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Dinâmica da ocupação humana da comunidade de Maguari localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá

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Dinâmica da ocupação humana da comunidade de Maguari

localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável

Mamirauá

Hilkia Alves da SilvaAna Claudeíse S. Nascimento

Palavras-chave: Dinâmica de ocupação; população humana; ambiente de várzea.

Resumo

A comunidade do Maguari localiza-se no setor Aranapu da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá–AM, geograficamente está localizada à margem direita do Paraná do Aranapu, politicamente pertence ao município de Uarini, estado do Amazonas. Por ser uma comunidade de várzea sua população adapta seu modo de vida às modificações da natureza, ou seja, subida e descida dos rios a cada seis meses. Possui uma população de 81 pessoas distribuídos em 12 domicílios, sendo que oito em terra-firme, e quatro em casas flutuantes construídas em cima de bóias de assacu (Hura crepitans L.). A principal atividade econômica desenvolvida pela comunidade é a pesca, a comercialização é feita com os barcos peixeiros oriundos principalmente da cidade de Tefé-Am, estes mantém uma relação de dependência com as comunidades. O sistema de aviamento na região é muito forte, principalmente em comunidades que ficam distantes dos centros urbanos, como é o caso do Maguari, o tempo médio gasto pelas famílias até Tefé é de 15h em um motor com potência 8HP, muito usado na região. Outra atividade desenvolvida pelos moradores é a agricultura de subsistência, a divisão da área é feita através de acordos entre as famílias, os lagos são de uso comum, divididos entre lagos para subsistência e comercialização, também é feita no rio Aranapu. A principal fonte de renda da comunidade, é a comercialização de peixes lisos, ou seja, peixes sem escamas, conhecidos como bagres. Os fatores mais significativos que influenciam a fixação dos moradores da comunidade nessa região são as relações de parentesco e a presença abundante de recursos naturais.

Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG –

Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008.

Graduando (a) em Geografia Universidade do Estado do Amazonas – UEA, bolsista de Iniciação Científica

PIBIC/IDSM/CNPq.

Socióloga, Mestre em Agricultura Familiar e Desenvolvimento Sustentável, pesquisadora do Instituto de

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Dinâmica da ocupação humana da comunidade de Maguari

localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável

Mamirauá

Hilkia Alves da SilvaAna Claudeíse S Nascimento

Introdução

Pesquisas arqueológicas realizadas na Amazônia revelam-nos sobre a ocupação humana dessa região e indicam que as populações primitivas habitavam tanto a várzea da grande malha fluvial formada pelo rio Amazonas e seus tributários, quanto à imensa floresta de terra firme e a faixa do litoral marítimo. Segundo Garcia a Amazônia que os Europeus “descobriram” no século XVI já estava habitada havia 10 mil anos ou mais. Aqui viviam grandes grupos humanos em diferentes estágios culturais, com formas próprias de organização social que foram destruídos durante o processo de colonização.

Em literaturas relacionadas à História do Amazonas encontra-se relato do período de colonização, esses registros revelam a existência de grandes povoadas, as margens do grande rio, essas áreas eram tão grandes que para se ter uma idéia do tamanho dessas povoações, “o cronista calculava a extensão territorial em léguas ou dias de viagens”. São exemplos desse tipo que Carvajal chamou de Províncias. A província de Aparia, a Província de Machifaro, as povoações de Omáguas além das áreas da desembocadura do Rio Amazonas que também eram bastante povoadas. Segundo Lima & Alencar (2000) na região do Médio Solimões localizava-se a Província dos Machifaros e ocupavam 20 Km ao longo do Solimões, entre os rios Tefé e Coari.

A historiografia do século XVI faz referencias a existência de uma população numerosa e a um padrão de ocupação humana na várzea do alto Solimões com a presença de povoados contínuos, construídos ao longo das margens deste rio e que se estendiam por quilômetros (ALENCAR 2002).

O histórico da ocupação humana da Várzea do Médio Solimões, de acordo com Lima & Alencar (2000) é dividida em seis fases a primeira denominada de ameríndia (-1680). Esse sistema de ocupação humana foi sendo modificado a partir do período colonial (1690–1890), quando a população ameríndia sofreu forte dizimação. A ocupação colonial na região do Médio Solimões iniciou-se com o sistema de missões espanholas. A terceira fase está relacionada ao despovoamento provocado pelo colapso da economia da borracha no período de (1900-1910), logo depois da decadência da borracha houve a expansão do comércio rural (1920-1950) nesse período prevalecia o sistema de aviamento, que consistia na “troca” entre mercadorias manufaturadas e produtos agrícolas e extrativos. Por volta de 1960 a 1970 há o declínio do comércio rural nesse momento o sistema de aviamento entra em colapso e em conseqüência desse fator há um grande êxodo rural, os patrões saem do interior e procuram os municípios mais próximos, é nesse período que muitos dos assentamentos que estavam

Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG –

Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008.

Graduando (a) em Geografia Universidade do Estado do Amazonas – UEA, bolsista de Iniciação Científica

PIBIC/IDSM/CNPq.

Socióloga, Mestre em Agricultura Familiar e Desenvolvimento Sustentável, pesquisadora do Instituto de

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centrados próximos ao patrão foram extintos. O êxodo rural e a consolidação da organização comunitária após o ano de 1980, correspondem à sexta etapa da ocupação humana dessa região.

Acredita-se que a formação dessas localidades e a mobilidade dos indivíduos e/ou assentamentos estão relacionados a fenômenos de ordem natural e social. A várzea é um ambiente dinâmico, provocando mudanças nas paisagens e perda de áreas, fazendo com que esses assentamentos troquem de lugares. Outros fatores que podem influenciar na formação ou mobilidades dessas localidades são a criação de novos grupos domésticos e também a existência de conflitos pela disputa de recursos naturais.

A comunidade de Maguari localiza-se na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (RSD Mamirauá1), região do Médio Solimões estado do Amazonas, possui uma área de 1.124.000 ha, a reserva foi dividida em duas áreas chamadas área focal2 (260.000 ha da reserva.) ficando o restante como área subsidiará (864.000 ha). A comunidade em estudo encontra-se na primeira área referida.

O objetivo desse estudo consiste em descrever o processo de ocupação humana da comunidade de Maguari, a identificação dos padrões de ocupação, data de formação da comunidade, dinâmica demográfica e mobilidade geográfica dos indivíduos e famílias, mapeamento dos territórios de ocupação.

Figura 01: localização da comunidade de Maguari

1 Reserva de Desenvolvimento Sustentável é uma categoria de Unidade de Conservação de uso sustentável,

criada pelo Sistema Nacional de Conservação (SNUC) (NASCIMENTO 2003).

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O Ambiente de Várzea

A região onde está situada a comunidade de Maguari é a maior área de florestas inundadas do Brasil onde predomina o ecossistema de várzea. “A Várzea é uma área que sofre alagação sazonal provocada pela variação do nível de água dos rios que oscila ao longo do ano entre 8m na seca e 13m no período das chuvas3”. Ayres (1993) classificou a área geográfica da reserva Mamirauá em dois tipos de várzea. As restingas e os chavascais que localizam-se nas terras mais baixas e abertas. As restingas se subdividem em alta e baixa. As restingas altas estão sujeitas à alagação anual por dois a quatro meses, com profundidade que pode vaiar entre 1 a 2,5m e representam 12% da área florestal da várzea. A restinga baixa corresponde à transição entre as áreas de florestas da várzea para o chavascal que representa cerca de 85% da cobertura florestal da várzea. A várzea da região do Paraná do Aranapu é de origem pleistocênica com mais de 100.000 anos de idade.

Segundo ProVárzea/IBAMA a várzea é um meio de vida para mais de 1,5 milhões de ribeirinhos ela ocupa 300 mil km2, ao longo da calha do rio Amazonas Solimões e seus principais tributários, tamanho equivalente a 6% da superfície da Amazônia Legal. Seus rios e lagos, bem como outros corpos de água da Amazônia, abrigam 25% das espécies de peixes de água doce do mundo. Estima-se que exista cerca de 3 mil tipos de peixes nessas áreas, dos quais 200 têm sido explorados comercialmente. O recurso pesqueiro representa a síntese das interações entre os diversos componentes desse ecossistema, além de ser à base da dieta e principal fonte de renda da população ribeirinha, proporcionando mais de 70 mil empregos diretos na região.

As comunidades de Mamirauá localizam-se em ecossistema de várzea ambiente extremamente dinâmico. Sujeito a enchentes anuais e mudanças na morfologia de seus terrenos, devido à subida e descida da água, (período de cheia e seca). O nível das águas chega a subir, em mėdia, 12 metros acima do nível do rio. Essa variação no nível das águas na várzea está associada as fortes correntezas que provoca o fenômeno da Terra caída principalmente na cheia levando assim os sedimentos para outras áreas que dá origem a formação de novas terras (as praias). Segundo as pesquisadoras Lima D. & Alencar Edna (2000) o ciclo anual da várzea condiciona e influência no modo de vida da população local, não somente no que se refere às suas atividades de subsistência, mas também na forma de ocupação do espaço e na organização social. A sazonalidade da várzea implica em um calendário de atividades econômicas especifico, sendo que plantio na vazante, pesca no período de cheia, colheita agrícola na enchente e a extração de madeira na cheia (Lima & Alencar 2000). Essas são as principais atividades desenvolvidas pelas populações desse ecossistema. No entanto esse calendário não é exato, pois a dinâmica da várzea percebida em uma cheia rigorosa ou uma seca prolongada, nem sempre permite a realização de tais atividades planejada para cada período.

Na várzea do médio Solimões as áreas habitadas limitam-se a estreitas faixas de terras mais altas e que são menos atingidas pelas enchentes. Esse é um fator que implica em uma característica dos assentamentos localizados em várzea, esses são menores e mais instáveis que os assentamentos situados em terra firme. O rio transforma a paisagem e nesse processo de transformação, provoca mobilidade da população e limita o tempo de duração das localidades. Este fenômeno explica, em parte, o padrão de ocupação humana que se caracteriza pela baixa densidade populacional (Lima & Alencar 2000).

Segundo Meggers (1987), o padrão atual de ocupação da várzea resulta de uma característica de adaptação da população humana a este tipo de ambiente que se caracterizaria

3 ALENCAR, Edna F. 2002 Terra caída: Encante, Lugares e Identidade Tese de doutorado Departamento de

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pela imprevisibilidade. A adaptação ao ecossistema da várzea e da terra firme seria, portanto, um fator determinante do tamanho da população e também da complexidade social e cultura.

No médio Solimões a partir da década de 70, as mudanças ocorridas nas relações sociais e de produção (a diminuição da produção peixes, tartarugas, madeira de alto valor fez com que os patrões4 migrassem para centros urbano) influenciaram diretamente no padrão de ocupação humana, pois por volta das décadas de 50 e 60 os assentamentos agrupavam-se em locais onde pudessem ter o apoio de um patrão e com a saída destes na década de 70 houve a extinção de vários assentamentos, e a redução do número da população de outros, pois muitos ribeirinhos5 também procuraram morar em centro urbanos.

A Comunidade de Maguari

Localizada a margem direita do Paraná do Aranapu, tem como vizinhas às comunidades de Bate Papo, Acari e Barroso (INCLUIR COORDENADAS). A população de Maguari é de 81 pessoas distribuídas em 13 famílias e 12 domicílios, com a média de sete pessoas por unidade domiciliar. A comunidade dispõe ainda de uma escola municipal com ensino multiseriado de 1a a 4a serie do Ensino Fundamental. (Um gerador de energia elétrica á diesel doado pela Prefeitura de Uarini), um Centro Comunitário e um flutuante PCP (Programa de Comercialização de Pescado) os dois últimos itens foram doações do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.

A área focal da Reserva Mamirauá é composta por nove setores, Ingá, Mamirauá, Jarauá, Tijuaca, Boa União, Aranapu, Barroso, Horizonte e Liberdade. Cada setor é formado por em média 10 comunidades. O setor Aranapu é composto por oito comunidades que são: Ponto X, Vila Pentecostal, Nova Jerusalém do Capucho, São Francisco do Bóia, S. Raimundo do Panauã, Maguari, Acari e Bate Papo.

Segundo estudos realizados pelas pesquisadoras Lima & Alencar (2000) a estimativa de fundação desse assentamento é do ano de 1935. Iniciou o povoamento com o casal Januário Pereira e Maria Conceição Alfaia vindos de uma comunidade rio acima chamada Araçá.

A história da origem de Maguari foi narrada pelo morador Firmino Alfaia Pereira (falecido em 2000) à pesquisadora Alencar (1993). Os dados aqui apresentados também são de uma ex-moradora Marta Pereira Carvalho 62 anos irmã de Firmino, as informações de D. Marta é resultado dessa pesquisa, coletada em março de 2008.

Segundo Lima & Alencar (2000) a formação dos atuais assentamentos do Aranapu incluindo Maguari é resultado da dispersão dos moradores de uma localidade extinta chamado Araçá, localizada na margem esquerda do Paraná do Aranapu.

A localidade Araçá foi provavelmente fundada no início do século XX. Um dos moradores mais antigos, Manuel Alfaia (avô materno de Firmino Alfaia) quando chegou à região com a esposa vindo de Parintins (Rio Amazonas) na década de 1920, encontrou oito famílias residindo no Araçá. Este grupo de famílias era formado por parentes e também possuíam laços de parentesco com Manoel Alfaia, sendo este um dos motivos que o levou ao Araçá. Como na história de outros assentamentos, o parentesco é um importante fator para a escolha de um local para morar. Em Araçá Manoel Alfaia criou sua família. Uma de suas filhas casou-se com Januário Pereira da Silva, que havia saído de Tupé (uma localidade acima) para o Paraná do Aranapu da década de 1930, e fixou residência em Araçá. Desde essa época a fartura de peixe atraía as pessoas para o local. Segundo o Sr. Firmino, seu avô Manuel Alfaia veio para o Aranapu porque [...] “o lugar que mais

4 Aquele que detendo os méis de comercialização, fornece ao freguês as mercadorias industrializadas a troco dos

produtos agrícolas e extrativos, e eram os donos de barracões.

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produz é aqui. Ele veio por causa da produção mesmo. Para lá era difícil e ele era pescador. Aí ele veio para cá e desde esse tempo foi criando as famílias; os filhos foram casando e aí teve nós e nós casamos também”. (Lima & Alencar 2000:33).

A comunidade de Araçá existiu entre os anos de 1910 e 1970. Apesar da fartura do lugar, as famílias não permaneceram por muito tempo devido à formação de praia, fechando o Paraná e causando o isolamento do assentamento. O casal Januário Pereira e Maria Conceição Alfaia formaram um novo assentamento, o sítio Maguari. O Casal teve 12 filhos dentre eles seis homens e seis mulheres, o primeiro filho a constituir família foi Amadel Alfaia Pereira casou-se com uma moça de um assentamento vizinha (São Francisco do Bóia) e optou por morar em Maguari para ficar perto da família.

Os demais filhos foram casando e também ficando na comunidade, como conta a Sra. Marta Carvalho.

“Nós fomos se formando e casando e ficando aqui mesmo, e aí a comunidade foi crescendo só com os familiares de um casal, começou a comunidade cada um filho, filha que casava e ficava aqui mesmo sabe? Como é até agora. [...]depois que meus pais morreram foi assim quem continuou a comunidade foi os filhos e hoje os neto. [...] porque o tempo foi passando e os meus irmãos foram saindo da comunidade, uns foram pra Tefé, Alvarães, Uarini e hoje tenho irmão espalhado por uma porção de lugar, outros morreram, eu fui embora pra Tefé em 1978 porque meu marido morreu e aí ficou só o Firmino aqui dos irmãos, depois ele morreu e hoje só ta os filho dele e os meu que se casaram (risos)” (março de 2008).

Um dos fatores que influenciaram para a saída de moradores do Maguari no passado segundo a Senhora Marta foi à falta de uma escola para alfabetização das crianças e também porque ficou difícil a produção.

“Meus irmãos foram pra cidade pôr os filho pra estudar porque não tinha nenhum lugar naquele tempo que tivesse escola por aqui por perto, e também porque já tava ficando difícil de produção. Naquele tempo nós tinha produção de peixe e plantio, agente plantava banana, roça, milho, feijão melancia em fim várias coisas, agente trabalhava mais com agricultura do que com pesca. Agente plantava durante o ano todo porque naquele tempo não havia enchente assim como agora, era dez anos de enchente pra alagar tudo e dez ano que não havia enchente, então nós tinha roça que ficava de um ano pro outro, nós tinha bananal a vontade e no verão quando saia praia nós plantava feijão, melancia, arroz, jerimum, durante todo o ano agente tinha produção, mas era mais para nós comer as vezes que agente trocava com os regatão por açúcar, café, sabão era mais isso que agente comprava porque as outras coisas nós mesmo produzia. [...] naquele tempo era mais o meu pai que pescava, mas era mais pra nós comer, ele também comprava pra vender pro patrão dele o seu Antônio Felino que morava no Solimões, os meus irmão pescavam pouco, alguma vez eles pescava pra vender pro seu Antônio ele tinha um motor e vinha pegar a produção, o peixe que dava dinheiro e que tinha muito era o pirarucu. (Marta Carvalho 62 anos, ex moradora de Maguari, março de 2008).

Outro fator que também influência para a mobilidade e saída de pessoas e também do Assentamento no Paraná do Aranapu é o fenômeno da terra caída e a formação de praias “lombadas de terra” como os moradores definem. Segunda a senhora Marta os primeiro moradores de Maguari moravam em uma ilha que ficava no meio de onde é hoje o Paraná do Aranapu, e mudaram porque a Terra começou a cair.

“Foi caindo, caindo até que a ilha desapareceu toda, foi uma pena porque lá tinha muitas plantações açaizal e muitos, muitos pé de cacau. Depois de lá nós passemo a morar já desse lado”. (Marta Carvalho 62 anos, ex moradora de Maguari, março de 2008)

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Figura 02: Fenômeno da Terra caída.

As figuras acima foram tiradas da comunidade de Bate Papo, localizada a 5.65 Km. de Maguari, registradas de um mesmo lugar em menos de três meses houve uma brusca modificação da paisagem, os moradores dessa comunidade costumam construir suas casas cerca de 40 a 50 metros de distância da margem do Rio, pois segundos eles um morador construiu a casa a 5 metros de distância em relação ao barranco e antes mesmo de concluir a construção, já teve que retirar a casa, pois o barranco estava caindo de forma intensa.

O fato da comunidade do Bate Papo localizar-se rio acima em relação a Maguari, e a intensidade com que a água é levada rio a baixo no período da cheia, pode explicar o aparecimento de praias no período da seca em frente à comunidade de Maguari, pois grandes quantidades de sedimentos são aí depositadas.

A comunidade de Maguari já mudou quatro vezes de localização, uma vez por motivo de terra caída e três devido à formação de praia. Nos meses de setembro e outubro período da seca o acesso ao rio Solimões se torna difícil, pois em frente à comunidade sai uma praia com cerca de 5 Km dificultando assim o deslocamento de pessoas e também o tráfego de barcos. A história de Maguari não difere das histórias de outras comunidades da reserva Mamirauá, pois é uma história marcada pela migração freqüente de seus habitantes que são levados constantemente, a procurar outros locais para morar como forma de superar as limitações que a várzea impõe. Como enfatiza um morador de uma casa flutuante6.

“Quem mora na várgea tem que procurar se ajustar a ela, por isso eu fiz esse flutuante, porque na seca nós que tem flutuante, agente saí lá pra fora. A praia que sai aqui toma de conta da frente da comunidade toda vem desde lá de cima e termina lá pra baixo, cada ano parece que ela cresce mais, daqui mais um tempo acho que a comunidade vai ter que mudar de lugar de novo. [...] o pessoal que mora em terra, na seca eles sofre muito, eles tem que andar mais de 20 minuto pra chegar na beira do rio, e pra pegar água é pior ainda”. (Damião 42 anos morador da Com. de Maguari, março de 2008).

Segundo Lima & Alencar (2001) o tempo de formação de uma lombada7 de terra

varia de acordo com o tamanho da cheia. Na região da comunidade de Maguari entre sete e dez anos deve ocorrer uma mudança do assentamento. Para as famílias fazer, desfazer e refazer suas casas é tarefa constante, pois a simplicidade do material (madeira, alumínio e

6 Casa de madeira construída em cima de bóias de assacu (Hura crepitans L.) 7 Formação de terra, praias

Paraná do Aranapu Março/2008 Paraná do Aranapu Dez/2007 Paraná do Aranapu março 2008

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palha) lhes permite realizar o deslocamento de um lugar para outro levando na bagagem não apenas seus utensílios8 e bens pessoas, mas também a madeira da sua própria casa.

Figura 03 formação de praia em frente à comunidade de Maguari (dez/2007)

A constante mudança na paisagem da várzea muitas vezes faz com que as pessoas percam lembranças de como era o ambiente antes como enfatiza a Dona Clotilde.

“Eu lembrava tudinho como era o lugar quando eu cheguei, quantos morador tinha, mas vai mudando, mudando e aí agente vai esquecendo né? Hoje eu quero lembrar, mas não dá mais, só lembro da ilha no meio do Rio, tinha uma porção de plantação lá” (março de 2008).

Fatores que influenciam a permanência da população em Maguari.

A permanência dos moradores em Maguari relaciona-se tanto a fatores de ordem econômica quanto política. Dentre os fatores econômicos o principal é a existência de recursos naturais, com demanda de mercado, como o pescado; as restingas (porções de terras altas na várzea) possibilitam o cultivo de mandioca, banana, milho, melancia, jerimum, produtos que ajudam nas despesas das famílias, pois apesar desses produtos serem cultivados para consumo familiar, ganham importância em períodos ruim de pesca. Como afirma uma moradora.

“Agente planta só pra comer mesmo, mas quanto ta ruim de peixe como agora, que só tem pra comer, agente troca um cacho de banana, uma melancia quando tem, por um quilo de açúcar um pacote de café, assim agente vai levando”. (Valdenora 41, anos moradora da Com de Maguari, março de 2008).

Outro fator relaciona-se ao aumento e valorização da produção de pescado, pois desde que a reserva de Mamirauá foi criada, não se percebe mais a presença de invasores como barcos de pesca de grande porte que vinham principalmente de Manaus. Instalava-se por todo o Paraná do Aranapu e nos lagos.

“Agora ta muito bom, nós tem lago só pra nós não temo mais que dividir com os barcos de pesca, porque naquele tempo agente chegava no lago tava branquinho de peixe morto, eles pega um monte, depois eles pegavam peixe maior aí eles jogavam aqueles que já tinham pegado, aí não ficava nada pra gente. Porque nós

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não tinha o material que eles tinha. [...] agora melhorou muito, tem comprador pra nossa produção, o preço melhorou também um pouco, no ta bom ainda mas agora agente já pode comprar as nossas coisinhas que antes ninguém nem pensava em ter”. (Damião, 42 anos Morador da Com. Maguari, dezembro de 2007).

De acordo com Lima o desenvolvimento tecnológico, também possibilitou uma maior capacidade de exploração dos recursos, na pesca, essa tecnologia pode ser traduzida em redes de náilon, mais leves de maior durabilidade e com mais poder de captura. A facilidade de escoamento da produção, hoje as caixas de isopor com gelo também facilitam na conservação da produção dos pescadores, pois até na década de 70 o peixe para a comercialização era salgado e seco ao sol, com vários risco de contaminação.

“Os fatores políticos que influenciam o padrão do assentamento referem-se a existência de organização comunitária, que representa os interesses que represente os interesses dos moradores dos assentamentos, a maneira como essa liderança local se articula com o poder municipal”. (Lima & Alencar 2000 P.151)

As mudanças que ocorreram na comunidade nos últimos cinco anos também são fatores que influenciaram para a fixação dos moradores no lugar. Segundo os moradores a comunidade de Maguari já pertenceu aos municípios de Fonte Boa (duas vezes) por cerca de 30 anos, e depois por mais 12 anos, pertenceu também ao município de Maraã (não souberam responder por quanto tempo), por mais de 65 anos a comunidade ficou sem assistência governamental. No ano de 2002 em uma reunião dos comunitários, decidiram que a comunidade pertenceria ao município de Uarini, uma fez que o prefeito mostrou-se interessado em ajudar a comunidade.

Até o ano de 2001, dos dez domicílios de Maguari sete eram casas flutuantes. Quando a comunidade passou a pertencer ao município de Uarini uma exigência do Prefeito foi que as casas fossem construídas em terra, pois para a comunidade receber benefícios teria que se fixar em um lugar, já que moradores de casas flutuantes não tinham um local fixo.

Segundos os moradores depois que a comunidade começou a se organizar a vida dos comunitários melhorou. A assistência prestada pelos órgãos municipais, como a implantação de escolas também se apresenta como importante fator social que contribui para estabilidade de uma comunidade e também para afixação de seus moradores. Em 2003 a prefeitura de Uarini construiu a escola Municipal Maguari, os moradores mencionam a escola como uma das principais melhorias na comunidade.

“As crianças tem oportunidade de estudarem, já que os adulto não tiveram. [...] o meu filho mais velho teve que sair pra estudar, agora já tem escola vou trazer ele pra estudar aqui. (Maria Josinei 28 anos morador de Maguari, março de 2008).

A prefeitura de Uarini também fez a instalação de um gerador que fornece energia elétrica à comunidade durante um período de quatro horas diária. A organização comunitária também é um importante fator para estabilidade da comunidade, a criação da Associação Comunitária lhes permite receber benefícios do governo, federal e estadual. De acordo com Maria Pereira, 45 anos só receberá a bolsa floresta9 quem mora no interior e também as comunidades que são organizadas.

9 Auxílio dado pelo governo do Estado do Amazonas as populações Tradicionais que já realizam atividade de

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A permanência dos moradores na comunidade tem forte ligação com produção econômico com o apoio das prefeituras, das instituições, mas está relacionada principalmente a insegurança, como enfatiza alguns moradores.

“Eu penso em sair daqui e ir pra cidade e meus filho passar fome lá, porque lá se o cara não tem dinheiro passa fome, aqui não, quando agente ta com fome é só ir ali no lago que tem peixe a vontade, não como antigamente que tinha muita fartura de tudo quanto era peixe, mas ainda dá pra viver, quando agente quer fazer uma casa é só ir no mato tira uma madeira e faz a nossa casinha. Na cidade não, se o cabra não tiver emprego passa fome ele e os filhos”. (Francisco 52 anos morador de Maguari, março de 2008).

“[...] vontade de ir embora eu tenho, mas as condições ainda não deu, agente sabe como é na cidade tudo pra fazer tem que ter dinheiro, aqui não, é mais fácil” (Maria Pereira, 45 anos moradora de Maguari, março de 2008).

Caracterização da população da Comunidade de Maguari

Observando a pirâmide etária (figura 4) nota-se que a população de Maguari apresenta-se como principal característica demográfica ser uma população jovem, pois a população da faixa de 0 a 14 anos representa 55% da população total. A população feminina representa 43,21% do total da população, sendo que 40% está no período reprodutivo, ou seja, entre os intervalos de 15 a 49 anos. A população masculina é de 56,79% do total da população, sendo que 49% da população masculina de Maguari estão no período mais produtivo para o trabalho na faixa de 15 a 49 anos.

Figura 4: Pirâmide etária dos moradores da comunidade de Maguari. (n= 81 moradores)

A

Fonte: Pesquisa de campo dez/07, fevereiro/março 2008.

A pirâmide também mostra que a população adulta maior que 55 anos limita-se ao sexo feminino, pois a maior idade identificada no grupo masculino está no intervalo de 50-54 anos. Esse fato pode ser explicado pelo desgaste físico (trabalho braçal intenso, menos horas

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Sabe ler bem 30%

Ler com dificuldade 30% Não sabe ler

40%

de sono) ao qual o homem é submetido, o que implica na mortalidade masculina maior que a feminina em comunidades rurais nas faixas mais avançadas.

Após análise dos dados da população de Maguari constatou-se que a média é de sete filhos por casais. As mulheres iniciaram seu ciclo reprodutivo entre 15 e 17 anos, e os homens entre 22 a 24 anos. Outra característica a ser destacada é que 98% dos domicílios são constituídos por um único grupo familiar, o que Wolf (1976) denominou de família nuclear ou conjugal.

A coleta e análise de dados permitem distribuir as famílias em diferentes grupos domésticos, identificados a seguir.

Tipo 1: grupos de união recente entre 3 a 5 anos, composta de pai e mãe jovens, em média 23

anos para ele e 22 anos para ela, com 2 filhos pequenos com idades entre 3 anos e 8 meses. Três famílias apresentam essa caracteristica na comunidade.

Tipo 2: grupo formada por pai e mãe com idades entre 25 e 35 anos, com a média de 8 anos

de união. Os filhos têm em média 6 anos de idade. São cinco famílias que apresentaram esse perfil.

Tipo 3: grupo composto por pai e mãe com idades de 40 a 50 anos, com a média de 8 a 13

filhos, sendo na grande maioria adultos. Foram três famílias que apresentaram essas características.

Tipo 4: esse grupo é formado por mães viúvas, com idade entre 55 a 71 anos, com filhos

adultos e jovens. O filho homens (ainda em casa) assume o papel de chefe da família. Na comunidade de Maguari duas famílias enquadram-se nesse perfil.

Segundo Wolf (1970), em seu estudo sobre sociedades camponesas, as famílias

existem nos mais variados tipos e em todos os lugares, dividem-se basicamente em dois tipos: família nuclear e famílias extensas. A família nuclear consiste em um homem e uma mulher casada e seus filhos, e as famílias extensas são aquelas que agrupam em um único grupo doméstico, um certo número de famílias nucleares. Em maguari apenas um domicílio apresentou o perfil de família extensa.

Outra característica que chama atenção da população de Maguari refere-se ao índice de analfabetismo, onde 70% dos moradores não sabem ler ou, sabem ler com dificuldade e só 30% da população sabem ler bem. (Figura 6). Na distribuição por sexo, 77% das mulheres e 64% dos homens não sabem ler, ou lêem com dificuldade, apenas 23% das mulheres e 36% dos homens lêem bem.

O auto índice de analfabetismo da população adulta (superiores há 30 anos) da comunidade de Maguari, pode ser explicado pelo não acesso ao ensino dessas pessoas quando criança e jovens, pois a ausência de escola na comunidade nas décadas de 70 e 80 impossibilitou a alfabetização. Dentre a população alfabetizada (que sabem ler bem) se destacam os jovens com idades entre 15 a 22 anos. Na faixa etária de 7 a 14 anos (crianças e adolescentes) que se encontram em processo de aprendizagem e sabem ler com dificuldade.

Figura 5: Distribuição percentual da população de Maguari por grau de instrução.

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A comunidade apresenta uma forte relação de parentesco que une os grupos. A atual população de Maguari é oriunda de três troncos familiares. Sendo que as uniões conjugais começam a surgir a partir da segunda geração de filhos, já entre parentes. Os troncos familiares I e II (Figura 6) têm relação de parentesco simples, pois suas genealogias derivam de um único tronco, são, portanto primos de primeiro grau. Dos onze casais existentes na comunidade 55% dos casamentos aconteceu entre primos de 1º grau e 45% dos casais não têm nenhuma relação de parentesco.

Figura 6: Relação de Parentescos dos casais na comunidade de Maguari.

Casais Formação de casais na Com. Maguari

I (♂) A + B (♀) II (♂) A + B (♀) III (♂) D + A (♀) IV (♂) B + A (♀) V (♂) B + A (♀) VI (♂) B + A (♀) VII (♂) A + C (♀) VIII (♂) B + D (♀) IX (♂) D + C (♀) X (♂) D + C (♀) XI (♂) b IV + a I (♀)

Fonte: Pesquisa de Campo Dezembro 2007 e Fev/Março de 2008.

Legenda: Tronco I = A; Tronco II = B, Tronco III = C; a letra D = veio de outro lugar.

bIV = filho do casal IV; aI = filha do casal I

(♂) – Sexo masculino; (♀) – Sexo feminino

Cinco dos casais pertencem aos troncos, I representado pela letra A e II representado pela letra B primos de primeiro grau porque o pai do tronco I Firmino Pereira (já falecido) era irmão da mãe do tronco II Marta Pereira. O casamento entre os membros do trono III e I não apresenta relação de parentesco, os membros desse tronco familiar chegaram à comunidade por volta do ano de 1989. Como se pode observa (Figura 7) duas mulheres membros do tronco III representado pela letra C casaram-se com homens vindos de outras comunidades. Assim como ocorre com os casais III e VIII, o homem do casal III e a mulher do casal VIII vieram de outro local. As festas realizadas na comunidade servem para “que os jovens de outras localidades se aproximam das moças e estreitam relações de afetividade”. O casal XI pertence à terceira geração da comunidade, possuem relação de parentesco de primos duplos em primeiro grau, pois o homem é filho do casal IV e a mulher é filha do casal I, e já havia uma relação de parentesco de primos de primeiro grau desses casais. O casal XI têm dois pares de avós comuns como ancestrais comuns (dois troncos).

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Produção econômica

A pesca e a principal atividade produtiva desenvolvida na comunidade seja para subsistência seja para a comercialização, 75% das famílias de Maguari, pescam durante todo o ano, é, sobretudo nos meses de julho, agosto e setembro que é desenvolvida com maior intensidade, quando o nível do rio começa a baixar proporcionalmente e os peixes estão descendo o rio em cardumes, o que facilita a captura. A pesca para comercialização durante os meses acima, são feitas pelos homens, mulheres e os filhos mais novos. É durante esses meses que as famílias conseguem juntar dinheiro para adquirem patrimônio doméstico como: rabeta, gerador de energia elétrica, televisão, DVD, aparelho de som. O pescado é comercializado na comunidade para os barcos peixeiros vindo dos municípios de Tefé, Uarini e Fonte Boa, e no período de maior produção da pesca, meses de agosto e setembro, chegam barcos vindos principalmente de Manaus.

As principais espécies de peixes comercializadas na comunidade bem como seus respectivos preços podem ser observados na tabela 2. Os peixes lisos, chamados pelos pescadores de “feras” são as espécies mais comercializadas durante todo o ano, o valor médio de R$, 4,00 o Kg. Os principais compradores são do município de Tefé que exportam a produção principalmente para o Peru, Colômbia e Bolívia. Dentre os peixes mais consumidos podem ser destacados o tambaqui (Colossoma macropomum), o pirarucu (Arapaima gigas), tucunaré (Cichla monoculus), pirapitinga (Piaractus brachypomus) e peixe liso como o surubim (Pseudoplaystoma punctifer) e o caparari (Pseudoplatystoma tigrinum).

Figura 8: Identificação de lagos, área de roça e Manejo Florestal, desenho confeccionado pelos comunitários.

Fonte: Mapeamento Participativo, pesquisa de campo, março 2008.

A produção agrícola é basicamente para a subsistência, tendo em vista o ambiente de várzea, as famílias receiam em fazer grandes plantações. O plantio é feito na vazante iniciando nos meses de julho e agosto com as plantações de melancia e jerimum, maxixe. No mês de setembro, quando a terra já se encontra mais enxuta planta-se a mandioca, a banana e o milho. Os produtos agrícolas plantados pelas famílias estão distribuídos assim: nove

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famílias plantam roça, oito planta banana, sete plantam jerimum, três plantam milho e três plantam melancia. Apensar da produção agrícola ser de subsistência, e essa atividade que ajuda as famílias no período “ruim” de pesca nos meses de fevereiro e março. Esse período coincide com a colheita das roças e da banana. A colheita da melancia corresponde aos meses de novembro, dezembro e janeiro, a produção e comercializada na comunidade, nas comunidades vizinhas e com os regatões de Tefé e de Uarini.

Outra atividade econômica desenvolvida pela comunidade é o extrativismo de madeira. A comunidade em parceria com o Programa de Manejo Florestal do IDSM (Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá) desenvolveu nos anos de 2004 e 2005 o manejo de madeira. O extrativismo de madeira manejada é desenvolvido uma vez a cada ano, nos dois anos em que aconteceu a madeira foi comercializada com um comprador do município de Tefé, essa atividade só pode ser desenvolvida nos meses de março a junho, período em que o rio esta cheio, e facilita na retirada da madeira da mata. A comunidade de Maguari dispõe de três talhões para o manejo de madeira (Restinga do arto, talhão 3: 11,54 hectares, Restinga do Jacareubinha, talhão 4: 14,69 hectares, restinga do arto, talhão 2: 4,46 hectares), segundo os comunitários participantes a cheia dos últimos dois anos não foi suficiente para retirar a madeira já derrubada e nem extrair novas arvores.

Tabela1: Principais espécies de peixes comercializada na comunidade de Maguari.

Espécies de peixe mais comercializadas

Nome Popular Nome Científico Valor Kg Meses

Pirapitinga Piaractus brachypomus R$ 1,00 a R$ 1,50 Julho a Setembro

Pirarucu Arapaima gigas R$ 5,00 a R$ 7,00 Julho a Setembro

Tambaqui colossoma macropomum R$ 7,00 a R$ 9,00 Abril a Setembro

pescada Plagioscion squamosissimus R$ 1,00 Novembro e Dezembro

sulamba/Aruanã Osteoglossum bicirrhosum R$ 1,00 a R$ 1,50 Dezembro a Janeiro

peixes de escamas

Curimatá Prochilodus spp. R$ 1,00 a R$ 1,50 Dezembro a Janeiro

Surubim Pseudoplatystoma punctifer R$ 4,00 Janeiro a Dezembro

Pirarara Phractocephalus hemioliopterus R$ 4,00 Janeiro a Dezembro Jaú Zungaro zungaro R$ 4,00 Janeiro a Dezembro

Caparari Pseudoplatystoma tigrinum R$ 4,00 Janeiro a Dezembro

Pirauaca Sorubimichthys R$ 4,00 Janeiro a Dezembro

Dourado Brachyplatystoma flavicans R$ 4,00 Janeiro a Dezembro

peixe liso

Pacamum Zungaro zungaro R$ 4,00 Janeiro a Dezembro

Fonte: Pesquisa de Campo Dezembro 2007 e Fev/Março de 2008.

A Figura 9 mostra que 75% da origem das fontes de renda da comunidade é através da pesca. A comunidade possui vinte lagos, dentre eles um para manutenção10 um de

procriação11, ficando dezoito lagos para a pesca de consumo e comercialização, mas apenas quatro (Volta, Vegina, Pote e Palhal) são utilizados para a pesca de comercialização, alem dos lagos da comunidade, e do rio (Paraná do Aranapu), os pescadores de Maguari ainda dispõem de três lagos do setor (Aranapu) de uso comum com três comunidades (Maguari, Acari e Bate Papo).

10 Lagos destinados a alimentação das famílias, onde é permitida a pesca.

11 Lago guardado pela comunidade para a reprodução das espécies, onde é proibida a pesca. Essas categorias

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Figura 9: Origem das fontes de renda dos moradores da comunidade de Maguari Pesca 75% Agricultura 8% Salário/ Aposentadoria 17%

Fonte: Pesquisa de Campo Dezembro 2007 e Fev/Março de 2008.

Outro elemento importante na composição das fontes de renda são os salários e aposentadorias, 17% das famílias compõem a renda com aposentadoria ou pensões. É principalmente nos domicílios dessas famílias que há um maior número de patrimônio doméstico. A garantia de salários e aposentadorias permite aos beneficiários comprarem bens, com ate 8 meses de prestações. O que não ocorre com as famílias que tem apenas a pesca e a agricultura como fonte de renda, essas famílias sempre adquirem os seus bens a vista e quanto há um maior aumento da produção. 8% das famílias tem a agricultura como principal fonte de renda. Em Maguari a produção agricultura é mais um complemento na renda, principalmente em períodos que há diminuição do pescado. A produção de banana, jerimum são produtos que os moradores costumam trocar por produtos como: açúcar, café, sabão em pó e em pedra e gasolina.

Figura 10: Distribuição dos auxílios governamentais na comunidade de Maguari

Bolsa família 37% Bolsa escola 13% Aposentadoria 25% Bolsa floresta 25%

Fonte: Pesquisa de Campo Dezembro 2007 e Fev/Março de 2008

Os auxílios governamentais recebidos pelas famílias de Maguari estão divididos da seguinte forma: três famílias recebem bolsa famílias os valores variam entre menor R$ 90,00 e maior R$ 120,00 o que representa 37% dos auxílios da comunidade. Duas tem cadastro da bolsa floresta no valor de R$ 50,00, duas aposentadoria, sendo uma por viuvez e uma por

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invalidez no valor de um salário mínimo. A penas uma família recebe bolsa escola no valor de R$ 76,00.

Consumo Familiar

Segundo Nascimento (2003) o padrão de consumo das comunidades de Mamirauá, pode ser distribuído da seguinte forme: o consumo voltado para o abastecimento alimentar da família de itens que são produzidos por eles e a compra de produtos encontrados nos mercados dos municípios e obtidos através da venda da produção doméstica.

Em Maguari 97% das famílias adquirem seu rancho12 na própria comunidade por meio dos regatões. A compra e feita da seguinte forma os comunitários apresentam a produção seja de peixe ou de produtos agrícolas (banana, farinha, jerimum, melancia) os regatões avaliam o produto dão o valor e as famílias recebem o pagamento nos produtos listados na tabela 4. “Deste modo, a produção domestica atende as necessidades de consumo por duas vias: a direta, produzida pelo grupo doméstico; e a indireta, que passa pelo circuito de troca de mercado” (LIMA 2002).

É importante destacar que mesmo com uma produção voltada para o consumo interno da família, os principais gastos com o mercado são com alimentação, observando a (Figura 11) nota-se que dentre as principais despesas os doze domicílios, destacaram a alimentação, sete também mencionaram os gastos com energia, esse numero esta relacionado ao gasto com gasolina, despesa essa especifica das famílias que possuem geradores de energia. Cinco famílias também destacaram os gastos com aquisição de patrimônios domestico e pessoais e instrumentos de trabalho, como: malhadeiras, anzóis, pilhas para a pesca a noite e gelo para a conservação do pescado. As despesas de “outros” refere-se a gastos com bebidas, fumo, medicamentos, vestuário e cosméticos. Os três últimos adquiridos principalmente nos municípios de Tefé, Fonte Boa e Uarini.

Figura 11: Freqüência das principais despesas doméstica no período de agosto de 2007 a março de 2008. N=12 domicílios. 12 7 5 5 3 0 2 4 6 8 10 12 14

Alimentaçao Energia Patrimônio

Domestico e pessoal

Instrumentos de trbalho

outros

Fonte: Pesquisa de Campo Dezembro 2007 e Fev/Março de 2008

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Tabela 2: Relação e valores dos produtos mais consumidos na comunidade de Maguari, adquirido na comunidade por meio dos regatões.

Valores dos produtos mais consumidos na comunidade de Maguari

Produtos Quantidade Medida Valor

açúcar 1Kg R$ 1,00 a 1,50 café 1100 Gr R$ 1,50 trigo 1Kg R$ 3,00 a 3,50 Lta R$ 9,00 a 12,00 leite 1 pct R$ 2,00 bolacha 1pct R$ 3,00 óleo 1litro R$ 3,00 a 5,00 sal 1Kg R$ 0,90 a 1,00

creme dental 1tubo pequeno R$ 2,00 a 2,50

margarina 1250 Gr R$ 2,00 Farinha 1Kg R$ 2,00 Nescau 1Lta R$ 8,00 arroz 1Kg R$ 3,00 macarrão 1pct R$ 3,00 sabão pedra 1Kg R$ 3,00 sabão em pó 1Cxa R$ 4,00 a 5,00

água sanitária 1garrafa R$ 3,00 a 4,00

gasolina 1litro R$ 3,50 a 4,00 palha de aço 1pct 2,80 a 3,00 combustol 1litro R$ 3,00 tabaco 1onça R$ 2,00 querosene 1litro R$ 1,50 fósforo 1maço R$ 1,50

Fonte: Pesquisa de Campo Dezembro 2007 e Fev/Março de 2008

O padrão de consumo nas comunidades da RDSM (Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá) é muito regular, as compras são compostas de gêneros simples e de primeira necessidade. Os itens mais consumidos estão apresentados na tabela 2 por ordem de freqüência. O valor apresentado é referente aos meses de janeiro, fevereiro e março de 2008. A quantidade adquirida por cada família difere, de acordo com o número de pessoas em cada domicilio.

CONCLUSÃO

A ocupação humana em Maguari data da década de 30, período em que segundo as pesquisadoras LIMA & ALENCAR houve um aceleramento na ocupação da reserva foram registrados nessa década a fundação de onze assentamentos, o maior número de fundações por década verificado no espaço e no tempo. Atraídos pela fartura de peixe e madeira de lei, eram especialmente pescadores e extratores de madeira que fundavam os assentamentos. Nas décadas seguintes 40 e 50 o comércio rural se intensifica, o que consolida ainda mais a permanência desses assentamentos.

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Os fatores que influenciam para a permanência das famílias na região do Aranapu, assim como no passado continua a ser a oferta de recursos naturais, principalmente o pescado. A grande população residente na comunidade de Maguari são pescadores, os meninos iniciam a prática da pescaria entre 7 a 10 anos acompanhando os pais ou os irmãos mais velhos. A implantação da Reserva também veio somar, para essa permanência no local, pois a perseguição de barcos peixeiros oriundo de Manaus e Belém, muito comum nas décadas de 70 e 80, hoje é totalmente remota, como costumam dizer os moradores “vivemos em uma reserva que é nossa, e temos que lutar pela preservação daquilo que hoje nós temos para que no futuro nossos filhos também possam ter”. As invasões no passado deixaram marcas hoje não se vê um pirarucu (Arapaima gigas) com facilidade, espécie bastante apreciada pela culinária local.

Outra característica proveniente do passado é a forte dependência dos regatões, a comunidade de Maguari é altamente dependente desses barcos, seja para vender a produção, seja para adquirir os produtos industrializados. As famílias não costumam ir aos centros urbanos, até porque a condição financeira não permite. A comunidade de Maguari segundo os moradores desenvolveu-se bastante nos últimos dez anos. Após a criação da Reserva houve um aumento na renda das famílias, o que pode ser percebido nas suas casas, antes a maioria dos domicílios eram cobertos com palhas em condições precárias, hoje 98% das residências estão cobertas de alumínio e madeira nova. As ações desenvolvidas pelo instituto na comunidade são: Educação Ambiental, apoio do Programa de pesca, manejo de madeira, assistência jurídica para a formação da Associação Comunitária.

A prefeitura de Uarini segundo os moradores da comunidade vem desenvolvendo um bom trabalho. No entanto, para que a qualidade de vida dos moradores melhore é preciso principalmente atendimento à saúde, pois, a comunidade não dispõe de agente de saúde e nem remédios, ficando dependente do agente da comunidade vizinha (Barroso). É perceptíveis o grande número de crianças com verminoses e anêmicas. Os moradores reclamam das dificuldades que enfrentam para se deslocaram ao município mais próximo (uarini) em motores rabeta13 viajando por cerca de oito horas em baixo de sol ou chuva para chegar em um centro urbano mais próximo, tendo um gasto médio com gasolina em torno de R$ 120,00.

A busca constante por melhores condições de vida, aliada à instabilidade do ambiente de várzea, resulta em uma comunidade instável, pois o fator que mais influência para a permanência desses moradores na comunidade além da relação de parentesco é o receio de saírem da comunidade para outro local e esse novo lugar não apresentar as mesmas características da sua comunidade, principalmente em relação à abundância de recursos naturais.

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Referências

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