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O uso do blog como ferramenta pedagógica: um estudo de caso com professores participantes do Projeto Um Computador por Aluno (UCA)

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O uso do Blog como ferramenta pedagógica: um

es-tudo de caso com professores participantes do

Pro-jeto Um Computador por Aluno (UCA)

Title: Use of Blog as a pedagogical tool: a case study with teachers from One laptop

per Student (UCA) Project

Renata Lopes Jaguaribe Pontes

Universidade Federal do Ceará – UFC Instituto UFC Virtual

Av. Humberto Monte, s/n, bloco 901, 1o andar, Cep:60440-554

renata@virtual.ufc.br

José Aires de Castro Filho

Universidade Federal do Ceará – UFC Instituto UFC Virtual

Av. Humberto Monte, s/n, bloco 901, 1o andar, Cep:60440-554

aires@virtual.ufc.br

Resumo

Este artigo relata os resultados de uma investigação acerca da apropriação e utilização do Blog como ferramenta de ensino-aprendizagem por professores. A abordagem metodológica adotada foi de natureza qualitativa e a estratégia empregada foi o estudo de caso com três professoras do Ensino Fundamental de uma escola municipal de Fortaleza, Ceará, contemplada com o Projeto Um Computador por Aluno (UCA). Os dados foram coletados por meio das técnicas da observa-ção participante e entrevista semi-estruturada. Os resultados indicam que iniciamente as profes-soras não conheciam as possibilidades educacionais do Blog, mas no decorrer da investigação obtiveram avanços no uso instrumental e pedagógico da ferramenta, assim como realizaram aulas experimentais nas quais estimularam os alunos a interagirem e colaborarem em rede. A formação realizada estimulou práticas pedagógicas inovadoras vinculadas a filosofia de colaboração e co-autoria da Web 2.0. Em conclusão, para que as práticas sejam duradouras, há a necessidade de uma formação contínua e incentivo para o uso do Blog e outras ferramentas da Web 2.0.

Palavras-Chave: Blog, Web 2.0, Projeto UCA, formação de Professores.

Abstract

This paper describes the results of an investigation concerning the te appropriation and use of blog teaching and learning tool by teachers. The methodological approach adopted was quali-tative with a case study strategy. Participantes were Three elementary teachers from a public school in Fortaleza, Ceará, awarded with the One Laptop per Student projetc (UCA). Data were collected using participant observation and semi-structured interviews. Results indicate that teachers were initially unaware of Blog educational possibilities. During the the investigation, they have advanced in the instrumental and pedagogical use and conducted experimental les-sons which encouraged students to network interaction and collaboration. The program under-taken stimulated innovative pedagogical practices related to the Web 2.0 collaboration and co-authoring philosophy. In conclusion, to keep sustainable practice, continuous training and en-couragement on the use of Blog and other Web 2.0 tools are needed.

Keywords: Blog, Web 2.0, One Laptop per student, Teachers professional development.

Recebido: 25 de Junho de 2013 / Aceito: 20 Agosto de 2013 DOI: 10.5753/RBIE.2013.21.02.12

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1 Introdução

O surgimento e a rápida evolução das tecnologias de informação e comunicação (TIC) ocasionaram transfor-mações e trouxeram possibilidades para todos os âmbitos da sociedade. No contexto educacional, essas tecnologias estão sendo cada vez mais utilizadas, criando oportunida-des para mudanças nas relações de ensino e aprendiza-gem.

Alguns estudos [26; 32; 35] sobre laptop na educação apontam que o seu uso em sala de aula melhora o desem-penho escolar. Um dos fatores, segundo os professores, é o fato de aumentar a gama de recursos com o acesso à

Internet e a materiais digitais para incrementar a

realiza-ção das atividades. Eles também verificam indícios de mudanças na organização da situação de aprendizagem, ao realizar mais trabalhos que visam promover a autoria e a co-autoria do aluno, favorecendo um clima apropriado para a aprendizagem colaborativa e a troca de experiên-cias. Outro dado relevante é a observação que o laptop promove uma quebra de distâncias, o que revela o início de uma aprendizagem em rede que rompe com o modelo de educação tradicional, a qual se configura como indivi-dual e local.

Os professores também apontaram que o uso do

lap-top trouxe melhorias ao possibilitar aos alunos debaterem,

questionarem e realizarem pesquisas de forma autônoma, assumindo uma postura ativa por ter ao seu alcance a oportunidade de esclarecer os próprios questionamentos. Os ganhos relatados foram principalmente, relativos à escrita dos alunos, pois, com a Internet, eles tiram dúvi-das sobre a ortografia de uma palavra ou seu significado, além de contar com exemplos que despertam a criativida-de.

Ainda de acordo com os estudos citados, tanto os do-centes quanto os alunos mencionaram que o uso do laptop lhes dava a oportunidade de aprender e conhecer aspectos jamais imaginados por eles, tais como o sistema operaci-onal, jogos de raciocínio e lógica e desenvolver desenhos gráficos elaborados com um programa específico.

Para atender estas novas possibilidades, no entanto, o professor precisa possuir domínio instrumental e pedagó-gico no uso das TIC. Nas últimas três décadas, esforços vêm sendo realizados para atender essa necessidade por meio de várias iniciativas de formação de professores. Essas ações abrangem a oferta de cursos de pós-graduação stricto (mestrados e doutorados) e lato sensu (especializações) relacionados com informática educativa, passando por cursos e disciplinas ofertados por Institui-ções de Ensino Superior, até iniciativas nacionais do Governo Federal para a implantação da informática edu-cativa com os Projetos Educação por Computador -

EDUCOM, Formar, Formar I e Formar II, o Programa Nacional de Informática Educativa - PRONINFE e o - Programa Nacional de Informática na Educação - PROINFO [1].

Além da capacitação docente, também devem ser em-pregadas ferramentas que possibilitem uma aprendizagem em rede e estimulem a formação de conexões entre pro-fessores e alunos com o conhecimento. Harasim et al [19] afirmam que "as redes permitem que a educação se torne interinstitucional, expandindo imensamente o acesso de alunos e professores a recursos de informação e conheci-mento especializado em todo o mundo".

Dentre os recursos oferecidos pelo computador e dis-poníveis por meio do acesso à Internet, temos o Blog. Essa ferramenta está associada à Web 2.0, tida como uma evolu-ção da estrutura da Internet, que visa uma ampla participaevolu-ção dos usuários da rede por meio de canais colaborativos, nos quais eles podem atuar como emissores e produtores de conteúdo, estimulando a autoria, a interatividade e a socialização.

Uma característica da Web 2.0, ressaltada por Fonseca e Lindemann [10], é a capacidade de superação do modelo tradi-cional de transmissão de informação "emissor-meio-mensagem-receptor". Ferramentas com o Blog, Wiki,

Youtube e Twitter propiciam que o usuário abandone a

sua posição de receptor passivo, tornando-se também produtor de conteúdo, o que descentraliza a emissão e permite que mais vozes possam se manifestar na Internet. Este artigo relata os resultados de uma investigação acerca da apropriação e utilização do Blog como ferra-menta de ensino-aprendizagem por três professoras da educação básica de uma escola piloto contemplada com o Projeto Um Computador por Aluno (UCA). O artigo está estruturado da seguinte forma: primeiramente, apresenta-mos um panorama geral sobre o Projeto UCA, seguido de uma discussão sobre o uso de Blog na educação; apresen-tação da metodologia adotada para coleta e geração de dados, os resultados provindos da análise de dados e, por último, as considerações finais.

2. O Projeto Um Computador por

Aluno (UCA)

Em janeiro de 2005, durante o Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, o pesquisador Nicholas Negroponte apresentou, ao então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a idéia da organização não-governamental

One Laptop per Child (OLPC) de distribuir

computado-res de US$ 100 para cada criança de escolas públicas de países em desenvolvimento. O objetivo principal da OLPC era o de promover a inclusão digital [4].

Os Ministérios da Educação e da Ciência e Tecnolo-gia avaliaram a proposta de Negroponte, quanto aos

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as-pectos técnicos e pedagógicos, modificando a ideia origi-nal da OLPC ao enfatizar que o projeto brasileiro teria como objetivo principal a utilização pedagógica do

lap-top.

Em junho de 2006, o Projeto Um Computador por Aluno (UCA) foi lançado oficialmente. Em 2007, foi iniciada a sua fase pré-piloto com experimentos em cinco escolas públicas de ensino fundamental, distribuídas nos estados brasileiros de São Paulo, Rio Grande do Sul, Tocantins, Rio de Janeiro e Distrito Federal.

Em março desse mesmo ano, o Grupo de Trabalho do Projeto UCA (GTUCA) redigiu um documento para sis-tematizar os pressupostos teóricos do UCA. O documento oferecia um guia de orientações à comunidade escolar brasileira para as ações pedagógicas com o laptop e, principalmente, dava uma referência para a estruturação do modelo de formação docente das escolas durante a fase piloto [32].

Dentre os princípios pedagógicos do Projeto, descri-tos no documento, destacam- se: a exploração pedagógica da mobilidade do laptop; a formação de comunidades de aprendizagem; a interação entre as pessoas e a construção coletiva do conhecimento; a promoção de letramentos de leitura, escrita, digital, visual e sonora; a integração do

laptop ao currículo; a apropriação dos recursos das TIC e

a constituição de redes de construção coletivas, nas quais professores e alunos exploram diferentes alternativas para um mesmo problema [4].

O Projeto UCA está atrelado a uma concepção de aprendizagem em rede que possibilita o desenvolvimento de conteúdos por múltiplas conexões entre alunos e pro-fessores da mesma e de diferentes localidades visando a produção de conteúdo, troca de idéias, discussões, entre outras possibilidades [32]. As ferramentas da Web 2.0 são meios adequados para o desenvolvimento da aprendiza-gem em rede, pois representam uma nova forma de utili-zar a Internet, na qual a informação é empregada e avali-ada por outras pessoas que interagem e colaboram com o conteúdo e seus criadores para criar e compartilhar co-nhecimento [21].

Essas práticas são opostas à linearidade da educação tradicional centrada no ensino e nas transferências do conhecimento encontradas atualmente nas escolas. Para Freire [11] "ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou sua cons-trução".

Em 2010, foi iniciada a segunda fase do Projeto UCA, denominada de fase piloto, na qual se situa esta pesquisa. Foram selecionadas 300 escolas públicas, entre elas nove no estado do Ceará. Este trabalho foi realizado em uma escola municipal de Fortaleza, contemplada com o UCA. O conteúdo da formação docente do Projeto UCA englo-ba um módulo que trata exclusivamente sobre as caracte-rísticas e recursos da Web 2.0, dentre eles o Blog, que será discutido na próxima seção.

3 O Blog na Educação

A evolução da Internet e de suas ferramentas possibi-litou uma nova fase para o internauta que passou a ser autor e produtor de suas informações. Essa nova fase ficou conhecida como Web 2.0. Um dos maiores exem-plos dessa evolução são os Weblogs.

Surgidos no final dos anos 90, os Weblogs, mais co-mumente conhecido como Blog, surgiram como um diário virtual para o compartilhamento de pensamentos, relatos e reflexões pessoais. Os primeiros Weblogs exigiam um conhecimento técnico de programação e linguagem HTML para serem criados. Em 1999, foram criados os primeiros aplicativos e serviços de Weblogs, como o

Blogger1. Estes sistemas gratuitos e de baixo custo

facili-taram a disseminação da prática do Weblog, e permitiram que qualquer pessoa pudesse ser um blogueiro (como é chamado o autor de um Blog).

As páginas de um Blog disponibilizam espaços para comentários, permitindo ao leitor dialogar com o autor, concordando, discordando ou acrescentando outros ele-mentos, como links para outros Blog que tratem da mes-ma temática. Esse recurso incentiva a interação entre os usuários, diferenciando o ato de blogar do ato de navegar. Assim, o internauta fica livre para traçar um percurso de leitura próprio que não se baseia somente na escolha dos links disponibilizados pelo autor. Porém, para que essa atuação realmente aconteça, é necessário que o blogar seja uma ação coletiva e construída pelos blogueiros e leitores, que acabam atuando também como autores [30].

Por proporcionar e incentivar a interação e a colabo-ração, os Blogs têm sido usados para diversos fins: pesso-al, corporativo ou de entretenimento.

Atualmente, o Blog também ocupa um lugar de desta-que no contexto educacional, comprovado pelos inúmeros

Blogs com fins pedagógicos. Barbosa e Granado [2]

cor-roboram com essa afirmação dizendo que "se há alguma área onde os weblog podem ser utilizados como ferra-menta de comunicação e de troca de experiências com excelentes resultados, essa área é sem dúvida, a da educa-ção”. Essa troca de experiências tem potencial para fo-mentar a aprendizagem em um contexto de colaboração, conforme comprova a pesquisa realizada por Carmo e Pontes [5]. Os autores destacam que o Blog representa um rico espaço de interação entre os estudantes.

Silva e Albuquerque [33] elencam cinco categorias de

Blogs educacionais: Blog de professores, utilizado para

publicar orientações, textos, vídeos, imagens, animações, referências bibliográficas ou links; Blog de alunos, que funcionam como portfólios reunindo suas produções e que são utilizados pelos professores como instrumentos de avaliação; Blog de instituições educativas, voltados à

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divulgação do trabalho desenvolvido; Blog de projetos educativos, destinados à produção e socialização de co-nhecimentos sobre temas específicos e Blog de grupos de pesquisa, reunindo pessoas de comunidades científicas diversas para interlocução, articulação de suas pesquisas, divulgação, análise de resultados e avaliação de textos.

O Blog também possui outras vantagens educativas significativas para o incentivo à interação e a colabora-ção. Oliveira [29] cita a possibilidade da ferramenta esti-mular o papel do professor como mediador na produção de conhecimento, já que ele tem um papel ativo de insti-gar as discussões por meio de comentários, potenciali-zando a interação entre a classe; incentivar a escrita cola-borativa, a autoria, o pensamento crítico e a capacidade argumentativa; estimular o aprendizado extra-classe de forma lúdica; desenvolver a habilidade de pesquisar e selecionar informações. Pesquisas como a de Kim [22] e Hemmi et al. [20] destacam o potencial do Blog para o senso de responsabilidade relacionado à qualidade das informações escritas no momento que os alunos se tornam autores dos conteúdos postados.

O Blog vem despertando, cada vez mais, a atenção de pesquisadores que buscam em suas características, poten-cialidades para a educação. Gomes [13], por exemplo, desenvolveu um estudo para sistematizar um conjunto de possíveis vertentes de exploração do Blog no contexto escolar, usando uma abordagem que explora as possibili-dades do Blog como recurso e como estratégia pedagógi-ca. Segundo a autora, enquanto recurso pedagógico o

Blog pode ser: um espaço de acesso a informação

especi-alizada ou de disponibilização de informação por parte do professor. Já, enquanto estratégia pedagógica, o Blog pode assumir a forma de um portfólio digital, um espaço de intercâmbio e colaboração, um espaço de debate e integração.

Gutierrez [18] e Richardson [31] listam os seguintes motivos para um professor criar um Blog: potencializa a interação entre os alunos; desenvolve o papel do profes-sor como mediador na produção do conhecimento; incen-tiva a autoria, o pensamento crítico e a capacidade argu-mentativa dos alunos; explora o conteúdo e o hipertexto; estimula o aprendizado extra-classe de forma lúdica; impulsiona o exercício do diálogo entre alunos e profes-sores. Marinho et al [25] acrescentam um novo motivo: criar um Blog é uma boa estratégia para um professor inserir-se de forma ativa na rede, iniciando sua cultura de uso de recursos da Web 2.0 e assim sentir-se mais confor-tável para aplicá-lo juntos aos alunos.

Ainda há poucos estudos empíricos acerca do uso do

Blog na escola, especialmente no que se refere ao seu uso

por professores. O presente estudo investigou de que forma os professores de uma escola participante do Proje-to UCA se apropriaram do Blog, como ferramenta peda-gógica. Na próxima seção detalhamos a metodologia

utilizada no estudo.

4 Metodologia

O estudo foi desenvolvido durante os meses de feve-reiro e março de 2011 e julho de 2013 com três professo-ras polivalentes do ensino fundamental: duas professoprofesso-ras do 4º ano e uma professora do 5º ano, as quais denomi-namos, respectivamente, de professoras A, B e C, de uma escola municipal de Fortaleza contemplada com o Projeto Um Computador por Aluno (UCA). A pesquisa teve co-mo objetivo investigar os avanços e dificuldades destas professoras na apropriação e uso pedagógico do Blog em suas práticas pedagógicas.

A abordagem metodológica adotada foi a pesquisa qualitativa. De acordo com Flick [9] e Bogdan e Biklen [3], esse tipo de pesquisa propõe compreender o processo pelo qual os sujeitos realizam alguma ação.

Entre as principais características da pesquisa qualita-tiva destaca-se o maior interesse dos investigadores pelo processo do que pelos resultados ou produtos [3]. A pes-quisa qualitativa explicita a importância do acompanha-mento do processo para a verificação de como o proble-ma investigado é proble-manifestado em atividades, procedimen-tos e interações cotidianas [12]. O interesse da presente pesquisa foi compreender, descrever e analisar os avanços e dificuldades das professores no entendimento e no uso de Blog.

A estratégia adotada foi o estudo de caso. Ludke e André [24] afirmam que a concepção do estudo de caso não advém de uma visão predeterminada da realidade, mas busca apreender os aspectos ricos e imprevistos de uma determinada situação. Esses autores elencam as ca-racterísticas principais de um estudo de caso: visam à descoberta; enfatizam a interpretação em contexto; bus-cam retratar a realidade de forma completa e profunda; usam uma variedade de fontes de informação; revelam experiência vicária e permitem generalizações naturalísti-cas; procuram representar os diferentes pontos de vista presentes numa situação social; e utilizam uma linguagem e uma forma mais acessível do que os outros relatórios de pesquisa.

Para Bogdan e Biklen [3], o estudo de caso pode ser concebido como um funil em que o início do estudo é sempre a parte mais larga. Mas que, quando aprofundado, envolve um ou poucos sujeitos. Mesmo abrangendo pou-cos sujeitos, esse tipo de pesquisa pode revelar dados universais, como explica Chizzotti [6]: “o estudo de caso não visa generalizações, mas um caso pode revelar reali-dades universais, porque, guardadas as peculiarireali-dades, nenhum caso é isolado, independente das relações sociais que acontecem.”

A seleção dos sujeitos foi realizada pela disponibili-dade e interesse apresentados por eles durante os contatos

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prévios antes da Oficina e, principalmente, durante a realização da Oficina. Outro critério utilizado foi a sele-ção de professores que tivessem um mínino de conheci-mento sobre o uso de um computador, por exemplo, que conseguissem manusear o mouse, digitar no teclado, saber usar os navegadores da Internet e entender alguns co-mandos e símbolos padrões, como o fechar (representado pelo “x”), minimizar e maximizar. Desta forma, no curto espaço de tempo que dispusemos, podíamos desenvolver mais ações voltadas para o uso instrumental e pedagógico do Blog pelos docentes investigados.

A pesquisa foi composta por cinco momentos distin-tos: 1) Identificação dos conhecimentos prévios das pro-fessoras acerca do Blog, tendo em vista conheceremos se já haviam utilizado a ferramenta e se fazia parte de suas práticas pedagógicas.

2) Realização de uma oficina sobre criação e utiliza-ção pedagógica de Blogs. A Oficina aconteceu no labora-tório de informática da escola durante dois dias, com carga horária total de 6 horas, e aliou tanto aspectos teó-ricos como: a apresentação de características do Blog (interação, produção, colaboração e autoria) e algumas possibilidades para seu uso pedagógico, quanto aspectos práticos como o acesso ao site Blogger e a criação de um

Blog pedagógico por cada uma das professoras.

3) Acompanhamento pedagógico das três professoras no planejamentos da aulas (elaboração dos objetivos da aula e organização do Blog para alcançá-los, aliados a momentos de apropriação tecnológica). Esses encontros com as professoras selecionadas para acompanhamento pedagógico surgiram após a oficina e envolveram uma maior apropriação do acesso e funcionalidades do Blog, o que não foi possível durante a oficina pela falta de tempo disponibilizado.

Os acompanhamentos pedagógicos foram intercalados com o planejamento de aulas usando esse recurso. Esses planejamentos surgiram a partir de sugestões nossas e de ideias das professoras, sujeitos da pesquisa, baseados em conteúdos do livro didático das séries trabalhadas. Duran-te essa etapa, observamos o uso do Blog pelas professo-ras, analisando se e como o conhecimento acerca desse recurso foi modificado.

4) Realização de aulas experimentais com o uso do

Blog por meio do laptop educacional. Nessa etapa

obser-vamos a atuação das professoras em aulas experimentais, analisando como utilizam a ferramenta Blog e como se comportam em relação aos alunos.

5) Follow-up do uso e do não-uso do Blog pelas pro-fessoras. Nessa etapa buscamos acompanhar o uso do

Blog e o avanço das professoras investigadas na

apropria-ção dessa e de outras ferramentas dois anos após a reali-zação da formação.

Os dados foram coletados por meio de observações realizadas durante a Oficina, acompanhamentos

pedagó-gicos e aulas, com o intuito de observar as mudanças na compreensão do uso pedagógico do Blog pelas docentes; e entrevistas semi-estruturadas feitas com as professoras antes da Oficina e ao final das aulas acerca do uso desta ferramenta em sua prática pedagógica.

Os instrumentos de coleta de dados utilizados nesse trabalho – entrevistas e observações (diário de campo e gravação de áudio) – são descritivos. Esse tipo de materi-al é rico em detmateri-alhes e pode ser usado para subsidiar afirmações ou esclarecer pontos de vista [24].

A observação é uma técnica de coleta de dados carac-terística da abordagem qualitativa que atualmente ocupa uma posição de destaque na pesquisa educacional. Ludke e André [24] explicam a relevância da observação afir-mando que ela “possibilita um contato pessoal e estreito do pesquisador com o fenômeno pesquisado. [...]. Além disso, as técnicas de observação são extremamente úteis para ‘descobrir’ aspectos novos de um problema.”

Juntamente com a observação, a entrevista representa um dos instrumentos principais de coleta de dados dentro da perspectiva da pesquisa qualitativa. A grande vanta-gem da entrevista em relação a outras técnicas é que ela possibilita angariar de forma imediata e corrente a infor-mação desejada [24]. A entrevista também proporciona uma maior veracidade aos fatos pesquisados, já que, ela nos oportuniza “recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvol-ver intuitivamente uma idéia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo” [3].

Passadas as etapas de investigação, realizamos a aná-lise dos dados, constituindo um "processo de busca e de organização sistêmica de transcrição de entrevistas, de notas de campos e de outros materiais que foram sendo acumulados, com os objetivos de aumentar a sua própria compreensão" [3]. Em seguida, fizemos uma triangulação desses dados, ou seja, cruzamos os mesmos para uma maior validação dos dados coletados. Na próxima seção detalhamos os resultados que emergiram da análise.

5 Resultados

Na presente seção, apresentamos os resultados alcan-çados durante o processo de investigação da pesquisa. O caminho percorrido em busca dos objetivos especificados compreende a identificação dos conhecimentos e usos prévios do Blog pelas professoras investigadas; as mu-danças em seus usos instrumentais e pedagógicos surgi-dos durante a Oficina; os momentos de acompanhamento pedagógico; a realização de aulas experimentais, e o acompanhamento do uso ou não-uso do Blog e o avanço das professoras investigadas na apropriação dessa e de outras ferramentas.

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5.1. Identificando os conhecimentos e usos

prévios

Buscando identificar os conhecimentos prévios das professoras acerca do Blog, indagamos se já haviam utili-zado a ferramenta, se fazia parte de sua prática pedagógi-ca, se já haviam criado algum Blog. As professoras A e B relataram que consultavam e liam Blog educativos, mas que nunca os haviam utilizado em sala de aula, enquanto que a professora C disse que acessa Blog para retirar sugestões de atividades que possam ser usadas nas aulas:

Sempre que eu faço busca de atividade, arte principal-mente, eles são maiores e eu não posso ficar dando figu-rinha para eles pintarem, então hoje mesmo a gente trabalhou Romero Brito, eu já tirei de um Blog. Aula passada a gente trabalhou sobre bonsai, também tudo eu tirei de um Blog. Tanto tiro a parte teórica do assunto como eu tiro sugestões de atividades. (Professora C, Entrevista, 23/11/2010).

As três professoras disseram nunca terem criado um

Blog pelos seguintes motivos: a professora B considerava

que criar um Blog é uma tarefa difícil e ainda distante de sua realidade e que por isso somente os acessava: "criar não, eu só faço olhar, às vezes a gente abre aquele site e tem a indicação daquele Blog, aí eu dou uma olhada" (Entrevista, 02/02/2011). Concordando com o pensamen-to da professora B, a professora A afirmou que nunca havia pensando em criar um Blog. Já a professora C reve-lou ainda não ter criado um por ter receio dele não ficar igual aos que conhece: "nunca criei, mas para criar eu acho que é fácil, mas eu queria o meu assim lindo e mara-vilhoso igual aqueles outros que o cursor não é o cursor, sabe, eu acho tão lindo" (Entrevista, 23/11/2010).

Nas falas das professoras percebemos que elas conhe-cem o que é um Blog, mas que ainda o utilizam seguindo as características da Web 1.0, ou seja, como consumido-ras de informações especializadas sobre educação, desco-nhecendo as possibilidades de seu uso como "estratégia pedagógica" [14]. Além da falta de conhecimento acerca das potencialidades pedagógicas, percebemos a ausência de conhecimentos técnicos para utilizar a ferramenta.

Os depoimentos expostos acima foram mais bem compreendidos durante a Oficina, quando observamos que as três professoras não somente apresentam variados níveis de apropriação tecnológica, como diferentes domí-nios instrumentais do computador, que refletem na inse-gurança em usar uma tecnologia como o Blog, considera-da por elas como mais sofisticaconsidera-da.

5.2. Mudanças na percepção docente acerca

do uso instrumental e pedagógico do

Blog

Na Oficina, cada professora criou um Blog com faci-lidade, ao seguir os passos descritos no próprio Blogger e contando com a nossa orientação (ver figuras 1 e 2). Após criarem um Blog partiram para a elaboração de sua pri-meira postagem. Neste momento, as professoras A e B se restringiram a escrever o texto e a tentar inserir uma ima-gem, tarefa que a professora B achou "a mais difícil" durante a formação, enquanto que a professora C foi além ao realizar duas postagens e ao mudar o design do plano de fundo, a fonte e as cores do texto da postagem.

As três professoras comentaram ter gostado de usar a ferramenta e ficaram satisfeitas por terem conseguido criar um Blog, fato que desmitificou para as professoras A e B que era difícil criá-lo. “Adorei! Foi superfácil. Consegui criar meu Blog!” (Diário de campo, 05/02/2011), disse a professora B, enquanto a professora A achou que foi “fácil” e “interessante” criar um Blog (Diário de campo, 05/02/2011).

Figura 1: Blog criado pela professora A.

Figura 2: Blog criado pela professora B.

Ao contrário das outras duas professoras, a professora C não demonstrava preocupação em criar um Blog e sim em conseguir modificá-lo. Ela tinha receio de não conse-guir deixá-lo com queria: com as cores e os efeitos que havia visto em outros Blog educativos. Perseguindo esse objetivo, ao final do primeiro dia da formação, ela já

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estava perguntando acerca de funções mais específicas e sofisticadas da ferramenta, tais como: mudar o endereço do Blog, pois, queria colocar o mesmo do título interno; colocar sua foto e descrever seu perfil; e de que forma poderia seguir o Blog das outras professoras. A partir de suas dúvidas, mostramos os locais no Blog onde poderia realizar tais ações.

No segundo dia da oficina, visualizamos que o Blog dela já estava totalmente diferente do que foi criado inici-almente. Ela comentou que quando estava praticando em casa havia modificado o design do plano de fundo (ver figuras 3 e 4). Em entrevista após a oficina, ela comentou: “O Blog era uma coisa que eu conhecia, mas eu nunca imaginei assim, eu achava que criar Blog era fácil, eu achava que difícil era colocar todo o resto, layout, mas acho que tudo é uma questão da gente começar e ter von-tade de continuar” (Entrevista, 11/02/2011).

Figura 3: Blog criado pela professora C.

Figura 4: Postagem com imagem e links no Blog da Professora C.

Durante a oficina, também falamos sobre os cinco ti-pos de Blog educacionais elencados por Silva e Albu-querque [33] e acessamos exemplos dos mesmos na

In-ternet. Aproveitamos esse momento para comentar sobre

algumas sugestões de atividades pedagógicas que utilizam a ferramenta como: espaço para reflexões e perguntas, onde os os alunos possam se posicionar sobre as posta-gens ou comentários; espaço para a realização de histórias coletivas (contos, peças, entre outros) onde a turma intei-ra se envolve com o desenvolvimento; local paintei-ra registintei-rar e comentar atividades realizadas durante as aulas com a inserção de fotos e áudios (entrevistas, relatos), produzi-dos pela câmera do próprio laptop educacional do Projeto UCA.

Além disso, apresentamos algumas formas de intera-ção permitidas pela ferramenta Blog, como: a possibilida-de possibilida-de adicionar alguém como autor ou administrador para realizar postagens; a função dos comentários existente em cada postagem; e a possibilidade de elaborar uma posta-gem multimídia com vídeo, imagens e hiperlinks.

No momento seguinte, propomos às professoras a se-guinte reflexão: "Como eu, professor, poderia incorporar essa ferramenta em minha prática pedagógica?" e pedi-mos que cada uma elaborasse uma proposta de uso peda-gógico do Blog.

A professora A teve a ideia de criar um Blog que in-centivasse a leitura dos alunos que, segundo ela, é uma das maiores deficiências dos alunos do quarto ano. Ela postou um texto do Mário Quintana e disse que iria postar outros posteriormente para que os alunos lessem. "A minha ideia é assim incentivar a leitura, criar um [Blog] que eles possam sentir vontade de ler, o nome é 'Para ler e gostar é só começar', eu estou vendo aqui, estou tentando concretizar essa idéia, né" (Professora A, Informação verbal gravada e transcrita no Diário de campo em 05/02/2011). Enquanto que a professora B pensa em utilizar o Blog para expor idéias de trabalhos manuais que faz individualmente e atividades realizadas em sala de aula com os alunos.

Eu quero fazer um Blog voltado para desenho e pin-tura, porque eu gosto muito de trabalhos manuais, eu gosto de trabalhar com sucata, eu até fiz uns fantoches que eu trouxe, então eu quero dar essas ideias, sabe, eu quero botar isso no meu Blog, e também trabalhos reali-zados com os meninos, com os alunos, em sala de aula, e como é importante a gente valorizar o trabalho deles, como eles se sentem importantes, então é isso que eu vou fazer no meu Blog (Professora B, Informação verbal

gravada e transcrita no diário de campo em 05/02/2011). Já a professora C elaborou um Blog voltado para as suas turmas atuais e futuras de quinto ano, contendo as-suntos que estavam sendo abordados em sala de aula e eventos que haviam participado na escola, como ela pró-pria explica:

Eu estou pensando em fazer o Blog da 5° série, mes-mo que essa quinta sala tem a outra quinta e continuar o Blog, a gente pensa em colocar os meninos também como autores colaboradores, que eles vão poder postar, então assim, para os meninos colaborarem colocando posta-gens e não só os comentários, né, a gente fazer as ativi-dades e servir como editor de texto, né, para eles escre-verem, que já são maiores se interessam, e na hora que eles forem vendo postagens com as fotos deles, eles vão se achar bem valorizados, podemos fazer texto coletivo, e eu já andei olhando tem muito [Blog] que você faz testes, teste de honestidade, então dá pra você usar como ativi-dade. Eu tô colocando de acordo com o planejamento, o planejamento deste mês, a honestidade já fiz, já coloquei aquela lenda da flor, aquela lenda japonesa, coloquei

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com a foto da rosa, para quando verem o Blog eles pos-sam remeter ao que a gente está trabalhando na sala, para que eles falem sobre o tema, aí depois que ele lerem a história, tem uma reflexão final. (Professora C -

Infor-mação verbal gravada e transcrita no diário de campo em 05/02/2011).

Observamos que as três professoras propuseram dis-tintos usos pedagógicos para os seus Blogs. A professora A enfatizou que o seu objetivo principal era o de estimu-lar a leitura, porém, demonstrou que ainda não sabia exatamente como propor isto utilizando os recursos do

Blog.

A professora B mostrou mais clareza ao comentar sua proposta, entretanto, revelou possuir um olhar ainda tra-dicional e limitado do uso pedagógico do Blog, ao colo-car-se como a única autora de conteúdo do mesmo.

A professora C propôs um uso que reflete os conceitos de interação, autoria e colaboração pregados pela Web 2.0, vislumbrando que tanto ela quanto os alunos serão produtores do conteúdo exposto no Blog.

Consideramos que, por ainda não conseguiram vis-lumbrar e se apropriar da maioria das funções que a fer-ramenta oferece, as professoras A e B se restringiram a usar o Blog como recurso pedagógico, quando é destina-do a ser um espaço de acesso a informação especializada ou um espaço de disponibilização de informação por parte do professor [13]. Neste momento, constatamos que mesmo reconhecendo o Blog como um local onde se pode produzir conteúdo, as professoras não conseguiram idea-lizar os alunos também como participantes e possíveis autores, colocando-os na posição de receptores e consu-midores, ou seja, utilizando uma ferramenta da Web 2.0 como qualquer outro recurso da Web 1.0.

Já a professora C, por ter conseguido se apropriar da ferramenta, conseguiu visualizar outras possibilidades pedagógicas juntos aos alunos, por meio da utilização de funções disponíveis no Blog, como comentários e enque-tes.

Avaliando a oficina, observamos que ela possibilitou duas mudanças principais: 1) A ação de criar um Blog, escolhendo o layout e o que seria postado possibilitou que as professoras atuassem como produtoras de conteú-do e se vissem na posição de autores, já que, quanconteú-do se trata de ferramentas e softwares educativos “(...) é raro os professores participarem, por exemplo, do processo de criação” [17]; 2) A desmistificação da criação e a utiliza-ção do Blog pelas professoras, ao vivenciarem a facilida-de do uso facilida-desta ferramenta, que não exige do usuário conhecimento de linguagens de programação ou um sofis-ticado domínio instrumental para realizar as suas ativida-des principais, no caso, a elaboração de postagens. A oficina serviu como um momento inicial de apropriação tecnológica para o uso do Blog, possibilitando que as professoras identificassem algumas de suas funções

bási-cas.

Durante a oficina também queríamos incentivar e en-fatizar junto as professoras a importância de se apropriar do laptop educacional. Desta forma, antes da sua realiza-ção, solicitamos que elas trouxessem seus laptops, pois era preferível praticar na própria máquina, já que esse é o computador os quais os alunos têm acesso.

Ao saber da nossa proposta, a professora do laborató-rio de informática comentou que era preferível usar os computadores do laboratório, argumentando que seria mais fácil para elas se apropriarem do Blog em um com-putador com um processador mais veloz e com uma tela maior que possibilitasse uma visão melhor das funções da ferramenta.

As docentes investigadas alegaram esses mesmos mo-tivos e preferiram usar os computadores do laboratório. A resistência ao uso do laptop durante a oficina nos fez constatar que apesar das várias facilidades trazidas pela máquina, como: a mobilidade, acesso à Internet e promo-ção de letramentos multimidiáticos, algumas limitações tanto de software (velocidade) quanto de hardware (ta-manho da tela) desestimulavam o seu uso em momentos de apropriação tecnológica.

Apesar da resistência para utilizar a máquina, consta-tamos que esse obstáculo somente foi imposto pelas pro-fessoras durante a Oficina, como veremos adiante, mas que a mesma dificuldade não surgiu quando o laptop foi usado durante a aula com os alunos.

No entanto, como comenta Cysneiros [7], uma coisa é ensinar uma pessoa a usar o computador, outra é ensiná- la a usá-lo em contextos educacionais com os objetivos de ensinar e aprender. Desta forma, constatamos não somen-te a necessidade de uma continuação da apropriação somen- tec-nológica do Blog, mas também de um acompanhamento pedagógico que possibilite a realização de planejamentos de aulas que o utilizem como um meio que auxilie o pro-cesso de ensino-aprendizagem.

Após a Oficina, agendamos com as três professoras encontros para continuarmos a apropriação tecnológica do Blog. Nestes momentos as professoras A e B publica-ram postagens com textos e imagens que seriam comenta-das pelos alunos em sala, além de inserirem uma lista de links, outra funcionalidade do Blog.

Durante o acompanhamento pedagógico que teve du-ração de cerca de um mês desde a oficina até a realização das aulas, observamos que estas duas professoras avança-ram no domínio instrumental da feravança-ramenta ao consegui-rem realizar por conta própria as seguintes ações: acessar o Blog, realizar uma postagem com texto e imagem, es-crever comentários sobre estas postagens e inserir uma lista de links de sites educativos.

Enquanto que foi necessário realizar este trabalho de apropriação com as professoras A e B, tivemos poucos encontros com a professora C para que pudéssemos

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apre-sentar algumas funções, como a inserção de lista de links e enquete, no entanto, ela descobriu novas funções ao explorar o Blog por conta própria. Durante e após a ofici-na, a professora C preparou o Blog elaborando mais pos-tagens, adicionando links, imagens animadas, conhecidas como gifs; enquete, um espaço para recados, e realizou uma aula experimental cinco dias depois. Essa foi a pri-meira aula da escola na qual os alunos utilizaram um

Blog.

Depois desta aula, a professora C continuou incremen-tando o Blog do quinto ano, mudando o plano de fundo e inserindo novas funções para que o Blog ficasse ainda mais atrativo aos alunos. A dedicação ao Blog foi tanta que ele ficou conhecido por todos da escola, ao ponto de, outras professoras a procurarem pedindo ajuda com os seus. Entre essas professoras estavam as professoras A e B, que pediram ajuda da professora C para incrementar os

Blog antes das aulas com o quarto ano (ver figuras 5 e 6).

Figura 5: Blog da professora A depois das mudanças.

Figura 6: Blog criado pela professora B depois das mudanças.

Durante o acompanhamento pedagógico, quando rea-lizamos encontros com estas duas professoras para plane-jar as aulas com o Blog, ambas sugeriram uma nova proposta que contava com a participação dos alunos. Essas mudanças foram influenciadas tanto por sugestões da professora do laboratório, que aconselhou a criação de

Blogs voltados para as turmas do 4º ano, quanto pela aula

experimental com o uso do Blog realizada pela professora C, que aconteceu logo após a oficina.

Como comentamos anteriormente, as três professoras possuem níveis de habilidades distintos ao usar o compu-tador. Enquanto que as professoras A e B ainda estão se

apropriando não só do Blog, como do laptop, a professo-ra C já utilizava o laptop diariamente paprofesso-ra acessar e reali-zar publicações no Blog. No entanto, as professoras A e B usaram, basicamente, computadores do laboratório de informática e notebooks pessoais para realizarem as pro-duções e as publicações dos Blogs.

Durante as aulas, contudo, as duas primeiras professo-ras, auxiliadas por nós e pela professora do laboratório de informática, não apresentaram dificuldades para orientar os alunos sobre como acessar o Blog por meio do laptop educacional, e indicar onde eles podiam escrever os co-mentários, porém, tiveram dúvidas sobre como publicá-los. A professora C não apresentou dúvidas durante aula, demonstrando segurança ao utilizar e explicar como os alunos deveriam utilizar as funções enquetes, comentários e links.

Durante a oficina, apresentamos algumas possibilida-des pedagógicas do Blog, entre elas sugestões de ativida-des voltadas para o estímulo da escrita e leitura, já que o

Blog é considerado como uma potencial ferramenta

peda-gógica por incentivar, particularmente, o exercício da leitura e escrita pelo aluno [30], que tem a possibilidade de expor seu texto, antes restrito ao caderno ao qual so-mente ele e o professor têm acesso. Essa forma de utiliza-ção da ferramenta despertou a atenutiliza-ção das professoras, que destacaram, exatamente, a escrita e a leitura como uma das principais dificuldades dos seus alunos do 4º e 5º anos.

A professora C manifestou que já havia acabado o conteúdo programático curricular a ser cumprido e que, após os alunos terem visto uma grande quantidade de temáticas sobre matemática para a preparação do SPAE-CE (Sistema Permanente de Avaliação da Educação Bási-ca do Estado do Ceará), queria exercitar mais a escrita e a leitura e que o Blog poderia ser uma adequada ferramenta para estimular tais práticas, já que os alunos leriam e comentariam as postagens. Já as professoras A e B ainda tinham conteúdos a abordar, entre eles um texto do livro didático chamado “Como deixar seu Blog campeão de visitação”, portanto, perceberam que a aula com o Blog seria uma ótima oportunidade para que soubessem o que é um Blog na prática e não somente na teoria.

Neste momento, constatamos a preocupação das três professoras tanto em trabalhar as dificuldades mais recor-rentes dos alunos, como em associar o uso do Blog ao conteúdo como uma ferramenta integrada ao currículo e não como uma atividade isolada. Essa visão também é compartilhada por Grosseck, Marinho e Tárcia [16], quando afirmam que “(...) as novas tecnologias devem ser introduzidas no currículo de maneira adequada e não por uma simples eleição.”

Desta forma, as três professoras realizaram aulas utili-zando o Blog por meio do laptop educacional tendo em vista despertar nos alunos o interesse pela leitura e pela

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escrita, ao disponibilizarem postagens sobre atividades feitas em sala de aula e eventos acontecidos na escola e por meio da elaboração de comentários sobre estas posta-gens. Para isso utilizaram algumas estratégias para atrair a atenção dos alunos e envolvê-los na atividade: 1) Inseri-ram imagens, links, enquetes, e um novo design mais colorido do plano de fundo, 2) Publicaram postagens que abordavam atividades feitas pelos alunos e eventos ocor-ridos na escola.

A perfomance do laptop educacional durante as aulas foi regular, alternando momentos de rápido acesso dos

Blogs e links disponíveis, visualização de vídeos,

partici-pação em enquetes e postagem de comentários pelos alunos com momentos de lentidão devido ao grande nú-mero de pessoas acessando simultaneamente a Internet, o que diminuiu a velocidade da conexão da rede wireless.

Ao final das aulas, realizamos entrevistas com as pro-fessoras objetivando identificar o que o uso do Blog agre-gou aos alunos e se o objetivo proposto para a aula foi atingido. A professora C destacou a leitura e a escrita com uma das principais vantagens do uso da ferramenta.

A questão da escrita e da leitura foi assim algo que a gente mais conseguiu atingir, a gente pode ver alguns erros de ortografia e de concordância que eles mais cometem para eles mesmo se corrigirem ou até mesmo a gente imprimir uma página para a gente corrigir em grupo, ver os erros mais comuns e ir lá no Blog de novo e consertar (Entrevista, 10/02/2011).

Na fala da professora C percebemos a preocupação com a escrita correta dos alunos. Deparando-se com os erros apresentados pelos alunos durante a escrita dos comentários, a professora C pediu que eles escrevessem o texto antes em um papel ou a mostrassem no laptop para que ela pudesse corrigi-lo antes de ser publicado.

A professora A também concordou com a ideia de que a escrita do Blog deve ser mais formal, já que estará dis-ponível podendo ser vista por muitas pessoas, e acrescen-tou que eles terão quer ler para conseguir comentar algo coerente a cada postagem. “Para eles puderem participar eles vão ter que ler, então, está desenvolvendo a leitura e também a criatividade, e também a parte de escrita” (En-trevista, 18/03/2011).

Corroborando a opinião da professora A, a professora B comentou que a indispensabilidade da leitura acabaria despertando nos alunos uma consciência sobre o conteú-do e a qualidade conteú-dos comentários. “Acho que realmente favorece a aprendizagem porque eles vão ter que ler, ver o que eles estão escrevendo e ter a consciência que eles não podem escrever tudo nem de qualquer jeito” (Entre-vista, 18/03/2011).

A questão da escrita também acabou gerando uma si-tuação inusitada: durante a aula do 5º ano da manhã, um

aluno começou a rir de um colega ao ler seu comentário e identificar a palavra “legal” terminada com a vogal “u”. Ao perceber a situação, a professora C usou o erro para incentivar que o aluno ajudasse o que havia escrito a palavra de forma errada.

Desta forma, ao mesmo tempo em que ela estimulou a cidadania entre os alunos, também percebeu que pela primeira vez eles estavam tendo a oportunidade de ler o texto uns dos outros, realizando correções nos textos dos colegas: “Eles vendo os erros uns dos outros eu achei isso também muito legal, “ah colocaram o legal sem o l, colo-caram o legal com u” e o outro escuta e já sabe que não é com u é com l, é diferente de você estar corrigindo. Quando você corrige ele olha a nota ele não vai olhar o que errou” (Entrevista, 10/02/2011).

Essa situação comprova a força da inteligência coleti-va do ciberespaço, em que quanto mais as informações são compartilhadas “mais inteligente e politicamente consciente uma sociedade deve ficar” [23]. Ou seja, ao compartilharmos nossas produções, fornecemos informa-ções e também podemos receber sugestões e críticas.

O incentivo à participação também foi demonstrado pela postura das professoras em sala de aula ao estimula-rem, a todo o momento, a produção dos alunos, de dive-sas formas.

A professora C percebeu que os alunos estavam lendo os textos, mas não sabiam ao certo o que deveriam co-mentar em cada postagem e, portanto, limitavam-se a escrever mensagens para a professora ou simplesmente manifestavam que haviam achado o texto “legal” ou “bom”. Para estimular a escrita, a professora começou a sugerir algumas temáticas que poderiam ser abordadas em cada postagem. Por exemplo: na postagem sobre o filme "RRRrrrr!!! Na idade da pedra" ela orientou que eles comentassem qual parte gostaram mais, o que acharam engraçado e que sugerissem outros filmes.

As professoras A e B apenas solicitaram que os alunos lessem e comentassem as postagens, mas não orientaram quais temas deveriam ser enfocados, o que gerou comen-tários menos aprofundados. Observamos que a postura destas professoras reflete o estágio inicial de apropriação tecnológica. Elas não conseguiram perceber essa dificul-dade dos alunos, pois estavam concentradas em fazê-los ler as postagens e escreverem algo nos comentários. Já a professora C conseguiu ver além do uso inicial da ferra-menta, propondo novas formas de interação por meio do enfoque em subtemas acerca dos temas centrais das pos-tagens. Dessa forma, percebemos que a mediação peda-gógica do professor é imprescindível para o uso da tecno-logia na educação, principalmente, quando se trata de recursos em que o aluno encontra-se na posição de autor.

A mediação da professora C se mostrou fundamental quando estimulou que os alunos comentassem as

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posta-gens uns dos outros, configurando a proposta de colabo-ração oferecida pelo Blog. Segundo Gomez [15], a cola-boração acontece quando os alunos são estimulados a convergir suas postagens para um mesmo local, constru-indo seus conhecimentos em torno de um tema. A profes-sora C destacou a colaboração possibilitada pelo Blog com um dos aspectos que mais lhe chamou atenção du-rante a aula: (...) talvez se a atividade fosse no livro ou no caderno eles não estariam tão envolvidos como eles esta-vam, onde é que a gente viu um querendo comentar da tarefa do outro? “ah, o quê que tu colocou na questão tal” “ah, que legal, na minha questão tem isso”, não tem, cada um faz o seu, o mais rápido que pode para terminar (En-trevista, 10/02/2011).

Outro momento de colaboração aconteceu quando a professora A foi auxiliar uma aluna a publicar um comen-tário, mas não conseguiu e pediu ajuda a uma segunda aluna. Percebemos por esta ação que a docente observou que podia aprender mais sobre a ferramenta interagindo e colaborando com os próprios alunos. Valente [34] co-menta que fazer parcerias com os alunos, pedindo ajuda no que os jovens conhecem mais, é a postura que o pro-fessor deve ter ao usar as tecnologias para a Educação.

Nas aulas do Blog cada aluno teve autonomia para es-crever comentários sobre qualquer uma das postagens expostas na ferramenta e também possuía acesso aos comentários dos outros colegas. O bom uso dessa auto-nomia proporcionada pelo recurso impressionou a profes-sora C: “Eles tinham autonomia, ninguém copiou o co-mentário de ninguém, na tarefa você vê que um copia a tarefa do outro” (Entrevista, 10/02/2011).

Essa fala demonstra que quando somente a professora lê e corrige a “tarefa”, os alunos não se importam em copiar a resposta uns dos outros, mas quando a “tarefa” está exposta para todos na Internet e tem como principal identificação o nome de quem a fez, o interesse e a res-ponsabilidade do autor aumenta.

Quanto às desvantagens no uso do Blog em sala de au-la, a professora B comenta que os obstáculos encontrados não estão relacionados com a ferramenta em si, mas com a falta de apropriação do recurso. “O meu problema é porque a gente ainda tá se apropriando do recurso, se apropriando desse tipo de recurso na sala de aula, a difi-culdade que eu tenho ainda é essa, que eu ainda não tenho essa habilidade nesse tipo de recurso” (Entrevista, 18/03/2011). No entanto, ela complementa seu relato dizendo que quanto mais segurança tiver em usar a ferra-menta, melhor poderá empregá-la com os alunos.

Percebemos pela fala da professora B que ela possui interesse em continuar usando o Blog, mas que para isso precisará passar por novos momentos de apropriação tecnológica. Daí, constatamos a necessidade de forma-ções contínuas que estimulem esses usos. A professora também recomenda que no próximo ano letivo o Blog seja utilizado desde o começo das aulas para que no

de-correr do semestre tanto ela quanto os alunos possam estar mais familiarizados com a ferramenta.

Para a professora C, não há desvantagens em usar a ferramenta em sala de aula, “a não ser que eles comecem a comentar entre eles mesmos e aparece algum comentá-rio que não seja de acordo com o que a gente está espe-rando” (Entrevista, 11/02/2011). Porém, ela afirmou que até o momento isso não aconteceu.

Nas entrevistas realizadas ao final das aulas, também visamos identificar as percepções das professoras acerca dos avanços nas habilidades de uso do Blog. A professora C disse que percebeu sua melhora, mas que ainda tem muito que aprender. "Eu não estou dominando 100%, mas a gente vai descobrindo aos pouquinhos." (Entrevista, 10/02/2011). O depoimento exposto acima não traduz os grandes avanços instrumentais e pedagógicos que esta professora conquistou desde a Oficina. Antes deste mo-mento, ela nunca havia criado um Blog ou utilizando-o na função de "proprietária". No dia da aula, ela presenteou os alunos com um novo espaço de aprendizagem com vários atrativos tanto em relação ao visual quanto às op-ções de interação disponibilizadas.

A percepção da professora A retrata avanços na utili-zação do Blog como ferramenta pedagógica em sala de aula. "Eu estou mais tranquila, acho que se não tiver ninguém comigo eu já consigo dar uma aula usando a ferramenta [o Blog]" (Entrevista, 18/03/2011).

Mas, mesmo considerando o relato da professora A e testemunhando seu avanço percebemos que os passos dados no uso do Blog ainda são iniciais e que para uma maior evolução na habilidade com esta e outras ferramen-tas da Web 2.0, outras formações serão necessárias e essenciais para a continuidade das aulas com estes recur-sos. Esta constatação está alinhada com a percepção da docente B, relatada anteriormente, quando reconhece que ainda está em processo de apropriação do Blog e que esse fato ainda representa um obstáculo para o seu uso em sala de aula, embora reconheça que a prática lhe trará a segu-rança que falta.

Os indícios de avanços das professoras no domínio instrumental e pedagógico do Blog, acompanhados por nós durante a duração desta pesquisa, demonstram que não somente é possível que as professoras se apropriem como utilizem a ferramenta Blog juntos aos alunos. Con-sideramos, no entanto, que mais importante do que as indicações de melhora no domínio instrumental estão o envolvimento e o interesse em aprender a utilizar a tecno-logia como recurso de ensino e aprendizagem.

5.3. Follow-up: o uso e o não-uso do Blog

pelos docentes

Após as primeiras aulas, as professoras A e B conti-nuaram a utilizar o Blog durante o ano de 2011. Porém, ambas as professoras passaram a atuar em outros anos de

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ensino, respectivamente, no 3° e no 1° anos, o que difi-cultou o uso do Blog, dado que ele havia sido pensado para os alunos do 4° ano.

No entanto, ambas as professoras pensam em retomar o uso da ferramenta com suas atuais turmas, de acordo com as especifidades dos alunos. “O Blog está parado, mas estou com vontade de retomá-lo com outro nome, agora voltado para os alunos do 3° ano. ” (Entrevista, 11/07/2013), afirmou a professora A, que pretende conti-nuar realizando atividades que incentivem a escrita dos alunos.

Atuando com estudantes que ainda serão alfabetiza-dos, a professora B pensa em utilizar o Blog para divulgar juntos aos pais dos alunos os trabalhos feitos em sala de aula.

A professora C usou o Blog também em 2012, no en-tanto, substituiu o recurso por outro também provindo da

Web 2.0, o Facebook. A docente alegou que a baixa

velo-cidade na conexão da Internet wireless também dificultou o uso do Blog em sala. “Não usei mais [o Blog] dentro de sala. A conexão da Internet na escola está um caso sério. Os alunos estão muito ligados ao Facebook, já que Mao-mé não vai à montanha, eu fui até eles através do Face” (Entrevista, 18/07/2013).

Ainda segundo ela, a atualização e uso do Blog pelo

laptop é mais complicado, pois a tela pequena não mostra

a configuração completa da ferramenta. Já o Facebook é mais fácil e rápido de atualizar pelo laptop.

Para o uso da rede social em sala, a professora criou uma grupo no qual compartilha informações com os alu-nos.“Criei um grupo fechado no Face onde a gente com-partilha tudo. A agenda do dia é postada para quem não pôde estar presente, dou dicas de filmes para feriados, compartilhamos fotos da turma, projetos, dicas de gibis, livros e falamos de assuntos do momento”. (Entrevista, 18/07/2013).

Segundo ela, os alunos também podem realizar publi-cações, mas as mesmas só aparecem no grupo depois de sua autorização. “É para evitar postagens indevidas. Fa-lamos sobre isso na aula também.” (Entrevista, 18/07/2013).

Os planos futuros da professora para o uso do

Face-book incluem a entrada dos pais no grupo criado. “Estou

trazendo as mães também para o grupo para que elas possam confiar no conteúdo e permitir que eles [alunos] façam e também para que acompanhem a conta dos alu-nos e e possam participar também com dicas, tirar dúvi-das, avisar quando o filho não puder ir à escola, contribu-ir de alguma forma. Muitas trabalham fora, é uma forma de acompanhar”. (Entrevista, 18/07/2013).

Mesmo usando atualmente o Facebook ao invés do

Blog, a professora C afirma que a experiência com esta

última ferramenta contribuiu com sua prática pedagógica e com o aprendizado dos estudantes. “Eles [os alunos]

foram construtores de várias postagens do Blog. Isso deu um impulso para que pudessem também participar mais nas aulas. Através de posts, muitas discussões foram geradas em sala.” (Entrevista, 18/07/2013).

Segundo as professoras A e B, o uso do Blog em sala de aula ocasionou, principalmente, a melhora na escrita e ampliação da comunicação entre alunos e docentes.“Com o Blog os alunos tem mais comunicação com a gente [professores]. Na hora que eles escrevem a gente já vê que eles estão melhorando na escrita, na maneira de falar, dá para a gente ver o progresso dos alunos”

(Pro-fessora A, Entrevista, 11/07/2013). Já a pro(Pro-fessora B comenta que a escrita foi estimulada pela realização dos comentários sobre as postagens. “Foi um novo aprendiza-do, eu trabalhei com os meninos que também utilizaram fazendo comentários. Foi bem produtivo”. (Professora B, Entrevista, 11/07/2013).

Quanto à apropriação instrumental da ferramenta, as professoras A e B afirmam que precisaram de ajuda mais do que auxiliaram outros professores da escola. “As ou-tras professoras foram além do que eu fui no uso do Blog, como a professora da biblioteca, por exemplo.” (Profes-sora A - Entrevista, 11/07/2013).

A professora B comenta que teve ajuda principalmen-te da professora C. “Eu que ia mais atrás de ajuda porque eu tinha mais dificuldade e ia pedir ajuda para a professo-ra C e paprofesso-ra a professoprofesso-ra do laboprofesso-ratório paprofesso-ra colocar ima-gens e gifts no Blog e nas postaima-gens”. (Entrevista, 11/07/2013).

Após a oficina e a realização das aulas, conforme ci-tamos anteriormente, a professora C foi requisitada pelas outras docentes para auxiliar na construção dos Blog. Segundo ela quase todas professoras da escolas solicita-ram algum tipo de auxílio. “Alguns [Blogs] fosolicita-ram feitos 100% por mim outros só contribui com alguns detalhes” (Entrevista, 18/07/2013).

A professora C também ressalta que uma apropriação multiplicadora também aconteceu entre os alunos do 5° ano que começaram a utilizar o Blog da turma dentro e fora de sala de aula e até criaram seus próprios Blog. “Tive alunos que criaram Blog. Eles pediram informação sobre templates, como colocar gifs, trocar a fonte e a cor de textos. Eles usavam como diário virtual.” (Entrevista, 18/07/2013).

Devido as dificuldades de uso das próprias professo-ras, os alunos das docentes A e B não se manifestaram para criar Blog próprios.

A partir desse follow-up, verificamos que, além das dificuldades instrumentais, as mudanças das professoras para outros anos de ensino, assim como as limitações do

laptop educacional e a baixa velocidade da conexão de Internet acabaram prejudicando e desestimulando as

docentes no uso do Blog.

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descritos anteriormente, nos apontam a importância de estimular os professores a continuarem experienciando o uso desta e de outras ferramentas da Web 2.0, seja por meio de formações que oportunizem novos momentos de apropriação tecnológica para que as professoras avancem no uso instrumental, ou mesmo pelo estímulo da apropri-ação multiplicadora que acontece entre os professores e os alunos.

6 Considerações finais

O uso da Web 2.0 na educação, mais especificamente da ferramenta Blog, tem sido objeto de várias pesquisas como vimos anteriormente (13; 14; 33). No entanto, o seu efetivo uso como recurso de ensino e aprendizagem no âmbito escolar depende de alguns fatores que foram iden-tificados durante esta investigação.

Primeiramente, constatamos que as professoras co-nheciam o Blog, mas não o utilizavam como ferramenta pedagógica. Desta forma, a realização da oficina permitiu uma apropriação tecnológica e das potencialidades educa-tivas desta ferramenta. Portanto, se mostrou como uma adequada escolha para instigar a elaboração de propostas de incorporação do Blog em sala de aula.

Os resultados indicam que as três professoras obtive-ram avanços no uso instrumental e pedagógico do Blog. Esses avanços, no entanto, ocorreram de forma heterogê-nea, estando principalmente relacionados ao domínio instrumental prévio do computador. Outras pesquisas [8; 27] corroboram os dados encontrados, ao relatarem a falta de habilidade e conhecimento dos professores no uso do computador como um obstáculo para a aprendizagem em informática educativa.

Quanto à forma de utilização pedagógica do Blog, constatamos que as professoras desejam principalmente que haja a participação dos alunos, identificando-os como personagens ativos.

No follow-up realizado, as professoras reconhecem o potencial de ferramentas da Web 2.0 para promover uma maior motição dos estudantes para o aprendizado. Apesar de termos verificado que duas professoras não deram continuidade, as mesmas constataram que estas ferramen-tas podem ser utilizadas como auxílio pedagógico em sala de aula. Por outro lado, pela entrevista realizada com a professora C, observamos que a oficina proporcionou uma motivação e que ela foi além do Blog, tendo entendi-do que as ferramentas da Web 2.0 podem ser usadas como uma forma de atingir os alunos e motivá-los a aprender. Seja esse alcance por meio do Blog, Facebook, ou outra ferramenta da Web 2.0, constatamos que o fundamental é traçar um caminho para chegar no interesse dos alunos e permitir que eles se expressem de variadas formas.

As demandas da sociedade atual exigem que os do-centes possuam habilidades tecnológicas, no entanto, para que eles possam se apropriar e usar essas tecnologias no cotidiano escolar, os mesmos precisam de condições

adequadas. Daí, constatamos a importância de projetos como o UCA que, mesmo com as fragilidades já relatadas em relação ao laptop e à conexão da Internet, proporcio-nam infra-estrutura paras as escolas e também reconhe-cem a necessidade de formações docentes para o uso pedagógico da tecnologia, como o Blog. Durante estes momentos tão primordiais, os professores têm orientação e tempo tanto para se apropriar melhor destes recursos quanto para pensar em possibilidades de usos pedagógi-cos.

Pesquisas futuras podem realizar um estudo compara-tivo entre escolas contempladas com o Projeto UCA, observando diferenças na utilização de ferramentas da

Web 2.0 por professores da Educação Básica.

Considera-mos, contudo, que o final desse trabalho é apenas o início para novas caminhadas e descobertas que se configuram como os primeiros passos bem-sucedidos de uma longa caminhada para que a filosofia da Web 2.0 seja vivencia-da por professores e alunos.

Referências

[1] M. E. Almeida. Proinfo: Informática e Formação de Professores MEC/SEED, Brasília, Séries de Estudos à Distância, 2000.

[2] E, Barbosa; A, Granado. WeBlog, Diário de Bor-do. Porto Editora, Porto, 2004.

[3] R. C. Bogdan; S. K. Biklen. Investigação Qualita-tiva em Educação: uma introdução à teoria e aos métodos. Portugal: Porto Editora. 1994.

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[5] B. B. T. Carmo; R. L. J. Pontes. Collaborative learning concept implementation through Web.2.0 tools: the case of industrial engineering funda-mentals' discipline. International Journal of Engi-neering Education, v. 29: 205-214, 2013.

[6] A. Chizzotti. Pesquisa qualitativa em ciências humanas e sociais. Vozes, São Paulo, 2006.

[7] P. G. Cysneiros. Novas Tecnologias no Cotidiano da Escola. Curso ministrado na 23ª Reunião

Anual da ANPED – Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Educação. Caxambu,

MG, 2000.

Imagem

Figura 1: Blog criado pela professora A .
Figura 3: Blog criado pela professora C.
Figura 6: Blog criado pela professora B depois das mudanças.

Referências

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