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AVALIAÇÃO DOS ATRIBUTOS DO CUIDADO PRIMÁRIO DE SAÚDE NA PERSPECTIVA DO USUÁRIO

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ISSN 2179-5037

Revista UNIABEU Belford Roxo V.8 Número 18 janeiro-abril de 2015

AVALIAÇÃO DOS ATRIBUTOS DO CUIDADO PRIMÁRIO DE SAÚDE

NA PERSPECTIVA DO USUÁRIO

Ana Carolina Dias de Oliva1 Camila Maria Rodrigues Moura2 Cássio de Almeida Lima3 Fernanda Marques da Costa4 Jucimere Fagundes Durães Rocha5 RESUMO: Problema: No Brasil, vem ocorrendo uma busca da consolidação dos princípios

da Atenção Primária à Saúde, no contexto do Sistema Único de Saúde. Torna-se necessário avaliar os atributos do cuidado primário de saúde a fim de verificar a qualidade dos serviços, com vistas às melhorias que se fizerem necessárias. Objetivo: Avaliar a qualidade do serviço da Estratégia Saúde da Família da cidade de Montes Claros (MG) - Brasil, por meio de escores dos atributos da Atenção Primária à Saúde obtidos a partir da experiência de utilização dos usuários adultos. Método: Pesquisa transversal, descritiva, de abordagem quantitativa. Utilizou-se o Primary Care Assessment Tool (PCATool), aplicado aos usuários residentes e cadastrados nas áreas de abrangência das equipes de saúde da família. Foram atribuídos escores às oito dimensões da Atenção Primária. Resultados: Houve avaliação não favorável dos atributos acessibilidade, coordenação - integração de cuidados, integralidade - serviços prestados e orientação familiar. Nos demais atributos houve uma boa avaliação dos usuários. Conclusão: Os usuários se mostraram insatisfeitos quanto a importantes características da ESF, que carecem de melhorias e merecem adoção de estratégias efetivas para que o processo de cuidar seja de real qualidade.

Palavras-chave: Estratégia Saúde da Família; Avaliação de Serviços de Saúde; Qualidade

da Assistência à Saúde.

EVALUATION OF ATTRIBUTES OF PRIMARY HEALTH CARE FROM THE PERSPECTIVE OF THE USER

ABSTRACT: Problem: In Brazil, there has been a search for consolidation of the principles

of Primary Health Care in the context of the Unified Health System. It is necessary to evaluate the attributes of primary health care in order to verify the quality of services, with a

1 Faculdade de Saúde Ibituruna (FASI) karol.oliva@yahoo.com.br 2

Faculdade de Saúde Ibituruna (FASI) camila.rodriguesmoura@hotmail.com

3 Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES) cassio-enfermagem2011@hotmail.com

4 Doutoranda em Ciências da Saúde. Professora do Departamento de Enfermagem da UNIMONTES, da

Faculdade de Saúde Ibituruna (FASI), das Faculdades Integradas do Norte de Minas (FUNORTE) e das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros (FIPMoc). fernandafjjf@yahoo.com.br

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Mestranda em Ensino em Saúde. Professora do Departamento de Enfermagem da UNIMONTES, da

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view the improvements that are necessary. Objective: To evaluate the quality of service of the Family Health Strategy in the city of Montes Claros (MG) - Brazil, through scores of attributes of primary health care obtained from the use of adult users experience. Method: Cross-sectional, descriptive study with a quantitative approach. We used the Primary Care Assessment Tool (PCATool), applied to residents and registered users in the areas of coverage of the family health teams. Were scored eight dimensions of primary care.

Results: There was no favorable assessment of the attributes accessibility, coordination -

integration of care, comprehensiveness - services and family counseling. In other attributes, there was a good evaluation from users. Conclusion: Users expressed dissatisfaction about the important features of the ESF, which need to be improved and deserve adoption of effective strategies for the care process is real quality.

Keywords: Family Health Strategy; Health Services Evaluation; Quality of Health Care.

INTRODUÇÃO

Desde a Conferência Internacional de Cuidados Primários em Saúde, que ocorreu na cidade de Alma-Ata em 1978, promovida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o fortalecimento da Atenção Primária à Saúde (APS) vem sendo aplicado em diversos países. No Brasil, a APS desenvolveu-se basicamente por meio de dois grandes modelos de organização de suas ações: o modelo da Programação em Saúde, nos anos 1970, e o modelo do Programa de Saúde da Família (PSF), nos anos 1990, posteriormente transformado em Estratégia Saúde da Família (ESF) (BRASIL, 2010).

A Atenção Primária à Saúde define-se como um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que envolve a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, redução de danos e a manutenção da saúde com a finalidade de desenvolver uma atenção integral que proporciona resultados direto na saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades. É desenvolvida através do conhecimento teórico-prático de cuidado e gestão, por meio de trabalho em equipe, voltado à população de território adscrito, assumindo responsabilidade sanitária, levando em consideração as características da população assistida (BRASIL, 2011).

A APS é a porta de entrada do indivíduo, mantendo-se o vínculo pessoal ao longo do tempo com o serviço de saúde, estruturado em um conjunto de atributos (AGOSTINHO et al., 2010). Esses atributos são definidos por Starfield (2002) em quatro atributos essenciais e três atributos derivados, a saber: 1) Acesso de primeiro contato: proporciona acessibilidade e uso do serviço a cada novo problema pelo qual

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as pessoas buscam o serviço; 2) Longitudinalidade: Fonte continuada de atenção, pressupõe o uso contínuo ao longo do tempo e o desenvolvimento do vínculo entre usuários e os profissionais de saúde; 3) Integralidade: Ações que o serviço de saúde deve oferecer para que os usuários recebam atenção integral, do ponto de vista biopsicossocial do processo saúde-doença; 4) Coordenação: É a organização do cuidado ao cliente com continuidade da assistência, devendo ser capaz de integrar todo o cuidado que o paciente receba através da coordenação entre os serviços; 5) Orientação familiar: Diz respeito à atenção holística que considera o contexto familiar e seu potencial de cuidado; 6) Orientação comunitária: Resulta em um reconhecimento dos principais problemas e agravos da comunidade, bem como o planejamento e avaliação conjunta do serviço; 7) Competência cultural: Leva em consideração as características culturais de uma população, envolve conhecimento e atenção às necessidades de uma comunidade facilitando a relação com a mesma.

Assim, o recente processo de renovação e expansão da APS no Brasil faz-se necessário, uma vez que impulsiona oportunidade de tencionar mudanças no modelo assistencial, produzindo estratégias de cuidados menos invasivas e mais dialógicas, a fim de avaliar o impacto da saúde na APS com produção de autonomia do sujeito. Dessa forma, a importância da avaliação da APS também se ancora em indicadores que possam ser utilizados para avaliar o impacto da saúde da família no sistema de saúde brasileiro (GIOVANELLA, 2012; ALENCAR et al., 2014).

Nesse contexto, conforme Leão e Caldeira (2011), ressalta-se a necessidade e o interesse em avaliar e monitorar como estão sendo alcançadas e organizadas as metas do serviço de saúde e seu impacto para o desenvolvimento, no que diz respeito ao bem-estar da comunidade e à implementação e consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS). A avaliação é imprescindível para o bom funcionamento da APS. Nessa mesma perspectiva, torna-se necessário que esta avaliação seja realizada pela população e equipe de saúde de uma determinada comunidade adstrita; e que não seja meramente investigada por pesquisadores externos, para que essa avaliação continue sendo um objeto em movimento (SERAPIONI; SILVA, 2011).

Diante disso, esta pesquisa se justifica por poder contribuir para o conhecimento da estrutura e do processo de atenção dos serviços de saúde, uma vez que possibilita avaliar os diferentes atributos da APS a partir da perspectiva dos

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usuários. Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo avaliar a qualidade do serviço da ESF da cidade de Montes Claros, por meio de escores dos atributos da APS obtidos a partir da experiência de utilização dos usuários adultos.

METODOLOGIA

Trata-se de um estudo transversal, descritivo, com abordagem quantitativa, realizado na cidade de Montes Claros, no período de junho a setembro de 2012. Esse município brasileiro localiza-se ao norte do estado de Minas Gerais. À época da coleta de dados, possuía 361.971 habitantes e 76 estabelecimentos da APS: 10 no segmento rural e 66 no segmento urbano.

A população estudada foi constituída por adultos maiores de 18 anos de idade, residentes e cadastrados nas áreas de abrangência das equipes da ESF do município que realizaram consultas nos últimos seis meses. Foram incluídas apenas as equipes localizadas na zona urbana, por motivos logísticos. Após a aplicação desses critérios, a população adulta identificada foi de 156.626 habitantes, perfazendo uma amostra de 425 usuários após cálculo estatístico. Por meio desse cálculo, e adotando a margem de erro de 4,5% para mais ou para menos, foi obtida uma amostra de 384 usuários do SUS. Ao considerar a possibilidade de perdas na amostra, foram acrescidos outros 10%, o que totalizou uma amostra de 425. Esses usuários foram sorteados aleatoriamente a partir do cadastro de profissionais de saúde do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES).

Os critérios de inclusão foram usuários que aceitaram livremente participar da pesquisa, após leitura e assinatura do Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE). Foram excluídos do estudo indivíduos maiores de 18 anos que não apresentaram condições de saúde para responder o questionário e aqueles que recusaram assinar o TCLE. Em cada ESF foram selecionados e entrevistados sete clientes de forma aleatória, moradores adultos que preencheram os critérios de inclusão. A seleção aleatória seguiu os seguintes critérios: a prioridade foi para pacientes que se encontravam na ESF. Não suprindo a quantidade da amostra, realizou-se um sorteio de forma aleatória por um funcionário da unidade, o que permitiu selecionar, assim, os domicílios a serem pesquisados.

A coleta de dados ocorreu de julho a setembro de 2012 e foi realizada por pesquisadores desta investigação dentro dos padrões éticos preconizados. Foram

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observadas as recomendações da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde. Foi utilizado um instrumento elaborado e validado no Brasil, que afere a extensão dos atributos essenciais e derivados da APS em serviços de atenção, denominado Primary Care Assessment Tool (PCATooL), conhecido no Brasil como Instrumento de Avaliação da Atenção Primária, na versão adulto (BRASIL, 2010).

Com a expansão da APS, surgiu o interesse, por parte de pesquisadores da temática, em avaliar a qualidade dos serviços primários. Foi criado, assim, um instrumento denominado PCATooL. Esse instrumento foi desenvolvido nos Estados Unidos pela pesquisadora Bárbara Starfield na The Johns Hopkins Populations Care Policy Center for the Underserved Populations (PCPC). No Brasil, a importância do instrumento está na ausência de outros instrumentos validados nacionalmente que objetivem mensurar a presença e a extensão dos atributos essenciais e derivados de APS. Dessa forma, o PCATooL se caracteriza como uma ferramenta que possibilita a realização de pesquisas com maior minuciosidade e qualidade (BRASIL, 2010; LEÃO; CALDEIRA, 2011).

A versão validada do PCATool versão Adulto contém 87 itens divididos em 10 componentes relacionados aos atributos da APS (três para Grau de Afiliação com Serviço de Saúde, três para Acesso de Primeiro Contato – Utilização, 12 Acesso de Primeiro Contato – Acessibilidade, 14 para Longitudinalidade, oito para Coordenação – Integração de Cuidados, três para Coordenação – Sistema de Informações, 22 Integralidade – Serviços Disponíveis, 13 Integralidade – Serviços Prestados, três para Orientação Familiar e seis para Orientação Comunitária) (BRASIL, 2010).

O processamento e análise dos dados foram realizados através do Statistical Package for the Social Science (SPSS), versão 18.0. Tal análise foi realizada por meio do alto escore geral da APS (> 6,6), entre os usuários da amostra global. Durante a análise dos dados, buscou-se identificar as variáveis que poderiam estar relacionadas à melhor avaliação dos cuidados percebidos pelo serviço identificado como fonte regular de atenção para o cuidado de saúde dos adultos. Para a comparação dentro de cada atributo, foi utilizado o teste "t" de Student. O nível de significância assumido foi p<0,05.

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O projeto de pesquisa que originou o presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES)por meio do Parecer Consubstanciado 977.

RESULTADOS

Na presente pesquisa, participaram 425 usuários na avaliação dos cuidados primários de saúde: 14,83% do sexo masculino e 85,17% do sexo feminino, sendo todos estes assistidos pela ESF.

Como demonstrado na Tabela 1, foi possível verificar que houve avaliação não favorável, abaixo do ponto de corte (Escore≤6,66), dos atributos acessibilidade, coordenação - integração de cuidados, integralidade - serviços prestados e orientação familiar. Nos demais atributos houve uma boa avaliação dos usuários, superior ao ponto de corte (Escore≥6,66).

Tabela 1. Distribuição dos escores médios em relação aos atributos da APS,

segundo a opinião dos usuários da ESF de Montes Claros, MG. (n=425)

Escore N Média DP p IC 95% Máxima Mínima Grau de Afiliação 6,70 Primeiro Contato 9,20 424 8,75 1,63 1,63 8,60 8,91 Acessibilidade 4,16 422 24,68 11,29 11,29 23,60 25,76 Longitudinalidade 7,08 423 41,09 10,63 10,63 40,08 42,11 Coordenação Integração de Cuidados 6,00 200 21,13 8,03 8,03 20,01 22,25 Coordenação Sistema de Informação 9,27 423 8,30 2,34 2,34 8,07 8,52 Integralidade-serviços disponíveis 9,70 410 82,51 31,08 31,08 79,49 85,53 Integralidade-serviços prestados 4,16 358 27,03 13,46 13,46 25,63 28,43 Orientação Familiar 5,98 424 6,21 3,07 3,07 5,92 6,51 Orientação Comunitária 7,11 424 16,68 8,27 8,27 15,89 17,47

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Revista UNIABEU Belford Roxo V.8 Número 18 janeiro-abril de 2015 DISCUSSÃO

Para se garantir a qualidade da APS, é imprescindível a adequação dos recursos financeiros, ambientes agradáveis, tempos de espera toleráveis e superação das carências estruturais e processuais, o que permitirá transformar a ESF na real porta de entrada do SUS. Nesse cenário, com maior investimento financeiro e ampliação dos serviços, torna-se imprescindível planejar a concretização do sistema nacional de saúde no Brasil, identificando onde a rede de atenção à saúde ainda precisa ser ampliada e quais as adequações necessárias à estrutura já existente. Assim, a avaliação, sobretudo quando realizada na ótica do usuário e de sua satisfação, contribui efetivamente para esse processo (VITORIA et al., 2013; MORAES; CAMPOS; BRANDÃO, 2014; DIAS et al., 2011).

O presente estudo, ao utilizar o escore ≥ 6,66 como parâmetro referencial para indicar a presença e extensão dos atributos da APS, como indicado na literatura (BRASIL; 2011; HARZHEIN et al., 2006), propõe uma linha de corte objetiva para mensurar a presença e a extensão dos atributos da APS. O Escore Essencial de 6,90 e o Escore Geral de 7,00, resultantes da avaliação dos usuários em estudo, indicam adequada presença e extensão dos atributos da APS nos serviços de saúde da família na cidade de Montes Claros, na visão dos usuários.

No contexto avaliado, observou-se um escore de 6,70 quanto ao grau de afiliação dos usuários da APS de Montes Claros com o serviço de saúde, o que denota o reconhecimento do usuário por um profissional ou serviço que o mesmo julga servir como referência sempre que necessário, ou seja, existe afiliação da população em relação à ESF.

Por meio da avaliação do atributo essencial acesso e primeiro contato, pode-se perceber que a ESF é a primeira escolha da maioria dos usuários quando necessita de serviço de saúde e se caracteriza como a porta de entrada para o SUS na cidade sede desta pesquisa. Situação semelhante foi observada em estudo realizado em dois municípios do Rio Grande do Norte, uma vez que a maior parte dos entrevistados afirmou que procurava inicialmente as unidades da ESF de sua comunidade, e só quando não conseguia atendimento buscava o hospital de um dos municípios (UCHOA et al., 2011).

Quanto ao quesito acessibilidade, percebe-se que a porta de entrada para os clientes é a ESF. Contudo, ao analisar os resultados de acesso, o escore deste

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estudo não foi favorável. Na pesquisa feita por Sala et al. (2011), em municípios acima de 100 mil habitantes no estado de São Paulo, utilizando este mesmo instrumento PCATool, encontraram-se escores intermediários na avaliação da acessibilidade pelos usuários. Essa dificuldade de acesso identificada pelo usuário pode impactar de forma negativa sua avaliação sobre o serviço, em especial no que diz respeito à resolução de queixas agudas ou subagudas.

O relacionamento do usuário com o profissional de saúde aborda questões relativas ao acesso do usuário às informações e ao fluxo das informações entre a unidade de saúde e o atendimento especializado (SALA et al., 2011). Segundo Lima et al. (2014), vale ressaltar que a relação profissional-usuário no cenário da ESF é ampla e permeada por aspectos que não se circunscrevem somente ao encontro no ambiente clínico, mas envolvem também a família, comunidade e os membros da equipe de saúde da família. Nesse sentido, os profissionais de saúde da família devem se pautar na relação humanizada e dialógica com os usuários no cotidiano de trabalho.

O atributo longitudinalidade é a existência de uma fonte continuada e personalizada de atenção e perfaz o seu uso ao longo do tempo (OLIVEIRA, 2008). A ESF cenário da presente investigação apresentou um alto escore. Achado semelhante foi identificado no estudo que avaliou a percepção dos profissionais, o que sugere que estes entendem a importância da construção do vínculo dos usuários com os serviços e são capazes de reconhecer melhor sua população eletiva, bem como os usuários percebem a necessidade da construção dessa fonte continuada (STRALEN et al., 2008).

Além disso, observa-se que a presença adequada da longitudinalidade é um fator essencial para ESF, pois esse atributo tende a levantar diagnósticos e tratamentos mais precisos, reduzir os encaminhamentos desnecessários para especialistas e para a realização de procedimentos de maior complexidade (LEÃO; CALDEIRA; OLIVEIRA, 2011).

Enquanto a coordenação-integração de cuidados foi mal avaliada, a coordenação-sistema de informação obteve boa avaliação. Resultado semelhante foi encontrado em estudo que, ao avaliar o quesito coordenação-sistema de informações na visão dos usuários na cidade de São Paulo, demonstrou que esse atributo exerce papel regulador, pois os usuários possuem adequado acesso aos

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registros de atendimentos em prontuários, condição importante para um bom acompanhamento no contexto famílias pelo serviço (SALA et al., 2011).

Ao se avaliar os serviços primários de saúde prestados na cidade de Montes Claros, os dados obtidos indicaram insatisfação quanto à integralidade do cuidado. Isso reflete diretamente na qualidade da assistência, uma vez que esse atributo almeja melhorar a resolutividade da assistência, bem como organizar o serviço prestado a população. Observa-se situação semelhante em Porto Alegre, num estudo realizado por Oliveira (2008), que mostrou resultado menor, com escore de 3,5. Dessa forma, percebe-se que a rede de serviços públicos desses cenários de estudos precisa ser melhorada, visto que a integralidade constitui um dos pilares da organização do SUS. Sua efetiva presença, em termos de integração entre promoção, prevenção e tratamento tem sido induzida nas diferentes modalidades de financiamento da APS no Brasil (SALA et al., 2011).

Contudo, em relação aos serviços disponíveis, pode ser observar, na perspectiva dos usuários, boa avaliação. Tal achado demonstra que a ESF de Montes Claros realiza a promoção da saúde, com orientações sobre a saúde da criança, saúde da mulher, saúde do adulto, saúde do idoso, e evita, assim, a busca do usuário aos serviços secundários e terciários da rede de atenção à saúde de maneira desnecessária, o que fortalece o vínculo do usuário com o profissional. Vale esclarecer que o processo de cuidar deve se pautar na autonomia dos usuários e em seu empoderamento, bem como na construção da promoção da saúde, em ajuda mútua e solidária, superando a vulnerabilidade de quem cuida e de quem é cuidado (LIMA et al., 2014).

Os achados deste estudo em relação ao enfoque da orientação familiar evidenciam insatisfação por parte do usuário, refletindo possivelmente em um serviço composto de ações isoladas ou direcionadas apenas ao indivíduo e que desconsideram o contexto e a abordagem familiar. Realidade similar foi encontrada na referida investigação realizada no município de São Paulo, onde se apresentaram percentuais baixos (SALA et al., 2011). Elias et al. (2006) ressaltam que esses achados se mostram inadequados à filosofia da ESF, pois esta está diretamente ligada ao contexto familiar e comunitário, mas essa ligação não tem acontecido de forma efetiva.

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A orientação comunitária busca contemplar o vínculo estabelecido entre a ESF e a comunidade. O escore obtido para esse atributo no cenário desta pesquisa foi alto, diferindo de outros estudos realizados no país, nos quais se identificaram escores inferiores na avaliação (SALA et al., 2011; STRALEN et al., 2008).

O alto escore encontrado na avaliação desse atributo em Montes Claros, de acordo com Stralen et al. (2008), pode corroborar com os princípios incorporados na construção da APS no município, como a territorialização, a vigilância à saúde e a responsabilização sanitária, presentes na ESF, uma vez que a ESF é um elemento estruturante do SUS a fim de superar os importantes desafios referentes ao conteúdo das políticas públicas, através da garantia do acesso universal, igualitário, integral e equitativo.

Alencar et al. (2014) realizaram uma pesquisa no município de São Luís (MA), que avaliou o enfoque familiar e a orientação para a comunidade como atributos da APS, baseada na percepção de 883 usuários da ESF. Os resultados apontaram uma avaliação negativa. Verificou-se índice total do enfoque familiar de 2,7, similarmente à presente investigação; e escore da orientação para a comunidade no valor de 2,9, ao inverso deste trabalho. Tal avaliação mostra que o atendimento das necessidades dos usuários e da comunidade está entre os indicadores com pior avaliação, o que evidencia que os princípios básicos da ESF, os quais devem ter como foco prioritário a família dentro das singularidades do ambiente em que está inserida, não estão sendo seguidos em sua plenitude. Isso pode refletir ainda a perpetuação de uma atenção pautada no modelo individual e curativo (ALENCAR et al., 2014; VITORIA et al., 2013; MORAES; CAMPOS; BRANDÃO, 2014).

Os achados do presente estudo devem ser considerados à luz de algumas limitações, uma vez que, embora se trate de uma amostra representativa, os indivíduos alocados se restringiram ao cenário limitado de uma única cidade, o que pode afetar o poder de generalização dos resultados. Também não foram investigados nesta pesquisa mais características sociodemográficas da população, que poderiam ser processadas para se verificar possíveis associações estatísticas e conferir maior fidedignidade ao estudo e riqueza aos dados. Nesse sentido, tais limitações e o contexto relativo ao cenário local e às suas singularidades podem ser objeto de outros estudos.

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Revista UNIABEU Belford Roxo V.8 Número 18 janeiro-abril de 2015 CONCLUSÃO

Neste trabalho, aponta-se para os pontos positivos e negativos dos atributos do cuidado primário de saúde na ESF de Montes Claros. Por um lado, os usuários se mostraram insatisfeitos com o desempenho dos serviços nos atributos acessibilidade, coordenação - integração de cuidados, integralidade - serviços prestados e orientação familiar. Mas avaliaram bem os demais atributos. Assim, avança-se no processo avaliativo, à medida que o estudo identificou na população usuária suas experiências e mensurou a qualidade dos serviços na perspectiva dos usuários, através de ancoragem na presença e extensão dos atributos da APS. Nesse sentido, importantes características da ESF ainda carecem de melhorias na atenção à saúde da população e merecem adoção de estratégias efetivas por gestores e profissionais de saúde para que o processo de cuidar seja de real qualidade.

Acredita-se que a qualidade da assistência depende da satisfação do usuário, beneficiário direto do serviço, e dos gestores envolvidos na assistência à saúde. Os estudos de avaliação são cruciais para o processo decisório e melhor resolutividade da APS. Assim sendo, faz-se necessário que os resultados encontrados e as considerações realizadas se estendam aos líderes desse processo, gestores, profissionais de saúde e usuários, com o objetivo de auxiliar no cotidiano e na gestão dos serviços de saúde, rumo ao aperfeiçoamento e à qualidade da assistência.

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Tabela  1.  Distribuição  dos  escores  médios  em  relação  aos  atributos  da  APS,  segundo a opinião dos usuários da ESF de Montes Claros, MG

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