

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Paraná/Brasil, os autores concluíram que a maior parte das cooperativas não foi capaz de financiar suas atividades de capital de giro com seus próprios recursos, caso em que as cooperativas tendem a procurar recursos financeiros de entidades nacionais ou internacionais. Informações obtidas nesta pesquisa mostram que a maioria das cooperativas de San Ignacio trabalha com capital estrangeiro e em alguns casos capitais nacionais privados. Entre os principais motivos para essas cooperativas trabalharem com capitais estrangeiros são os juros mais baixos, quando comparados com os nacionais, aliado a isso está à falta de políticas públicas para essas organizações.

Geralmente os empréstimos estão acompanhados de hipotecas de bens físicos ou comprometimento das futuras safras de café. Outra forma para obter empréstimos dos bancos estrangeiros é por meio de contratos assinados entre as cooperativas e as torrefadoras (multinacionais) que compram o produto. Nesse caso, as torrefadoras multinacionais atuam como fiadores ante os bancos internacionais, o contrato entre as cooperativas e as torrefadoras atua como um mecanismo de gerenciamento de riscos.

Se bem é certo que nos últimos anos os consumidores estão mais conscientes e preocupados não somente com sua saúde, mas também se preocupam com o meio ambiente e com as condições socioeconômicas dos produtores, eles parecem estar mais dispostos a pagar mais caro por produtos sustentáveis, porém, na cadeia global dos cafés especiais, esses nunca conhecerão onde, nem sob quais circunstâncias sociais e ambientais os grãos foram produzidos, ao menos que exista uma maneira de aproximá-los dos agricultores. Contudo, parece quase impossível que isso aconteça em um mercado onde prevalece o poder econômico das grandes multinacionais em detrimento de melhores condições socioeconômicas para os agricultores. Para Niederle e Almeida (2013) a reconexão entre agricultores e consumidores pode apresentar valores específicos, que dificilmente podem ser apropriados pelos atores dominantes nos sistemas convencionais de agricultura.

Até que o consumidor não conheça quem são os produtores e sob quais condições socioeconômicas o café é produzido, talvez seja "ingenuidade" do consumidor chegar a pensar que consumindo um produto do "outro lado do mundo" contendo um "universo" de selos na embalagem, baseados na sustentabilidade, esteja contribuindo realmente para uma vida mais digna dos agricultores. Ao invés disso, o que se faz é possivelmente fortalecer grandes impérios que dominam o mercado do café.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo procurou analisar como o processo de convencionalização interfere na produção e comercialização de café orgânico na província de San Ignacio - Peru. É perceptível que o mercado de cafés especiais gerou mudanças nas estruturas de: organização social, produção,

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comercialização e consumo das famílias camponesas da província de San Ignacio/Peru, destacando-se o cooperativismo como a principal forma de organização que passa a destacando-ser utilizada pelas famílias para inserir-se nos mercados internacionais de cafés especiais. Os cafeicultores tiveram que se adaptar a novas normas de manejo e processamento do café para atingir o padrão de qualidade exigido.

Diante o exposto, pode-se destacar que a convencionalização dos cafés especiais está marcada pela "proliferação de normas e padrões globais". A produção de cafés especiais na província de San Ignacio, segundo os critérios apontados ao longo deste trabalho, poderia ser caracterizada pela produção em volume e monocultivo, caracterizando-se assim como a produção de commodities orgânicas para mercados de nicho nesse sentido, os selos cumprem um papel de diferenciação do produto. Ademais, a distribuição desse produto segue os modelos dos produtos convencionais.

Os agentes que controlam o mercado de cafés especiais se apropriaram de práticas e valores que os agricultores já realizavam muito antes da exigência dos selos de produção orgânica. Ao mesmo tempo, os agricultores estão perdendo soberania e a segurança alimentar. Nesse sentido, Niederle (2014, p. 182) argumenta que a convencionalização seria a “apropriação de valores vinculados à agroecologia pelos atores líderes do sistema agroalimentar”.

A principal forma de comercialização do café é por meio de cooperativas, seguida de venda a intermediários. A exportação do café através das cooperativadas deveria gerar maior autonomia aos agricultores, porém eles são dependentes dos preços internacionais. As cooperativas são usadas simplesmente como uma intermediadora para exportação. Constata-se que a renda dos agricultores provém principalmente comercialização do café, o que gera vulnerabilidade socioeconômica às famílias.

Na busca por uma "melhor qualidade de vida", guiados pela "promessa da diferença" pelo mercado de cafés especiais estes cafeicultores da província de San Ignacio perdem lentamente seus conhecimentos tradicionais e sobretudo sua soberania e segurança alimentar. Portanto, entende-se que a valorização e o resgate desses conhecimentos é fundamental para proporcionar maior autonomia a estes agricultores e suas famílias.

Esta pesquisa abre a possibilidade para realizar futuros estudos utilizando outras metodologias que possibilitem conhecer com maior profundidade a condição atual desses agricultores que exportam café orgânico certificado com selos de sustentabilidade. Do contrário, estaremos reforçando os grandes monopólios que controlam o mercado do café e dos alimentos, sistema que visa o lucro em detrimento de melhores condições socioeconômicas de milhões de agricultores no mundo.

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