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“Projetada para fora e com raízes para dentro”: a identidade norte-rio-grandense representada no filme For All - O Trampolim para a Vitória

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA CURSO DE HISTÓRIA

FERNANDA C. DA SILVA COSTA

“PROJETADA PARA FORA E COM RAÍZES PARA DENTRO”: A IDENTIDADE NORTE-RIO-GRANDENSE REPRESENTADA NO FILME FOR ALL - O

TRAMPOLIM PARA A VITÓRIA

NATAL/RN 2018

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FERNANDA C. DA SILVA COSTA

“PROJETADA PARA FORA E COM RAÍZES PARA DENTRO”: A IDENTIDADE NORTE-RIO-GRANDENSE REPRESENTADA NO FILME FOR ALL - O

TRAMPOLIM PARA A VITÓRIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Graduação em História – Bacharelado, do Departamento de História, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Bacharel em História.

Orientadora: Profª. Drª. Maria da Conceição

Guilherme Coelho

Co-orientadora: Profª. Drª. Luciana de Albuquerque Moreira

NATAL/RN 2018

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. Costa, Fernanda C. da Silva.

Projetada para fora e com raízes para dentro": a identidade norte-rio-grandense representada no filme For All - O trampolim para a vitória / Fernanda C. da Silva Costa. - Natal, 2018.

43f.: il.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes.

Orientadoras: Maria da Conceição Guilherme Coelho; Luciana de Albuquerque Moreira.

1. Identidade norte-rio-grandense. 2. Cidade de Natal - Segunda Guerra Mundial. 3. Filme For All O trampolim da Vitória. I. Coelho, Maria da Conceição Guilherme; Moreira, Luciana de Albuquerque. II. Título.

RN/UF/CCHLA C837p

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FERNANDA C. DA SILVA COSTA

“PROJETADA PARA FORA E COM RAÍZES PARA DENTRO”: A IDENTIDADE NORTE-RIO-GRANDENSE REPRESENTADA NO FILME FOR ALL - O

TRAMPOLIM PARA A VITÓRIA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Graduação em História – Bacharelado, do Departamento de História, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Bacharel em História.

Apresentado e aprovado em: 10/12/2018

BANCA EXAMINADORA:

Profª. Drª. Maria da Conceição Guilherme Coelho (Orientadora – DEHIS/UFRN)

___________________________________________________________________ Prof. Dr. Raimundo Nonato Araujo da Rocha

(Membro interno – DEHIS/UFRN)

Prof. Dr.Thiago do Nascimento Torres de Paula (Membro externo – PPGED/UFRN)

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Dedico esse trabalho (in memorian) a duas importantes professoras da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que foram imprescindíveis na minha formação: Rhaveníssima Medeiros e Leilane Assunção.

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AGRADECIMENTOS

O ano de 2018 foi, mais que nunca, um ano de lutas e resistência, a busca por salvar nosso país da ignorância e do medo, essa luta foi travada de várias partes, por diversos tipos de pessoas, que acreditam em um futuro que será diferente, através da educação. A todas essas pessoas que lutam todos os dias, a todos os pretos, pobres, favelados e mulheres, eu agradeço as resistências diárias, sobreviver é realmente uma arte antiga do nosso povo.

Nas trincheiras dessa guerra, estiveram comigo muitas pessoas, dentre tantos lugares do Brasil que passei, sempre tive mãos amigas, abraços calorosos e risadas sinceras. A todos os meus amigos/amores/familiares, sou eternamente grata por tudo que vocês fizeram/fazem por mim.

Nominalmente, deixo meus mais sinceros agradecimentos:

A Conceição Guilherme, por ter orientado esse trabalho, professora a qual tenho enorme admiração. Agradeço também a co orientação de Luciana Moreira, base da minha formação como pesquisadora, que sempre ofereceu o apoio necessário para o enfrentamento das dificuldades inerentes a vida árdua de quem escolhe a trajetória acadêmica.

Ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que criou possibilidades para mudar a minha vida, da minha família e de milhares de outros brasileiros, juntamente com nossa primeira presidenta Dilma Rousseff, uma mulher símbolo de resistência.

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“[...] é, mas em compensação, Eu quero ver um boogie-woogie De pandeiro e violão.

Eu quero ver o Tim Sam De frigideira

Numa batucada brasileira.”

Chiclete com Banana – interpretada por Jackson do Pandeiro

“Os historiadores são escafandristas das memórias, que buscando, nas superfícies plácidas das memórias, as correntes que as agitam, os detritos depositados nas profundezas e nos desvãos do tempo. Sua tarefa é a de quebrar os monumentos e, com seus cacos, compor outras figuras

remendadas, alerquinais,

frankenstainianas do passado. Abrir brechas nos monumentos para que o presente possa respirar e o futuro possa aí se insinuar. Tornar porosa as realidades monumentais, para que possam vazar outros sentidos para os tempos. O historiador é aquele profissional que come e mora trabalhando no sentido de que, quando das comemorações, vozes divergentes e dissidentes possam ser ouvidas.”

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RESUMO

O Rio Grande do Norte em sua história, tem participação direta durante a Segunda Guerra Mundial, tendo na sua capital, a cidade de Natal, entre os anos de 1942 a 1946, uma base com formação brasileira e norte-americana, que fez com que, o contingente de guerra que cruzava entre as Américas, África e Europa, passassem pela cidade. Muitas mudanças foram percebidas nessa interação com o outro, principalmente, devido a grande quantidade de norte-americanos que passam a conviver com a população, essas mudanças são percebidas seja na linguagem, na forma de se vestir ou de um tipo diferente de alimentação, com esse momento importante, no exercício de alteridade da identidade norte-rio-grandense. Usando as imagens fílmicas como fonte histórica, temos por problema de pesquisa: como o filme For All - O Trampolim da Vitória representa essa interação entre os locais e os estrangeiros? Tendo o presente trabalho, o objetivo de buscar compreender a representação dos norte-rio-grandenses nessa relação com o outro. A metodologia parte da revisão bibliográfica de conteúdos e conceitos, assim como, a análise fílmica de Jullier e Marie (2009) que serve de ferramenta para estudo dos 4 (quatro) quadros escolhidos dentro das cenas que compõem o filme. Podemos considerar por fim, que os aspectos dos acontecimentos da guerra, que se encontram presentes no filme, quanto ao norte-rio-grandense, são em muito, carregados pelos estereótipos e por uma visão que vem glorificar o seu papel durante esse período, mesmo que seja no sentido da ajuda prestada no acolhimento do cotidiano, além de ressaltar como absolvem tudo aquilo que vem da cultura do outro.

Palavras-chave: Identidade norte-rio-grandense – Representação – identidade potiguar. Filme For All – O Trampolim da Vitória. Cidade de Natal – Segunda Guerra Mundial.

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ABSTRACT

The Rio Grande do Norte in its history, has a direct participation during World War II, having in its capital, the city of Natal, between the years of 1942 and 1946, a base with Brazilian and North American formation, that made, the war contingent that crossed between the Americas, Africa and Europe, passed by the city. Many changes have been perceived in this interaction with the other, mainly due to the large number of Americans who come to live with the population, these changes are perceived either in language, in the way of dressing or of a different kind of food, with this important moment, in the exercise of alterity of the North-Rio Grande identity. Using filmic images as a historical source, we have a research problem: how does the film For All represent the interaction between locals and foreigners? Having the present work, the objective of seeking to understand the representation of the North-Rio Grande in this relationship with the other. The methodology is based on the bibliographical review of contents and concepts, as well as the film analysis of Jullier and Marie (2009), which serves as a tool to study the four (4) frames chosen within the scenes that make up the film. Finally, we can consider that the aspects of the events of the war that are present in the film about the Rio Grande do Sul are, to a large extent, loaded by stereotypes and a vision that glorifies their role during this period, even that is in the sense of the help given in the reception of the daily life, besides emphasizing how they absolve everything that comes from the culture of the other.

Keywords: Identity norte-rio-grandense - Representation - Identity potiguar. Film For All - The Trampoline of Victory. City of Natal - World War II.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...11

2 IDENTIDADE NORTE-RIO-GRANDENSE E A GUERRA DO OUTRO: VISÃO HISTORICO-IDENTITÁRIAS...21

2.1 ASPECTOS DA IDENTIDADE NO RIO GRANDE DO NORTE NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX...22

2.2 RESSONÂNCIAS E ASSIMILAÇÕES NA IDENTIDADE NORTE-RIO-GRANDENSE NO PERÍODO DA GUERRA E A CIDADE DE NATAL (1942-1946)...25

3 ANÁLISE FÍLMICA DE FOR ALL – O TRAMPOLIM DA VITÓRIA...27

3.1 FICHA TÉCNICA...28 3.2 RESUMO...28 3.3 EM TORNO DO FILME...28 3.4 SITUAÇÃO DA SEQUÊNCIA...29 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS...37 REFERÊNCIAS ...49

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1 INTRODUÇÃO

A segunda guerra mundial como momento histórico, vem sendo explorando em diferentes olhares, como acontecimento mundial, que trouxe mudanças marcantes, onde suas memórias são vistas e vividas constantemente por meio das representações, principalmente no cinema e na televisão.

Com isso, a Cidade do Natal no Rio Grande do Norte em sua história, carrega de forma direta, a convivência com esse acontecimento mundial, a partir dos aspectos culturais, do contato com o outro, fazendo com que, muito ficasse impregnado na mnemosine da identidade norte-rio-grandense1.

A construção memorialística e histórica, em torno de como o Estado do Rio Grande do Norte e a sua capital, principal afetada, conviveu com isso, permeia desde a oralidade, aos signos e marcas linguísticas, inerentes as vivências até os dias atuais.

Poucas são as representações fílmicas que dão conta de produzir narrativas sobre esse período, seja no Brasil e sua relação com a guerra, seja sobre Natal e seu trato cotidiano, ao receber aqueles que vieram de fora. Dentre essas, uma produção fílmica, que tem um maior destaque é o For All – O Trampolim Para a Vitória (1997), que entre os gêneros de comédia e romance, traz uma representação da convivência com a guerra na cidade de Natal.

A partir da representação do cotidiano2, das vivências e da memória, esse filme, coloca diversos momentos marcantes do começo ao fim do Brasil e de Natal na guerra. Claramente a representação principal, se trata dessa conivência que ocorreu, principalmente dos norte-rio-grandenses, fossem esses da capital ou do interior.

Usando as imagens fílmicas como fonte histórica, temos por problema de pesquisa: como o filme For All - O Trampolim da Vitória representa essa

1Escolhemos fazer uso desse termo ao invés do gentílico potiguar por entendermos que dentro das disputas identitárias do que é ser do Rio Grande do Norte, temos diferentes percepções, que não se enquadram nesse entendimento historicamente construído para o termo potiguar, sendo evidenciada sua historicidade ao longo da análise desse trabalho.

2 O cotidiano é algo que se vivência e pavimenta a partir da ordem pública e privada, vivida por

todos sujeitos, sendo heterogêneo e se modificando a partir das funções estruturadas no econômico-social e na organicidade, que é imprescindível para cotidianidade (HELLER, 2009).

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12 interação entre os locais e os estrangeiros? Tendo o presente trabalho, o objetivo de buscar compreender a representação dos norte-rio-grandenses nessa relação com o outro.

A hipótese a partir disto, está atrelada ao fato da narrativa fílmica, ser responsável, por reproduzir uma identidade de estereótipos, com signos e significados comumente reproduzidos sobre a guerra no Estado e na Cidade, fazendo com que, esse imaginário da temática, seja sempre reproduzido e reafirmado.

A partir da temática de uso fílmico como modalidade de fonte, para análise do objetivo geral, assim como diz Ferro (1974, p. 6) “O filme é abordado não como uma obra de arte, porém como um produto, uma imagem-objeto, cujas significações não são somente cinematográficas. Ela vale por aquilo que testemunha.”, nisso, busca-se trabalhar com a perspectiva da História Cultural, com as intencionalidades do resgate da historicidade através das práticas culturais.

Assim, a transformação do cinema em um objeto historiográfico, que pode associar o mundo social, transformando-o em documento, onde a História Cultural, se encontra como uma “[...] especial afeição pelo informal e, sobretudo, pelo popular, ou melhor, pela popularização, ou seja, pelo encontro e disseminação dos saberes.” (AVELINO; FLÓRIO, 2013, p. 4).

Chartier (2002) dialoga no sentido de afirmar o social a partir de práticas culturais, que diante de classes e grupos, são responsáveis por identidades, que existem a partir do espaço de representação. Nessa dialogia, o cinema apesar de não abarcar a totalidade das relações sociais, traz sim, parte de representações, necessárias a análise.

Partindo disso, a técnica de analise, utilizada parte da produção de Jullier e Marie (2009), tendo com base a deculpagem, onde se expõe a ficha técnica, resumo, análise externa, questões referentes a sequência, analisando cenas, freme a freme, dialogando com a parte de um todo, com cenas escolhidas para parte representativa.

Aqui tratamos da questão de identidade atrelada a formação de uma comunidade, que tem língua, etnia, território e a busca por uma cultura com

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história comum, tudo isso, constitui o que Hobsbawm (1990) caracteriza como traços que acabam por formar o entendimento de nação, que não é objetivo, já que esses aspectos são por si só, ambíguos e mutáveis.

O nacionalismo vem como sentimento de pertencimento, antes da formação de nação, já há uma importância das condições políticas, econômicas e administrativas, mesmo que a consciência nacional se desenvolva de maneira desigual entre os grupos e regiões “[...] o nacionalismo vem antes das nações. As nações não formam os Estados e os nacionalismo, mas sim o posto;” (HOBSBAWM, 1990).

Para Bresser-Pereira (2017) o estado-nação é a sociedade política soberana e o Estado a instituição maior de uma sociedade no sentido mais amplo. Afirmando que o surgimento do Estado Moderno e da formação do estado-nação é uma história de lutas políticas, onde o Estado tem a nação como a defesa de seus interesses, já que aquilo que apresenta como leis e políticas está longe de ser o conjunto dos cidadãos iguais perante a lei.

Existem também, dentro da operação do conceito de Estado e Nação a criação da cultura padronizada3, fruto de uma comunidade imaginada (ANDERSON, 2008), onde a noção de nacionalidade, inerente a formação da identidade nacional, tem uma ligação advinda da cultura nacional como “[...] um discurso – um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto nossas ações quanto a concepção que temos de nós mesmo [...]” (HALL, 2005, p. 50). Como diz Anderson (2008), os indivíduos se percebem, imaginam-se a partir de membros de um grupo, produzindo diversas representações quanto à sua origem, história e natureza, procurando fazer com que os sujeitos compartilhem as mesmas maneiras de existir no mundo, a partir do que Bourdieu (1996) denomina de Habitus, ou seja, são as disposições incorporadas, que fazem com que os sujeitos vivam as relações sociais, tendo internalizado nisso, seu corpo e sua mente.

3 Para Anderson (2008) o que ele coloca como “comunidades imaginadas” são pensadas dentro

de práticas culturais do estado moderno, que buscou fazer com que o indivíduo tenha suas obrigações enquanto membro de um grupo, sendo esse o caminho para definir identidade sólidas e com fronteiras, tudo isso, parte de uma cultura padronizada, que inventa as tradições e como essas devem ser seguidas.

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14 As identidades são ainda, questionadas no sentido de que “[...] velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando, o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado.” (HALL, 2005, p. 7).

Assim que se gera a formação de uma cultura nacional, ligada diretamente a as identidades, com essa necessidade de estabelecer uma padronização, compartilhando signos e memórias, que se vê possível de chegar a um modelo de virtudes necessárias a nação. Pensar isso, nesse estudo, significa atrelar a concepção de formação do nacionalismo brasileiro, frente as identidades desse país.

A formação das virtudes nacionais do Brasil, foram buscadas e planejadas a partir da separação de Portugal - ainda no século XIX -, criou-se um projeto de uma história nacional, como dito por Guimarães (1988), onde a história se torna o caminho necessário para consolidação do Estado Nacional “Viabiliza um processo de pensar a história brasileira de forma sistematizada. A criação, em 1838, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) vem apontar em direção à materialização deste empreendimento.” (GUIMARÃES, 1988, p. 6).

O pensar essa sistematização, empreendeu a história nacional uma constituição que se pensa a partir de um grande território e com base no branco europeu, no negro africano4 e no indígena, sendo o fruto dessa mestiçagem o grande mito do surgimento da brasilidade, “O que distingue o Brasil é a assimilação, como a consequente modificação, do que é significativo e importante das outras culturas.” (FIORIN, 2009, p. 120).

O movimento modernista da década de 1920 permitiu que o nacionalismo gerasse novas imagens do Brasil, isso se deu pela substituição da noção de raça por cultura e a valorização da miscigenação do povo brasileiro. O Brasil é novamente pensado pela elite intelectual, tudo que se julgava impedimento para a modernidade passa a ser exorcizado. [...]. O sonho de um Brasil moderno ganha novo conteúdo, embora com os “mesmos” construtores: a elite intelectual brasileira. (SILVA; CARVALHO, 2016, p. 249).

4 Esse mesmo projeto nacional que Guimarães (1988) historiciza, também compreende os

momentos que o negro é excluído do processo de formação dessa nação brasileira e de sua cultura nacional, não existe um consenso geral desses estudos do século XIX e XX, fazendo com que o embranquecimento da população com o ideal de eugenia social buscasse ser implementado de maneira mais forte, durante os anos de 1930/40.

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Quando exploramos as décadas de 1930 e 1940, que estão mais especificamente em maior evidência na obra que serve de fonte para esse trabalho, temos em voga essa questão do nacionalismo brasileiro, que tem uma construção identitária forte junto ao Estado Novo. Esse usou estratégias como rádio, cinema, esporte e música, para singularizar o Brasil no sentido de uma cultura popular, da positividade desse popular “[...] a busca das raízes da brasilidade ganha outra dimensão. O Estado mostra-se mais preocupado em converter a cultura em instrumento de doutrinação do que propriamente de pesquisa e reflexão.” (VELLOSO, 1982, p. 90), tudo isso com a preocupação da construção e perpetuação desse nacionalismo.

Dessa historicidade torna possível um entendimento daquilo que é dito por Ortiz (2006) onde a noção da cultura brasileira, tem um postular nas relações de poder, com uma pluralidade de discursos elaborados por diferentes grupos sociais, em momentos históricos distintos, em múltiplas manifestações culturais, que se tornaram responsáveis por fixar o entendimento dessa nacionalidade.

A formulação para o entendimento e para o panorama do acontecimento abordado aqui, se dá em meio a essas definições e desses históricos, sendo necessário o entrelaçamento com as formulações conceituais de identidade.

Segundo Candau (2011) a noção de identidade é ambígua, por ser subsidiada nos termos de representação, conceito operado no campo das Humanas e Sociais que se referem a um estado de relação.

Identidade – sejamos claros sobre isso – é um “conceito altamente contestado”. Sempre que se ouvir essa palavra, pode-se estar certo de que está havendo uma batalha. O campo de batalha é o lar natural da identidade. Ela só vem a luz no tumulto da batalha, e dorme e silencia no momento em que desaparecem os ruídos da refrega. [...] A identidade é uma luta simultânea contra a dissolução e fragmentação; uma intenção de devorar e ao mesmo tempo uma recusa resoluta a ser devorado. (BAUMAN, 2005, p. 83-84).

Ainda para Bauman (2005) o nascente Estado moderno fez o necessário para tornar o dever da identidade obrigatório a todas as pessoas que se encontravam em seu interior, no interior da soberania territorial, precisando de coerção e convencimento para se consolidar e se concretizar, pois dentro desse, o entendimento das identidades individuais, são permeadas por princípios de

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16 definir, classificar, segregar, separar, selecionar, agregado de tradições, dialetos, leis e modos de vida local, tudo que forma o entendimento das identidades coletivas.

Esse entendimento passa pela identidade ser historicamente subsidiada no papel produtivo que os então indivíduos desempenhavam na divisão social do trabalho, isso se tornou enfraquecido e sem credibilidade, dado ao papel do Estado-nação, de não ter solidez e durabilidade, dando espaço para a alternativa de flutuação e aparente naturalidade (BAUMAN, 2005).

Com isso, a identidade cultural segundo Hall (2005) vem de encontro a uma identidade cultural nacional, produzida dentro de um sistema de representação, onde essas identidades são formadas no interior do sentido do conceito de representação, que para Chartier (2002, p. 20) é a:

[...] representação de uma presença, sendo essa identidade bem clara da sua mostra, mas não do seu sentido propriamente dito, já que pensar o espaço de representação, também é determinar e travar certos embates “As lutas de representações têm tanta importância como as lutas econômicas para compreender os mecanismos pelos quais um grupo impõe, ou tenta impor, a sua concepção do mundo social, os valores que são os seus, e seu domínio.” (CHARTIER, 2002, p. 17).

Temos aqui, um conceito ligado a outro, identidade e representação, que em suas bases, dependem de interpretação de grupos, interesses, culturas e memórias, pois “as representações do mundo social assim construídas, embora aspirem à universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam.” (CHARTIER, 2002, p. 17). Assim, temos que:

O anseio por identidade vem do desejo de segurança, ele próprio um sentimento ambíguo. Embora possa parecer estimulante no curto prazo, cheio de promessas e premonições vagas de uma experiência ainda não vivenciada, flutuar sem apoio num espaço pouco definido, num lugar teimosamente, perturbadoramente, “nem-um-nem-outro”, torna-se a longo prazo uma condição enervante e produtora de ansiedade. Por outro lado, uma posição fixa dentro de uma infinidade de possibilidades também não é uma perspectiva atraente. (BAUMAN, 2005, p. 35). Falar de representação e identidade permeando na memória, significa o espaço entre a expressão de uma metamemória, ou seja, aquilo que membros de um grupo produzem a respeito de uma suposta memória, comum a todos é

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incorporada na formação da identitária, que passa assim, a ser fonte de uma representação (CANDAU, 2011).

Nisso se explicita a necessidade da memória para construção da identidade, seja essa coletiva, seja essa individual, já que para sua construção precisa haver predisposições que vão levar os indivíduos a incorporar aspectos particulares do passado, dependendo da representação que fazem da sua própria identidade.

Podemos portanto dizer que a memória é um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, na medida em que ela é também um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstrução de si. (POLLAK, 1992, p. 204).

Isso se junta ao que Bauman (2005) denomina de autodeterminação para a identidade, postulando a sua existência a partir das comunidades, que podem ser aquelas de vida/origem ou de destino, exatamente no jogo de escolha dentro dos agrupamentos é que se tem de forma mais nítida a formação identitária. Essas ainda, podem ser includentes e excludentes, partindo do ponto de vista de que:

Tornamo-nos conscientes de que o “pertencimento” e a “identidade” não têm solidez de uma rocha, não são garantidos para toda a vida, são bastante negociáveis e revogáveis, e de que as decisões que o próprio indivíduo toma, os caminhos que percorre, a maneira como age – e a determinação de se manter firma a tudo isso, são fatores cruciais tanto para o “pertencimento” quanto para a “identidade”. Em outras palavras, a idéia de “ter uma identidade” não vai ocorrer às pessoas enquanto o “pertencimento”, continuar sendo o seu destino, uma condição sem alternativa. (BAUMAN, 2005, p. 17-18).

Sob a inversão e emergência das identidades para Hall (2005), temos um conceito que para ser pensado em diversos campos do conhecimento, no movimento político e cultural “[...] “identidade” só nos é revelada como algo a ser inventado, e não descoberto; como alvo de um esforço “um objetivo”; com algo que precisa construir a partir do zero ou escolher entre alternativas e então lutar por ela e protegê-las lutando ainda mais [...]” (BAUMAN, 2005, p. 21-22).

A representação que é decisiva na formação da identidade ou no entendimento da sua constituição é “A representação pública, memorizada, é, portanto, transformada em representação mental pelos destinatários [...]”

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18 (CANDAU, 2011, p. 37). O que torna o processo internalizado daquilo que é produzido a partir da metamemória, que é a produção/representação a partir das memórias, sendo na representação cultural de Candau (2011) a compreensão das representações mentais e públicas.

Há negociações permanentes nesse processo de formação de identidades, já que “Há uma ampla probabilidade de desentendimento, e o resultado da negociação permanece eternamente pendente.” (BAUMAN, 2005, p. 19), sendo essa um objeto que pode ser revelado, já que é um fenômeno que se produz em referência aos outros, em referência a critérios de aceitabilidade, admissibilidade e credibilidade, como dito por Pollak (1992), sendo fenômeno negociável, pois não são essências de sujeitos ou grupos.

Com Hall (2012, p. 108) diz “As identidades estão sujeitas a um historicização radial, estando constantemente em processo de mudança e transformação.”, assim, com a utilização dos recursos da história, linguagem e cultura para produção daquilo que nos tornamos, tendo questões como somos representados, como nós representamos, como representações afetam a forma como podemos representar a nós próprios.

São construídas ainda, dentro de discursos que precisamos compreendê-los, como produzidos em locais históricos e institucionais, no interior de formações e práticas discursivas específicas, tendo estratégias e iniciativas que são parte do jogo social, especificando espaço de poder e marcação das diferenças (HALL, 2012), assim, se justifica essa pesquisa, no sentido dessa busca pelo entendimento da identidade norte-rio-grandense, que nesse momento tem a marca das mudanças sociais e culturais, tão fortes a nossa história local.

O trabalho se desenvolve também, em respeito a uma trajetória acadêmica que vem sendo pautada em estudos sobre Natal e o Brasil no período do Estado Novo e da Segunda Guerra Mundial, como a atual pesquisa de mestrado ‘Uma cidade entre fluxos: a Segunda Guerra em Natal, Informação Cotidiana, Memória e as notícias no jornal “A República” (1942-1946) desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação (PPGCI) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), sendo esse continuação de pesquisa do mesmo tema já

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desenvolvido no trabalho de conclusão de curso do bacharelado em Biblioteconomia5 da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

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2 IDENTIDADE NORTE-RIO-GRANDENSE E A GUERRA DO OUTRO: VISÃO HISTÓRICO-IDENTITÁRIOS

A entrada do Brasil, na Segunda Guerra, se deu a partir de vários processos, dentre esses, mudanças nas políticas externas de economia, que tinham que garantir a subsistência dos países diretamente envolvidos, com o fornecimento de produtos, que torna países periféricos como o Brasil envolvidos no conflito (FERRAZ, 2005).

[...] no panorama de guerra que o Estado e principalmente Natal testemunharam por ocasião da IIa. Grande Guerra, imposto em decorrência de fatores geopolíticos no que tange ao aspecto estratégico da área, vital no plano de defesa do Continente Americano e de manutenção das frentes de combate de todo o mundo, naquele tempo [...]. (MEDEIROS, 1973, p. 204).

Com isso, o governo norte-americano estabelece comprometimento com o país, visando o Nordeste brasileiro, como localização estratégica para o desenvolvimento que os conflitos na Europa estavam tendo, “O Departamento de Estado norte-americano propôs ao conjunto dos países do centro-sul um programa militar a defesa do continente. [...]” (PEDREIRA, 2009, p. 219), na medida que barganha a instalação de bases americanas no Nordeste brasileiro.

A ofensiva política dos EUA visava a integração de todos 05 países latino americanos em sua estratégia global de combate às potências do Eixo. No caso brasileiro, isso envolvia a elimina-ção da influência do Eixo e a vigilância sobre os cidadãos nacionais daqueles países, a fim de garantir aos EUA o suprimento de materiais estratégicos para sua indústria e a concessão de bases militares. (MOURA, 1993, p. 182-183). Com a política do Estado Novo vivida no momento, com o presidente Getúlio Vargas e suas escolhas nacionalistas, tudo foi feito, para o melhor jogo político da posição do Brasil frente aos acontecimentos de guerra, fazendo com que, a política de neutralidade mantida até meios de 1941, fosse mudada a partir da conferência de Ministros Estrangeiros em 1942: “[...] as forças do eixo avisaram ao Brasil que haveria retaliações caso as relações diplomáticas fossem cortadas (...) Vargas tomou decisão no dia 28 de janeiro de 1942”. (SMITH JUNIOR, 1992, p. 66).

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Com isso, paulatinamente, vão se desenrolando diversas ações, desde construções de bases navais a bases aéreas, em Natal, para esse momento. Se demarca também, a chegada, dos primeiros americanos, que vão tomando espaço na cidade pouco a pouco, “A convivência com os americanos e seu diferente modo de vida afetou o cotidiano de toda a população local (...) o que chama a atenção é a discrepância entre as múltiplas percepções sobre esse momento de intenso intercâmbio sociocultural (...)” (PEDREIRA, 2012, p. 114).

Assim, a guerra chegava às Américas. Os cenários imaginados pelos estrategistas norte-americanos eram preocupantes. Um deles previa uma invasão alemã no litoral do Nordeste brasileiro, através de navios de transporte de tropas escoltados por esquadrilhas aéreas, vasos6 de guerra e submarinos. [...]. Essas projeções podem parecer, aos olhos de um observador de hoje, irrealistas e paranoicas. Mas para seus contemporâneos, essas ameaças eram efetivas e possíveis de serem convertidas em realidade. (FERRAZ, 2005, p. 13-14).

A partir dessa junção do cenário mundial com o nacional, podemos ter essa visão da formação social desse momento, já que no Brasil, o Estado Novo traz no nacionalismo/identidade nacional a questão cultural como aparato do Estado (VELLOSO, 1982), assim a formação de todos esses aspectos, são necessários para o estabelecimento das influências do outro que fica como parte da formação identitária norte-rio-grandense e os meios de sua representação. Afinal, se torna possível delimitar fatores que influenciam a coletividade na formação de identidades, seja por meio de projeções de grupos, seja por meio de uma memória em uma coletividade que perpasse diferentes meios sociais.

2.1 ASPECTOS DA IDENTIDADE NO RIO GRANDE DO NORTE NA PRIMEIRA METADE DO SÉCULO XX

As questões de identidade no Rio Grande do Norte são historicizadas desde a colônia a partir dos indígenas potiguaras, reconhecidamente como um dos primeiros povos de habitação da costa dessa região, para além dos “tapuias”, denominação usada pelos potiguaras para outras tribos indígenas ocupantes do interior.

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22 Para Airaghi (2016) há uma transição do século XIX para o XX, - Império para a República - onde se tem uma gestação da identidade norte-rio-grandense a partir da cidade do Rio de Janeiro, na figura de José Leão Ferreira Souto7, que ao sair da província, tem contato com pensamentos e ideologias advindas da Europa, de ideias positivistas e republicanas, já que para sua constituição, a República necessita diretamente dessas construções no que diz respeito a pátria, a identificação, território e subsistência material, ou seja, um projeto nacional.

Nisso, existe um outro aspecto importante, como a vida intelectual, as elites e o governo, que nas décadas de 1920 a 1930, fazem investimentos em estrutura urbana na capital, que é o esforço modernizador do prefeito Omar O’Grady (1924-1930), dos governos estaduais José Augusto de Medeiros (1924-1928) e Juvenal Lamartine de Faria (1928-1930), tudo isso, por uma junção que busca fazer de Natal “Cais da Europa”, com o recebimento de um fluxo de aviões e navios, criando uma projeção daquilo que essas elites do começo do século XX desejavam para a cidade (ARRAIS, 2012).

No Brasil em distintos períodos os intelectuais tiveram importante papel na definição de nação quanto projeto anunciado, se preocupando com o caráter ontológico a identidade brasileira (ORTIZ, 2006). Isso não é diferente no Rio Grande do Norte, que com Câmara Cascudo como um de seus mais famosos intelectuais, tem variados estudos sobre a memória e história do Estado e da cidade de Natal, dentre esses, nos anos de 1930 as disputas pautadas por Cascudo no que diz respeito ao uso do gentílico potiguar para se referir aos nascidos no Rio Grande do Norte (AIRAGHI, 2016).

Paralelo as discussões que estavam acontecendo no Rio Grande do Norte e no Nordeste sobre a identidade potiguar:

[...] surgiu no Rio de Janeiro a Associação da Mocidade Potyguar, instituição fundada em 1934 por jovens norte-rio-grandenses residentes na Capital Federal. A instituição tinha por objetivos defender os interesses do Rio Grande do Norte, propondo difundir informações relativas a este estado [...] A Associação tinha um instrumento de divulgação de suas ideias,

7 Segundo Airaghi (2016) foi aquele que noticiou ao Rio Grande do Norte sobre a chegada da

República, sendo importante em vários outros quesitos, com essa rede de interações e interesses formada na capital da república.

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a Revista Potyguar, publicada no Rio de Janeiro as décadas de 1930 e 1940. (AIRAGHI, 2016).

Segundo Rocha (2012) a Associação da Mocidade Potyguar, passou a se chamar Associação Potiguar, assumindo a missão de mostrar ao país as peculiaridades do Rio Grande do Norte, sendo a Revista Potyguar a voz dos norte-rio-grandenses na Capital Republicana. Publicada entre os anos de 1936 e 1939, trazia conteúdos que noticiavam o Estado, eventos promovidos pela associação e vida/cotidiano daqueles conterrâneos que residiam no Rio de Janeiro: “Ao que tudo indica, a Revista foi um importante instrumento de intervenção intelectual escrita e teve um papel precípuo na irradiação de mensagens voltadas a garantir uma unidade federativa, considerando as particularidades estaduais.” (ROCHA, 2012, p. 5).

Iniciativas como essas são importantes para juntar os fragmentos da composição dessa formação identitária do norte-rio-grandense, pois a partir do conjunto desses, é que podemos notar alguns princípios formadores do que buscamos como meios identitários.

Gomes Neto (2009, p. 1) diz que “Discutir a identidade potiguar é pensar e problematizar o que fomos – ao menos supostamente – um dia, mas também o que já não somos mais, seja porque nós perdemos nas trilhas insinuosas do tempo ou por outros motivos quaisquer.”, o que faz alusão a metamorfose constante, ao aceitar e assimilar o que vem de fora, num eterno processo de ressignificação.

O potiguar tramita assim num espaço indefinido. É, segundo alguns interlocutores, um espaço fadado a um devir que é sempre devir, que nunca se cumpre; é sempre o que deveria ser em detrimento do que é, pois, o ser que ele é, desagrada. Percebe-se aqui um dilema nas suas representações: reclama-se com freqüência da abertura, da reclama-sedução ao que vem de fora de suas fronteiras, pois esta postura agiria de forma tal que o impediria de criar laços identitários com as coisas da terra, com os valores genuinamente locais. Em outras palavras, existiria um modo de ser, um ethos que devido ao desapego dos norte-rio-grandenses não se faz ver nem ouvir. É como se enfeitiçados pelo outro, recusassem a si mesmos. São estrangeiros em sua própria terra. Assim, invés das fronteiras geográficas representarem barreiras, entraves, os potiguares seriam frequentemente seduzidos por elas. Para alguns, isto é ser cosmopolita, civilizado, para outros, é sinônimo de colonizado, de subjugado culturalmente. (GOMES NETO, 2009, p. 7).

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24 Nesse processo, levamos ainda, em consideração o Nordeste em si, visto por Albuquerque Junior (2011) como uma criação, como espaço imaginário no final dos anos 1920, dentro de um contexto de seca, coronéis e visão das pequenas cidades, com um estereótipico que o segue, criado pelas produções culturais do país e pelos habitantes de outras áreas. Tudo isso, é subsidiado por um espaço de saudade, criado pela elite local, que ao perder sua dominação econômica do Brasil, para o eixo Sul, cria espaço como a glória dos momentos já vividos.

O discurso estereotipia é um discurso assertivo, repetitivo, é uma fala arrogante, uma linguagem que leva à estabilidade acrítica, é fruto de uma voz segura e autossuficiente que se arroga o direito de dizer o que é o outro em poucas palavras. O estereótipo nasce de uma caracterização grosseira e indiscriminada do grupo estranho, em que as multiplicidades e as diferenças individuais são apagadas, em nome de semelhanças superficiais do grupo. (ALBUQUERQUE JUNIOR, 2011, p. 30).

Essas imagens se tornam de fácil reprodução e percepção, por isso continuam se propagando, mesmo por aqueles que não vivem mais no Nordeste da pequena cidade e do interior. Assim, se mistifica, imagens desse espaço que dizem respeito a um Nordeste que fala um idioma “nordestines”, de fala muitas vezes reproduzidas como arrastada e diferenciada.

São os espaços de formação dessa identidade, gestada desde o principio da história nacional, que carrega os sinônimos dessa comunidade existente dentro do entendimento da nordestinidade e do estado estudado, que faz com que, seja possível explorar dentro da análise a interação necessária para identificação do que já fomos e do que somos.

2.2 RESSONÂNCIAS E ASSIMILAÇÕES NA IDENTIDADE NORTE-RIO-GRANDENSE NO PERÍODO DA GUERRA E A CIDADE DE NATAL (1942-1946)8

8 Consideramos aqui o período definido por Smith Junior (1992) quando coloca a entrada do

Brasil na guerra a partir de conferência dos ministros (1942) e seu término com a saída dos últimos americanos de Natal em setembro de 1946.

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Referente ao que já foi demostrado, uma das questões mais levantadas durante essa continuidade de 1930 e 1940, tanto pelo senso comum e pela academia, está nas identidades, que estão como a busca pela marca do norte-rio-grandense de ser cosmopolita, projetada para o que vem de fora, mas que ainda assim, guarda suas marcas e raízes. A capital em especial, carrega consigo muito mais da imagem dessa característica, onde por muito, acaba sendo tomada por uma expressão da identidade do Rio Grande do Norte:

Assim, Natal aparenta conter um “caldo de cultura” em reciclagem permanente. Demonstra estar aberta ao universal e parece desterritorializada exatamente por não apresentar uma identidade cultural fechada. Tais características podem refletir um desapego dos natalenses em relação a valores locais. (COSTA, 2015, p. 35).

Essa identidade no momento da guerra, com ressonâncias das suas assimilações e dos choques, não tem um processo simples, nem mesmo nas representações feitas sobre, já que são culturas, com costumes, linguagens e dialéticas diferentes.

Sem dúvida, nesse período de guerra em Natal, houve uma reciprocidade de influências entre a população nativa e os estrangeiros, em se tratando de manifestações culturais. Isso não significa, entretanto, que o ideário do Panamericanismo, de harmonização e cooperação entre os diferentes Povos, sob a batuta do Tio Sam, chegasse a representar um ponto pacífico para brasileiros e americanos “de carne-e-osso”, em seu convívio diário na capital potiguar. (PEDREIRA, 2009, p. 236-237).

Assim se faz todo o percurso da representação dessa identidade, até o momento em que a guerra começa a ser estruturada pela vitória do Aliados, onde os primeiros sinais que tudo estava se resolvendo, dá a Natal e a esse enredo, uma nova perspectiva para as vivências cotidianas e seu futuro. Pedreira (2009, p. 230) ao citar sobre a identidade no período da guerra diz “Era como se a população potiguar tivesse de se opor às influências exógenas, armando-se nas trincheiras das manifestações culturais locais/nacionais.”, citando ainda, que o

locus da cultura brasileira, fica por conta das festividades do carnaval.

Com isso “É mais correto dizer que não foram os brasileiros que foram à guerra, mas sim a guerra que chegou aos brasileiros.” (FERRAZ, 2005, p. 9),

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26 isso principalmente, para os norte-rio-grandenses, especialmente os que moravam na capital durante esse período.

Sobre a forma de vida da capital, se explicam questões como as mudanças advindas da interação com outro, a chegada de pessoas de diversas nacionalidades, tanto aqueles que estavam nas trincheiras de guerra, como outros que vem atraídos pelo comercio (MELO, 2015). A cidade passa a crescer de forma rápida e desordenada, o que coincide com outro fenômeno:

[...] o fluxo migratório do interior, devido à seca, para a capital, fazendo dobrar a população da cidade. A consequência imediata foi o desencadeamento de uma tremenda crise de abastecimento, acompanhada pelo aumento absurdo nos preços. [...] (PEDREIRA, 2009, p. 223).

Todos esses aspectos são parte da formação da identidade gestada para uma representação fílmica, traçadas desde um período anterior, mas, que se fundamentam em muito a especificidade do recorte feito. Com isso, transcorremos desde os primórdios daquilo que o Estado-nação se utiliza dentro de seus quereres e limites, para dizer quais os valores daquilo que deve ser representado.

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3 ANÁLISE FÍLMICA DE FOR ALL – O TRAMPOLIM DA VITÓRIA

O longa-metragem foi produzido por Bigdeni Filmes do Brasil, Skylight Cinema e Vídeo, com companhia de produtores associados por Sony Corporation Of America, Columbia Pictures Television e Trading Corporation, teve sua pré-estreia nacional no dia 10 de maio em Natal, sendo exibido ao público nacional a partir de 15 de maio de 1998, no Rio de Janeiro. Recebeu prêmios de melhor filme, roteiro, trilha sonora, direção de arte e júri popular no Festival de Gramado em 1997, melhor filme no Festival de Miami (CINEMATECA, 201-?).9

Imagem 1 – Pôster promocional

Fonte: Cinemateca (201-?)10

9 Mais informações técnicas sobre o filme: <

http://bases.cinemateca.gov.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=FILMOGRAFIA&lang=P&nextAction=search&exp rSearch=ID=022896&format=detailed.pft>

10 Disponível em: <

http://bases.cinemateca.gov.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=CARTAZES&lang=p&nextAction=search&exprSe arch=ID=022896 >. Acesso: 10 nov. 2018.

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28 3.1 FICHA TÉCNICA

For All – O Trampolim da Vitória, 1997. Direção: Luiz Carlos Lacerda, Buza Ferraz. Roteiro: Luiz Carlos Lacerda, Buza Ferraz, Joaquim Assis. Produtores: Bruno Stroppiana, Luiz Carlos Lacerda. Elenco: Alexandre Barros, Alexandre Lippiani, Betty Faria, Caio Junqueira, Carlos Ferreira, Catarina Abdala, Cláudia Mauro, Cláudio Mamberti, Daniela Gracindo, Edson Celulari, Erik Svane, Flávia Bonato, Guaracy Picado, José Wilker, Luiz Carlos Tourinho, Marcelia Cartaxo, Nelson Pereira dos Santos, Paulo Gorgulho. Duração: 95 minutos.

3.2 RESUMO

O Brasil que antes recebia notícias da guerra ao longe, passa a ter uma base no Nordeste, com convivência direta entre brasileiros e americanos. Tudo isso se passa em Natal (RN), com uma presença que altera a convivência local, desestabiliza noivados e famílias, traz para perto a cultura de Hollywood, com música e cinema. Assim, vai se passando em torno, da interação entre os locais e os outros que vão chegando, com os amores, as amizades, as questões políticas e a apreensão de uma nova língua por ambos os lados.

3.3 EM TORNO DO FILME

Uma produção do final dos anos 1990, em torno de uma Natal, que buscava reviver um passado glorioso do período da guerra. Assim, a produção vem reafirmando pequenos grupos, principalmente das elites, que estavam na procura por criar uma memória mais sólida, fosse por meio de espaços que remetessem ao acontecido ou por produções em periódicos que disseminassem para o maior número de pessoas possível, como se deu esse episódio na cidade, a partir de narrativas que abrilhantassem o acontecimento.

Segundo a Cinemateca (200-?) durante os anos de 1997 e 1998 o longa foi exibido em festivais em todo o mundo, como Itália, Espanha, Cuba – Festival de Triste – Feira de Cinema de Milão – Festival de Huelva e Havana, percorrendo também o circuito universitário dos Estados Unidos, integrando uma mostra itinerante. No Brasil, foi exibido no Búzios Cine Festival, Mostra de Cinema de Tiradentes e competiu no Festival de Cinema de Recife. Sendo possível notar que essa ambição de produção sobre o acontecimento, conseguiu ganhar notoriedade no cinema durante sua estreia e primeiro ano de exibição.

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3.4 SITUAÇÃO DA SEQUÊNCIA

Foram escolhidas quatro sequências para buscar dar conta da análise de algumas representações apresentadas por esse contexto fílmico, que dentro dele carrega diversos elementos, fazendo a intercessão entre duas épocas, a que é feita a representação e a que a fonte foi produzida.

As evidências desses trechos selecionados, são correspondentes a representação de identidades, em interação com um outro, que se revelam múltiplas, mas também, se encontram com o as explanações de Gomes Neto (2010), do que se representa no simbólico da identidade norte-rio-grandense, o que vem a ser, entre o dito e o não dito, em um contexto que se encontra sempre ao olhar do discurso de estereótipos abordado por Albuquerque Junior (2011), quando se trata de representar o nordestino e a criação da imagem da sua cultura.

Esse primeiro recorte de cena, exibido logo no início do longa, traz a reprodução dos estigmas básicos sobre quem é esse norte-rio-grandense que se apresenta ao outro, nesse acolhimento e diálogo entre as partes.

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1. O foco nas areias coloridas, que é produto forte do artesanato natalense, mostrado como algo que já fosse feito e vendido, desde o tempo da guerra 1. 2. A garrafinha de arreia colorida, sendo produzido por uma mulher, que desempenha o papel de manicure, que presta seus serviços para os soldados americanos, como divertida, alegre e que conversa com o outro, sem que ela se importe com a barreira do idioma 2. 3. O menino engraxate, enquanto faz seu serviço, conversa animadamente em um inglês misturado com um forte sotaque nordestino, fazendo referência a trabalhar bastante, para ganhar em dólar e ficar rico 3 4. 4. Dono do Grande Hotel, dos seus espaços de dependência com a barbearia, animado e bom de negócios, vende um pássaro, como a ave do amor, imagem típica da cidade na época, de animais silvestres serem vendidos, como ele mesmo insinua, por portarem alguns signos e significados 5 6.

Essa cena no geral, representa um norte-rio-grandense docilizado com a presença do outro, que aceita de bom grado e faz de tudo para interagir da melhor forma possível, sabendo negociar fosse o preço de custo, fosse a imagem da simpatia e da aceitação desses visitantes

Primeiro quadro tem o foco nessa imagem construída com areia colorida, produto de artesanato típico do litoral, com uma casa junto as dunas e coqueiros ao seu redor, cena muito famosa para a época, pois assim era Natal e seus arredores, com seu aspecto tropical. Já no quadro seguinte, da mulher que desempenha o papel de manicure e artesã, produzindo a garrafa de areias coloridas, coloca em evidência as múltiplas percepções e construções sobre as mulheres nesse momento.

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Segundo Melo (2015)11 que em muito fala de detalhes das mulheres para esse momento, mostra como se constituíam ativamente na vida cotidiana12, eram donas de pensionatos, de cabarés, ou mesmo, trabalhavam no comércio, ocupando espaços para além dos considerados convencionais para o feminino da época.

Esses quadros constituem por fim, um modus operandi da interação do norte-rio-grandense com os norte-americanos, intermediado principalmente pelo financeiro e pela curiosidade. Ao mesmo tempo que vem os benefícios econômicos, há a eminente curiosidade, que torna o estranhamento uma via de absolvição daquilo que o outro é. Assim, se aprende uma forma diferente de interação, de trocas, que inclusive, significa objetos/seres do cotidiano como algo de outro valor e outra estima para se suficiente a comercialização.

A imagem que busca se assentar em torno de quem é esse norte-rio-grandense, durante toda guerra, personifica umas identidades que se torna característica de todo um Estado, onde percebemos por meio das revisões acadêmicas dos escritos sobre essas, onde os conflitos, dentre elas são múltiplos, pois aquilo que Natal apresente para as identidades, não é tal qual outras cidades e municípios representam para essas mesma identidades, que em muito toma de empréstimo apenas aquilo que a capital tem a dizer no seu esforço de ter suas próprias características.

A segunda cena escolhida, retrata, a dualidade do que foi vivenciado no período, pois, coloca em jogo a representação de outras identidades. Os interioranos, principalmente do Sertão, são conhecidos, como diz Smith Junior (1992), por fazerem parte do esforço de guerra na condição de construir a base militar de Parnamirim.

Esses se tornam na capital, também um outro, pois além dos que vem para construir a base, Pedreira (2012) relata o fluxo que cresce, vindo do interior, a partir da seca que assola, que faz com que procure outras formas de sobrevivência para além das que tinham como expectativa no interior, seja por

11 Protásio Pinehiro de Melo além de viver a época, foi professor de português dos

norte-americanos, em sua obra ‘Contribução Norte Americana a vida natalense’ traz relatos sobre o que foi a Natal desse período.

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32 meio da agricultura ou da comercialização, expectativas essas, para aqueles menos abastados financeiramente.

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1. Com as mãos para cima, com uma nota de dólar, o personagem de aparência sertaneja, com roupas simples e chapéu de palha, analisa ao sol, o que pode comprar com o valor da nota, dobrando-a em seguida e saindo em direção aos outros, que se misturam entre as aparências interiorana daqueles que vieram construir a base 1 2. 2. O grupo vê a nota como algo extraordinário, olhando-a e analisando-a como algo novo a suas vivências com o dinheiro 3. 3. Um dos homens do grupo, que se encontra na fila para entrevista do trabalho, reclama do tempo de espera, com seu toque e jeito de falar, para lhe caracterizar como alguém que vem do interior.

A cena é capaz de demostrar como há uma diferença, na representação das identidades, entre o norte-rio-grandense que naquela época era o da capital e o outro que vem do interior, tanto como fomento para construção de uma nova vida social no trabalho em Natal, como o que é diferente, pela fala, pela roupa que é mais simples.

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Assim, Melo (2015) descreve que a mudança no modo de se vestir na capital acontece com esse entrelaçamento com os norte-americanos, o uso de roupas menos sociais no dia-a-dia, a camisa para fora da calça e os óculos escuros, chegam para os homens das altas e medias camadas sociais, diferentes daqueles das camadas menos abastadas e interioranos, que se vestem de forma mais simples de algodão e couro.

Revelando a imagem que se cria em torno de uma identidade potiguar, que minimamente existe, ligada ao natalense, a cidade e seus costumes. Fosse pela influência da vida litorânea, fosse pela interação facilitada com outras culturas e costumes de quem pela cidade passa. Nesse contexto, uma vida na capital e no litoral se antepõe a vida interiorana, pois o acesso ao que era considerado bom, fino ou glamoroso, justamente no estar em contato com o de fora, cheio de novidades, só era possível nesse espaço litorâneo.

Terceira cena, tem mais um dos aspectos que se ligam ao imaginário criado pelo norte-rio-grandense e sua interação com o outro, durante o período da guerra.

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1. Soldado sai do ambiente do rancho, olha para o céu e ao vê o sol bastante quente, se expressa em inglês e sai 1. 2. Outros dois militares saem do local, é o personagem, que representa um norte-rio-grandense simples e que

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34 arruma um emprego na base, solta a expressão “oxente”, como ressignificação do que foi dito na primeira cena na língua inglesa 3 4.

O inglês passa a ser uma língua muito comum no cotidiano da cidade, o que fez com que se adaptasse o comércio para isso, com demonstrativo de preço, comerciantes que aprendiam o básico para a comunicação nas vendas. Os professores de inglês da cidade, se tornam responsáveis por intermediar em situações que exigissem um maior diálogo, também foram responsáveis por ensinar em aulas particulares, tornando a cidade essa multiplicidade em torno de ambas as línguas (MELO, 2015).

Se torna sacralizado também, a internalização da língua inglesa e sua projeção no futuro, assim como diz Costa (2015), que isso se estampa pela cidade, até os dias atuais, nas gírias cotidianas, em nomes de espaços, e tantos outros aspectos que trazem a perpetuação dessa representação dentro das identidades do norte-rio-grandense.

Por último, a quarta cena escolhida, que faz menção a um dos episódios de maior realce na memória coletiva, que as festas produzidas dentro da base militar, chamadas de ‘For All’ traduzido como ‘Festa para todos’, essas são marcadas como o momento de maior interação com os norte-americanos estadunidenses em festas para a comunidade.

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1. Os personagens que representam potiguares, dançam, se beijam e conversam em ritmo animado e embalados por música ao fundo 1 2 3 4. 2. Soldados contemplam a festa, interagem com os brasileiros/norte-rio-grandenses, enquanto se comunicam por toda graça romantizada na barreira linguística e nos romances com os americanos que eram evoluídos e traziam toda a novidade de fora 5 6..

Antes do recorte desse quadro, a cena construída mostra uma apresentação de uma personagem interpretando uma atriz norte-americana muito famosa, que se apresenta no espaço da base área, muito conhecido por ter festas que contemplavam o público interno e o externo, como cita Melo (2015) que as festas eram muito atrativas, costumavam lotar, que aconteciam também, no Aeroclube de Natal, com ritmos de Jazz e Blues.

Da mesma forma, isso se reproduz na trilha sonora desse quadro da festa, os ritmos de Jazz e Blues, se misturam com ritmismos mais abrasileirados como o samba, isso faz com que, tenha uma mistura na forma de dançar, chegando até a misturar outros ritmos latinos como a cúmbia.

As festas são um dos maiores elementos de memória dessa interação entre os locais e aqueles que passavam pela cidade, considerando que não apenas norte-americanos vem até Natal nesse momento, mas sim, uma legião de nacionalidades, como franceses, ingleses e até mesmo, os judeus residentes em Recife que vieram fazer comércio (MELO, 2015).

A sequência dessas cenas, são os recortes mais claros sobre essa interação e representação identitária de quem era o norte-rio-grandense desse contexto, quais suas formas de viver e lidar com essa guerra e com a presença do outro. Tudo isso, dentro de um olhar modelizador e romantizado, que 5-6

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36 envolvem características desde as pautadas na representação do povo nordestino, ao que ficou no imaginário coletivo, sobre os acontecimentos de guerra, principalmente na cidade de Natal.

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por fim, podemos perceber que as identidades dentro do campo de percepção da identidade norte-rio-grandense, começa seu caminho, primeiro em sua teorização, que entende como é dispare, entre o que pode ser entendido como as identidades em si e como o que se representa a partir de um conjunto de imagens que evocam outros contextos.

Em diferentes tempos e elementos, o percurso que as identidades fazem no Estado, são eminentemente como os campos de disputas que buscam entendê-las e teorizá-las a partir dos aspectos que lhe convém, seja pelo interior ou pela capital, mesmo que essa, tenha maior força e poder nas suas considerações.

No caso fílmico escolhido para essa análise, a partir das quatro cenas, visualizamos um longa-metragem, que traz as demandas de um presente, frente a um passado. É assim, a busca que os anos 1990, projetam nesse caso, nos anos de 1940, sendo capaz de visualizar a mistura do que em partes acontecia e do que acaba se formando no imaginário.

Se perpetua assim, a representação de dois tipos de norte-rio-grandenses: aquele que é da cidade, com seu jeito receptivo, aberto, simpático ao mundo, e o outro, que também pertencente a esse espaço, tem também um modo diferente de ser, falar e vestir. Ambos são representados, dentro do padrão que não foge ao trazer o nordestino, com a força do sotaque, do jeito brincalhão, muitas vezes, com jeito engraçado de ser mal-humorado.

Assim, trazemos aqui, uma nova perspectiva em estudos sobre esse período na cidade em questão, pois, dentro das pesquisas já existentes, ainda pouco se aborda sobre as imagens fílmicas de representação da coletividade e da cidade, já que não há uma exploração sobre os poucos materiais que retratam esse momento.

Na formulação dessas identidades dos norte-rio-grandenses representadas pelo filme, fica evidente como tudo é dado por natural, as barreiras de linguagem, a aceitação com o outro, sempre típico daquilo que é colocado para o “ser potiguar”, aberto ao outro, sempre disposto a aceitar, mesmo quando há uma dificuldade na barreira de comunicação linguística e cultural.

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38 Para modo de representação geral, os elementos gerais colocados, são propícios as lembranças que buscam uma raiz na nossa memória coletiva, com o uso de cores da guerra, marcado pelas roupas de uniforme militar, cores das bandeiras norte-americanas, mesmo o estilo de vida do “american way of life” que é mostrado como uma incorporação direta ao nosso cotidiano.

Assim, não sai de narrativas outras, que trazem o nordestino, porém, nesse caso, se apresenta o norte-rio-grandense, no meio dessa mística de suas identidades. Pensando no tempo de produção da obra, até a escritura desse trabalho, podemos notar que muito ficou também, no imaginário, se perpetuando, com imagens como essa, que o cinema, capaz de trazer a beleza dessa arte, traz também, a odisseia de misturar aspectos, fazendo com que se perpetuem em forma de representações questionáveis pelos seus sentidos.

Por fim, como diz o historiador Jorge Ferreira (2017, p. 107) em artigo recente, o conjunto de experiências vivenciadas pela guerra não ocupam cultura histórica relevante no país, “[...] até mesmo os filmes contribuem para o desmerecimento da participação brasileira na guerra, caso de forall, em que a cidade de Natal é transformada em um bordel [...]”, tudo se torna uma festa, com grande harmonização, que por fim, chega perto de representa as reais experiências do Brasil e seu lugar na guerra.

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REFERÊNCIAS

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Referências

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