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Programas Intergeracionais. A experiência do SESC Minas Gerais

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Academic year: 2021

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Programas Intergeracionais

A experiência do SESC Minas Gerais

Gláucia Santos

utores diversos já alertaram para o aumento do envelhecimento da população mundial (Veras, 1994; Novaes, 1995; Monteiro e Alves, 1995; entre outros) e essa é uma das razões para os olhares dos estudiosos estarem mais voltados para esse fenômeno. No entanto, este é apenas um dos aspectos a se considerar. Em verdade, por razões diferentes, sempre houve preocupação com o envelhecimento (Groisman, 1999).

A partir da década de setenta esses estudos foram cada vez mais intensificados, por diversas razões. As famílias cada vez mais reduzidas deixam visíveis os idosos, ao mesmo tempo em que eles crescem em número. O sistema capitalista voltado para a produção discrimina o velho como alguém incapacitado para a força de trabalho, ao passo que as aposentadorias, que seriam a justa recompensa pelos muitos anos de labuta, também prenunciam o abandono e a falta de opções sociais dos idosos. Os ideais individualistas e as revoluções sociais dos anos sessenta tornam mais frouxos os laços parentais, diminuindo a lealdade e o sentimento de reciprocidade para com os mais velhos na família; embora algumas famílias se mantenham como as mais tradicionais, cuidando e acolhendo seus parentes mais velhos, outras se afastam e surge a questão de quem é responsável por cuidar.

Dado a diversidade de características individuais começa um movimento para distinguir o idoso sadio do doente (antes uma coisa era sinônima da outra). No caso das pessoas mais velhas, as depressões, as demências e as psicoses tardias passam a ser mais bem investigadas, confirmando que uma percentagem mínima de idosos portava doenças mentais. A preocupação com a qualidade de vida conduz a uma visão multidisciplinar do idoso, ou seja, os cuidados não são feitos apenas pelo médico, mas por diversos profissionais. O envelhecimento também é evidenciado de uma forma antagônica pelo mito da juventude eterna, apelo constante da mídia, como se envelhecer fosse um pequeno defeito que precisasse ser disfarçado pelos múltiplos produtos de beleza. Multiplicam-se os remédios contra ou a favor de um bom

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envelhecimento, as vitaminas geriátricas tomam conta do mercado, exatamente como manda o padrão mundial de consumo: o velho já é consumo e consumidor.

Em meio a todo esse quadro, ressurge com vestes novas esse segmento da população. Agora eles podem ser chamados de diversas maneiras: terceira idade, nova idade, idade avançada, melhor idade, cada termo trazendo implicações sociais as mais variadas. As associações, centros de convivência, são os lugares para o pleno exercício do envelhecimento sadio. Afirma

Groisman (1999, p.44), a velhice atual "não é um problema social é antes de mais nada, uma construção social".

Os idosos compartilham um acervo comum de experiências, situações de vida e oportunidades de trabalho e quando outras gerações fazem parte desse convívio, jovens e idosos, essa interação proporciona a troca de conhecimentos e contribui para valorizar o saber dos mais velhos, resgatando e resignificando seu conhecimento incorporando-o à contemporaneidade. Ao estimular as atividades intergeracionais busca-se transformar os conceitos em relação ao velho e a velhice, promovendo a inclusão do idoso na família e na comunidade.

A partir da certeza sobre os incontestáveis benefícios que a aproximação entre pessoas jovens e idosas gera, acontecem inúmeros desdobramentos por parte de profissionais diante da preocupação com a integração entre gerações. É possível constatar uma saudável proliferação das iniciativas de instituições públicas e privadas na implantação de programas intergeracionais no âmbito do lazer, educação e da cultura, entre outras áreas do trabalho social. Entrelaçar as gerações em uma estrutura de sociedade beneficia a todos e melhora o ritmo natural das famílias e comunidades.

França e Soares (1997, p.151) defendem as relações intergeracionais para quebrar preconceitos e afirmam que "As trocas geracionais não devem se limitar à família e aos programas e políticas governamentais, mas serem expandidas às instituições privadas e a outras representações da sociedade". Diante do exposto, o SESC Minas Gerais trabalha projetos que proporcionam essa convivência e troca intergeracional.

Em 2011 tive a oportunidade de aprimorar minhas atividades intergeracionais em um curso de aperfeiçoamento realizado pela Universidade de Granada, na Espanha, juntamente com um grupo em que trocamos conhecimentos, ideias e realizamos trabalho de campo nos quais buscávamos o mesmo objetivo: a construção de uma sociedade para todas as idades. Foi uma experiência única. Pudemos dialogar e trocar ideias com grandes nomes do trabalho intergeracional na Europa e no Brasil, os professores Juan Sáez, Mariano Sanches e José Carlos Ferrigno.

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Como fruto das minhas pesquisas, e seguindo as diretrizes do Programa de Assistência Sesc + Grupos do SESC MG, observei que num grupo é possível discutir temas referentes a características, necessidades, preocupações, semelhanças e diferenças intra e intergerações, conflitos e possibilidades de intercâmbio entre pessoas de faixas etárias bastante diferentes. O grupo é um espaço ímpar para assimilação de novas atitudes, promovendo mudanças rápidas e eficientes. O grupo permite que se veja uma mesma situação de maneiras variadas, favorecendo o respeito às diferenças.

O grupo informa, esclarece, reorganiza. Além do mais, ele apoia e melhora o relacionamento interpessoal e, neste sentido, o compartilhar faz descobrir identificações. Embora o grupo seja um lugar de interação e comunicação, não são apenas as características sociais que se desenvolvem. Nele as pessoas podem tomar consciência dos seus traços mais individuais, dos seus medos, do que acha que deve ser guardado como segredo, dos sentimentos mais ocultos, que podem ou não ser partilhados, de suas preferências, de seus gostos, de sua função e do seu papel dentro e fora dele.

Hoje o Sesc Floresta, uma das unidades de atendimento do SESC MG, desenvolve o Projeto nas Linhas da Vida, no qual idosos inscritos no Programa Sesc + Grupos e jovens do sexo feminino, cumpridoras de medidas socioeducativas em regime fechado, internas do Centro de Reeducação São Jerônimo em Belo Horizonte, se encontram todas as quartas-feiras tendo como pano de fundo o trabalho manual. A partir desse trabalho se constrói a relação das gerações.

“O projeto é um plano de trabalho com caráter de proposta que concreta os elementos necessários para conseguir os objetivos desejáveis. Tem como missão prever, orientar e preparar bem o caminho do que se tem a fazer para o desenvolvimento do mesmo”. (Pérez Serrano, 1997: 20)

Os Programas Intergeracionais (PI) são modelos de planejamento social que fornecem atividades importantes, contínuas e mutuamente benéficas, bem como intercâmbio de recursos e aprendizado entre as gerações mais idosas e mais jovens. Os locais nos quais se encontram os PI são variados e têm se adaptado aos seus ambientes para atenderem às necessidades tanto dos participantes jovens como dos idosos. Em todos esses cenários os coordenadores estão cientes das necessidades, características e habilidades tanto dos participantes mais idosos do programa como dos mais jovens. “Um programa é um conjunto pré-ordenado e inter-relacionado de atividade encaminhada a afrontar um problema social existente” (Netting, O'connor y Fauri, 2007: 59).

“Os programas Intergeracionais são um fenômeno social global. Esse fenômeno é apoiado por líderes na maior parte do mundo, e será apresentado como tema no congresso da União Europeia, no ano de 2012, sobre envelhecimento ativo e solidariedade intergeracional. O congresso reunirá representantes de 25 países, os quais discutirão um processo para o desenvolvimento de uma sociedade para todas as idades. Solidariedade entre

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gerações em todos os níveis – em famílias, comunidades e nações - é fundamental para que se consiga uma sociedade para todas as idades (Nações Unidades, 2002)”.

“Quando a sabedoria e experiência de um idoso se juntam à criatividade e vitalidade do jovem, podemos criar um espaço que adote a solidariedade intergeracional e deem oportunidades para todas as gerações a fim de que desenvolvam seu máximo potencial social, físico e intelectual”. (Newman, 2011).

A meta mundial para o estudo do envelhecimento é preparar o ser humano para envelhecer de maneira que tenha condições de saúde (física, psicologia e cognitiva), condições econômicas e arranjos familiares, com maior poder de decisão sobre o processo de envelhecimento em si. Como aspecto positivo dessa preparação para o envelhecimento, acredita-se que haverá menos consequências negativas sobre o processo envelhecer, implantando Programas Intergeracionais, desmistificando a pessoa do idoso como um ser incapaz, e alertando aos jovens sobre um envelhecimento ativo e saudável.

Data de recebimento: 08/09/2012; Data de aceite: 20/09/2012.

Referências

França, Lucia Helena; Sores, Neusa Eiras. (1997). A Importância das relações intergeracionais na quebra de preconceitos sobre a velhice. In: VERAS, Renato Peixoto. (org). Terceira Idade: desafios para o terceiro milênio. Rio de Janeiro: Relume-Dumará: UnATI-UERJ. pp. 143-169.

Groisman, Daniel. (1999). Velhice e história: perspectivas teóricas. In: Envelhecimento e Saúde Mental: uma aproximação multidisciplinar. Cadernos IPUB, Rio de Janeiro, IPUB/UFRJ, n. 10, pp. 43-56.

Miranda, Danilo S. de. (2003). O encontro de gerações no SESC SÃO PAULO: a história de um processo de inclusão social. Congresso Internacional Co-Educação de Gerações SESC São Paulo, outubro.

Monteiro, M. F. G. e Alves, M. I. C. (1995). Aspectos demográficos da população idosa no Brasil. In: Terceira idade. Um envelhecimento digno para o cidadão do futuro. Rio de Janeiro: UnATI-UERJ / Relume-Dumará.

Newman, Sally. (1995). Histórico, modelos, resultados e melhores práticas dos programas intergeracionais. Revista Terceira Idade – SESC/SP, v.22, n.50, p.16.

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Netting, F.E., O’Connor, M.K., & Fauri, D. (2007) Planning transformative programs: Challenges for advocates in translating change processes into effectiveness measures. Administration in Social Work, 31(4), pp.59-81.

Novaes, M. H. Psicologia da terceira idade: conquistas possíveis e rupturas necessárias. Rio de Janeiro: Grypho, 1995.

Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento. Resultado da II Assembléia Mundial do Envelhecimento realizada de 8 a 12 de abril de 2002, em Madri, promovida pela ONU.

Perez Serrano, M. G. (1997). Cómo educar para la democracia: estrategias educativas. Madrid: Popular, D.L.

Veras, R. P. 1994. País Jovem com Cabelos Brancos: a Saúde do Idoso no Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumará/UERJ. P. 42.

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Gláucia Santos - Psicóloga Educacional e Analista de Projetos do SESC Minas Gerais. Especialista em Gestão de Programas Intergeracionais pela Universidade de Granada – Espanha. Pós-graduada em Psicologia da Educação pela Universidade Católica de Minas Gerais – PUC/MG. Graduada em letras pelo Centro Universitário de Belo Horizonte – UNI-BH. E-mail:

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