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A COMUNICAÇÃO NA VALORIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL NAS FAVELAS DO COMPLEXO DO ALEMÃO NO RIO DE JANEIRO

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A COMUNICAÇÃO NA VALORIZAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO LOCAL

SUSTENTÁVEL NAS FAVELAS DO COMPLEXO DO ALEMÃO NO RIO DE JANEIRO

José Teixeira de Seixas Filho Pós-Doutor em Bioquímica pela FIPER. UNISUAM

jseixas4@gmail.com Sylvia Bisaggio Affonso (in memoriam) Mestre em Desenvolvimento Local pela UNISUAM revistaaugustus@unisuam.edu.br Sílvia Conceição Reis Pereira Mello Doutora em Higiene veterinária e processamento tecnológico de produtos de origem animal

pela FIPERJ. UNISUAM silviaqua@uol.com.br Luiz Carlos Werneck Streva Mestre em Desenvolvimento Local pela UNISUAM

revistaaugustus@unisuam.edu.br Rose Cristina Silva Sobral Mestranda em Desenvolvimento Local pela UNISUAM

roses@unisuam.edu.br RESUMO

Este trabalho retomou os conceitos históricos da formação das favelas na cidade do Rio de Janeiro, ressaltando aspectos peculiares das favelas do Complexo do Alemão, localizado na região da Leopoldina, numa análise sobre a sociologia do preconceito com a comunidade de baixa renda e a comunicação como sentinela da cidadania, estabelecendo movimentos sociais, reconhecendo as transformações e os aspectos que sustentam sua regularidade na sociedade contemporânea, visando diluir os efeitos negativos deste comportamento para esta classe social, utilizando a comunicação comunitária como instrumento de inclusão social, principalmente por meio da visibilidade dos projetos sociais locais, fundamentais para que exista sustentabilidade em todas as ações da comunidade, devido a falta de políticas públicas, oferecidas ao comércio do asfalto, ignorando uma classe social produtiva. Pode-se observar que este mercado emergente precisa ser mais examinado pela governança, para organizar e ampliar a fixação da mão-de-obra local de forma sustentável, como fomento do desenvolvimento local, uma vez que a favela tem se tornado um qualificado laboratório de incubação de novos negócios, criando condições para que os setores e os atores sociais participem ativamente. Palavras-chave: Comportamento Humano. Comunicação Comunitária. Empreendedorismo. Socioeconômica. Sustentabilidade.

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NAS FAVELAS... Sílvia Conceição Reis Pereira Mello Luiz Carlos Werneck Streva Rose Cristina Silva Sobral

COMMUNICATION IN VALUING SUSTAINABLE LOCAL DEVELOPMENT IN THE GERMAN COMPLEX SHANTY TOWN IN RIO DE JANEIRO

ABSTRACT

This paper has taken up the historical concepts of shanty town formation in the city of Rio de Janeiro, highlighting specific aspects of the in the german complex shanty town, located in the Leopoldina region, in an analysis of the sociology of prejudice with the low-income community and communication as sentinel of citizenship, establishing social movements, recognizing the transformations and aspects that underpin their regularity in contemporary society, aiming to dilute the negative effects of this behavior for this social class, using community communication as an instrument of social inclusion, mainly through the visibility of Local social projects, essential for sustainability in all community actions, due to the lack of public policies offered to the asphalt trade, ignoring a productive social class. It can be seen that this emerging market needs to be further scrutinized by governance in order to organize and broaden the setting of local labor in a sustainable manner, as a stimulus for local development, since the shanty town has become a qualified laboratories incubating new businesses, creating conditions for sectors and social actors to participate actively.

Keywords: Human Behavior. Community Communication Entrepreneurship. Socioeconomics. Sustainability.

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NAS FAVELAS... Sílvia Conceição Reis Pereira Mello Luiz Carlos Werneck Streva Rose Cristina Silva Sobral 1 INTRODUÇÃO

As diversidades sociais pairam sobre a ótica inclinada a compreender as intervenções micro, os sentimentos morais intrincados no cenário da vida cotidiana, bem como na dedicação a entender como a linguagem, os mecanismos pragmáticos da construção do comum, tecem determinados sentidos, métodos e cosmologias impressas nas atuações dos atores.

A organização da sociedade é analisada, segundo Touraine (2009), como um conjunto de processos por meio dos quais um aparelho de dominação insidioso controla todos os aspectos ou iniciativas da vida social, incluindo as próprias representações neste consenso, e não mais como antes, considerando os termos da funcionalidade ou disfuncionalidade.

Por conseguinte, percebe-se que no campo das relações sociais há uma constante troca de impressões entre pessoas, gerando nas mesmas, o que é conhecido como preconceito. Este é visto ou percebido como opinião ou ideia preconcebida sobre algo ou alguém, sem conhecimento ou reflexão, prejulgamento, atitude genérica de discriminação ou rejeição de pessoas, grupos, ideias, entre outras, em relação a sexo, raça, nacionalidade e religião (GEIGER, 2012).

Por comunidade, de maneira compacta, se entende como unidade de comum, e não aquilo que de maneira pejorativa se entende como aglomerado de pessoas de baixa renda. Qualidade ou condição do que é comum, harmonia (comunidade de opiniões, comunidade de sentimentos. Conceito de pessoas que partilham, em determinado contexto geográfico ou num grupo maior, o mesmo habitat, religião, cultura, tradições, interesses, entre outros (GEIGER, 2012).

O preconceito social pode se expressar sobre várias vertentes além da social, mas também na esfera profissional, racial, de origem, gênero, raça, grupos, ideias, sexo, nacionalidade, religião ou crença entre outros.

No Brasil, apesar do preconceito ser velado (não explícito), deve-se considerar como sendo pré-existente em todas as camadas sociais (ROHDEN, 2009).

Os bolsões de pobreza são formados pela população desassistida do poder público e aglomeram-se numa organização particular, com engenharia peculiar aos que não possuem espaço para urbanidade. Nesta sobrevivência acontecem relações de autonomia quanto ao

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NAS FAVELAS... Sílvia Conceição Reis Pereira Mello Luiz Carlos Werneck Streva Rose Cristina Silva Sobral comércio local, sendo instaladas, de forma precária e original, as tendas comerciais para vender diversos itens da necessidade humana. Este empreendedor local possui maior chance em se equilibrar e ampliar seus negócios, à medida que forem saindo do isolamento social e ampliando sua imagem à sociedade. Este processo é catalisado pela propaganda que em curto espaço de tempo alcança uma grande massa de consumidores.

O Complexo do Alemão se localiza na Zona da Leopoldina do município do Rio de Janeiro, no Estado do Rio de Janeiro. Sempre foi considerado uma das áreas mais violentas da cidade, entretanto, em 2011, o governo do Estado implantou no bairro um programa de desenvolvimento local tendo como apoio Unidades de Polícia Pacificadora, que trouxe, a princípio, resultados positivos em relação à diminuição dos índices de violência no bairro.

As complexas relações que rodeiam as comunidades do Alemão com o “corpus” da cidade do Rio de Janeiro como alvo, anterior à implantação das UPP´s das obras de acessibilidade, transporte e gestão urbana, caracterizam o academicamente de cidade partida, que deixou como lastro, toda uma relação de descaso ou minimamente preconceito sócio urbano contra a localidade do Alemão.

O preconceito citado desvela-se na medida em que inadvertidamente se avilta o cidadão humilde das localidades mais carentes à marginalização, mediante citações que vão de marginal a outros adjetivos menos qualificados, isto é, o argumento favorável à existência de preconceito do tipo racismo no Brasil, e da irredutibilidade do preconceito racial ao preconceito puramente social (CAVALCANTI, 1999).

Nas últimas décadas, a insegurança pública tornou-se uma marca negativa do Estado do Rio de Janeiro correspondente ao avanço do tráfico de drogas. Em diversos períodos as ações planejadas e consolidadas por lideranças e membros do Comando Vermelho (CV), em particular, produziram, intensificaram e, ou, amplificaram a percepção de medo na cidade (PEREIRA, 2014).

O pensamento comunicacional foi estruturado numa construção social, uma relação com o mundo em formação permanente e o reconhecimento do ser comunicador como ser político e ideológico, comprometido com a sociedade que está inserida, com a responsabilidade e o rigor para aprender e ensinar (KOSHIYAMA; BOCCHINI, 2014). Abordar um discurso que dialoga com historicidade, a sociologia, a antropologia e a pedagogia da sociedade.

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NAS FAVELAS... Sílvia Conceição Reis Pereira Mello Luiz Carlos Werneck Streva Rose Cristina Silva Sobral A comunicação como sentinela da cidadania visa à estabilização de convivências nos espaços com desigualdades numa esfera de habitantes que até bem pouco tempo nem almejava transformação social. A sociologia, portanto, para Touraine (2009) não deve ser definida mais como o estudo da sociedade ou dos sistemas sociais gerais, mas, igualmente, bem como o estudo dos processos sociais mediante os causadores econômicos e políticos, de um lado, e os atores individuais ou coletivos, definidos cultural e socialmente, por outro. Esta conexão, deu origem à ação coletiva, a processos políticos e a atitudes pessoais ou grupais.

A comunicação comunitária como instrumento para a mudança de paradigma procura retomar os conceitos fundamentais de comunicação popular e alternativa, estabelecendo-os a partir de noções teóricas de comunidade e dos processos de comunicação nos movimentos sociais. Por isso, reaver os conceitos de comunidade e de comunicação popular é reconhecer as transformações e os aspectos que sustentam sua regularidade na sociedade contemporânea.

Quantas atrocidades foram cometidas contra a humanidade graças ao anonimato dos fatos, favorecido pelo isolamento, por falta de velocidade e longevidade em transmitir tais conhecimentos a uma grande massa crítica, que muitas vezes, poderia reverter rapidamente o processo.

Os projetos sociais locais precisam de visibilidade. O conhecimento do que está sendo feito para o desenvolvimento local é fundamental para que exista sustentabilidade em todas as ações da comunidade. Para isso é necessário utilizar formas de comunicação e mídias adequadas para a divulgação de todos os projetos para o público do local e para toda a sociedade.

2 A FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS DE FAVELAS NO RIO DE JANEIRO

Apenas com a difusão da atividade industrial no Brasil, consolidada após a 2ª Guerra Mundial, é que foram definidos os rumos da urbanização brasileira. Isso significa que os países que tiveram um processo de industrialização tardia, como o Brasil, também tiveram uma urbanização demorada e sem planejamento. O êxodo rural iniciado no Brasil na década de 1950 provocou um inchamento das cidades, conhecido nos dias de hoje como a macrocefalia urbana.

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NAS FAVELAS... Sílvia Conceição Reis Pereira Mello Luiz Carlos Werneck Streva Rose Cristina Silva Sobral Tanto que, no ano de 1950, a população urbana brasileira representava um total de 18,8%. Em 1965, esse percentual alcançou mais de 50%, tornando o Brasil um país urbano (SILVA, 2017).

O Estado do Rio de Janeiro possui uma reduzida área territorial, ficando como o terceiro menor estado do país e possui o maior e mais amplo legado da história política, econômica, social, científica e cultural brasileira. Foi sede da Colônia, do Império e da República (LYRA, 2006), sendo até os dias atuais, principalmente a atual Cidade do Rio de Janeiro, um espaço ocupado, em momentos diferentes, por populações com perfis socioeconômicos totalmente distintos. Este fato é um desafio constante para as transformações sociais na direção de uma sociedade mais justa e fraterna.

O caos na zona urbana das cidades é uma característica que se desenvolve quando não existe planejamento. Estes fatores contribuem para a formação de uma imagem deturpada e, geralmente, sem fiscalização do poder público e com o movimento migratório da população rural para o meio urbano, observou-se um aumento significativo da violência, e os movimentos das autoridades tentando conter essa violência (SILVA, 2017).

Dentro de um contexto histórico é, igualmente, possível dizer que o Rio de Janeiro possui uma historicidade relacionada à organização do trabalho e de sua estruturação produtiva bem típica (SOARES, 2010). O autor acrescentou ainda, que a renda das famílias pobres trabalhadoras na cidade do Rio de Janeiro, na conjuntura do início do século passado, terminava constituindo rígidos limites para uma ocupação regular do terreno. Ocupação esta que resultou na constituição de favelas que, de acordo com Freire (2014a) apesar de estas possuírem grande contribuição econômica, política e cultural para a cidade são, desde seu surgimento, percebidas como espaços indesejáveis. Por um lado, o mesmo autor (2014b) acrescentou que há uma crescente aparição, atualmente, na mídia como foco de transmissão da violência e da criminalidade, mas também, por outro sentido vêm sendo cada vez menos percebidas como problema eminentemente sanitário ou moral.

A definição de favela, dada pelo Censo do IBGE (2010) foi a de aglomerados subnormais com mais de 50 unidades habitacionais dispostas de modo desordenado e denso, sobre solo que pertence a terceiros, carecendo de serviços públicos essenciais. Opõem-se aos setores normais, que por exclusão constituem a cidade formal. Não se podem ver aí categorias de conteúdo sociológico. Utiliza essa divisão mais para efeitos de organização do trabalho de

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NAS FAVELAS... Sílvia Conceição Reis Pereira Mello Luiz Carlos Werneck Streva Rose Cristina Silva Sobral coleta de dados em campo. É difícil definir, por exemplo, a linha divisória entre favela e bairro no Complexo do Alemão na Cidade do Rio de Janeiro, ou tentar explicar as diferenças entre invasões, favelas e loteamentos irregulares na zona oeste da mesma cidade. Matizes como esses não reconhecem os limites do subnormal (SILVA, 2012).

Existem diversas críticas às definições tradicionais de favela. O conceito de aglomerado subnormal pressupõe a existência de algo que seja classificado como normal. E não existe definição do normal. Em geral, a favela é tratada primeiramente através da ideia de precariedade, sendo a subnormal constituído de barracos ou casas carentes de serviços públicos essenciais, ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terreno de propriedade alheia (pública ou particular) e estando dispostas, em geral, de forma desordenada e densa (IBGE, 2010). Este critério é arbitrário.

A definição do Instituto Pereira Passos, vinculado à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, também aborda a favela pela precariedade, colocando-a como uma área predominantemente habitacional, caracterizada por ocupação clandestina e de baixa renda, vias estreitas e alinhamento irregular, ausência de parcelamento formal e vínculos de propriedade e construções não licenciadas, em desacordo com os padrões legais vigentes.

Não existe nenhum critério relacional. Sempre é uma coisa que existe em si e explicada a partir de si e marcada pela precariedade. Logo, a favela se exprime na cidade como a não cidade. É um lugar que tem que ser superado, acabar. Por isso, durante muito tempo, a favela não podia nem aparecer no mapa.

A partir da gestão do Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro, o Senhor César Maia em 1993, a favela começa a ser visibilizada e aparecer no mapa da cidade. É uma tradição histórica se invisibilizar os grupos subalternos. Era assim com os trabalhadores no século XIX, com as mulheres e com os moradores das favelas (SILVA, 2012).

3 OS ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS DAS FAVELAS

Uma das principais insígnias da sociologia é o capital, que assemelha constituir os limites e as sombras que delimitam as relações e as distâncias entre o presente e o passado, a superstição e a ilustração, o trabalho e a preguiça, a nação e a província, a tradição e a

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NAS FAVELAS... Sílvia Conceição Reis Pereira Mello Luiz Carlos Werneck Streva Rose Cristina Silva Sobral modernidade. Em suas conotações sociais, políticas e culturais, além das econômicas, o capital parece exercer uma espécie de missão civilizatória, em cada país e continente, no mundo.

Enquanto o capital econômico se encontra nas contas bancárias e o capital humano dentro das mentes das pessoas, o capital social convive no alicerce das suas relações. Para dispor de capital social, um indivíduo necessita de se elencar com outros, e são estes, não o próprio, a verdadeira fonte dos seus benefícios. Enquanto propriedade de comunidades, ao invés de indivíduos, o capital social é simultaneamente uma causa e um efeito. Induz, por um lado, a implicações positivas, tais como o desenvolvimento econômico e uma menor aplicação criminal, mas a sua existência é resultado desses mesmos resultados. As cidades que são bem governadas e em ampliação econômica conseguem por apreenderem um elevado capital social. As cidades em maior condição de pobreza não possuem este benefício cívico (PORTES, 2000).

A Favela é uma presença característica em todas as cidades brasileiras. No Rio de Janeiro, a população que ocupa esses assentamentos corresponde a 20% da sua população, em São Paulo 22%, Belo Horizonte 20%, Salvador 30%, Recife 46%, Fortaleza 31%. Há um estigma na sociedade brasileira que ainda encara essa parte substancial do território dessas cidades como um local marginal e sem lei. Romper esse estigma significa garantir serviços urbanos como coleta de esgotos, de resíduos sólidos, de distribuição de água, de iluminação pública, de transportes funcionando de forma eficiente no cotidiano e garantir acesso à urbanidade. Para tal, é importante avaliar e preservar as pré-existências construídas por essas comunidades, mas também abrir eixos de penetração, que garantam o acesso aos serviços urbanos diversificados e variados (MOREIRA, 2016).

Por outro lado, a taxa de crescimento dos setores subnormais é de 2,4% ao ano, enquanto o resto da cidade cresce apenas 0,38% ao ano. Isso quer dizer que as “favelas” crescem em um ano o que o “asfalto” leva mais de seis anos para crescer. (BUENO, 2002).

Vistos de modo isolado, eles são pobres. Por vezes, miseráveis. Mas percebidos em bloco, os moradores de áreas de baixa renda compõem um mercado absolutamente relevante. Sobretudo em tempos de mercado desaquecido como agora. Tomando apenas o exemplo da chamada Comunidade das Quadras, um verdadeiro enclave de cerca de 450 casas simples em plena Aldeota, área nobre de Fortaleza, tem-se uma renda média mensal de R$ 2 milhões. Dinheiro que vai às compras como outro qualquer. Este é apenas um dado que a Central Única

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NAS FAVELAS... Sílvia Conceição Reis Pereira Mello Luiz Carlos Werneck Streva Rose Cristina Silva Sobral de Favelas (CUFa) tem no boné para atrair investimentos para a comunidade. O plano é simples: chamar a atenção das empresas que produzem o que aqueles consumidores compram e obter delas investimento em capacitação e qualificação. Bom para quem vende e para quem compra (CAVALCANTE, 2016).

Meirelles (2015) comentou que as favelas brasileiras, com 12,3 milhões de moradores, sofreram nos últimos anos fundamentais mudanças sociais e econômicas, num território tão marcado pela falta de perspectiva e preconceito, tornando-se um lugar cada vez mais próspero para oportunidades, movimentando, mesmo na crise, mais de US$ 19 bilhões em 2015, como consumo similar a países como Paraguai e Bolívia, mas continuam cercadas por contradições e preconceito.

Meirelles e Athayde (2014) afirmaram que se as favelas fossem um estado, seria o quinto mais populoso da federação, capaz de movimentar 63 bilhões de reais a cada ano e acrescentaram ainda que os projetos sociais locais precisam de visibilidade, sendo que o conhecimento do que está sendo feito para o desenvolvimento local é fundamental para que exista sustentabilidade em todas as ações da comunidade. Para isso é necessário utilizar formas de comunicação e mídias adequadas para a divulgação de todos os projetos para o público do local e para toda a sociedade.

O aumento da renda e da geração de emprego formal trouxe uma nova realidade para a favela brasileira. Hoje, mais da metade dos trabalhadores que moram em favela têm carteira assinada. São mais homens e mulheres que têm férias, 13° salário e seguro-desemprego. A tecnologia tornou-se aliada importante das favelas brasileiras. A favela é mais conectada que o asfalto. Criativos, os moradores sabem se virar em momentos de adversidades e são especialistas em transformar crise em oportunidade. Nas comunidades, oito em cada dez internautas acreditam que a rede pode ajudá-los a ganhar mais dinheiro. Sábios, eles usam a internet para aumentar a renda. Eles conseguiram um emprego, venderam algo e passaram a adotar medidas próprias para se virar na hora que a situação financeira aperta. E o mais surpreendente é que a favela é muito mais conectada com os meios tecnológicos que as pessoas moradoras do asfalto. Existem mais internautas na favela que fora desse território, que vive em constante transformação (MEIRELLES, 2015).

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NAS FAVELAS... Sílvia Conceição Reis Pereira Mello Luiz Carlos Werneck Streva Rose Cristina Silva Sobral Conforme já comentado por Paixão e Andrade (1993) o eixo central de todo esse problema de fato é a desigualdade social, a população que migrou para o meio urbano, nem sempre foi atendida e com falta de oportunidades, muitas se aglomeraram em morros e periferias gerando ''favelas'' causando profundas mudanças na qualidade e no estilo de vida

4 O DESENVOLVIMENTO LOCAL COMO METODOLOGIA SOCIAL

O Desenvolvimento Local é a máquina de transformação da sociedade, não só em relação aos meios, mas também aos fins, acumulando e ampliando a capacidade produtiva, com a apropriação dos produtos e da sua comercialização. Estas ações refletirão na divisão social do trabalho e, principalmente na cooperação, introduzindo novos produtos que alavancarão a diversificação do consumo, valorizando a capacidade criativa coletiva e o desenvolvimento econômico e social.

O grande desafio desta metodologia social é o de mapear os atores dos diferentes contextos, para posteriormente sensibilizá-los e conscientizá-los da importância de formação de redes. Contudo, o primeiro passo para que se obtenha sucesso nessa ação é conhecer o diagnóstico local, para que se possa estabelecer uma estratégia de desenvolvimento adequada às necessidades da comunidade, criando e implantando planos de ação por meio de projetos cooperativos de desenvolvimento que possam criar e implementar indicadores de acompanhamento e avaliação do impacto dos projetos nestas regiões.

Meirelles e Athayde (2014) já afirmavam que em anos recentes, a favela tem se tornado um qualificado laboratório de incubação de novos negócios, ficando claro que o morador da comunidade sabe decidir o que é prioritário para ele mesmo, seja produtos de beleza, um tênis novo, um freezer, um Playstation, carne para o churrasco, entre outras necessidades, ressaltando que o consumo da favela é um sinal de que seus moradores são como qualquer outro cidadão.

Não faz muito tempo que se iniciou uma amplitude observacional sobre a vida dos moradores das favelas, dando visibilidade as condições diferenciadas da realidade do asfalto, organizado, bem alimentado, educado, culto e hierarquicamente socializado, baseando-se na

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NAS FAVELAS... Sílvia Conceição Reis Pereira Mello Luiz Carlos Werneck Streva Rose Cristina Silva Sobral cultura de além-mar com inserções da Europa Francesa, Holandesa e Inglesa. Em contraponto, encontra-se nas comunidades a cultura de miscigenação, iniciada nas senzalas da Casa Grande.

Há um estigma na sociedade brasileira que ainda encara a favela, parte substancial do território dessas cidades, como um local marginal e sem lei. Romper esse estigma significa garantir serviços urbanos como coleta de esgotos, de resíduos sólidos, de distribuição de água, de iluminação pública, de transportes funcionando de forma eficiente no cotidiano e garantir acesso à urbanidade.

O desenvolvimento local representa uma forma de integração com o contexto regional e nacional, que gera e redefine oportunidades e ameaças, exigindo competitividade e especialização (BUARQUE, 2002).

As empresas têm a chance de se voltarem para comunidades. Elas têm o papel fundamental em relação ao desenvolvimento local, pois se estima que cerca de 1,5 milhão de pessoas vivem em favelas. O valor agregado de consumo somado à renda dessas pessoas é bastante considerável e não pode desprezar isto. É importante que as empresas planejem seu desenvolvimento apoiadas por um modelo de negócios para atender os consumidores e consequentemente exercerem papel social. Não cabe as empresas somente pagarem seus impostos, na atualidade cabe as empresas uma responsabilidade social em relação ao local que atuam. Estima-se que no Complexo do Alemão existam em atividade cerca de seis mil micros, pequenas e médias empresas, algumas legalizadas e outras não, que geram, aproximadamente, 12.000 empregos diretos e indiretos (LEONE, 2011).

Sampaio (2003) já alertava que cabe à propaganda informar e despertar interesses em benefício de algo ou alguém. Afinal, o problema da sustentabilidade ainda está em construção, há várias formas de pensamento sobre seu princípio não sendo apenas a conservação da natureza e o gerenciamento de ecossistemas, na verdade esta questão aponta para novos modelos de desenvolvimento e para transformações sociais. As relações sociais devem ser parte integrante dos estudos e debates sobre sustentabilidade. A sociedade, sim, deve ter a responsabilidade de construir um desenvolvimento sustentável e criar condições para que os setores e os atores sociais participem de tudo: realidades ecológicas e socioculturais locais (FRANCO, 2012).

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NAS FAVELAS... Sílvia Conceição Reis Pereira Mello Luiz Carlos Werneck Streva Rose Cristina Silva Sobral Buarque (2002) já conceituava que a sustentabilidade não podia ocorrer de forma isolada a um país, região ou área circunscrita, tendo em vista a realidade de um mundo interligado em termos econômicos e comunicativos.

É preciso reconhecer a necessidade de cada região enfrentar de forma autônoma seus dilemas e perspectivas em relação ao futuro, construindo modelos próprios. As maneiras de se comunicar, as técnicas de chamar a atenção e persuadir, as mídias comunitárias escolhidas, devem ser utilizadas de acordo com as necessidades e os interesses de cada território, de cada comunidade, enquanto atores sociais capazes de criar suas próprias fórmulas de desenvolvimento (MEIRELLES e ATHAYDE, 2014).

Meirelles e Athayde (2014) afirmaram ainda que atualmente, a favela é, por natureza, mais coletiva e que cada um de seus habitantes representa um conjunto complexo de vontades, aspirações, ressentimentos, rancores, amores e sonhos. Negociar com um favelado equivale, em muitos casos, a negociar com todos. Esse é o grande desafio oferecido pelo setor F, um enigma até para quem nasceu e sempre viveu nas comunidades.

5 A COMUNICAÇÃO COMO FERRAMENTA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

A utilização da comunicação como ferramenta para o desenvolvimento local é uma forma sábia de alcançar o indivíduo nas comunidades, transformando atitudes e esclarecendo sobre o bem viver, uma vez que esta informa, divulga, muda hábitos, recupera uma economia, cria uma imagem, promove o consumo, vende produtos e serviços (SAMPAIO, 2003).

Por que não utilizar a linguagem publicitária de forma adequada para ser visto, ouvido, compreendido numa relação de comunicação planejada entre comunidades, classes sociais ou toda a sociedade, aproximando a favela do asfalto, visando incentivar o empreendedorismo nas comunidades e, principalmente, quebrar o preconceito da convivência confiável, que promoverá o desenvolvimento local com visibilidade (RAMALHO, 2007).

As formas de comunicação utilizadas através das mídias comunitárias e de massa aperfeiçoarão sua linguagem verbal e visual e os meios de transmissão adotados, criarão novos e mais eficientes canais de comunicação para que as vozes de toda a sociedade, independentemente do tamanho do território, sejam ouvidas, entendidas e para que,

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NAS FAVELAS... Sílvia Conceição Reis Pereira Mello Luiz Carlos Werneck Streva Rose Cristina Silva Sobral fundamentalmente, suas mensagens persuadam grupos locais, classes sociais e políticas, regionais, nacionais e globais, em favor de um desenvolvimento com sustentabilidade social, econômica, ambiental, espacial (uma configuração rural-urbana mais equilibrada) e cultural. Afinal, a comunicação é um processo vital para os seres humanos, na medida em que a habilidade de se comunicar aumenta as chances de sobrevivência do indivíduo.

Buarque (2002) já afirmava que o desenvolvimento local é um processo endógeno registrado em pequenas unidades territoriais e agrupamentos humanos capazes de promover o dinamismo econômico e a melhoria da qualidade de vida de uma população. É fundamental o conhecimento de formas de comunicação persuasivas textuais e visuais para facilitar a mobilização desta sociedade e a exploração de potencialidades específicas. Este desenvolvimento local será consolidado e ampliado à medida que se estabeleça e, ou, amplie a visibilidade de suas necessidades, sempre se associando a topografia da urbanização da comunidade, como as subidas, as vielas e as escadas que necessitam serem superadas, muitas vezes, para encontrar soluções para as suas demandas deslocando-se para o asfalto.

REFERÊNCIAS

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CAVALCANTE, B. Favela S/A - Comunidades na mira das empresas. In: Jornal de Hoje, Economia, 28 jan. 2016. Disponível em:

http://www20.opovo.com.br/app/opovo/economia/2016 /01/28/noticiasjornaleconomia 3567721/comunidades-na-mira-das-empresas.Shtml. Acesso em: 01 ago. 2019.

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https://ww2.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/default.shtm. Acesso em: 12 ago. 2014.

LYRA, C. C. Documenta histórica dos municípios do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Documenta histórica, 2006.

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NAS FAVELAS... Sílvia Conceição Reis Pereira Mello Luiz Carlos Werneck Streva Rose Cristina Silva Sobral MEIRELLES, R. A Economia das favelas brasileiras. [S.l.], 2015. Disponível em: http://

brasileiros.com.br/2015/11/economia-das-favelas-brasileiras. Acesso em: 01 agosto 2017. MEIRELLES, R. A; ATHAYDE, C. Um país chamado favela. A maior pesquisa já feita sobre a favela brasileira. 4. ed. São Paulo: Gente, 2014.

MOREIRA, P. L. Cidades, favelas e desenvolvimento econômico. Revista SEAERJ Hoje, n. 27, p. 32-33, 2016.

PAIXÃO, L. A.; ANDRADE, L. T. Crime e segurança pública. In: PAIXÃO, L. A.; ANDRADE, L. T. Poder, políticas e movimentos sociais. Belo Horizonte: Belo Horizonte com Arte / UFMG, 1993. p. 109-123.

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Submetido em: 24/10/2019 Aprovado em: 30/10/2019

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