I
Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto
Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas
Relatório de Estágio Profissionalizante
Farmácia São Gonçalo, Amarante
Setembro de 2014 a Março de 2015
Liliana Patrícia Pereira Carneiro
Orientador : Dra. Regina Carvalho
______________________________
Tutor FFUP: Prof. Doutora Susana Casal
_______________________________
II Eu, Liliana Patrícia Pereira Carneiro, abaixo assinada, nº 200802135, aluna do Mestrado
Integrado em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, declaro ter atuado com absoluta integridade na elaboração deste documento. Nesse sentido, confirmo que NÃO incorri em plágio (ato pelo qual um indivíduo, mesmo por omissão, assume a autoria de um determinado trabalho intelectual ou partes dele). Mais declaro que todas as frases que retirei de trabalhos anteriores pertencentes a outros autores foram referenciadas ou redigidas com novas palavras, tendo neste caso colocado a citação da fonte bibliográfica.
Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, 24 de março de 2014
______________________________________ (assinatura)
III Agradecimentos
Os seis meses em que decorreu o Estagio em Farmácia Comunitária, realizado na Farmácia de São Gonçalo, revelou-se uma experiencia muito enriquecedora devido ao apoio e atenção de diversas pessoas que, direta ou indiretamente, cooperaram para o meu sucesso. Sem a colaboração e a boa vontade daqueles a quem agora me refiro, esta fase do meu percurso académico não teria sido possível, por isso, a todos os meus sinceros agradecimentos. À Doutora Regina Carvalho, diretora técnica da Farmácia e minha monitora, a minha sincera gratidão pelo facto de ter autorizado a realização do meu estágio na sua Farmácia, permitindo que este período da minha formação fosse vivenciado num ambiente profissional e familiar. Ainda um agradecimento muito especial por toda a disponibilidade e atenção que sempre demonstrou, pela partilha de conhecimentos, orientação no trabalho e compreensão
evidenciados. Á Doutora Ana Carvalho, por toda a disponibilidade, simpatia e carinho com que me recebeu. À Doutora Miguela Duarte, agradeço por todo o conhecimento transmitido, paciência e atenção. Ao Doutor Joaquim Coelho e às Técnicas auxiliares Inês Moreira, Patrícia Ferreira e Alice Jesus (…), o meu profundo reconhecimento pela forma generosa como me acolheram, pela simpatia, paciência, disponibilidade, boa disposição, saber partilhado e auxílio que sempre me prestaram. Por isso, a todos, mais uma vez, o meu muito obrigado pela
oportunidade e pelo estágio que me proporcionaram, permitindo que o meu primeiro contacto com a Farmácia Comunitária fosse uma experiência única não só a nível profissional mas também a nível pessoal.
Agradeço, igualmente, à Comissão de Estágios da Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, pelo esforço e tempo dedicado à concretização desta última e tão importante etapa da minha formação.
Não posso terminar sem agradecer a todos aqueles que me apoiaram durante o meu percurso académico, aos meus pais, Maria de Fátima e António Carneiro, pelo esforço e sacrifício que fizeram para que pudesse concluir com sucesso este curso, do qual tanto me orgulho. Ao meu namorado, Raul, pelo apoio incondicional e compreensão, e a todos os meus amigos pelo companheirismo e carinho que demonstraram.
IV
INDICE
Parte I
I. Introdução 1
II. Farmácia São Gonçalo. Caracterização do Local de Estágio
2.1 Localização Geográfica 2
2.2 Horário de Funcionamento 2
2.3 Recursos Humanos 2
2.5 Espaço Exterior da Farmácia 2
2.6Espaço Interior da Farmácia 3 3
2.7 Bibliotecas de informação 4
III. Organização e gestão da farmácia
3.1 Sistema Informático 5
3.2 Gestão de stoks 5
3.3 Realização de Encomendas e Fornecedores 6
3.4 Receção e conferência de encomendas 7
3.5 Armazenamento 8
3.6 Controlo de prazos de validade 9
3.7 Devoluções 9
IV. Dispensa de medicamentos
4.1 Medicamentos Sujeitos a Receita Médica (MSRM) 10
4.2 Validação e Interpretação da Prescrição 11
4.3 Dispensa 11
4.4 Informação ao Utente 12
4.5 Regime de comparticipação de medicamentos 13
4.6 Protocolo da Diabetes Mellitus 13
4.7 Sistema de preços de Referência 14
V Conferência de receituário 14
VI. MNSRM 15
VII. Automedicação 15
VIII. Medicamentos estupefacientes e psicotrópicos 16
IX. Preparações extemporâneas 17
X. Produtos fitoterapêuticos 17
XI. Produtos para alimentação especial e dietética 17
V XIII. Produtos e medicamentos de uso veterinário 18
XIV. Dispositivos médicos 19
XV. Serviços e cuidados de saúde prestados 19
15.1 Valormed 19
15.2 Determinação de parâmetros bioquímicos e fisiológicos 20
15.2 .1 Determinação da Pressão arterial 20
15.2.2. Determinação da glicemia capilar 21
15.2.3 Determinação dos níveis de colesterol e dos triglicerídeos 21 XVI. Administração de medicamentos e vacinas não incluídas no pnv 22
XVII. Marketing e promoção da farmácia 22
XVII. Formação contínua 22
XVIII. Conclusão 23
Parte II - Trabalhos desenvolvidos durante o estágio I. Gripe sazonal 1.1 Enquadramento 24 1.2 Vírus da gripe 24 1.3 Gripe Vs Constipação 24 1.4 Grupos de risco 25 1.5 Transmissão 25 1.6 Tratamento e Prevenção 25
1.7 Porquê tomar a vacina contra a gripe? 26
1.8 Sensibilização para a vacinação e resultados 26
II.
BEXSERO - Vacina contra Neisseria meningitidis serogrupo B
2.1 Enquadramento
29
2.2 Introdução
29
2.3 Epidemiologia
29
2.4 Mecanismos de transmissão 31
2.5 Manifestações clínicas 32
2.6 Desenvolvimento da vacina anti-meningocócica tipo B (4CMenB) 32
2.7 Administração da vacina 34
2.8 Perfil de segurança 35
2.9 Análise do custo-efectividade da vacina 35
2.10 Conclusão 37
III. Bibliografia IV. Anexo
VI
Índice de Figuras
Figura 1 – Vista do exterior da Farmácia (anexo I) Figura 2 – Vista do Interior da Farmácia (anexo I)
Figura 3 – Gabinete de atendimento personalizado (anexo I) Figura 4 – Área de stock ativo (anexo I)
Figura 5 – Área de apoio (anexo I) Figura 6 – Armazém (anexo I)
Figura 7 – Esquema de transmissão de N. meningitidis
Figura 8 – Representação dos componentes antigénicos da vacina 4CMenB Figura 9 – Cobertura Global estimada de Mats para a vacina 4CMenB
Índice de Tabelas
Tabela 1: Classificação dos Níveis de Pressão Arterial Tabela 2: Valores de referência da Glicemia
Tabela 3: Valores de referência do colesterol Tabela 4: Valor de referência dos triglicerídeos· Tabela 5: Resumo da posologia da vacina Bexsero·
Tabela 6: Preço máximo por dose para a vacinação de rotina infantil contra a doença meningocócica
Tabela 7: Comparação entre os sintomas de gripe e constipação
Tabela 8 e 9: Número de vacinas administradas na FSG, retiradas do programa informático
Winphar.no Inverno 2013/2014 e no Inverno 2014/2015
Gráficos
Gráfico 1: Evolução da incidência estimada da doença meningocócica
Gráfico 2: Distribuição da percentagem de estirpes de N. meningitidis de diferentes serogrupo Gráfico 3: Rácio incremental de custo-efectividade
Gráfico 4 e 5: Comparação do número de vacinas administradas na FSG no inverno 2013/2014 e no inverno 2014/2015
VII
Lista de Acrónimos e Abreviaturas
ARS- Administração Regional de Saúde AIM - Autorização de Introdução no Mercado BPF-Boas Práticas de Farmácia
DCI- Denominação Comum Internacional DM – Doença Meningocócica
FSG – Farmácia São Gonçalo IMC- Índice de Massa Corporal
INFARMED-Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I.P. IVA- Imposto de Valor Acrescentado
MG – Medicamento Genérico
MNSRM – Medicamento Não Sujeito a Receita Médica MSRM - Medicamento Sujeito a Receita Médica PCHC – Produto Cosmético e Higiene Corporal PVF – Preço de Venda à Farmácia
PVP – Preço de Venda ao Público SNS- Sistema Nacional de Saúde SPR – Sistema de Preço de Referência
1 I. INTRODUÇÃO
A Assistência Farmacêutica tornou-se ao longo do tempo um serviço indispensável para a sociedade, desempenhando um papel primordial na promoção da saúde. Esta compreende um conjunto de ações relacionadas com a dispensa de medicamentos, enfatizando o aconselhamento e a orientação do paciente com o objetivo de contribuir para o sucesso da terapêutica.
Diariamente, o Farmacêutico é confrontado com diversas situações e, cada vez mais a evolução dos conhecimentos dos utentes e o crescente desejo de intervir na própria saúde levam a uma alteração na postura do Farmacêutico. Deste modo, a necessidade de informar e aconselhar, de forma rigorosa e precisa, tornou o desempenho deste profissional alvo de uma constante pesquisa de informação relativa à vasta gama de produtos existentes na Farmácia. É assim importante que o Farmacêutico possua um conjunto de conhecimentos científicos, clínicos e farmacológicos para que possa exercer de forma responsável e eficaz a sua atividade. Deve ainda ser capaz de comunicar e escutar ativamente, de modo a compreender as necessidades do utente e aconselhar de acordo com estas. No fundo, o Farmacêutico deve reunir um conjunto de qualidades científicas e humanas de forma a dar resposta às necessidades de todos os utentes. É dever de todos os Farmacêuticos promover o uso racional do medicamento e fornecer uma correta dispensa de medicamentos e produtos de saúde, mediante a apresentação de receita médica e/ou interpretação dos sintomas ou necessidades apresentados pelo utente, prestando sempre o aconselhamento adequado, de forma a melhorar a qualidade de vida do utente. Neste relatório, proponho-me a descrever o estágio realizado na Farmácia São Gonçalo, e decorreu entre o dia 15 de Setembro de 2014 e o dia 15 de Março de 2015, no que diz respeito às atividades que fazem parte da farmácia comunitária, desde a gestão, até à atividade
2 II. FARMÁCIA SÃO GONÇALO - CARACTERIZAÇÃO DO LOCAL DE ESTÁGIO
2.1 Localização Geográfica
A Farmácia São Gonçalo situa-se na EN 15, Urbanização do Queimado 333, 4600-116 Amarante. Está localizada numa zona de fácil acesso e encontra-se num local de passagem. A farmácia encontra-se inserida numa zona habitacional, o que lhe proporciona uma grande heterogeneidade mas também um carácter familiar. (Figura 1 em anexo).
2.2 Horário de Funcionamento
A Farmácia São Gonçalo encontra-se aberta de segunda-feira a sábado das 8:30H às 22:00H, não encerrando na hora de almoço. O horário de funcionamento cumpre o disposto no Decreto-Lei nº 172/2012, de 1 de agosto1, e a Portaria nº 277/2012, de 12 de setembro2, Além disso, ainda cumpre turnos de serviço permanente e turnos de serviço de reforço periodicamente.
2.3 Recursos Humanos
As Farmácias devem dispor de Recursos Humanos suficientes, tanto para gestão como para assistência aos utentes e produção de serviços que atendam às necessidades da população. Na Farmácia São Gonçalo a equipa de trabalho é constituída por: - Doutora Regina Sofia Ribeiro Carvalho (Diretora Técnica); - Doutor Joaquim Coelho (Farmacêutico Substituto); - Maria Inês Moreira (Técnica auxiliar); - Alice Jesus (Técnica auxiliar) e Patrícia Ferreira (Técnica
auxiliar), cumprindo a legislação constante no Decreto-Lei nº 307/2007, de 31 de agosto3, e as subsequentes alterações a este, inscritas no Decreto-Lei nº 171/2012, de 1 de agosto4, e na Lei nº 16/2013, de 8 de fevereiro5.
Todos estes profissionais encontram-se devidamente identificados, mediante o uso de um cartão, contendo o nome e o título profissional.
2.4 Espaço exterior da farmácia
A FSG obedece ao artigo 28º do DL n.º 307/2007, de 31 de agosto, e às Boas Práticas Farmacêuticas (BPF) para a Farmácia Comunitária. A FSG é acessível a todos os potenciais utentes, incluindo crianças, idosos e cidadãos portadores de deficiência.
O regime jurídico das farmácias de oficina define ainda as informações relevantes que devem ser visíveis para o utente, bem como as divisões que devem existir nas instalações da
farmácia3,4. Assim é possível identificar, na entrada principal, o nome da farmácia, o nome do DT, o horário de funcionamento e as escalas de turnos das farmácias do município. o símbolo “cruz verde”, que se encontra iluminada durante o dia e a noite (durante o período de
funcionamento), assegurando assim uma melhor visualização, assim como duas montras laterais, onde podem ser publicitados produtos cosméticos ou medicamentos não sujeitos a receita médica (MNSRM).
3 2.5 Espaço interior da farmácia
Relativamente às instalações de uma Farmácia Comunitária, o Decreto-Lei nº 307/2007 de 31 de Agosto3 refere que estas devem dispor de instalações adequadas que garantam quer a segurança, conservação e preparação de medicamentos, quer a acessibilidade, comodidade e privacidade dos utentes e do respetivo pessoal. Nesta sequência, a deliberação nº 2474/2007 de 28 de Novembro6 vem aprovar os regulamentos sobre as áreas mínimas das Farmácias de Oficina. De acordo com a deliberação mencionada, as Farmácias devem ter uma área mínima de 95 m2 e obrigatória e separadamente as seguintes divisões:
Área de atendimento ao público – Interiormente, a farmácia encontra-se dividida em diferentes áreas obrigatórias, definidas pela Deliberação nº 2473/2007, de 28 de novembro6, nomeadamente: uma zona de atendimento ao público. Este é o primeiro, e muitas vezes, o único local de contacto dos utentes com a farmácia, pelo que deve ser adequado para o ato
farmacêutico e para que o utente se sinta confortável. A FSG possui, nesta zona, 3 balcões que permitem atendimentos simultâneos e individualizados dos utentes. Na envolvência da zona de atendimento geral encontram-se estantes e expositores onde estão expostos produtos de Dermocosmética, Dispositivos Médicos, Brinquedos, Produtos de Higiene Diária, Produtos de Puericultura, entre outros. Atrás dos balcões estão frequentemente expostos produtos de Higiene oral, Produtos Sazonais e alguns Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica. Existe ainda uma balança que possibilita a determinação do peso e a altura de uma pessoa, e assim o
respetivo Índice de Massa Corporal e ainda um medidor de Tensão Arterial automático. (figura 2 em anexo)
Gabinete de atendimento personalizado: é nesta área que se realiza a determinação de vários parâmetros bioquímicos e fisiológicos, tais como a medição da pressão arterial, glicemia capilar, colesterol total, triglicerídeos, administração de medicamentos injetáveis e vacinas que não fazem parte do Plano Nacional de Vacinação. (figura 3 em anexo)
Área de stock ativo – Localiza-se imediatamente atrás da área de atendimento ao público, permitindo o fácil acesso aos medicamentos aquando da sua dispensação. Está dividida em três grandes armários com gavetas deslizantes, cujos medicamentos estão ordenados por ordem alfabética. ( figura 4 em anexo)
Área de apoio – este espaço é composto por uma área destinada ao envio, receção e conferência de encomendas, equipada com um terminal informático, duas impressoras (uma de código de barras e outra normal), um modem (responsável pelo envio de encomendas diárias para os fornecedores), telefone, fax e onde existe estantes para arrumação de produtos de veterinária, produtos de higiene intima, colutórios, dispositivos médicos variados (algálias,
4 sondas de alimentação, material de penso) e desinfetantes. Nesta área também se encontra o frigorífico para armazenamento das especialidades farmacêuticas que exigem condições especiais de conservação no frio (2º C a 8º C) como vacinas, insulinas, colírios e alguns veterinários. ( figura 5 em anexo)
Laboratório – Situa-se no piso um e destina-se à preparação de medicamentos manipulados. Na FSG não preparam medicamentos manipulados, quando necessário eram encomendados à Farmácia Serpa Pinto.
Armazém – Localiza-se no piso um e destina-se a armazenar os excedentes de medicamentos e outros produtos. Estes encontram-se separados por medicamentos de marca e medicamentos genéricos, ambos por ordem alfabética, produtos de cosmetologia, puericultura e medicamentos de venda livre. (figura 6 em anexo)
Escritório – local reservado aos assuntos administrativos e burocráticos, destinando-se ao arquivo de toda a documentação referente à gestão e contabilidade, bem como os dossiers com todo o tipo de documentação necessária ao bom funcionamento da farmácia. Nesta divisão encontra-se uma pequena biblioteca e um terminal informático.
2.6 BIBLIOTECAS E FONTES DE INFORMAÇÃO
O farmacêutico tem o dever de acompanhar a evolução das ciências farmacêuticas e médicas para poder atender o utente com a maior qualidade possível assim como ter a certeza que está a fornecer informação atualizada e fidedigna. A FSG, de acordo com o DL nº 307/2007, de 31 de Agosto[3], e, seguindo as BPF, tem disponível para consulta as fontes de informação de acesso obrigatório como o Prontuário Terapêutico (última edição), a Farmacopeia Portuguesa e acesso as Resumos de Características dos Medicamentos (RCM), entre outras não obrigatórias, como o FGP, Índice Nacional Terapêutico, Simposium Terapêutico e Simposium Veterinário.
A nível nacional existem vários centros de informação online aos quais o farmacêutico pode recorrer, dos quais destaco o www.infarmed.pt (legislação, RCM, Prontuário Terapêutico
online). Já a nível internacional estão disponíveis para consulta online sites como
www.ema.europa.eu, www.fda.gov, www.cdc.gov e www.drugs.com.
Durante o meu estágio, quando surgia alguma dúvida sobre o exercício farmacêutico, o Prontuário Terapêutico ou o site do Infarmed (www.infarmed.pt) era o mais utilizado, onde podia consultar o Prontuário Terapêutico online, folhetos informativos e RCM.
5 III. ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DA FARMÁCIA
6.3 Sistema Informático
A FSG possui cinco terminais informáticos equipados com o WINPHAR ®. Três deles destinam-se maioritariamente ao atendimento ao público, um destina-se à receção de encomendas e consulta de informação na zona de apoio ao atendimento e o outro terminal informático encontram-se no gabinete.
O WINPHAR permite executar uma grande variedade de ações relacionadas com as vendas, aquisições e gestão de existências, gestão financeira e contabilística. Permite, ainda, que todos os produtos existentes na Farmácia tenham uma ficha registada informaticamente, onde, para além de dados como nome, código, forma de apresentação, fabricante, preço, família, prazo de validade, constam informações importantes para fazer uma correta aquisição do produto, nomeadamente a quantidade desejada, o histórico de vendas e de compras, o stock atual, o stock mínimo, o stock máximo e o registo dos movimentos do produto.
Na FSG, a cada Profissional está associado um nome de utilizador e palavra-passe para aceder ao sistema informático.
Durante o meu estágio tive um código pessoal de acesso ao WINPHAR e contactei com a maioria das funções do programa, como a gestão e receção de encomendas, processamento de vendas, acesso à ficha do produto, consulta de grupos homogéneos, controlo de prazos de validade, faturação, emissão de lotes de receitas e controlo da entrada e saída de psicotrópicos.
6.4 Gestão de stoks
stock é o conjunto de todos os medicamentos e produtos de saúde que, num determinado
momento, a farmácia possui e são passíveis de venda. Representam, portanto, um investimento significativo em termos económicos e logísticos.
A gestão racional do stock exige uma perceção dos vários condicionantes de cada farmácia, como o tipo de utentes, a rotatividade dos produtos, a sazonalidade, a publicidade nos meios de comunicação e os hábitos de prescrição médica da região, entre outros. Para além dos
condicionantes da venda dos medicamentos e produtos de saúde é também preciso ter atenção à realidade dos fornecedores, como condições de pagamento, descontos comerciais, rapidez e facilidade de entrega, descontos financeiros e bónus. É necessário equilibrar estes aspetos, de modo a evitar um excesso de stock, que representa uma imobilização de capital, uma possível perda de validade e uma maior necessidade de espaço de armazenamento, ou um baixo nível de
stock, com possibilidade de rutura, não cumprindo as necessidades dos utentes.
O papel do SI nesta gestão é essencial. Para cada produto determinam-se os níveis mínimo e máximo de stock que deve estar disponível, garantindo uma reserva estratégica na farmácia. Quando os produtos são vendidos e se atinge o stock mínimo, o SI gera automaticamente uma
6 proposta de encomenda para esse produto, garantido que não haja rutura de stock. Esta proposta de encomenda tem de ser aprovada antes de ser enviada para o fornecedor.
Durante o meu estágio, verifiquei se o stock fisicamente disponível estava de acordo com a quantidade disponível informaticamente, e controlei de prazos de validade (PV), garantindo que os medicamentos e produtos de saúde com o prazo mais curto eram os primeiros a ser vendidos. Quando a validade dos produtos estava a expirar, estes eram postos de parte para serem
devolvidos aos fornecedores
Durante o meu estagio tive sempre uma atitude pró-activa, sugerindo, em algumas situações uma alteração do stock mínimo e/ou máximo de um produto, quando me apercebia que este era vendido em maiores ou menores quantidades do que aquelas propostas pelo SI.
6.5 Realização de Encomendas e Fornecedores
A aquisição de medicamentos e outros produtos farmacêuticos pode ser realizada de duas formas, quer através de distribuidores/grossistas/armazenistas, quer através da compra direta aos laboratórios/representantes da marca.
A FSG trabalha com dois distribuidores grossistas: Cooperativa dos Proprietários de Farmácia (COOPROFAR) e OCP. As encomendas diárias (propostas pelo SI dependendo do stock mínimo e máximo de cada produto) são realizadas Três vezes por dia para a OCP e duas vezes por dia para a COOPROFAR.
Nas encomendas diárias, o responsável pela encomenda deve conferir os produtos automaticamente selecionados pelo SI e os fornecedores para os quais vão ser feitas as
encomendas. Deve também rever os medicamentos em falta, ajustar as quantidades selecionadas e adicionar outros produtos necessários, tento em conta as variações sazonais, surtos de doença, bonificações, dias de serviço permanente ou reforço, produtos que esgotam sazonalmente, altura do mês (gestão financeira), entre outros. Terminada a seleção dos produtos a encomendar, a encomenda é enviada via modem para os fornecedores selecionados. Nas situações em que existe uma necessidade de confirmação / código desconhecido de um medicamento/produto, a encomenda é feita por telefone diretamente ao fornecedor.
As encomendas efetuadas a distribuidores grossistas são mais frequentes devido ao facto de ter tempos de entrega mais curtos, produtos mais diversificados, possibilidade de adquirir pequenas quantidades, entre outras. No entanto, também apresentam a desvantagem dos preços serem mais elevados.
A encomenda de Medicamentos ou Produtos de Saúde também pode ser realizada, como já referido, diretamente a laboratórios. Nestas situações a compra é realizada diretamente aos representantes dos laboratórios aproveitando o desconto financeiro a pronto pagamento, conferindo assim à farmácia uma maior margem de lucro. No entanto, apresenta como
7 desvantagens o facto de o tempo de entrega dos produtos ser mais longo e a exigência de uma quantidade mínima encomendada.
Ao longo do estágio só efetuei encomendas diretamente ao fornecedor pelo telefone, quando estava no atendimento ao público. Pontualmente, pude observar e tentar compreender como se devem conferir e aprovar as encomendas diárias.
3.4 Receção e conferência de encomendas
Os produtos encomendados são entregues na Farmácia pelos respetivos fornecedores e vêm acondicionados em contentores/caixas próprios de cada distribuidor. Juntamente com cada encomenda vem a fatura (original e duplicado).
A fatura (Anexo II) é um documento no qual devem constar dados identificativos da encomenda e dos produtos que nela constam, como a identificação do distribuidor grossista ou do
laboratório, identificação da Farmácia, número e data da fatura, código do produto, designação do produto, forma farmacêutica, dosagem e número de unidades por embalagem, quantidade pedida e enviada, taxa de IVA aplicável ao produto, preço de venda à Farmácia (PVF), preço de venda ao público (PVP) e total da fatura. Após a chegada das encomendas, procede-se à receção dos produtos no sistema informático através do WINPHAR, de forma a atualizar os stocks e garantir que os produtos existentes em armazém e nas gavetas deslizantes correspondam aos que se encontram registados informaticamente. Os produtos que necessitam de refrigeração devem ser conservados no frigorífico, até ao momento de receção dos mesmos, de modo a garantir a sua integridade.
Todas as matérias-primas rececionadas devem vir acompanhadas pelo respetivo boletim de análise. Este boletim é arquivado num dossier, carimbado, assinado pelo farmacêutico responsável e com a data da receção.
Na encomenda podem, ainda, constar psicotrópicos e/ou estupefacientes que vêm num contentor à parte. Para além disso, vêm acompanhados da guia de requisição, numerada e em duplicado. Estas guias devem ser ambas assinadas e datadas pela Diretora Técnica ou pelo Farmacêutico responsável, sendo também colocado o seu número de inscrição na ordem dos Farmacêuticos e o carimbo da Farmácia.
À medida que se dá entrada dos produtos, deve-se confirmar sempre o prazo de validade dos mesmos. Caso o produto tenha um prazo de validade inferior ao existente no stock do Winphar, este deve ser atualizado. É também importante, verificar o estado de conservação dos produtos (condições de armazenamento, embalagens danificadas), sendo que, sempre que se verifiquem não conformidades, procede-se à sua devolução. À medida que se vai dando entrada dos artigos no stock da farmácia, procede-se à conferência dos dados da fatura, tendo em atenção se a quantidade enviada corresponde à quantidade recebida, verificando todos os parâmetros, desde a identificação do fornecedor, da farmácia, do número da fatura, dos códigos, da designação,
8 dosagem e forma farmacêutica dos medicamentos, as bonificações atribuídas, o preço unitário, a percentagem de imposto acrescentado (IVA), o Preço de Venda à Farmácia (PVF) e o Preço de Venda ao Público (PVP). A Lei n.º 25/2011, de 16 de junho [8], regula a obrigatoriedade da indicação do preço de venda ao público (PVP) na rotulagem dos medicamentos. Nos
medicamentos comparticipados, o preço é fixado pela entidade reguladora e vem impresso na embalagem, mas, no caso dos produtos e medicamentos que não apresentam inscrito qualquer PVP, é necessário efetuar a marcação manual do preço.
Quando se receciona um produto novo, torna-se necessário criar uma ficha de produto, no sistema informático da Farmácia, para o integrar na base de dados. A conferência do que foi faturado pelo fornecedor e do que foi enviado para a Farmácia é realizada depois de se dar entrada de todos os produtos, conferindo-se a fatura com os produtos rececionados. Durante a receção e conferência das encomendas, se for verificada a existência de
medicamentos ou outros produtos farmacêuticos em mau estado de apresentação ou com outra qualquer incoerência, a farmácia emite a nota de devolução e envia juntamente com o produto para o fornecedor em causa.
Por fim, todas as faturas são arquivadas, assim como as notas de crédito.
Desde os primeiros dias do meu estágio foi-se permitido acompanhar e intervir na receção de encomendas, o que me permitiu rapidamente familiarizar com os medicamentos e ter uma noção daqueles que são mais vendidos na FD. Quando a encomenda apresentava alguma
irregularidade (produtos enviados que não tinham sido pedidos nem faturados, por exemplo), contactei via telefónica ou via fax com os fornecedores para resolver a situação.
3.5 Armazenamento
Depois de se ter dado entrada da encomenda rececionada, esta deve ser corretamente armazenada. Este é feito segundo o critério first expire, first out, de modo a que os produtos mais acessíveis sejam aqueles que têm um PV mais curto. O armazenamento permite a manutenção da qualidade dos produtos até ao momento da dispensa, bem como otimiza o trabalho do farmacêutico. As condições especiais de conservação são rigorosamente cumpridas, sendo os produtos termolábeis armazenados em primeiro lugar, no frigorífico a temperaturas entre os 2-8ºC e os restantes nas condições de temperatura (inferior a 25ºC) e humidade adequadas.
Os produtos que apresentam maior rotatividade, assim como os produtos de venda livre ( produtos de higiene, cosmética, suplementos alimentares,etc) encontram-se mais próxmos da zona de atendimento e de forma a serem visíveis pelos utentes. Os restantes produtos são acondicionados por ordem alfabética nas gavetas, o excesso no armazém.
A recepção, conferencia e armazenamento de encomendas foram as primeiras tarefas desempenhadas no meu estágio. Esta primeira etapa é crucial pois permite conhecer a
9 organização da farmácia para que, no momento do atendimento, fosse mais fácil encontrar o produto pretendido, bem como associar o nome comercial ao seu princípio ativo.
3.6 Controlo dos prazos de validade
O controlo dos prazos de validade é uma tarefa imprescindível para garantir que os produtos dispensados se encontrem em perfeitas condições, e assim evitar a dispensa de produtos fora do prazo ou em más condições de conservação.
Na FSG, o controlo dos prazos de validade é feito de dois modos diariamente, aquando a receção de encomendas e mensalmente. Todos os meses, com ajuda do WINPHAR, efetua-se a impressão de uma lista de produtos cujo prazo de validade irá terminar, de modo a efetuar as devoluções. Os medicamentos e outros produtos nestas condições são retirados do stock e devolvidos ao respetivo fornecedor acompanhado de uma “Nota de Devolução” que especifica o motivo da mesma.
Durante o meu estagio sempre fui alertada para a importância, aquando da receção e conferência de encomendas, da verificação e atualização dos prazos de validade, de modo a controlar os produtos existentes no stock. Todos os meses a farmacêutica responsável imprimia uma folha com os produtos com validade.Nos momentos mais parados procedia a verificação de todos os medicamentos listados, colocando na frente da gaveta algum que estivesse com validade mais próxima e organizando aqueles que teriam de ser devolvidos.
3.7 Devoluções
São várias as situações que podem levar à devolução de produtos, podendo derivar tanto de processos de verificação da encomenda como do prazo de validade, ou então devido a produtos redimensionados ou retirados do mercado; embalagens incompletas ou danificadas, envio de produtos não encomendados, etc…
Nestas situações, todos os produtos devolvidos têm de ser acompanhados de uma nota de devolução, que deve referir o nome do produto, a quantidade a devolver, o preço, o número da fatura onde veio debitado, o motivo da devolução, a data, bem como a assinatura de quem processou a devolução e o carimbo da Farmácia.
A Nota de Devolução (Anexo III) é emitida em triplicado. Duas cópias são carimbadas e rubricadas pelo operador e enviadas juntamente com os produtos a devolver ao fornecedor. A outra cópia fica na Farmácia para posterior conferência.
Durante os 6 meses de estágio muitas foram as devoluções nas quais tive oportunidade de colaborar, desde lotes retirados do mercado, a medicamentos trocados, embalagens danificadas e, mensalmente produtos com validade a expirar.
10 IV. DISPENSA DE MEDICAMENTOS
Segundo o Decreto-Lei nº 176/2006, de 30 de agosto[9], Medicamento é toda a substância ou associação de substâncias apresentada como possuindo propriedades curativas ou preventivas de doenças em seres humanos ou dos seus sintomas ou que possa ser utilizada ou administrada no ser humano com vista a estabelecer um diagnóstico médico ou, exercendo uma ação
farmacológica, imunológica ou metabólica, a restaurar, corrigir ou modificar funções fisiológicas.
O Farmacêutico apresenta um papel essencial no esclarecimento e aconselhamento da
população, uma vez que é o profissional de saúde mais próximo, acessível e o último a contactar com o utente antes de serem iniciadas as terapêuticas. A informação transmitida ao doente deve ser feita de forma simples, clara e compreensível com o objetivo de garantir que a transmissão da informação, oral e/ou escrita foi entendida pelo utente, maximizando a adesão à terapêutica e, como consequência, o resultado terapêutico pretendido.
Os medicamentos para uso humano são classificados, consoante a sua dispensa ao público, em medicamentos sujeitos a receita médica (MSRM) e MNSRM. Os MNSRM englobam também medicamentos homeopáticos e medicamentos tradicionais à base de plantas, excetuando os que cumprem os requisitos de MSRM.
A FSG dispõe de outros produtos de saúde, como preparações extemporâneas, produtos cosméticos e dermocosméticos, produtos homeopáticos, produtos fitoterapêuticos, géneros alimentícios para alimentação especial, produtos dietéticos, suplementos nutricionais, produtos e medicamentos de uso veterinário e dispositivos médicos.
4.1 MSRM
Os medicamentos encontram-se classificados em Medicamentos Sujeitos a Receita Médica (MSRM) e Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica (MNSRM).
De acordo com o Estatuto do Medicamento, consideram-se MSRM todos aqueles que
preencham uma das condições seguintes: “possam constituir um risco para a saúde do doente, direta ou indiretamente, mesmo quando usados para o fim a que se destinam, caso sejam utilizados sem vigilância médica”; “possam constituir um risco, direto ou indireto, para a saúde, quando sejam utilizados com frequência em quantidades consideráveis para fins diferentes daquele a que se destinam”; “contenham substâncias, ou preparações à base dessas substâncias, cuja atividade ou reações adversas seja indispensável aprofundar”; “se destinem a ser
administrados por via parentérica”.
Os MSRM necessitam então de uma prescrição médica, atualmente regulada pela Lei nº 11/2012, de 8 de março] [10], e pela Portaria nº 137-A/2012, de 11 de maio[11] alterada pela Portaria nº 224-A/2013, de 9 de julho[12] e pelo Despacho nº 11254/2013, de 30 de agosto [13], para a sua dispensa. Estes podem ser subdivididos em: medicamentos de receita médica não
11 renovável (destinam-se a tratamentos de curta duração, validade de 30 dias), medicamentos de receita médica renovável (tratamentos prolongados. A receita é constituída por três vias e validade de 6 meses), medicamentos de receita médica especial (medicamente psicotrópicos, ou que possam criar toxicodependência em caso de uso anormal).
4.2 Validação e Interpretação da Prescrição
De acordo com a Portaria n.º 137-A/2012, de 11 de maio [11], a receita é apenas válida se estiver corretamente preenchida, isto é, se incluir os seguintes elementos:
Local e data de prescrição;
Identificação do médico prescritor; Nome e número de utente;
Entidade financeira responsável;
Se aplicável, referência ao regime especial de comparticipação de medicamentos; Denominação Comum Internacional;
Dosagem, forma farmacêutica, dimensão e número de embalagens; Se aplicável, designação comercial do medicamento;
Se e consoante aplicável, a informação das referidas justificações técnicas; Se aplicável, identificação do despacho que estabelece o regime especial de
comparticipação de medicamentos; Assinatura do prescritor.
A prescrição médica deve ser efetuada por via eletrónica. Pode realizar-se por via manual em caso de falência do SI, inadaptação fundamentada pelo prescritor, prescrição ao domicílio e até um máximo de 40 receitas por mês.
Por cada receita médica podem ser prescritos até um máximo de quatro embalagens, sendo que só podem ser prescritas duas embalagens de cada medicamento.
A prescrição de medicamentos estupefacientes ou substâncias psicotrópicas não pode constar numa receita onde sejam prescritos outros medicamentos, bem como os produtos incluídos no protocolo da Diabetes Mellitus e os medicamentos manipulados.
4.3 Dispensa
Após a validação e interpretação da receita, o farmacêutico procede à dispensa dos
medicamentos. Deve confirmar-se que é dispensado exatamente o que está prescrito na receita, no que diz respeito à substância ativa, dosagem, forma farmacêutica, dimensão e quantidade de embalagens.
12
DCI : em que o utente pode optar por qualquer medicamento com o mesmo CNPEM (
mesma DCI, forma farmacêutica, dosagem, tamanho e embalagens similares)
Por nome comercial ou do titular: neste caso o médico pode indicar, na receita, as
justificações técnicas que impedem a substituição do medicamento prescrito, nomeadamente:
Exceção a) do nº 3 do art. 6º- Medicamento com margem ou índice terapêutico estreito;
Exceção b) do nº 3 do art. 6º - Reação adversa prévia;
Exceção c) do nº 3 do art. 6º - Continuidade de tratamento superior a 28 dias. Nas receitas assinadas com a exceção a) e b) o utente é obrigado a adquirir o medicamento que consta na receita. Já no caso da exceção c), o utente pode escolher se quer o medicamento indicado na receita ou um medicamento mais barato que o prescrito.
Na ausência destas exceções, na prescrição por DCI, a farmácia é obrigada a dispensar um dos cinco medicamentos mais baratos, salvo se o utente tiver preferência por um medicamento com preço superior. De acordo com a Portaria n.º 137- A/2012, de 11 de maio[11], as farmácias devem ter disponíveis para venda, no mínimo, três medicamentos que pertençam ao mesmo grupo homogéneo (GH) (mesma substância ativa, forma farmacêutica e dosagem), de entre os cinco mais barato para esse mesmo GH.
Ao fim de duas semanas tive contacto, pela primeira vez com o balcão. Foi-me fornecida toda a informação necessária para a dispensa de medicamentos, tais como toda a informação acerca das receitas, e todos os tópicos a ter em atenção. Na terceira semana de estagio, sempre com o supervisionamento da Dra Miguela, passei para o balcão e para a dispensa de medicação. Ao fim de uma semana já tinha autonomia e sempre que surgisse alguma dúvida perguntava. Durante os seis meses, tive oportunidade de aviar todo o tipo de receitas, desde
comparticipações especiais, psicotrópicos, etc
4.4 Informação ao Utente
No momento da dispensa da medicação, o farmacêutico deve garantir que o utente recebe e compreende toda a informação necessária para um uso correto, eficaz e seguro dos
medicamentos. O utente deve ser questionado se é a primeira vez que vai tomar aquela medicação ou se já é habitual. Se já for habitual, é necessário certificar-se que não existem dúvidas e que a posologia é corretamente cumprida. Caso seja a primeira vez, é importante explicar ao utente, oralmente, os esquemas posológicos, cuidados a ter, possíveis interações, contraindicações e reações adversas que possam resultar do tratamento. Esta informação deve ser complementada com informação escrita, quer através da entrega da guia de tratamento, quer escrevendo nas embalagens dos medicamentos.
13 No meu estágio na FSG, tive sempre o cuidado de transmitir todas as informações necessárias para o uso racional dos medicamentos, esclarecendo todas as dúvidas do utente, e tentando promover a adesão à terapêutica.
4.5 Regime de comparticipação de medicamentos
A comparticipação de medicamentos baseia-se em acordos estabelecidos entre as entidades de saúde e os organismos comparticipantes e permite que o utente pague apenas uma percentagem do PVP do medicamento. Esta percentagem de comparticipação varia com os diferentes organismos, o tipo de medicamento e com a possibilidade de o utente se incluir num regime especial de comparticipação.
O SNS é o maior organismo comparticipante, sendo responsável por todos os cidadãos
portugueses. A sua comparticipação no preço dos medicamentos é fixada de acordo com quatro escalões (Escalão A - 90%; Escalão B - 69%; Escalão C - 37%; Escalão D - 15% do PVP dos medicamentos) definidos pelo DL n.º 106-A/2010, de 1 de outubro [14]. Neste está prevista a possibilidade de comparticipação de medicamentos através de um regime geral, que abrange todos os utentes do SNS (Anexo IV) e um regime especial (Anexo V), identificado por um R e que abrange os pensionistas cujo rendimento total não ultrapasse catorze vezes o salário mínimo nacional. No regime especial, verifica-se um acréscimo de 5% da comparticipação para o escalão A e de 15% para os restantes.
No entanto, existem outros subsistemas de saúde criados no âmbito de várias empresas, que possibilitam ao utente uma dupla comparticipação. Nestes casos, para o utente poder beneficiar desta comparticipação tem que apresentar o cartão de beneficiário para que este possa ser fotocopiado juntamente com a receita.
Para além das comparticipações já referidas, há ainda comparticipações especiais em
medicamentos usados no tratamento de determinadas patologias ou grupos especiais de doentes, que são abrangidas por portarias ou despachos, que devem claramente estar mencionados na receita médica.
Os medicamentos manipulados que constam na legislação são comparticipados em 30%, segundo o DL já referido.
4.6 Protocolo da Diabetes Mellitus
Sendo a Diabetes Mellitus uma patologia crónica com elevada incidência, é necessária uma prevenção primária (fatores de risco modificáveis), secundária (diagnóstico precoce a tratamento adequado) e terciária (reabilitação e reinserção social). Com esse objetivo, desde 1998, existe um protocolo entre o Ministério da Saúde e os vários parceiros no setor, permitindo que os produtos indispensáveis à sua automonitorização e controlo sejam alvo de uma
14 , as tiras-teste e as agulhas têm uma comparticipação de 85% sobre o seu PVP e as seringas e lancetas são gratuitas para os utentes do SNS.
4.7 Sistema de preços de Referência
Abrange os medicamentos comparticipados, prescritos no âmbito do SNS e para os quais já existem medicamentos genéricos autorizados, comparticipados e comercializados. O SPR estabelece um valor máximo a ser comparticipado, correspondendo ao escalão ou regime de comparticipação aplicável calculado sobre o preço de referência, ou igual ao Preço de Venda ao Público (PVP) do medicamento, conforme o que for inferior, para cada conjunto de
medicamentos com a mesma composição qualitativa e quantitativa em substâncias ativas, forma farmacêutica, dosagem e via de administração, no qual se inclua pelo menos um medicamento genérico existente no mercado.
V. CONFERÊNCIA DE RECEITUÁRIO
Após a dispensa dos medicamentos ao utente, todas as receitas médicas já dispensadas são guardadas. Posteriormente e com vista à deteção de possíveis falhas que de alguma forma podem levar à devolução dessas receitas à Farmácia, com consequente não reembolso das mesmas, é feita regularmente ao longo de todo o mês a conferência do receituário pelos diversos Profissionais da Farmácia. No caso da FSG esta tarefa está ao encargo da Doutora Regina Carvalho, diretora técnica e do Dr. Joaquim Coelho, Farmacêutico Substituto.
Essa conferência consiste na verificação de alguns aspetos essenciais, mais concretamente: - Se a receita obedece a todos os requisitos legais referidos anteriormente;
- Se a medicação que vem prescrita corresponde à dispensada;
- Se o desconto efetuado corresponde ao desconto estipulado para a entidade de comparticipação enunciada na receita;
- Se a receita está assinada pelo médico prescritor e se está dentro do prazo de validade; - Se a receita se encontra assinada e datada pelo Farmacêutico.
Durante a conferência das receitas estas são separadas por subsistemas de saúde e, dentro destes, organizadas em lotes de trinta receitas. Excecionalmente, o último lote do mês e os organismos menos frequentes podem não estar completos.
No final do mês, procede-se à emissão e ao fecho dos lotes através do sistema informático para se começar uma nova série e consequentemente um novo início de lotes no mês seguinte. Deste modo, após o fecho do lote é impresso o respetivo Verbete de Identificação.
Para cada conjunto de lotes de um determinado organismo, imprime-se a Relação Resumo de Lotes e a Fatura Mensal.
As receitas são enviadas, juntamente com os documentos acima referidos (assinados,
15 Serviço Nacional de Saúde (CCF) ou à ANF, caso se trate de receituário relativo ao SNS ou aos restantes organismos (como SAMS, ADME, entre outros), respetivamente.
Nessa altura, tanto o CCF como a ANF fazem a respetiva correção das receitas e sempre que se verifique que algo não está de acordo com o previsto, o receituário é devolvido à Farmácia, com indicação do motivo da devolução. Deste modo, a Farmácia emite uma nota de crédito e tenta resolver a situação. Quando consegue, envia as receitas na faturação do mês seguinte.
Na FSG, todos os dia trocávamos com um dos colegas as receitas aviadas no dia anterior, para que estas fossem corrigidas antes de seguirem para o farmacêutico adjunto. Este era responsável por uma 2ª correcção e assinatura das respectivas receitas. Tive a oportunidade de participar activamente em todo o processo de organização de receituário, desde a sua correcção ate á organização por lotes. Esta tarefa permitiu-me alargar o meu conhecimento. Além de aprender com os meus erros e dos meus colegas, surgiam dúvidas e estas eram debatidas em conjunto, sem a pressão da presença do utente.
VI. MNSRM
Os MNSRM, tal como o nome indica, são medicamentos que podem ser dispensados ao utente sem prescrição médica. São utilizados para transtornos menores, de curta duração e evitam que o utente tenha que recorrer a serviços médicos sendo a sua dispensa normalmente associada à indicação farmacêutica ou automedicação. Estes medicamentos não são comparticipados e o seu PVP está sujeito ao regime de preços livres.
Contudo, é importante explicar ao utente que, apesar de não serem sujeitos a receita médica, não deixam de ser medicamentos e o seu uso não é inócuo, pelo que deve ser incutido o seu uso racional.
VII. AUTOMEDICAÇÃO
A automedicação consiste na vontade de o utente, por iniciativa própria, implementar
determinado tratamento farmacológico. Esta vontade pode ser decorrente de experiência prévia própria, experiência prévia de um conhecido ou publicidade.
O farmacêutico assume a responsabilidade do tratamento farmacológico, pelo que deve recolher informação necessária acerca do estado geral do doente, de forma a poder analisar a sua história clínica e médica, bem como sintomatologia apresentada. Deve questionar sobre a intensidade e duração dos sintomas, bem como a terapêutica farmacológica já instituída e possíveis alergias. Na escolha do medicamento, deve ter-se atenção à seleção do princípio ativo, dose, forma farmacêutica, frequência de administração e duração do tratamento. A escolha do tratamento farmacológico deve basear-se em protocolos de indicação e guias farmacoterapêuticos, sendo que no Despacho n.º 17690, de 23 de julho, se pode encontrar uma lista de situações passiveis
16 de automedicação. No caso de o farmacêutico considerar que não se trata de um transtorno menor, deve aconselhar o utente a dirigir-se ao médico.
O profissional de saúde deve orientar o utente na sua utilização, alertando-o para as consequências do seu uso não racional. Adicionalmente, deve aconselhar medidas não farmacológicas suplementares que complementem a terapêutica instituída ou, caso se adeque, pode oferecer outros serviços de cuidados de saúde.
Durante o meu estágio, deparei-me muitas vezes com situações de automedicação e pedidos de indicação farmacêutica. Sempre que isso aconteceu, procurei conhecer a história do doente e expliquei qual a posologia indicada, bem como a duração do tratamento. Na FD os MNSRM mais dispensados são analgésicos/antipiréticos, antitússicos/expetorantes, medicamentos destinados ao alívio dos sintomas de gripes e constipações, laxantes, antidiarreicos e antiácidos.
VIII. MEDICAMENTOS ESTUPEFACIENTES E PSICOTRÓPICOS
Os medicamentos psicotrópicos e estupefacientes são medicamentos de extrema importância para a medicina, desde que utilizados de forma correta, podendo ser utilizados na terapêutica de diversas doenças, como é o caso do controlo da dor severa, característica de várias doenças do foro oncológico.
Psicotrópicos e estupefacientes são medicamentos com ação sobre o Sistema Nervoso Central que, por criarem fenómenos de tolerância, dependência física e psíquica e alteração
comportamental, estão sujeitos a legislação especial durante todo o circuito do medicamento, de modo a impedir o seu uso indevido e o seu desvio para o tráfico ilícito. Substâncias como a cocaína, cannabis ou heroína, utilizadas no fabrico de fármacos usados no tratamento de uma série de doenças, estão normalmente associadas a atos ilícitos, nomeadamente ao tráfico e consumo de drogas. Deste modo, o Decreto-Lei nº 15/93, de 22 de janeiro [15] define as normas às quais estão sujeitos o cultivo, produção, fabrico, emprego, comércio, distribuição,
importação, exportação, trânsito, transporte, detenção e uso das plantas, substâncias e preparações psicotrópicas e estupefacientes.
Assim, todos os medicamentos autorizados em Portugal que contenham substâncias e suas preparações compreendidas nas tabelas I e II anexas ao Decreto-Lei n.º 15/93, de 22 de janeiro
[15]
, na sua redação atual, só podem ser fornecidos ao público mediante prescrição médica eletrónica identificadas como Receita Especial (RE) e seguindo as mesmas regras que os restantes medicamentos.
Aquando da dispensa deste tipo de medicamentos é necessário verificar a identidade do adquirente, a data de validade da receita e introduzir no sistema informático os dados pessoais do adquirente (nome, morada, B.I. ou Cartão de Cidadão e data de caducidade destes
documentos e idade), do doente (nome e morada), do médico prescritor (nome e número) e o número da receita.
17 Na FSG, quando se efetua o fecho da receita no sistema informático é emitido um documento para faturação que é impresso no verso da receita original, um talão de psicotrópico com informação detalhada dos medicamentos, do utente e do adquirente que é anexado à cópia da receita eletrónica, ou então dois talões para as receitas manuais, e ainda, o recibo para o utente. A receita original com o documento para faturação impresso é enviada ao respetivo subsistema de saúde para efeitos de comparticipação. A cópia da receita, se esta for manual, uma é
arquivada na Farmácia por um período de três anos, sendo a outra enviada ao INFARMED até ao dia 8 do mês seguinte em que foi dispensada (Anexo VI). É necessário enviar a listagem das saídas destas substâncias até dia oito do segundo mês seguinte á dispensa, trimestralmente o registo da entrada destas substâncias e anualmente o mapa de balanço.
Existe a possibilidade do Farmacêutico recusar a dispensa deste tipo de receitas no caso de: - Ter fortes suspeitas sobre a autenticidade da receita;
- Estas não estarem de acordo com o modelo aprovado pelo INFARMED; - O prazo de validade da receita estiver expirado;
- O adquirente da receita for menor de idade ou sofrer de perturbações mentais; - O preenchimento da receita estar incompleto.
IX. PREPARAÇÕES EXTEMPORÂNEAS
Estas preparações são realizadas no ato da venda, devido à sua instabilidade após preparação. Os exemplos mais comuns são os pós para suspensão de antibióticos, sendo preparados em água purificada. Aquando da sua dispensa, deve informar-se o utente acerca das condições de
conservação (frigorifico) e o cuidado de agitar antes de abrir.
Durante o meu estágio, preparei várias suspensões, tratando-se, na maioria dos casos, de amoxicilina ou amoxicilina com ácido clavulânico.
X. PRODUTOS FITOTERAPÊUTICOS
O DL n.º 176/2006, de 30 de agosto [9], define produtos fitoterapêuticos como “medicamentos
tradicionais à base de plantas” e regula as condições do seu fabrico e distribuição.
Aliando a sociedade atual, cada vez mais preocupada com a saúde e bem-estar, com a ideia de que os produtos naturais são isentos de efeitos adversos, não é de estranhar que a procura destes produtos tenha vindo a aumentar. É necessário que o farmacêutico alerte que também têm efeitos adversos e podem ter interações com outros medicamentos.
Ao longo do meu estágio observei que os produtos fitoterapêuticos mais procurados são aqueles que se destinam ao emagrecimento, problemas hepáticos, ansiedade e insónia.
18 Segundo o DL n.º 74/2012, de 21 de junho [24], os produtos dietéticos destinados a uma
alimentação especial são aqueles que, dada a sua composição especial ou os seus processos de fabrico, se distinguem claramente dos alimentos de consumo corrente, mostrando-se adequados às necessidades nutricionais especiais de determinadas pessoas. Estes são aconselhados a pessoas cujo processo de assimilação ou metabolismo se encontra comprometido, pessoas que se encontram em condições fisiológicas especiais, lactentes ou crianças de um a três anos de idade.
Na FSG, encontra-se uma grande variedade deste tipo de produtos, como leites adequados às necessidades do bebé e que acompanham o seu crescimento, dos quais fazem parte os leites para lactentes, de transição e hipoalergénicos. Existem ainda vários tipos de farinhas lácteas e não lácteas, com ou sem glúten.
Relativamente a produtos dietéticos usados para emagrecimento, na FD há vários produtos das gamas Bioativo®, Depuralina®, DrenaSlim® e XLS Medical®, entre outros. Podem também encontrar-se suplementos alimentares mais específicos como o Cerebrum®, Centrum®, Viterra®, entre outros.
XII. PRODUTOS COSMÉTICOS E HIGIENE CORPORAL
O DL n.º 189/2008, de 24 de Setembro [25], posteriormente alterado pelo DL n.º 115/2009, de 18 de maio, define um produto cosmético como “qualquer substância ou preparação destinada a
ser posta em contacto com as diversas partes superficiais do corpo humano, designadamente epiderme, sistemas piloso e capilar, unhas, lábios e órgãos genitais externos, ou com os dentes e as mucosas bucais, com a finalidade de, exclusiva ou principalmente, os limpar, perfumar, modificar o seu aspeto e ou proteger ou os manter em bom estado e ou de corrigir os odores
corporais”. O DL n.º 296/98, de 25 de Setembro [26]
, estabelece as regras que disciplinam o mercado de produtos cosméticos e higiene corporal ao nível do seu fabrico, comercialização, rotulagem e publicidade.
Estes produtos podem ser indicados por dermatologistas, mas a sua procura, por iniciativa do utente, é cada vez maior. Como tal, o farmacêutico deve possuir um grande conhecimento dos diferentes artigos e várias gamas existentes para que seja capaz de analisar cada situação e avaliar as necessidades do utente.
Na FSG os produtos são de fácil acesso ao público, em lineares e gôndolas na zona de atendimento, apresentando diversas marcas como Caudalie®; La Roche posay®; Avéne®; Uriage®; Vichy®;
Durante o meu estágio observei muitos aconselhamentos feitos pelos meus colegas nesta área, para poder estar informada sobre este assunto e assisti a formações sobre alguns destes
19 oportunidade de aconselhar. Sempre demonstrei imenso interesse por esta área tendo uma atitude pró-ativa em todas as actividades desenvolvidas pela FSG ao longo do estágio.
XIII. PRODUTOS E MEDICAMENTOS DE USO VETERINÁRIO
Citando o DL n.º 184/97, de 26 de julho, medicamento de uso veterinário é “toda a substância
ou composição apresentada como possuindo capacidades curativas ou preventivas relativas a doenças em animais”. Estes são facilmente identificados pela inscrição “Uso Veterinário” na
embalagem. Devem ser armazenados em local próprio e separados dos medicamentos de uso humano.
Na FD os produtos de uso veterinário mais procurados são os que dizem respeito a animais de companhia (cães e gatos), dos quais se destacam os desparasitantes (internos e externos) e anticoncecionais.
XIV. DISPOSITIVOS MÉDICOS
O DL n.º 145/2009, de 17 de junho [28] define dispositivo médico como “qualquer instrumento,
aparelho, equipamento, software, material ou artigo utilizado isoladamente ou em combinação (…) destinado pelo seu fabricante a ser utilizado especificamente para fins de diagnóstico ou terapêuticos (…) cujo principal efeito pretendido no corpo humano não seja alcançado por meios farmacológicos, imunológicos ou metabólicos, embora a sua função possa ser apoiada por esses meios”.
Na FSG apresenta uma grande quantidade de dispositivos médicos: teste de gravidez, material ortopédico, material de drenagem para ostomizados e urostomizados, artigos para grávidas, material de puericultura, entre outros.
No meu estágio, tive oportunidade de dispensar alguns destes produtos, onde se descatam os testes de gravidez. Expliquei sempre as condições em que este deve ser realizado, bem como a possibilidade de falsos negativos se a gravidez for recente.
XV. SERVIÇOS E CUIDADOS DE SAÚDE PRESTADOS 15.1 VALORMED
A indústria farmacêutica, responsável pela gestão dos resíduos de embalagens que coloca no mercado, associou-se aos restantes intervenientes da “fileira do medicamento” – distribuidores e Farmácias – e criaram a VALORMED, sociedade responsável pela gestão dos resíduos de embalagens e medicamentos fora de uso.
Este Programa visa a remoção e tratamento dos resíduos dos medicamentos. As Farmácias são o elo de ligação do programa com o público em geral, pois é neste local que se entregam os medicamentos fora de uso, após consumo e fim de prazo de validade. Para além disso, permite o aconselhamento e sensibilização dos utentes para os cuidados ambientais e de Saúde Pública,
20 desenvolvendo o hábito de entrega deste tipo de produtos na Farmácia ao contrário de os deitar fora com o lixo comum.
Os resíduos entregues pelos utentes são colocados num contentor VALORMED. Quando cheio precede-se à sua pesagem, selagem e preenche-se uma folha de registo com o nome e código da farmácia, data do fecho e o peso do contentor. Os contentores são levantados da farmácia pelos distribuidores que assinam a folha de registo ficando na farmácia o triplicado.
O tratamento adequado destes resíduos contribui para preservar a Saúde Pública e o ambiente. Procura-se, assim, minimizar o impacto ambiental negativo destes resíduos.
15.2 DETERMINAÇÃO DE PARÂMETROS BIOQUÍMICOS E FISIOLÓGICOS A Portaria n.º 1429/2007, de 2 de Novembro [29], estabelece os novos serviços que podem ser prestados pelas farmácias e os moldes em que podem ser desenvolvidos. Assim, a FSG possui um conjunto de serviços disponível à comunidade que contribuem para a melhoria da saúde e qualidade de vida dos utentes.
Alguns destes serviços são realizados pelos profissionais de saúde da farmácia, como a
determinação da PA, glicémia capilar, colesterol total, triglicerídeos, IMC, enquanto outros são realizados por profissionais devidamente qualificados que se dirigem à farmácia normalmente uma vez por semana, em dia previamente estipulado, para a prestação dos serviços de
podologia, optometria.
15.2.1 Determinação da Pressão arterial
Na FSG é feita a monitorização dos valores de pressão arterial frequentemente nos utentes. Esta medição realiza-se recorrendo a um Dispositivo Eletrónico Automático de Medição no braço. Para efetuar corretamente a medição da pressão arterial, o utente deve permanecer sentado e em silencio.
O Farmacêutico deve registar a medição de pressão arterial indicando a data e, se possível, a hora da medição e por último deve interpretar o resultado e intervir em conformidade com a situação, informando o doente sobre o significado dos seus valores de pressão arterial.
Tabela I: Classificação dos Níveis de Pressão Arterial Categoria Pressão Arterial
Sistólica (mmHg) Pressão Arterial Diastólica (mmHG) Óptima <120 <80 Normal <130 <85 Normal – Alta 130 – 140 85 – 89 Grau 1 – HTA Ligeira 140 – 149 90 – 99 Grau 2 – HTA
Moderada
160 – 179 100 – 109
21 É importante considerar que ao longo do dia a pressão arterial varia sob a influência de certos fatores, como o stress , tabaco, álcool, exercício físico, entre outros. Se os valores se
mantiverem elevados durante um determinado período de tempo é conveniente comunicar ao utente a necessidade de marcar consulta o quanto antes.
15.2.2 Determinação da glicemia capilar
Para a medição da glicemia capilar, a Farmácia dispõe de um aparelho específico e após a medição, o Farmacêutico deve registar os valores obtidos e relembrar sempre alguns cuidados que o doente deve ter, de modo a controlar corretamente a doença: diminuição do consumo de açúcar, produtos açucarados e de álcool; Importância do autocontrolo da glicemia; Adesão à terapêutica; Monitorização da terapêutica (visitas regulares ao médico de modo a despistar eventuais complicações inerentes à diabetes).
Tabela II: Valores de referência da Glicemia
Momento do dia Níveis ideais de glicemia
Em jejum 70 – 110 mg/dl
Pós-prandial <140 mg/dl
15.2.3 Determinação dos níveis de colesterol e dos triglicerídeos
Os níveis de triglicerídeos no plasma variam ao longo do dia, sendo grandemente afetados pela ingestão de alimentos. Assim recomenda-se que a determinação deste parâmetro seja efetuada após um jejum de 12 horas.
A classificação adotada para definir os valores de colesterol total e triglicerídeos observados no sangue estão descritos nas tabelas seguintes:
Tabela III: Valores de referência do colesterol Tabela IV: Valores de referência dos triglicerídeos
Na FSG, utiliza-se o aparelho Accutrend® Plus para determinar o colesterol total e os triglicerídeos. A técnica de determinação dos valores de colesterol total e triglicerídeos é semelhante, distinguindo-se pelo facto de as tiras utilizadas serem específicas para cada tipo de medição. Colesterol Valores (mg/dl) Recomendado <190 Normal – alto 190 – 239 Alto risco >240 Triglicerídeos Valores (mg/dl) Normal <150 Limite 150 – 199 Elevado ≥200 Muito elevado ≥500
22 Consoante o valor obtido na determinação dos níveis plasmáticos de colesterol e triglicerídeos, o utente é aconselhado sobre as medidas que deve adotar, motivando-o a seguir a terapêutica farmacológica e não farmacológica, por forma a evitar complicações que possam surgir. Caso se considere necessário, o doente deve ser encaminhado para o médico apoiado nos registos dos valores de triglicerídeos e/ou colesterol para que o médico avalie a sua situação de saúde.
XVI. ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOS E VACINAS NÃO INCLUÍDAS NO PNV
Na FSG existem outros serviços – primeiros socorros, tratamento de feridas, administração de medicamentos, injetáveis e vacinas não incluídas no PNV –prestados pelos profissionais da farmácia devidamente habilitados.
XVII. MARKETING E PROMOÇÃO DA FARMÁCIA
Numa farmácia é cada vez mais importante o marketing de produtos de saúde e MNSRM, para promover o aumento das suas vendas. As estratégias de marketing passam por campanhas promocionais, técnicas de exposição do produto na farmácia, decoração atrativa de montras, gôndolas e lineares, etc.
O estágio permitiu-me pôr em prática essas estratégias, como expor diferentes produtos nos lineares e gêndolas consoante a sazonalidade, onde se destaca o caso dos protetores solares no verão.
XVII. FORMAÇÃO CONTÍNUA
Ao longo destes seis meses, enquanto estagiária da FSG, tive oportunidade de assistir a várias formações que contribuíram para a minha formação enquanto profissional de saúde:
Formação “Farmácia e o Aconselhamento á mulher em anticoncetivos” – Gedeon Richter;
Formação da gama La Roche Posay; Formação Inneov capilar;
23 XVIII. CONCLUSÃO
O meu estágio na FSG teve a duração de seis meses e possibilitou o desenvolvimento das minhas competências profissionais, a aquisição de hábitos de trabalho, o aprofundar dos meus conhecimentos teóricos bem como a aplicação dos ensinamentos adquiridos ao longo da minha formação académica.
No entanto, para além da aplicação dos conhecimentos científicos adquiridos durante os cinco anos de curso, foi necessário saber reagir às mais variadas situações, saber ouvir e saber aconselhar os doentes. Estas capacidades não podem ser adquiridas numa sala de aula, mas apenas no dia-a-dia, lidando com a realidade de uma farmácia comunitária.
Integrei uma equipa de profissionais, competentes e dinâmica, que me ajudou em tudo o que precisei, desde a familiarização com a estrutura da farmácia até ao entendimento da política de trabalho.
Há ainda muito para aprender e muitos aspetos a melhorar, até porque a formação deve ser contínua e todos os dias surgem situações novas, devendo a aprendizagem constituir um processo que se prolongue pela vida.
24 PARTE II – TRABALHOS DESENVOLVIDOS DURANTE O ESTÁGIO
1 GRIPE SAZONAL 1.1 Enquadramento
No Inverno 2014/2015 a FSG deparou-se com uma diminuição do número de vacinas
administradas face ao Inverno anterior. Verificávamos, em conversa com o utente, que muitos deles estavam mal informados acerca da vacina e grande parte das vezes não sabiam distinguir uma gripe de uma simples constipação. Muitos utentes pensavam que por se terem vacinado no ano anterior já não teriam necessidade de o voltar a fazer; outros que foram vacinados e apanharam ma constipação punham em causa a eficácia da doença; e ainda havia aqueles utentes que consideravam a vacina a causa da gripe que apanharam em anos anteriores.
1.2 Vírus da Gripe
O vírus da gripe pertence à família Orthomyxoviridae, do género Influenza, apresenta três tipos A, B e C. Estes vírus sofrem constantemente alterações, existindo diferentes estirpes, sendo umas mais contagiosas que outras, pelo que originam doenças com diferentes graus de gravidade.
A gripe é uma infeção do trato respiratório, muito contagiosa, autolimitada. A transmissão dá-se por via aérea, de pessoa para pessoa, e resiste 24 horas fora de organismos vivos. Estas duas características facilitam o contágio e tornam-no extremamente rápido.
1.3 Gripe Vs Constipação 46, 47, 48, 50, 51
Por vezes a gripe confunde-se com uma constipação, e vice-versa, no entanto estas apesentam características distintas. Na gripe, o virús Influenza A, B e C é o responsável pela infecção, e é mais comum no Inverno, enquanto na constipação os agentes mais comuns são o rhinovírus e o coronavírus e pode ocorrer no fim do Outono, Inverno como no início da Primavera. O contágio em ambos os casos dá-se por aerossol.
A gripe afecta os pulmões com maior intensidade e não produz a sensação de “cabeça pesada”, habitual na constipação e os sintomas surgem subitamente (2 dias), enquanto numa constipação estes vão surgindo gradualmente.
Os principais sinais e sintomas da gripe são a febre, de início súbito, acompanhada de cansaço e dores musculares. Também pode ocorrer perda de apetite, dores de cabeça, olhos inflamados, garganta inflamada e dores nas articulações. Geralmente os sintomas são mais fortes 2-3 dias após a infecção, e atenuam cerca de cinco dias depois.
Em lactentes e crianças, a febre pode ser acompanhada de sonolência, apatia, perda de apetite, vómitos, diarreia, etc.
25 Tabela 7 : Comparação entre os sintomas de gripe e constipação
O diagnóstico é efectuado com base nos sinais e sintomas e, geralmente, só se requisitam exames laboratoriais quando existem complicações associadas.
1.4 Grupos de risco 46, 47
Todos os anos a Direção-Geal da Saúde (DGS) emite orientações sobre s grupos-alvo prioritários para a vacinação contra a gripe sazonal.
Assim, a DGS definiu os seguintes grupos-alvo prioritários para a vacinação contra a gripe sazonal, para a época 2013/2014:
Pessoas com idade igual ou superior a 65 anos;
Doentes crónicos e imunodeprimidos, com mais de 6 meses de idade;
Grávidas com tempo de gestação superior a 12 semanas;
Profissionais de saúde e outros prestadores de cuidados (lares de idosos).
A vacina antigripal sazonal é distribuída de forma gratuita à população portuguesa com 65 ou mais anos de idade, nos centros de saúde do Serviço Nacional de Saúde.
1.5 Transmissão 46, 47, 51
Os vírus da gripe são geralmente disseminados através das gotículas de saliva expelidas através da tosse e dos espirros de pessoas infectadas. O contacto com mãos contaminadas também contribui para a disseminação da infecção.
1.6 Tratamento e Prevenção 46,47
Geralmente a gripe cura espontaneamente ou com medicamentos para o alívio dos sintomas (antipiréticos, descongestionantes, analgésicos, etc).