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Efeitos da instabilidade pluviométrica sobre a previsão da produção de lavouras de sequeiro em áreas sujeitas à desertificação (ASD) no semiárido do estado do Ceará: casos de Irauçuba e Tauá

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Academic year: 2021

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CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA RURAL

JOÃO DA COSTA FILHO

EFEITOS DA INSTABILIDADE PLUVIOMÉTRICA SOBRE A PREVISÃO DA PRODUÇÃO DE LAVOURAS DE SEQUEIRO EM ÁREAS SUJEITAS À DESERTIFICAÇÃO (ASD) NO SEMIÁRIDO DO ESTADO DO CEARÁ: CASOS DE

IRAUÇUBA E TAUÁ

FORTALEZA 2019

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EFEITOS DA INSTABILIDADE PLUVIOMÉTRICA SOBRE A PREVISÃO DA PRODUÇÃO DE LAVOURAS DE SEQUEIRO EM ÁREAS SUJEITAS À DESERTIFICAÇÃO (ASD) NO SEMIÁRIDO DO ESTADO DO CEARÁ: CASOS DE

IRAUÇUBA E TAUÁ

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Economia Rural do Departamento de Economia Agrícola da Universidade Federal do Ceará, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Economia Rural. Linha de Pesquisa: Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável.

Orientador: Prof. Dr. José de Jesus Sousa Lemos.

FORTALEZA 2019

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EFEITOS DA INSTABILIDADE PLUVIOMÉTRICA SOBRE A PREVISÃO DA PRODUÇÃO DE LAVOURAS DE SEQUEIRO EM ÁREAS SUJEITAS À DESERTIFICAÇÃO (ASD) NO SEMIÁRIDO DO ESTADO DO CEARÁ: CASOS DE

IRAUÇUBA E TAUÁ

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Economia Rural da

Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Economia Rural. Linha de Pesquisa: Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável.

Aprovada em: ____/____/2019.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________ Prof. Dr. José de Jesus Sousa Lemos (Orientador)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

_________________________________________ Prof. Dr. José Newton Pires Reis (Interno)

Universidade Federal do Ceará (UFC)

__________________________________________ Prof. Dr. Espedito Cezário Martins (Externo) Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA)

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Aos meus pais, João da Costa e Maria Gizeuda da Costa.

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Primeiramente, a Deus pela vida, a saúde e a força para viver e lutar pela conquista dos objetivos.

Aos meus pais, João da Costa e Maria Gizeuda da Costa (in memoriam) por todos os ensinamentos e pelo incentivo aos estudos.

Ao meu irmão Francisco, por todo apoio e incentivo nas horas mais difíceis dessa minha caminhada.

Aos meus colegas de mestrado, em especial aos amigos Deusimar e Marcos Paulo, pelo companheirismo durante o curso de mestrado.

A todos os professores do Mestrado Acadêmico em Economia Rural, principalmente ao meu orientador, Prof. Dr. José de Jesus Sousa Lemos, pelos ensinamentos e o acolhimento como orientador desde a graduação.

Aos membros da banca examinadora, Prof. Dr. José Newton Pires Reis e Prof. Dr. Espedito Cezário Martins, pela disponibilidade e as valiosas colaborações e sugestões providas durante o exame de qualificação.

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“Tudo Vale a Pena, se a Alma não Pequena”. Fernando Pessoa.

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períodos mais remotos, a história da humanidade registra que o meio ambiente passa por processos de destruição, o que só tem se intensificado ao longo do tempo. Essa agressão à natureza desencadeia vários danos aos recursos naturais, dentre outros, o fenômeno da “desertificação”. No semiárido brasileiro, esse fenômeno é bastante evidente em algumas áreas. Outra característica bem peculiar desse ecossistema é a instabilidade pluviométrica que possui relação direta com a produção agrícola. Esta pesquisa buscou analisar como esse binômio formado por instabilidade pluviométrica e desertificação influencia na produção das lavouras de feijão, mandioca e milho, cultivadas em regime de “sequeiro” nos Municípios de Irauçuba e Tauá. Esses municípios estão situados nas Áreas Sujeitas à Desertificação (ASD) no semiárido cearense. Os objetivos específicos da pesquisa são: A- Desenhar modelos de comportamento de flutuação das precipitações anuais de chuvas dos municípios de Irauçuba e Tauá, comparativamente ao que acontece no Estado do Ceará no período que se estende de 1974 a 2017; B - Avaliar a instabilidade/estabilidade das variáveis, bem como as evoluções das variáveis: área colhida, produtividade, preço médio, produção e valor da produção de feijão, mandioca e milho em cada um dos regimes pluviométricos identificados na pesquisa nos Municípios de Irauçuba e Tauá no mesmo período; C – Desenhar modelos probabilísticos de antevisão das variáveis que são definidoras da produção de agricultura de sequeiro nas ASD do Semiárido Cearense no período sob investigação; D - Avaliar o efeito da pluviometria sobre essas previsões. A pesquisa utiliza dados coletados junto à FUNCEME e ao IBGE, e cobre o período de 1974 a 2017. Os procedimentos metodológicos utilizados estão segmentados de acordo com os objetivos específicos a que se propõem. Assim, utilizam-se os coeficientes de variação (CV) para medir a instabilidade/estabilidade dos diferentes tipos de clima que a pesquisa caracterizará para os municípios selecionados no estudo. Os CV também serão utilizados como medidas de instabilidade/estabilidade das produtividades da terra, áreas colhidas e preços médios das lavouras, avaliados dentro de cada um dos regimes pluviométricos que serão identificados na pesquisa. Estimam-se taxas geométricas de crescimento das produtividades da terra. Para fazer previsões das variáveis endógenas, o trabalho utiliza modelos ARIMA desenvolvidos por Box e Jenkins (1976). Para avaliar o impacto das chuvas sobre as previsões das variáveis endógenas a pesquisa utiliza modelo de regressão loglinear que avalia as chuvas impactando os ruídos gerados nas previsões ou impactando diretamente as previsões. Os resultados confirmam instabilidades pluviométricas

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as variações pluviométricas impactam a previsão de variáveis endógenas na produção de feijão, mandioca e milho em Irauçuba e Tauá, sobretudo sobre a produtividade da terra.

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earliest times, records the hist over time. This assault on nature causes severe damage to natural resources. Among others, the phenomenon of "desertification". In the Brazilian semiarid, this phenomenon is quite evident in some areas. Another peculiar feature semi-arid ecosystem is the rainfall instability that has a direct relationship in agricultural production. This study sought to examine how this binomial formed by rainfall instability and desertification influences the production of bean crops, manioc and corn grown on a "dry land" in the municipalities of Irauçuba and Taua. These municipalities are situated in Areas Subject Desertification (ASD) in Ceará State semi arid region. The specific objectives of the research are: A- Draw models which capture behavior of annual rainfall in the municipalities of Irauçuba and Taua, compared to what happens in the state of Ceará in the period extending from 1974 to 2017; B - Evaluate the instability / stability of the variables as well as the evolution of the variables harvested area, yield per hectare, average price of beans, cassava and corn in each of the rainfall regimes identified in the survey in the municipalities of Irauçuba and Taua in the same period; C - Draw probabilistic models previews of variables that are defining the production of upland farmer in ASD of Ceará Stet semiarid region in the period under investigation; D - To evaluate the effect of rainfall on these forecasts. The research uses data collected by the FUNCEME and the IBGE, and covers the period from 1974 to 2017. The methodological procedures used are segmented according to the especificam objectives of the research. Thus, we use the coefficients of variation (CV) to measure the instability / stability of different types of weather that the search feature to municipalities selected in the study. CV will also be used as measures of instability / stability of productivity of the land, harvested areas and average prices of crops, evaluated within each of the rainfall regimes that will be identified in the survey. To make predictions of the endogenous variables the work used ARIMA models developed by Box and Jenkins (1976). To assess the impact of the rains on the estimates of endogenous variables the research uses regression model that evaluates the rains impacting the noises generated in the forecast or directly impacting forecasts. The results confirm rainfall instabilities in both municipalities. Show that there are statistical differences between the defined rainfall regimes for each municipality. The research confirms the central hypothesis that rainfall variations impact the forecasting of endogenous variables in the production of beans, cassava and maize in Irauçuba and Taua, especially on land productivity.

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Figura 1 - Nova delimitação do semiárido brasileiro (2017)...26

Figura 2 - Mapa das áreas de riscos de desertificação. Conferência sobre desertificação no Mundo das Nações Unidas...36

Figura 3 - Extração de madeira da caatinga...38

Figura 4 - Núcleos de desertificação do Nordeste brasileiro...39

Figura 5 - Municípios susceptíveis à desertificação no Estado do Ceará...41

Figura 6 - Localização geográfica do núcleo de desertificação de Irauçuba...48

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Gráfico 1 - Trajetórias das pluviometrias anuais em Irauçuba e Tauá de 1974 a 2017...58 Gráfico 2 - Flutuações pluviométricas anuais e de janeiro/junho de 1974 a 2017, em

Irauçuba...58 Gráfico 3 - Flutuações pluviométricas anuais e de janeiro/junho de 1974 a 2017, em Tauá....59 Gráfico 4 - Trajetórias de logaritmos e previstas da área colhida de feijão, em Irauçuba, de

1974 a 2017...67 Gráfico 5 - Trajetórias de logaritmos e previstas da produtividade de feijão, em Irauçuba,

de 1974 a 2017...67 Gráfico 6 - Trajetórias de logaritmos e previstas do preço médio de feijão, em Irauçuba, de

1974 a 2017...68 Gráfico 7 - Trajetórias de logaritmos e previstas da área colhida de mandioca, em Irauçuba,

de 1974 a 2017...68 Gráfico 8 - Trajetórias de logaritmos e previstas da produtividade de mandioca, em

Irauçuba, de 1974 a 2017...69 Gráfico 9 - Trajetórias de logaritmos e previstas do preço médio de mandioca, em Irauçuba,

de...69 Gráfico 10 - Trajetórias de logaritmos e previstas da área colhida de milho, em Irauçuba, de

1974 a 2017...70 Gráfico 11 - Trajetórias de logaritmos e previstas da produtividade de milho, em Irauçuba,

de 1974 a 2017...70 Gráfico 12 - Trajetórias de logaritmos e previstas do preço médio de milho, em Irauçuba,

de 1974 a 2017...71 Gráfico 13 - Trajetórias de logaritmos e previstas da área colhida de feijão, em Tauá, de

1974 a 2017...73 Gráfico 14 - Trajetórias de logaritmos e previstas da produtividade de feijão, em Tauá, de

1974 a 2017...73 Gráfico 15 - Trajetórias de logaritmos e previstas do preço médio de feijão, em Tauá, de

1974 a 2017...74 Gráfico 16 - Trajetórias de logaritmos e previstas da área colhida de mandioca, em Tauá, de

1974 a 2017...74 Gráfico 17 - Trajetórias de logaritmos e previstas da produtividade de mandioca, em Tauá,

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Gráfico 19 - Trajetórias de logaritmos e previstas da área colhida de milho, em Tauá, de 1974 a 2017...76 Gráfico 20 - Trajetórias de logaritmos e previstas da produtividade de milho, em Tauá, de

1974 a 2017...76 Gráfico 21 - Trajetórias de logaritmos e previstas do preço médio de milho, em Tauá, de

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Quadro 1 - Indicadores de desertificação, segundo a Conferência das Nações Unidas...32

Quadro 2 - Consequências da desertificação...33

Quadro 3 - Variáveis utilizadas no estudo...47

Quadro 4 - Classificação do CV, de acordo com sua amplitude...52

Quadro 5 - Classificação da pluviometria no semiárido cearense, considerando a média e o desvio - padrão da distribuição de chuvas observadas de 1947 a 2017...59

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Tabela 1 - Dados sobre a nova delimitação do semiárido brasileiro (2017)...27 Tabela 2 - Tipos de climas, segundo a amplitude de aridez e a escala de suscetibilidade á

desertificação...37 Tabela 3 - Produtividade média (kg/ha) de feijão, mandioca e milho no Brasil, Irauçuba e

Tauá de 1974 a 2017...46 Tabela 4 - Estatísticas descritivas das precipitações pluviométricas dos Municípios de

Irauçuba e Tauá, nos seis primeiros meses do ano, no período de 1974 a 2017...57 Tabela 5 - Número de anos, médias e coeficientes da pluviometria em Irauçuba e Tauá,

observada de 1974 a 2017, nos regimes definidos na pesquisa, com base na série histórica do Ceará...60 Tabela 6 - Coeficientes de variação das variáveis (CV) agrícolas em cada uma das

modalidades climáticas...61 Tabela 7 - Taxas Geométricas de Crescimento (TGC) das produtividades de feijão,

mandioca, milho de Irauçuba e Tauá, de 1974 a 2017...61 Tabela 8 - Ajustamento para a estimação dos parâmetros utilizados para fazer previsões

das variáveis endógenas na produção de feijão, mandioca e milho, em Irauçuba, no período de 1974 a 2017...63 Tabela 9 - Ajustamento para a estimação dos parâmetros utilizados para fazer previsões

das variáveis endógenas na produção de feijão, mandioca e milho, em Tauá, no período de 1974 a 2017...64 Tabela 10 - Estimativas que mostram os efeitos dos logaritmos das chuvas sobre os

resíduos das previsões da área colhida, produtividade e preços médios de feijão, mandioca, milho, em Irauçuba...66 Tabela 11 - Estimativas que mostram os efeitos dos logaritmos das chuvas sobre os

resíduos das previsões da área colhida, produtividade e preços médios de feijão, mandioca e milho, em Tauá...72

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ASD Áreas Susceptíveis à Desertificação

CCD Combate à Desertificação e aos Efeitos da Seca

CGEE Centro de Gestão e Estudos Estratégicos

CONAB Companhia Nacional de Abastecimento

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

ETP Evapotranspiração Potencial Anual

FDN Plano de Desenvolvimento do Nordeste

FAO Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura

FUNCEME Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos e Hídricos

IA Índice de Aridez

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

IGP-ID Índice Geral de Preços

IPECE Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará

MAPA Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MMA Ministério do Meio Ambiente

MIN Ministério da Integração Nacional

ONU União das Nações Unidas

PACD Plano de Ação para Combater a Desertificação

PAE-CEARÁ Programa de Ação Estadual de Combate à Desertificação no Estado

do Ceará

PAM Pesquisa Agrícola Municipal

PAN-BRASIL Programa de Ação Nacional de Combate à Desertificação e

Mitigação dos Efeitos da Seca

SUDENE Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste

UNCCD Convenção das Nações Unidas sobre Desertificação

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1 INTRODUÇÃO... 20

2 OBJETIVOS... 23

2.1 Objetivo geral... 23

2.2 Objetivos específicos... 23

3 REFERENCIAL TEÓRICO... 24

3.1 Delimitação e caracterização do semiárido brasileiro... 24

3.2 Instabilidade pluviométrica no semiárido cearense... 27

3.3 Conceito de desertificação... 28

3.4 Modalidades de desertificação... 30

3.4.1 Desertificação climática ou natural... 31

3.4.2 Desertificação antrópica... 31

3.5 Indicadores de desertificação... 31

3.6 Causas da desertificação... 32

3.7 Consequências da desertificação... 33

3.8 Terras secas e desertificação no Mundo e no Brasil... 34

3.9 Lavouras em regime de sequeiro no Nordeste brasileiro... 41

3.9.1 Lavoura de feijão... 42

3.9.2 Lavoura de mandioca... 44

3.9.3 Lavoura de milho... 45

4 METODOLOGIA... 47

4.1 Matriz de dados... 47

4.2 Caracterização da área de estudo... 48

4.2.1 Características do Município de Irauçuba... 49

4.2.2 Características do Município de Tauá... 50

4.3 Procedimentos metodológicos... 51

4.4 Definição do modelo utilizado... 52

4.5 Séries temporais, modelo de Box e Jenkins e sua aplicação na pesquisa... 53

4.6 Breve descrição do modelo de Box e Jenkins... 54

4.6.1 Modelo auto-regressivo (AR)... 54

4.6.2 Modelo de médias móveis (MA)... 54

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5 RESULTADOS E DISCUSSÃO... 57

5.1 Resultados para atingir o primeiro e o segundo objetivos específicos da pesquisa... 57

5.2 Resultados para atingir o terceiro objetivo específico da pesquisa... 62

5.2.1 Resultados encontrados para o Município de Irauçuba... 62

5.2.2 Resultados encontrados para o Município de Tauá... 64

5.3 Resultados para atingir o quarto objetivo específico da pesquisa... 65

5.3.1 Resultados alcançados para Irauçuba... 66

5.3.2 Resultados alcançados para Tauá... 71

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 78

REFERÊNCIAS... 80

APÊNDICE A - OUTPUT Resultante das previsões para as variáveis das lavouras de feijão, mandioca e milho, em Irauçuba... 83

APÊNDICE B - OUTPUT Resultante das previsões para as variáveis das lavouras de feijão, mandioca e milho, em Tauá... 92

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1 INTRODUÇÃO

O semiárido é um tipo de ecossistema caracterizado pelo baixo índice pluviométrico e elevadas temperaturas anuais. Na maior parte do ano, não chove e a umidade relativa do ar é muito baixa. Geralmente ocorrem chuvas concentradas nos três a quatro meses iniciais e um grande período de estiagem ou chuvas mais escassas no restante do ano. Uma característica adicional do semiárido é a intermitência temporal, sendo comum a ocorrência de anos sem chuvas (LEMOS, BEZERRA, 2019).

No Brasil, as terras semiáridas encontram-se nas regiões Nordeste e Sudeste do País. No Sudeste, estendem-se pelo norte do Estado de Minas Gerais. Formam a região semiárida mais populosa do Mundo. De acordo com Ministério Nacional da Integração, abrigam uma população de 27 milhões de habitantes (MIN, 2017).

Além das condições climáticas que tão bem caracterizam o semiárido brasileiro, como é o caso da instabilidade pluviométrica, a degradação ambiental pode avançar de maneira inexorável e provocando, no limite, a desertificação no ambiente. Nessa região, os fatores naturais mais relevantes que influenciam na degradação da terra estão relacionados ao elevado escoamento superficial, as elevadas temperaturas, à evaporação alta, as chuvas concentradas e erosivas, além dos períodos secos e prolongados (BRASIL, 2005).

A degradação do meio ambiente não é fato recente. Desde períodos mais remotos da história da humanidade, a natureza passa por processos de destruição, o que só tem se intensificado no decorrer do tempo. Isso ocorre em razão das práticas agrícolas, mas não apenas a elas. A retirada de madeiras para os distintos usos também contribui bastante para o desaparecimento da cobertura vegetal ou para a mudança da paisagem. Tal processo desencadeia vários danos aos ecossistemas, sendo a desertificação o mais grave de todos.

Desde a Conferência das Nações Unidas sobre Desertificação, em 1977, realizada em Nairóbi, Quênia, o fenômeno (desertificação) passou a ser considerado como sequência de modificações regressivas dos solos, da vegetação, e do regime hídrico, conduzindo à deterioração biológica dos ecossistemas, em consequências de pressões criadas por fatores climáticos e pelas atividades do ser humano, em ações conjuntas ou separadas (CGEE, 2016). Portanto, o fenômeno da desertificação não está associado apenas aos aspectos climáticos, apesar da sua relevância na sua explicação. Também está ligado à ação humana, no que tange ao uso dos recursos naturais de maneira irracional, contribuindo expressivamente para o agravamento do problema, sobretudo nas regiões de clima árido, semiárido e subúmido seco (CGEE, 2016).

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Na compreensão de Alves et al. (2009) a desertificação no Mundo se intensifica em decorrência das ações antrópicas, em que o aumento da população mundial e do consumo em grande escala fez-se com que a exploração predatória da natureza contribua para a expansão das áreas susceptíveis a esse processo. Na opinião de Nascimento (2010), a desertificação é um problema comprometedor à segurança ambiental global que se evidencia na superfície terrestre de maneira diferenciada, em grau de abrangência compreendendo dimensões diversas: mundial, regional até a local.

Segundo Fernandes e Medeiros (2009), a desertificação, nos últimos tempos, causou uma drástica diminuição das terras produtivas, o que, aliado ao aumento da demanda por alimentos e por matérias-primas energéticas, pode ter contribuído para aumentar a fome e desencadear fluxos migratórios do campo para as cidades. Para minimizar os efeitos desse processo destruidor, é preciso conter o avanço do fenômeno, com medidas sociais e tecnológicas, envolvendo, não somente, os governos, mas, sobretudo, toda a sociedade.

No entendimento de Alves et al. (2009), desertificação é um fato que deve ser compreendido como fenômeno integrador de processos econômicos, sociais e naturais e/ou induzidos que destroem a fertilidade dos solos, a vegetação, provoca impactos sobre o clima e escassez hídrica. Como consequência, traz influências negativas na qualidade de vida nas áreas sujeitas a dificuldades de aridez, edáfica e/ou climática.

O semiárido brasileiro, por sua vez, também se encontra inserido neste âmbito de destruição ambiental, convivendo com os efeitos da desertificação. Especificamente, no semiárido do Nordeste, pode-se considerar o agravamento da situação, tendo em vista ser uma região que é um espaço de complexidades, sendo a região mais pobre do País, onde as atividades agrícolas ainda representam ocupação para uma boa parte da sua população rural.

Tecnicamente, o semiárido se espraia por todos os estados do Nordeste e parte de Minas Gerais. De acordo com a última definição política realizada no Conselho Deliberativo da SUDENE, do Ministério da Integração Nacional, realizada no final no ano de 2017, o semiárido brasileiro está constituído de 1.216 municípios nos nove estados e na parte do Estado de Minas Gerais. No âmbito dessa definição política que, não necessariamente converge com a técnica, o Estado do Ceará passou a ter 175 dos seus 184 municípios inseridos na região semiárida do Brasil. Isso representa mais de 95% do total de municípios.

Com relação ao Ceará, além de ocupar mais de 95% do seu território em terras semiáridas de acordo com a última resolução do Conselho Deliberativo da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE, o Estado é atingido em algumas partes do seu

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território pela desertificação com a formação de alguns núcleos, dos quais se destacam os Núcleos de Irauçuba e dos Inhamuns.

No semiárido do Nordeste, em geral, e do cearense, especificamente, as culturas de sequeiro têm grande importância para a agricultura local. Essas lavouras constituem a base da sobrevivência de muitas famílias rurais que vivem na porção semiárida do Estado, portanto são de grande valia para garantir a segurança alimentar e gerar alguma renda monetária a elas. As lavouras produzidas em regime de sequeiro nessa região não utilizam as tecnologias modernas como irrigação e mecanização. Dependem quase que exclusivamente das chuvas para se reproduzirem. Normalmente, são cultivadas nos meses de janeiro a junho, período considerado “chuvoso” na região semiárida do Ceará.

Em decorrência da instabilidade pluviométrica e da desertificação que se estende por algumas áreas do Ceará, esta investigação estuda as previsões de como esse “binômio” se materializa na distribuição das chuvas e na produção das lavouras de feijão, mandioca e milho cultivadas em regime de sequeiro nos Municípios de Irauçuba situado na ADS do Núcleo Desertificação Irauçuba/Centro Norte, e de Tauá, localizado na ADS do Núcleo de Desertificação dos Sertões de Inhamuns. Os dados da pesquisa se estendem de 1974 a 2017, período em que há disponibilidade da distribuição pluviométrica para os dois municípios.

Este ensaio acadêmico tenta desenhar prováveis modelos sobre os quais tanto agricultores como tomadores de decisão podem antecipar, com probabilidade de erro definida, os prováveis valores futuros de variáveis que são relevantes para definir a produção agrícola de sequeiro citada nessas ASD.

Dada a relevância da precipitação de chuvas sobre esse tipo de produção sob esse ecossistema, esta pesquisa busca captar o modo como essas precipitações, sobre as quais os agricultores ou tomadores de decisão de políticas não têm qualquer capacidade de antevisão, interfere de um ponto de vista probabilístico sobre essas previsões.

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2 OBJETIVOS

Com suporte no que foi mostrado no capítulo introdutório, a pesquisa tem os seguintes objetivos.

2.1 Objetivo geral

Avaliar como a instabilidade pluviométrica e o processo de desertificação influenciam as previsões de variáveis endógenas definidoras da produção de lavouras de sequeiro em Irauçuba e Tauá, no período de 1974 a 2017.

2.2 Objetivos específicos

A - Desenhar o comportamento de flutuação das precipitações anuais de chuvas dos Municípios de Irauçuba e Tauá, comparativamente ao que acontece no Estado do Ceará no período que se estende de 1974 a 2017.

B - Avaliar a instabilidade/estabilidade das variáveis: área colhida, produtividade, preço médio de feijão, mandioca e milho em cada um dos regimes pluviométricos identificados na pesquisa, nos Municípios de Irauçuba e Tauá, no mesmo período.

C- Desenhar modelos probabilísticos de antevisão das variáveis definidoras da produção de agricultura de sequeiro nas ASD selecionadas do Semiárido Cearense, no período sob investigação.

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3 REFERENCIAL TEÓRICO

Discutem-se, neste seguimento os principais conceitos e definições utilizados na pesquisa, enfatizando a instabilidade pluviométrica no semiárido brasileiro e a desertificação no que concerne às suas causas, prováveis dinâmicas de evoluções, consequências para as populações que sobrevivem em ambientes que experimentam essas dificuldades.

3.1 Delimitação e caracterização do semiárido brasileiro

O semiárido brasileiro não é homogêneo em paisagem, em disponibilidade de recursos naturais, tampouco de revestimento florístico. A convergência que existe na imensa área que o compõe é instabilidade climática trazida na má distribuição das chuvas, tanto de modo espacial como temporal (LEMOS; BEZERRA, 2019).

O semiárido brasileiro é a maior e mais populosa região semiárida do Mundo. A região é composta pelos Estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais (MIN, 2017).

De acordo com o Ministério Nacional da Integração (MIN, 2017), o semiárido brasileiro é uma região que se estende por 1,03 milhão de km2, o que corresponde a 12% da área do Brasil e, atualmente, congrega uma população de 27 milhões de pessoas (12% do contingente brasileiro) vivendo em 1.262 municípios de dez estados da Federação.

O semiárido nordestino tem um regime de chuvas marcado pela escassez, irregularidade espaço temporal e longos períodos de estiagem, quando maior parte da precipitação de chuvas ocorre, geralmente, em três a quatro dos primeiros meses do ano.

Como informa Zanella (2014), o semiárido nordestino denota elevadas taxas de insolação, altas temperaturas e baixas amplitudes térmicas1 Os totais pluviométricos são abaixo de 800 mm e expressam alta variabilidade no tempo e no espaço, além das elevadas taxas de evapotranspiração e déficit hídrico. Essa sinergia de eventos sempre prova déficit hídrico no semiárido brasileiro.

Em novembro de 2017, o Ministério da Integração Nacional reconheceu mais 73 municípios como fazendo parte do semiárido, em relação à definição que prevalecia anteriormente, que era de 2005. Com essa nova delimitação, o Estado do Ceará passou a ter

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175 dos seus 184 municípios reconhecidos como fazendo parte do ecossistema do semiárido brasileiro (figura 1).

Esta nova delimitação da região semiárida brasileira é de suma importância para esses novos municípios que passam a compor essa região, pois eles estão aptos a acessar políticas públicas desenhadas especificamente para semiárido brasileiro, sobretudo aquelas do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste - FDN (LEMOS; BEZERRA, 2019). Com isso, as populações desses municípios serão beneficiadas com esse tipo de política. Além disso, os gestores municipais podem solicitar do Governo Federal apoio em caráter emergencial em períodos de estiagem.

Os critérios para nova delimitação (2017) do semiárido brasileiro foram a precipitação pluviométrica média anual igual ou inferior a 800 mm, índice de Aridez de Thornthwaite igual ou inferior a 0,50 e; o percentual diário de déficit hídrico igual ou superior a 60%, considerando todos os dias do ano (IBGE, 2017).

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Figura 1 - Nova delimitação do semiárido brasileiro (2017).

Fonte: SUDENE/CONDEL (2017).

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Na Tabela 1, são expostos alguns dados referentes à nova delimitação do semiárido brasileiro (MIN, 2017). Como exemplo, tem-se a porcentagem2 de municípios cearenses inseridos no semiárido nordestino com essa atual delimitação. De todos os estados, o Ceará registra a maior percentagem, ou seja, aproximadamente, 95,12% do território do Estado está na região semiárida.

Tabela 1 - Dados sobre a nova delimitação do semiárido brasileiro (2017).

Estado Área do Semiárido (km2) População no semiárido (hab.) Números de Municípios Números de Municípios no Semiárido Porcentagem de Municípios no Semiárido (%) Maranhão 3.523 213.693 217 2 0,92 Piauí 200.610 2.805.394 224 185 82,60 Ceará 146.889 5.827.192 184 175 95,12 Rio Grande do Norte 49.073 1.922.440 167 147 88,02 Paraíba 51.306 2.498.117 223 194 86,99 Pernambuco 86.341 3.993.975 185 123 66,49 Alagoas 12.583 962.641 102 38 37,25 Sergipe 11.093 478.935 75 29 38,67 Bahia 446.021 7.675.656 417 278 66,67 Minas Gerais 121.259 1.492.198 853 91 10,67

Fonte: Elaboração própria, com base nos dados da SUDENE.

3.2 Instabilidade pluviométrica no semiárido cearense

A instabilidade no regime pluviométrico nas áreas de clima semiárido é uma das principais adversidades enfrentadas por aqueles que vivem nessas regiões, principalmente, pelos que exercem ocupações agropecuárias. Em tais partes do Mundo, atividades como a agricultura são impactadas pela irregularidade das precipitações pluviométricas. Nesses

2 Relação entre número de municípios no semiárido brasileiro e o número de municípios de cada estado desta região.

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locais, a produção agropecuária é bastante instável, tendo como elemento definidor a ocorrência de “chuvas”.

No semiárido cearense, como em todo semiárido nordestino, a instabilidade pluviométrica, é uma característica marcante dessa região do Brasil. Com chuvas irregulares, tanto no tempo como no espaço, o semiárido costuma ser afetado por longos períodos de estiagem. Essa irregularidade de chuvas na região possui influência direta na agricultura, principalmente sobre as chamadas lavouras de sequeiro, que dependem praticamente das precipitações pluviométricas (chuvas) para o seu desenvolvimento.

Conforme ensinou Lemos et al. (2016), a instabilidade pluviométrica, em virtude da escassez cíclica de chuvas, má distribuição temporal e espacial, se constitui importante definidor da produção agrícola do Estado do Ceará, afetando, sobretudo, as culturas praticadas pelos agricultores familiares que detêm pouca tecnologia, assim, são dependentes das oscilações e do volume de chuvas. Portanto, a instabilidade pluviométrica que tão bem caracteriza o semiárido nordestino, notadamente, é uma variável diretamente relacionada com déficit das lavouras de sequeiro, como as de feijão, mandioca e milho. Culturas alimentares praticadas por muitos agricultores familiares e que representam as principais atividades na produção agrícola regional, como se depreende das evidências mostradas pelo IBGE em pesquisas agrícolas municipais.

Por serem cultivadas sem tecnologias de irrigação e dependendo das precipitações pluviométricas, essas lavouras (feijão, mandioca e milho) refletem no seu desempenho no curso dos anos, o que acontece com a pluviometria nas áreas semiáridas do Nordeste. Este fato se torna mais evidente nas ASD.

Volumes de chuvas abaixo ou acima das necessidades hídricas dos cultivos causam problemas relacionados à queda das áreas colhidas e das produtividades das lavouras em geral e, dessas, em especial. Em consequência, afetam a produção. Essas lavouras desempenham papéis importantes, tanto para fomentar a segurança alimentar como para prover alguma renda monetária para os agricultores familiares do semiárido nordestino.

3.3 Conceito de desertificação

A história do conceito de desertificação tem início nos anos 1930, quando intensos processos de degradação ocorreram em alguns estados do meio oeste dos Estados Unidos. Desmatamentos e a intensificação da exploração dos solos por meio da agricultura e pecuária,

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agravados por uma seca entre os anos de 1929 e 1932, foram causas principais do processo que ficou conhecido como Dust Bowl (MATALHO, 2003).

No mundo do conhecimento científico, o termo desertificação é considerado pelos autores que se dedicam a estudar o assunto como um vocábulo relativamente novo e ainda repleto de desafios.

Segundo Dregne (1983), citado por Lemos (1995), desertificação é uma palavra usada desde 1949, quando Abréville, um bem - informado botânico e ecólogo, publicou um

livro sob o título Climats Forêsts et Desertification de l`Áfrique Tropicale. Ainda segundo Dregne, citado por Lemos (1995, p. 5).

Desertificação é o empobrecimento do ecossistema terrestre sob o impacto da ação humana. É o processo de deterioração nesses ecossistemas que pode ser medido pela produtividade reduzida de cultivos desejáveis, não desejada alteração da biomassa, na baixa diversidade da flora e fauna, acelerada destruição do solo e incremento das dificuldades para a ocupação humana dessas áreas.

De acordo com essa definição, importante consequência da desertificação é a modificação da biodiversidade natural, e o impacto que isso causa, dente eles, pode-se mencionar a queda da produtividade agrícola e da produção bem com o surgimento de espécies indesejáveis na paisagem (LEMOS 1995).

A Conferência das Nações Unidas sobre Desertificação (UNCOD) que ocorrendo em Nairobi (Kenia) em 1977, com a participação de representações de 94 países afetados por secas e desertificação, criou o Plano de Ação para Combater Desertificação (PACD). Naquele documento, pode ser encontrada a seguinte definição.

Desertificação é a diminuição ou a destruição do potencial biológico da terra, que pode causar no limite paisagens semelhantes a deserto. Este é um aspecto da grande depreciação do ecossistema que destrói ou diminui o potencial biológico, isto é, da produção de plantas e animais destinados a múltiplos propósitos, num tempo em que o incremento da produtividade é necessário para suportar o crescimento da população no processo de desenvolvimento (STILLES, 1989, p. 92; apud LEMOS, 1995, p. 6).

Finalmente, a FAO/UNEP (1983), conforme mencionado por Lemos (1995), chegaram à definição hoje aceita mundialmente.

Desertificação é uma compreensiva expressão dos processos econômicos e sociais, bem como fenômenos naturais ou induzidos que destrói o equilíbrio do solo, vegetação, ar e água, em áreas sujeitas a situações de aridez edáfica ou climática. Deterioração continuada conduz à queda, ou destruição do potencial biológico da terra, deterioração das condições de vida, e o incremento de paisagens de deserto.

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Ainda conforme esse documento da FAO/UNEP, “[...] desertificação é um processo contínuo, que atravessa diferentes estágios antes de atingir o seu final que será uma mudança irreversível”. (FAO/UNEP, 1983, apud LEMOS, 1995, p. 7).

Aquele documento da FAO/UNE, distingue desertificação de degradação do solo. Segundo a peça mencionada, desertificação, ou o perigo da sua ocorrência, está confinada nas áreas áridas, semiáridas e subúmidas secas, enquanto a degradação do solo não é contínua, pois acontece períodos relativamente curtos, podendo ocorrer em qualquer tipo de clima (FAO/UNEP, 1983, apud LEMOS, 1995). Nesta definição, estar claro que, enquanto degradação do solo pode acontecer em qualquer tipo de clima e se constitui num processo não necessariamente continuado, a desertificação, está confinada aos climas áridos, semiáridos e subúmidos secos.

Característica importante das áreas sob desertificação é a deterioração da produtividade da terra nas lavouras. Assim, uma maneira de especular se uma área pode ter um diagnóstico de mostrar indícios de desertificação é avaliar a produtividade da terra nas lavouras relevantes para famílias rurais.

O conceito de desertificação expresso nos parágrafos anteriores se consolidou com o apoio no documento intitulado Agenda 21, elaborado durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, na cidade do Rio de Janeiro em 1992, cujo capítulo 12 definiu desertificação como “[...] processo de degradação das terras das regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas, resultantes de fatores diversos tais como variações climáticas e variações antropogênicas” (BRASIL, 1999).

Muitos estudiosos atribuíram à desertificação ora a processos naturais, principalmente de ordem climatológica, ora a processos induzidos pelos seres humanos. Essas abordagens, longe de constituírem simples polêmicas envolvendo o mundo acadêmico, tiveram, e ainda têm, desdobramentos concretos, os quais influenciam na formulação e na implantação de políticas públicas. Entre estes, cita-se, Lemos (2001), para que a desertificação consiste num estágio avançado de degradação da base dos recursos naturais, causado, não só, pelas condições físicas naturais, mas, também, e principalmente, pela ação antrópica.

3.4 Modalidades de desertificação

Nesta seção, define-se os tipos de modalidades de desertificação de acordo com a definição do professor José Bueno Conti (1988).

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3.4.1 Desertificação climática ou natural

Desertificação climática ou natural corresponde à redução progressiva das chuvas, determinadas por causas naturais, como mudanças de temperatura das águas oceânicas, grau de insolação, fenômenos geológicos e a erosão eólica (CONTI, 2008). De acordo com a definição de Conti, a desertificação climática é provocada por fenômenos naturais, ou seja, sem a intervenção humana.

3.4.2 Desertificação antrópica

Conforme leciona Conti (2008), a desertificação antrópica tem origem na degradação do meio ambiente provocada por ações humanas. Ocorre quando os ecossistemas perdem a capacidade de regeneração, observando-se a rarefação da fauna e a redução da cobertura vegetal, além da retirada dos nutrientes naturais do solo, o que acarreta o seu empobrecimento e infertilidade. Essa modalidade de desertificação, conhecida também como “ecológica”, está associada à ação predatória e contínua do homem ao meio ambiente, degradando os recursos naturais e submetendo a risco todo o ecossistema. Exemplo concreto dessa degradação é o desmatamento, principal atividade antrópica geradora de ambientes degradados propensos ao processo de desertificação.

Ainda segundo Conti (1988), o fenômeno da desertificação atinge diversos patamares, a saber:

i. Fraca - é aquela que é percebida pela existência de pequena degradação na vegetação,

como também no solo;

ii. Moderada - esta é vista em processo de evolutiva e acentuada deterioração da cobertura

verde; há presença de areias e voçorocas provocadas pela erosão e de solos salinizados;

iii. Severa - nesse processo de desertificação é identificada a junção da erosão eólica com as

dunas; e

iv. Muito severa - com o solo enfraquecido, a biomassa se torna invisível e é possível constatar a impermeabilização dos terrenos, tornando-os fracos e quase estéreis.

3.5 Indicadores de desertificação

Conforme Pachêco et al. (2006), determinar com exatidão quais são os indicadores de desertificação não é uma tarefa simples, pelo fato de que, por um lado, falta

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consenso entre pesquisadores no âmbito mundial, e, de outra parte, exista as diversas particularidades regionais. No entendimento de Vieira (2015), os indicadores de desertificação podem ser considerados como os fatores físicos e socioeconômicos que, de algum modo, causam desequilíbrio ambiental e diminuição da qualidade de vida. No quadro 1, seleciona-se uma amostra de alguns indicadores de desertificação, de acordo com a classificação da Conferência das Nações Unidas sobre Desertificação (UNCCD).

Quadro 1 - Indicadores de desertificação segundo a Conferência das Nações Unidas. Indicadores

Climáticos

Radiação solar; temperatura; velocidade do vento; precipitação.

Indicadores Hidrológicos

Sólidos desenvolvidos em água; mudanças de fluxos de água e dos depósitos sedimentares no canal de escoamento; profundidade do lençol freático; qualidade da água; descarga dos rios; umidade do solo; fluxo subsuperficial; água de escoamento e produção de sedimentos.

Indicadores Pedológicos

Profundidade do solo; capacidade de acumulação de água; composição dos horizontes; estado da superfície; teor da matéria orgânica; albedo; grau de salinização e alcalinização; teor de pedregosidade; encostamento; fendilhamento; compactação e permeabilidade da crosta. Indicadores

Biológicos

Grau de cobertura e altura da vegetação; biomassa aérea e subterrânea; rendimentos; distribuição e frequência de espécies; organização e profundidade das raízes; queda e organização de folhas; produção primária; produção de pastoreio; composição de espécies; atraso de germinação.

Indicadores Sociológicos

Distribuição espacial de implantações humanas.

Fonte: Elaboração própria, com base nas informações da UNCCD.

3.6 Causas da desertificação

Sabe-se das inúmeras causas do fenômeno da desertificação. Acreditava-se que essas estavam ligadas exclusivamente às condições climáticas de uma região. Atualmente, tem-se consciência de que os fatores que contribuem para o agravamento da desertificação não podem ser explicados somente pelos aspectos climáticos, pois, a ação humana contra a

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natureza, também exerce grande influência nessa modalidade de degradação ao meio ambiente.

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente - MMA (2018), as principais causas da desertificação no Brasil, são:

a. uso indiscriminado dos recursos florestais nas regiões semiáridas e subúmidas secas sem critérios de manejo sustentável para a formação de pastos, de áreas para agricultura e para atender a matriz energética de biomassa florestal que corresponde por 30% da energia regional;

b. falta de manejo adequado para a pecuária extensiva que causa o superpastejo;

c. projetos de irrigação sem critérios ambientais e manejo adequado que degradam e saliniza os solos;

d. mineração indiscriminada em critérios socioambientais; e

e. ausência de práticas conservacionistas nos sistemas agropecuários.

3.7 Consequências da desertificação

Assim como as causas, as consequências da desertificação também são múltiplas. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2018), podem ser divididos em quatro (4) grandes grupos. Ver no quadro 2.

Quadro 2 - Consequências da desertificação (Continua).

Grupos Consequências

Recursos Naturais e Clima Perda da biodiversidade (flora e fauna); Perda de solos por erosão;

Diminuição da disponibilidade efetiva de recursos hídricos devido ao assoreamento de rios e reservatórios;

Aumento das secas edáficas por incapacidade de redenção de água dos solos por aumento da pressão antrópica em outros ecossistemas.

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Quadro 2 - Consequências da desertificação (Conclusão).

Grupos Consequências

Econômicas e Institucionais Queda na produção e produtividade agrícola; Diminuição na renda e no consumo das populações;

Desorganização nos mercados regionais e nacionais;

Desorganização do Estado e inviabilização de sua capacidade de prestação de serviços;

Instabilidade política.

Sociais Abandono das terras por parte das populações

mais pobres (migrações);

Diminuição da qualidade de vida, aumento da mortalidade infantil e diminuição da expectativa de vida da população;

Destruição das famílias como unidades produtivas.

Urbanos Crescimento da pobreza urbana devido às

migrações;

Desorganização das cidades, aumento do desemprego e da marginalidade;

Aumento da poluição e problemas ambientais urbanos.

Fonte: Elaboração própria, com base em informações do MMA.

3.8 Terras secas e desertificação no Mundo e no Brasil

Na presente seção, faz-se uma descrição das “terras secas” e do estágio do processo de desertificação pelo Mundo e pelo Brasil, dando ênfase ao semiárido do Nordeste brasileiro.

Conforme Araújo; Sousa (2017), as regiões “secas” do Mundo são constituídas pelas áreas áridas, semiáridas, e subúmidas secas que estão espalhadas por todos os continentes e apresentam risco de desertificação. Nessas áreas o fenômeno da desertificação

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encontra-se em razão das práticas inadequadas de uso da terra, atividades agropastoris, associada, ainda, às condições climáticas desfavoráveis e secas constantes.

As terras secas caracterizam-se por precipitações pluviométricas pouco frequentes, irregulares e imprevisíveis, diferenças entre as temperaturas diurnas e noturnas, solo com pouca matéria orgânica e ausência de água, plantas e animais adaptados às variações climáticas. Essas terras cobrem cerca de 41% dos continentes e das ilhas do Planeta e abrigam um terço da população do Mundo. Aí, também, se localiza a maior parte da pobreza, especialmente, da África, Ásia e América Latina (CGEE, 2016).

Segundo a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD), o fenômeno da desertificação no Mundo, este avançou nas últimas décadas de maneira significativa. As principais áreas atingidas pela degradação ambiental são: da América do Sul, Oriente Médio, sul da África, noroeste da China, sudoeste dos Estados Unidos, Austrália e sul da Ásia. Ainda de acordo com UNCCD, na América do Sul, os países mais atingidos pela desertificação são Argentina, Bolívia, Brasil, Chile e Peru.

As causas da desertificação nos países sul-americanos são as mesmas que ocorrem em outras regiões. Além dos fatores naturais, as atividades humanas têm papel preponderante na desertificação pela qual esses países são acometidos. O frenético desmatamento, queimadas e o uso intensivo e inadequado do solo são os principais fatores intensificadores da desertificação que contribuem de maneira considerável para a redução das terras produtivas nesses países.

Na América do Sul, está sendo implementado o Programa de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca, com o intuito de elaborar uma base sólida para a identificação das zonas degradadas e secas na Argentina, no Brasil, na Bolívia, no Chile, no Equador e no Peru, em consonância com os princípios da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (ARAÚJO; SOUZA, 2017).

De acordo com a Convenção das Nações Unidas (UNCCD), a América do Sul pode perder até um quinto, ou seja, 20% de suas terras produtivas em razão da degradação até 2025. Segundo a entidade, a desertificação na América do Sul se intensificou nos últimos anos, principalmente em países de grandes extensões, como Argentina e Brasil.

Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), a desertificação ocorrida no Continente Africano é proveniente da ocupação humana em regiões de clima semiárido, árido e sub úmido, ocupando-as com o cultivo da monocultura. Tal prática retira toda a camada de vegetação, deixando o solo exposto, ficando propício a se fragmentar pela

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ação do vento e da água, pelo fato se constituir de solo arenoso e facilmente dispersado, iniciando, assim, a desertificação.

Na figura 2, pode-se observar as áreas de risco de desertificação nos continentes. Constata-se que a região do Nordeste brasileiro possui risco “Muito Alto” relativamente à desertificação.

Figura 2 - Mapa das áreas de riscos de desertificação. Conferência sobre desertificação no Mundo das Nações Unidas (1977).

Fonte: SUERTEGARAY, 2001

No Território Brasileiro, as áreas susceptíveis ao fenômeno da desertificação estão concentradas, principalmente, no Nordeste, justamente no semiárido, caracterizado por aspectos geoambientais propícios à desertificação, a saber: precipitação média, baixa e irregular, solos cristalinos e ecossistemas fragilizados pelas atividades econômicas desenvolvidas ao longo dos séculos, mediante o uso de práticas agropecuárias inadequadas, como queimadas e desmatamentos, que acabam atenuando as fragilidades naturais e agravando o processo de degradação dos solos (BRASIL, 2004).

Segundo Silva e Silva (2017), para determinar a susceptibilidade que certa região tem na desertificação, a UNCCD considera as zonas áridas, semiáridas e subúmidas secas todas aquelas com exceção das polares e das subpolares, com Índice de Aridez (IA) de 0,05 a

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0,65. Atualmente, o IA serve como parâmetro mundial, sendo estimado pelo quociente entre a quantidade de precipitação média anual (P) e a perda máxima possível de água por meio da evapotranspiração potencial anual (ETP).

Na Tabela 2, estão os tipos de climas, a Amplitude do Índice de Aridez (IA), assim como a Escala de Suscetibilidade à Desertificação. Tais informações estão de acordo com a Convenção das Nações Unidas (UNCCD).

Tabela 2 - Tipos de climas, segundo a amplitude de aridez e a escala de suscetibilidade à desertificação.

Zonas Climáticas Amplitude do Índice de Aridez (IA) Escala de Suscetibilidade á

Desertificação

Hiper-árido < 0,005 Nenhuma

Árido 0,05 - 0,20 Muito Alta

Semiárido 0,21 – 0,50 Alta

Subúmido Seco 0,51 – 0,61 Moderada

Subúmido e Úmido

>0,65 Nenhuma

Fonte: UNCCD, 2007.

A desertificação em determinadas áreas do semiárido nordestino é explicada em parte pelas condições climáticas predominantes na região, ou seja, o fator climático é determinante na existência do fenômeno e na sua expansão, apesar de não ser o único. As ações antrópicas, ou seja, aquelas praticadas pelo homem, quase sempre com finalidades econômicas, possuem peso considerável no agravamento do problema. Uma dessas ações pode ser demonstrada pela retirada de madeira da caatinga para diversos fins, inclusive por parte de muitos agricultores. A figura 3 evidencia bem esse tipo de degradação a esse ecossistema.

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Figura 3 - Extração de madeira da caatinga.

Fonte: ECODEBATE, 2015.

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), a desertificação no Brasil ocorre nas Áreas Susceptíveis à Desertificação (ASD). Sucede nos estados do Nordeste, e parte de Minas Gerais nas áreas semiáridas, subúmidas secas e áreas do entorno, compreendida no índice de aridez de 0,05 a 0,65. Sendo que as áreas mais críticas estão nos núcleos de Irauçuba (CE), Gilbués (PI), Seridó (RN e PB) e Cabrobó (PE), conforme figura 4. Essas áreas susceptíveis à desertificação possuem as seguintes características: degradação da cobertura vegetal, assoreamento dos rios, pastoreio excessivo, perda de biodiversidade, perda da capacidade de produtividade do solo, baixa relação entre a capacidade produtiva dos recursos naturais e a sua capacidade de recuperação.

Todos os núcleos de desertificação estão situados na região do Nordeste brasileiro, em clima semiárido, com exceção do núcleo de Gilbués, onde predomina o clima subúmido. Os núcleos de Irauçuba, Cabrobó, Seridó expressam totais pluviométricos inferiores a 800 mm/ano, extensos períodos de estiagem e escassez de recursos hídricos. Em contrapartida, o núcleo de Gilbués registra pluviosidade em torno de 1.200 mm/ano, ausência de aridez e de períodos prolongados de seca (BRASIL, 2004).

O Núcleo de Gilbués está localizado no sul do Estado do Piauí, dentro da região fitogeográfica da caatinga – cerrado. Compreende uma área de 6.131 km2, com 20 mil

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habitantes. Abrange os Municípios de Gilbués, Monte Alegre do Piauí, Barreiras do Piauí, São Gonçalo da Gurgueia, Santa Filomena e Alto da Paraíba.3

Segundo Lopes et al. ( 2011), são muitas as causas de degradação ambiental em Gilbués, sendo a principal delas a fragilidade natural do solo, seguida do manejo incorreto da agricultura, desmatamento, pecuária extensiva, queimadas, estradas mal planejadas e garimpos do diamante. Ainda de acordo com Lopes et al. (2011), a degradação no Núcleo de Gilbués requer estudos mais aprofundados, para melhor reconhecimento do problema, uma vez que o fenômeno se expande com rapidez, afetando tanto a população rural quanto a urbana.

Percebe-se, de acordo com as informações (BRASIL, 2004), que o núcleo de Gilbués expressa algumas condições climáticas diferentes dos demais núcleos de desertificação do Nordeste brasileiro. Reforçada fica, então, a ideia de que o fenômeno da desertificação não pode ser explicado somente por fatores de ordem climática.

A figura 4 mostra os núcleos de desertificação da região semiárida nordestina.

Figura 4 - Núcleos de desertificação no Nordeste brasileiro.

Fonte: MMA/SRH, 1998.

Além do de Irauçuba, principal núcleo de desertificação do Ceará, o Estado possui outros em áreas bastante degradadas.

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De acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME), boa parte dos municípios do Ceará passa por degradação muito grave ou moderada.

Com base em mapeamento, o Programa de Ação Estadual de Combate à Desertificação no Estado do Ceará (PAE-CE) estabeleceu três núcleos de desertificação, totalizando 29.030,00 Km2, 23% do território: Núcleo I – Irauçuba Centro/Norte - Irauçuba, Itapajé, Santa Quitéria, Miraíma, Canindé, e parte de Sobral – 12.305,00km2; Núcleo II – Inhamuns - Tauá, Independência, Arneiroz – 8.303,00 km²; Núcleo III – Jaguaribe, Jaguaretama, Jaguaribara, Alto Santo, Morada Nova – 8.422,00 km². Em 2005, o Plano Nacional de Combate à Desertificação (PAN-Brasil) estabeleceu que todo o Território Cearense é vulnerável à degradação, portanto, está dentro da Área Susceptível à Desertificação do Brasil.4

Há justificativa de Formiga et al. (2012), além das ASD (Áreas Susceptíveis à Desertificação), em todo o Estado, observam-se áreas com alta susceptibilidade a desenvolverem quadros de degradação ambiental em decorrências das condições climáticas e da formação geológica. Em adição encontra-se às atividades antrópicas que agravam por demais o ecossistema, deixando-o mais vulnerável a processos erosivos à proporção que as populações extraem irracionalmente os recursos naturais.

A figura 5 ilustra bem as áreas degradadas susceptíveis aos processos de desertificação no Estado do Ceará.

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Figura 5 - Municípios susceptíveis à desertificação no Estado do Ceará.

Fonte: IPECE, 2018.

Por meio da figura 5, observa-se algumas áreas susceptíveis ao fenômeno da desertificação em determinadas regiões do Estado do Ceará; áreas que se encontram, há algum tempo, em plena desertificação, trazendo inúmeras consequências ao meio ambiente e aos que vivem nessas regiões.

3.9 Lavouras em regime de sequeiro no Nordeste brasileiro

Nesta seção, discute-se sobre as lavouras cultivadas em regime de sequeiro de feijão, mandioca e milho na região Nordeste do Brasil, especialmente, praticadas no semiárido

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nordestino por grande parte dos seus agricultores. Discorre-se sobre a importância alimentar e econômica de tais culturas agrícolas para os que as praticam, bem como para toda essa região do País.

As variações climáticas influenciam a maior parte das atividades humanas, notadamente aquelas ocorrentes no âmbito das relações entre sociedade e natureza. Destaca-se, então, as atividades agrícolas, pois essas denotam maior vulnerabilidade às variâncias da dinâmica pluviométrica, sobretudo em áreas onde prevalece a agricultura de sequeiro.

Em terras “secas” como as do semiárido nordestino, a prática da agricultura pode representar um grande desafio para os que trabalham nesta atividade, sobretudo para os que cultivam em regime de “sequeiro”, o qual tem por princípio utilizar apenas o aproveitamento da água da chuva em locais onde a pluviosidade é bastante diminuta.

O cultivo das lavouras em regime de sequeiro depende diretamente das condições do clima, precisamente das precipitações pluviométricas. Como os agricultores não exercem controle algum sobre a natureza, as oscilações das lavouras em regime de sequeiro decorrem de variabilidade das condições climáticas.

As lavouras de sequeiro dependem de chuva, e são utilizadas em locais onde a precipitação pluviométrica média anual é insuficiente para o desenvolvimento de culturas agrícolas. É, portanto, uma atividade de alto risco, praticada no semiárido nordestino desde o seu descobrimento.

Assim como em todo Nordeste, no Estado do Ceará, a agricultura de sequeiro é bastante ocorrente. Esse tipo de agricultura de subsistência é praticado por muitos agricultores, inclusive pelos agricultores familiares que cultivam essas lavouras alimentares e as têm como base alimentar de suas famílias, a exemplo de feijão, mandioca e milho, culturas agrícolas selecionadas nesta pesquisa.

Nos tópicos seguintes da seção, faz-se breve apresentação das lavouras de sequeiro selecionadas no estudo. Mostram-se sua a origem, cultivo, produção e utilidade. Disso, demostra-se a importância dessas culturas agrícolas na segurança alimentar da população, principalmente para aquelas pessoas de menor poder aquisitivo, como é o caso da grande maioria da população que vive na região semiárida nordestina.

3.9.1 Lavoura de feijão

O feijão está entre os alimentos mais antigos. Achados arqueológicos apontam para a existência dos feijoeiros domesticados cerca de 10.000 a. t. c.

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A temperatura e as chuvas são os elementos climáticos que mais influenciam na produção de feijão. As altas temperaturas prejudicam no florescimento e frutificação do feijoeiro, enquanto as baixas podem provocar a perda das flores.

O feijoeiro é uma planta com raiz delicada, com sua maior parte concentrada na camada até 20 cm de profundidade do solo, razão por que deve ter um cuidado especial na escolha da área. Quanto à semeadura, as épocas recomendadas concentram-se basicamente em três períodos, o chamado das “águas”, nos meses de setembro a novembro, o da “seca” ou safrinha, de janeiro a março, e de outono-inverno ou de terceira época, nos meses de maio a junho.5

De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), no âmbito mundial, a cultura do feijão ainda exprime pouca expressão comercial, uma vez que quase todos os países produtores do grão são também grandes consumidores, o que torna pequeno o excedente exportável, implicando um comércio internacional ainda muito restrito dos países produtores de feijão (MAPA, 2018).

Segundo a Secretaria da Agricultura e Abastecimento6, a cultura do feijão é praticada em cerca de 100 países, mas representa apenas 1% da produção mundial de grãos, pois o milho, o trigo e a soja produzem de 500 a 550 milhões de toneladas. O feijão, com 18,9 milhões, torna-se quase insignificante.

O Brasil é o terceiro maior produtor mundial de feijão, atrás somente da Índia e de Myanmar. China, Estados Unidos e México completam os seis maiores produtores mundiais, responsáveis por 61% do feijão produzido no planeta (COÊLHO, XIMENDES, 2016). No Brasil, a produção de feijão tem grande importância, sobretudo na região Nordeste, pois o grão constitui um dos alimentos básicos da população brasileira. É um produto nutritivo na mesa dos brasileiros, principalmente na dieta do povo nordestino. Conforme a EMBRAPA, o plantio de feijão estende-se por todos os estados da Federação. Considerada uma cultura de subsistência, sendo de fundamental importância para a segurança alimentar. É adotado em pequenas propriedades, mas também é praticado em sistemas de produção que requereu o uso de tecnologias intensivas, como nos casos de sistemas de irrigação e da colheita mecanizada.

O Estado do Paraná lidera a produção de feijão no Brasil. Tem boa aceitação no mercado e ciclo curto (cerca de 90 dias entre o plantio e a colheita). Em 2016, de acordo com

5http://www.gestaonocampo.com.br/biblioteca/historia-do-feijao/ 6 www.agricultura.pr.gov.br/arquivos/File/deral/cultur10.pdf

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os dados da última Pesquisa Agrícola Municipal, o Paraná colheu 590 toneladas de feijão, o que corresponde a 22,5% do que foi produzido em todo o Brasil.7

Na região Nordeste do Brasil, são os principais produtores de feijão: Ceará, Bahia, Piauí, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e o Estado do Maranhão. Na região, o maior volume da oferta do produto está vinculado ao período da estação chuvosa, enquanto que, na estiagem, há escassez do produto.8

No Ceará, em particular, a cultura do feijão está em todos os municípios. Em Irauçuba e Tauá, assim como nos demais do Estado, essa lavoura alimentar é desenvolvida durante o chamado período chuvoso que se estende de janeiro a junho.

3.9.2 Lavoura de mandioca

A cultura da mandioca (Manihot esculenta Crantz) é conhecida há cerca de nove mil anos, sendo uma das mais antigas da América do Sul, conhecida dos povos pré-colombianos e assimilada pelos colonizadores portugueses (COÊLHO, 2018). O cultivo da mandioca desde o Brasil colonial sempre foi base econômica e de subsistência dos agricultores familiares. Historicamente, participou da conquista do sertão brasileiro, incluída na dieta dos bandeirantes, tendo como binômio alimentar a carne seca e a farinha de mandioca.9

Originária da América do Sul, a mandioca constitui um dos principais alimentos energéticos para mais de 700 milhões de pessoas, principalmente nos países em desenvolvimento. Mais de uma centena de países cultivam a mandioca, sendo que o Brasil é o segundo maior produtor, com o percentual de 10% de toda produção mundial (EMBRAPA, 2018). Normalmente, o plantio da mandioca é feito no início da estação chuvosa, quando a umidade e a temperatura se tornam elementos essenciais para a brotação e o enraizamento. A época adequada para o plantio é importante para a produção da mandioca.

De acordo com dados do IBGE (2017), o Pará é o maior produtor de mandioca do Brasil, seguido pelo Estado do Paraná. Na região Nordeste, o Maranhão lidera a produção, acompanhado pelos Estados da Bahia e Ceará. No ano de 2017, esses estados nordestinos obtiveram, respectivamente, as seguintes produções de mandioca: 1.315.954, 717.254 e 476. 237 toneladas.

7https://agenciadenoticias.ibge.gov.br 8http://www.agencia.cnptia.embrapa.br

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No Brasil, o emprego da mandioca é bastante diversificado, sendo utilizada numa infinidade de produtos destinados ao consumo humano, sendo também consumida por animais, como, por exemplo, na alimentação do gado em épocas de estiagem, muito comum no Nordeste brasileiro como um todo. Além do seu uso na alimentação humana e animal, a mandioca tem grande utilidade industrial.

Pelo fato de ser tolerante à restrição hídrica, a mandioca configura uma boa opção de cultivo no semiárido nordestino por parte dos agricultores que praticam a agricultura de subsistência na região, proporcionando-lhes, renda e fonte alimentar.

No que tange ao aspecto alimentar, a mandioca é rica em carboidratos e com alto valor enérgico, faz parte da dieta do povo brasileiro, sobretudo na mesa dos nordestinos. Como farinha, fécula e outros derivados, a mandioca é utilizada no preparo de várias comidas típicas do Nordeste brasileiro, como a tão conhecida tapioca, consumida por uma grande parcela da população nordestina.

O cultivo da mandioca é algo bem comum nos municípios do Estado do Ceará, pois, assim como o feijão é agricultada por uma gama de agricultores familiares que retiram dessas lavouras alimentares o sustento de suas respectivas famílias. São os casos de Irauçuba e Tauá, municípios selecionados para esta pesquisa.

3.9.3 Lavoura de milho

Provavelmente, o milho é a mais importante planta comercial com origem nas Américas. Há indicações de que sua origem seja do México, América Central ou sudoeste dos Estados Unidos. É uma das culturas mais antigas do Mundo, havendo provas, mediante de escavações arqueológicas e geológicas, e por meio de medições por desintegração radioativa. É cultivado há pelo menos cinco mil anos.10

O milho é a segunda cultura de maior importância na produção agrícola brasileira, superado apenas pela soja. Faz parte da história do Brasil desde o Descobrimento, sendo inicialmente cultivado pelos indígenas. No início de seu cultivo, o milho era utilizado basicamente na subsistência humana. Com o passar do tempo, o grão foi ganhando relevância e transforma-se no principal insumo para a produção de aves e suínos, além de sua importância estratégica na segurança alimentar do povo brasileiro nas últimas décadas11.

10http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/gestor/milho/arvore/CONTAG01_8_168200511157.html 11 http://www.sna.agr.br/milho-e-uma-das-principais-fontes-de-alimento-do-brasileiro-com-importancia-estrategica-no-agronegocio/

Referências

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