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MARCADORES CONVERSACIONAIS DO DISCURSO DE AFÁSICOS NÃO AFÁSICOS

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Academic year: 2021

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MARCADORES CONVERSACIONAIS DO DISCURSO DE AFÁSICOS NÃO AFÁSICOS

INTRODUÇÃO

A afasia é caracterizada por processos lingüísticos de significação de origem articulatória e discursiva (nesta incluídos aspectos gramaticais) produzidas por lesão focal adquirida no sistema nervoso central (COUDRY, 2001). Portanto, estados psíquicos como depressão, agressividade e frustração podem surgir em diferentes etapas na vida da pessoa que se vê afásica (MORATO org., 2002). O impacto dessas mudanças é tão forte que acaba se tornando elemento de maior relevância, tanto ao nível de vivência cotidiana quanto no tratamento desse sujeito (LÉTORNEAU, 1995).

Este projeto volta-se ao estudo dos marcadores conversacionais como caracterizadores da descontinuidade na interação verbal numa situação dialógica. Ou seja, quais as estratégias utilizadas pelos sujeitos para manter seu discurso quando seu instrumento (a linguagem) é afetado. O entendimento dessa dinâmica é fundamental na abordagem familiar e terapêutica do afásico, proporcionando qualidade de vida e, sobretudo, elevação da auto-estima do sujeito.

Tomamos como marcadores conversacionais os mecanismos que atuam no nível do discurso, estabelecendo algum tipo de relação entre unidades textuais e/ou entre os interlocutores. Consistem em recursos imprescindíveis e muito recorrentes na construção do discurso (PENHAVEL, 2005).

Bassi (2006) descreve que vale notar que existe no discurso uma construção sóciointeracional a partir das manobras lingüísticas realizadas pelos sujeitos marcados por fatores tais como: intersubjetividade, reconhecimento de intenção, processos meta (reajustes), remissão à memória cultural e discursiva que estão envolvidos nesse processo de construção do sentido. E ainda acrescenta que para se chegar a um ‘entendimento’ não basta o conhecimento metalingüístico e nem mesmo a significação lingüística, mas também o reconhecimento do outro (o interlocutor) e o discurso desse outro (a polifonia).

Morato (2002) revela que frequentemente, na convivência com os afásicos, como eles, a cada interlocução, valem-se de recursos expressivos não-verbais (gestos, expressão facial, olhar, postura corporal, entre outros) para instaurar uma conversa, manter a relação interlocutiva e os propósitos comunicativos, orientar a significação dos enunciados e de outras semioses que estão interligadas na elaboração de discursos e na construção do sentido produzido nas interações. Isso não é diferente com os sujeitos não afásicos, que, sob situações de estresse

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emocional ou fadiga física e mental, também apresentam lapsos de memória, titubeiam ao pronunciar, realizam trocas fonéticas, perdem o “fio da meada”, enunciam frases incompletas e, principalmente, reportam-se a recursos não-verbais na construção e interpretação dos discursos. Não se nega que haja perdas, mas não se pode deixar de considerar que os afásicos preservam a possibilidade de agir sobre recursos que lhes restam para produzir, de outras maneiras, seus discursos.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foi realizada capacitação dos alunos participantes do projeto quanto à: abordagem em grupo a pacientes afásicos e seus familiares, a transcrição no sistema do NURC e análise do material coletado. O treinamento teve duração de uma semana. Atualmente o grupo é composto por seis sujeitos afásicos, de idades, causas da afasia, seqüelas, hábitos e vidas diferentes. Com idades variando entre 40 e 72 anos, sendo a prevalência do sexo masculino.

As reuniões foram filmadas e junto com relatórios semanais foram analisados posteriormente. Todos os dados estão arquivados, caso seja necessária alguma conferência. Atualmente as reuniões acontecem nas segundas-feiras de 11:30h às 13h.

A cada semana combinávamos com os próprios participantes a atividade da semana subseqüente. A formação do grupo foi baseada no modelo do Centro de Convivência de Afásicos da Unicamp de São Paulo. Pois segundo Morato (2002 o CCA constitui-se em uma alternativa institucional que busca integrar os afásicos no grupo social em que vivem, seja ele a família, o CCA, ou a sociedade de maneira geral. Para isso, os trabalhos em grupo iniciaram com a exposição individual das histórias, dificuldades, queixas e perspectivas. Nestes momentos pudemos observar o grau de interação entre os indivíduos, por conta da identificação entre suas histórias.

A análise do material coletado foi realizada quali-quantitativamente através da observação da utilização dos marcadores conversacionais por parte dos sujeitos, e a partir dos relatórios dos terapeutas, determinando assim a prevalência de um ou de outro marcador conversacional de cada sujeito dentro do grupo. Qual o papel de cada um dentro do grupo.

Os recursos observados serão:

- Verbais: operam como marcadores formando uma classe de palavras ou expressões altamente esteriotipadas, de grande ocorrência (MARCUSCHI, 2005).

- Não-verbais (paralingúisticos): olhar, riso, gesticulação. Estes têm papel fundamental na interação face a face (MARCUSCHI, 2005).

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- Supra-segmentais: são de natureza lingüística, mas não de caráter verbal. O que foi utilizado foram as pausas (MARCUSCHI, 2005).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Conforme explicitado na metodologia serão mostrados aqui alguns recortes do discurso dos afásicos durante o grupo, enfatizando os marcadores conversacionais em negrito. Os afásicos estão sendo representados por letra maiúscula e os não-afásicos por letra minúscula.

Transcrição do dia 19-05-08 Recorte 1:

(...)

1. liv: o que é que dá sorte que o povo diz?...se o senhor carregar..dá sorte.//2. A.C: ((fica pensando e falando algumas palavras)).//3. liv: ...um pé de um bichinho que falam muito dele na época da páscoa?//4. A: ah.. ((dá uma risada)).//5. alu: ...o senhor já ouviu falar em trevo de quatro folhas?//6. A.C: ...não//7. alu: não... que o pessoal diz que dá sorte..já ouviu falar isso?//8. A.C: não.//9. alu: ... alguém já ouviu falar?//10. A e A.C: ((balançam a cabeça dizendo que sim)).//11. liv: alguém já achou um? ((dá risadas)).//12. ((todos dão risadas))

Podemos observar neste, sinais verbais do ouvinte (que orientam o falante) dos tipos convergente (linha 4), divergente (linhas 6 e 8). Além de pausa de hesitação (preenchida) (linha 2), e recursos não-verbais (linhas 4,10 e 11)

Transcrição do dia 25/05/08 Recorte 2:

(...)

1. //alu: nota de quê//2. AC: ((faz gesto de dinheiro e alu pede que espere)) 3.alu: ...nota//4. A: não//5. liv: ((faz um gesto de violão))

6. alu: ...ó a gente já disse duas coisas//7. A: ((concorda e também faz gesto de violão))//8. alu: nota de::: ... faça o gesto pra ele (se referindo a AC)

9. AC: (faz o gesto de dinheiro) dinheiro//10. alu: ah não diga não 11. A: (começa a rir)

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Neste recorte temos a prevalência da utilização de recursos não-verbais (linhas 2, 5 7, 8, 9 e 11). Mas também os sinais verbais do ouvinte (divergentes) (linha 4).

Nota-se ampla utilização de recursos não-verbais em todos os trechos selecionados, isso é justificado pelo fato de que três, dos seis participantes do grupo, estar com a linguagem oral comprometida. Dos demais um evita falar, pois acha-se incompreendido, sabe das suas dificuldades em se comunicar e constrange-se quando precisa fazê-lo.

Chagas (2007) observou que os resultados no trabalho feito por ela permitiam verificar que a conversação flui de forma bem natural, onde os critérios analisados (marcadores conversacionais) auxiliam o interlocutor a compreender os enunciados do locutor.

Penhavel (2005) afirmou que os marcadores discursivos exercem funções interacionais quando atuam no processamento da interação conversacional, quando cumprem alguma função advinda diretamente da relação face a face entre os interlocutores, integrando portanto, o componente interpessoal da linguagem.

E Chagas (2007) conclui, tudo que foi exposto reafirma que a coerência do texto oral dialogado não está só no âmbito do texto, mas resulta de uma construção dos participantes na situação interativa. Desta forma, a interação face a face, é necessário estar constantemente alerta, controlando os processos da conversação para que haja uma melhor compreensão entre os parceiros no atendimento das solicitações e negociação do sentido no que está sendo dito

CONCLUSÕES

Vimos que é indispensável a continuação dos estudos sobre os marcadores conversacionais, pois são recursos amplamente utilizados pelos sujeitos que têm ou sofreram algum tipo de privação da linguagem.

A linguagem é o lugar onde os indivíduos se representam e constituem o mundo. E por isto que não basta apenas estudar a língua como um código, através de um locutor que transmite mensagens e nem como um sistema formal abstrato, com elementos de vários níveis que permitem organizar as frases de uma língua fora de um contexto, mas é necessário ver a linguagem como lugar de interação, de construção de identidade e de co-participação. (CHAGAS, 2007).

É conveniente ressaltar que o resultado apresentado não é conclusivo, visto que este mesmo projeto terá continuidade em 2008- 2009.

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Agradeço primeiramente a Deus, a Profª Maria Lúcia pela oportunidade. Às amigas inseparáveis Aluísia e Ester. Aos meus pais, meu marido e filho, e ao CNPq.

REFERÊNCIAS

Chagas, C. H. 2007. “O texto oral dialogado: a importância dos marcadores conversacionais”. Revista Philologus, Rio de Janeiro, ano 13 no. 37.

Coudry, M. I. H. 2001. Diário de Narciso: discurso e afasia. 3ª edição. São Paulo: Martins Fontes.

Kodic, M. T. “A caracterização do discurso oral por meio de Marcadores Conversacionais”. Revista Anagrama, ano 1, edição 3, p. 1-8.

Marcuschi, L.A. 2005. Análise da conversação. São Paulo: Ática.

Morato, E. M. (Org.) 2002. Sobre a afasia e os afásicos: subsídios teóricos e práticos elaborados pelo Centro de Convivência de Afásicos. São Paulo: UNICAMP.

Penhavel, E. 2005. “Sobre as funções dos Marcadores discursivos”. Revista Estudos Lingüísticos, São Paulo, no. XXXIV/, p. 1296-1301.

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