• Nenhum resultado encontrado

Mudanças Populacionais, Espaciais e do Emprego em Aglomerações Urbanas Economicamente Dinâmicas: o caso da Região Metropolitana do Vale do Aço

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Mudanças Populacionais, Espaciais e do Emprego em Aglomerações Urbanas Economicamente Dinâmicas: o caso da Região Metropolitana do Vale do Aço"

Copied!
18
0
0

Texto

(1)

Mudanças Populacionais, Espaciais e do Emprego em Aglomerações

Urbanas Economicamente Dinâmicas: o caso da

Região Metropolitana do Vale do Aço

*1

Geraldo Magela Costa

UFMG/IGC

Deusdedit Soares dos Santos

Fundação João Pinheiro/MG

Palavras-chave: dinâmica do emprego, aglomerações urbanas, Vale do Aço.

O artigo contém uma discussão sobre as mudanças populacionais e da composição e caráter do emprego na Região Metropolitana do Vale do Aço, Minas Gerais, incluindo a sua área periférica, denominada Colar Metropolitano. A Região é uma aglomeração urbano-industrial que surgiu e se estruturou em conseqüência da indústria siderúrgica que, até o momento, continua sendo a sua atividade econômica dominante. Por um lado, a combinação dos restritos efeitos multiplicadores na economia regional derivados da indústria siderúrgica, associados tanto ao movimento geral de reestruturação produtiva quanto às privatizações das siderúrgicas, tem contribuído para o surgimento de problemas socioeconômicos específicos, entre eles a questão do (des)emprego. Por outro lado, o grande crescimento populacional tem repercutido em mudanças no setor terciário, implicando em uma nova distribuição setorial do emprego regional.

Diante disto, o artigo se propõe a uma análise espaço-temporal da Região Metropolitana do Vale Aço, com base em dados dos censos demográficos e outros indicadores econômicos (arrecadação de ICMS) e de emprego (RAIS). No bojo desta análise procurar-se-á refletir sobre os aspectos positivos e negativos da nova dinâmica sócio-econômica regional, especialmente em relação à distribuição espacial e setorial do emprego.

* Trabalho apresentado no XIII Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais, realizado em Ouro Preto, Minas Gerais, Brasil de 4 a 8 de novembro de 2002.

1 Este artigo está baseado no projeto "Metropolização de centros médios: processos de gestão a partir do caso particular do Vale do Aço, em Minas Gerais", elaborado pela Fundação João Pinheiro como parte do

(2)

1.Formação e expansão econômica e populacional da RMVA.

Análises anteriores (Monte-Mór e Drumond, 1974; Costa, 1979; Costa, 1995) mostraram como se formou a aglomeração urbana do Vale do Aço, desde suas origens, com a implantação da Acesita em Timóteo, passando por um segundo momento com a implantação da Usiminas em Ipatinga e, mais recentemente, com a entrada em cena da Cenibra, no município de Belo Oriente. O resultado, em termos da estruturação espacial, foi a gradativa construção de espaços urbanos conurbados e/ou em intensa relação de interdependência funcional entre eles. Hoje, portanto, ao considerar estes dois aspectos da formação espacial do Vale do Aço, a aglomeração poderia ser constituída por pelo menos seis municípios: Ipatinga, Coronel Fabriciano e Timóteo, que formam o Aglomerado Urbano do Vale do Aço (AUVA) original e central; o município de Santana do Paraíso, recém-emancipado do município de Mesquita, que é sede de um distrito industrial contíguo à área urbana de Ipatinga; o município de Mesquita, que tem sido palco de expansões da periferia norte de Ipatinga; e, Belo Oriente, sede da Cenibra, cujos trabalhadores moram em grande parte no AUVA, especialmente Ipatinga. A expansão econômica e populacional observada nos últimos anos tem reforçado esta tendência na direção leste e nordeste, conforme esquematicamente mostra a Figura 1.

Quando se fala em uma realidade metropolitana do Vale do Aço, portanto, entende-se que todos estes seis municípios seriam parte dela, tamanhas são as interdependências e complementaridades entre seus espaços urbanos. No entanto, depois de várias considerações sobre a possível constituição de uma Região Metropolitana do Vale do Aço, esta foi institucionalizada em fins de 1998, com apenas quatro municípios: Ipatinga, Coronel Fabriciano, Timóteo e Santana do Paraíso. Contribuiu para isto o fato de que os termos da Constituição Estadual de 1989, no que diz respeito à institucionalização de regiões metropolitanas, determinam que a decisão de integrar ou não esta forma de solidariedade supramunicipal passa pela vontade política local autônoma de adesão. No entanto, quando a análise busca entender a inserção socioeconômica e espacial do Vale do Aço em contextos mais amplos, é fundamental que as várias escalas supramencionadas sejam consideradas. Além disso, a lei estadual que instituiu a Região Metropolitana do Vale

(3)

Figura 1. Aglomeração Urbana do Vale do Aço

(4)

do Aço criou também o Colar Metropolitano, formado por outros 20 municípios, além de Mesquita e Belo Oriente.2

Essas observações iniciais sobre a formação da aglomeração urbana e seu entorno sugerem que devem-se diferenciar pelo menos quatro escalas territoriais: o Aglomerado Urbano do Vale do Aço (AUVA) (núcleo original, formado pelos municípios de Ipatinga, Coronel Fabriciano e Timóteo), a Região Metropolitana do Vale do Aço (RMVA) (os três municípios do AUVA mais Santana do Paraíso), a Aglomeração Urbana (a RMVA acrescida dos municípios de Belo Oriente e Mesquita3) e o Colar Metropolitano.

2. Crescimento e distribuição espacial da população

Observando os dados das Tabelas 1 e 2 constata-se que a população total da RMVA passa de 135.999 habitantes em 1970 para 406.144 habitantes em 2000, significando uma taxa de crescimento anual médio de 3,71%. A população urbana que em 1970 era de 116.112 habitantes cresce a 4,20% ao ano no período, chegando a 396.971 habitantes em 2000.

2 São eles: Açucena, Antônio Dias, Braúnas, Bugre, Córrego Novo, Dionísio, Dom Cavati, Entre Folhas, Iapu, Ipaba, Jaguaraçu, Joanésia, Marliéria, Naque, Periquito, Pingo D'Água, São João do Oriente, São José do Goiabal, Sobrália, Vargem Alegre.

3 Se o município de Mesquita não tem peso econômico significativo, sua inserção na análise da aglomeração urbana se justifica tanto pelo fato de os dados disponíveis até 1992, quando é emancipado o seu distrito de Santana do Paraíso, quanto pela sua condição de palco de expansão periférica da cidade de Ipatinga.

(5)

TABELA 1

População Urbana e Total

Região Metropolitana e Colar Metropolitano do Vale do Aço – 1970-2000

1970 1980 1991 2000

Municípios

Urbana Total Urbana Total Urbana Total Urbana Total Ipatinga 44.689 47.882 149.137 150.322 178.830 180.069 210.777 212.376 Coronel Fabriciano 37.544 41.120 73.165 75.709 85.747 87.439 96.216 97.412 Timóteo 29.921 32.760 46.736 50.607 54.997 58.298 71.288 71.456 Mesquita/Santana do Paraíso 3.958 14.237 4.788 14.498 12.163 19.963 20.690 24.900 Subtotal 1 (RMVA) 116.112 135.999 273.826 291.136 331.737 345.769 398.971 406.144 Belo Oriente 3.474 9.978 5.657 12.623 12.485 16.718 16.229 19.528 Subtotal 2 119.586 145.977 279.483 303.759 344.222 362.487 415.200 425.672 Colar Metropolitano (menos

Belo Oriente e Mesquita) 34.037 137.664 47.654 124.606 52.203 113.971 63.429 110.774 Total 153.623 283.641 327.137 428.365 396.425 476.458 478.629 536.446 Minas Gerais 6.060.300 11.487.415 8.982.134 13.378.553 11.786.893 15.743.152 14.623.990 17.835.488 Fonte: Censos demográficos 1970, 1980, 1991 e dados preliminares do censo 2000.

TABELA 2

Taxa de Crescimento Médio Anual da População Urbana e Total Região Metropolitana e Colar Metropolitano do Vale do Aço – 1980-2000

(em %)

1970/1980 1980/1991 1991/2000 1970/2000

Municípios

Urbana Total Urbana Total Urbana Total Urbana Total

Ipatinga 12,81 12,12 1,66 1,66 1,84 1,85 5,31 5,09 Coronel Fabriciano 6,90 6,29 1,45 1,32 1,29 1,21 3,19 2,92 Timóteo 4,56 4,44 1,49 1,29 2,92 2,29 2,94 2,63 Mesquita/Santana do Paraíso 1,92 0,18 8,84 2,95 6,08 2,49 5,67 1,88 Subtotal 1 (RMVA) 8,96 7,91 1,76 1,58 2,07 1,80 4,20 3,71 Belo Oriente 5,00 2,38 7,46 2,59 2,96 1,74 5,27 2,26 Subtotal 2 8,86 7,60 1,91 1,62 2,10 1,80 4,24 3,63

Colar Metropolitano (menos

Belo Oriente e Mesquita) 3,42 -0,99 0,83 -0,81 2,19 -0,32 2,10 -0,72

Total 7,85 4,21 1,76 0,97 2,12 1,33 3,86 2,15

Minas Gerais 4,01 1,54 2,50 1,49 2,43 1,40 2,98 1,48

Fonte: Censos demográficos 1970, 1980, 1991 e dados preliminares do censo 2000

Esses extraordinários processos de crescimento populacional e de urbanização são acompanhados de variadas conseqüências em termos da distribuição da população e do emprego no espaço metropolitano. Por um lado, o crescimento diferenciado por município, fez com que Ipatinga se tornasse a mais populosa da Região. Se em 1970, a população total deste município (47.882 habitantes) representava aproximadamente

(6)

35% da população da RMVA (135.999 habitantes), em 2000 este percentual se eleva para aproximadamente 52%. Este processo de crescimento populacional mais expressivo do município de Ipatinga em relação aos demais, expressa também a tendência anteriormente observada na Figura 1 de expansão populacional na direção leste e nordeste da RMVA. Este processo, era esperado, uma vez que: a) Ipatinga concentra a maior parte da produção industrial, do emprego e da renda regionais; b) nos anos 70 é implantada a Cenibra, no município vizinho de Belo Oriente, o que representou mais um fator de atração de força de trabalho e da população em geral para o eixo de expansão leste da RMVA; c) é maior a disponibilidade de terras apropriadas para a expansão urbana nesse eixo leste, especialmente no município de Santana do Paraíso. Como resultado, observa-se que na última década do período de análise, esses dois municípios experimentaram expressivos taxas de crescimento anual de suas populações total e urbana se comparadas àquelas dos três outros municípios da RMVA que compõem o núcleo original (AUVA) (Tabela 2).

Finalmente, restam os 20 outros municípios que fazem parte do Colar Metropolitano4. Em seu conjunto, estes municípios representam, em termos populacionais, aproximadamente 21% da população total e apenas 13% da população urbana de todo o conjunto composto pela RMVA e o Colar Metropolitano. Embora sua população urbana venha crescendo de forma expressiva, a população total tem experimentado pequeno crescimento ou crescimento negativo em alguns municípios. Ali as oportunidades de trabalho na área rural são bastante restritas, em virtude da predominância da cultura do eucalipto na maior parte da região. Trata-se de uma atividade com baixa ocupação de mão de obra e que, pelo fato de ser espacialmente extensiva, praticamente elimina a possibilidade de outras práticas agrícolas.

4 Dos vinte e dois municípios que compõem o Colar Metropolitano, Mesquita foi considerado em conjunto com Santana do Paraíso, uma vez que este último só foi emancipado do primeiro na década de oitenta e o município de Belo Oriente ficou destacado, dada a sua crescente aproximação em termos funcionais e econômicos com a RMVA.

(7)

3. Caracterização econômica e sócio-espacial

Não são necessárias análises exaustivas e sofisticadas para se constatar que a economia da RMVA é altamente concentrada na indústria da transformação e que, dentro desta, há uma forte especialização na metalurgia (produtos siderúrgicos). Estudos anteriores - Fundação João Pinheiro, (1978); Cincunegui & Locatelli, (1979) - já enfatizaram estas características quando da análise da formação e início de consolidação do AUVA.

O primeiro estudo, realizado no contexto da elaboração do Plano de Desenvolvimento Integrado do Vale do Aço (PDI - Vale do Aço) nos anos 70, tinha como função básica orientar propostas de desenvolvimento econômico para o AUVA, objeto de planejamento pela Fundação João Pinheiro. A leitura deste texto permite constatar que desde aquele momento as preocupações com o planejamento para o desenvolvimento do AUVA concentravam-se nas possibilidades de diversificação da sua base econômica, quase que exclusivamente centrada na produção siderúrgica. Daí, a ênfase do diagnóstico realizado na identificação das características do setor industrial e as possibilidades de sua diversificação ou de seus impactos em outros setores da economia regional e urbana. O diagnóstico, considerando os dados da década de 60, constatava uma pequena diversificação da economia do AUVA, decorrente sobretudo da implantação da Usiminas (Tabela 3). Assim diz o estudo:

"Dessa maneira, se em 1960 a indústria metalúrgica respondera por 97,3% do VTI

(Valor da Transformação Industrial) gerado no aglomerado e fora responsável por 85,4% do emprego industrial, em 1970 essa participação caíra para 79,3% e 45,7%, respectivamente, reduzindo a extrema dependência de sua economia de uma única indústria, ainda que as atividades econômicas surgidas tenham sido, em boa medida, induzidas por ela" (Fundação João Pinheiro, 1978: 53).

Observaram-se, portanto, já na década de 60, indícios de diversificação da economia do AUVA. Segundo a análise, esta diversificação estaria ocorrendo com "o surgimento de indústrias tanto dinâmicas como tradicionais, que até 1960 inexistiam na região, como a extração de minerais, material elétrico e de comunicações, material de transportes, mecânica, papel e papelão, borracha, vestuário, calçados e tecidos, editorial

(8)

e gráfica e diversas" (p. 53). Dados do censo de 1980 permitem verificar que, naquele ano, a participação relativa da metalurgia na formação do VTI do aglomerado já havia caído para 71,80%.

Quando se consideram os dados por município, no entanto, nota-se que Timóteo, sede da Acesita, continuava com seu setor industrial altamente concentrado na metalurgia: 80,08% e 96,35% do VTI municipal, respectivamente, em 1970 e 1980. Ao contrário do que ocorrera na década de 60, com indícios de diversificação industrial do AUVA, a década de 70 significou novamente uma forte especialização industrial de Timóteo na produção siderúrgica. Quanto a Ipatinga, provavelmente pela criação da Usiminas Mecânica S/A (UMSA), indústria mecânica integrada verticalmente ao sistema produtivo da Usiminas, observa-se uma maior diversificação industrial em 1980. Naquele ano, a indústria metalúrgica foi responsável por 48,94% do VTI, enquanto a indústria mecânica teve participação de 41,27%.

É claro que as características específicas de cada uma dessas indústrias precisam ser consideradas. Como os dados referem-se ao valor agregado no processo produtivo (VTI), era de se esperar a significativa participação da indústria mecânica quando comparada à metalúrgica. A primeira agrega mais valor do que a última no processo de produção. No entanto, vale repetir que a Usiminas Mecânica S/A (UMSA) não era mais do que um efeito para frente da produção do aço, sendo, de fato, o resultado de um processo de integração vertical a partir da indústria metalúrgica (siderurgia). Poder-se-ia considerar que a atividade industrial exportadora de Ipatinga, com pequenas possibilidades de induzir efeitos multiplicadores locais/regionais, seria o somatório das indústrias metalúrgica e mecânica. Com isto, em 1980 a base industrial de exportação de Ipatinga seria ainda responsável pela elevada participação de 90,21% do VTI municipal, indicando a pequena diversificação industrial local.

O que dizer do setor industrial de Coronel Fabriciano nos anos 60 e 70? Em primeiro lugar, e considerando agora também os municípios de Mesquita e Belo Oriente (Tabela 3) como parte de uma Aglomeração Urbana mais ampla, é importante observar que o setor industrial de Coronel Fabriciano era responsável pelas insignificantes participações relativas de 0,4%, 0,4% e 0,2% do total do VTI em 1970, 1980 e 1985, respectivamente. Nestes mesmos anos, Ipatinga detinha 79,7%, 41,7% e 65,0%;

(9)

Timóteo, 18,5%, 39,8% e 26,0%; Mesquita, 0,0%, 2,1% e 0,9%; Belo Oriente, 0,0%, 15,3% e 7,8%. As mais significativas participações de Mesquita e Belo Oriente no VTI da aglomeração em 1980 e 1985 devem-se à criação do distrito industrial no primeiro (hoje Santana do Paraíso) e da implantação da Cenibra no segundo. Finalmente, deve-se observar que o conjunto dos municípios do Colar Metropolitano (menos Belo Oriente e Mesquita) não tem participação relativa significativa no VTI regional.

TABELA 3

Valor da Transformação Industrial

Região Metropolitana do Vale do Aço - 1970, 1980 e 1985

1970 1980 1985

Municípios Cr$

mil % milhões Cr$ % milhões Cr$ %

Ipatinga 361.726 79,7 15.007 41,7 4.022.403 65,0 Coronel Fabriciano 1.778 0,4 130 0,4 12.865 0,2 Timóteo 83.731 18,5 14.327 39,8 1.609.289 26,0 Mesquita 154 0,0 750 2,1 52.781 0,9 Subtotal 1 (RMVA) 447.389 98,6 30.214 84,0 5.697.338 92,1 Belo Oriente 83 0,0 5.498 15,3 481.242 7,8 Subtotal 2 (Aglomeração Urbana) 447.472 98,6 35.712 99,3 6.178.580 99,9

Colar Metropolitano (menos Belo

Oriente e Mesquita) 6.194 1,4 262 0,7 5.561 0,1

Total 453.666 100,0 35.974 100,0 6.184.141 100,0

Fonte: IBGE, Censo Industrial 1970, 1980, 1985

Quais as tendências atuais em relação à economia do Vale do Aço? Há algum indício de diversificação? Os dados relativos à arrecadação do ICMS em 1997 (Tabela 4), que expressam a composição das principais atividades econômicas nos municípios da Região Metropolitana, podem contribuir de forma mais apropriada para a discussão a respeito da diversificação econômica local na atualidade. A Tabela 4 mostra as 10 atividades econômicas que foram responsáveis, em um ou mais dos quatro municípios, por pelo menos 1% do total da arrecadação de ICMS da RMVA. A contribuição agregada dessas atividades para o total de ICMS arrecadado varia, nos quatro municípios, de 97,76% a 99,30%, o que revela a alta relevância econômica das atividades selecionadas.

(10)

A predominância da metalurgia na economia da Região Metropolitana continua evidente, uma vez que ela foi responsável por 80,67% do total da arrecadação de ICMS em 1997. Considerando individualmente os municípios, observa-se que em Ipatinga e Timóteo a indústria metalúrgica era naquele ano responsável por nada menos do que 85,65% e 83,07%, respectivamente, do total da arrecadação de ICMS local. As informações sobre Coronel Fabriciano permitem constatar que ali o comércio varejista continuava predominante, sendo responsável por 60,85% do total do ICMS municipal arrecadado em 1997. Finalmente, em Santana do Paraíso a principal atividade econômica está na indústria de transformação de produtos de minerais não-metálicos (50,53%). Trata-se, neste caso, da produção de cimento a partir da escória derivada da produção de aço na Usiminas.

Os percentuais não expressam, no entanto, o peso real de cada uma dessas atividades hegemônicas em cada município no total da arrecadação da RMVA em 1997. As informações mostradas nas duas últimas linhas - (A) e (B) - da Tabela 4 contribuem para evidenciar esta afirmação. Considerando-se o total da arrecadação do núcleo como 100%, linha (A), tem-se a seguinte repartição percentual da arrecadação por município: 75,41% para Ipatinga; 19,24% para Timóteo; e apenas 3,34% e 1,88%, respectivamente para Coronel Fabriciano e Santana do Paraíso. Constata-se também que a atividade industrial da RMVA continuava concentrada essencialmente nos dois municípios sedes da Usiminas (Ipatinga) e da Acesita (Timóteo). Fica ainda evidente que não se pode falar em diversificação industrial ou econômica significativa da aglomeração, que continua essencialmente monoindustrial, como em sua origem.

(11)

TABELA 4

Participação Percentual de ICMS Arrecadado por Atividades Econômicas Selecionadas

Região Metropolitana do Vale do Aço - 1997

Setores de Atividade Ipatinga Coronel Fabriciano Timóteo Santana do Paraíso RMVA

Minerais não metálicos 0,14 5,47 0,27 50,53 1,29

Metalurgia 85,65 0,36 83,07 4,22 80,67 Mecânica 0,29 0,39 0,17 2,50 0,31 Madeira 0,08 0,24 0,10 14,24 0,35 Química 2,01 0,11 2,44 0,11 1,99 Produtos Alimentares 0,35 1,15 0,63 0,25 0,43 Construção 0,00 0,09 0,05 15,89 0,31 Comércio Varejista 6,45 60,85 7,09 2,00 8,38 Comércio Atacadista 1,55 15,90 0,16 0,26 1,76 Serviços de Transportes 2,78 13,20 4,31 8,52 3,54 Subtotal 99,30 97,76 98,29 98,52 99,03 Outros 0,70 2,24 1,71 1,48 0,97 Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100.00 (A) 75,41 3,47 19,24 1,88 100,00 (B) 64,43 2,10 15,94 0,94 80,67

Fonte: Secretaria de Estado da Fazenda de Minas Gerais. Elaboração Fundação João Pinheiro

(A) Participação da arrecadação municipal no total da arrecadação do núcleo (B) Participação das atividades destacadas no total da arrecadação do núcleo

A pequena significação das atividades econômicas principais de Coronel Fabriciano e Santana do Paraíso fica ainda mais clara quando se observa (linha B) que a arrecadação do comércio varejista do primeiro e da indústria de minerais não-metálicos do segundo, representavam somente 2,11% e 0,94%, respectivamente, do total da arrecadação de ICMS da RMVA no ano considerado. Tal fato contribui para mostrar a intensidade das diferenças econômicas entre os municípios da região. Acrescentando-se ainda o fato de que a arrecadação de ICMS do comércio varejista de Coronel Fabriciano, principal atividade arrecadadora de ICMS municipal, representa apenas 43% desta mesma atividade em Ipatinga, fica ainda mais evidente a diferenciação econômica interna à Região Metropolitana.

Em síntese, pode-se constatar que a economia da Regi Vale do Aço ainda se caracteriza pela atividade industrial, fortemente marcada pela atividade siderúrgica e concentrado nos municípios sedes da Usiminas (Ipatinga) e da Acesita (Timóteo).

(12)

4. A dinâmica do emprego formal

Se a diversificação em relação à produção no setor industrial é baixa no Vale do Aço, os dados sobre o emprego formal na região revelam que, em relação a esta variável, há uma tendência à diversificação intersetorial da economia urbana, com o rápido crescimento das atividades terciárias. Dados da RAIS (Tabela 5), revelam uma clara tendência de transformação na composição do emprego formal urbano na RMVA: se em 1970 ela era de 73,43% de empregados no setor industrial e de 26,57% no setor terciário, em 1998, essa proporção modifica-se para 39,90% e 60,10%, respectivamente.

TABELA 5

Emprego Formal Urbano

Região Metropolitana do Vale do Aço - 1970, 1985 e 1998

(em %)

Setores da Economia 1970 1985 1998

Indústria 73,43 63,98 39,90

Comércio e serviços 26,57 36,02 60,10

TOTAL 100,00 100,00 100,00

Fonte: RAIS/Ministério do Trabalho; Elaboração: Fundação João Pinheiro

Tais mudanças podem significar tão somente uma tendência histórica geral de diversificação econômica intersetorial. No Vale do Aço, no entanto, elas têm-se dado de forma bastante intensa e caracterizadas pelo agravamento das diferenças intermunicipais.

Contribui com certeza para a intensidade dessa mudança de composição setorial do emprego os processos de restruturação produtiva e de privatização das duas empresas líderes da região: Acesita e Usiminas. Tais processos, representaram a liberação de grande contingente de mão de obra, que mesmo não sendo nascidos na região ali permaneceram com suas famílias. Dois aspectos devem ser considerados em relação a esta questão. O primeiro, é que apesar da dispensa de empregados das empresas líderes, a massa de salários regionais continuou alta, em virtude de aposentadorias antecipadas e indenizações. O segundo está associado à mudança de atividade dos dispensados, seja

(13)

por meio de um novo emprego no setor terciário, ou por investirem na criação de atividades terciárias próprias.

4.1. As especificidades municipais

Há diferenças marcantes quando se considera separadamente cada município componente da RMVA. Como já foi observado, Coronel Fabriciano, por exemplo, nunca teve na indústria a sua base econômica. No início, quando a aglomeração começava a se formar, este município tinha praticamente a única base urbana de serviços e comércio do conjunto. A análise econômica elaborada para o PDI-Vale do Aço nos anos 70, assim se referia à economia do AUVA: "A economia do Vale do Aço avançou nos anos desta década [70] confirmando as tendências observadas anteriormente e reforçando a concentração industrial nos municípios de Ipatinga e Timóteo, enquanto Coronel Fabriciano confinava-se à sua "histórica vocação" terciária" (Fundação João Pinheiro, 1978: 62, destaque no original). O destaque para "histórica vocação" já indicava uma descrença na possibilidade de Coronel Fabriciano vir a consolidar tal condição, uma vez que, dadas a concentração da massa de salários e, conseqüentemente, do poder de compra em Ipatinga e Timóteo, e a relativa dificuldade de deslocamentos entre os três municípios, apesar da conurbação, naquele momento já se previa que o setor terciário destes dois últimos municípios seria beneficiado em futuro próximo.

De fato, os dados da Tabela 6 mostram que há um constante e substancial aumento da participação de Ipatinga em termos de pessoal ocupado no setor terciário tanto em números absolutos quanto em relação ao município de Coronel Fabriciano, em momentos selecionados do período 1970-1998. Em 1970, quase a metade do emprego no setor terciário do núcleo metropolitano (47,95%) estava em Coronel Fabriciano, enquanto Ipatinga detinha 31,57% e Timóteo 16,92%. Em 1998, Coronel Fabriciano (21,15%) não só teve sua posição de centro terciário perdida para Ipatinga (60,02%), como passa a enfrentar também um avanço, ainda que modesto, do setor terciário de Timóteo que, de um percentual de 13,73% do emprego terciário da Região Metropolitana em 1985, passa para 16,88% em 1998.

(14)

TABELA 6

Emprego Formal no Setor Terciário por Município RMVA 1970, 1985, 1998 (em %) Municípios 1970 1985 1998 Ipatinga 31,57 59,37 60,02 Coronel Fabriciano 47,95 25,48 21,15 Timóteo 16,92 13,73 16,88 Mesquita/Santana do Paraíso 3,55 1,42 1,96 TOTAL 100,00 100,00 100,00

Fonte: RAIS/Ministério do Trabalho. Elaboração Fundação João Pinheiro

A transferência da hegemonia do setor terciário de Coronel Fabriciano para Ipatinga se deu em paralelo com o crescimento geral desse setor na RMVA. Pelos dados da RAIS, constata-se que o emprego no setor terciário da Região aumentou de 22. 831, em 1986, para 25.452 em 1990 e 31.819 em 1998. Enquanto isso, observa-se uma drástica redução do número de empregos no setor terciário do conjunto dos municípios do Colar Metropolitano (menos Belo Oriente e Mesquita) que passou de 3.991, em 1986, para 1.668 em 1990 e 1.241 em 1998.

Há certamente neste tipo de constatação indícios de que o provável esvaziamento do setor terciário dos municípios do Colar, polarizados pela RMVA, está-se dando como conestá-seqüência do crescimento do está-setor nesta última. Os dados da Tabela 7 constituem mais uma evidência neste sentido. Ali, enquanto o número de empregos nas atividades de comércio e serviços da RMVA experimentou um aumento de 39% entre 1986 e 1998, a variação para o Colar Metropolitano no mesmo período foi de (-)70%. Como referência, deve-se observar que no Estado de Minas Gerais como um todo a variação do emprego nas atividades de comércio e serviços no período considerado foi de 29%.

Pode-se dizer ainda que a redução do número de empregos na indústria de transformação da RMVA (-20%) não significa um menor dinamismo do seu setor industrial. Ao contrário, a mencionada privatização aliada a um processo de reestruturação e modernização produtiva das duas siderúrgicas líderes da economia regional resultaram em redução da sua força de trabalho e no aumento concomitante da produtividade.

(15)

TABELA 7

Distribuição Percentual do Emprego Formal por Setor de Atividade RMVA e Colar Metropolitano do Vale do Aço, Minas Gerais - 31/12/86 e 31/12/98

1986 1998 Percentual Variação

Municípios

Ind.

Transf. Comérc./ Serv. Outros Transf. Ind. Comérc./ Serv. Outros Transf. Ind. Comérc./Serv.

Ipatinga 47 40 12 34 44 23 -11 36 Coronel Fabriciano 10 63 28 9 70 22 -1 27 Timóteo 63 24 13 38 40 22 -37 75 Mesquita/Sant. do Paraíso 47 26 27 19 39 42 -60 44 Subtotal 1 45 39 15 31 47 23 -20 39 Belo Oriente 51 12 38 53 17 30 58 118 Subtotal 2 46 39 16 32 45 23 -17 40 Colar Metropolitano (menos Belo Oriente e

Mesquita) 5 63 33 9 27 64 41 -70

Total 42 41 17 30 44 26 -17 25

Minas Gerais 22 43 35 17 44 39 -1 29

Fonte: RAIS/Ministério do Trabalho. Elaboração Fundação João Pinheiro

Apesar da relevância dos indicadores considerados, cabe enfatizar que tratam-se de indícios, uma vez que não se pode analisar o desempenho de atividades econômicas com base apenas em um indicador de emprego. Ou seja, os dados de emprego não são suficientes para avaliar a diversificação econômica na região. Pesquisas empíricas diretas, especialmente nos municípios do Colar Metropolitano, poderiam contribuir para confirmar ou não os indícios constatados.

5. Considerações finais

Apesar de transcorridos mais de 50 anos desde a implantação da Acesita e mais de 40 desde a criação da Usiminas, não se pode dizer que a economia do Vale do Aço se diversificou. Se houve alguma diversificação industrial, além das indústrias mecânica e de cimento já mencionadas, ela se deu com base em unidades pequenas, de pouca significação relativa no conjunto da economia regional, essencialmente dominado pelas duas siderúrgicas e mais recentemente pela produção de celulose em Belo Oriente.

(16)

A diversificação intersetorial, observada por meio dos indicadores de crescimento do emprego no setor terciário regional, foi acompanhada da concentração das atividades de comércio e serviços em Ipatinga, em detrimento de Coronel Fabriciano. Com isto, se este município tinha, no passado, uma área de especialização econômica - o terciário -caracterizando uma espécie de divisão intra-regional do trabalho, hoje este papel está seriamente ameaçado. Uma outra conseqüência provável da dinamização de comércio e serviços na RMVA é o esvaziamento destas atividades nos municípios do Colar Metropolitano.

Além das dificuldades de diversificação econômica, a dinâmica da economia do Vale do Aço tem levado a uma intensa diferenciação socio-espacial entre as áreas urbanas dos municípios que compõem a RMVA ou a aglomeração urbana, caracterizando espaços socialmente diferenciados, de acordo com a capacidade de atração de atividades, de investimentos e de gastos sociais em políticas públicas de cada um dos municípios.

A situação tende a se agravar com a competição intermuncipal por investimentos, associada ao momento econômico atual, caracterizado pelo processo de globalização, pela ausência de planejam

(17)

decorrentes dessas mudanças se evidenciam de forma mais nítida do que em regiões onde a economia é mais diversificada. Além disso, em passado recente, no período da chamada modernização conservadora, os chamados pólos de crescimento tiveram papel relevante no processo de desenvolvimento econômico.6 Com isto, áreas semelhantes à do Vale do Aço passam a existir em várias partes do território brasileiro.

Um segundo aspecto diz respeito à avaliação das possibilidades e dos constrangimentos, acima mencionados, relacionados à implantação de áreas de gestão solidária ou compartilhada a exemplo das regiões metropolitanas. Mesmo que política e institucionalmente se viabilize a Região Metropolitana e seu Colar, a forte polarização exercida pela aglomeração urbana central, as suas diferenças internas crescentes e a competitividade intermunicipal, colocam em xeque a viabilidade concreta dessa forma de gestão. Assim, também em relação a este aspecto, as análises sobre a Região Metropolitana do Vale do Aço constituem referencial importante para se (re)pensar este tipo de questão em outras aglomerações urbanas dinâmicas.

Referências bibliográficas

BECKER, B. Modernidade e gestão do território no Brasil: da integração nacional à integração competitiva. Espaço e Debates. Ano XI, v. 32. São Paulo: NERU, 1991, pp. 47 - 56.

CINCUNEGUI, J. E. & LOCATELLI, R. L. O setor siderúrgico no Estado de Minas

Gerais. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1979.

COSTA, G.M. O processo de formação do espaço das cidades mono-industriais - um estudo de caso. Rio de Janeiro: COPPE/UFRJ, 1979. (Dissertação de mestrado)

COSTA, G.M.; COSTA, H.S.M. Novas e velhas diferenças: desafios à gestão metropolitana do Vale do Aço. In: XII ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS, 2000, Caxambu. Anais… Belo Horizonte: ABEP. (disponível em meio digital).

(18)

COSTA, H.S.M. Vale do Aço: da produção da cidade moderna sob a grande indústria à diversificação do meio-ambiente urbano. Belo Horizonte: CEDEPLAR/UFMG, 1995. (Tese de doutorado)

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Plano de desenvolvimento integrado do Vale do Aço. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1978. v. 4. Economia.

MONTE-MÓR, R.L.; DRUMOND, J.C.M. Uma área metropolitana sem metrópole.

Fundação João Pinheiro: economia, administração, tecnologia, urbanismo. Belo

Referências

Documentos relacionados

O objetivo deste trabalho é a aquisição de Licença Ambiental Prévia para implantação de um empreendimento que irá impactar de forma positiva uma extensa

A seguir, apresentamos os modelos de sinalização que serão utilizadas durante o período de execução das atividades desenvolvidas no Consórcio Marquise/ Normatel

 Saída de Emergência, Rota de Fuga, Rota de Saída ou Saída: Caminho contínuo, devidamente protegido e sinalizado, proporcionado por portas, corredores,

Este documento tem por objetivo estabelecer e descrever o Plano de Encerramento das Obras, visando atender os procedimentos do Consórcio Marquise/ Normatel, necessários para a

Este plano se justifica pela necessidade de ações preventivas orientadas para o monitoramento, controle e mitigação de impactos relacionados à emissão de material

Outras cavernas importantes devido ao grande número de espécies caverní~olas (entre 32 e 38) são as segurntes: Conjunto JesuítasíFadas; Gruta de Terra Boa; Gruta

este volume contém os contos escritos por sir Arthur Conan doyle que guardam algumas de suas histórias mais famosas e queridas: As aventuras de Sherlock Holmes, Memórias de Sherlock

Quem pretender arrematar dito(s) bem(ns), deverá ofertar lanços pela Internet através do site www.leiloesjudiciais.com.br/sp, devendo, para tanto, os interessados,