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REVOGAÇÃO TÁCITA DO ART. 111 DO CÓDIGO PENAL EM RAZÃO DA ENTRADA EM VIGOR DA LEI /10

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REVOGAÇÃO TÁCITA DO ART. 111 DO CÓDIGO PENAL EM

RAZÃO DA ENTRADA EM VIGOR DA LEI 12.234/10

Emmanuella Faissala Dayana Maria Alves Brito Orientador: Vinicius Lúcio de Andrade

INTRODUÇÃO

A segurança pública possui pouco investimento financeiro na área da investigação policial, de toda sorte isso tem prejudicado para a elucidação de alguns casos. Com isso, ocorria, muitas vezes, a prescrição sem que a infração tivesse sido legalmente punida, beneficiando muitos agentes os quais nem eram julgados pelos crimes por eles cometidos.

Esses fatos eram percebidos pela falta de aparelhamento adequado para as policias pudessem realizar sua investigação com celeridade e economicidade. Ocorre que, o Estado ao invés de propiciar melhor infraestrutura para a polícia judiciária, resolveu legislativamente retirar do ordenamento penal as causas de prescrição que era reconhecidas antes do recebimento da denúncia.

Com o advento da Lei 12.234/10 suprimindo a redação trazida no §2º do art. 110 e acrescentando ao diploma penal novo texto vedando que a prescrição tivesse como marco inicial qualquer fase entes do recebimento na denúncia ou queixa, §1º, do artigo em comento.

Vale ressaltar, que o ordenamento jurídico brasileiro instrui que diante de duas normas conflitantes deverão ser observado os critérios de hierarquia, tempo e especialidade. Em razão disso, a matéria tipificada no art. 111 do Código Penal Brasileiro se encontra tacitamente revogada uma vez é verificado a antinomia de normas entre esse artigo e aquele artigo.

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METODOLOGIA

A pesquisa se pautou, exclusivamente, em análise da Lei 12.234/10 que revogou o parágrafo 2º do artigo 110 em detrimento artigo 111 do Código Penal vigente, alterando alguns requisitos que deveriam ser seguidos para aplicação da prescrição penal. Para compreender as ideias abarcadas na presente pesquisa, utilizou-se de leis e materiais disponíveis na internet, uma vez que o sistema, por ela mencionada, restringiu as formas da aplicabilidade da garantia fundamental constitucional da prescrição.

DESENVOLVIMENTO

A prescrição é direito fundamental com garantia constitucional ocasionando como uma clausula pétrea, em que verifica no artigo 60, §4º, V, da Carta Suprema. O instituto, objeto de estudo dessa pesquisa, a prescrição, é garantia fundamental implícita, a qual se norteia pelas duas únicas formas de imprescritibilidade explícita na Constituição da República Federativa do Brasil.

Com enfoque a isso, a segurança pública brasileira se encontra fragilizada pelo investimento mínimo que é proporcionada a ela, nesse cenário existe a falta de infraestrutura, de logística, de pessoas qualificadas e ferramentas necessárias para a realização de atividades básicas, em especial a de investigações de condutas criminosas. Gerando, dessa forma, grande desconforto e desmotivação por parte dos agentes atores da realização da garantia da paz pública.

O sistema penitenciário brasileiro garante a posição da 4ª maior população carcerária do mundo, perdendo para países como Estados Unidos da América, China e Rússia, segundo dados disponibilizados no site do Ministério da Justiça (http://www.justica.gov.br/noticias/populacao-carceraria-brasileira-chega-a-mais-de-622-mil-detentos).

Além disso, acresce o Conselho Nacional de Justiça, por meio de um

informativo da Rede Justiça Criminal (http://www.cnj.jus.br/files/conteudo/arquivo/2016/02/b948337bc7690673a39cb5cdb10

994f8.pdf), que há um uso indiscriminado da prisão processual, adverte que “do total de 607.731 presos no sistema penitenciário nacional, 250.213 (41%) são provisórios”. Por

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tais motivos, muitos detentos, a espera de um processo que deveria ser célere, pela urgência da demanda, acaba passando extrapolando o tempo permitido por lei a espera do julgamento.

Ocorre que diante dessa espera pela condenação definitiva, muitos processos precluiam antes mesmo de terem sido levado a julgamento, bem como, pela redação anterior dada pela Lei 12.234/10 que na observância de tais hipóteses deveriam decretar extinta a punibilidade da condenação em virtude da prescrição da pretensão punitiva do Estado em imputar uma sanção penal ao sujeito.

A prescrição pode ser interpretada pela cessação do Estado, por intermédio do seu poder punitivo em punir o agente infrator desaparecendo, assim, o controle do ente Estatal em cominar uma pena ou executá-la em desfavor do transgressor.

Para Grego é o “instituto jurídico mediante o qual o Estado, por não ter tido capacidade de fazer valer o seu direito de punir em determinado espaço de tempo previsto pela lei, faz com que ocorra a extinção da punibilidade” (2014, p.803). Além disso, cita Damásio de Jesus “a prescrição, em face de nossa legislação penal, tem tríplice fundamento: 1º) o decurso do tempo (teoria do esquecimento do fato); 2º) a correção do condenado; e 3º) a negligência da autoridade”.

O instituto da prescrição é de natureza penal pertinente ao seu posicionamento em direito material, prevendo duas possibilidades da aplicação, uma ocorrendo antes da pena transitada em julgado e outra após a condenação em definitivo.

A primeira se denomina na prescrição da pretensão punitiva do Estado e a segunda em Prescrição da pretensão executória. Todavia, essa prescrição “o Estado, em razão do decurso do tempo, somente terá perdido o direito de executar sua decisão”. Segundo o autor, supracitado, aquela faz com que o Estado deixe de constituir o título executivo de natureza judicial (GRECO, 2014, P.804).

Insculpidos nos moldes Constitucionais brasileiros de 1988 a prescrição é uma das formas de extinguir a punibilidade do infrator, descrito no art. 107 do Código Penal, uma vez que o ordenamento brasileiro veda qualquer forma de pena perpétua, ocorrendo apenas dois casos de imprescritibilidade: racismo e terrorismo, incisos XLII e XLIV do art. 5º da Carta Magna vigente.

Extinção da punibilidade

Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:

I - pela morte do agente;

II - pela anistia, graça ou indulto;

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IV - pela prescrição, decadência ou perempção;

V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada;

VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite; VII -revogado

VIII -revogado

IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.

O art. 61 do Código de Processo Penal aduz que “em qualquer fase do processo, o juiz, se reconhecer extinta a punibilidade, deverá declará-lo de ofício”, consequentemente a prescrição é de ordem pública. Rogério Greco (2014, p. 808) posiciona-se em “o juiz somente poderá declarar a extinção da punibilidade com base no reconhecimento da prescrição se já houver um processo em andamento”. Acrescenta que “caso tenha tão somente inquérito policial, somos da opinião de que a declaração de extinção da punibilidade não poderá ser levada a efeito”.

Com a entrada em vigor da lei 12.234/10 algumas alterações foram observadas do ponto de vista penal diante de uma hipótese de prescrição, entre elas a que mais se destaca é a revogação expressa do §2º do art. 110 que dizia “a prescrição, de que trata o parágrafo anterior, pode ter por termo inicial data anterior à do recebimento da denúncia ou da queixa”.

Acontece que com supressão de tal parágrafo o art. 111, do mesmo diploma legal, ficou sem efeito, já que a contagem retroativa só poderá ocorrer nas ocasiões em que já ocorreu o recebimento da denúncia ou da queixa crime, assim narra “depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa” (art.110, §1º).

Com arrimo a isso, se torna irrelevante a data prescricional da pena em relação ao dia em que foi consumado o crime, bem como, no caso de tentativa e de crimes permanentes, tanto quanto os crimes descritos nos incisos IV e V do mencionado artigo.

Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/1980-1988/L7209.htm - art111

I - do dia em que o crime se consumou;

II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência;

IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil, da data em que o fato se tornou conhecido.

V - nos crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal.

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Hodiernamente, a legislação penalista pátria ensina no art. 10 do CPP que entre o início da persecução policial na investigação da autoria e materialidade do crime deverá terminar em 10 dias nas situações em que o indiciado estiver preso e 30 dias estiver solto.

Incide que entre o término do inquérito e o recebimento da denúncia ou queixa exige várias idas e vindas do juiz competente, Ministério Público e a polícia judiciária, fato que não se exauri dias determinados. Assim, se torna praticamente impossível com a lentidão processual brasileira os eventos elencados no art. 111 coincidirem com o §2º do art. 110 do CP.

Vislumbra, portanto, a inaplicabilidade do art. 111 nos episódios em que existirá a prescrição retroativa, por exemplo. A par disso, a prescrição de fato só irá iniciar a partir do recebimento da denúncia ou da queixa crime.

Antes de entrada em vigor da Lei 12.234/10 que

Art. 110. (...) § 1º - A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação, ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada.

§ 2º - A prescrição, de que trata o parágrafo anterior, pode ter por termo inicial data anterior à do recebimento da denúncia ou da queixa.

Após a alteração normativa o texto ficou com a seguinte redação, art.110, §1º “(...) não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa”, corroborando com inaplicabilidade da obediência aos prazos elencados no art. 111.

Acerca do assunto prepondera Luiz Flávio Gomes que

a prescrição retroativa (prescrição contada para trás, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação) acabou pela metade. Como assim? Antes da nova lei a prescrição retroativa podia acontecer ou entre a data do fato e o recebimento da denúncia ou queixa ou entre o recebimento da denúncia ou queixa e a publicação da sentença condenatória. Dois eram os períodos prescricionais possíveis. Com a redação nova tornou-se impossível computar qualquer tempo antes do recebimento da denúncia ou queixa. Ou seja: a prescrição retroativa, agora, só pode acontecer entre o recebimento da denúncia ou queixa e a publicação da sentença. Foi cortada pela metade. A prescrição retroativa, em síntese, não acabou. Foi extinta pela metade.

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Cuidado: isso não significa que não existe nenhuma prescrição nesse período pré-processual (antes do recebimento da denúncia ou queixa). Nesse período rege a prescrição da pretensão punitiva pela pena máxima em abstrato (ou seja: a investigação não pode ser eterna; caso o Estado demore muito para apurar os fatos, ocorre a prescrição pela pena em abstrato).

Acontece que o inciso I do art. 117 também se encontra tacitamente revogado em virtude do recebimento da denúncia ou da queixa não interromper mais o prazo prescricional, haja vista que esse marco temporal é o início da contabilização da viabilidade da análise do mérito.

Causas interruptivas da prescrição

Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se: I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa; II - pela pronúncia;

III - pela decisão confirmatória da pronúncia;

IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis; V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena;

VI - pela reincidência.

A Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro estabelece, em seu artigo segundo e parágrafo primeiro, que a “lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior”.

Em virtude disso, é plenamente perceptível que por essas leis serem incompatíveis não há a necessidade normativa da obediência as hipóteses insculpidas nos moldes do art. 111 do CP, tornando irrelevante sua aplicação.

Desse modo, o alcance da punição por conta do Estado não pode perpetuar-se no tempo inviabilizando a análise do mérito no âmbito estatal. E em plena harmonia aos ditames substabelecidos pela Lei 12.234/10 as balizas redigidas no art. 111 do Código Penal Vigente não poderão ser usadas de parâmetros para o reconhecimento de causa de extinção de punibilidade, sobretudo, a prescrição.

CONCLUSÃO

O estudo aqui arrazoado veio com o escopo de dirimir a dubiedade trazida pela vigência da Lei 12.234/10 em que se omitiu em revogar expressamente os parâmetros de aferição relacionados no art. 111 do CP quanto à contagem da aplicação da prescrição.

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A análise discorreu acerca da ineficácia da aplicação dos requisitos esculpidos nos moldes do artigo supra, em que foi tacitamente revogado pelo ordenamento brasileiro em que garante que lei nova que regula sobre mesma matéria se sobrepõe a matéria trazida em lei velha.

Em consonância a isso, a pretensão punitiva de punir em abstrato pelo ente Estatal não poderá conferir sua aplicabilidade baseado pelos requisitos ali trazidos, uma vez que não possui eficácia jurídica para sua satisfação, sub-rogando lei velha a lei nova.

Diante disso, muitos persecutores da pena, os responsáveis constitucionalmente em investigar as ações penais acabam tendo dificuldade em tempo ágil na propositura da ação, assim, como para a justiça efetivar a aplicação da pena. A redação revogada do art. Art. 110, §2º, consistia que a prescrição, de que trata o parágrafo anterior, pode ter por termo inicial data anterior à do recebimento da denúncia ou da queixa.

Com a revogação desse parágrafo o legislador retirou do Estado a responsabilidade de efetivar os serviços públicos de segurança atribuindo violação aos direitos fundamentais do cidadão inscrito na Constituição Federal de 1988, não obedecendo ao regramento elencado no art. 60, §4º, IV.

Ocorre que perante algumas situações alheias a vontade estatal insurgindo em contrapartidas diversas do pretendido pela norma penal o Estado preocupou-se mais com a punição do que com a Celeridade e Economicidade do processo, que deveria ser basilares frente a uma persecução penal que exige celeridade e eficiência nas matérias de urgência em que a liberdade do indivíduo pode ser lesionada.

Desse modo, o legislativo preferiu continuar com a segurança pública sucateada em detrimento das garantias fundamentais do cidadão, uma vez que a impossibilidade da contagem temporal da prescrição não poderá efetivar antes do recebimento da denúncia ou queixa, desde que os fatos tenham sido realizados após a vigência de tal lei.

REFERÊNCIAS

BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. Edição de ouro. Rio de Janeiro: editora tecnoprint S.A, SNT.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em:

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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em agosto de 2016.

________. CÓDIGO PENAL. Decreto-Lei Nº 2.848 de 07 de dezembro de 1940.

Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art110§2. Acessado em: agosto de 2016.

________. Lei nº 12.234/10 de 05 de maio de 2010.

Altera os arts. 109 e 110 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12234.htm#art4. Acessado em agosto de 2016.

________. Lei nº 4.657 de 04 de setembro de 1942.

Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657.htm. Acessado em agosto de 2016.

GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Volume I. 17ª. ed. Niterói: Impetus, 2014.

GOMES. Luiz Flávio. Lei 12.234/10 - mudanças na prescrição penal. Site Migalhas.

25 de maio de 2010. Disponível em:

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