UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
NÚCLEO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO SOBRE GESTÃO DAS POLÍTICAS DE DST/AIDS, HEPATITESVIRAIS E TUBERCULOSE.
Luciana Pedrosa Arantes Felicio Dos Santos
PROJETO DE INTERVENÇÃO: MELHORIAS NA ADESÃO DO TRATAMENTO DE HIV/AIDS EM PACIENTES DEPENDENTES QUÍMICOS
Luciana Pedrosa Arantes F santos
PROJETO DE INTERVENÇÃO: MELHORIAS NA ADESÃO DO TRATAMENTO DE HIV/AIDS EM PACIENTES DEPENDENTES QUIMICOS
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Curso de
Especialização sobre Gestão das Políticas de DST/ AIDS, Hepatites Virais e Tuberculose da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de especialista.
Orientador:
Prof. DR. Ewerton William Gomes Brito
SUMÁRIO 1. APRESENTAÇÃO... 2. INTRODUÇÃO ... 3. OBJETIVOS ... 3.1 Objetivo Geral... 3.2 Objetivos Específicos... 4. METODOLOGIA ... 4.1 Cenário do Projeto... 4.2 Elementos do Plano de Intervenção... 4.3 Fragilidades e Oportunidades... 4.4 Processo de Avaliação... 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS... 6. REFERÊNCIAS...
1. APRESENTAÇÃO
Este trabalho aborda as dificuldades encontradas pelo serviço de atendimento especializado em HIV/Aids do Município de Três Pontas, MG, na adesão ao tratamento de pacientes dependentes químicos. O tratamento de HIV/Aids ofertado pelo Serviço de Atendimento Especializado (SAE) consiste na realização do diagnóstico inicial através da realização de testes rápidos, realização de exames, consultas médicas, e no uso diário de medicamentos.
Os Serviços de HIV/AIDS contabilizam um grande número de abandonos de tratamento por parte de pacientes que utilizam algum tipo de droga, licitas ou ilícitas, como álcool e drogas entorpecentes.
Para trabalharmos com essa parcela da população e prestarmos um atendimento mais efetivo, criamos uma modalidade de acolhimento no momento do retorno do paciente, onde esse é abordado com foco nas dificuldades encontradas e no abandono do paciente.
Os pacientes que não retornam ao SAE, seja mensalmente para retirada da medicação antirretroviral, sejam nas consultas agendadas, são contatados pela assistente social via telefone, que busca compreender a problemática de sua adesão, criando um vinculo com esse paciente.
Ao retornarem ao SAE, o assunto de abandono ao tratamento é tratado também no consultório médico e no momento da dispensação de medicamentos pela farmacêutica, buscando uma forma de facilitar a adesão aos medicamentos.
Compreender as dificuldades encontradas por esses pacientes nos ajudam a abordar essa questão de abandono de tratamento de uma maneira coletiva, abrangendo as dificuldades para outras parcelas da população portadora de HIV/Aids.
O HIV surgiu na África, Estados Unidos da América e Haiti entre os anos de 1977 e 1978, sendo identificado em 1980 como infecção e, somente em 1982 foi classificado como uma síndrome.
No Brasil, o primeiro caso apareceu na cidade de São Paulo, em 1980, sendo classificado como AIDS em 1982.
Conhecida a forma de transmissão por contato sexual, uso de drogas ou exposição a sangue e derivados, passou-se a denominar a nova síndrome como doença dos 5H, representada por homossexuais, hemofílicos, haitianos, heroinômanos (usuários de heroína injetável) e hookers (profissionais do sexo em inglês). Ainda hoje esse grupo é estigmatizado, persistindo a relação da síndrome a esses grupos populacionais.
Hoje em dia, aumentou muito a sobrevida e a qualidade de vida dos portadores, graças às novas drogas que estão disponíveis pelo sistema único de saúde (SUS), cada vez com menos tomadas diárias e menos efeitos adversos. Entretanto, os estigmas sociais ainda existem relacionados principalmente a promiscuidade, ao uso de drogas e homossexualismo, tornando a vida do portador bastante difícil. Como forma de enfrentamento, o sujeito passa a negar a doença, muitas vezes recorrem ao álcool ou drogas entorpecentes e, consequentemente, não aderem ao tratamento medicamentoso. Dai a importância dos profissionais de saúde envolvidos, que devem fazer um bom acolhimento dessa pessoa, tentando identificar suas dificuldades emocionais, financeiras e físicas a fim de que o paciente retorne ao SAE a cada consulta médica e a cada dispensação mensal da medicação.
A importância da adesão ao tratamento do HIV/Aids no Brasil vem ganhando relevância cada vez maior nestes mais de 30 anos de epidemia.
Entre os progressos obtidos, destaca-se a evolução ocorrida no tratamento antirretroviral, que desde 1996 são fornecidos gratuitamente pelo sistema único de saúde do Brasil. Este tratamento que se iniciou com o uso de monoterapia com
Zidovudina (AZT), de 1994 a 1996, consolidou-se com a terapia dupla como padrão terapêutico, em 1996, com a terapia tríplice, utilizada até hoje, de introdução dos inibidores da protease e, a partir de 2017, a introdução de nova terapia tríplice com a incorporação de um inibidor de integrasse, de alta potência, alta barreira genética e poucos eventos adversos.
Os regimes terapêuticos utilizados hoje, tríplice viral, em que são utilizados pelo menos dois medicamentos de classes diferentes, têm demonstrado eficiência na capacidade de diminuir ou mesmo de tornar indetectável a carga viral do HIV, o que reduz a morbidade e mortalidade relacionada à aids, melhora a qualidade de vida dos portadores do vírus, e diminui as chances de transmissão do vírus para outras pessoas.
Para o paciente, a adesão reduz o risco de falha terapêutica, ou seja, da resistência do vírus pela medicação utilizada por mutações genéticas e aumento virótico sanguíneo, reduz o risco de progressão para a aids, (que é a fase sintomática da doença), diminui a replicação do vírus, conserva o sistema imune, aumenta a sobrevida e a qualidade de vida dos portadores.
Para a Saúde Pública, a adesão ao tratamento é potencialmente capaz de reduzir o risco da transmissão do HIV, diminuindo a transmissão de cepas virais resistentes, hoje um problema em expansão, fortemente relacionado à não-adesão ao tratamento.
No último senso estatístico do Sistema Nacional de Notificação Nacional, o Brasil em 2015 tinha uma população total de 204.482.459 habitantes, destes 826.825 possuíam diagnóstico da AIDS e 455 mil estavam em tratamento Antirretroviral (FONTE: MS/SE/DATASUS EM DEMOGRÁFICAS E SOCIOECONÔMICAS, ACESSADO EM 21/10/2015.).
No Município de Três Pontas/MG, onde esta sendo realizado o projeto de intervenção, a última estimativa, segundo o IBGE de 2016, era de uma população total de 26.879 habitantes. Destes, atualmente são 195 usuários do serviço de atendimento especializado, todos com tratamento antirretroviral proposto, já que a
partir de 2015, segundo protocolo clínico do Ministério da Saúde, todos os portadores de HIV diagnosticados também iniciam o tratamento antirretroviral, sendo que 7 estão em abandono de tratamento por mais de 365 dias e 10 pacientes dependentes químicos estão sendo acompanhados na adesão medicamentosa (dados registrados pelo sistema de controle logístico de medicamentos antirretrovirais- SICLOM).
O presente trabalho, primeiramente, objetivou explorar o tema da adesão à terapia antirretroviral pela revisão de artigos publicados, buscando citar resultados de trabalhos que discutiram questões essenciais ligadas a baixa adesão de portadores de HIV/AIDS e o uso continuo de álcool e drogas entorpecentes.
3. OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral
Promover o aumento da adesão medicamentosa de antirretrovirais em portadores de HIV/Aids usuários de drogas entorpecentes e etilistas.
3.2 Objetivos Específicos
Criar métodos e ações que melhorem a adesão dos pacientes dependentes químicos.
Acompanhar os pacientes nas tomadas semanais através de porta comprimidos, aconselha-los a respeito da mistura medicamentos e drogas, encaminha-los para tratamentos de dependência química quando solicitados ou tratamentos psicológicos / psiquiátricos.
4. METODOLOGIA
4.1 Cenário do Projeto
O cenário envolve o serviço de atendimento especializado do Município de Três Pontas, que realiza ações de assistência, prevenção e tratamento das pessoas vivendo com HIV ou aids. Ele é administrado pela prefeitura do Município, pertencendo a macrorregional da cidade de Varginha/ MG.
O objetivo do serviço é prestar um atendimento integral e de qualidade aos usuários, por meio de uma equipe de profissionais de saúde composta por 2 (dois). Médicos infectologistas, 1 (uma) Enfermeira, 1 (uma). Farmacêutica, 1 (uma) Assistente Social, 2 (duas) Técnicas em Enfermagem e 1 (uma) Serviços gerais.
4.2 Elementos do Plano de Intervenção
O Presente Plano de Intervenção é uma proposta realizada pela Farmacêutica da Unidade Dispensadora de Medicamentos (UDM) do SAE, que juntamente com o restante da equipe de saúde visa diminuir os casos de abandono de tratamento dos portadores de HIV / aids dependentes químicos de álcool ou substâncias entorpecentes.
Primeiramente, foi realizada uma reunião entre a equipe de saúde do SAE para planejamento da periodicidade, local e pautas das reuniões com definição de seis meses inicialmente para estruturação e execução das primeiras reuniões de busca ativa dos usuários no perfil do projeto de intervenção (dependentes químicos) através de coletas de informações nos prontuários médicos de consultas anteriores, em consultas médicas atuais e no sistema de informação de dispensação utilizado pela UDM.
No segundo momento, após os seis primeiros meses, a escolha dos usuários que participarão do projeto, contato telefônico pela Assistente social do programa solicitando retorno destes pacientes as consultas médicas e acompanhamento da
adesão medicamentosa destes pela Farmacêutica por um período igual, de seis meses subsequentes.
Após esse período, avaliação individual dos pacientes, acompanhando-os nas tomadas semanais através de porta comprimidos quando necessário, aconselhando-os a respeito do risco da mistura de medicamentaconselhando-os e drogas e, encaminhando-aconselhando-os, quando for o caso, para avaliação e tratamento com psiquiatras, psicólogos, grupos de apoio ou internação de dependentes químicos e etc., e acompanhamento da melhoria da adesão por 1(um) ano.
O local escolhido é a sala de reuniões do SAE, sendo que as reuniões obedecerão a pautas definidas em ordem didática, seguindo o cronograma acima apresentado.
4.3 Fragilidades e Oportunidades
A implantação do presente projeto de intervenção é viável devido a necessidade de baixos recursos financeiros, além de contar com a disponibilidade de recursos humanos e materiais já existentes, e não necessitar de nenhuma alteração nos horários de serviços dos profissionais envolvidos.
A maior dificuldade esta na localização e contato dos pacientes moradores de rua, por não terem locais fixos de permanência.
Há necessidade de dedicação da gestão e dos demais profissionais envolvidos quanto a importância e seriedade do projeto.
4.4 Processo de Avaliação
A avaliação ocorrerá através de acompanhamento periódico do retorno as consultas e dispensação mensal dos medicamentos prescritos aos pacientes em acompanhamento.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
À adesão ao tratamento antirretroviral significa tomar os remédios prescritos pelo médico nos horários corretos, manter uma boa alimentação, praticar exercícios físicos, comparecer as consultas médicas periodicamente e realizar os exames necessários.
Quando o paciente não segue todas as recomendações médicas, o HIV, vírus causador da doença, pode ficar resistente aos medicamentos antirretrovirais, através de mutações genéticas, diminuindo as alternativas de tratamento.
Além disso, os medicamentos antirretrovirais agem diminuindo a replicação viral, sendo capaz de, quando em uso correto e contínuo, praticamente zerar a carga viral do organismo, o que diminui muito a chance de transmissão do vírus para outras pessoas.
Percebe-se que a dependência química de drogas ilícitas e álcool é um limitador da boa adesão do paciente, seja porque estas muitas vezes interagem com a medicação, diminuindo assim seu efeito, seja pela dificuldade de toma-la sob efeito destas drogas, ou ainda por, na maioria dos casos, os dependentes não terem moradia fixa, não estando em posse da medicação para toma-la diariamente.
Esse projeto de intervenção, que engloba desde o cuidado de liberar a medicação em porta comprimidos semanalmente, facilitando o transporte da medicação e aumentando o controle a respeito da tomada diária desta, seja proporcionando atendimentos médicos e internações para tratamento da dependência, tem obtido resultados positivos nos pacientes que estão sendo acompanhados, melhorando sua adesão medicamentosa, aceitação da doença, convívio social e qualidade de vida.
6 REFERÊNCIAS
Bonolo, PF; Gomes, RRGM; Guimarães, MDC. Adesão à terapia antirretroviral (HIV/aids): fatores associados e medidas da adesão. Belo Horizonte. 2007.
Lima, HMM. Adesão ao tratamento do HIV/AIDS por pacientes com AIDS, tuberculose, e usuários de drogas de São Paulo. São Paulo. 2006.
Santos, FB. Dificuldades de adesão ao tratamento de antirretrovirais: perfil dos usuários e possibilidades de busca dos casos de abandono. Brasília, DF. 2007.
Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para manejo da infecção pelo hiv em adultos. 2013;
Atualizado em 2015. Disponível em:
http://www.aids.gov.br/sites/default/files/anexos/publicacao/2013/55308/protocolofinal _31_7_2015_pdf_31327.pdf. Acesso em: 10 abr. 2017.
Portal da saúde. Dados epidemiológicos SINAN. Disponível em http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?
area=0203&id=6930&VObj=http://www2.aids.gov.br/cgi/deftohtm.exe?tabnet/. Acesso em: 07 abr. 2017.