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Criminalidade e adaptação : percepções e estratégias dos comerciantes da cidade de Elvas

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(1)

S

SUUMMÁÁRRIIOO

Siglas e Abreviaturas . . . .iii

Índice de figuras, quadros e gráficos. . . iv

Agradecimentos . . . vi

Abstract . . . . . . vii

Resumo . . . . . . .viii

Introdução . . . . . . .ix

I PARTE – Enquadramento Teórico . . . 1

Capítulo 1 – Poder, Estado e Cidadania . . . .3

1.1 Poder e Responsabilidade . . . 3

1.2 Transição para a Modernidade: Uma Nova Dialéctica Indivíduo / Estado. . . 5

1.3 Génese e âmbito do Estado-Providência. . . 10

1.4 Retracção do Estado-Providência. . . .13

1.5 Atomização e Responsabilização: Colisão entre Expectativas Sociais e Acção Governativa. . . .15

1.6 Privatização do Risco e da Segurança . . . .17

1.7 Prevenção Situacional: Nova criminologia para novos paradigmas sócio-políticos . . . .22

1.8 Síntese conclusiva do capítulo 1 – Poder, Estado e Cidadania . . . . . . . .28

Capítulo 2 – Sentimentos de Insegurança . . . 32

2.1 Génese e Substância dos Sentimentos de Insegurança . . . 32

2.2 Incivilidades ou Comportamento Anti-Social . . . .36

2.3 Decadência do Ambiente Urbano . . . 37

2.4 Media e Medo . . . 38

2.5 Síntese conclusiva do capítulo 2 – Sentimentos de Insegurança . . . 41

Capítulo 3 – Risco, Perigo e Reacção . . . 46

3.1 Conceito de Risco e de Perigo . . . .46

3.2 “Estar protegido é estar ameaçado” . . . .48

3.3 Percepção dos Riscos e Vitimação Criminal . . . .49

3.4 Imunidade Subjectiva . . . 53

3.5 Síntese conclusiva do capítulo 3 – Risco, Perigo e Reacção. . . .55

Capítulo 4 – Parâmetros Metodológicos da Investigação Empírica . . . 59

4.1 Modelo de análise: Construção das percepções e estratégias de adaptação ao crime . . . 59

4.2 Processo de escolha de técnicas . . . 64

4.3 Das estatísticas da criminalidade registada . . . .68

4.4 Da análise de conteúdo da imprensa escrita . . . 70

4.5 Do inquérito por questionário . . . 72

Capítulo 5 – Contextualização do Universo de Estudo . . . 76

5.1 Enquadramento geográfico . . . 76

5.2 Enquadramento histórico, funcional e económico . . . 77

(2)

II PARTE – Exposição e Análise de Resultados. . . 87

Capítulo 1 - Crime contra o património registado pela PSP de Elvas . . . 89

Capítulo 2 – Os Discursos da Insegurança e a Criminalidade na Imprensa escrita . . . .96

2.1 Incidência dos discursos da insegurança e da criminalidade no Jornal Linhas de Elvas entre 1994 e 2006 . . 96

2.2 Conteúdos discursivos no Jornal Linhas de Elvas entre 1994 e 2006 . . . 101

Capítulo 3 – Perspectivas dos comerciantes de Elvas: Análise dos resultados da aplicação do inquérito . . . 122

3.1 Caracterização Sócio-Demográfica da amostra . . . 122

3.2 Caracterização da Actividade Comercial de Elvas . . . 125

3.2.1 Localização dos Estabelecimentos Comerciais . . . 125

3.2.2 Ramo da Actividade Comercial . . . .126

3.2.3 Tempo de Actividade . . . 127

3.3 Principais Problemas dos Comerciantes de Elvas . . . .128

3.4 Vitimação e revitimação . . . 132

3.5 Representações sobre o desenvolvimento da criminalidade na última década.. . . .134

3.6 Projecção da probabilidade de vitimação no futuro . . . 139

3.7 Meios de segurança passiva nos estabelecimentos comerciais . . . .140

3.8 Estabelecimentos nunca assaltados que não possuem meios de segurança passiva . . . 142

3.9 Estabelecimentos nunca assaltados que possuem meios de segurança passiva . . . 144

3.10 Estabelecimentos que foram assaltados . . . 147

3.11 Contrato de Seguro . . . . . . . . . 152

3.12 Acção dos comerciantes após terem sido vítimas de assaltos . . . . . . . . . 157

3.13 Relações entre as variáveis sócio-demográficas e as percepções sobre o risco . . . 160

3.14 Definição de Perfis dos Comerciantes de Elvas . . . 166

Conclusões . . . 171

Bibliografia . . . 191 Anexos

(3)

S

SIIGGLLAASSEEAABBRREEVVIIAATTUURRAASS

art. ___ Artigo

CAAS ___ Convenção de Aplicação do Acordo Schengen

CME ___ Câmara Municipal de Elvas

CP ___ Código Penal

CPP ___ Código de Processo Penal

CRP ___ Constituição da República Portuguesa

DN/PSP ___ Direcção Nacional da Polícia de Segurança Pública

GNR ___ Guarda Nacional Republicana

LE ___ Jornal Linhas de Elvas

MP ___ Ministério Público

n. ___ Nota

n.r. ___ Nota de Rodapé

NUT ___ Nomenclatura de Unidade Territorial

op. cit. ___ obra citada

org. ___ organizado por

p. ___ Página

P ___ Pergunta

pp. ___ Páginas

PSP ___ Polícia de Segurança Pública

RE ___ Rádio Elvas

RR-E ___ Rádio Renascença - Elvas

(4)

Í

ÍNNDDIICCEEDDEEFFIIGGUURRAASS,,QQUUAADDRROOSSEEGGRRÁÁFFIICCOOSS

FIGURAS:

Figura n.º 1 – Triângulo das oportunidades ……….27

Figura n.º 2 – Divisão da população em estudo de acordo com o modelo de análise ……….63

Figura n.º 3 – Mapa com a localização da sub-região estatística do Alto Alentejo NUTS III.………76

Figura n.º 4 – Mapa com a localização do Concelho de Elvas.………..………... 76

Figura n.º 5 – Perfil do Comerciante de Elvas ………...170

QUADROS: Quadro n.º 1 – Operacionalização de conceitos ……...………...………...………...…62

Quadro n.º 2 – Dados demográficos do Concelho de Elvas por Freguesia (2005) ……...………...………... 78

Quadro n.º 3 – Quadro comparativo da densidade populacional entre concelhos do Alto Alentejo 1991 – 2002 ………. 85

Quadro n.º 4 – Crimes registados na Secção da PSP de Elvas entre 1998 – 2006 ………..89

Quadro n.º 5 – Crimes contra o património registados na Secção da PSP de Elvas entre 1996 – 2006………. 91

Quadro n.º 6 – Comparação da percentagem de incidência do furto no interior de estabelecimento entre todos os crimes contra o património em Elvas entre 1996 e 2006 ………... 93

Quadro n.º 7 – Notícias de crimes na 1.ª Página do «Linhas de Elvas» entre 1994 – 2006 ………...…97

Quadro n.º 8 – Crimes nas Notícias do «Linhas de Elvas» entre 1994 – 2006 ………..……….…98

Quadro n.º 9 – Crimes nas Crónicas e Sondagens de rua relativas do «Linhas de Elvas» 1994 – 2006 ………..………...100

Quadro n.º 10 – Escalões Etários segundo o Género ………...124

Quadro n.º 11 – Habilitações Literárias ………... 124

Quadro n.º 12 – Habilitações Literárias segundo o género ………... 125

Quadro n.º 13 – Ramo da Actividade Comercial ………..… 127

Quadro n.º 14 – Percepções sobre os maiores problemas do Comércio de Elvas ……….129

Quadro n.º 15 – Percepção dos maiores problemas do comércio de Elvas segundo o género ………. 131

Quadro n.º 16 – Estabelecimento alvo de furto ……….………... 132

Quadro n.º 17 – Zona de maior incidência de assaltos ... 133

Quadro n.º 18 – Quantidade de vezes de que foi alvo de furto segundo o ano ………..………... 133

Quadro n.º 19 – Razões invocadas pelos comerciantes para justificar a subida ou as alterações das características da Criminalidade em Elvas ………... 136

Quadro n.º 20 – Medidas adoptadas com o intuito de reduzir a Criminalidade em Elvas ... 138

Quadro n.º 21 – Meios de Segurança Passiva ... 141

Quadro n.º 22 – Justificação dada pelos comerciantes que não foram vítimas de furto nos últimos 10 anos, para não ter meios de segurança passiva... 143

Quadro n.º 23 – Razões que pesaram na decisão de adquirirem meios de segurança passiva ... 145

Quadro n.º 24 – Percepção dos comerciantes que nunca foram alvo de assalto sobre a situação da criminalidade em Elvas e os métodos com vista à sua redução ...146

Quadro n.º 25 – Meios de segurança passiva e o momento da sua aquisição (estabelecimentos que foram alvo de assalto) ... 149

Quadro n.º 26 – Razões que pesaram na aquisição de meios de segurança passiva (estabelecimentos que foram alvo de assalto) ……… 150

Quadro n.º 27 – Meios de segurança passiva e projecção da possibilidade de virem a ser futuramente assaltados (estabelecimentos que foram alvo de assalto) ……….………...… 151

Quadro n.º 28 – Comparação da incidência de furto entre comerciantes com e sem seguro ………... 152

Quadro n.º 29 – Seguro contra furtos e meios de segurança passiva ………..…. 153

Quadro n.º 30 – Situação dos estabelecimentos possuidores de seguro, já assaltados, quanto à probabilidade de virem a ser novamente assaltados ……….. 155

Quadro nº 31 – Situação da Criminalidade em Elvas e Métodos com vista à sua redução (inquiridos possuidores de seguro, já assaltados) ………...… 156

(5)

Quadro n.º 32 – Conduta após ocorrência de assalto ……….……….157

Quadro n.º 33 – Razões que pesaram na tomada de posição sempre que o estabelecimento foi alvo de furto ………..….... 159

Quadro n.º 34 – Factores de Redução da Criminalidade e Características Escolares/Biográficas ………...….162

Quadro n.º 35 – Posição perante o furto e características sócio-demográficas ………... 165

Quadro n.º 36 – Discriminação das características das personagens oponentes da primeira dimensão de análise ………..….. 168

Quadro n.º 37 – Discriminação das características das personagens oponentes da segunda dimensão de análise………... 168

GRÁFICOS: Gráfico n.º 1 – Crimes registados pela PSP de Elvas entre 1998 e 2006 ...90

Gráfico n.º 2 – Crimes contra o património registados pela PSP de Elvas entre 1996 e 2006 ...92

Gráfico n.º 3 – Furtos registados em edifícios comerciais ou industriais com arrombamento, escalamento ou chave falsa em Elvas 1996 – 2006...93

Gráfico n.º 4 – Evolução do crime contra o património e dos furtos no interior de estabelecimento em Elvas no decénio 1996-2006...94

Gráfico n.º 5 – Percentagens do crime contra o património registado pela PSP de Elvas entre 1996 e 2006 ... 95

Gráfico n.º 6 – Notícias de crimes na 1.ª Página do «Linhas de Elvas» entre 1994 – 2006 ………..…. . . 97

Gráfico n.º 7 – Crimes nas Notícias do «Linhas de Elvas» entre 1994 – 2006 ……….…….… 99

Gráfico n.º 8 – Crimes nas Crónicas e Sondagens de rua relativas do «Linhas de Elvas» entre 1994 – 2006 ………...…...100

Gráfico n.º 9 – Género dos Inquiridos ………...…....122

Gráfico n.º 10 – Idade dos Inquiridos …...……….…....123

Gráfico n.º 11 – Zona do Estabelecimento Comercial ………..….…126

Gráfico n.º 12 – Tempo da Actividade Comercial ………..……….. 128

Gráfico n.º 13 – Percepção sobre o desenvolvimento da criminalidade de Elvas na última década ... 135

Gráfico n.º 14 – Probabilidade de vitimação de acordo com as potenciais vítimas ... 140

(6)

A

AGGRRAADDEECCIIMMEENNTTOOSS

Este estudo nunca teria saído do plano das intenções sem o suporte de um grande número de pessoas. Contrariando Humberto Eco, expresso um profundo reconhecimento à orientadora deste trabalho, Professora Doutora Noémia Lopes, e co-orientadora, Professora Doutora Purificação Horta, pessoas a quem estou profundamente grato por terem acreditado na possibilidade de concretização deste projecto.

Ao senhor Rondão Almeida, Presidente da Câmara Municipal de Elvas, por ter tomado a decisão que viabilizou a investigação, disponibilizando recursos humanos e materiais com vista à aplicação do inquérito.

Ao semanário “Linhas de Elvas” e à “Rádio Elvas”, Máquinas do Tempo com rosto humano, cuja abertura e disponibilidade permitiu o acesso ao passado da cidade.

Ao Regimento de Infantaria n.º 8, nas pessoas do seu Comandante, Coronel de Infantaria Rendeiro, 2.º Comandante, Tenente-Coronel Iglésias, e Sargento-Ajudante Rodrigues, pelo esclarecimento sobre o papel das Forças Armadas na edificação e sustentação social de Elvas.

Ao Professor Doutor Arlindo Sena, professor de História, investigador e historiador de Elvas, pelos conselhos e observações que melhoraram a caracterização do passado histórico da cidade.

Aos sociólogos, Dr. Alberto Peixoto (impulso inicial), Dr.ª Rita Jesus (aplicação do inquérito), Dr.ª Sandra Reis (análise estatística), pelo enorme trabalho que desempenharam mas, principalmente, pela amizade e dedicação a uma “causa” que não era sua.

A Teresa Bravo, minha companheira, pronta a julgar com equilíbrio e isenção “como, aliás, é seu apanágio!”.

(7)

A

ABBSSTTRRAACCTT

The public controversy over the issues of insecurity in the community of Elvas, triggered by a so called ‘wave of burglary’ towards shopping facilities and the perception that in the past an identical social movement had occurred, originated the interest in inquiring if there is a repetitive and circular dynamic between moments of public anxiety associated to a broad feeling of unreliability and moments of transference, where the citizens occupy themselves with other everyday-life issues.

Existing, such dynamics may represent ambivalence between the processes of risk analysis and the way individuals and community in general, face the distribution of responsibilities in crime prevention. Thus, one may question the reasoning sustaining the conduct of citizens, individual and collectively considered when they don’t correspond to public alarm with self protective measures.

It interests to select the specific items composing the social context of Elvas, which may contribute for the strategic and tactical choices towards crime trends (real or sensed), once it seems that citizens move through each adversity without becoming more careful and pro-active.

Since the most recent and publicly acknowledged criminal actions have been targeting the local commerce, it is our objective to focus the attitude of the shop owners, may they have been victimised or not, as to disclose how they’ve adapted to the development of the crime phenomena and, furthermore, to find which methods they have chosen to protect themselves.

Key Words:  Crime  Individual  State  Risk assessment  Self-protection  Risk Privatisation

(8)

R

REESSUUMMOO

A controvérsia pública em matéria de insegurança no seio da comunidade de Elvas, provocada por aquilo que a comunicação social local, designou “onda de assaltos” em estabelecimentos comerciais e a percepção de que, no passado, teria ocorrido um movimento social idêntico, despertou o interesse em averiguar se existe uma dinâmica repetitiva e circular entre momentos de ansiedade pública associada a um grande sentimentos de insegurança e momentos de alheamento, em que os cidadãos se ocupam com outras questões da sua vida quotidiana.

A existir, tal dinâmica poderá representar uma ambivalência entre os processos de análise do risco e o modo como os indivíduos e a comunidade em geral, encaram a distribuição de responsabilidades (estatais e privadas) no que diz respeito à prevenção do crime. Assim, questiona-se que razões levam os cidadãos, individual e colectivamente considerados, a não corresponderem ao alarme público relativo aos riscos de vitimação criminal, com a implementação de medidas de autoprotecção.

Interessa apurar o que existe de específico, no contexto urbano e social da cidade de Elvas, que possa contribuir para a construção dos parâmetros de eleição de estratégias e tácticas, para fazer face às tendências da criminalidade (reais e percepcionadas), uma vez que, à evidencia da observação empírica, parece resultar que os cidadãos ultrapassam cada adversidade sem, no entanto, se tornarem mais cuidadosos e pró-activos.

Uma vez que os crimes contra o património mais recentes e de maior impacto público tiveram como alvo o comércio local, é nosso objectivo concentrarmo-nos na atitude dos proprietários das lojas, independentemente de terem sido ou não vítimas de tais actos, tentando revelar o modo como se adaptaram ao desenvolvimento dos fenómenos criminais e ainda que métodos adoptaram para sua protecção.

Palavras-chave:  Crime  Indivíduo  Estado  Avaliação do risco  Autoprotecção  Privatização do Risco

(9)

I

INNTTRROODDUUÇÇÃÃOO

Em Março de 2005, a comunicação social da cidade de Elvas, iniciou uma série de reportagens que abordaram as temáticas da insegurança e da criminalidade. Noticiou-se o aumento dos índices da criminalidade registada no interior de Portugal1, por contraponto à diminuição verificada nas regiões do litoral, mais densamente povoado. Particularizou-se o caso dos furtos em Elvas visando, em especial, os estabelecimentos comerciais da cidade.

A visibilidade deste fenómeno ocorreu por iniciativa das próprias vítimas, movimentando vários quadrantes da comunidade local e suscitando consequentemente, o alarme social e a procura de responsabilidades. O debate público então gerado, cruzou uma série de perspectivas; um grande número de hipóteses foi levantado na tentativa de explicar o fenómeno, as quais variaram da mera ineficácia policial, à inadequação legislativa ou indiferença das instâncias judiciais; da abertura de fronteiras dentro do espaço Schengen, à melhoria das vias de comunicação.

Inevitavelmente, foi-se generalizando um discurso sobre a insegurança, o qual ultrapassou a dimensão restrita dos comerciantes já vitimados, estendendo-se a toda a população elvense.

O debate sobre a insegurança na cidade de Elvas, levou-nos a questionar se no passado histórico recente da cidade teriam ocorrido momentos idênticos de discussão e instabilidade, provocados pelo alarme social típico emergente do sentimento de insegurança. A resposta a esta indagação resultou afirmativa.

A pesquisa de uma década de publicações jornalísticas elvenses, demonstrou que num passado recente, existiram idênticos períodos de inquietação social. Instituições e cidadãos organizados, manifestaram publicamente a sua indignação em relação à insegurança que

(10)

sentiam, exigindo a tomada de medidas urgentes do poder central para por cobro à criminalidade.

No dia 20 de Maio de 1994, uma estação televisiva de cobertura nacional, havia deslocado uma equipa à cidade de Elvas com o fim de noticiar e debater com representantes locais e população, o sentimento de insegurança instalado por via da ocorrência frequente de crimes contra o património.

Foram variados os reflexos sociais e políticos deste facto, vindo a merecer algumas críticas na comunicação social local, por referenciar a cidade pela negativa. Curiosamente, após estas reacções, regressou-se a uma aparente tranquilidade social, enquanto o assunto era novamente esquecido.

A suspeita da existência de uma dinâmica circular entre indignação pública e

esquecimento foi o factor que, inicialmente, nos despertou o interesse para este tema.

Porque razão não se sucede ao alarme público, a adopção de medidas de autoprotecção?

De forma linear e generalista, poder-se-á pensar que o Homem, em cada momento da sua vida, determina que riscos corre e age em imediata conformidade com essa avaliação. Efectivamente, é relativamente seguro afirmar que os conhecimentos que o Homem tem do meio, a observação das circunstâncias que lhe são apresentadas, a sua cultura e a análise do conjunto das suas potencialidades e vulnerabilidades, são elementos passíveis de ser utilizados para seleccionar e calcular o nível aceitável de risco que se dispõe a correr, evitando todo aquele que considerar excessivo (Douglas, M. et Wildavsky, A.: 1982; Douglas, M.: 1985). O ser humano aprende não só com as suas experiências pessoais mas também com a observação que faz das experiências alheias. A recolha e processamento de

1

Marcelino, V., “Crime aumenta no interior”, Expresso in «Linhas de Elvas», n.º 2806, ano LV, 24 Mar. 2005, pp. 1 e 9

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informação relativa ao seu meio e aos seus pares, permite-lhe reorganizar-se e adaptar-se a novas realidades.

Todavia, nem sempre o resultado aparenta uma contemplação de todos os aspectos em jogo. Se assim fosse, presumir-se-ia, por exemplo, que o alarme social resultante da notícia da ocorrência de determinado tipo de delito se constituísse, automaticamente, mais um parâmetro da avaliação pessoal do risco, funcionando como estímulo ao surgimento de uma reacção preventiva naqueles que são os potenciais alvos ou vítimas (Innes, 2004).

Acredita-se que a actual tendência da criminalidade na cidade de Elvas, sobretudo daquela dirigida contra o património é, de facto, de desenvolvimento.

Emprega-se o termo desenvolvimento no sentido em que não se percepciona apenas um crescimento da criminalidade em quantidade (que em tudo parece acompanhar os índices nacionais), mas também uma diversificação, quer do tipo de delitos praticados, quer dos métodos utilizados, quer ainda, dos seus agentes.

Os sinais desse desenvolvimento têm vindo a manifestar-se ao longo de vários anos, através de acções criminosas de tipologia e intensidade variadas, registadas pela Polícia, publicitadas pela comunicação social e recebidas com indignação pela generalidade da população.

Todavia, os seus ecos parecem deixar de ser escutados rapidamente, regressando tudo à normalidade, muito embora, nem sempre acompanhando a realidade factual da criminalidade registada.

Se a população da cidade de Elvas, no passado recente, sentiu e demonstrou intolerância relativamente à criminalidade e insegurança, que forma encontrou para se proteger? Como se adaptou à transformação do fenómeno criminal na sua comunidade?

Dessas indagações nascem os objectivos gerais do presente trabalho, o qual, focando a sua atenção nos comerciantes de Elvas, tentará apurar as suas percepções sobre o risco de

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vitimação, a sua reacção em face dos delitos dos quais, potencial ou efectivamente, são vítimas e o lugar que escolhem ocupar na relação com o Estado e relativamente à prevenção criminal.

Assim, a investigação desenvolvida tem como enfoque central as percepções e estratégias dos comerciantes da cidade de Elvas, em face do referido desenvolvimento dos crimes contra o património, especialmente aqueles que os vitimam. Para o efeito, para além de ter sido intentado um enquadramento destes actores nos seus planos geográficos, sociais, económicos e criminais, que pretendeu revelar de forma panorâmica as suas circunstâncias particulares, recolheu-se junto dos mesmos, testemunhos que permitissem revelar pistas sobre as suas crenças, convicções, expectativas e condutas perante o risco de vitimação criminal ou a concretização dessa vitimação.

Os capítulos seguintes pretendem abordar perspectivas e arquétipos da história, da filosofia, da política, da sociologia e da criminologia que fundamentarão a análise e exposição do trabalho.

O desenvolvimento filosófico, político e económico do período da antiguidade, ou mais propriamente de um momento histórico que designaremos por pré-modernidade, até aos dias de hoje, condicionou a forma de estar e de pensar de cada indivíduo e comunidade. Alegaremos que as mudanças nos sistemas de poder, por via do pensamento filosófico e da alteração dos circunstancialismos económicos (que criaram as noções de Estado e Cidadão), redistribuíram responsabilidades e direitos.

A centralização do poder, a assunção, por parte dos detentores da acção governativa, da responsabilidade de fornecer bens propiciadores de estabilidade e desenvolvimento individual e a construção do “Império da Lei”, tiveram um duplo desenlace. Se por um lado, se criaram condições para um desenvolvimento humano mais sustentado e seguro (quer ao

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nível da segurança civil, quer da segurança social), não é despiciendo afirmar que, por outro, se fragilizaram algumas das competências individuais e sociais dos cidadãos.

Esse aspecto particular é uma característica das sociedades modernas ocidentais que importará reter e que influencia as percepções e as estratégias dos cidadãos em face do risco de vitimação criminal.

Inevitavelmente, o trabalho agora oferecido aos olhos críticos do leitor, refere-se insistentemente à Sociedade, sendo que esse termo aparentemente tão concreto e óbvio, é utilizado para definir várias coisas diferentes. Foi a leitura de textos de Giddens e de Elias que nos causou o dilema de tentar definir ou não o que, para os efeitos deste trabalho, se entende ser a Sociedade.

Porém, pareceu-nos que essa tarefa poderia vir a consumir todas as outras.

Referimo-nos à Sociedade em momentos diferentes do presente trabalho pretendendo significar coisas diferentes que serão facilmente inteligíveis pela contextualização oferecida pelo texto onde surgem. Dependendo do momento ou da ideia que estiver a ser desenvolvida, Sociedade poderá significar toda a comunidade humana mundial ou o conjunto de todos os Homens, as agregações humanas ocidentais regidas pelas “pautas da modernidade” (Recassens, 2003) ou a comunidade local objecto de estudo.

Todavia, entenda-se genericamente que, por sociedade, se pretende significar um sistema humano complexo que ultrapassa a noção de mera aglomeração de pessoas. A unidade mais básica desse sistema é o indivíduo, entendido como ser autónomo na sua acção, mas condicionado ao desempenho de vários papéis culturalmente construídos, que correspondem às múltiplas posições que ocupa nos diferentes contextos funcionais em que se insere.

Assim, ao analisar qualquer fenómeno social, teremos de atender aos diversos aspectos que contextualizam os seus actores e as suas circunstâncias, fazendo deles unidades de

(14)

análise com especificidades, características e condicionamentos próprios, que os tornam suficientemente homogéneos para serem identificados como um grupo.

Foi o que se pretendeu fazer no trabalho que agora se apresenta. O grupo seleccionado foi o dos lojistas do comércio tradicional de Elvas, unidos pela sua actividade, pelo local, pelas condições sócio-económicas e por um aparente risco de vitimação criminal comum.

A abordagem metodológica caracteriza-se por ser marcadamente sociológica, privilegiando-se os dados estatísticos já existentes, a análise de conteúdo da imprensa local e, especialmente, um inquérito por questionário, tentando-se uma articulação entre cada um dos instrumentos seleccionados.

Assim, para contextualizar a população, fez-se recurso a informações sócio-demográficas já disponíveis,2 bem como à leitura dos periódicos locais e á análise da estatística da criminalidade registada pela PSP de Elvas.

Como técnicas destinadas a captar indícios relativos às expressões colectivas e individuais da população em estudo, optou-se por cruzar as leituras dos dados da criminalidade registada, com os resultantes de uma análise de conteúdo da imprensa local escrita e da aplicação de um inquérito por questionário aos comerciantes da cidade.

O trabalho desenvolvido sobre estas fontes teve por intenção, ir ao encontro do objecto de análise anteriormente mencionado: revelar pistas que permitissem perceber as percepções e estratégias dos comerciantes de Elvas relativamente à criminalidade e à posição que reservam para si próprios na prevenção criminal e na sua relação com o Estado.

O presente trabalho foi estruturado em duas grandes partes subdivididas em capítulos. A primeira, debruça-se inicialmente sobre os aspectos históricos, filosóficos, políticos e económicos, relacionados com o Poder, que contribuíram para a construção de

2

Diagnóstico Social do Concelho de Elvas 2005, (2006) da Câmara Municipal de Elvas; Census 2001 e Anuários estatísticos da Região do Alentejo 2001 e 2003 do INE.

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expectativas colectivas e individuais relativamente às instituições, que o representam funcionalmente.

A referência a estes aspectos, pretendeu fundamentar uma perspectiva sobre as origens das formas de pensar e viver as / nas actuais organizações sociais, políticas, económicas e administrativas ocidentais.3

Efectuou-se uma breve abordagem a conceitos essenciais como o sendo o Sentimento

de Insegurança, Risco e Perigo, Reacção, Adaptação, Responsabilidade e Autoprotecção,

integrando cada conceito de forma crítica e encadeando-o com o seguinte, quer expondo as definições encontradas para este trabalho, quer fazendo referência a algumas teorias que suportam o raciocínio que baseia a hipótese geral.

Para além da referência e análise das flutuações da criminalidade registada, importou fazer-se uma caracterização da cidade de Elvas no seu plano histórico, geográfico, demográfico e económico, lembrando as suas particularidades funcionais e fronteiriças, bem como a proximidade e influência da cidade espanhola de Badajoz.

Este processo que se pretendeu de cariz heurístico, destinou-se a levar o leitor a inteligir e melhor enquadrar-se com os contextos da população em estudo, salientando as especificidades do lugar e da população alvo, bem como as forças e constrangimentos que influenciam as suas percepções e, bem assim, os resultados da pesquisa, os quais se encontram expostos na segunda parte.

3

O entendimento que hodiernamente se tem do Estado, como responsável prima facie pela regulação e controlo dos comportamentos desviantes, é uma construção relativamente recente, mas de grande impacto sobre o entendimento que cada indivíduo tem do seu próprio quadro de deveres, nomeadamente, aqueles que concernem à sua segurança – a sua autoprotecção.

Referências

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