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AUTONOMIA, CONTROLE E APOIO: UMA ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE PRÁTICAS DE CONSUMO DE ALIMENTOS E OBESIDADE SOB A LENTE DA TEORIA DA PRÁTICA

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Academic year: 2021

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Revista Gestão e Planejamento, Salvador, v. 21, p. 586-602, jan./dez. 2020 DOI: 10.21714/2178-8030gep.v.21.6688

AUTONOMY, CONTROL AND SUPPORT: AN ANALYSIS OF THE RELATIONSHIP

BETWEEN FOOD CONSUMPTION PRACTICES AND OBESITY UNDER THE LENS OF

PRACTICE THEORY

AUTONOMÍA, CONTROL Y SOPORTE: UN ANÁLISIS DE LA RELACIÓN ENTRE LAS PRÁCTICAS DE CONSUMO DE ALIMENTOS Y LA OBESIDAD BAJO LA LENTE DE LA TEORÍA

DE LA PRÁCTICA

Marluce Dantas de Freitas Lodi, Dra. Universidade Salvador/Brazil

marluce.lodi@unifacs.br

João Felipe Rammelt Sauerbronn, Dr. Universidade do Grande Rio/Brazil

joao.sauerbronn@gmail.com

Mónica Truninger, BEL

Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa/Brazil

monica.truninger@ics.ulisboa.pt

RESUMO

O presente trabalho tem como objetivo explorar e compreender como as práticas de consumo de alimentos estão relacionadas à obesidade. Como suporte teórico-epistemológico optamos pela Teoria da Prática e seus componentes - Entendimentos, Procedimentos, Engajamentos em Estruturas Teleo-afetivas e Materialidades proposto por Warde (2005), Gram-Hansen (2011) e Truninger (2011). Nos procedimentos metodológicos, o corpus de dados foi construído a partir de notas de campo, observação participante e entrevistas em profundidade junto a três grupos de apoio a pessoas com transtornos alimentares. Esses dados foram transcritos e submetidos a uma análise de conteúdo (BARDIN, 2011). Foi possível identificar que a relação entre as práticas de consumo de alimentos e a obesidade se apresenta nos corpos dos indivíduos e têm repercussões emocionais frente ao controle social. Por isso, os indivíduos tentam reconfigurar suas práticas de consumo e, em alguns casos, recorrem a grupos de apoio para que consigam refletir a respeito dessas práticas e as consequências sobre elas.

Palavras-chave: Consumo de Alimentos; Obesidade; Teoria da Prática. ABSTRACT

This work aims to explore and understand how food consumption practices are related to obesity. As a theoretical-epistemological support, we chose the Theory of Practice and its components - Understandings, Procedures, Engagements in Tele-affective Structures, and Materialities proposed by Warde (2005), Gram-Hansen (2011) and Truninger (2011). In the methodological procedures, the data corpus was built from field notes, participant observation and in-depth interviews with three support groups for people with eating disorders. These data were transcribed and submitted to a content analysis. It was possible to identify that the relationship between food consumption practices and obesity is present in the bodies of individuals and has emotional repercussions in the face of social control. Therefore, individuals try to reconfigure their consumption practices and, in some cases, resort to support groups so that they can reflect on these practices and the consequences on them.

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RESUMEN

El presente trabajo tiene como objetivo explorar y comprender cómo las prácticas de consumo de alimentos están relacionadas con la obesidad. Como soporte teórico-epistemológico, elegimos la Teoría de la práctica y sus componentes: Comprensiones, procedimientos, compromisos en estructuras y materialidades teleafectivas propuestas por Warde (2005), Gram-Hansen (2011) y Truninger (2011). En los procedimientos metodológicos, el corpus de datos se construyó a partir de notas de campo, observación participante y entrevistas en profundidad con tres grupos de apoyo para personas con trastornos alimentarios. Estos datos fueron transcritos y sometidos a un análisis de contenido. Fue posible identificar que la relación entre las prácticas de consumo de alimentos y la obesidad está presente en los cuerpos de las personas y tiene repercusiones emocionales frente al control social. Por esta razón, las personas intentan reconfigurar sus prácticas de consumo y, en algunos casos, recurren a grupos de apoyo para que puedan reflexionar sobre estas prácticas y las consecuencias sobre ellas.

Palabras clave: Consumo de alimentos; Obesidad; Teoría de la práctica.

1 INTRODUÇÃO

O excesso de peso e a obesidade se transformaram em uma epidemia global que atinge mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo (WHO, 2004). No Brasil, em torno de 54% da população brasileira está acima do peso (CASTILHO; MACIEL, 2018), o que representa uma grande ameaça para a saúde pública. Segundo Martins (2018), o sobrepeso está associado ao aumento do risco de a pessoa desenvolver diabetes, câncer e cardiopatias, doenças que estão listadas entre as principais causas de morte no país. As consequências socioeconômicas da obesidade são amplas e envolvem a diminuição da qualidade de vida, perda de produtividade e aposentadoria precoce (BAHIA; ARAÚJO, 2014). Em termos estritamente financeiros, Nilson e outros (2019) estimam que o custo de tratamento de doenças associadas à obesidade no Sistema Único de Saúde (SUS) tenham alcançado R$1,42 bilhão no ano de 2018.

A redução de atividades físicas e os esforços de marketing da indústria alimentícia, os quais envolvem o desenvolvimento de produtos ultraprocessados e a propaganda maciça desses produtos, são dois fatores que afetam o consumo de alimentos e contribuem para a obesidade (MCALLISTER et al., 2009; KEMPER; BALLANTINE, 2017). Monteiro e Louzada (2015) apontam que está em curso uma mudança no padrão alimentar da população e que o consumo dos alimentos in natura ou preparados em casa está sendo substituído pelo consumo dos alimentos ultraprocessados, com altos níveis de sódio, açúcar e gorduras saturadas. Como apontado por Martins (2018) a ingestão desse tipo de alimento ocorre cada vez mais precocemente e está relacionada ao aumento de peso corporal. Essas características problemáticas da oferta, do consumo ou dos padrões de preparação dos alimentos estão relacionadas a renda, desinformação, ou hábitos alimentares inadequados, os quais possibilitam a existência de problemas que afetam a saúde da população (PNAN, 2003).

De fato, práticas de consumo de alimentos geram consequências muitas vezes ignoradas pelos agentes envolvidos (consumidores, produtores, formuladores de políticas públicas) e pesquisadores de consumo têm se dedicado a oferecer contribuições a respeito do consumo de alimentos (WARDE, 1997; HAUSMAN, 2005; FONSECA, 2011; TRUNINGER, 2013; YAMAGATA; SAUERBRONN, 2019) e as relações entre o corpo e o consumo de alimentos (THOMPSON; HIRSCHMAN, 1995; KOCH; ORAZI, 2017; KEMPER; BALLANTINE, 2017; SAUERBRONN, TEIXEIRA; LODI, 2019).

Frente a essa problemática, o presente trabalho tem como objetivo explorar e compreender como as práticas de consumo de alimentos estão relacionadas à obesidade. Ao buscarmos entender mais profundamente as características das práticas alimentares relacionadas à obesidade, optamos pelo suporte teórico-epistemológico

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da Teoria da Prática e seus componentes - Entendimentos, Procedimentos, Engajamentos em Estruturas Teleo-afetivas e Materialidades - como proposto por Warde (2005), Gram-Hansen (2011) e Truninger (2011). A partir dessa perspectiva, o consumo passa a ser entendido não apenas como um ato de troca, mas como um processo que envolve uma aproximação a um produto (bem ou serviço) e implica em algum nível de controle sobre esse produto e, portanto, a possibilidade de modificação, interpretação ou ressignificação do mesmo.

Do ponto de vista dos procedimentos metodológicos, o corpus de dados foi construído a partir de notas de campo coletadas ao longo de doze meses em sessões de observação participante junto a três grupos de apoio a pessoas com transtornos alimentares (compulsão alimentar, bulimia nervosa, anorexia nervosa e transtorno da compulsão alimentar periódica) e entrevistas em profundidade junto a vinte e quatro membros desses grupos. Esses dados foram transcritos e a análise de conteúdo tradicional (BARDIN, 2011) foi baseada no quadro teórico-analítico desenvolvido a partir das propostas de Warde (2005), Gram-Hansen (2011) e Truninger (2011). Dessa forma, foi possível explorarmos mais profundamente as relações entre as práticas de consumo de alimentos dos indivíduos, seus corpos e a obesidade. Essa exploração abriu espaço para que discutíssemos aspectos relacionados às formas como indivíduos percebem e entendem o consumo de alimentos e recorrem aos grupos de apoio como forma de reflexão a respeito da obesidade e reconfiguração das práticas alimentares.

O trabalho está estruturado da seguinte maneira: seguindo a seção de introdução, está a seção que aborda questões associadas ao corpo, à obesidade e o consumo de alimentos, a qual oferece uma visada crítica a respeito do entendimento do corpo na sociedade de consumo. A terceira seção apresenta os pressupostos teórico-epistemológicos da Teoria da Prática que define a forma de olhar o objeto de pesquisa e nos oferece um quadro teórico-analítico baseado em seus componentes. A quarta seção detalha os procedimentos metodológicos e é seguida da análise dos dados que apresenta uma tipologia de práticas de consumo de alimentos associadas à obesidade. A seção de considerações finais fecha esse artigo.

2 CONSUMO DE ALIMENTOS, OBESIDADE E CORPO

O consumo de alimentos constitui uma das atividades mais importantes do ser humano e envolve aspectos econômicos, sociais, psicológicos e culturais, sendo objeto de estudos multidisciplinares (SAUERBRONN; TEIXEIRA; LODI, 2019; YAMAGATA; SAUERBRONN, 2019). Pesquisadores do campo dos estudos de consumo vêm investigando o consumo de alimentos de forma bastante esparsa desde os anos 1960 (ALLISON; UHL, 1964; SAEGERT; YOUNG, 1982; STEEKAMP, 1993), mas o interesse pelo tema ganhou mais fôlego nos últimos dez anos (YAMAGATA; SAUERBRONN, 2019). Dessa forma, pesquisadores vêm desenvolvendo estudos a respeito dos significados de consumo de alimentos e suas construções discursivas com o intuito de se entender mais profundamente as características desse tipo de consumo.

Para Sceats (2000), as práticas alimentares são altamente específicas e codificadas em apetite, paladar, rituais e significados, através dos quais as pessoas se comunicam e são categorizadas dentro de determinados contextos culturais. Ainda de acordo com Sceats (2000), vivemos em um estado de incerteza sobre o quanto o ‘eu’ é influenciado na medida em que as pessoas são definidas por aquilo que comem ou são afetados por quem fornece a comida. A alimentação é uma necessidade fisiológica básica, entretanto, o funcionamento psíquico, o contexto sociocultural, a relação que se estabelece com os alimentos e a forma de se alimentar modulam o

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comportamento alimentar do indivíduo, salientando suas preferências, hábitos e organização das refeições (OLIVEIRA et al., 2010).

Mudanças na alimentação têm sido percebidas nos últimos anos e nota-se o aumento da participação de alimentos ultraprocessados nas dietas brasileiras, principalmente dos mais jovens (ENES; CAMARGO; JUSTINO, 2019). O abandono da alimentação tradicional está relacionado a uma reformatação do consumo de alimentos, de forma que os consumidores passam a ter mais acesso a alimentos ultraprocessados e menos tempo para transformar alimentos frescos em pratos a serem compartilhados e ingeridos (MONTEIRO; LOUZADA, 2015; KEMPER; BALLANTINE, 2017). As recentes mudanças nas práticas de consumo de alimentos estão relacionadas ao aumento da obesidade na população (KEMPER; BALLANTINE, 2017; MARTINS, 2018; ENES; CAMARGO; JUSTINO, 2019).

Por se tratar de uma doença multifatorial, a obesidade se constitui um tema discutido em diversas áreas do conhecimento, apresentando-se como um grande problema alimentar da população mundial (MCALLISTER et al., 2009). Contemporaneamente, a obesidade é entendida pelo indivíduo não apenas como uma doença, mas também como fator de risco de punição social que atinge o sujeito que não apresenta corpo considerado adequado em termos estéticos ou de desempenho (THOMPSON; HIRSCHMAN, 1995; SAUERBRONN; TONINI; LODI, 2011). Dessa forma, indivíduos obesos ou aqueles com sobrepeso vivenciam momentos de fracasso, culpa e insatisfação consigo. O fato de estarem acima do peso, mesmo que em pequena medida, pode causar desconforto físico e emocional em pessoas que vivem em uma sociedade que exige do indivíduo um corpo magro e esbelto e ao mesmo tempo forte para o trabalho, uma vez que a transformação do corpo envolve investimentos e sacrifícios (TONINI; SAUERBRONN, 2013).

Thompson e Hirshman (1995) abordam a apresentação do corpo na sociedade de consumo e apontam para uma ideologia de autocontrole, baseado em processos sociais de normalização e problematização do corpo e na operação de um olhar social disciplinador. O padrão de beleza reproduzido pela mídia é apresentado como fonte de prazer, felicidade e sucesso resultantes da capacidade do indivíduo de se controlar para se encaixar as expectativas dos outros (TONINI; SAUERBRONN, 2013). Uma vez que a maioria das pessoas não se enquadra nesse padrão, pode surgir uma percepção distorcida da própria imagem corporal. Isso pode ocasionar insatisfação, sentimento de culpa e a busca por soluções drásticas que envolvem frustrações e sofrimento. As manifestações sistemáticas desses temas são ilustradas em uma variedade de experiências do consumidor e nas percepções centradas no corpo (THOMPSON; HIRSCHMAN, 1995).

Os indivíduos observam seus corpos, criticam suas aparências e suas formas e decidem se engajar em atividades físicas, cirurgias e dietas restritivas, a fim de que seus corpos se transformem e passem a apresentar um formato mais desejado, de acordo com os padrões estabelecidos socialmente (THOMPSON; HIRSCHMAN, 1995; TONINI; SAUERBRONN, 2013). Entretanto, estes padrões definidos como ideais não respeitam os diversos biótipos existentes e induzem os indivíduos a se sentirem em desacordo com os mesmos e a desejarem permanentemente algum tipo de transformação. A pressão cultural para emagrecer e entrar em forma é um elemento fundamental da etiologia dos transtornos alimentares, que interage com fatores biológicos, psicológicos e familiares tornando as pessoas cada vez mais vulneráveis as ofertas do mercado (MORGAN; VECCHIATTI; NEGRÃO, 2002). O mercado coloca à disposição dos consumidores desejosos por um corpo mais bem enquadrado às normas uma infinidade de produtos e serviços (THOMPSON; HIRSCHMAN, 1995; TONINI; SAUERBRONN, 2013).

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3 TEORIA DA PRÁTICA

A proposta teórico-epistemológica da Teoria da Prática (TP) surgiu como resultado dos esforços para dissolver o dualismo entre a perspectiva estruturalista e a capacidade de agência dos indivíduos (HARGREAVES, 2011; RØPKE, 2009). Dessa forma, a TP emerge a fim de colocar o foco das ciências sociais nas interações entre indivíduos e nas estruturas sociais (HARGREAVES, 2008) e se configura como um tipo de teoria social apresentada como uma alternativa conceitual para outras formas de teoria social e cultural.

De acordo com Reckwitz (2002), a prática, no sentido de uma teoria de práticas sociais, é um tipo de comportamento rotineiro que consiste em vários elementos, interligados entre si, formas de atividades corporais, formas de atividades mentais, coisas e sua utilização, um conhecimento acumulado e inteligível, know-how, estados de emoção e conhecimento motivacional. Assim, as formas de consumir, de trabalhar, de cozinhar, de cuidar de si mesmo ou dos outros, dependem da existência e interconexão específica de seus elementos constitutivos e não pode ser reduzida a qualquer um desses elementos (WARDE, 2017). Quando Reckwitz (2002) descreve a vida social relacionada às práticas, ele inclui práticas de negociação, práticas de culinária, práticas médicas, práticas comerciais, práticas educacionais e assim por diante. Ou seja, podemos incluir as práticas de consumo como um fenômeno social, mas seu desempenho pode depender de outras práticas sociais.

A ênfase em utilizar a TP em estudos de consumo foi formulada por Schatzki (1996) e desenvolvida e discutida por Reckwitz (2002) e ambos acentuam o aspecto coletivo de práticas. Dessa forma, ambos apresentam como inerente a ideia de que grande parte dos comportamentos deriva do hábito, da rotina, do conhecimento tácito ou da tradição e não necessariamente do livre arbítrio consciente nem de julgamentos ou classificações sociais. No contexto da TP, o consumo se dá dentro e em função de práticas, de forma que estas requerem o consumo de determinados produtos e serviços.

De acordo com Warde (2017), sob a perspectiva da TP, o consumo é definido como um processo através do qual agentes se envolvem na apropriação e apreciação, seja por razões contemplativas, expressivas ou utilitárias, de bens, serviços, performances, informação ou ambiência, que são produtos do trabalho humano. Warde (2005) entende o consumo como um fenômeno social multidimensional que se manifesta como um conjunto de práticas em que o indivíduo aparece como um ponto de interseção de muitas práticas. O consumo é um processo de apropriação que acontece ao longo de um período de tempo e exige algum tipo de engajamento por parte do consumidor (HALKIER, 2009; WARDE, 2017).

A TP não utiliza conteúdos mentais, discursos ou interações como ponto de partida da explicação da prática, mas as próprias práticas (RECKWITZ, 2002). Assim, as práticas possuem desenvolvimentos e histórias que podem oferecer respostas para entender por que as pessoas fazem o que fazem e da forma que fazem (CASTAÑEDA, 2010). Nesse sentido, o indivíduo é visto como praticante de atividades que são negociadas junto a todos os demais indivíduos que estão à sua volta (HALKIER, 2009).

A proposta analítica do presente trabalho ficou estabelecida com base nas formas com que as práticas são observadas e analisadas nos trabalhos de Reckwitz (2002), Shove e Pantzar (2005), Schatzki (2002), Warde (2005), Truninger (2011) e Gram-Hanssen (2011). De forma geral, esses autores propõem, cada um à sua maneira, que as práticas são compostas por um conjunto de elementos. Gram-Hansen (2011) realizou o esforço de consolidação dos elementos das práticas e Lodi (2018) explorou esse quadro de elementos das práticas de

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forma analítica consistente, propondo a observação dos seguintes elementos das práticas: entendimentos, procedimentos, engajamentos e materialidades.

Os entendimentos envolvem as interpretações práticas do que fazer, o conhecimento e o know-how em um sentido amplo (WARDE, 2005). Assim, o entendimento das práticas nos remete ao conhecimento a respeito de como fazer algo e como tornar comuns essas formas de fazer algo. Os procedimentos são as instruções, regras e princípios de como realizar a prática. Dessa forma, os procedimentos podem variar, independentemente de um ou outro componente dos nexos, das suas distintas formas de aprendizagem e dos grupos participantes, mas oferecem ordem para as práticas e os processos associados a elas (GRAM-HANSEN, 2011). Os engajamentos em estruturas teleo-afetivas envolvem as orientações emocionais e normativas relacionadas com o que e como fazer. Segundo as propostas analíticas de Warde (2005) e de Truninger (2011), existe uma necessidade de compreender como os nexos são adquiridos na medida em que se desenvolvem as práticas. Por fim, seguindo a proposta de Grahm-Hanssen (2011), as materialidades tratam dos modos e conteúdos de apropriações de bens e serviços para a efetivação da prática. Esses quatro componentes das práticas compõem o quadro teórico-analítico desse trabalho e são utilizados para a análise de dados, conforme apresentado no Quadro 01.

Quadro 1 – Quadro Teórico-Analítico baseado nos Elementos das Práticas Elementos das Práticas

Entendimentos Interpretações práticas do que e de como fazer, conhecimento e know-how em um sentido amplo

Procedimentos Instruções, princípios e regras de como fazer, modo de agir, habilidades e competências

Engajamentos em Estruturas Teleo-Afetivas

Orientações emocionais e normativas relacionadas com o que e como fazer. Inclui fins, projetos, tarefas, propósitos, crenças, emoções e estado de

espírito. Afetos (como agente modificador de comportamento) Materialidades Coisas, utensílios, serviços, tecnologias

Fonte: Elaborado pelos autores com base em Warde (2005); Gram-Hansen (2011); Truninger (2011); Lodi, 2018.

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O presente trabalho procura compreender como as práticas de consumo de alimentos estão relacionadas à obesidade e, para tanto, uma perspectiva interpretativa mostrou-se mais apropriada, uma vez que permite acessar mais profundamente os componentes das atividades humanas. Em pesquisas de caráter interpretativo, os pesquisadores buscam acessar os componentes objetivos e subjetivos associados a um fenômeno e, portanto, dependem da construção de confiança e familiaridade nas interações humanas, a fim de acessar dimensões da subjetividade do sujeito.

Os dados foram coletados a partir de observação participante e entrevistas em profundidade no período de novembro de 2014 a março de 2017. A observação participante foi uma opção consistente, visto que permitiu contato com o objeto de pesquisa e com os sujeitos no local em que interagiam, como propõe May (2001). Ao todo, foram vinte e cinco participações em encontros de três grupos de apoio a pessoas portadoras de transtornos alimentares, cujos acessos foram franqueados junto às suas direções, sob a condição de garantia não identificação de grupos e membros. Cada um desses encontros teve duração de duas horas e contou com dezesseis participantes em média. Um dos pesquisadores participou ativamente das sessões dialogando com seus membros,

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discutindo com o grupo, trocando experiências pessoais e participando das atividades de interação propostas. As observações geraram notas de campo e levaram à seleção de sujeitos para entrevistas em profundidade.

Como não tivemos acesso direto às práticas de consumo de alimento nos momentos em que essas aconteciam na vida cotidiana dos entrevistados, foi necessário levar a frente entrevistas em profundidade, de forma que fosse possível acessarmos os relatos dos sujeitos a respeito de suas práticas de consumo de alimentos e seus corpos. As entrevistas seguiram um o todo, foram entrevistados vinte e quatro membros de todos os três grupos de apoio que se julgam obesos. As entrevistas tiveram duração que variou entre trinta minutos e três horas e foram realizadas na maioria das vezes nas residências dos entrevistados e, em poucos casos, no próprio local das reuniões dos grupos de apoio ou em outros lugares públicos.

Ao todo, as transcrições das entrevistas e as notas de campo preencheram trezentos e cinquenta páginas e esse material foi analisado a partir da análise de conteúdo com apoio do software ATLAS-ti. Bardin (2011) aponta que análise de conteúdo pode ser entendida como uma análise de significados e, dessa forma, em um primeiro momento todo o material coletado foi organizado e analisado e discutido pelos pesquisadores. Essa etapa de pré-análise foi sucedida pela exploração dos dados com base nas categorias pré-determinadas dos componentes da prática que deu base à interpretação e à comparação dos dados entre si e com a teoria. A análise de dados, apresentada na próxima seção, traz o diálogo entre dados e teoria que permite a compreensão das relações entre as práticas de consumo de alimentos, os corpos e a obesidade. Como forma de auxiliar a análise foram incluídos extratos das entrevistas, sendo os respondentes identificados apenas pelo número de ordem da entrevista concedida.

5 ANÁLISE DE DADOS

Como apresentado, a análise de dados foi baseada nos componentes estabelecidos das práticas - entendimentos, procedimentos, engajamentos em estruturas teleo-afetivas e materialidades. Foram também revisitadas as teorias a respeito de consumo de alimentos e corpo, como forma de se observar criticamente a questão da obesidade. Com efeito de ordenar a apresentação da análise dos dados, dividimos essa seção de acordo com as observações associadas a cada um dos componentes das práticas.

5.1 Entendimentos

Os entendimentos envolvem as formas de ver o mundo, conhecimento e o know-how em um sentido amplo. Assim, o entendimento das práticas nos remete a saber como fazer algo e compartilhar entendimentos comuns a respeito disso (WARDE, 2005). Para a TP o foco de análise deixa de estar nas atitudes e escolhas individuais e passa a estar nas práticas e na sua vida social. A maneira como as pessoas enxergam o alimento está relacionada à condução das suas práticas alimentares e, nesse sentido, a distinção entre alimento e comida parece ser um ponto comum observado nos relatos e interações entre sujeitos.

Os dados coletados apontam para o entendimento dicotômico do consumo alimentar baseado na distinção entre alimento, suporte nutricional à vida, e comida, fonte de prazer e interação social. Essa

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compreensão foi objeto de reflexão no campo dos estudos de consumo por Yamagata e Sauerbronn (2019), mas ainda não havia sido apresentada em relação à obesidade.

O alimento, eu acho que é a base da vida, porque nós somos aquilo que comemos. Se eu estou saudável, evito gripe, resfriado qualquer tipo de doença. A gente se fortalece contra eventuais vírus, bactérias. Então, eu acho que a alimentação é à base de uma vida saudável. Entrevista 22.

Se alimentar está associado a você dar o que o seu organismo precisa. [...] E comer é qualquer coisa independente, é o prazer. Quando você fala se alimentar, a pessoa vai atender as suas necessidades básicas, ter uma coisa mais positiva, vamos dizer assim. Entrevista 17.

Os trechos de entrevistas mostram a composição do entendimento a respeito do consumo alimentar. O primeiro trecho mostra o entendimento do alimento como algo que serve para atender à necessidade do corpo, uma espécie de proteção para manter uma vida saudável, uma vez que o alimento é associado até mesmo à prevenção de doenças. O segundo trecho ilustra mais claramente a percepção dicotômica do consumo de alimentos e a distinção entre nutrição e prazer, conforme já apontado por Sauerbronn; Teixeira; Lodi (2019).

Alimento é o que te nutre, faz bem, é saudável. Comida pode não ser saudável, pode ser boa e gostosa. Entra pela boca e proporciona, às vezes prazer, às vezes, desprazer, depende da pessoa. Comida é qualquer coisa e alimento é algo saudável. Entrevista 18.

Vemos o entendimento da prática de consumo de alimentos se manifestar de forma dicotômica, contrastando nutrição e prazer e observamos a expansão desse entendimento para outra dimensão do consumo de alimentos associada aos efeitos do consumo de alimentos sobre o corpo. Como já apontado por Sauerbronn, Teixeira e Lodi (2019), o corpo é central para a prática de consumo de alimentos e os efeitos das práticas de alimentação são diretamente apontados no corpo. Nesse sentido, o entendimento a respeito dos efeitos da alimentação se dá a partir do corpo e é aprendido e compartilhado desde tenra idade por consumidores obesos. O trecho apresentado a seguir relata a trajetória de entendimentos a respeito do consumo de alimentos e suas relações com o corpo.

A partir dos oito anos, nove anos, eu engordei [...] que foi o período que eu tive problema de tireoide. Aí, meu cabelo caiu muito e eu engordei. Depois disso, eu não consegui mais voltar para o meu peso normal. Aí, sendo compulsiva já era mais difícil de eu conseguir emagrecer. Porque força de vontade não é uma grande coisa assim para mim. Não sou uma pessoa muito disciplinada. Entrevista 21.

Como exposto no relato, o olhar disciplinador remete às experiências de controle dos corpos que sujeitam os consumidores. Conforme apontado por Thompson e Hirschman (1995), este termo caracteriza um tipo de controle social que decorre do sentimento de estar sob constante controle, que faz com que o indivíduo aja como seu próprio agente de vigilância, mesmo quando não está sendo realmente observado por outro. Assim, os entendimentos a respeito do consumo alimentar ultrapassam o ato de comer e envolvem disciplina associada ao controle do corpo e apresenta contornos mais claros no caso de sujeitos que se consideram obesos.

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Quadro 2 – Entendimentos a respeito de práticas de consumo de alimentos e obesidade Entendimentos

Dicotomia Alimento x Comida

Alimento – Nutrição Comida – Prazer Alimento e Disciplina

Elevado Nível de Disciplina sobre o Corpo Controle

Baixo Nível de Disciplina sobre o Corpo Descontrole

Fonte: Elaborado pelos autores

5.2 Procedimentos

Os procedimentos estão relacionados a instruções, princípios e regras do que e como fazer, habilidades e competências (WARDE, 2005; GRAM-HANSEN, 2011). Assim, as práticas são entidades coordenadas que necessitam de desempenho para existirem (SAUERBRONN; TEIXIERA; LODI, 2019). A rotina alimentar dos entrevistados mostra-se similar e pouca atenção é dada à alimentação considerada correta do ponto de vista nutricional. A falta de tempo foi um elemento constantemente exposto pelos entrevistados. Essa limitação, de acordo com eles, os impede muitas vezes de darem a atenção necessária para uma boa alimentação, o que causa perda de autonomia. O princípio aqui é que a alimentação não pode ocupar muito tempo do dia do indivíduo. Via de regra, a alimentação é definida com base em praticidade e rapidez de produção. Os relatos a seguir mostram que a alimentação não é prioridade imediata nas vidas desses entrevistados, mesmo que sigam a regra de três refeições diárias.

Como sou professora universitária e trabalho a noite, quando eu acordo pela manhã já vou adiantar a aula que vou dar e, se tiver um tempo, faço um lanche. Vou preparando as coisas do meu filho para ele ir à escola. Tem um monte de coisas para fazer [...] quando dá tempo, tomo um café preto com biscoito. Só. É o mais rápido de fazer. No almoço eu como pouco, mesmo. Eu como o que tem, às vezes, uma colher de arroz e feijão. Qualquer coisa. Não tenho muito critério. À noite chego em casa e como biscoito. Entrevista 2.

Lá é refeitório, eu trabalho na construção civil. Então, o almoço é a mesma comida comprada pra cinco mil pessoas [...] eu normalmente almoço em quinze minutos, no máximo 20. E a gente não pode nem ficar muito tempo no refeitório porque tem muita gente, você tem que dar o lugar pra outras pessoas entrarem. Entrevista 1.

Além de aspectos associados ao encaixe à rotina e à pouca autonomia na alimentação, mais uma vez o corpo aparece como local onde se expressam práticas de alimentação. Nesse caso, sinais perceptíveis no corpo podem levar indivíduos obesos a alterarem seus procedimentos e necessitarem de mais autonomia em suas práticas alimentares. A alteração das práticas de consumo de alimentos com objetivo de controlar a forma do corpo já foi apontada por Sauerbronn, Teixeira e Lodi (2019) e mostra como o corpo serve como espaço de observação das práticas de consumo de alimentos. A partir da atenção à sua forma corporal, o indivíduo passa a tentar alterar suas práticas. O relato a seguir demonstra que o reconhecimento de problemas de saúde desencadeados pela alimentação gera mudanças nos procedimentos de alimentação e novas regras em prol da saúde são adotadas.

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Lá em casa a gente tirou a fritura. Ele só compra geralmente o que eu posso comer. Por conta do colesterol. Todo mundo lá em casa estava com colesterol alto. Estava não, ainda está, e aí a gente resolveu mudar pra poder ter saúde, né? Entrevista 5.

[...] lá em casa agora eu estou implantando o pão integral. Tudo é depois da terceira idade, quase terceira idade. Tô tentando fazer com que minha filha prove arroz integral, porque ela não gosta. Ela só olha e diz que não gosta, na verdade ela nunca provou. A gente está tentando colocar coisas mais saudáveis, mas tá difícil. Entrevista 7.

Ao explorarmos aspectos associados à conveniência da alimentação, fica mais claro que a habilidade na preparação de alimentos do consumidor obeso também é um fator importante na construção de práticas de consumo de alimentos. Sujeitos com habilidades culinárias têm menos problemas com a preparação dos alimentos e, portanto, não experimentam tantos problemas associados à conveniência. No próximo relato podemos perceber a transformação das receitas associada à habilidade da entrevistada, que cita trocas de ingredientes de um prato, buscando conciliar sabor e saúde. Nesse caso, competências e habilidades desenvolvidas através da experiência são capazes de aumentar a autonomia do consumidor.

Eu utilizo o músculo do mesmo jeito que se fosse uma rabada. Só que ele é muito mais saudável. Por exemplo, bacalhau eu fazia bolinho de bacalhau sem bacalhau. Então esse negócio de você fazer, o cheiro te engana, o visual te engana. Então a necessidade me obrigou a aprender porque eu fazia as coisas para a minha mãe. Entrevista 23.

Em relação aos procedimentos, vemos que as práticas de alimentação seguem as regras comuns no tocante à realização de três refeições diárias, mas que os consumidores obesos apontam que há diminuição da autonomia em função da necessidade de encaixar a atividade alimentar às suas rotinas diárias. Nesse sentido, atividades domésticas ou laborais podem levar o consumidor obeso a privilegiar a praticidade e a conveniência, em detrimento de aspectos ligados à saúde ou ao prazer de comer. Por outro lado, sinais corporais (de saúde ou estéticos) podem fazer com que o indivíduo desenvolva habilidades na preparação de alimentos, conforme já apontado por Sauerbronn, Teixeira e Lodi (2019). Dessa forma, pode surgir uma reconfiguração dos procedimentos das práticas de alimentação na medida em que as habilidades desenvolvidas podem servir como fontes de autonomia para os consumidores em suas práticas de alimentação.

Quadro 3 – Procedimentos a respeito de práticas de consumo de alimentos e obesidade Procedimentos

Autonomia Reduzida Autonomia Ampliada Baixa prioridade para a alimentação

Alimentação baseada em praticidade e conveniência

Sinais corporais de problemas de saúde Habilidades na preparação de alimentos Fonte: Elaborado pelos autores

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5.3 Engajamentos em Estruturas Teleo-Afetivas

Os engajamentos em estruturas teleo-afetivas envolvem as orientações emocionais e normativas relacionadas com o que e como fazer (WARDE, 2005). Abrangem fins, projetos, tarefas, finalidades, crenças, sentimentos, emoções e humores e, portanto, se distinguem dos entendimentos (conhecimentos) e procedimentos (princípios e regras), mas estão obviamente relacionados a esses outros componentes das práticas. Nesse sentido, os engajamentos podem ser observados nas práticas a partir da exploração mais profunda de seus componentes subjetivos.

Nesse sentido, comer é um evento importante para os sujeitos e suas intersubjetividades e, portanto, essa atividade emocionante é melhor se feita em companhia de outros. Cozinhar é uma atividade que faz a família, os amigos e si mesmos felizes, e comida e culinária são discutidos por todos em torno da mesa de forma festiva. Em consonância com as observações de Halkier (2009), os relatos a seguir mostram como os entrevistados se engajam em práticas de alimentação como formas de manifestar pertencimento e perpetuar algo querido de sua família e como forma alegre de confraternizar. Mais especificamente no segundo relato apresentado, o uso da v ‘f ’ mais claramente a expressão sentimental da prática alimentar ancorada na interação social

Minha avó gostava muito de cozinhar. As minhas tias e a minha mãe pegaram isso dela e eu também. Às vezes eu faço comida com gosto da minha avó. Eu cozinho igual a minha madrinha que é a filha mais velha da minha avó e eu cozinho bem parecido com ela. Nenhuma das filhas dela cozinha tão bem igual a ela. Entrevista 23.

Adoro farra! E lá em casa eu tô numa fase que eu tô, assim [...] eu fiz uma casa de praia, terminei de fazer a casa, o quintal ainda tava todo inoperante, vamos fazer um churrasco pra inauguração da casa. Aí, fiz a churrasqueira, outro churrasco pra comemorar a churrasqueira! Aí fiz o muro, vamos fazer outro pra comemorar o muro (risos). Entrevista 7.

Como proposto também por Yamagata e Sauebronn (2019) e já refletido na discussão a respeito dos entendimentos, a dimensão social da alimentação se constitui como um espaço muito importante de expressão dos sentimentos associados às práticas de consumo de alimentos. No tocante à relação entre alimentação e obesidade, essa dimensão sócio emocional é exposta nas reuniões dos grupos de apoio. A busca por atender aos padrões estéticos corporais definidos na sociedade de consumo e expressos pela mídia (TONINI; SAUERBRONN, 2013) gera uma profunda insatisfação dos indivíduos com seus corpos. Para algumas pessoas essas reuniões são o único espaço em que podem manifestar algumas emoções associadas às práticas de consumo de alimentos.

Esse programa salva minha vida. Se eu não tivesse chegado aqui há vinte e quatro anos, eu já teria morrido, porque eu teria engordado uns duzentos quilos. Eu engordo dez quilos assim. Eu engordo muito rápido. Médico nenhum me daria o que eu tenho aqui no grupo. E olha que eu já fiz dieta da sopa, tomava remédio, fazia de tudo e nada adiantava. Se eu vier nas reuniões eu não preciso tomar calmante nem remédio. Nota de campo.

Com 18 anos comecei a engordar. Aí, foi uma luta eterna até hoje. Eu cheguei a fazer redução do estômago em 2005 e fiquei bem e tal. Aí, depois disso, eu comecei a ter problemas familiares, minha mãe teve câncer, tive uma separação horrorosa e

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vim embora para o Rio. Eu meio que perdi o controle das coisas. É aquela coisa, a gente reduz o estômago, não reduz o cérebro e nem o olho grande. Então, não adianta você está com o estômago pequeno, se a sua cabeça continua com aquela mentalidade. E caí na comida de novo. Eu não controlava o que estava comendo. Depois de alguns anos eu comecei a engordar de novo. Entrevista 21.

Nesse sentido, sentimentos negativos também estão associados às práticas alimentares: desolação e perda de confiança nos resultados de tratamentos nutricionais ou de acompanhamento de médicos; e o sofrimento associado à frustração das diversas tentativas para emagrecer. Os grupos de apoio se estabelecem como possibilidade neutra de regulação emocional, uma vez que permitem que os sujeitos reflitam acerca de seus sentimentos em relação às práticas alimentares: a alegria de comer e estar com amigos e a tristeza de não atender aos controles corporais a que se submetem.

Quadro 4 – Engajamentos em Estruturas Teleo-Afetivas a respeito de práticas de consumo de alimentos e obesidade

Engajamentos em Estruturas Teleo-Afetivas

Sentimentos Positivos Sentimentos Negativos Alegria - Satisfação

Convívio Social

Tristeza – Insatisfação Controle Social Fonte: Elaborado pelos autores

5.4 Materialidades

As materialidades envolvem os elementos materiais das práticas, os quais, a princípio, podem incluir utensílios, tecnologias, produtos ou itens de consumo (GRAM-HANSSEN, 2011). Quando se fala de práticas de consumo de alimentos, obviamente, os alimentos ocupam o espaço importante no tocante às materialidades. No entanto, ao explorarmos suas relações com a obesidade observamos que os alimentos oferecem pouca explicação da relação entre práticas de consumo de alimentos e obesidade nas falas dos respondentes e nas práticas observadas. Em contrapartida, uma quantidade grande de utensílios é incorporada às práticas e esses utensílios oferecem explicações relacionadas às definições ou redefinições as práticas de consumo de alimentos e a obesidade.

Os trechos apresentados a seguir mostram que utensílios passam a fazer parte da rotina dos entrevistados, possibilitando que haja uma reconfiguração de suas práticas de consumo de alimentos. Como vemos, essa reconfiguração se dá em virtude da percepção do sujeito de que é necessário algum tipo de controle sobre seu corpo. Uma respondente mencionou a importância do uso do medidor e uma balança, que a permite seguir receitas culinárias de forma mais precisa. Outra respondente aponta que após notar efeitos de suas práticas de consumo de alimentos em seu corpo passou a fazer uso de uma lancheira em sua rotina diária.

Esse medidor é fantástico porque ele tem xícaras, litros, ML, quantidade de arroz, ele tem específicos aqui açúcar, farinha e ele é uma benção porque tem uma outra receita que eu quero colocar a espuma de fermento, então eu já coloco a quantidade de água aqui, aí coloco a colher de fermento que for e açúcar e espero que vai

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crescendo conforme a espuma. A balança, ela é excelente. Então eu acho essencial ter medidores como esse aqui. Entrevista 22.

Eu tinha o hábito de comer um pão, essas comidas de lanchonetes que tem nas faculdades. Geralmente, aquelas que os alunos chamam de ‘bate entope’. Aqueles pães, aqueles joelhos, aquilo que é massudo e faz um mal e eu nem me tocava. Hoje, eu sei que era aquilo que me fazia mal e hoje eu não como mais. Então, eu sempre levo um pãozinho light que eu coloco dentro da minha lancheirinha. O pessoal até me encarna porque eu ando com a minha lancheirinha na mão, mas eu acho que é isso aí que a gente tem de fazer. Entrevista 4.

Vemos que as práticas são ajustadas na medida em que aquelas impactam negativamente sobre o corpo. Portanto, estas podem ser redefinidas e os utensílios de conservação e transporte da comida, como mostrado no trecho anterior, e de preparação dos pratos, como mostrado no próximo trecho, têm papel importante nessa redefinição das práticas. Dessa forma, atento a opções que o mercado oferece para ajustar seus objetivos de construção de uma alimentação saborosa e saudável, o consumidor torna-se alvo de apelos de propaganda. Alguns dispositivos são incluídos às práticas de consumo de alimentos após serem apresentados em comerciais ou programas de culinária na TV, o que indica a importância da mídia e da propaganda sobre as práticas de consumo de alimentos.

Eu tenho uma ‘Air Fryer’ que é onde eu faço a berinjela a milanesa, faço os bolinhos que aí você frita sem fritar. E eu descobri que você pode fritar muitas coisas também com um pouquinho de azeite no fogo quase apagando que assim que eu aprendi na televisão. Eu gosto muito de ver programas de culinária. Entrevista 23.

Alguns utensílios passam a fazer parte da rotina culinária a partir da demonstração dos efeitos positivos de seus usos no processo de preparação de alimentos. Por efeitos, aqui, temos que entender as consequências da alimentação sobre os corpos. Assim, as materialidades associadas a práticas de consumo de alimentos de sujeitos que se consideram obesos se expressam como formas de busca pelo prazer de comer que não gerem consequências indesejadas sobre os seus corpos. Como visto na discussão a respeito dos entendimentos, as materialidades permitem a busca de uma conciliação entre prazer e controle e, a partir do uso de alguns utensílios, os consumidores buscam obter prazer, com poucos sacrifícios. Dessa forma, observamos uma divisão entre práticas de consumo de alimentos com base na intensidade do uso de utensílios. As práticas que não envolvem uso de utensílios produzem comida saborosa, mas com danos para o corpo. De forma inversa, as práticas que envolvem elevado uso de utensílios oferecem como resultado a percepção de que o indivíduo consegue produzir uma comida saborosa com impacto reduzido sobre o corpo. Assim, quando percebe que o uso de um determinado dispositivo pode oferecer mais sabor ou menos efeitos negativos sobre o corpo, o consumidor incorpora esse dispositivo à sua rotina culinária e altera sua prática de consumo de alimentos.

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Quadro 5 – Materialidades a respeito de práticas de consumo de alimentos e obesidade Materialidades

Baixo Uso de Utensílios Elevado Uso de Utensílios Mais Sabor

Efeitos Negativos sobre o Corpo

Menos Sabor

Efeitos Positivos sobre o Corpo Fonte: Elaborado pelos autores

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho pretendeu compreender como as práticas de consumo de alimentos estão relacionadas à obesidade. Para tanto, recorremos ao suporte teórico-epistêmico da Teoria da Prática, conforme proposto por Warde (2005) e outros trabalhos que aplicaram a TP para análise de práticas de consumo, como os trabalhos de Shove e Pantzar (2005), Schatzki (2002), Warde (2005), Halkier (2009), Truninger (2011), Gram-Hansen (2011) e Sauerbronn, Teixeira e Lodi (2019). A partir de observações participantes em sessões de discussão em grupos de apoio a pessoas com transtornos alimentares e entrevistas em profundidade com alguns dos membros desses grupos, pudemos explorar os componentes das práticas de consumo de alimentos e buscar suas relações com a obesidade.

A recomposição das práticas de consumo de alimentos desses indivíduos a partir de seus elementos permitiu que compreendêssemos mais profundamente a relação dessas práticas com a obesidade. A análise dos entendimentos deixou claro que esses indivíduos entendem a alimentação de forma dicotômica e diferenciam o alimento, associado à nutrição, da comida, associada ao prazer. Dessa forma, os sujeitos se veem sob constante exame, uma vez que seus corpos estão à vista de todos e o descontrole na ingestão de alimentos pode expô-los socialmente. Em relação aos procedimentos, observamos que as rotinas que envolvem os indivíduos têm efeitos sobre a sua autonomia alimentar e que os sinais que seus corpos emitem (saúde ou estética) os forçam a negociar formas de ampliar a autonomia. Assim, sujeitos em condições físicas comprometidas buscam formas de aumentar a autonomia a partir do desenvolvimento de habilidades culinárias.

A análise dos engajamentos em estruturas teleo-afetivas mostra os aspectos afetivos das práticas de consumo de alimentos, os quais envolvem a alegria e a satisfação com o convívio social associados a estas práticas, mas também mostra a tristeza e a insatisfação associadas às tentativas de se manter um corpo magro, sob controle social. Nesse ponto, as participações em grupos de apoio cumprem uma função importante de regulação emocional ao servirem como espaço de reflexão e reequilíbrio. Finalmente, a análise das materialidades associadas às práticas de consumo aponta o uso de utensílios como forma de atendimento às necessidades de apresentação do corpo, o que torna ainda mais forte a perspectiva do controle social sobre o corpo.

As práticas de consumo de alimento, portanto, se relacionam com a obesidade a partir do corpo do indivíduo, onde os resultados desse consumo estão à vista de todos. Nesse sentido, os consumidores se veem tendo que lidar com possíveis reconfigurações de suas práticas em função de seus sentimentos. Os sentimentos de alegria e satisfação ligados ao convívio social que as práticas de alimentação oferecem coabitam o mesmo espaço dos sentimentos de frustração e desprezo relativos às dificuldades vividas pelos consumidores em apresentar seus corpos em forma.

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A presente pesquisa oferece alguns subsídios para gestores públicos e profissionais de marketing interessados nos efeitos do consumo de alimentos e na saúde pública. Ao entendermos as formas de construção das práticas de consumo associadas à obesidade, podemos desenvolver ações de informação aos consumidores que os permitam agir de forma mais consciente sobre suas práticas alimentares. Consumidores que entendem mais profundamente suas práticas e o que envolve o consumo de alimentos, em termos de pressão social e das ferramentas de marketing utilizadas pelas corporações, poderão desenvolver maior capacidade de agência sobre o consumo. De forma similar, os gestores públicos que contarem com mais subsídios para o entendimento do consumo de alimentos poderão levar a frente discussões com representantes da sociedade e do mercado em busca de eliminar o impacto do consumo de alimentos no aumento dos casos de obesidade no país. O presente estudo pode estimular novos estudos que já tenham foco mais concentrado na transformação do consumo de alimentos e no aumento do bem-estar dos consumidores. Tais propostas estariam mais alinhadas ao campo da Pesquisa Transformativa do Consumidor (TCR), conforme proposto por Mick, Pettigrew; Pechmann e Ozzane (2012). Como apontam Murray e Ozanne (2009), diante dos efeitos que a atividade de consumo pode causar, cada vez mais pesquisadores estão defendendo a importância de pesquisas que busquem mudanças sociais em direção a uma sociedade mais justa e que cause menos consequências negativas para o consumidor.

Artigo submetido para avaliação em 27/04/2020 e aceito para publicação em 31/07/2020

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