Helson Flávio da Silva Sobrinho1 Universidade Federal de Alagoas Resumo: Este artigo traça conexões entre o pensamento de Émile Durkheim e Ferdinand de Saussure, dois clássicos das ciências humanas, a Sociologia e a Linguística. Tal relação é pensada, especificamente, no tocante à postura epistemológica. Considera‐ se que há, de forma efetiva, uma semelhança diante das concepções do fazer ciência da época, particularmente de perspectiva positivista. Constata‐se que, apesar das tentativas de separação desse paradigma, Durkheim e Saussure acabaram se rendendo às exigências do fazer ciência que pressupõe a fragmentação da realidade e a “criação”, a partir de um ponto de vista, de um objeto e de um método “próprio”, mirando a autonomia científica. Palavras‐chave: Sociologia; Linguística; Fato Social; Língua.
Resumen: Este artículo hace conexiones entre el pensamiento de Émile Durkheim y Ferdinand de Saussure, dos clásicos de las ciencias humanas, Sociología y Lingüística. Tal relación es pensada, específicamente, en cuanto a la postura epistemológica. Se considera que hay, de modo efectivo, una semejanza frente a las concepciones del hacer ciencia de la época, particularmente de perspectiva positivista. Constatamos que, a pesar de las tentativas de separación de este paradigma, Durkheim y Saussure acabaron por rendirse a las exigencias del hacer ciencia que presupone la fragmentación de la realidad y la “creación”, a partir de un punto de vista, de un objeto y de un método “propio”, mirando hacia la autonomía científica.
Palabras clave: Sociología; Lingüística; Hecho social; Lengua.
Abstract: This paper makes connections between Emile Durkheim´s and Ferdinand de
Saussure´s thoughts, two classic thinkers of humanities, sociology and linguistics. This relationship is thought specifically in epistemological terms. It is considered that there is, effectively, a similarity between the conceptions of doing science in that period, particularly, in the positivist perspective. Despite separation attempts of this paradigm, we found that Durkheim and Saussure ended up surrendering to the requirements of doing science that involve the fragmentation of reality and the "creation", from a viewpoint, from an object and from an own method, in order to aim at scientific autonomy.
Key‐Words: Sociology; Linguistics; Social Fact; Language.
1 Doutor em Letras e Linguística pela Universidade Federal de Alagoas (2006), é professor Adjunto da
Introdução
Este trabalho expressa algumas conexões entre o pensamento de Émile Durkheim e Ferdinand de Saussure, dois grandes clássicos das Ciências Humanas, a Sociologia e a Linguística. Tal relação será estabelecida pelo olhar teórico, especificamente em relação à postura epistemológica dos dois pesquisadores em face da concepção de objeto e método científico.
Vale ressaltar, de início, que chamam atenção as semelhanças entre os dois pensadores, dos quais a Sociologia e a Linguística acabaram recebendo a marca do caráter de ciência moderna. Muitos estudiosos já atentaram para a possível relação entre Durkheim e Saussure; no entanto, as abordagens parecem não ultrapassar pequenos flashes, como é o caso de Robins (1983), Lyons (1979), Carvalho (2000), Lahud (1977) e Culler (1979). Alguns chegam a afirmar que há uma influência do pensamento de Durkheim na teoria saussuriana, como Normand (2009a); outros, porém, simplesmente consideram apenas uma semelhança de datas na fundação das respectivas ciências. Ainda, segundo Normand (2009a: 40), “sabemos a que ponto o CLG e o início da linguística geral sofrem a influência de Durkheim; influência que ainda não foi determinada de modo preciso”. Diante dessa constatação de Normand (2009a), nossa leitura considera que há, de forma efetiva, uma relação que não se reduz exclusivamente ao tempo cronológico, mas, sobretudo, às concepções
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do fazer ciência da época, particularmente em relação à perspectiva positivista.
Aqui nos deparamos com o primeiro problema para avançar nessa reflexão, a saber: Durkheim e Saussure são positivistas? Diríamos (ou já ouvimos) que não, necessariamente. Mas isso não é o bastante, sendo preciso trazer fatos.
É interessante levar em consideração que os pensadores são sujeitos histórico‐culturais, nascem em determinada época, na qual existem relações sociais, políticas e econômicas que atuam nas formas de pensar, ver, analisar e compreender o mundo. É nesse sentido que consideramos que a ciência não é uma produção abstrata, livre das determinações históricas. Assim, pode‐se afirmar que Durkheim e Saussure são influenciados por reflexões já existentes sobre o real (social/linguístico), e a partir dessa produção eles reelaboram a prática teórica e analítica, acrescentando novidades que marcam a história das respectivas disciplinas.
Durkheim e Saussure viveram numa época em que se pensava que a humanidade caminhava progressivamente, seguindo leis universais. Durkheim encontrava isso nas ideias difundidas sobretudo nos trabalhos de Augusto Comte (1798‐1857), o fundador da Sociologia. Naquela época, final do século XIX e início do século XX, predominava também a proposta kantiana de síntese entre o racionalismo e empirismo; o darwinismo e seu estudo sobre evolução das espécies; o organicismo que, baseado nas ciências biológicas,
parecia explicar tudo segundo o modelo orgânico. Além disso, as ideias liberais e socialistas rondavam o fazer filosófico e científico. No caso específico da Linguística havia a predominância do comparativismo e dos neogramáticos2, que acabavam por reproduzir tais ideias, com as quais Saussure se deparava nos trabalhos de cunho naturalista que buscavam leis universais baseadas nas semelhanças das línguas, como se essas evoluíssem a partir de um mesmo tronco.
Não se pode deixar de lembrar também que, no mesmo
contexto dessas ideias, crescia a industrialização na Europa, e desse modo as ciências naturais avançavam para responder às necessidades da sociedade capitalista.
Nessa conjuntura, inspirada no método positivista, as ciências humanas surgem visando alcançar também um patamar de objetividade semelhante ao das ciências naturais. Buscaram, assim, sob o efeito do mito da neutralidade, um discurso rigoroso e preciso, de acordo com as leis dos fenômenos, sejam elas universais ou restritas a um determinado estado de tempo (sincrônico). Tal modelo de pensamento também prescrevia um sujeito distante, ou seja, aquele que se quer separado do objeto para evitar a contaminação da subjetividade na apreensão do real. É nesse caldeirão de ideias e práticas que os dois estudiosos se destacam na fundação de duas importantes ciências: Durkheim, a Sociologia; e Saussure, a
2 Segundo Coseriu (1980), os neogramáticos expressavam a forma que a ideologia evolucionista e positivista
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Linguística moderna3. Há, portanto, nos dois teóricos o desejo de fazer ciência, mas, vale lembrar, de uma determinada forma.
Cabe destacar que tal designação não implica dizer que Durkheim e Saussure são positivistas puros. Existe certamente um avanço em relação ao pensamento do positivismo, pois Durkheim, embora tecesse elogios a Augusto Comte, criticava a sua concepção evolucionista. E Saussure criticava os neogramáticos e suas leis gerais, mas acabava também por defender uma ordem própria da língua num determinado estado sincrônico. Por isso, insistimos, a articulação que propomos desenvolver neste trabalho enfatiza que os pontos em que esses dois teóricos se assemelham e se aproximam se acham exatamente quando adotam uma postura positivista.
Durkheim e a definição do objeto e método na constituição da ciência da sociedade
Iniciaremos citando Durkheim, em sua obra, “As Regras do Método Sociológico”, publicada em 1895, para sinalizar o potencial desse teórico clássico:
Quando uma ciência está a nascer, se é sem dúvida obrigado, para construí‐la, a tomar como referência os únicos modelos existentes, quer dizer, as ciências já formadas. Há nelas um tesouro de experiências já feitas que seria insensato não aproveitar. No entanto, uma ciência só
3 É curioso que, embora clássicos, nem Durkheim cunhou o nome Sociologia, nem Saussure o nome Linguística,
pode julgar‐se definitivamente constituída quando conseguiu adquirir uma personalidade independente. Não tem razão de existir se não tiver por matéria um tipo de fatos que as outras ciências não estudam. (Durkheim 2001: 150)
Émile Durkheim nasceu em 15 de abril de 1857, na França. Dedicou‐se à filosofia, à antropologia e à psicologia. Seu principal empenho consistia em assegurar à Sociologia o caráter de ciência autônoma com objeto e método próprio. Durkheim aos 29 anos, em 1887, assumiu a 1ª cátedra dedicada à Sociologia na Universidade de Bordéus, França, dedicando sua vida ao desenvolvimento dessa ciência; escreveu várias obras, entre elas: “A divisão do trabalho social” (1893); “As regras do método sociológico” (1895) e “O suicídio” (1897). Morreu em Paris, no dia 15 de novembro de 1917, deixando um legado teórico e metodológico que o tornou um clássico da Sociologia4.
Este mestre buscou trazer para a ciência da sociedade o caráter objetivo, e por isso insistia na precisão do objeto e do método, buscando uma objetividade nos padrões das ciências naturais. Afetado pelo positivismo de Augusto Comte, pelo racionalismo de Kant, pelo darwinismo, e também pelo socialismo e liberalismo existentes à época, dialoga com essas correntes de pensamento para formular sua proposta teórica. Em toda a sua obra, Durkheim foi fiel à convicção de que a sociedade era um fenômeno que não poderia ser
4 Quando dizemos clássico, referindo-nos a Durkheim, bem como a Saussure, alinhamo-nos ao pensamento de
Cohn (1977: 2). Este afirma que o clássico não é uma questão histórico-cronológica, “mas com aqueles autores que, pelo alcance e profundidade de suas contribuições originais e pela sua presença na atividade sociológica contemporânea, merecem sem dúvida a qualificação de clássicos”.
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reduzido a outros fenômenos como, por exemplo, os de caráter biológico, físico e psicológico. Considerava que os fenômenos sociais eram algo diferente, particular, e por isso exigiam uma metodologia e uma ciência específicas que se encarregassem de estudá‐los com propriedade.
A ênfase de Durkheim na especificidade do objeto é marcante,
sendo constatada na introdução de sua obra “As regras do método sociológico”, uma vez que já no início desta assevera que, “até o presente, os sociólogos preocuparam‐se pouco com a definição do método que aplicam ao estudo dos fatos sociais” (Durkheim 2001: 29). Durkheim faz uma crítica explícita a Spencer, Mill e Comte, acrescentando que esses autores deixaram de lado
as precauções a tomar na observação dos fatos, a maneira como os principais problemas devem ser apresentados, o sentido em que as pesquisas devem ser dirigidas, as práticas especiais que podem lhes permitir o êxito, e as regras que devem presidir à administração das provas, continuavam indeterminadas. (Durkheim 2001: 29 e 30)
Com essa crítica posta, Durkheim argumentava que os
precursores (fundadores) da ciência da sociedade tinham feito filosofia, mas não uma ciência verdadeiramente. Ele destaca, na introdução desse seu trabalho, ser imprescindível que a Sociologia especificasse com rigor seu objeto e seu método, para garantir a autonomia científica. À Sociologia caberia o estudo das instituições sociais, no sentido de tudo aquilo que é instituído pela coletividade,
que mais precisamente ele denominará como fato social, conceito rigoroso defendido em toda sua obra.
Nessa perspectiva, para a Sociologia permanecer como ciência autônoma, explica Durkheim, não se pode confundir o fato social com outros fenômenos:
Todos os indivíduos bebem, dormem, comem, raciocinam, e a sociedade tem todo o interesse em que estas funções se exerçam regularmente. Mas, se estes fatos fossem sociais, a sociologia não teria um objeto que lhe fosse próprio e o seu domínio confundir‐se‐ia com o da biologia e da psicologia. (Durkheim 2001: 31) Trata‐se, aqui, da definição e delimitação do objeto sociológico como critério fundamental para a existência dessa ciência. Durkheim define fato social como toda a maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior: ou então, que é geral no âmbito de uma sociedade tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria, independentemente das suas manifestações individuais. (Durkheim 2001: 40)
Isso implica que o fato social não pode ser explicado por outras ciências, pois tem uma ordem e uma existência distintas. O fato social é geral, exterior e coercitivo, podendo, apenas, ser explicado pelo social. É, pois, o social pelo social.
Dessa definição do objeto, compreende‐se que a sua concepção de sociedade não é a soma de indivíduos, mas o produto que é externo a qualquer consciência individual. O fato social é produção da coletividade e não de indivíduos particulares, e deve, para
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Durkheim, ser explicado pelos fenômenos da coletividade. Ou seja, o indivíduo não cria nem modifica o fato social, como se pode constatar no exemplo abaixo, retirado do texto do autor:
ao nascer, os fiéis encontram já formadas as crenças e práticas da sua vida religiosa; se existiam antes deles é
porque existem fora deles. O sistema de sinais de que me
sirvo para exprimir o pensamento, o sistema monetário que emprego para pagar as minhas dívidas, os instrumentos de crédito que utilizo nas minhas relações comerciais, as práticas seguidas na minha profissão, etc., etc., funcionam
independentemente do uso que deles faço (Grifos nossos)
(Durkheim 2001: 32)
Observa‐se, então, que o fato social é exterior aos indivíduos, pois quando estes nascem os fatos já existem, e continuam a existir após a morte dos indivíduos. Essa característica de ser exterior e anterior garante, segundo Durkheim, a objetividade da sociologia e afasta a subjetividade do pesquisador, já que esta poderia inviabilizar a cientificidade nas ciências sociais.
Os fatos sociais, além de exteriores, são também coercitivos: exteriores porque os indivíduos não os criam, e coercitivos porque o indivíduo é obrigado, muitas vezes sem perceber, a entrar naturalmente na sua ordem. Como Durkheim (2001: 32) afirma: “mesmo quando eles estão de acordo com os meus sentimentos próprios e sentindo‐lhes interiormente a realidade, esta não deixa de ser objetiva, pois não fui eu que os estabeleci”.
Vemos aqui o funcionamento do pressuposto fundamental do positivismo, que é a necessidade de colocar o objeto como algo independente da vontade do indivíduo. Löwy (1985) aponta, como
síntese fundamental das ideias positivistas, o pressuposto de que as leis dos fenômenos são independentes da vontade dos sujeitos:
A sua [do positivismo] hipótese fundamental é que a sociedade humana é regulada por leis naturais, ou por leis que têm todas as características das leis naturais, invariáveis, independentes da vontade e da ação humana, tal como a lei da gravidade ou do movimento da terra em torno do sol: pode‐se até procurar criar uma situação que bloqueie a lei da gravidade, mas isso se faz partindo de que essa lei é totalmente objetiva, independentemente da vontade e da ação humana. (Löwy 1985: 36‐37)
É partindo desse pressuposto que a ciência social, seguindo o postulado positivista, busca garantir, epistemologicamente, um método semelhante aos das ciências naturais (astronomia, física, biologia), intentando com este modelo de objetividade livrar‐se das ideologias e dos conflitos políticos.
Assim, na definição de fato social como exterior e coercitivo, encontra‐se refletida a defesa da objetividade dos fenômenos sociais, compreendendo que “eles existem de um modo definido, que têm uma maneira de ser constante e uma natureza que não depende da decisão individual e de onde derivam relações necessárias” (Durkheim 2001: 27). Por isso, são também coercitivos no sentido de que é muito difícil o indivíduo lutar contra eles, principalmente porque não pode mudá‐los a seu bel‐prazer. Durkheim exemplifica isso com a educação:
toda a educação consiste num esforço contínuo para impor à criança maneiras de ver, de sentir e de agir às quais ela não teria chegado espontaneamente (...) Esta pressão permanente exercida sobre a criança é a própria pressão do
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meio social que tende a moldá‐la à sua imagem, e do qual os pais e os professores são meros representantes e intermediários. (Durkheim 2001: 35)
Ao mesmo tempo em que eles são coercitivos, os fatos sociais muitas vezes não são sentidos como tais, e os indivíduos acabam desejando‐os, uma vez que desejam a ordem e as regularidades das práticas sociais. Durkheim exemplifica também com o crime, pois quando se reage a ele, condenando‐o, está‐se, na verdade, defendendo a sociedade.
Para apreender o funcionamento dos fatos sociais, Durkheim explicita seu método que, reservadas certas restrições, estava ancorado no modelo das ciências naturais. Pode‐se perceber isso quando ele afirma que embora os fenômenos sociais fossem de outra ordem e não naturais, o sociólogo deveria se colocar de forma semelhante aos cientistas das ciências naturais quando estão diante de um objeto desconhecido e exterior. Essa atitude de Durkheim demonstra que ele tentava escapar da fragilidade que as ciências sociais possuem, pois se o pesquisador é parte da sociedade, como este sujeito poderia atuar com objetividade em sua pesquisa, já que vive na sociedade?
Durkheim responde a esse problema afirmando que é preciso que o pesquisador observe os fenômenos sociais como algo exterior (coisa) − “a primeira regra e a mais fundamental é: considerar os fatos sociais como coisas” (Durkheim 2001: 42). Defendia, portanto, que o pesquisador afastasse as pré‐noções e se colocasse diante de algo completamente desconhecido e que, também, reconhecesse que o
fato social “não pode ser modificado por uma simples decisão da vontade” (Durkheim 2001: 52).
Na verdade, ele propunha que o sociólogo tivesse uma atitude mental, afastando as ideias prévias surgidas do senso comum, tidas como desprovidas de rigor cientifico. Isto acontecia porque Durkheim se encontrava insatisfeito com a teoria de sua época:
No estado atual dos nossos conhecimentos, não sabemos com exatidão o que é o Estado, a soberania, a liberdade política, a democracia, o socialismo, o comunismo, etc.; o método exigia, pois, que evitássemos qualquer uso destes conceitos enquanto não estiverem cientificamente constituídos. Porém, as palavras que os exprimem aparecem constantemente nas discussões dos sociólogos. Empregam‐se corretamente e com segurança, como se correspondessem a coisas bem conhecidas e definidas, quando não evocam em nós senão noções confusas, misturas indistintas de impressões vagas, de preceitos e de paixões. (Durkheim 2001: 48)
Durkheim defendia a Sociologia como ciência autônoma com objeto próprio e um método, segundo ele, rigoroso. Tanto é assim que ele acaba reduzindo o papel dos indivíduos diante da sociedade, como se esta tivesse uma ordem própria independente daqueles. Já em outro momento, Durkheim ressalta a importância dos atos individuais, quando menciona o julgamento e a morte do filósofo Sócrates. Contudo, esclarece que tais atitudes constituem uma antecipação da moral futura, ou seja, uma antecipação do novo, ou ainda, trata‐se de preparação para a mudança, não sendo ato de vontade individual, senão um prelúdio do novo fato social.
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Ora, o caso de Sócrates não é isolado; reproduz‐se periodicamente na história. A liberdade de pensamento de que gozamos hoje nunca poderia ter sido violada antes de ser solenemente abolida. Todavia, naquele momento, essa violação era um crime, pois ofendia sentimentos ainda muito vivos na generalidade das consciências. Não obstante, tal crime era útil, pois preludiava transformações que de dia para dia se tornavam mais necessárias. (Durkheim 2001: 87)
Durkheim advogava que a sociedade era dinâmica e que as mudanças só ocorriam mediante as práticas individuais que produziriam um fato novo. Embora se realize nos indivíduos, a sociedade é qualitativa, e não quantitativamente, distinta deles. Os fatos sociais são criações das ações combinadas dos indivíduos, pois um indivíduo seria incapaz de criar ou modificar sozinho o fato social. Para Durkheim, as mudanças ocorrem no decorrer do tempo e são controladas pela tradição e herança, e não por revoluções.
Vale lembrar que para Durkheim os indivíduos não são
homogêneos; a uniformidade é algo impossível, segundo ele, pois resguarda o caráter individual de cada sujeito. Mas lembra sempre que sobre eles age a sociedade e que não se poderia entender a sociedade pelos indivíduos, já que a explicação dos fenômenos não está nas partes (indivíduo), porém no todo (sociedade). Trata‐se de uma explicação que prioriza a estrutura social sobre os indivíduos, pois sem a sociedade, conforme o pensamento de Durkheim, o homem continuaria a ser um animal.
Saussure: numa obra póstuma, a fundação da Linguística moderna
sem essa operação elementar [determinar a natureza do objeto de estudo] uma ciência é incapaz de estabelecer um método para si próprio. (Saussure 1995: 10).
Refletir sobre Ferdinand de Saussure (1857‐1913), considerado o fundador da Linguística moderna, é sempre algo fascinante devido à sua importância para esta ciência, como divisor de águas entre uma atitude pré‐científica e uma científica5. Chama atenção também o modo peculiar de sua contribuição a esta ciência, pois, como se sabe, ele foi um pensador que não viu sua obra publicada (na verdade, não a escreveu de fato). Contudo, a ele são atribuídas as ideias contidas no “Curso de Linguística Geral” (doravante CLG).
O estudioso genebrino aos 15 anos já realizava estudos linguísticos. Com 21 anos, publicou “Mémoire sur le primitif système des voylles dans les langues indo‐européenes”, um estudo sobre o indo‐europeu, o que fez de forma inovadora, afastando‐se das explicações atomistas e buscando unidades relacionais. Tendo como formação acadêmica o comparativismo do século XIX, é a partir desta base que Saussure pensa uma nova forma de olhar a língua, em busca de um método de abordagem tido por ele como o mais adequado.
5 Há bastante controvérsias em relação à originalidade da teoria saussuriana. Por exemplo, que a noção de signo,
a arbitrariedade, a distinção entre significado e significante, eram discussões existentes antes de Saussure. Contudo, atribui-se a ele a originalidade da teoria do valor linguístico. Deixando este debate de lado, concordamos com Benveniste que “Não há um só lingüística hoje que não lhe deva algo. Não há uma só teoria geral que não mencione o seu nome [Saussure].” (Benveniste 2005: 34).
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Segundo alguns estudiosos de Saussure, entre eles, Culler (1979) e Benveniste (2005), Saussure tinha uma resistência em escrever, pois se sentia incomodado com os termos técnicos que eram utilizados na Linguística. Embora tenha sido herdeiro da tradição linguística da época, sua visão ultrapassava a de seus contemporâneos. Ele questionava o caráter da língua, os termos e a forma de abordagem dos linguistas diante do objeto. Conforme Benveniste, Saussure vivia um drama de pensamento.
Saussure afastava‐se da sua época na mesma medida em que se tornava pouco a pouco senhor da sua própria verdade, pois essa verdade o fazia rejeitar tudo o que então se ensinava a respeito da linguagem. Mas ao mesmo tempo em que hesitava diante dessa revisão radical que sentia necessária, não poderia resolver‐se a publicar a menor nota antes de haver assegurado, em primeiro lugar, os fundamentos da teoria. (Benveniste 2005: 40) Para Saussure (1995), a Linguística, antes de se estabelecer como ciência autônoma, passou por três fases até chegar ao que ele chama de “verdadeiro e único objeto”, ou seja, a língua, e assim garantir seu estatuto cientifico propriamente dito6.
Segundo Benveniste, Saussure era “um homem dos fundamentos”. Neste ponto, a relação Durkheim e Saussure já
6 As fases refletem o interesse pela linguagem humana e a forma como se concretizou tal interesse. As três fases
citadas são: Gramática − interesse dos gregos da Antiguidade clássica pelo aspecto normativo do uso da língua; a fase dos estudos filológicos que eram destinados a “fixar, interpretar e comentar textos”; e a terceira fase, a Gramática Comparada ou Filologia Comparativa − os estudos deste período visavam comparar línguas, ou seja, explicar uma língua comparando-a com outras. A descoberta do sânscrito e suas semelhanças com as línguas latina, germânica e grega foi um marco da linguística comparativa. Saussure considerou que a gramática comparada só aproximou a linguística do seu verdadeiro objeto, mas não deu a ela uma posição de reconhecimento entre as ciências.
aparece, e podemos retomar nossas conexões, pois Durkheim também era um homem dos fundamentos e definições, e se via insatisfeito com os termos utilizados na Sociologia. Durkheim escreve sobre isso em suas obras; já Saussure escreve pouco, e localizamos sua insatisfação com a Linguística em uma carta endereçada a Meillet (Culler 1979: 09).
De acordo com Saussure, colocar o objeto linguístico em evidência era uma questão fundamental para o reconhecimento da Linguística enquanto ciência autônoma. Como é dito no curso: “sem essa operação elementar [determinar a natureza do objeto de estudo], uma ciência é incapaz de estabelecer um método para si própria” (Saussure 1995: 10). Assim, percebe‐se que a forma de abordar o objeto da Linguística é histórica, e a posição de Saussure, embora em certo sentido se afaste de uma postura positivista, reflete o paradigma existente na necessidade de delimitar suas fronteiras, por isso ele traz no CLG exemplos de ciências como Astronomia, Geologia, Fisiologia, além da Matemática e das ciências humanas como Psicologia, Economia, especialmente para demarcar fronteiras.
A partir daqui podemos relacionar com mais precisão a relação Durkheim/ Saussure. Relembramos que a ciência enquanto produção social não é feita isoladamente, porquanto o conhecimento é produto também de uma época. Sabemos que Saussure esteve na França e ensinou em Paris durante 11 anos. Arriscamos a hipótese de que aí ele tenha tido contato com os trabalhos de Durkheim e com o pensamento dominante na época, já
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que é somente depois, quando volta à Genebra, que ministra os três cursos de Linguística Geral (1907/1908‐9/1910‐11). É, pois, a partir desses cursos ministrados que surge sua grande obra publicada postumamente. Embora tenha sido produzida e publicada por seus discípulos Charles Bally e Albert Sechehaye, as ideias contidas no CLG são atribuídas à Saussure7.
O que interessa no momento, para este trabalho, é a preocupação explícita no CLG sobre o objeto e o método da Linguística e sua semelhança com o trabalho de Durkheim, “As regras do método sociológico”, publicado em 1895. Tanto um como o outro estavam preocupados em colocar as suas respectivas ciências num patamar de cientificidade válido para a comunidade acadêmica. Os dois primeiramente relatam os estudos da época para mostrar que estes não eram verdadeiramente científicos. Enfatizamos também a atenção dada por Saussure ao fato de que outras áreas de conhecimento trabalham com a linguagem e poderiam desejar tê‐la como objeto. Ao afirmar que a linguagem é um fenômeno heterogêneo, Saussure não se arrisca em considerá‐la como objeto da Linguística, pois correria o risco de ter de dividi‐la com várias outras ciências que poderiam reivindicar seu estudo.
7 Esse fato é marcante e ponto ainda hoje de discussão e muitas controvérsias, principalmente quando se
questiona a autenticidade das ideias de Saussure no Curso, se comparadas aos manuscritos do autor. Não entraremos nessa discussão, apenas indicamos o trabalho de Silveira (2007) onde é abordada essa problemática e se chega à conclusão de que marcas (“ecos esparsos”) dos autores e do próprio Saussure existem no CLG. “Nessa passagem de discordantes a esparsos algo se perdeu e algo se construiu” (Silveira 2007: 24). Além disso, Silveira, com base nas reflexões de Harris, Normand, De Mauro e Milner, argumenta que o pensamento original de Saussure tem relação com a formação que teve com a tradição da gramática comparativa do século XIX. Para compreender isso, a autora faz uso da figura topológica banda de Moebius.
A saída de Saussure (1995: 15) para essa dificuldade foi afirmar que “é o ponto de vista que cria o objeto”, ou seja, nesse momento começava‐se a se instituir um novo objeto para a Linguística, que não era nem a linguagem nem a fala, porém a língua: “a língua é para nós a linguagem menos a fala. É o conjunto dos hábitos lingüísticos que permitem a uma pessoa compreender e fazer‐se compreender” (Saussure 1995: 92).
Saussure reconhece a complexidade do fenômeno da linguagem, e constata que não pode dar conta de tudo. Por isso propõe como solução que a Linguística deveria
colocar‐se primeiramente no terreno da língua e tomá‐la como norma de todas as outras manifestações da linguagem. De fato, entre tantas dualidades, somente a língua parece suscetível duma definição autônoma e fornece um ponto de apoio satisfatório para o espírito. (Saussure 1995: 17)
Como foi visto, Durkheim também havia atentado para o risco
de considerar tudo como social, por isso faz distinção, separando o que é individual do que é social e elege o fato social como objeto da Sociologia. Saussure age de modo bastante semelhante ao separar língua e fala. Segundo ele, “com o separar a língua da fala, separa‐se ao mesmo tempo: 1º o que é social do que é individual; 2º o que é essencial do que é acessório e mais ou menos acidental” (Saussure 1995: 22). Entre as várias características que são atribuídas à língua no CLG, destacam‐se:
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- Não se confundir com a linguagem nem com a fala;
- É produto social, conjunto de convenções necessárias adotadas pelo social; - A língua é um todo por si; - É algo adquirido; - Tem sua ordem própria. É bastante interessante esse olhar sobre a língua como produto social e não um objeto natural. Ao dizer que a língua é algo adquirido, uma convenção social, afirma‐se que ela não é inata, pois produzida pela coletividade, no sentido durkheimiano: não é a soma, mas um produto sui generis. Eis onde mais claramente encontramos semelhanças e aproximações de Saussure com o pensamento sociológico de Durkheim. Como diz Saussure: “o objeto concreto de nosso estudo é, pois, o produto social depositado no cérebro de cada um, isto é, a língua” (Saussure 1995: 32).
Ao se posicionar sob tal ponto de vista, “cria”8 o objeto linguístico como algo exterior, não reduzido aos cérebros dos indivíduos, pois “a língua não está completa em nenhum, e só na massa ela existe de modo completo” (Saussure 1995: 21). A semelhança com a postura de Durkheim fica ainda mais evidente pela concepção de fato social como coisa exterior aos indivíduos, geral e coercitivo. Dizer que a língua é fato social implica afirmar que ela vem de fora e que o sujeito (indivíduo) está impedido de modificá‐la de acordo com
sua vontade. Isso é uma característica própria do fato: ser exterior a qualquer consciência individual.
Por outro ângulo, há, no entanto, uma discussão no CLG que afasta a língua da concepção de fato social ao dizer que a língua não possui a característica de ser coercitiva. Também se pode destacar que há um outro caminho em que o CLG se afasta da conceituação de fato social: no momento em que Saussure faz o fechamento da língua sobre si mesma, ou seja, toma o conceito de signo que não liga um nome a uma coisa, pois, para ele, a língua não é nomenclatura do mundo. O signo, arbitrariamente, une um significante e um significado. Depois o CLG privilegia aos poucos o funcionamento da língua em si e por si mesma, enquanto sistema, afastando seu funcionamento do social para explicá‐lo através das relações associativas e sintagmáticas. Com isso, abstraem‐se as relações da língua com a “exterioridade”9. Vê‐se, pois, que ao mesmo tempo em que a língua é tida como fato social, ela é afastada do social, no intuito de manter a autonomia da Linguística.
Portanto, mais uma vez encontramos marcas expressas da necessidade imposta pelo pensar da época de tornar a Linguística uma ciência autônoma por meio da delimitação do seu objeto. Vemos isso como algo similar ao gesto de Durkheim realizado alguns anos antes, ao enfatizar que caso considerássemos como fato social todos
9 A exterioridade aqui é entendida como as relações sociais, os fatos históricos e culturais dos povos. Ver capítulo
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os acontecimentos humanos, isto resultaria numa indefinição e imprecisão do objeto da Sociologia.
Como, além do objeto, há também a preocupação com o método, é preciso destacar que, para Saussure, o linguista deveria privilegiar a explicação sincrônica, uma vez que “a língua é um sistema que conhece somente a sua ordem própria”10 (Saussure 1995: 31). Ele chega a apontar métodos delicados para a linguística sincrônica e a linguística diacrônica, pois considera que elas possuem objetos distintos. Nesse sentido, segundo ele, é necessário não confundir os métodos:
A Lingüística diacrônica estudará, ao contrário, as relações que unem termos sucessivos não percebidos por uma mesma consciência coletiva e que se substituem uns aos outros sem formar sistema entre si. (Saussure 1995: 116)
A Lingüística sincrônica se ocupará das relações lógicas e psicológicas que unem os termos coexistentes e que formam sistemas, tais como são percebidos pela consciência coletiva. (Saussure 1995: 116)
Nota‐se que em relação à abordagem da língua nas suas relações sincrônicas, privilegia‐se o todo e não as partes, assim como fez Durkheim em relação aos fenômenos sociais. Como afirma Saussure: “o todo vale pelas suas partes, as partes valem também em virtude de seu lugar no todo, e eis por que a relação sintagmática da parte com o todo é tão importante quanto a das partes entre si” (Saussure 1995: 148).
10 Vale lembrar a metáfora do jogo de xadrez: o observador não precisa analisar como as peças chegaram a tal
Em relação ao sujeito, Saussure o pensa enquanto indivíduo, assim como Durkheim. Os dois afastam de suas explicações os atos individuais (a fala, no caso de Saussure). No entanto, isso não significa dizer que o indivíduo não é tido como importante em suas respectivas teorias. Tomar isso como verdade significa que os objetos das duas ciências não poderiam ser explicados pelos atos individuais. Em Durkheim isto é explícito no estudo sobre o suicídio, e em Saussure, quando trata da mudança da língua que se deve à fala11. Assim como Durkheim, Saussure também destaca os atos individuais, pois ao classificar os fatos sincrônicos e diacrônicos, afirma que:
Uma vez de posse desse duplo princípio de classificação, pode‐se acrescentar que tudo quanto seja diacrônico na língua não o é senão pela fala. É na fala que se acha o germe de todas as modificações: cada uma delas é lançada, a princípio, por um certo número de indivíduos, antes de entrar em uso. (Saussure 1995: 115)
A definição de língua proposta por Saussure, antes de chegar à ideia de sistema relacional de valores puros, cuja identidade se dá pela diferença, entrecruza‐se com o conceito de fato social da Sociologia durkheimiana e gera ressonâncias de caráter positivista. Para Saussure, ainda que a língua fosse um fato social, ela era, sobretudo, o “verdadeiro objeto da Linguística” e só poderia ser explicada em si e por si mesma. Seu trabalho, além da busca da autonomia da ciência linguística, é também uma reação à Linguística
11 Também podemos observar isso quando Saussure compara a língua com uma sinfonia, que não é afetada por
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do século XIX, caracterizada pelo comparativismo. A fim de estudar a língua como sistema não era preciso rastrear suas mudanças no tempo, mas sim entender como ocorrem suas relações naquele momento. Neste sentido, não interessavam as circunstâncias em que a língua foi produzida, sua relação com a civilização, sua história de mudança, ou mesmo a língua tido como fato social, mas o seu funcionamento num período de tempo.
Considerações finais
O propósito deste artigo foi o de trazer uma reflexão sobre a relação existente entre Durkheim e Saussure, mostrando que há relações entre a Sociologia e Linguística, uma vez que existe um patamar de cientificidade guiando as fundações bem como as práticas das ciências modernas. Assim, buscou‐se destacar que por mais que tentassem se apartar do paradigma positivista, Durkheim e Saussure acabaram por se render às exigências do fazer ciência, que pressupõe necessariamente a fragmentação da realidade e a criação, a partir de um ponto de vista, de um objeto e de um método próprio para garantir autonomia e diferenças em relação às outras ciências. Hoje em dia podemos notar isso nas constantes investidas e, de certa forma, no controle sobre o que é próprio de cada ciência, pois perder o objeto, no campo científico, equivale a perder sua própria identidade, e isso tanto Saussure como Durkheim parecem ter expressado bem em suas reflexões.
Em Durkheim, a Sociologia ganha esse estatuto definindo seu objeto, o fato social, com caráter exterior e superior aos indivíduos, não permitindo ser explicado por outras ciências, já que o fato social como objeto aparece como propriedade da Sociologia moderna.
Com Saussure, sua reação à Linguística comparativa do século XIX levou‐o à busca do “verdadeiro e único objeto”. Embora não tenha escrito o CLG, é Saussure o marco inaugural da Linguística enquanto ciência moderna. A língua é apresentada como tendo uma ordem própria, devendo ser explicada em si mesma, no seu sistema, sem precisar encontrar no exterior linguístico explicações causais de seus fenômenos.
Como pano de fundo, vimos que a filosofia positiva, ainda reinante, atua produzindo ressonâncias em Durkheim e em Saussure, exigindo deles uma postura e um método análogos aos especialistas das ciências naturais. Visa à neutralidade cientifica, afastando as pré‐ noções, ideologias, buscando um rigor científico que significa, sobretudo, afastar a subjetividade das análises. Separa‐se, então, o social do individual, e, no caso da Linguística, separa‐se a língua dos sujeitos falantes. Qual seria, então, a conclusão, ou mesmo, as implicações desse percurso histórico na atualidade?
A fim de encaminhar nossa reflexão para o efeito de finalização, citamos outra vez Normand (2009b: 124), que, ao questionar se Saussure seria um positivista, afirma: “Digamos que seja um positivismo ultrapassado, que irrita com suas exigências tanto quanto interroga com suas questões sempre em aberto; a abundância dos
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debates é testemunha disso”. Vale lembrar, por fim, que Durkheim e Saussure forneceram as bases fundamentais para a gênese do paradigma estruturalista, do qual Lévi‐Strauss, só para citar um exemplo, na Antropologia, influenciado pela Linguística e pela Sociologia, é um grande representante. Portanto, os efeitos de continuidade/descontinuidade desse gesto, às vezes tido como
positivismo ultrapassado, não cessam e constantemente são
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