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O limite das horas de trabalho nas fabricas

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Academic year: 2021

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(1)

DAS

Horas de trabalho nas fabricas

■$9(4

(2)

O LIMITE

D A S

HORAS DE TRABALHO

N A S

FABRICAS

D I S S E R T A Ç Ã O INAUGURAL

APRESENTADA k

Escola Medico-Cirurgica. do Porto

PORTO

TYPOGRAPHIA OCCIDENTAL 66, Rua da Fabrica, 66

(3)

CONSELHEIRO-DIRECTOR

VISCONDE DE OLIVEIRA

SECRETARIO

R I C A R D O D ' A L M E I D A JORGE

CORPO D O C E N T E Professores proprietários i.a Cadeira—Anatomia descriptiva

e geral • • • • • ■ • João Pereira Dias Lebre.

2.' Cadeira—Physiologia . . . Vicente Urbino de Freitas.

?.a Cadeira—Historia natural dos

medicamentos e materia me­

dica Dr. José Carios Lopes. 4­a Cadeira—Pathologia externa e

therapeutica externa . . . Antonio Joaquim de Moraes Caldas. 5." Cadeira—Medicina operatória. Pedro Augusto Dias.

o.a Cadeira—Partos, doenças das

mulheres de parto e dos re­

cem­nascidos Dr. Agostinho Antonio do Souto. 7»a Cadeira—Pathologia interna e

therapeutica interna . . . Antonio d'Oliveira Monteiro. 8.a Cadeira—Clinica medica . . Antonio d'Azevedo Maia.

9.a Cadeira—Clinica cirúrgica . Eduardo Pereira Pimenta.

io.a Cadeira—Anatomia pathologi­

ca • • • • . « • . • Augusto Henrique d'Almeida Brandão. I !.a Cadeira—Medicina legal, hy­

giene privada e publica e to­

xicologia Manoel Rodrigues da Silva Pinto. I2.a Cadeira—Pathologia geral se­

meiologia o historia medica. Illidio Ayres Pereira do Valle. Pharmacia Isidoro da Fonseca Moura.

Professores jubilados

Secção medica \ \oi° $**>« d'Oliveira Barros. | José d Andrade Gramacho. Secção cirúrgica Visconde de Oliveira.

Professores substitutos

Secção medica j Antonio Placido da Costa.

I Maximiano A. d'Oliveira^Lemos Junior. Secção cirúrgica j Ricardo d'Almeida Jorge.

| Cândido Augusto Correia de Pinho.

Demonstrador de Anatomia

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(5)

D. MANOEL MARTINS ALVES NOVAES

DEÃO DA SÉ DE BRAGA

Ao 111.- e Ex." Snr.

LUIZ MARIA DA SILVA RAMOS

MEDICO-CIRURG1ÃO

(6)

AD&DSTO HENRIQUE D'AHEIDA BRA1Ã0

(7)

José ZMaria Teixeira de Queiro^ 1)elloso

Aos meus queridos amigos

José João de 'Brito Furtado íMendonça José de çAzevedo Z)asquinho

Samuel (Maria dos Santos 'Pacheco (Manoel Correia Lopes Barrigas Julio de Carvalho Z)asques João Baptista (Meirelles Leão José Joaquim íMartins da Silva

(8)

O ILL.™ E EX."° SNR.

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(10)

cavallos-vapor, quer dizer, um augmento de força

mecânica equivalente á de um milhão de

operá-rios.

Em presença d'esté prodigioso augmento de

forças mecânicas, que tem muitas vezes

centupli-cado as necessidades do consummo diário, parece

natural diminuir-se o tempo de trabalho do

operá-rio e, sobre tudo, das creanças e adolescentes, para

lhes permitlir a sua inslrucção, aperfeiçoarem-se

nas artes e nas sciencias, e emfim, como

consequên-cia, augmentarem o seu bem-eslar de todos os

mo-dos. Mas não se dá isto: as creanças, os

adoles-centes c os operários adultos são sobrecarregados

por uma prolongaçâo excessiva do dia áe trabalho

em certos paizes ; e n'oulros, os operários de todas

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nações hesitam em reduzir a duração do dia de

trabalho, temendo a concorrência universal,

ape-zar de, com o machinismo moderno, a experiência

ter sobejamente demonstrado serem os paizes, em

que o dia de trabalho é mais curto, ar/uelles que

attingem o máximo da produclabilidade ; são

tam-bém estes paizes os que produzem nas melhores

condições de preço, os mais prósperos, e os

con-correntes mais temiveis nos mercados do mundo.»

(Discurso de V. Dalahaye, delegado do governo francez na Conferencia In-ternacional de Berlim, relativa ao regu-lamento do trabalho nos estabelecimen-tos industriaes e nas minas— annexo ao protocollo n.° 5 da mesma Conferencia).

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No 1.° de maio d'este anno, o operariado do mun-do inteiro reclamou, como limite para o dia de tra-balho, — 8 horas.

No Porto, também a manifestação foi imponente. Mais de 12:000 operários vi eu reunidos em comício, protestando pacificamente contra o excessivo trabalho a que os obrigam, e confesso que esta grande reu-nião me impressionou dolorosamente, inspirando-me toda a sympathia pela sua causa.

O que elles pediam, hoje, como hontem, como ha um século já, era uma diminuição, uma delimitação das horas de trabalho ; e, na sua estatura diminuta, na sua magreza, no rachitismo de muitos, no macilento de todas as faces, na pouca limpeza dos seus vestuá-rios andrajosos, se reconhecia a justiça da sua petição.

Toda uma classe de victimas escravisadas pelo capital alli estava, paciente e ignorante, pedindo, tal-vez sem fé de serem attendid is, o que é uma neces-sidade que se faça não só para bem d'elles, mas por utilidade da nação, por utilidade do próprio indus-trial.

Sim, porque é preciso que se saiba, como mais adeante creio provar á evidencia, que longe de dimi-nuir, a producção augmenta, se o operário não soffrer

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um trabalho excessivo, que dia a dia o vae definhan-do até o inutilisar.

Os operários pediam 8 horas de trabalho; mas eu creio bem que formulavam esta reclamação apenas como um grito de protesto. Ainda não ha muitos an-nos, em 4884, desejavam elles não o limite de 8, mas de 10 horas.

Era de 10 horas o limite do dia de trabalho de que fallavam então os operários das fabricas de teci-dos de Lyon a uma commissão de inquérito de que foi presidente Floquet e relator o naturalista Lanes-san.

E' verdade que, n'esta mesma epocha, os mineiros de Saint-Etienne pediam já o limite de 8 horas, mas 8 horas de trabalho consecutivo — pedido que, satis-feito, não livraria o operário de uma morte próxi-ma, porque, segundo affirmavam os membros d'esse inquérito, se não pôde resistir a 8 horas de trabalho em certas galerias mineiras.

Se cito factos n'este logar, é para tornar bem claro que, n'esta questão, os interessados estão ainda longe de a poder considerar com todo o cuidado que ella deve merecer.

Sem ser um decidido socialista, penso que a so-ciedade tem o direito de limitar o numero de horas de trabalho, e que este direito lhe deriva da necessi-dade que tem de proteger as forças physicas e intel-lectuaes dos indivíduos condemnados pela sorte ao exercício de certas profissões.

Mas é necessário 1er ern conta, n'esta regulamen-tação, uma série de circumstancias, da qual, não pa-rece preoccupar-se bastante, a maior parte dos que faliam.

E' preciso ter em conta a natureza da profissão. E' evidente que um mergulhador e um cabelleireiro, um vendedor ambulante e um typographo, não

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de-vem, sob este ponto de vista, ser tractados do mesmo modo. Entre os mergulhadores mesmo, por exemplo, è preciso distinguir os escaphandreiros, os mergulha-dores propriamente ditos, e os operários que se en-carregam de construir as bases dos pilares das pontes.

E' preciso também, se a natureza da industria o permittir ao operário, ter em conta as necessidades do trabalho, as condições de producção, e outras cir-cumstancias independentes da vontade do operário e do patrão.

Será possível, por exemplo, obrigar o lavrador a limitar o seu trabalho a 8 horas quando uma chuva, cahida durante o descanço obrigatório, o arriscasse a perder o seu trigo ou a sua vinha?

A industria não tem em muitos dos seus ramos necessidades análogas? Se eu sou, portanto, partidá-rio da limitação legal das horas de trabalho, é sob a condição de que essa lei abranja unicamente o tra-balho das fabricas e outras poucas industrias, não todas as profissões e todos os operários.

Escolhendo este ponto melindroso para objecto da minha these de formatura em medicina, que o es-clarecido jury me desculpe a escacez dos conhecimen-tos e da intelligencia, lembrando-se que escrevi isto animado unicamente pelo desejo que tenho de cha-mar para este assumpto, tão difficil de resolver, a boa vontade de outros de maior competência.

Alguma coisa de util se tem feito lá fora n'este sentido. Pois bem, que n'este paiz—ao menos n'isto, por excepção 1 — o poder legislativo mostre um dia a sua utilidade...

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Deve-se começar pelo principio. Portanto, antes de mais nada, cumpre-nos conhecer o estado da le-gislação sobre o dia normal de trabalho, nos diffé-rentes paizes industriaes da Europa. Il-os-emos, pois, passando successivamente em revista :

Inglaterra (x)

O estabelecimento de um dia de trabalho normal, n'este paiz, é o resultado de uma lucta de muitos sé-culos entre o capitalista e o operário. Todavia a his-toria d'esta lucta apresenta duas correntes oppostas. Compare-se, por exemplo, a legislação manufactu-reira ingleza de hoje com os estatutos do trabalho

(i) A Inglaterra figura aqui em primeiro logar — ella que em tantas cousas, deve figurar sempre no ultimo ! — por ser o paiz clássico da producção capitalista, por ser emfim a única nação que possue uma historia continua e official da materia de que se trata.

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na Inglaterra, desde o século xiv até 1813, legislação que foi seguida na França, na Hollanda e n'outros paizes da Europa. Emqnanto a legislação moderna vae diminuindo obrigatoriamente o dia de trabalho, os antigos estatutos prestavam-se facilmente ao con-trario.

O primeiro Statute of Labourers (Eduardo m, 1349) encontrou o seu pretexto immediato — não a sua causa, porque a legislação d'esté género durou sé-culos, depois que o pretexto desappareceu —na gran-de peste que dizimou a população, a tal ponto que, segundo a expressão de um escriptor lory, « a diffi-culdade de procurar operários a preços rasoaveis (quer dizer a preços que deixassem aos industriaes um lucro rasoavel do trabalho), se tornou na realida-de insupportavel. O mesmo escriptor, no seu livro

So-phisms of Free Trade (1 edit. Lond. 1850, pag. 205),

accrescenta: «os actos do Parlamento sobre a regu-lamentação dos salários, feitos contra os operários a favor dos que os exploram, duraram o longo periodo de464annos. A população augmentou. Estas leis tor-naram-se, pois, supérfluas e importunas». Por con-sequência esta lei encarregou-se de dictar salários ra-soaveis, assim como do limite do dia de trabalho. Este ultimo ponto, que é o único que nos interessa n'este trabalho, foi reproduzido no estatuto de 1496 (reinado de Henrique vm). O dia de trabalho para todos os operários e trabalhadores agrícolas, de março a setembro, devia então durar, o que todavia nunca foi posto em execução, das 5 horas da ma-nhã às 7 horas e 8 da noute ; mas as horas das re-feições comprehendiam 1 hora para o almoço, hora e meia para o jantar, e meia para merenda, depois das quatro horas da tarde : quer dizer, precisamente o duplo do tempo fixado pelo Factory Act de 1850, hoje em vigor. No inverno, o trabalho devia começar

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às 5 horas da manhã e terminar ao crepúsculo da tarde com as mesmas interrupções.

Um estatuto de Isabel (1562) para todos os ope-rários «alugados por dia ou por semana», deixa in-tacta a duração do dia de trabalho, mas procura re-duzir os intervallos a 2 horas e meia para o verão e 2 horas para o inverno.

O jantar não devia durar mais que uma hora, e «o somno de hora e meia depois do meio dia» não devia ser permittido senão do meado de maio ao meado de agosto. Por cada hora de ausência, dedu* zir-se-ia no salário um decimo.

Depois que a classe operaria, opprimida pela lucta da producçâo, conheceu bem esta lei, a sua resistên-cia manifestou se logo no próprio paiz em que se implantava a grande industria, quer dizer na Ingla-terra. Mas durante trinta annos as concessões que obteve foram puramente nominaes.

De 1802 a 1833, o parlamento de-retou três leis sobre o trabalho, mas teve o cuidado de não votar nem um real para a execução d'essas leis, de modo que foram sempre lettra morta.

E' só a partir do Factory A cl de 1833, applicado ás manufacturas do algodão,-da seda,.do linho, e da lã, que na industria moderna se põe em execu-ção o dia de trabalho normal.

A lei de 1833 declara «que o dia de trabalho or-dinário, nas fabricas, deve começar ás 5 Va da ma-nhã e acabar ás 8 % da noute. Entre estes limites, um período de 15 horas, é legal empregar adoles-centes, (quer dizer rapazes entre 13 e 18 annos), não importa que parle do dia; mas é sub-entendido que individualmente nenhuma pessoa d'esta cathe-goria deve trabalhar mais que 12 horas, á excepção de certos casos especiaes e previstos». O 6.° artigo d'esta lei dá a cada adolescente, do qual o tempo de

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trabalho é limitado, uma hora e meia, pelo menos, para as refeições.

O trabalho das creanças, interdicto para os me-nores de 9 annos, d'essa edade até aos 13, foi limi-tado a 8 horas por dia. O trabalho nocturno, quer dizer o trabalho —segundo esta lei —das 8 Va da noute até ás 5 Va da manhã, foi interdicto para todos os menores de 18 annos.

O espirito do legislador, fazendo estas leis, foi o não tocar na liberdade do capital, na sua exploração do trabalho adulto, creando por esta razão um sys-thema particular para prevenir as consequências ter-ríveis a que podia dar logar, neste sentido, o

Fa-ctory Act.

Ò maior vicio do systhema das fabricas, assim organisado — dil-o a primeira relação do Conselho central da commissão de 25 de junho de 1833 —foi a necessidade de medir o dia de trabalho das creanças do mesmo modo que o dos adultos.

Para corrigir este vicio, sem diminuir o trabalho dos adultos, o que produziria um mal maior do que o que tractavam de prevenir, o melhor plano que se lhes offerecia era empregar uma serie dupla de crean-ças. Com o nome de systhema de RELAYS (system of

relays): esta palavra designa em inglez a muda dos

cavados de posta em différentes estações), este plano foi pois executado, de modo que das 5 Va horas até á

i Va da tarde uma serie de creanças fosse atrelada

ao trabalho, e uma outra serie viesse da 1 Va à s

8 Va da noule, e assim constantemente.

Para impedir os fabricantes de serem surprehen-didos d'ura modo inesperado por todas as leis pro-mulgadas n'esses últimos annos, o parlamento julgou-se obrigado a dourar-lhes a pilula, e decretou então que depois do 1 ..• de março de 1834 nenhuma crean-ça menor de 11 annos, depois do 1.° de março de

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1835 nenhuma creança menor de 12 annos, e depois do l.° de março de 1886 nenhuma creança menor de 13 annos deveria trabalhar mais do que 8 horas nas fabricas.

Este «liberalismo», tão cheio de attenções para com o capitalista, deveria merecer o seu reconheci-mento, visto os drs. Farre, Carliste, C. Bell, M. Gu-thrie, etc., n'uma palavra os primeiros homens de medicina de Londres, terem declarado nos seus de-poimentos, como testemunhas deante da camará dos communs, que toda a demora era um perigo. O dr. Farre exprimiu se ainda de um modo mais brutal: «é preciso uma legislação, dizia elle, para impedir que a morte possa ser infligida prematuramente, sob não importa que forma, e esta de que falíamos e que está hoje em moda nas fabricas, deve ser considerada como um dos methodos mais cruéis de a infligir í,1)».

E foi este mesmo parlamento que, por ternura para com os fabricantes, condemnava, por muitos annos ainda, as creanças menores de 13 annos a 72 horas de trabalho por semana no inferno da fabrica, foi este mesmo parlamento aquelle que, no acto da eman-cipação dos negros, prohibia terminantemente aos plantadores o obrigarem a trabalhar os seus escravos, nas colónias, mais de 45 horas por semana ! (2)

Estas disposições não soffreram modificação ne-nhuma até 1844, em que appareceu o addicional de 7 de junho ao Factory Act, que entrou em vigor a 10 de setembro do mesmo anno. Protegia-se então, (i) «Legislation is equally necessary for the prevention of death, in any form in which it can be prematurely inflicted, and certainly this must be viewed as a most mode, of inflicting it».

(2) Por semana dizem as leis da emancipação. Naturalmente, porém, todo o inglez plantador, todo o bom inglez as faria exe-cutar mandando trabalhar, se podesse, as 45 horas por dia...

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pela primeira vez, uma nova cathegoria de operários, as mulheres. Estas foram egualadas aos adolescen-tes, sendo o seu tempo de trabalho limitado a 12 noras, e mterdizendo-se-lhes o trabalho da noute. O trabalho das ereanças, menores de 13 annos, foi re-duzido a 6 y3 horas por dia e, em certos casos, a 7

horas, permiltindo, porém, o empregal-as durante 10 horas, quando, em logar de trabalharem todos os dias, trabalhassem somente 1 de 2 em 2. Em geral esta clausula ficou sem effeito.

Uma das consequências mais immedialas foi que, na prática, o dia de trabalho do operário adulto foi pela mesma lei indirectamente limitado, porque, na maior parte dos trabalhos da grande industria, a cooperação das ereanças, dos adolescentes e das mulheres é indispensável. O dia de trabalho de 12 horas ficou pois em vigor geralmente e uniforme-mente, durante o periodo de 1844 a 1847, em todas as fabricas submettidas á legislação manufactureira.

Os annos de 1846-1847 fazem epocha na histo-ria económica da Inglaterra. Annullou-se então a lei dos cereaes, aboliram-se os direitos de entrada so-bre o algodão e outras matérias primas, e procla-mou-se o livre cambio como guia da legislação com-mercial. Por outro lado, a agitação operaria, que re-clamava 10 horas de trabalho, attingiu o seu máximo e, não obstante a grande resistência com que este movimento teve de luetar, o bill das 10 horas de trabalho, objecto de tanta lueta, foi adoptado pelo parlamento inglez.

A nova lei sobre as fabricas, de 8 de junho de 1847, dizia que, desde o 1 ° de julho do mesmo anno, o dia de trabalho seria antes de tudo reduzido a 11 horas para os adolescentes (de 13 a 18 annos) e para todas as operarias, mas que no 1.° de maio de 1848 teria logar a limitação definitiva a 10 horas para o

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resto dos operários, o que não era mais que uma consequência favorável das leis de 1833 e 1844.

0 capital emprehendeu então uma campanha pre-liminar, cujo fim era impedir que se pozesse em prá-tica a lei, no dia 1 de maio de 1848. Eram os pró-prios operários que deviam, segundo o plano dos patrões, servirem de auxiliares para a destruição da sua propria obra. 0 momento era habilmente esco-lhido. «Devemos lembrar-nos que, como consequência da crise terrível de 1846-1847, havia uma profunda miséria, em resultado da qual um grande numero de fabricas tinham diminuído o trabalho, emquanto ou-tras tinham completamente suspendido. Muitos ope-rários viviam então difficilmente e cheios de dividas. Havia pois toda a probabilidade de que acceitassem voluntariamente maior carga de trabalho, para assim repararem os seus prejuízos passados, substituírem os seus objectos vendidos ou empenhados, pagarem as suas dividas, comprarem novos fatos para elles e para a sua família, etc. » (r)

Os fabricantes procuraram, portanto, tirar o ef-feito natural d'estas circumstancias, abaixando, de uma maneira geral, 10 % no salário. Era para pa-gar o advento da era livre-cambista !

Uma segunda baixa de 8 % % se fez então quan-do se deu reducção provisória quan-do dia a 11 horas de trabalho, e uma terceira de 15 % quando o dia desceu definitivamente a 10 horas. Em toda a parte, onde as circumstancias o permittiram, os salários foram reduzidos, pelo menos, 25 %•

N'estas desgraçadas circumstancias, começou a semear-se a agitação entre os operários, pela

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gação indirecta da lei de 1847. Nenhum dos meios que pôde fornecer a mentira, a ameaça e a seduc-ção foi despregado: mas tudo foi inutil, como ve-remos.

A revolta do capital, depois de ter durado dous annos, foi emfim coroada pela decisão de um dos quatro Supremos Tribunaes da Inglaterra, o tribu-nal de Echiquier. A propósito de um caso que lhe foi apresentado em 8 de fevereiro de 1850, este tri-bunal decidiu que os fabricantes podessem ir contra o sentido da lei de 1844, visto essa lei conter certas palavras que a tornavam absurda. Em resultado d'es-ta decisão, a lei das 10 horas ficou, na realidade, abolida. Mas o triumpho do capital, em apparencia definitivo, foi seguido immediatamente de tão grande reacção que deu logar á lei addicional sobre as fa-bricas, e ao Factory Acl de 1850.

Foi esta lei que converteu exclusivamente para os adolescentes e para as mulheres, o período de 15 horas, desde as 5 Va da manhã até ás 8 % da Dou-te, em um período cie 12 horas, das 6 da manhã até ás 6 da tarde.

O Factory Acl (lei das fabricas) de 1850, até hoje em vigor, determina que o dia medio seja de 10 horas —12 horas para os 5 primeiros dias da sema-na, 6 horas de manhã e 6 horas de tarde, das quaes são tiradas legalmente meia hora para o almoço e uma hora para o jantar, de modo que ficam 10 horas e meia de trabalho, — e de 8 horas para o sexto dia util, o sabbado, 6 horas de manhã e 2 depois do meio dia, sendo d'estas 8 horas deduzida meia hora para o almoço. Ficam, pois, 60 horas de trabalho, 10 ho-ras e meia para os 5 primeiros dias da semana, e 7 horas e meia para o ultimo.

Para fazer observar esta lei nomeou o estado fun-cionários especiaes, os inspectores de fabrica,

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dire-clamente subordinados ao ministério do interior, com a obrigação de fazerem relatórios que, por ordem do parlamento, são publicados lodos os seis mezes (»).

Fazendo isto, uma fabrica obriga as outras a fa-zel-o, visto que só d'esté modo podem apresentar os seus productos pelo mesmo preço, no mercado.

Vejamos agora o que se passa nos outros ramos da industria em que a exploração do trabalho ain-da não é embaraçaain-da pelas leis do estado.

. M. Broughton, magistrado em Nothinghan

deda-is) Para vêr como o capitalista naturalmente trata de ob-servar a lei das fabricas, publicaremos aqui parte de um d esses

relatórios :

«0 pérfido fabricante faz começar o trabalho cerca de quinze minutos pouco mais ou menos, antes das 6 horas da manhã, e falo terminar quinze minutos approximadamente depois das 6 horas da tarde. Tira 5 minutos no começo e no fim da meia hora concedida para o almoço, e 10 minutos no começo e fim da hora concedida para o jantar. No sabbado faz trabalhar a mais quinze, minutos depois das duas boras do trabalho da tar-de. Temos pois em seu beneficio :

Antes das 6 horas da manhã 15 m. \

Depois das 6 horas da tarde 15 m. i S o m m a em 5

Na meia hora do almoço.. lOm.t d i a s :

Na hora do jantar SO m. í 300 minutos 60 m. ]

NO SABBADO Antes das 6 horas da manhã 15 m. \

Na meia hora de almoço 10 m. / Lucro de toda Depois das 2 horas do trabalho da tarde 15 m. \ a semana:

\ 340 minutos

40 m. /

ou 5 horas e 40 minutos, o que, multiplicado por 50 semanas de trabalho, deducção de duas semanas para dias de festa e algu-mas interrupções accidentaes, dá 27 dias de trabalho». «M. L. Honner, inspector of Factories» no Factory Regulation act,

or-dered by the House of Commons to be printed, 9 août 1859 p.

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rava, por exemplo, como presidente de um meeting, alli realisado em 14 de janeiro de 1860, que rei-nava na parte da população da cidade, occupada em fabricar rendas, um grau de miséria, de privações e de nudez, desconhecidas no resto do mundo civili-sado...

A's 2, 3 e 4 horas da manhã, creanças de 9 para 10 annos são arrancadas dos seus leitos immundos e forçadas a trabalhar, para a sua simples subsistên-cia, até ás 10, 11 e 12 horas da noute. A magresa redul-as a esqueletos, não crescem, as linhas do rosto apagam-se, e toda a sua figura apresenta um aspecto que confrange dolorosamente.

D'este meeting diz Karl Marx : Que se deve pen-sar de uma cidade que organisa um meeting para. pedir que o tempo de trabalho quotidiano para o adulto seja reduzido a 18 horas ? l . . .

Referindo-se á industria da olaria, odr. Greenhow declara que nos districtos de Sloke-Upon-Trent e de Wolstanton a vida é extraordinariamente curta. Posto que não haja empregados como oleiros, no districto de Stoke, mais de 30,6 por cento, e no de Wolstan-ton mais de 30,1 por cento da população masculina acima de 20 annos, mais de metade dos casos de mor-te, causados por doenças de peito, contam-se nos operários do primeiro districto e cerca de 2/B nos do

segundo.

Odr. Boothroyd, medico em Hanley,affirma, pelo seu lado, que «cada geração nova de operários d'esta industria é mais pequena e mais fraca que a prece-dente». Do mesmo modo um outro medico, M. Mac Bean, diz: «Ha 25 annos que exerço a minha profis-são nas olarias, e a degeneração d'esta classe mani-fse evidentemente pela diminuição da sua esta-tura e peso do seu corpo».

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saúde de North Staffordshire, escreveu a respeito dos operários d'esta industria : «Como classe, os operá-rios—tanto os homens, como as mulheres —represen-tam uma população degenerada moral e physicamen-te. São em geral de pequena estatura, malfeitos e deformados do thorax. Envelhecem depressa e vivem pouco tempo; phlegmaticos e anemicos, revelam a fraqueza da sua constituição por ataques pertinazes de dyspepsia, encommodos de fígado e rins, e rheu-matismo. São muilissimo subjeitos ás doenças de peito, pneumonia, phthysica, bronchite e asthma. A scrophulose é também a doença de mais de 2/3 áos

operários d'esta industria».

Da industria dos phosphoros e tapessarias, dos fa-bricantes de pão, aço, etc., etc., poderíamos também apresentar relatórios medicos horrivelmente interes-santes. O que não impede o capitalista, como diz Karl Marx no seu explendido livro, O capital, de á noute, tarde e a más horas, sahir do seu club igno-bilmente bêbado com vinho do Porto, e cantando como um idiota:

Britons never, never shall be slaves!

Este resumo histórico da legislação ingleza, re-lativa ao seu trabalho industrial, mostra-nos clara-mente a situação do operário n'aquelle paiz.

Allemanha

O dia de trabalho do operário allemão é excessi* vãmente grande. Geralmente não trabalham menos de 12 horas por dia, e províncias ha onde o

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rio trabalha ainda hoje 15 e 16 horas. São pessima-mente remunerados e, como consequência d'isto, ali— mentam-se e vivem desgraçadamente. Apesar da es-cravidão que soffrem os operários d'esté paiz, ins-truem-se, teem sociedades de soccorros e politicas, e tudo leva a crer que n'um dia, que não virá longe, a Allemanha seja o theatro de um grande movimen-to politico-social.

Esquecia-nos dizer que, n'este império, as prescri-pções da lei escolar não permittem a nenhuma crean-ça terminar antes dos 13 annos a inslrucção prima-ria obrigatóprima-ria, motivo porque lhe é defeso até então o seu trabalho nas fabricas.

Aqui, corno na Austria, o patrão é obrigado a conceder ao adulto o tempo necessário para que possa, nos dias santificados, assistir aos officios divinos.

Hollanda

Esta nação tracta de resolver o problema do trabalho dos adultos para o que -.- segundo affirmou o seu delegado na conferencia de Berlim, o embaixa-dor Van der floeven— será nomeada uma commissão encarregada de estudar a natureza do trabalho, o estado da industria, e a condição do operário hol-landez.

Geralmente, hoje, a duração do dia de trabalho é de 12 horas, comprehendendo n'este tempo o des-canço necessário para as três refeições do operário.

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Austria

A legislação austríaca interdiz a todo o operário adulto ó trabalhar mais que 12 horas por dia nos estabelecimentos industriaes. Além d'isso, no

traba-lho dos domingos e dias santificados, que só é per-mittido a certas industrias, o patrão é obrigado a conceder aos adultos o tempo necessário para que possam assistir aos officios divinos.

O salário do operário austríaco é diminuto, a sua alimentação defeituosa e a habitação não satisfaz. De notável só ha n'este paiz o desenvolvimento do

espirito da associação.

O trabalho dos menores nas fabricas é prohibido até á edade de 14 annos.

Italia

Quer por causa da sua orgnnisação industrial, quer em razão das tendências do poder legislativo, só em 1886 é que alguma coisa se legislou, dizendo respeito unicamente á protecção do trabalho das creanças, e isto mesmo tem encontrado difficuldades para ser posto em prática, difficuldades não inteira-mente vencidas. Ainda hoje ha, na Italia, industrias em que se trabalha 17 e 18 horas por dia, e isto é tanto mais para lamentar quanto é certo que, em to-das as industrias, o elemenlo feminino é muito maior que o masculino.

A habitação do operário italiano é deplorável, a sua instrucção insufficiente, e o salário, que diffère muito de província para província, não é grande.

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Suissa

A Suissa é de todas as nações da Europa a pri-meira que fez a experiência, primeiro parcial, hoje geral, de uma legislação para a industria, regula-mentando não só o trabalho das creanças, mas ainda o dos adultos nas fabricas. A lei federal, relativa ao trabalho nas fabricas, dispensa uma protecção enér-gica não só ao trabalho das creanças e das mulhe-res, mas ainda ao operário adulto.

Vejamos essa lei feita por um paiz com um solo ingrato, de capitães relativamente mínimos, sem mi-nas de carvão que fazem em grande parte a fortuna industrial das grandes nações, e sem portos de mar que tanto contribuem para o desenvolvimento do commercio.

Segundo o artigo 1.°, todo o estabelecimento in-dustrial em que um numero mais ou menos consi-derável de operários é occupado simultaneamente e regularmente, fora de sua casa e n'um recinto fe-chado, deve ser considerado como fabrica, e esta sub-metlida ás prescripções da lei. O artigo 2." tem uma serie de precauções minuciosas, destinadas a salva-guardar, tanto quanto possível, a vida e a saúde dos operários nas fabricas: illuminação das officinas, ventillação proporcionada ao numero dos operários, etc., etc.

Além d'isso, o artigo 3.° diz que nenhuma fabrica pôde ser aberta, posta em actividade, ou transfor-mada, senão em virtude de uma auctorisação que só poderá ser dada com todas as reservas expressas pelo governo.

Os regulamentos das fabricas, preparados pelos patrões, não podem egualmente ser poslos em vigor senão depois de terem obtido a àpprovação do

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go-vemo cantonal ; os operários são, além d'isso, cha-mados a emittir a sua opinião sobre as prescripções que lhes dizem respeito, antes que estas tenham re-cebido a approvação da auctoridade. Uma vez appro-vados, os regulamentos devem ser impressos em grandes caracteres e affisados no interijr da fabrica. As multas não podem exceder a metade do salário de um dia, e o seu producto deve reverter em inte-resse do operário, especialmente para a fundação de caixas de soccorros.

Pelo que respeita á duração do dia de trabalho, eis o systhema adoptado pelos legisladores suissos : Para os homens, salvo as auctorisações exce-pcionaes—dadas, segundo os casos, pelas auctorida-des do districto ou pelo governo cantonal—o máximo é lixado em 11 horas nos dias ordinários, e em 10 horas na véspera dos domingos ou dias de festa; esse limite pôde ainda ser abaixado, por decisão do con-selho federal, para as industrias insalubres e peri-gosas. Em principio, a lei interdiz o trabalho da noute, quer dizer das 8 horas da tarde ás 5 da ma-nhã, nos mezes de junho, julho e agosto; das 8 ho-ras- da noute ás 6 da manhã, no resto do anno. Fi-nalmente, todos os operários devem ter, a meio do dia de trabalho, um repouso de uma hora, pelo menos, para comer; e para isto, recintos convenien-tes, devidamente aquecidos no inverno e fora das sa-las ordinárias do trabalho, serão postos á disposi-ção dos operários que trazem ou a quem seja leva-da a comileva-da á fabrica.

— Para as mulheres, o trabalho da noute e do domingo é, em todos os casos e de um modo abso-luto, interdicto. As que são donas de casa teem ainda a faculdade de prolongar por mais meia hora o descanço do meio dia, sempre que a duração nor-mal d'esté descanço, nas officinas era que trabalham,

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não é, pelo menos, de hora e meia. Um espaço de tempo de 8 semanas, antes e depois do parto, ó dis-pensado ás operarias para se restabelecerem.

O conselho federal é, além d'isso, encarregado de determinar, por um regulamento, as profissões cujo exercício será interdicto absolutamente ás mu-lheres menstruadas. Mais ainda, é prohibido em-pregar mulheres na limpeza de motores mechanicos, apparelhos de transmissão e machinas perigosas.

Para terminar, diremos que o operário suisso é talvez o mais feliz da Europa; porque nada lhe fal-ta: habitação em boas condições hygienicas, salário regular, alimentos baratos e saudáveis, ensino geral e technico, bibliothecas, sociedades de recreio, etc., etc.

Bélgica

Um dos paizes mais interessantes sob o ponto de vista da industria pela espantosa cifra da producçào, pela importância da população operaria e pela abun-dância dos capitães, é positivamente a Bélgica.

A sua industria occupa 1 milhão de trabalhado-res sobre 5 a 6 milhões de habitantes, quer dizer 20 %. o que é tanto mais notável quanto é certo que este paiz não é unicamente industrial, mas também agrícola.

O operário belga é em geral mal pago, tem uma nutrição insuficiente e a sua habitação não corres-ponde ás exigências da hygiene, motivo porque hoje o governo e os municípios estão alli dispensando va-lioso auxilio às sociedades de edificações operarias. Sob o ponto de vista da instrucção, por toda a par-te ha escolas primarias e par-technicas.

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Como o respeito pela liberdade do trabalho dos adultos é um principio da legislação belga, nenhu-ma lei o restringe a não ser quanto a empregarem as mulheres nos estabelecimentos industriaes, duran-te as quatro semanas consequenduran-tes ao parlo.

França

N'este paiz, as leis sobre o trabalho das mulhe-res e das creanças teem as disposições seguintes : a eclade de admissão das creanças, nas fabricas, é lixa-da nos 12 annos, e excepcionalmente nos 10 ; a du ração do dia de trabalho não pôde exceder a 6 ho-ras para as creanças de 10 a 12 annos, e ainda para as de 12 a 15 annos que não tenham completado os seus estudos primários. O trabalho da noute e do domingo é interdicto até aos 1C annos aos rapazes e até aos 21 ás mulheres.

Um projecto, actualmente em elaboração nas ca-marás francezas, eleva, sem excepção, a 13 annos, a edade da entrada das creanças para a fabrica ; o dia de trabalho é limitado a 10 horas até aos 18 an-nos, para os rapazes e até aos 21 para as raparigas; e o trabalho do domingo é sempre interdicto até aos 16 annos para aquelles e até aos 21 para estas. Além d'isto, a lei de 1848 fixa, no máximo de 12 horas, o dia de trabalho para o adulto.

Para a execução d'estas medidas, a França possue um corpo de inspectores, que vela sobre todas estas prescripções.

Dando toda a importância a este assumpto, que bem a merece, o governo francez tenciona ainda

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apre-sentar grandes projectos logo na abertura das ca-marás.

O mais importante é o relativo á tarifa das alfan-degas, obra do ministro Roche.

Antes da apresentação d'esté projecto cie lei, o ministro do commercio deporá na camará outros três projectos de lei, que são os seguintes : um relativo á fixação do dia normal de trabalho, outro sobre a constituição do dia normal de trabalho, e outro ainda sobre as caixas económicas operarias e estabeleci-mentos de soccorros mútuos.

Constans, ministro do interior, pela sua parte tenciona também apresentar um projecto de lei rela-tivo á organisação municipal de Paris, e outro pro-jecto que assegure uma pensão, na reforma, aos

ope-rários impossibilitados de trabalhar.

Hespanha

«Póde-se dizer, relativamente a muitas cousas, que a Africa começa na vertente hespanhola dos Py-rineos. Mas, em nenhum sentido, esta analogia mo-ral é mais sensível do que no domínio económico e industrial. Como os paizes musulmanos, a catholica Hespanha deixou-se adormecer na contemplação dos thesouros que a audácia dos conquistadores tinha amontoado outr'ora; como os seus visinhos d'Africa, os hespanhoes dos nossos dias vivem pobremente da ÉLEVAGE dos carneiros e dos productos de uma cul-tura rudimentar, sem capitães, sem iniciativa, sem progresso, trabalhando pouco, consumindo pouco, escravisados á pobreza d'uma extrema miséria,

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mi-seria de que se não livrara senão á custa de muita temperança e de muita sobriedade.

N'estas condições a Hespanha, não é, nem pôde ser uma nação industrial. » O

Bastam-nos as poucas linhas que transcrevemos para se poder concluir, como é verdade, que o sa-lário, a habitação, a alimentação, tudo, emfim, que constitue a vida do operário, tudo é desgraçado e miserável na Hespanha; e n'isso teremos a justifica-ção das terríveis greves que ultimamente se teem dado nas províncias da Catalunha e Alicante, e ainda a explicação do movimento politico de Cartagena e de Alcoy em 1870, d'essas pequenas cidades em que a maioria dos habitantes pertence á classe industrial. Quanto a leis de protecção para o trabalho do operário, ha apenas a de 24 de julho de 1873, que interdiz absolutamente a admissão, nas fabricas, de creanças menores de IO annos.

O trabalho do operário não tem uma duração fixa e invariável; começa ao romper do dia e termina às 7, 8 e 9 horas da noute. Em todas as fabricas do estado, o trabalho é de 10 a 12 horas por dia, ex-cepto nas de tabacos que apenas é de 9 a 10.

Agora, para terminar, sobre a industria fabril n'este paiz, oiçamos ainda o que diz o auctor já citado fal-lando da protecção dispensada aos trabalhadores — sensatas reflexões que bem podem ser applicadas á politica portugueza: «Ha longos annos que se pro-mette muito, tanto aos operários, como á agricultura hespanhola, tendo-lhe feito esperar e antever grandes reformas que deviam transformar as suas condições materiaes; e sobre este ponto —n'este paiz como em

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muitos outros — os governos e os diversos partidos políticos teem rivalisado, nos seus programmas elei-loraes, em promessas seducloras e em solemnissimos protestos. Mas nem uns, nem outros os cumprem. Em logar da prosperidade annunciada, teem, pelo contrario, exacções, dia a dia sobrevindo, mais exac-ções, novos impostos esmagadores, em summa, o empobrecimento geral.

Portugal

« 0 operário portuguez é em geral mais hábil que o operário hespanhol. Não é menos ignorante do que este, mas é dotado de muita temperança, fru-galidade e amor pelo trabalho. Não trabalha menos de ti dias por semana, cada um de 10 horas de tra-balho ; nunca descança à segunda-feira; e, posto que não tenha menos 70 dias feriados por anno, produz annualmente uma somma considerável de trabalho. E', em geral, polido, intelligente, activo, e, se lhe falta habilidade technica, não é por falta de aptidão ou desejo de aprender, mas unicamente porque não tem á sua disposição os meios de se instruir e de se aperfeiçoar. Na verdade, a educação popular está em Portugal muito atrasada, e o ensino profissional ain-da no estado embryonario. »

Depois d'eslas considerações de René Lavollé, no seu bello livro, Les classes ouvrières en Europe, fat-iemos dos estabelecimentos de ensino technico e pro-fissional em Portugal.

Os dous estabelecimentos d'esta ordem, por mui-to tempo únicos no paiz, foram os institumui-tos indus-triaes de Lisboa e do Porto, estabelecimentos por

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tanto tempo deficientissimos, tanto na escolha da maioria do seu pessoal de ensino, como em regula-mentos, em recursos technologies, n'orna palavra, em tudo.

Ultimamente, porém, na situação progressista pas-sada, o snr. Emygdio Navarro lembrou-se de os re-formar, e para isso encheu-os de cadeiras e de pro-fessores, por nomeações perfeitamente arbitrarias e exclusivamente a seu talante, sem um plano serio e pensado de reorganisação — emfim uma reforma para crear logares e servir afilhados e amigos. Pelo seu lado, os regeneradores não se quizeram depois ficar atraz, continuaram na mesma tradição e no mesmo plano — com que afinal pouco podem lucrar o en-sino e a sciencia.

Em 1884, devido á iniciativa do snr. Antonio Au-gusto de Aguiar, o governo portuguez despertava emfim, com a média de trinta annos de atrazo so-bre os seus congéneres estrangeiros, e creou as es-colas industriaes, nomeando logo professores, em parte estrangeiros— homens de mérito,'segundo di-zem— em parte nacionaes.

Essas escolas é certo que podem e devem con-correr consideravelmente para a organisação nacio-nal do ensino industrial entre nós, e por este moti-vo é digno da consideração publica o nome do illus-tre professor e estadista Aguiar, já fallecido.

Ultimamente, este anno ainda, também passou nas camarás um projecto de lei relativo á real colle-giada de Nossa Senhora da Oliveira, de Guimarães, que tem por fim crear, n'aquella cidade, o ensino industrial e o de preparatórios para padres.

Passemos agora a fallar das associações opera-rias.

Quasi todas as classes industriaes, especialmen-te no Porto e em Lisboa, especialmen-teem as suas associações

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respectivas, que na sua maioria se limitam a ser de socçorros em caso de doença, todas funilarias por iniciativa particular. Faz excepção a isto a adminis-tração geral dos tabacos, do que fallaremos n'oulro logar.

Depois (Testas considerações, entremos na apre-ciação do trabalho das fabricas em Portugal; e para não alongar muito esta these, e ainda porque só do Porto é nosso objectivo aqui faltarmos, reslringir-nos-emos a fazer algumas observações a respeito d'esta cidade.

O Porto é talvez a cidade mais industrial do paiz, e apezar d'isso, não conta meia dúzia de fabricas que satisfaçam, quer na parte material, quer na regula-mentação do trabalho, ás condições requeridas'pela mais tolerante hygiene. Para prova do que affirma-mos bastar-nos-á transcrever para aqui algumas das observações do excellente relatório apresentado ao governador civil do districto do Porto, pela sub-commissão encarregada da visita aos nossos estabe-lecimentos industriaes, da qual faziam parte os snrs. A. J. Carneiro e Silva, Joaquim Antonio Gonçalves, António Manoel Lopes Vieira de Castro e J. P. Oli-veira Martins.

Separando de diversas industrias, temos o se-guinte :

FUNDIÇÕES DE FERRO :

« Massarellos está sobre a estrada marginal do Douro, oceupando um corpo de armazéns acanhados para o trafego da officina. A disposição dos diversos corpos do edifício não se adapta bem ao organismo interno d'uma fabrica e a distribuição do ar e da luz é deficiente. Sente-se a falta d'um plano primitivo

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amplo e desafogado, tendo-se sacrificado a installa-ção â conveniência do local ».

Trabalham aqui duzentos e tanlos operários a 11 horas por dia.

«O Ouro, corno de resto todas as fundições, toma o nome do lugar onde está, sobre a estrada que liga a margem do rio á avenida da Boavista. E' um vasto edifício bem arejado, bem alumiado, contendo n'iim só corpo de 10Ó metros de comprimento por 30 de largura e n'um pavimento único, todas as officinas ». 'Tem cerca de 150 operários, sendo a média do trabalho de 10 horas por dia.

«A fundição de Miragaya está installada no bair-ro d'esté nome, n'um pardieibair-ro arruinado a que uma travessa Íngreme dá accesso».

30 operários, pouco mais ou menos, e 11 horas e meia de trabalho por dia.

«A fabrica do cães do Bicalho e a da Arrábida

eslão installadas em velhos barracões mais ou me-nos arruinados sobre a estrada marginai do Douro».

Cincoenta e tantos operários, e 10 horas e 1res quartos de trabalho como média diária.

.4 fundição do Bolhão em que trabalham cinco ou seis dezenas de operários, durante 9 horas e meia de trabalho por dia, e as de Boa Viagem e de

Monchique, que são insignificantíssimas, são tão

boas como as peores, no que respeita a condições hvgienicas.

«iNenhuma das fabricas tem escolas para os aprendizes. Em Massarellos onde a aprendizagem dura 7 annos, — vencendo os aprendizes no 1.° anno 80 reis, no 2.° 100 reis, no 3.° 120, no 4.°, 160, no 5.° 200, no 6.° 240 e no 7.° 300, —concedem se duas horas para que os rapazes possam cursar re-gularmente as aulas do Instituto Industrial. As ho-ras médias de trabalho que são II, ficam assim

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re-duzidas a 9. A direcção fiscalisa a frequência, por meio de um ponto que a escola lhe fornece a seu pedido ; e quando os aprendizes são omissos despe-dem-n'os. Houve outr'ora uma escola de primeiras lettras, mas fechou-se, não se admittindo agora apren-dizes analphabetos.

No Ouro não se attende tanto á aprendizagem, nem ha um regime até certo ponto aceitável, como o precedente, no meio da inópia e da anarchia abso-luta d'esla espécie entre nós. A aprendizagem dura 5 annos com o jornal inicial de 60 reis que sobe á medida dos progressos do educando até 200 reis. A fabrica não tem escola, mas o seu dono fundou uma na freguezia e os aprendizes são obrigados a fre-quentai a de noite. Não se lhe reduz por isso o nu-mero de horas diárias de trabalho. E' facultativa a frequência ao Instituto Industrial, havendo entre os 35 aprendizes 3 ou 4 que cursam as suas aulas e aos quaes se concede Va hora de trabalho.

Em todas as outras fabricas a aprendizagem re-gula por 5 annos e o salário vai subindo á maneira que cresce a utilidade do operário. Em nenhuma d'ellas ha escolas primarias, nem coacção ou regra de espécie alguma no sentido da educação elemen-tar ou technica dos aprendizes.

Institutos de soccorros não existem em parte al-guma. Parece regra, sem ser obrigação, que as fa-bricas soccorram os feridos ou mutilados pelo tra-balho; mas para as doenças eventuaes não ha sub-sídios. Supprem-n'os os monte-pios de freguezia, numerosos, e nos quaes se acha inscripta a maxima parte dos operários, ás vezes em dous, em três a um tempo».

De tudo isto se vê como é quasi nullo o systema do ensino technico e elementar, sendo irregular o regime do trabalho.

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Das serralherias diz em resumo o mesmo rela-tório :

« Das quatro officinas a que agora nos referimos, apenas as duas primeiras merecem este nome: as segundas são lojas escuras collocadas nos pateos in-teriores de casas. »

DISTUXAÇÕES :

«A distillação da Furada consiste n'um vasto edi-fício de dous andares levantado sobre o cães da mar-gem esquerda do Douro. No pavimento inferior, cor-rido, estão em compartimentos successivos a officina de moagem, os geradores de vapor e machina, os armazéns das dornas. No segundo funccionam os saecharificadores, e communicando os dous pavimen-tos ficam as colrmnas de distillação e rectificação. O edifício, destacado da encosta, é bem alumiado e ven-tilado, tendo uma collocação excellente sobre o cães. A ordem e o aceio das officinas era regular e a sub-commissão notou apenas a immundicie repugnante e barbara d'um parque de engorda de porcos annexo ao estabelecimento e destinado a utilisar os restos do fabrico: os animaes morrem muito e são baldeados ao rio quando rebentam.

A fabrica de Paço de Rei, ultima que se installou no districto, é superior a todas sob o ponto de vista da disposição e aceio das officinas, podendo até, n'este género, considerar-se um modelo. Está n'uma quinta, em lugar piltoresco e lavado d'ares.

A distillação do Cavaco está, como a da Furada, n'um edifício levantado sobre o cães na margem es-querda e a montante do rio. Ao passo que na Furada os edifícios estão destacados da encosta, aqui acham-se collados a ella, não tendo muralhas nem janellas posteriores, o que torna os interiores abafados e

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sombrios. A falta de ventilação conveniente, o pouco esmero na limpeza, a humidade que a rocha transuda fazem d'esta fabrica um lugar insalubre e as suas más condições são ainda aggravadas pelas exhalações d'uma vasta estrumeira que se prolonga com o cães e onde o malto apodrece regado pelas aguas da fa-brica. »

A fabrica de distillações de Campanhã fechou as portas á inspecção encarregada de a vêr e « ingenua-mente, o dono da fabrica nos disse que não deixava vêr a sua fabrica, porque não queria pagar mais im-postos I»

JN'estas fabricas trabalham approximadamente 150 operários durante 12 horas por dia, e segundo diz o livro a que nos referimos, não existe em nenhuma d'ellas instituição de ensino nem soccorros, e a gente ó, na sua quasi absoluta totalidade, completamente analphabeta.

SERRAÇÃO DE MADEIRA E PREGARIA DE ARAME:

Aurificia: — «Tudo alli era errado, mal

conce-bido, mal disposto, e não nos atrevemos a dizer que peor dirigido.

Não ha soccorros nem ensino. As horas são das 7 da manhã às 8 da noite de inverno e das 5 ás 6 de verão, 13 com 1.30' de descanço, ou 11.30' de trabalho effective»

LANIFÍCIOS :

Lordello : — « Construcção antiga, é mal

alumia-da, mal ventilada nas suas ofíicinas fabris que teem insufficiente altura e apparecem esburacadas nos soa-lhos, escalavradas nos tectos e paredes, e por sobre isso sujas.

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Duzentos e tantos operários alli trabalham de sol a sol, por tarefas, o que « põe o operário na collisão de escolher entre o pão e o ensino, e é natural que escolha pelo primeiro. »

FIAÇÃO DE TECIDOS DE ALGODÃO:

Salgueiros: — « Tudo é novo, solido, e bem

cons-truído. »

Asneiros: —Esta fabrica foi ultimamente

reedifi-cada e pôde dizer-se que é uma das melhores do Porto.

A primeira do Montebello é regular. A segunda é inferior á primeira.

Salgueiros tem cerca de 350 operários, Asnei-ros 150, Montebello (a) 300 e Montebello (b) 250 ; a média das horas de trabalho em todas ellas é de 12. N'esta industria, o operário vive miseravelmente, porque os salários são pequeníssimos. E' n'este pon-to, verdadeiramente edificante, que diz o relatório ci-tado. Attend am bem :

« As fabricas, no regime anarchico em que a lei as deixa, são verdadeiros propulsores de miséria sob todas as snàs formas. Creanças de ambos os sexos, desde os 7, desde os 8, desde os 9 annos, são obri-gadas a um trabalho que começa com o dia e, se de verão acaba com elle, de inverno protrahe-se até ás 8 horas da noite. D'esta vida, da promiscuidade, da aprendizagem do vicio, formam-se creaturas perdidas e brutas. Em regra tudo é analphabète habitual-mente as mulheres passam de mão em mão. Um fa-bricante disse-nos que em vendo um operário 1er pu-nha-o na rua, outro que na sua fabrica as mancebias começavam aos 13 annos. Confessou-se nos tudo isto de um modo natural e simples, queixando se-nos ao mesmo tempo os fabricantes de que os operários

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pas-sassem de fabrica em fabrica, íluctuando sempre, in-capazes de se enraizarem. Como poderia ser de outra forma? Escolas, refeitórios, casas, soccorros, pré-mios, separação <ie sexos : são cousas que se pôde dizer não existem.

Apenas duas fabricas separam o fundo das mul-tas para soccorros ; apenas Salgueiros tem ensaiado alguma cousa no sentido de melhorar a sorte da sua gente. E' dever mencionar e louvar esses actos.

Sal-gueiros construiu 46 habitações dentro do recinto da

sua propriedade e essas habitações, cujo accesso pelo portão da fabrica é fechado ás 10 horas da noite, es-tão todas occupadas, vivendo ahi cerca de 200 pes-soas. Cada habitação tem 3 quartos e a área total de 24 metros. As rendas são de 400 a 1$000 réis ao mez, representando um juro de 5 a 6 %> do custo. Podiam ser menos. Salgueiros facultava, sem obri-gar, a frequência dos aprendizes nas escolas noctur-nas da freguezia e no Instituto Industrial, dando 2 horas de folga sem cercear o jornal. Entretanto os alumnos eram 6 apenas. Com o principio dos serões n'este inverno, creou, porém, uma escola, onde as matriculas são 80. Concede mais o premio de 20$000 réis ao operário que, tendo um anno de trabalho successivo na fabrica, queira casar-se. Installou uma creche onde as operarias mães deixam os filhos du-rante as horas de officina; e para premiar a cons-tância augmenta o jornal em 10 réis por cada anno successivo de permanência do operário na fabrica. Quereria que no Instituto Industrial se créasse um curso de fiandeiros e tecelões para a formação de mestres; e desejaria que se régularisasse a aprendi-zagem. Como? Não o sabe bem; mas outro fabri-cante pede nua e cruamente o restabelecimento das leis do marquez de Pombal. »

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tris-te quadro da situação do nosso operário, que traba-lha mais do que o que pôde, que tem péssimo salá-rio, que anda vestido de andrajos e cuja habitação faz exclamar com assombro a uma rainha :

— «Pois aqui vive-se?I »

Tudo isto é vergonhoso, e mostra bem mais um . dos aspectos da deplorável situação em que o paiz se encontra a todos os respeitos.

Poder-se-á afoutamente esperar melhoras rápidas e decisivas? Duvidamos.

No tempo do governo progressista, como é sabi-do de tosabi-dos, conveio financeiramente ao governo atacar o principio da liberdade industrial, e assim se creou a regie dos tabacos, que, em virtude e como consequência d'iïma certa agitação operaria, trouxe para esta então desgraçada classe, uma situação de-veras feliz. Infelizmente, agora, o governo regenera-dor, porque, sob o mesmo ponto de vista das finan-ças, lhe conveio também, quiz passar do systema da

regie para o do monopólio, o que certamente não

trará nenhuma reconhecida vantagem ao operário. O que eram e o quanto valiam — isto no caso de que se não possa dizer o que valem — as medi-das regulamentares porque se rege a administração geral dos tabacos, todas ellas feitas pelo snr. Olivei-ra Martins, pôde o leitor vêr e concluir documental-mente, porque aqui as incluímos na integra.

São ellas proprias o seu maior elogio, e os fa-ctos provam-no de sobra, porque desde que entra-ram em execução até hoje, ainda não levantaentra-ram ne-nhum attricto serio e a situação d'esses operários pôde julgar-se inteiramente feliz.

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DO

TRABALHO NAS FABRICAS

Artigo 1.° Os operários da administração geral dos tabacos dividem-se em duas classes:

1.° Empreiteiros; 2.° Jornaleiros.

§ i.° A designação de empreiteiros e jornaleiros compre-hende homens e mulheres.

Operário empreiteiro é todo aquelle que recebe o seu salá-rio conforme o trabalho que produz.

Operário jornaleiro é aquelle que tem vencimento fixo. § 2.° Os salários serão pagos conforme a tabeliã em vigor, em harmonia com o § 1." da base 9.a da lei de 22 de maio de

1888.

Art. 2.° Aos operários das oficinas de charutos ordinários compete manipular todas as qualidades de charutos de Kentu-cky do preço de 10 réis e 20 réis.

§ 1.» As marcas serão distribuídas com a maxima igualdade, de forma que caiba a cada um dos operários, por seu turno, a manipulação de charutos de 20 reis.

§ 2.° Quando fòr necessário augmentar o pessoal da oficina de charutos finos serão chamados os operários da oficina de charutos por turnos e procedendo-se a sorteio.

Art. 3.° Aos operários da oficina de charutos finos compe-te trabalhar em todas as marcas que se agrupam debaixo d'esta designação, e conforme as necessidades do consumo, e em har-monia com as ordens que superiormente lhe forem dadas,

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dis-tribuindo-se entre todos por turnos igualmente os trabalhos a eílectuar.

§ único. Os operários de charutos finos manipularão charu-tos de Kentucky ordinários, nos dias ou horas que forem pre-cisas conforme as necessidades do consumo.

Art. 4.» AOS operários das offlcinas de folha picada compete fazer todos os serviços de pesar, empacotar, lacrar, e os mais detalhes necessários para o acabamento dos productos.

§ único. Os trabalhos serão distribuídos igualmente por todos os operários da officina, regulando-se a distribuição de forma que cada semana caiba a todos os operários uma proporção igual de trabalhos ordinários e finos.

Art. 5.° Aos operários empreiteiros de latas de chumbo, calcar e empapelar rapé e pó compete fazer todos os trabalhos da respectiva officina, regulando-se a distribuição das suas dif-férentes especialidades, de forma que todos sejam igualmente contemplados nos trabalhos mais vantajosos.

§ 1.° Quando as necessidades do consumo o permittam será preferida a passagem aos operários empreiteiros das latas de chumbo para o empapelo do rapé, assim como também os do empapelo do rapé serão preferidos a calcar rapé e pó.

§ 2.» As vagas que se derem nos jornaleiros d'esta officina serão preenchidas por outros da mesma classe, sendo preferidos os que tiverem reconhecida pratica dos trabalhos da mesma offi-cina.

Art. 6.° Os operados encarregados do corte das mortalhas para as cigarrilhas de capa de tabaco, deverão ter o máximo cuidado* no aproveitamento da folha.

§ 1.° O pagamento da mão de obra do corte das mortalhas serã regularisado, com a entrega das cigarrilhas remettidas para o deposito de empapelo, tendo o operário direito de pedir a substituição das mortalhas que não estiverem em condições de cobrir as cigarrilhas, por outras que substituam as inutili-sadas.

§ 2." Os operários das offlcinas de cigarrilhas ã machina devem fazer todo o serviço de embrulhar, espontar e cortar os cigarros pelas medidas que lhes fôr determinado, sempre que isto corresponda ao trabalho da tabeliã em vigor, podendo os operários ter serventes para espontar estas cigarrilhas.

§ único. Os operários d'esta manufactura á mão não serão obrigados a passar para o trabalho ã machina, quando sejam com isso lesados em seus interesses, sem indemnisaçâo corres-pondente.

Art. 8.° Aos operários das offlcinas de cigarros ordinários compete fazer indistinctamente toda a qualidade de cigarros sol-tos ou em macinhos (não sendo de cabeça) como lhes fôr

orde-dado, e segundo as necessidades do consumo.

§ l.° As vagas que se derem, ou o augmenta do pessoal que seja preciso, nas offlcinas de cigarros finos, serão preen-chidas por sorteio entre os operários das offlcinas de cigarros ordinários, e distribuídos igualmente entre ambos os sexos.

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*i 2 o Os operários d'esta manufactura só poderão ser

passea-dos para as machinas em harmonia com o § único do artigo ,. Art 9 « Aos operários de cigarros finos compete manipular todas as marcas que se agrupam debaixo d'esta designação.

S único. Quando n'esta especialidade haja excesso de pro-ducçao em relação ao consumo, a administração poderá deter-minar, emquanto isto se der, que manipulem cigarros ordina-" ordina-"Art 10° A contagem dos cigarros serã feila nas officinas. Na manipulação de cigarros ordinários, o papel será fornecido contado para os cigarros soltos, sem que isto dê direito a escu-sa da falta ou excesso de cigarros que se der na contagem dos

ma?AS'falta ou excesso de quatro cigarros em maço será

tolera-da ; alem d'esté limite será punitolera-da com 10 réis de multa por

píiíiíi Í*iff3rró

<J único.'O producto d'estas multas reverterá em benelicio da caixa de soccorros instituída pela administração.

Ari 11." A semana para os jornaleiros finda no sabbado, incluindo-se esse dia no pagamento, que deverá ser feito das ires ás cinco da tarde.

§ único. Quando fôr santificado esse dia, far-se â o paga-mento no dia antecedente.

Art 12.° Quando qualquer operário jornaleiro carecer de dis-pensa de trabalho por mais de três dias, fará o seu pedido por escripto ao director da fabrica.

^ único. Os operários que faltem mais de três dias na fabri-ca sem motivo justififabri-cado, não poderão retomar os seus logares senão depois de ouvido o director da fabrica.

Art. 13.° A duração diária do trabalho para os operários jornaleiros é fixada em dez horas. 0 trabalho alem d'estas ho-ras será remunerado da seguinte forma: até ás nove hoho-ras da noite, ainda que incompletas, metade do jornal, e até á meia noite o jornal por inteiro.

§ único. São inhibidos de trabalhar alem das dez horas os operários de idade inferior a vinte e um annos; e os de idade superior poderão fazel-o voluntariamente.

Art. 14." Haverá uma folha de ponto para todo o pessoal que vence de jornal, fazendo-se duas chamadas por dia.

E' permittida a saída das fabricas ao meio dia a todo o pes-soal jornaleiro, sendo a entrada á uma hora.

§ único. Os operários jornaleiros que não estiverem nas suas officinas dez minutos depois do toque da sineta, não po-derão entrar sem licença especial do director da fabrica.

Ari. ]5." Para os operários empreiteiros a semana principia no sabbado e termina na sexta feira da semana seguinte ás qua-tro horas da tarde: até essa hora se receberá todo o trabalho que produzirem.

§ único. Sendo sabbado dia santificado, o pagamento se ef-fectuait na sexta feira, devendo a entrega ser feita no dia ante-cedente.

(47)

Art. lí>.° Os operários empreiteiros poderão passar de urna para outra manufactura de tabacos, comtaiito que não sejam le-zados em seus interesses.

Art. 17.° Quando qualquer operário empreiteiro carecer de dispensa de trabalho por mais de seis dias, fará o seu pedido por escripto ao director da fabrica.

Os operários que faltarem mais de seis dias na fabrica sem molivo justificado, não poderão retomar os seus Jogares senão com approvaçâo do director da fabrica.

Ari. 18.° Os operários deverão entregar os trabalhos com o peso que lhes for marcado, conservando igualdade na fabrica-ção, salvo circumstancias imprevistas e julgadas admissíveis.

§ único. Todos os productos que não estiverem n'estas con-dições, serão rejeitados, tendo os operários a obrigação de os substituir por outros ou emendar os defeitos que tiverem.

Art. 19.°. As horas diárias do trabalho para os operários em-preiteiros serão reguladas pela administração conforme as ne-cessidades do fabrico, tendo em vista o que estatue o ^ 3.° da hase 3.a da lei de 22 de maio de 1888.

Art. 20.° E' permittida a saida da fabrica ao meio dia a todo o pessoal empreiteiro, sendo a entrada até ás duas horas da tarde.

§ 1.° E' facultativa a saída ás três horas da tarde. § 2.° Os operários que desejarem jantar nas fabricas, pode-rão fazei-o na casa destinada para esse fim, divididos por tur-nos, caso não haja espaço para os accomodar todos de uma só vez.

Art. 21." Os operários ficam sujeitos ás disposições seguin-tes:

1.° E' prohihido fumar nas officinas, ou em qualquer outro togar que não seja o destinado para esse fim; e o pessoal jor-naleiro pedirá sempre auctorisação previa ao encarregado da officina onde esteja fazendo serviço.

2.° Os operários terão os tabacos bem acondicionados e dei-xarão o seu togar na melhor ordem quando se retirarem.

3.° 0 uso alé aqui seguido de fazer descalçar todo o pessoal na occasião da saída fica apenas limitado a quando o director da fabrica o ordene; mas é obrigatória essa medida todos os dias para o numero de operários de cada officina, que se enten-der necessário, devendo esse serviço fazer-se com o maior re-cato, e em sitio convenientemente preparado.

4.° Operário algum poderá ausentar-se da fabrica durante as horas de trabalho sem licença do director da mesma fabrica. Exceptuam-se os casos urgentes de doença.

5." Quando qualquer operário tenha de ausentar-se, deverá munir-se de um bilhete passado pelo director da fabrica, a fim de que o fiscal da porta possa auctorisar a sua saída. Este bi-lhete será requisitado pelo mestre da officina respectiva ao di-rector da fabrica.

6.° No intervallo entre a hora da saída ao meio dia e a da entrada, é prohibido o trabalho nas officinas, salvo ordem es-pecial do director da fabrica.

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7.° Não é permittido aos operários entrarem em offloinas estranhas sem previa auctorisação do mestre respectivo.

8.° 0 pessoal é obrigado a comparecer pontualmente nas fa-bricas nos dias feriados, quando assim lhe seja determinado pelo director da fabrica, em virtude de ordens superiores.

9° E' expressamente prohibido aos operários levarem para as offl;inas objectos estranhos ao movimento das mesmas, quan-do lhes não sejam de reconhecida necessidade.

Nas offlcinas h.iverá arrecadações convenientes para guardar

os objectos pertencentes aos operários. . 10.° Não é permittido aos operários comer nas offlcinas.

ll.° Todos os operários são obrigiidos a contribuir para que as offlcinas e dependências se conservem no mais completo

3SS6ÍO

12 » E' expressamente prohibido aos operários conversar e discutir no trabalho, de modo que altere a ordem da offlcina.

13.° E' expressamente prohibido fechar ou inulilisar os ven-tiladores.

14.° Os operários devem proceder á lavagem das mãos quan-do entram nas fabricas, e antes e depois de todas as refeições. Para este fim todas as offlcinas lerão lavatórios apropriados.

15.° 0 asseio, como parte integrante e indispensável para a boa hygiene, será considerado como precedo; os operários que faltem a elle serão chamados â presença do director da fabrica, o qual conhecera das causas que motivaram a infracção, e pro-videnciará como for mais justo.

16.° Os operários afifeclados de moléstias contagiosa*, serão submettidos a exame medico, adoptando se as providencias que se julgarem necessárias para o curativo, o )-endo extensivas a esses casos as disposições do estatuto para os soccorros e re-formas em harmonia com as prescripçõss legaes.

17.° Todo o operário que, por motivo de doença, se tenha retirado do serviço, não poderá retomar o s u togar sem apre-sentar certificado do medico da administração, que o declare

apto para trabalhar. ,. Art. 22.» E' fixada a idade de treze annos no sexo

masculi-no, e quinze no feminimasculi-no, para a admissão nas fabricas de ta-baco, e quando seja preciso admittir novos operários serão pre-feridos aquelles que tenhim trabalhado n'esta industria, e cuja idade não for superior a quarenta e cinco annos.

Art. 23.» Os diversos logares de mestres e ajudantes que para o futuro venham a vagar, serão preenchidos pelos operários de reconhecido bom comportamento e competência, que se sujeita-rem a um concurso, cujas bases serão annuiiciadas opportuna-mente pela administração.

Art. 24.° 0 operário que for servir no exercito, quando te-nha terminado o tempo de serviço, ou seja licenciado, tem di-reito a ser readrnittido ao serviço da administração, e igual-mente têem direito a ser readmiltidos os que se achavam ser-vindo no exercito ao tempo da publicação da lei de 22 de maio de 1888.

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§ único. A doutrina do presente artigo è extensiva aos ope-rários que se achavam doentes ao tempo da publicação da mes-ma lei.

Art. 25.° Para toda a aprendizagem nas fabricas serão prefe-ridos os filhos de operários, satisfazendo os seguinte.* requisitos :

l.° Conhecer as disciplinas que constituem a insttucção pri-maria elementar;

2.° Comprovar, com attestado medico, de que gosam boa saúde e capacidade para o trabalho;

3.° Ter idade superior a treze annos para o sexo masculino e quinze para o feminino.

Art. 26.» No caso de doença, devidamente comprovada, os operários receberão por quinze dias o salário por inteiro, e terão direito aos mais benelicios de soccorros, nos termos do estatuto da caixa respectiva.

Art. 27° Nenhum operário ou empregado se poderá recu-sar a cumprir as ordens dos seus superiores, ficando-lhe salvo o direito de reclamação pelas vias competentes, até â adminis-tração, quando não as julgue justas ou rasoaveis.

. § 1.° Quando qualquer empregado ou operário se julgue le-sado por uma disposição de serviço, não poderá, por esse mo-tivo, recusar-se a cumpril-a, tendo, todavia, a faculdade de di-rigir-se ao seu chefe immediato, allegando o que tiver em seu favor e requerendo a intervenção d'elle.

§ 2.° Qualquer representação que os operários tenham de fazer, deve ser apresentada por intermédio dos respectivos mes-tres de offlcinas. ao director da fabrica; e não sendo o assum-pto da alçada d'esté, será submettida superiormente, para se re-solver.

§ 3.° As reclamações sobre trabalho deverão ser feitas por uma comniissão composta de três operários, delegados da classe.

§ 4.° São prohibidas as reuniões de operários dentro das fabricas para quaesquer fins alheios ao trabalho de que estão incumbidos.

Ari. 28.» Todos os operários serão respeitosos para com os seus superiores, a quem compete, por sua vez, a consideração devida para com elles.

Art. 29.° Haverá, junto ás fabricas, creches para os filhos dos operários.

§ unico. As creches serão estabelecidas de modo que as mães possam ir alimentar os filhos, as vezes que lhes forem necessárias.

Art. 30.° Todas as reclamações sobre assumptos não previs-tos n'este regulamento, serão feitas por intermédio de commis-sões de três membros, nomeados pelos operários.

Art. 31.° As horas de trabalho das machinas productoras de qualquer espécie fabril, não poderão ser em numero superior ás que trabalharem os operários das mesmas especialidades, exe-cutadas á mão.

Ârt. 32.° Todos os trabalhos devem ser divididos entre Lis-boa e Porto.

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