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O Porto no nascimento de D. Pedro de Alcântara

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I

Congresso

s o b r e

a

Diocese do Porto

Tempos e Lugares

de

Memória

H o m e n a g e m

a

D. Domingos de Pinho Brandão

ACTAS

V O L U M E I 1

PORTOIAROUCA, 2002

Centro de Estudos D. Domingos de Pinho Brandáo Universidade Catbiica

-

Centro Regional do Porto Faculdade de Letras da Universidade do Porto - Depaflamento de Cièncias e Tecnicas do Petrimonio

(3)

oe oo5e%![ ap e!h apue18 e oiuenb aiueiiodui! 0-1 anb aiuauieilaa .o!J?i!liai aisap og5ez!ueho e wnivuo!3!puo3 'so4!1ue soduiai apsap 'anb [eloiq oe ~ [ a l e i e d e!lg!n apal elad a ornoa O!I olad sop~ni!isuo3 saiueininlisa sox!a sapuei8 s!op so 'oui!i[q .tod 'as-aiua!le~ .enD?o ep osad 'og!Za~ eisap [ei!de3 ap laded o lai zaqei e!~apod anb el!h ?]e aiuauici3exa 'olnoa oilv op e 'oy!8a1 enno ~ o d eliua sepq

'(EZE

'd 'OLíj[ ''O 'oi!aq!a) ,,oiuawvonod ap sod!i 'e!lei4e e!uiouo3a 'uiauioq o[ad sope0 -edo~d souaui no s!nui seiem a sopaionle 'oau-~.iuodsa 1eia4a~ oiuaw!isahaI sonalal ap ol!isa,, o[ad lei ou103 epelahal oyUa1 'olnoa a e 0 n o ~ anua ap seliai se a oqu~pq o[ad ep!u!jap e3g.Goa0 o-!Sal eu aiied apue18 ma aqe3 'e.s n o ,soliam 0001 so opuessedeo[n o-u 'apni!i[e elad epei!ui![ ias a3a1ed Ins e sepvi!~ og~epq op elias ep saiuailah seN .aiueiewv ap seiiod sp opue%aqa e 0 a u r g ~ op a[ch op a 'soqu!sa3aa 'opau!apq '[ageuad ?]e 'esnos o!l op a[eh op Io!etu aued c e3laqv os^!^ . o i ~ ap 1!11ed e a h v o!l o[ad as<eiua!lo ap nxtap nSwg ap asa3o!p e mo3 el!aiuoq

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tlELBNA OSSWALD

sul, surgem aqui os caminhos e estradas que traçam

os

contactos com a regiáo entre Lamego e Arouca e, para lá da serra, com Viseu.

Terras de areais, dunas, campos e montanha. A costa é formada por cerca d e 30 freguesias, em algumas paragens ainda a definir-se, como é o caso da Ria d e Aveiro.

Das 345 freguesias' que compõem a diocese, 41% têm uma superfície entre 400 a SOO ha. As 7 freguesias da cidade do Porto variam entre os 21 e os 280 ha, mas 4 não chegam aos 5 0 ha. De entre as comarcas religiosas, a da Maia não s ó tem a média mais baixa, como apresenta o desvio padrão menor, sendo portanto a mais regular (cf. Quadro 1). No topo oposto encontra-se a da Feira não só com a superfície média mais alta por freguesia, como também com uma imensa dife- rença entre as menores e as maiores.

Quadro 1 - Área

-

Diocese

Comarcas Área (ha) Área média frrg. (ha) Desvio padrão % do Tot. NP Freg.

MAIA 43260 60 1 344 17,37 72 PENAFIEL 66649 653 584 26.76 102 SOBRETÂMEGA 49320 685 485 19.80 72 FEIRA 88949 988 1198 35.71 90 CIDADE 890 127 107 0.36 7 DIOCESE 249068 722 763 345

A riqueza d o meio natural é acompanhada por alguns aproveitamentos dife- renciados dos solos e dos recursos naturais. Durante a época moderna, apesar da antiguidade da fixação dos homens neste território, há adaptações demográficas que os processos de definição da costa por um lado e de urbanização, por outro, exigem. Fazer a leitura desse fenómeno, precisá-lo em termos d e pontos de vira- gem, de manutenção de tendências e de inscrição no espaço são os objectivos deste trabalho.

I Só na segunda metade do século XVIII S. Faustino da Régua dará lugar à 346." freguesia ao

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I CONGRESSO SOBRE A DIOCESE DO PORTO

Fontes e métodos

As fontcs disponíveis, que permitem abarcar todo o território da diocese e o período em questão, são essencialmente listas de freguesias ou descrições da diocese, em que houve vontade de incluir também o número de fogos elou almas. A lista das freguesias incluída por D. Rodrigo da Cunha no Catálogo dos Bispos

do Porto publicado em 1623, a listagem apensa às Constititições Diocesanas do Porto d e D. João de Souza, de 1687, a Corografia do Reino de Portugal do Padre

Carvalho da Costa, editada entre 1706 e 1712, a Lista dos fogos e almas ..., apên- dice da Geografia Historica de Caetano d e Lima, de 1732, a Descrição topográ-

fica e liistórica da cidade do Porto do Padre Rebelo da Costa, de 1787, O Mappa de Villas-Boas de 1794195 e o Censo da População de 1801 têm em comum a

proveniência da informação. Os dados recolhidos por razões e condicionantes diversas apresentam, apesar disso, um certo grau de bomogeneidade. Esta é-lhes conferida, em última análise, pelas fontes que directa ou indirectamente as enformam: o registo dos róis de confessados foi em todos os casos a fonte facul- tada a quem preencheu os itens constantes dos campos em aberto. Simples totais d e almas e d e fogos. E m alguns casos com o pormenor d a indicação dos totais divididos por dois grandes grupos etários, os maiores e os menores. Villas-Boas precisa essa indicação por sexos. No Censo de 1801 a divisão é bem mais com- pleta e utiliza várias classes de idades (seis) cobrindo todo o espectro. S ó a con- tagem de 1527-32 utiliza outro tipo de informação: a averiguada no terreno junto de autoridades locais. Faz menção dos fogos, com destaque, a nível de circunscri- ções administrativas englobando várias freguesias, para o grupo dos homens "mancebos" entre os 18 e os 30 anos.

A dataçáo das listas. com excepção do Numeramento de 1527 e do Censo de 1801, não obedece a qualquer intuito de proceder sistematicamente a contagens da população, nem a grandes momentos de viragem na vida da diocese. No século XVII, a iniciativa de publicar os dados populacionais deve-se a dois bispos, ambos figuras marcantes na história da diocese, D. Rodrigo da Cunha e D. João de Souza. O segun- do, em particular, distingue-se, após anos de falta de govemação, pelo zelo com que dirigiu párocos e crentes em geral. Sinais mais evidentes disso são a convocação e realização do Sínodo, de que resultaram as novas Constituições Diocesanas, o novo Regimento do Auditório Eclesiástico e as visitações que fez em pessoa à diocese. Corno D. Rodrigo da Cunha, preocupa-se em analisar e narrar o estado da Diocese, também sob a forma de números exactos relativos a cada freguesia.

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HELENA OSSWALD

As listas do século XVIII distribuem-se por obras de iniciativa particular e trabalho de recolha de informação individual, como é o caso dos Padres Carvalho da Costa e Rebelo da Costa, o primeiro preocupado com a totalidade do reino e o segundo centrando os seus esforços e atenção na cidade do Porto. Ou ainda por trabalhos assinados por autores individuais, nomeadamente os de Caetano d e Lima e de Villas-Boas, ambos ligados institucionalmente e por formação a correntes mais alargadas que formulavam os questionários de aquisição de conhecimentos como essenciais a este processo e os entendiam como universais. Ou seja, a reco- lha dos dois ngo é da sua autoria, Caetano de Lima limita-se a utilizar materiais cedidos pela Real Academia da História, que os obtivera dentro d e um plano ambicioso de investigação sobre a história e situação do Reino. Villas-Boas for- mara-se no ambiente dos memorialistas d e fim de século da Academia das Ciên- cias e, por isso, recolhe também os dados populacionais, aquando dos seus trabalhos no terreno para o levantamento da carta da Província do Minho. O Censo de 1801, sendo da iniciativa da Secretaria d e Estado do Reino, personificado em Rodrigo de Sousa Coutinho, não é mais do que o culminar, em matéria demográfica, das viagens filosóficas do século XVIII. Motivadas por razões diferentes, sugeridas por ocasiões determinadas, todos se apoiam no reconhecimento d e que havia uma instituição preparada para fornecer os dados necessários em qualquer momento: a paróquia com os seus róis de confessados. A utilização desta fonte permitiria e m qualquer momento uma recolha circunstanciada.

Apesar destas "origens comuns", o rigor das diversas fontes é bem desigual. Caetano d e Lima, por exemplo, não só sofre da antiguidade da recolha dos dados, como também das vicissitudes porque passou essa recolha2: na diocese do Porto s ó indica as almas, em contraste com o resto do reino em que figuram também as informações respeitantes a fogos. A identificação inexacta, em muitas das fregue- sias, dos nomes e oragos deixa perceber que o ou os informadores eram estranhos a esta realidade e que não houve trabalho de revisão e cruzamento de informações. A Corografia do P.' Carvalho da Costa utiliza diferentes fontes de informa- ção, algumas delas com cerca de um quarto d e século d e idade3.

'

Veja-se a este prop6sito a correspondência da Academia publicada par P. de Azevedo ("O livra 2.' da correspondência expedida e recebida pela Real Academia da Histária", Arqseóloyo Porlugrez.

val. 26 n 29). E Romero de Magalhtes (1988) para o Algarve.

'

É a caso das fceguesias do actual concellio do Parto. Os dados são praticamente os da lista de

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I CONGRESSO SOBRE A DIOCESE DO PORTO

O P.' Rebelo da Costa, que expressamente tece críticas à forma como se elaboram as informações paroquiais e afirma ter construído o mapa da cidade sobre um "cálculo" devido "a um laborioso exame e uma eficaz diligência bem necessária nesta matéria" (Costa, R., 1945, p. 79), não parece ter seguido os mesmos caminhos para a restante diocese. Aliás, a forma como desenha o períme- tro da cidade mostra claramente o seu intuito de fazer os dados populacionais servirem o seu objectivo de projecção da cidade. Não observa simplesmente. Constrói argumentos que lhe sejam favoráveis. Mas a informação que recolheu parece ter sido norteada por algum rigor.

Villas-Boas apresenta dados completíssimos no que diz respeito à situação geográfica. Com efeito, não se fica s ó pela indicação das léguas que separavam qualquer freguesia do centro administrativo mais importante, o que era o proce- dimento mais comum, mas tenta indicar as coordenadas rigorosas, nomeadamente a latitude, que ele bem conhecia pois a tinha estabelecido no terreno. O mesmo rigor reflecte-se na indicação dos direitos de apresentação das igrejas, na indicação da situação jurídico-senhorial e administrativa, nos oragos e nomes das freguesias. Existe, subjacente a esta recolha de informação, um plano de indagações, aprova- do, como base da Descrição Geográfica e Económica da Província do Millho. O único problema levantado a esta fonte, 3 partida, diz respeito ao âmbito geográ- fico: os limites da diocese do Porto não coincidem a leste com os da província do Minho e excluem os espaços a sul do Douro.

Tanto D. João de Souza como D. Rodrigo da Cunha podiam utilizar, em primeira mão, as indicações dos somatórios dos róis de confessados, sem terem sequer de proceder a operações especiais, já que a visita ad limina e outras impo- sições obrigavam a resumos dos róis. Note-se que, em relação i s duas datas, há envio para Roma das informações sobre o estado da diocese nas visitas ad limi~ia de 1620 e 1623 e na de 1688 (Azevedo, 1979). D. Rodrigo da Cunha chama a atenção que "depois de ir continuando a impressão, e já a tempo que não era possível lançarem-se em seus lugares muitas cousas, que de novo descubrimos pertencentes à matéria deste livro, determinámos fazer dellas particular capitulo" (na pane 11, p. 278). É lícito, pois, deduzir deste cuidado e vontade de revisão e actualização que os dados demográficos correspondam aos róis desse ano ou, no máximo, aos do ano anterior à impressão. A visita de 1688 inclui os dados do ano anterior, exactamente o ano do estabelecimento de novas Constituições no Sínodo de 1687. São publicadas em 1690. Comparando os dados relativos à cidade na Visita e no apêndice às Constituições constata-se que se trata exactamente dos mesmos.

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HELENA OSSWALD

A questão levantada quanto ao Numeramento de 1527 relaciona-se, eviden- temente, com

o

facto de se contarem moradores e a discussão em torno d o coe- ficiente mais adequado não ter chegado a bom porto. A proposta de um intervalo entre os valores estabelecidos com um coeficiente de 4,3 e um de 4,8 (Dias, 1996) parece ser, na Diocese do Porto, um pouco alta. Pelo menos nos séculos seguintes essa relação fogos I almas nunca chegou

a

tais valores, situando-se abaixo dos 4. As fontes permitem, assim, tentar desenhar os caminhos da evolução da população da diocese, tentar reencontrá-la nos diferentes espaços, cartografá-Ia ao longo de três séculos e analisá-la de forma grosseira no que diz respeito à sua estrutura.

Com excepção dos dados de 1801, o grupo etário dos menores de 7 anos não se encontra representado. Para 1795 há disparidades na recolha da informaçáo quanto a este grupo. A relação maiores d e 14 1 menores de 14 anos apresenta diferenças tão notórias em certas freguesias que só poderão ser atribuíveis a cri- térios de informação diferentes.

O

volume da população

Os dados de 1527, 1687, 1787, 1795 e 1801 permitem seguir a evolução dos fogos na diocese, os de 1623, 1687, 1732, 1787, 1795 e 1801 indicam o número das almas. Os de 1795 possibilitam as duas leituras, mas só para parte da diocese. Os problemas de falta de informação pontual para um número pequeno d e fregue- sias vão desaparecendo com o andar dos tempos! A questão das mudanças na área em estudo, que podem desvirtuar qualquer conclusão relativa a mudanças no volume da população, não se põe para a diocese como um todo senão como aspecto secundário. Ao longo do período em análise, a diocese mostra uma coerência espacial digna de nota. As transformações mais radicais poderiam ser as criadas com o estabelecimento da diocese de Penafiel (1770-1778). A curta duração desta criaçiio setecentista, e o facto de esse período cair exactamente num dos intervalos para o qual não há descrições gerais da diocese do Porto, relega para plano de

Riia a identificação &as ircguesias tornou-se essencial o triibuilio da P.' Domingos A. Moreira.

Eleixe>tros aitoiitúsricoi alii-»tedievois, 1973. As falhas da caria milirai 1: 25000 n!" 96, 97, 98. 109, 110, 111, 112, 122, 123. 124. a cornparaçSo entre as diferentes lisiagens. e a Diciondrio Coro~rdJco,

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I CONGRESSO SOBRE A DIOCESE DO PORTO

análise episódico este aspecto. As divisões dentro da Diocese, isto é, as fronteiras das comarcas religiosas, estabelecem-se definitivamente entre 1542 e 1623. Suce- dem alguns pequenos acertos nas fronteiras entre a comarca da Maia e a de Penafiel, e nos limites da cidade.

Os problemas em torno da área definida como urbana revestem-se de outra importância. Qualquer estudo e m torno das mudanças d e uma dada população urbana reflecte sempre as questões de âmbito territorial. As cidades crescem ou diminuem por anexação ou retracção de áreas, mas também por aumento das densidades. A definição do espaço urbano do Porto orientou-se pelas fontes do século XVII15 que descreviam a cidade como sendo composta por sete freguesias. Estas são as mesmas que no século XVII eram designadas por cidade e arrabaldes. O Numeramento usando a mesma expressão não define exactamente a mesma área. Cinco das freguesias são directamente mencionadas. Os lugares nomeados nas outras só em parte correspondem às freguesias que na altura já existem, mas que como um todo s ó mais tarde virão a ser consideradas como arrabalde da cidade. Na impossibilidade de desenhar correctamente este espaço fica pelo menos esta chamada d e atenção para as alterações territoriais.

Procedeu-se a uma reconstituição dos dados para as datas em que as indica- ções de almas ou fogos faltavam. Os coeficientes são os estabelecidos através das fontes mais próximas no tempo. A relação entre fogos e almas de 1687 serviu para recriar os fogos de 1623. Assim como as relações de 1787 e a d e 1687 serviram para estabelecer os fogos de 1732. O coeficiente para a transformação dos mora- dores em almas em 1527 foi o de 4,2, portanto o mais baixo entre as propostas até hoje feitas por quem estudou o numeramento. A correcção da falta dos menores de 7 anos por um valor que se situe entre um mínimo e um máximo aceitável em populações de tipo estável foi uma possibilidade considerada, mas pareceu pouco interessante aplicar a mesma relação inflacionária a todos os momentos cronoló- gicos, já que tal suporia uma estrutura d e idades imutável ao longo de todo o período. As linhas de tendência parecem ser úteis para descrever as mudanças ocorridas ao longo dos diferentes períodos de tempo, os intervalos entre os "cen- sos". A tendência linear mostrou não se distanciar substancialmente d e outras tentativas de calcular as curvas que melhor se adaptasem à evolução da população. A linha de tendência linear desenhada em torno dos valores dos habitantes

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4WWO Habitantes e Fogos 1527-1801 350000 300000 250000 200000 1500W 100000 5WW 0 1801 1795' 1787 1732 I687 1623' 1527"

da diocese (gráfico) permite interpelar alguns dados e suspeitar do período entre 1623 e 1787: se não houvesse comportamentos ditados por situações fora do comum, como mortalidades ou migrações ou mau registo, em 1623, 1687 e 1732 a população apresentaria valores mais altos, sobretudo em 1623 e 1732 (com 17% e 21% de variação respectivamente). Em 1787, pelo contrário, os valores reais parecem estar inflacionados em cerca de 8%.

As linhas de tendência mostram, talvez melhor do que os valores absolutos, os crescimentos diferenciados da diocese e do espaço urbano da mesma. A vita- lidade do crescimento reside na totalidade do espaço e a cidade, centro do poder na diocese, de forma alguma se revela sempre como motor desse crescimento. Na quase totalidade dos momentos e, tanto na cidade como nos restantes espaços das comarcas, constatam-se crescimentos sem quaisquer tendências de retrocesso. A quebra entre 1787 e 1795 na cidade, nos fogos e almas, é o único sinal de declínio que estes cortes cronológicos parecem sugerir. Tratar-se-á de um período de difi- culdades, que levariam as gentes a fugir da cidade para o campo? Esta leitura já foi várias vezes sugerida e não se teria circunscrito só ao Porto. Veja-se o caso de

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I CONGRESSO SOBRE A DIOCESE DO PORTO

Braga (David, H., 1992). Mas a fonte, a descrição inflamada da grandeza da ci- dade pelo P.' Rebelo da Costa, sugere outra hipótese d e trabalho. S e se traçar a curva subtraindo os dados relativos à cidade obtém-se uma linha d e tendência mais regular e o valor de r' aproxima-se mais da unidade (de 0,75 passa a 0,95), tor- nando a projecção mais válida. Esta circunstância aplica-se tanto aos fogos como às almas. O P.' Rebelo da Costa teria interesses em conferir à cidade um papel que ela realmente não detinha.

O facto da diocese crescer ao longo dos diferentes períodos de tempo (pe- ríodos com duração bem díspar, com um mínimo de 6 e um máximo de 9 6 anos) pode não conesponder a um crescimento fisiológico sustentado, mas a movimen- tos intercalares de migrações. A cidade pode ter repelido ou atraído as populações para as integrar ou reexportar para outras paragens. No âmbito deste trabalho não

é possível senão levantar hipóteses. Sendo a cidade, simultaneamente, sede do bispado, o centro urbano de maior projeção deste espaço e um porto de mar com funções de "exportação de gentes", será d e crer que aqui se cruzassem vários ritmos e necessidades. As de crescimento e consumo de gentes pela própria cidade e a de consumo de gentes de outras paragens, como o Brasil para as quais o Porto

é o ponto nevrálgico do seu hinterla~id.

Os ritmos

do

crescimento

A evolução de fogos e habitantes mostra uma certa independência entre as duas variáveis. E mostra como será por vezes pouco seguro querer ler na evolução dos fogos o comportamento da população. Entre 1687 e 1801 a população cresce a ritmos mais acelerados do que os fogos na diocese (Quadros 2.1. e 2.2.). Mas na cidade e na comarca eclesiástica da Maia o crescimento dos fogos ultrapassa em média anual o das almas e, no caso de Sobretâmega, a população apresenta taxas de crescimento muito mais altas que as dos fogos (0.45% para 0,20%). Numa perspectiva de análise comparativa, sobretudo com outras realidades regio- nais ou com a totalidade do reino os fogos impõem-se como indicador dada a sua utilização em outros estudos.

Passando da análise do período em geral para a análise das mudanças dentro de cada período e utilizando as taxas de crescimento médio anual (Quadros 2.1. e 2.2) para habitantes e fogos constata-se o seguinte:

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ritmo regular, medido nestas taxas arbitrariamente estabelecidas em tomo da uni- dade de duração de um ano, foi lento no período quinhentista e seiscentista. Os fogos necessitam de mais de 115 anos para se duplicarem. Toma-se ainda mais lento no período seguinte até 1801, para o qual a duplicação do número de fogos demoraria mais de 150 anos. Esta primeira constatação não coincide com a visão generalizada sobre o andamento da evolução demográfica em Portugal. A evolu- ção das taxas dos habitantes contraria um pouco esta observação e explica-a pela dissociação dos dois elementos da relação fogoslhabitantes.

Quadro 2.1.

-

Fogos -Taxa de crescimento médio anual

1527-1687 1687-1787 1787-1798 1787-1795 1795-1801 1798-1801 1787-1801 DIOCESE 0,59% OA8% -0.08% 0,156 0,34% 1.54% 0,275'0 CIDADE 0,3270 0,985 -0,67% -0,94% 0.78% 0.53% -0,41% MAIA 0.50% 0.31% -0.20% 4 1 9 % 3.55% 7.25% 1.35% PENAFIEL 0,578 0.40% -0.27% 0.95% -1.03% 2.42% 0.30% SOBRETÂMEGA 0.59% 0.27% 0.27% 0.18% -0.53% -1,375 -0.09% FEIRA 0.808 0.58% 0.18% 0,18% 0,188 1527-1801 1687-1801 1687-1732 1732-1787 1732-1795 1795-1798 1732-1801 DIOCESE 0,545 0,466 0,1955 0.72% 0.66% 1.04% 0.63% CIDADE 0.52% 0.80% 0.65% 1.24% 0.92% -0.02% 0.90% MAIA 0,47% 0.43% -0.08% 0.62% 0.51% -4.37% 0.77% PENAFIEL 0.50% 0.39% 0.35% 0,44% 0.55% 0,316 0.41% SOBRETÂMEGA 0.44% 0,22% -0.23% 0,676 0.62% 0,66% 0.52% FEIRA 0.69% 0.53% 0.30% 0,8070 0,68%

Até 1687 os fogos da cidade crescem a ritmos inferiores aos da restante diocese. A comarca da Feira mostra umcrescimento que promete duplicar o número de fogos em cerca de 80 anos. No período seguinte de 1687 a 1787 as taxas mostram menor vitalidade em todas as comarcas, com excepção da cidade, que ultrapassará todas as taxas sempre e daí em diante, até aos problemas de fim de século.

As taxas de final do século XVIII têm de ser lidas com cuidado, já que as fontes são muito desiguais no que diz respeito ao rigor e qualidade. Como a lista de Villas-Boas não cobre a totalidade da diocese e existe para 1798 o censo de

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I CONGRESSO SOBRE A DIOCESE DO PORTO

Pina Manique, pareceu ser conveniente aproveitar também estes dados sobre os fogos, apesar de todas as reservas relativamente a esta última fonte6. E as dúvidas avolumam-se já que comparados alguns dados com contagens anteriores e poste- riores, o resultado não apresenta qualquer coerência interna, de tal modo são absurdos7. Ou seja, as taxas altas entre 1798 e 1801 não são de confiança. As conclusões que as taxas calculadas em torno de 1787 permitem merecem também muita precaução. Para a cidade, recorrendo aos dados das Memórias Paroquiais de 1758, a serem de confiança os dados do P.' Rebelo da Costa, a situação seria a seguinte: o crescimento que entre 1687 e 1732 andava nos 0,65% ao ano salta, de 1732 a 1758, para os 0,82% e entre 1758 e 1787 para os 1,62%, quebrando, após esta data, de forma excessiva, passando para os -0,41% até 1801. Não atendendo a 1787, a linha parece ser menos inconstante: de 1758 a 1795 a taxa é de 0,98% e de 1758 a 1801 de 0,95%.

Como seria de esperar, em termos comparativos (Quadro 3), a diocese do Porto cresce mais depressa que a totalidade do reino. A taxa negativa entre 1706 e 1732 recupera intensamente até 1776 e perde força, mas continua a crescer até 1801 (Serrão, J. Vic., 1993). Os dados de 1706 são os do P.' Carvalho da Costa, que no caso de muitas das freguesias do Porto não são senão outros que os de D.

João de Souza, de 1687. Parece pois ser lícito comparar a taxa de 1687-1732 com esta: o crescimento da diocese do Porto, apesar de modesto, contrasta vivamente com a totalidade do Reino, situando-se ligeiramente acima do nível da taxa do Minha8. São sobretudo as comarcas religiosas da Maia (O, 08%) e Sobretâmega (O,

11) que fazem baixar as taxas de crescimento. A diocese não se aproxima assim das taxas significativamente altas do bispado de Coimbra (Carvalho, J.; Paiva, J. P., 1989) e do Reino do Algarve (Magalhnes, 1988). Mostra, contudo, pertencer ao grupo que contrariou a depressão demográfica dos ínicios de Setecentos. Ao longo do restante período a diocese participará claramente no crescimento do Reino evidenciando sempre taxas superiores.

6Contém muitos erros na nomeação das freguesias e inscrifão e m cicculos administrativos: para além do intuito militar que lhe esta subjucente.

'Sirva de exemplo o caso d e Sta. Marinha do Zêrere com 107 fogos e Frende com 390 fogos no Couro de Baião (n."' 144 e 148) que devem ter sido confundidas. Em 1801 as freguesias apresentam- -se com 399 e 106 foços iespcctivamente.

Os,dadas da quadro correspondem às taxas esrabelecidas para um periodo d e 45 anos, entre 1687 e 1732. E evidente que seria mais rigorosa calcular as mesmas para os 26 anos quc medeiam entre 1706 e 1732 para seguir J. Vicenre Serrão. Assim sendo. as taxas para a dioccse são de 0.33% ao ano. A do Minho é de 0.32%.

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Quadro 2.2.

-

Habitantes - Taxa de Crescimento Médio Anual 1623-1687 1687-1732 1732-1787 1787-1795 1795-1801 1787-1801 DIOCESE 0,61% 0,17% 0,79% -0,259' 1,65% 0.56% CIDADE 0.21% 0.26% 1.69% -3.17% 1.72% -1,11% MAIA 0,45% 0.08% 0.56% 0.67% 1,375 0.97% PENAFIEL 0.65% 0,24% 0.43% 0.88% 0.73% 0.81% SOBRETAMEGA 0.20% 0,1176 0.71% -0.19% 1.28% 0,55% FEIRA 1.15% 0,16% 0.80% 2.43% 1,038 1623-1801 1687-1801 1687-1787 1687-1795 1527-1623 1527-1801 DIOCESE 0.55% OS?% 0.51% 0,457~ 0,3774 0.49% CIDADE 0.57% 0.78% 1.04% 0,72% 0.35% 0,50% MAIA 0.43% 0.42% 0.35% 0,37% 0,2370 0.36% PENAFIEL 0.49% OAO% 0.35% 0.39% 0,35% 0.44% SOBRETÂMEGA 0.36% 0.45% 0.44% 0,397~ 0.47% 0.40% FEIRA 0.78% 0.57% 0.51% 0.47% 0.41% 0.65%

No período anterior já as taxas da diocese se situam e m valores a que o Reino, na sua totalidade, s ó se aproximaria depois de passadas as dificuldades dos primeiros trinta anos do século XVIII.

O movimento dos habitantes não coincide totalmente com a evolução dos fogos. As taxas mais altas de todo o período, as de final do século XVIII, parecem indicar um arranque decisivo no crescimento, que até então s e movia com dificul- dade. Com excepção do período de 1732 a 1787, que pode estar viciado pelos dados atribuídos a 1787, o momento mais seguro de crescimento parece ter sido

Quadro 3 - Taxas de Crescimento Médio Anual dos Fogos no Reino e na Diocese do Porto 1527-1801

REINO DIOCESE PORTO

1527-1706 0,418 0.59% 1706-1732 -0.20%" 0.19% 1732-1801 0,467~ ** 0.63% 1732-1776% 0.58%** 0.72% 1776-1801* 0.24%

**

0.27% 1527-1801 0.36% 0.54%

S o b r e esta cronologia na Diaceie do Paiio ver texto ** Fonie: J. Vic. Senso. 1993.

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I CONORESSO SOBRE A DIOCESE DO PORTO

o do século XVII, contrariando mais uma vez, neste caso, a triste história do sé- culo das depressões. Uma das comarcas, a da Feira, merece particular atenção. Aliás, já o trabalho de I. Amorim sobre a Provedoria de Aveiro que abarcava parte destas freguesias (Amorim, I., 1997), salientava este aspecto de crescimento acen- tuado e, claro, sobretudo das terras litorais. Só esta comarca ultrapassa no tempo mais longo de 1527 a 1801 as taxas de crescimento da cidade. Trata-se da comarca onde a relação espaço 1 população é a mais equilibrada: 34% da população da diocese em 1801 em 36% do espaço. Em 1527, a relação era de 15% para 36%! Sobretâmega, que de 1527 a 1623 parecia prometer uma evolução significativa e aumenta de 14% para 22% a sua quota parte da população da diocese (ocupa 20% do espaço), perde depois de 1687 o fôlego. Penafiel atinge o máximo de expressão dentro da diocese em 1732, para não recuperar até ao final do século o lugar ocupado na época anterior. O que toma menos evidentes todos os argumentos em tomo do peso demográfico que nas discussões sobre a criação e extinção da diocese de Penafiel se fizeram ouvir.

Quadro 4 - Peso das Comarcas na Diocese (habitantes %)

1801 1795 1787 1732 1687 1623 1527 CIDADE 14 14 18 i 1 I1 14 10 MAIA 14 15 14 15 16 18 14 PENAFIEL 22 23 21 26 25 25 18 SOBRETÃMEGA 16 16 16 16 17 22 14 FEIRA 34 32* 32 31 32 22 I5

* A fonle é omissa: valor de 1787.

Perspectivado por outra escrita, a da cartografia, o crescimento traduzido nas taxas médias pode ganhar outra interpretação. As mudanças e permanências tor- nam-se mais nítidas porque deixam de ser artificialmente aglomeradas ou dividi- das por fronteiras administrativo-religiosas como as comarcas. Estas, embora tenham uma identidade e realidade própria, podem desfigurar a interpretação da evolução da população. Nos mapas 1 a 3 os cortes cronológicos correspondem não só à questão da qualidade das fontes, como também às leituras que os quadros já acima comentados permitem. É evidente que freguesias com níveis já altos de população têm, dentro da lógica do sistema demográfico antigo, de crescer lenta-

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mente, se as suas características não se modificarem. Azurara, por exemplo, que cresce ao longo de todo o período perde em termos de taxas d e crescimento a sua projecção como freguesia de tamanho e densidade apreciável. A não ser que tivesse sido anexada ou anexasse outras para se transformar em território urbano e mudasse as suas funções é pouco provável que pudesse continuar a crescer ainda muito mais depois do século XVI. Os constrangimentos, os travões positivos e' preventivos da linguagem malthusiana, impedem-na de tal. Assim as manchas detectadas nos mapas 1 a 3 devem entender-se a partir do conhecimento da população inicial.

Maior variação de comportamentos entre 1623 e 1687 do que após esta data até 1801. As taxas variam entre um crescimento negativo de -1,42% e um crescimento vertiginoso de 3,82%. No segundo período essa variação acontece entre os -O,84% e os 2,21%. O crescimento negativo num número limitado de freguesias (11.5%) no primeiro período baixa para os 3,4470 no segundo. As freguesias que não crescem até 1687 concentram-se no lado mais oriental da diocese, de Baião até ao Mario, e algumas poucas no litoral, mas com muito menor expressão. Cerca de metade das freguesias apresentam entre 1623 e 1687 taxas de crescimento que ultrapassam os OS%. No período seguinte não chega a um terço as que conseguem evidenciar esse crescimento. As zonas das freguesias de maior superfície, tanto na comarca de Sobre- tâmega como na Feira, mas também no território de fronteira entre Penafiel e a Maia, apresentam ao longo de todo o período a persistência em taxas mais altas.

A

distribuição da população

Cruzando os mapas 1 a 3 com os da distribuição da populaçáo tomam-se mais claros alguns destes comportamentos. Os mapas 4 e 5 pretenderam descrever a dis- tribuição da populaçáo no território, tentando reduzir os inconvenientes da represen- tação de densidades por área de freguesia e retratar a descontinuidade da população. O mapa de pontos podia responder a estes objectivos e tinha ainda a vantagem de sugerir correlações. No mapa de pontos cada freguesia fica individualizada por um número de pontos isolados. Não tendo como base uma carta topográfica e corográfica a atribuição dos pontos no espaço da freguesia é errónea. Pareceu, contudo, não ser de evitar este método pelos ganhos de leitura que trazia. A distribuição aleatória dos pontos de povoamento, que só se deve ao acaso informático, na escala de publica- ção, não parece ser perigosa. A mancha geral que é desenhada parece permitir lei- turas que o mapa por densidades esconde ou torna mais difíceis ao utilizar n i o os

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I CONGRESSO SOBRE A DIOCESE DO PORTO

números absolutos mas médias diluídas em classes. O que interessava fazer sobres- sair nesta interpretação gráfica era realmente a continuidade ou não do povoamento e as grandes constantes ao longo do período em análise. Fica clara a falha de popu- lação ao longo da faixa de cristas de quartzitos que corre desde o rio Ave, próximo de Sto. Tirso, até sul do Douro em direcção NSE, e abrange as freguesias depressivas demograficamedte (Melres, Sobreira, Recarei, Aguiar de Sousa, Águalonga, Covelas), apesar da sua proximidade ao Porto. Situação que se detecta em 1623, em 1687 e em 1801. E quc, como muitoclaramente mostram os mapas da população de 1940 (Ribeiro, 1951) e o de 1981 (Dias, 1991), persiste até aos nossos dias. Suzanne Daveau sugere uma interpretação: a falha na região é correlativa aos "solos pobres das cristas xisto-quartzíticas das Serras de Valongo" (Daveau, 1989, p. 810). Mesmo o mapa da densidade da população por concelhos sobre os dados da Corografia do P.' Carvalho da Costa (Hespanha, 1986, p. 109), apesar de tão pouco legível, indica esta falha. Ou seja, nem os homens e as condições económicas dos séculos XVII e XVIII, nem os do século XX com as transformações radicais parecem conseguir ultrapassar a natureza.

A zona ainda desértica de 1623 no litoral a sul do Douro transforma-se radicalmente até 1801. Mais do que nas freguesias da orla marítima é nas fregue- sias imediatamente vizinhas a estas que a população se avoluma. Trata-se clara- mente de uma zona de povoamento recente, como aliás já sugerira e depois con- firmara I. Amorim (1997 e 1998).

A mancha em tomo da cidade do Porto adensa-se consideravelmente entre 1623 e 1801, mais precisamente entre 1732 e 1801, mas sobretudo na direcção do interior, Campanhã, Gondomar, Rio Tinto e a sul do Douro, Sta. Marinha. A liga- ção a Matosinhos e Leça da Palmeira, principal centro a NW, que em 1623 ainda era fortemente cortada pela rara população de Nevogilde e Ramalde, parece mais prometedora em 1801, se bem que se adivinhe um concorrente um pouco mais a sul, a Foz do Douro.

De Sta. Marinha do Zêzere à Régua, nas freguesias que bordejam o rio, cres- ce a população em claro contraste com todo o território que se situa entre a cidade de Penafiel e o extremo da diocese.

Estrutura

da população

Apesar das fontes serem parcas em informação é possível fazer a tentativa de entender esta população do ponto de vista da sua estrutura. Traçando, eviden-

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temente, apenas a linha divisória entre os maiores de sacramento e os menores, ou seja, entre os que se confessavam e comungavam e os que só se confessavam. O quadro 5 resume essa informação mas carece de alguns esclarecimentos. Não sendo claro quem é que Villas-Boas enumera nas colunas denominadas "menores de 14 anos", e em 1623 e 1687 não indo a diferenciação além do grupo etário 7 aos 14(12) anos e maiores de 14(12) anos, foi necessário reduzir todas as fontes a esta divisão. Isso obrigaria a transformar os dados de 1801. O censo usa uma divisão etária muito particular: do 1 aos 7 anos e dos 7 aos 25 anos. Não existindo em pormenor os dados para o Porto no censo de 1802, que segue uma distribuição etária mais precisa, resta utilizar como modelo os dados de 1890 para o Porto ou os de 1820 para o Reino. Tal operação ultrapassa o âmbito deste trabalho, isto é,

uma primeira abordagem da população da diocese. Por essa razão os menores de 1801 no quadro 5 são simplesmente os menores de 7 anos.

Quadro 5 - Relação Menores/População

1623 1687 1795 1801

N %me" N %me" N Bmen N %me"

CIDADE 16086 10,l 18440 10,2 40191 10,9 44511 14,l MAIA 21014 15,8 28027 15,6 41766 24,4 45321 15,4 PENAFIEL 29256 17,7 44165 15,4 66965 24,4 69962 16,O SOBRETÂMEGA 25817 16,3 29335 14,2 29593* 20,5* 49060 15,s FEIRA 26701 19,9 55539 18.3 106674 16,6 DIOCESE 118876 16,s 175506 15,6 148922 24,s 315528 15,8 * Dados incompletos.

Sobre o significado de mcnor ver reno.

Torna-se evidente a persistência das relações em torno dos 16% de 1623 a 1801. Só 1795 destoa um pouco deste panorama. As percentagens em 1795 pare- cem confirmar a hipótese de Villas-Boas ter realmente recolhido os dados sobre os menores entre os O e os 14 anos. Pelo menos em grande parte do território. A cidade por sua vez, ou tem uma população bastante velha ou as fontes de que se serviu Villas-Boas não são da mesma qualidade.

As percentagens de menores de 15 anos em populações estáveis com uma esperança de vida à nascença de 30 anos e TBM entre os 33 e 3 4 % ~ conjugadas

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I CONGRESSO SOBRE A DIOCESE DO PORTO

com TBN entre os 21 e 33%0 situam-se entre os 2 0 , 7 4 7 ~ e os 29,92%. A taxa de crescimento anda entre os -13 e os 0,5170. Mesmo alterando a esperança de vida à nascença para os 35 anos e baixando as TBM e TBN para os 28%0 e 2j%o, ou seja, para taxas de crescimento entre os -3 a 1,3%, a parte dos menores de 15 anos é de 25,49% a 28,63% (Coale; Demeney, 1983). O grupo etário anterior situa-se entre os 9% e os 11%.

Por outras palavras, significa isto que as populações que Villas-Boas recenseia em 1795 cabem, ou pelo menos aproximam-se dos valores encontrados em outras sociedades. Só a cidade tem um valor demasiadamente baixo. O valor de 1801 para os menores de 7 anos talvez possa servir de guia para os dados de 1795 na cidade. Somando os dois valores a relação dos menores de 15 anos com o total da população passa a ter um aspecto mais conforme às condicionantes em que esta população vive. Por outro lado, os dados de I801 revelam nas tábuas de populações estáveis, conhe- cidas que são as TBN e TBM para essa data, uma população exageradamente jovem, com um peso etário do primeiro grupo muito forte. Mas talvez o problema seja o da qualidade dos dados que permite calcular as TBM e TBN.

Dentro da diocese há situações diferenciadas. A Feira que, como se conclui dos mapas e quadros anteriores, está em pleno crescimento durante todo o período, apresenta uma população com um grupo base mais alargado que outras comarcas. O crescimento parece pois não se fazer aqui s ó pela via da mobilidade de gentes que afluem a este território, mas também pela capacidade de reprodu~ão própria. Na cidade a situação é de 1623 a 1687 problemática. O grupo dos 7 aos 14 ou foi dizimado drasticamente ou há um movimento d e saída para outros lugares nestas idades. Hipóteses que não cabe aqui testar e desenvolver.

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I CONORESSO SOBRE A DIOCESE DO PORTO

Mapa 1 -Taxas crescimento anual (%) 1623-1801

D -0.60 - 0.00

!x

0.01 -0.25 0.26 - 0.35 UI 0.36 - OS0

m

0.51 - 1.00 l.Ol-1.65

0

E/ inf FONTE: Cunha, 1621: C r i w . 180)

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HELENA DSSWALD

Mapa 2 -Taxas crescimento anual (%) 1623-1687

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I CONGRESSO SOBRE A DLOCESE DO PORTO

Mapa 3 -Taxas crescimento anual (%) 1687-1801

Referências

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