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Projeção de emissões de dióxido de carbono no Brasil e as metas nacionais para o Acordo de Paris

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Academic year: 2021

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Projeção de emissões de dióxido de carbono no Brasil e as metas nacionais para o Acordo de Paris

Geísa Pereira Marcilio Nogueira - UCAM - Universidade Candido Mendes

Gustavo Henrique Naves Givisiez - UFF - Universidade Federal

Fluminense

João José de Assis Rangel - UCAM - Universidade Candido Mendes

Resumo: Estudos que utilizam o fator demográfico têm sido cada vez mais frequentes para traçar perspectivas socioeconômicas em diversos países como contribuição em planejamentos de curto, médio e longo prazos. O presente trabalho buscou utilizar o campo da demografia em um contexto de sustentabilidade ambiental. Assim objetivou-se realizar uma projeção demográfica para as emissões de CO2 no período de 2020-2040 e fazer um contraponto com as metas brasileiras de redução dessas emissões propostas no Acordo de Paris. O método utilizado foi a regressão linear múltipla que considerou os efeitos anuais e populacionais sobre as emissões de CO2. Os resultados sugerem que o Brasil pode ser encarado como um país com grande potencial sustentável, em particular pela sua diversidade na matriz energética. Contudo, ainda precisa enfrentar muitos desafios no que tange a um planejamento integrado e articulado entre os diversos setores econômicos, políticos e sociais.

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Introdução

As projeções demográficas, enquanto ferramentas para analisar a dinâmica populacional, têm recebido maior visibilidade nos tempos críticos atuais como forma de nortear a tomada de decisão, tanto em setores privados como em órgãos governamentais, auxiliando na realização de investimentos e na distribuição de recursos. No que se refere à conjuntura econômica e social as projeções demográficas têm contribuído para o sucesso nas organizações em geral. Não obstante, também é possível utilizar o fator demográfico para propor estudos relativos ao comportamento da população em relação a aspectos de sustentabilidade ambiental (CASEY & GALOR, 2017).

Nessa vertente, as instituições governamentais brasileiras também utilizam as projeções para diversos setores estratégicos do país com o objetivo de mensurar, por exemplo, a demanda futura por serviços de saúde e educação, o consumo energético, as emissões de gases do efeito estufa (GEE), em particular, as emissões de CO2 entre outros. Para exemplificar, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) traz, por meio do documento intitulado Estimativas Anuais de Emissões de Gases do Efeito Estufa no Brasil, algumas projeções quanto às emissões de CO2 nacionais. Diante disso, o objetivo deste trabalho é realizar uma projeção demográfica para as emissões de CO2 para o período de 2020-2040 e fazer um contraponto com as metas brasileiras de redução dessas emissões propostas no Acordo de Paris. Para tanto, utilizou-se a regressão linear múltipla a partir dos efeitos anuais e populacionais sobre as emissões de CO2. Método

O modelo de regressão múltipla mais simples possível, conhecido como regressão linear múltipla, é aquele composto por três variáveis, sendo uma dependente, ou regressando, (Y) e duas explanatórias, ou regressores, (X1 e X2). A escolha das variáveis explanatórias deve considerar que as mesmas são capazes de explicar a variável dependente (GUJARATI & PORTER, 2011). A função de regressão geral para este caso é dada pela Equação 1.

𝑌𝑖 = 𝛽1+ 𝛽2𝑋2𝑖+ 𝛽3𝑋3𝑖+ 𝑢𝑖 (1)

Considerando que:

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𝑋2 𝑒 𝑋3: são as variáveis explanatórias (ou regressores);

𝛽1: é o intercepto (dá o efeito médio sobre 𝑌 de todas as variáveis excluídas do modelo);

𝛽2 e 𝛽3: são os coeficientes parciais de regressão (ou angulares); 𝑢: é o termo de erro estocástico;

𝑖: é o indicador da i-ésima observação;

No presente trabalho, foi desenvolvido um modelo de regressão linear múltipla para projetar emissões de CO2. Assim, a função do modelo de regressão utilizado teve como variável dependente a emissão de CO2 (em Megatoneladas de CO2) e como variáveis explanatórias o ano e a população anual do Brasil, expressa em milhões, ambos no período de 1990 a 2040. Os dados da população brasileira anual entre 1990 e 2014, utilizados para obter a função, foram coletados da base de dados da Agência Internacional de Energia (IEA da sigla em inglês International Energy

Agency). Já os dados populacionais referidos aos anos de 2015 a 2040, utilizados

para projetar as emissões de CO2 anuais, foram obtidos do Intituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE).

Após a coleta de dados, os mesmos foram processados no software Excel que retornou os resultados das projeções anuais de emissão de CO2 bem como o sumário dos resultados da estatística de regressão (VARTANIAN, CIA & MENDES-DA-SILVA, 2013). A análise de variância (ANOVA) do ponto de vista da regressão apresentou o valor p (F de significância) equivalente a 2,702E-16. O coeficiente de determinação múltiplo (𝑅2) foi de, aproximadamente, 0,96 indicando que os regressores ano e população são altamente explicativos para as emissões de CO2. Resultado

A partir da aplicação do método de regressão linear múltipla pode-se obter a projeção das emissões de CO2 para o período de 2020-2040 no Brasil, conforme ilustrado pela Figura 1. Nota-se que em virtude de um contexto de aumento contínuo da população e do PIB, as emissões de CO2 tendem para um aumento exponencial. De acordo com a projeção em 2025, por exemplo, as emissões podem girar em torno de 750 Mt de CO2 e em 2030 em torno de 890 Mt de CO2. Cabe ressaltar que esses resultados não consideraram cenários alternativos para conter as emissões, trata-se de uma tendência baseada no tempo de no aumento populacional. Apesar

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do contexto desfavorável, tem-se percebido um esforço internacional no intuito de conciliar o crescimento e o desenvolvimento econômico com a questão da sustentabilidade ambiental, em particular no que tange às questões climáticas e de aquecimento global. Como um dos exemplos mais recentes, o Acordo de Paris, ocorrido em dezembro de 2015, tem como um de seus compromissos limitar o aumento da temperatura média global a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais (DONG et al., 2018).

Figura 1: População e emissão de CO2 projetada para o Brasil até 2040.

Fonte: Elaborado pelos autores a partir dos dados do IBGE e IEA.

Discussão

O Ministério do Meio Ambiente divulgou que, para o cumprimento do Acordo de Paris, proposto na 21ª Conferência das Partes (COP21), o Brasil se comprometeu a reduzir as emissões de GEE em 37% e 43%, abaixo dos níveis de 2005, nos anos de 2025 e 2030, respectivamente. Para atingir esse objetivo, o país objetiva alcançar uma participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da matriz energética em 2030. Considerando que a matriz energética brasileira teve, em 2016, uma participação das fontes renováveis de, aproximadamente, 43,5%, conforme informado pelo Ministério de Minas e Energia, há então, a necessidade de um incremento de, pelo menos, 1,5% nessas fontes. O Brasil possui uma matriz energética relativamente mais limpa que a maior parte dos países, contudo tem perdido sua qualidade. É necessário que haja investimento em políticas públicas voltadas para a diversificação da matriz energética. E ainda, o estabelecimento de ações e planos de estado, nas diversas escalas do território, que possam se concretizar em médio e longo prazos independentemente de quais governantes estejam eleitos.

0,00 200,00 400,00 600,00 800,00 1000,00 1200,00 1400,00 0,00 100,00 200,00 300,00 400,00 500,00 600,00 700,00 E m is s ã o d e C O2 ( M t d e C O2 ) P o p u laç ã o ( M ilh õ e s ) Ano População x Emissão de CO2

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No que se refere às emissões de GEE provenientes das atividades antrópicas, o setor de transporte é um dos principais responsáveis pelas emissões gasosas globais (IEA, 2017). Logo, conter o avanço das emissões deve passar por uma análise crítica e articulada desse setor com o objetivo de promover uma reestruturação das atividades logísticas a fim de racionalizar o uso energético e, ainda, buscar novas formas de manejar a frota brasileira para alcançar as metas propostas (MARCILIO et al., 2017). Diante disso, pela diversificação do Brasil no uso energético, o governo brasileiro estabeleceu metas ambiciosas de redução das emissões de GEE para os próximos anos, mas que podem ser alcançadas mediante um planejamento bem estruturado envolvendo as múltiplas escalas do território. Não se pode afirmar se o Brasil poderá ou não cumprir as metas estabelecidas no Acordo de Paris, visto a complexibilidade em torno dessa questão que envolve múltiplos agentes, interesses políticos e outros ainda, que permeiam as relações internacionais. Também seria necessário um trabalho mais robusto, reunindo outras variáveis e outros GEE, que aqui não foram explorados. Este trabalho buscou colocar a questão em discussão e pensar possibilidades que podem ser soluções alternativas, tais como a ampliação da matriz energética limpa e uma reestruturação no setor de transporte.

Referências bibliográficas

CASEY, G.; GALOR, O. Is faster economic growth compatible with reductions in carbon emissions? The role of diminished population growth. Environmental Research Letters. 2017.

DONG, C.; DONG, X.; JIANG, Q.; DONG, k.; LIU, G. What is the probability of achieving the carbon dioxide emission targets of the Paris Agreement? Evidence from the top ten emitters. Science of the Total Environment. p. 1294-1303. 2018.

GUJARATI, D., N.; PORTER, D., C. Econometria básica. 5ª ed. São Paulo: AMGH, 2011.

IEA statistics. CO2 Emissions from Fuel Combustion - Highlights. Disponível em:<

https://www.iea.org/publications/freepublications/publication/CO2EmissionsfromFuel CombustionHighlights2017.pdf.> Acesso em: março 2018.

MARCILIO, G. P.; RANGEL, J. J. A.; SOUZA, C. L. M.; SHIMODA, E.; SILVA, F. F.; PEIXOTO, T. A. Analysis of greenhouse gas emissions in the road freight transportation using simulation. Journal of Cleaner Production. p. 298-309. 2017. VARTANIAN, P. R.; CIA, J. C.; MENDES-DA-SILVA, W. Econometria: análise de dados com regressão linear em Excel e Gretl. 1ª ed. São Paulo: Saint Paul, 2013.

Referências

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