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Na presente seção, faz-se uma descrição das “terras secas” e do estágio do processo de desertificação pelo Mundo e pelo Brasil, dando ênfase ao semiárido do Nordeste brasileiro.

Conforme Araújo; Sousa (2017), as regiões “secas” do Mundo são constituídas pelas áreas áridas, semiáridas, e subúmidas secas que estão espalhadas por todos os continentes e apresentam risco de desertificação. Nessas áreas o fenômeno da desertificação

encontra-se em razão das práticas inadequadas de uso da terra, atividades agropastoris, associada, ainda, às condições climáticas desfavoráveis e secas constantes.

As terras secas caracterizam-se por precipitações pluviométricas pouco frequentes, irregulares e imprevisíveis, diferenças entre as temperaturas diurnas e noturnas, solo com pouca matéria orgânica e ausência de água, plantas e animais adaptados às variações climáticas. Essas terras cobrem cerca de 41% dos continentes e das ilhas do Planeta e abrigam um terço da população do Mundo. Aí, também, se localiza a maior parte da pobreza, especialmente, da África, Ásia e América Latina (CGEE, 2016).

Segundo a Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação (UNCCD), o fenômeno da desertificação no Mundo, este avançou nas últimas décadas de maneira significativa. As principais áreas atingidas pela degradação ambiental são: da América do Sul, Oriente Médio, sul da África, noroeste da China, sudoeste dos Estados Unidos, Austrália e sul da Ásia. Ainda de acordo com UNCCD, na América do Sul, os países mais atingidos pela desertificação são Argentina, Bolívia, Brasil, Chile e Peru.

As causas da desertificação nos países sul-americanos são as mesmas que ocorrem em outras regiões. Além dos fatores naturais, as atividades humanas têm papel preponderante na desertificação pela qual esses países são acometidos. O frenético desmatamento, queimadas e o uso intensivo e inadequado do solo são os principais fatores intensificadores da desertificação que contribuem de maneira considerável para a redução das terras produtivas nesses países.

Na América do Sul, está sendo implementado o Programa de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca, com o intuito de elaborar uma base sólida para a identificação das zonas degradadas e secas na Argentina, no Brasil, na Bolívia, no Chile, no Equador e no Peru, em consonância com os princípios da Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (ARAÚJO; SOUZA, 2017).

De acordo com a Convenção das Nações Unidas (UNCCD), a América do Sul pode perder até um quinto, ou seja, 20% de suas terras produtivas em razão da degradação até 2025. Segundo a entidade, a desertificação na América do Sul se intensificou nos últimos anos, principalmente em países de grandes extensões, como Argentina e Brasil.

Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), a desertificação ocorrida no Continente Africano é proveniente da ocupação humana em regiões de clima semiárido, árido e sub úmido, ocupando-as com o cultivo da monocultura. Tal prática retira toda a camada de vegetação, deixando o solo exposto, ficando propício a se fragmentar pela

ação do vento e da água, pelo fato se constituir de solo arenoso e facilmente dispersado, iniciando, assim, a desertificação.

Na figura 2, pode-se observar as áreas de risco de desertificação nos continentes. Constata-se que a região do Nordeste brasileiro possui risco “Muito Alto” relativamente à desertificação.

Figura 2 - Mapa das áreas de riscos de desertificação. Conferência sobre desertificação no Mundo das Nações Unidas (1977).

Fonte: SUERTEGARAY, 2001

No Território Brasileiro, as áreas susceptíveis ao fenômeno da desertificação estão concentradas, principalmente, no Nordeste, justamente no semiárido, caracterizado por aspectos geoambientais propícios à desertificação, a saber: precipitação média, baixa e irregular, solos cristalinos e ecossistemas fragilizados pelas atividades econômicas desenvolvidas ao longo dos séculos, mediante o uso de práticas agropecuárias inadequadas, como queimadas e desmatamentos, que acabam atenuando as fragilidades naturais e agravando o processo de degradação dos solos (BRASIL, 2004).

Segundo Silva e Silva (2017), para determinar a susceptibilidade que certa região tem na desertificação, a UNCCD considera as zonas áridas, semiáridas e subúmidas secas todas aquelas com exceção das polares e das subpolares, com Índice de Aridez (IA) de 0,05 a

0,65. Atualmente, o IA serve como parâmetro mundial, sendo estimado pelo quociente entre a quantidade de precipitação média anual (P) e a perda máxima possível de água por meio da evapotranspiração potencial anual (ETP).

Na Tabela 2, estão os tipos de climas, a Amplitude do Índice de Aridez (IA), assim como a Escala de Suscetibilidade à Desertificação. Tais informações estão de acordo com a Convenção das Nações Unidas (UNCCD).

Tabela 2 - Tipos de climas, segundo a amplitude de aridez e a escala de suscetibilidade à desertificação.

Zonas Climáticas Amplitude do Índice de Aridez (IA) Escala de Suscetibilidade á

Desertificação

Hiper-árido < 0,005 Nenhuma

Árido 0,05 - 0,20 Muito Alta

Semiárido 0,21 – 0,50 Alta

Subúmido Seco 0,51 – 0,61 Moderada

Subúmido e Úmido

>0,65 Nenhuma

Fonte: UNCCD, 2007.

A desertificação em determinadas áreas do semiárido nordestino é explicada em parte pelas condições climáticas predominantes na região, ou seja, o fator climático é determinante na existência do fenômeno e na sua expansão, apesar de não ser o único. As ações antrópicas, ou seja, aquelas praticadas pelo homem, quase sempre com finalidades econômicas, possuem peso considerável no agravamento do problema. Uma dessas ações pode ser demonstrada pela retirada de madeira da caatinga para diversos fins, inclusive por parte de muitos agricultores. A figura 3 evidencia bem esse tipo de degradação a esse ecossistema.

Figura 3 - Extração de madeira da caatinga.

Fonte: ECODEBATE, 2015.

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), a desertificação no Brasil ocorre nas Áreas Susceptíveis à Desertificação (ASD). Sucede nos estados do Nordeste, e parte de Minas Gerais nas áreas semiáridas, subúmidas secas e áreas do entorno, compreendida no índice de aridez de 0,05 a 0,65. Sendo que as áreas mais críticas estão nos núcleos de Irauçuba (CE), Gilbués (PI), Seridó (RN e PB) e Cabrobó (PE), conforme figura 4. Essas áreas susceptíveis à desertificação possuem as seguintes características: degradação da cobertura vegetal, assoreamento dos rios, pastoreio excessivo, perda de biodiversidade, perda da capacidade de produtividade do solo, baixa relação entre a capacidade produtiva dos recursos naturais e a sua capacidade de recuperação.

Todos os núcleos de desertificação estão situados na região do Nordeste brasileiro, em clima semiárido, com exceção do núcleo de Gilbués, onde predomina o clima subúmido. Os núcleos de Irauçuba, Cabrobó, Seridó expressam totais pluviométricos inferiores a 800 mm/ano, extensos períodos de estiagem e escassez de recursos hídricos. Em contrapartida, o núcleo de Gilbués registra pluviosidade em torno de 1.200 mm/ano, ausência de aridez e de períodos prolongados de seca (BRASIL, 2004).

O Núcleo de Gilbués está localizado no sul do Estado do Piauí, dentro da região fitogeográfica da caatinga – cerrado. Compreende uma área de 6.131 km2, com 20 mil

habitantes. Abrange os Municípios de Gilbués, Monte Alegre do Piauí, Barreiras do Piauí, São Gonçalo da Gurgueia, Santa Filomena e Alto da Paraíba.3

Segundo Lopes et al. ( 2011), são muitas as causas de degradação ambiental em Gilbués, sendo a principal delas a fragilidade natural do solo, seguida do manejo incorreto da agricultura, desmatamento, pecuária extensiva, queimadas, estradas mal planejadas e garimpos do diamante. Ainda de acordo com Lopes et al. (2011), a degradação no Núcleo de Gilbués requer estudos mais aprofundados, para melhor reconhecimento do problema, uma vez que o fenômeno se expande com rapidez, afetando tanto a população rural quanto a urbana.

Percebe-se, de acordo com as informações (BRASIL, 2004), que o núcleo de Gilbués expressa algumas condições climáticas diferentes dos demais núcleos de desertificação do Nordeste brasileiro. Reforçada fica, então, a ideia de que o fenômeno da desertificação não pode ser explicado somente por fatores de ordem climática.

A figura 4 mostra os núcleos de desertificação da região semiárida nordestina.

Figura 4 - Núcleos de desertificação no Nordeste brasileiro.

Fonte: MMA/SRH, 1998.

Além do de Irauçuba, principal núcleo de desertificação do Ceará, o Estado possui outros em áreas bastante degradadas.

De acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME), boa parte dos municípios do Ceará passa por degradação muito grave ou moderada.

Com base em mapeamento, o Programa de Ação Estadual de Combate à Desertificação no Estado do Ceará (PAE-CE) estabeleceu três núcleos de desertificação, totalizando 29.030,00 Km2, 23% do território: Núcleo I – Irauçuba Centro/Norte - Irauçuba, Itapajé, Santa Quitéria, Miraíma, Canindé, e parte de Sobral – 12.305,00km2; Núcleo II – Inhamuns - Tauá, Independência, Arneiroz – 8.303,00 km²; Núcleo III – Jaguaribe, Jaguaretama, Jaguaribara, Alto Santo, Morada Nova – 8.422,00 km². Em 2005, o Plano Nacional de Combate à Desertificação (PAN-Brasil) estabeleceu que todo o Território Cearense é vulnerável à degradação, portanto, está dentro da Área Susceptível à Desertificação do Brasil.4

Há justificativa de Formiga et al. (2012), além das ASD (Áreas Susceptíveis à Desertificação), em todo o Estado, observam-se áreas com alta susceptibilidade a desenvolverem quadros de degradação ambiental em decorrências das condições climáticas e da formação geológica. Em adição encontra-se às atividades antrópicas que agravam por demais o ecossistema, deixando-o mais vulnerável a processos erosivos à proporção que as populações extraem irracionalmente os recursos naturais.

A figura 5 ilustra bem as áreas degradadas susceptíveis aos processos de desertificação no Estado do Ceará.

Figura 5 - Municípios susceptíveis à desertificação no Estado do Ceará.

Fonte: IPECE, 2018.

Por meio da figura 5, observa-se algumas áreas susceptíveis ao fenômeno da desertificação em determinadas regiões do Estado do Ceará; áreas que se encontram, há algum tempo, em plena desertificação, trazendo inúmeras consequências ao meio ambiente e aos que vivem nessas regiões.

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