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A Tecnologia e a Dinâmica de Mercado para os Organismos Geneticamente Modificados Resumo 1. Introdução

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A Tecnologia e a Dinâmica de Mercado para os Organismos Geneticamente Modificados

Autoria: Cleber Carvalho de Castro, Orlando Martinelli Júnior, Marcelo Capre Dias

Resumo

O presente estudo teve por objetivo analisar a tecnologia e a dinâmica de mercado para os Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), destacando o caso do Brasil no panorama mundial. Foi feita uma breve revisão teórica a respeito de tecnologia e dinâmica de mercado e, a partir de dados secundários, procedeu-se a análise dos resultados. Observou-se uma grande concentração de mercado, conseqüência dos processos de fusão e aquisição liderados por grandes empresas multinacionais, e estimulados pela possibilidade de proteção à inovação. Questões como a economia de escala e de escopo, barreiras à entrada, diferenciação de produtos, além das condições de oportunidade, apropriabilidade, cumulatividade e conhecimentos da base tecnológica se configuraram como fatores fundamentais no dinamismo do mercado de biotecnologia, do qual os OGMs fazem parte.

1. Introdução

O desenvolvimento da tecnologia de manipulação do Ácido Desoxirribonucléico (DNA) permitiu o surgimento dos Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), dando início a uma nova etapa do processo de melhoramento genético sem reprodução sexual.

Apesar da legalidade do plantio dos OGMs em escala comercial em grandes países produtores de grãos, como os Estados Unidos e a Argentina, há uma importante polêmica instaurada tanto sobre a sua segurança para o ambiente e para o consumo, quanto para a economia. No Brasil, o plantio em escala comercial de OGMs está liberado apenas temporariamente para a safra 2003/2004, o que contribui para o aumento da polêmica em torno do tema no país.

Um dos fatores importantes que tem contribuído para alimentar parte desta polêmica é o grau de concentração das empresas que atuam com pesquisa, experimentação e produção de OGMs no mundo. Com efeito, torna-se relevante elucidar a seguinte questão de pesquisa: qual tem sido a dinâmica do mercado relacionado à tecnologia dos OGMs?

Neste sentido, o presente estudo objetiva analisar a tecnologia e a dinâmica de mercado para os OGMs, destacando o caso do Brasil no panorama mundial. No campo teórico são abordados aspectos básicos sobre a tecnologia e a dinâmica dos mercados. No campo empírico, o estudo parte de dados secundários para discutir o processo de difusão dos OGMs no mundo e a dinâmica do mercado brasileiro.

Este estudo torna-se relevante à medida que apresenta dados concretos sobre a pesquisa e produção de OGMs, grau de concentração das empresas que atuam nesta área e as características de oportunidade, apropriabilidade, cumulatividade e os conhecimentos da base tecnológica. É importante ressaltar que o estudo não se propõe a defender um posicionamento perante a polêmica instaurada no Brasil, mas apresentar informações que permitam esclarecer, qualificar e aprofundar o debate em torno do tema.

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2. A Tecnologia e a Dinâmica dos Mercados

A questão tecnológica foi abordada de diferentes formas ao longo do desenvolvimento da teoria econômica. Os clássicos e neoclássicos deram grande relevância aos fatores terra, capital e trabalho na explicação do desenvolvimento e relegaram a tecnologia a um segundo plano. Já Marx considerou a mudança tecnológica como centro do processo de acumulação, principalmente por acreditar que era este aspecto que permitia o aumento da taxa de mais-valia. Marx também acreditava que a tecnologia, poupadora de mão-de-obra, induzia a formação de uma exército industrial de reserva, viabilizando a acumulação capitalista. Mas foi a abordagem de Schumpeter que ganhou maior relevância no entendimento do papel da tecnologia no desenvolvimento econômico atual.

Para Schumpeter (1961), a inovação é o principal determinante do crescimento e dos ciclos econômicos, sem a inovação o lucro seria igual a zero. Para o autor, a inovação é um desvio do comportamento rotineiro e, portanto, perturbadora de um suposto equilíbrio. Assim, o desenvolvimento entre um ponto de equilíbrio e outro estaria baseado na inovação tecnológica e seria a origem do lucro, quebrando a concorrência perfeita.

Influenciados pelas idéias de Schumpeter, diversos outros autores passaram a considerar a tecnologia como aspecto fundamental para explicar o desenvolvimento econômico da sociedade. Merecem destaque os trabalhos dos autores evolucionistas (ou neo-schumpeterianos - como muitas vezes são chamados), como: Nelson e Winter (1982), Freeman (1982) e Dosi (1984).

O princípio básico dos teóricos evolucionistas está no processo de busca, seleção e adoção de inovações em processos e produtos que são submetidos à seleção inerente à concorrência de mercado. Por isso, estes autores destacam a importância de se considerar o desequilíbrio como aspecto fundamental, já que não existe uma racionalidade universal baseada em critérios de maximização por parte dos agentes econômicos. O que há na verdade é um processo incerto e dependente dos caminhos que estes agentes vão assumindo no mercado. Daí se conclui porque uma empresa pode ser mais bem sucedida que sua “concorrente”.

Dosi (1984) dá uma importante contribuição para o entendimento da dinâmica dos mercados através da interação estrutura setorial-estratégia organizacional e suas trajetórias. Para o autor, toda a estratégia tem a intenção de mudar a estrutura a seu favor, mas é também influenciada pela estrutura existente. Dosi identifica quatro dimensões das estratégias (surgimento das oportunidades inovativas, apropriabilidade dos frutos da inovação, cumulatividade e o caráter tácito e idiossincrático da tecnologia), que guardam semelhanças importantes com os fatores que influenciam a determinação do regime tecnológico, definidos por Nelson e Winter (1982). Apresenta-se a seguir, a síntese realizada por Malerba e Orsenigo (1996), em que apresentam os fatores que interagem e definem o regime tecnológico:

a) Condições de oportunidade: dependendo do nível de oportunidade, poderá representar um alto ou baixo incentivo à inovação. A oportunidade pode ser gerada tanto internamente, através de atividades de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), quanto por meio de desenvolvimentos de agentes externos, como fornecedores de máquinas e equipamentos, por exemplo. As condições de oportunidade podem ter alta ou baixa penetrabilidade, ou seja, novos conhecimentos podem (ou não) ser aplicados para vários produtos e mercados. b) Condições de apropriabilidade: referem-se à possibilidade de proteger ou não as

inovações das imitações. A proteção à atividade inovativa pode se dar através de patentes, segredos industriais, controle de ativos complementares, dentre outros.

c) Cumulatividade: significa que as atividades inovativas de uma empresa hoje podem criar barreiras de acesso à tecnologia para outras empresas no futuro. No nível tecnológico e

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individual, a cumulatividade está relacionada às características específicas da tecnologia e à natureza cognitiva do processo de aprendizagem. No nível organizacional, está relacionada com a organização do processo inovativo, como laboratórios de P&D. No nível da firma, a cumulatividade pode ser resultado do montante de recursos investidos. d) Conhecimento de base: refere-se às características do conhecimento de base, como o grau

de “tacidez” (local ou universal) e o grau de complexidade deste conhecimento (integração de várias disciplinas e capacidades, por exemplo).

Conforme Malerba e Orsenigo (1996), a natureza do regime tecnológico afeta o padrão específico da atividade inovativa no âmbito setorial. A alta concentração de atividade inovativa, por exemplo, está relacionada à alta oportunidade, apropriabilidade e condições de cumulatividade. A facilidade de entrada de novos inovadores está associada a alta oportunidade e baixa condição de cumulatividade

Dependendo do conjunto específico de competências e ativos complementares de uma firma e da forma em que a atividade inovativa está organizada, ela poderá ter uma estratégia de inovação mais radical, incremental ou imitativa. Por sua vez, a estratégia organizacional também poderá influenciar o desenvolvimento de competências e a organização da atividade inovativa.

Uma importante referência nos estudos sobre o processo de competição no mercado, é o paradigma “estrutura-conduta-desempenho”. Dependendo da linha de pensamento ou dos autores que se toma por base, um ou outro fator é destacado como causa ou efeito dos demais. Neste sentido, Shepherd (1990) apresenta quatro abordagens principais que se relacionam com a busca de explicação sobre a competição no mercado:

a) Abordagem mainstream: nesta abordagem, considera-se as economias e deseconomias de escala como determinantes que modelam a estrutura de mercado (tamanho das firmas e participações de mercado).

b) Escola de Chicago: os seguidores desta escola consideram a eficiência relativa de cada firma como real determinante de sua posição na estrutura de mercado e de sua conduta. Seus seguidores revertem a crença de que o monopólio é prejudicial.

c) Behaviorista: para os behavioristas, ao invés da estrutura, a conduta é que tem o real poder de influência. Para estes, duas firmas que controlam o mercado podem ou não ter uma conduta que resultará em monopólio.

d) Competição potencial: nesta abordagem, a possibilidade de novos entrantes no mercado é o aspecto mais relevante e não sua estrutura interna. Neste caso, se as barreiras são baixas, não importa que as firmas tenham um grande market share ou tentem fazer acordos.

Conforme afirma Canuto (1992), a evolução das estruturas de mercado será determinada pela interação entre dois fatores principais:

a) Condições estruturais: assimetrias tecnológicas e não-tecnológicas que demarcam tanto as possibilidades decisórias das firmas quanto as estratégias de ocupação de mercados e o esforço de modificação das próprias condições estruturais.

b) Estratégias selecionadas: referem-se aos caminhos escolhidos dentro de seus leques de possibilidades e os conseqüentes resultados.

Para Canuto (1992, p.31), “os distintos graus de oportunidade e apropriabilidade tecnológica em paradigmas vigentes, assim como a distribuição de capacidades tecnológicas entre as firmas, configuram diferentes padrões de evolução possível nas diversas estruturas de

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mercado”. Para o autor, quanto maiores as assimetrias nas capacidades tecnológicas, mais a inovação do lado do produtor tenderá a se dar por seleção e crescente ocupação de mercado, e menos pelo aprendizado imitativo.

3. O Surgimento e a Difusão dos OGMs

Os Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), mais conhecidos como transgênicos, “são variedades desenvolvidas pela introdução de genes de outras espécies por meio das técnicas de engenharia genética” (BORÉM e DEL GIÚDICE, 2000, p. 25). Para o Institute of

Food Technologists (1999), o termo “Geneticamente Modificado” é comumente usado para

descrever a aplicação da tecnologia do ácido desoxirribonucleico recombinante (rDNA) para a alteração genética de microorganismos, plantas e animais. Assim, variedades transgênicas de milho, por exemplo, podem ser obtidas por meio da introdução de genes de fungos, bactérias ou mesmo de outras espécies, como o feijão, para melhorar seu valor nutricional ou torná-la mais resistente a pragas (BORÉM e DEL GIÚDICE, 2000).

A base para o surgimento das modernas técnicas de engenharia genética foi iniciada com os experimentos com ervilha realizados por Gregor Mendel na década de 1860 (XAVIER FILHO

et al., 2002). Mendel na ocasião descobriu que as características da ervilha estavam sob o

controle de dois fatores (mais tarde chamados de genes) provenientes do macho e da fêmea. Este trabalho serviu para elucidar diversas questões relacionadas à genética, hereditariedade e biotecnologia.

Conforme destaca MCT (1999), na década de 1940, quando James Watson descobriu o DNA, iniciou-se o processo de entendimento do código genético. Mas foi a partir da década de 1950 que Watson e Crik começaram a entender como a informação é duplicada e passada de geração a geração (ARAGÃO, 2003).

Pode-se dizer que a engenharia genética surgiu na década de 1970 nos Estados Unidos, quando existiam apenas poucos grupos de pesquisas que dominavam esta tecnologia e apenas nove empresas de biotecnologia no país (PORTUGAL, 2000).

No início da década de 1980, os cientistas tornaram-se capazes de transferir partes da informação genética de um organismo para outro, surgindo a moderna biotecnologia ou tecnologia de DNA recombinante ou engenharia genética ou ainda transgênicos. Um outro marco aconteceu em 1982, quando se iniciou a produção de insulina humana com esta tecnologia para tratamento de diabetes (MCT, 1999).

Em meados da década de 1980, foram obtidas e liberadas no campo as primeiras plantas geneticamente modificadas. Segundo Portugal (2000), até abril de 2000 já haviam sido autorizados mais de 25 mil testes de campo em todo o mundo, sendo a metade nos EUA, Canadá e uma boa parte na Europa.

Contudo, a efetiva comercialização de OGMs começou nos anos 1990, com o tomate de maturação lenta, produzido pela empresa Calgene, e com a soja Round-Up Ready produzida pela Monsanto. A partir daí houve uma grande expansão da produção e comercialização de OGMs no mundo, conforme pode-se observar através dos dados apresentados a seguir.

Na figura 1 pode-se observar a evolução da área plantada com os OGMs no mundo no período de 1996 a 2003. Nota-se que entre os anos de 2002 e 2003 houve um crescimento de 15% na área plantada, o que corresponde a 9 milhões de hectares.

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1,7 11,0 27,8 39,9 44,2 52,6 58,7 67,7 0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0

Área (milhões de ha)

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Anos

Fonte: James (2003)

Figura 1: Evolução da área plantada com OGMs no mundo de 1996 a 2003

Os países com as maiores áreas plantadas com OGMs em 2003, em milhões de hectares, foram os Estados Unidos (42,8), Argentina (13,9), Canadá (4,4), Brasil (3), China (2,8) e África do Sul (0,4). A participação percentual no total da área plantada no mundo pode ser observada na figura 2.

Participação dos países na área plantada com OGMs - 2003 63% 21% 6% 4% 4% 1% 1% EUA Argentina Canadá Brasil China África do Sul Outros Fonte: James (2003)

Figura 2: Participação dos países na área plantada com OGMs no mundo em 2003

Os principais produtos, geneticamente modificados, plantados em 2003 foram: soja, milho, algodão e Canola. Em 2003, a área plantada com cada um destes produtos corresponderam, respectivamente, a 61%, 23%, 11% e 5% da área total plantada com OGMs. Conforme James (2003), a tolerância a herbicida foi a característica mais presentes nos OGMs plantados no mundo, correspondendo a 73% do total.

A participação de OGMs na área total plantada por cada uma das culturas pode ser observada na figura 3.

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42 34 7 27 4 21 15 125 -20 40 60 80 100 120 140

Área (milhões de hectares)

Soja (55%) Algodão (21%) Canola (16%) Milho (11%) Produtos

Área sem OGM Área com OGM

Fonte: James (2002)

Figura 3: Área plantada com OGMs em 2003 e sua participação no total – por produto

Pelos dados apresentados, a cultura da soja é a que possui o maior percentual de área plantada com OGMs (55%) e o milho é o que possui o menor percentual de área dedicada aos OGMs (11%), embora em termos absolutos tenha uma área maior que a da canola e do algodão.

No caso do Brasil, ocorreram liberações de teste a partir de 1996, já que a legislação de biosegurança só foi aprovada em 1995. No Brasil, a Comissão Técnica Nacional de Biosegurança (CTNBio) concedeu pela primeira vez, em setembro de 1998, parecer favorável ao cultivo em escala comercial da soja Roundup Ready. Mas, logo em seguida houve um grande número de recursos e liminares suspendendo o plantio em escala comercial.

Embora no Brasil o cultivo de plantas transgênicas em nível comercial esteja liberado apenas temporariamente para os produtores que tenham assinado o termo de ajuste de conduta, há fortes indícios de que haja o cultivo ilegal em diversas partes do país, com sementes que foram importadas ilegalmente da Argentina e reproduzidas nas propriedades rurais brasileiras.

Conforme CTNBio (2004), no ano de 2002, ocorreram 86 liberações de plantio em áreas experimentais de OGMs, num total de 39 hectares. Do total das áreas experimentais plantadas, 54% foram referentes à tolerância a herbicidas, 37% foram relacionadas à introdução de genes resistentes a insetos, 8% tolerância a herbicidas e resistência a insetos e 1% com outras características.

A seguir discute-se a dinâmica de mercado para os OGMs, destacando as principais empresas que atuam e o movimento de concentração do setor.

4. A Dinâmica de Mercado para os OGMs

O mercado de melhoramento genético de plantas tomou grande impulso na segunda metade do século XX, principalmente a partir dos resultados de pesquisa que levaram ao surgimento do milho híbrido nos Estados Unidos. O uso da técnica de hibridação alavancou principalmente a indústria de sementes, que pode se apropriar e acumular os esforços privados de pesquisa. Desta forma, a indústria de sementes passa a depender menos do setor público no processo de reprodução da base genética e adaptação de novas variedades, aproveitando novas oportunidades de mercado no processo de inovação.

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Para Morris e Ekasingh (2002), os processos de melhoramento de plantas diferem em sua atratividade comercial e, portanto, tendem a determinar as áreas de atuação do setor público e da iniciativa privada, conforme se observa na figura 4.

Fonte: Adaptado de Morris e Ekasingh (2002)

Figura 4: Domínios naturais dos programas públicos e privados de melhoramento de plantas

A presença ou falta de oportunidades para apropriação dos benefícios comerciais é que definem o domínio natural dos programas de melhoramento. No quadro 1 apresenta-se os incentivos para investimento do setor privado em pesquisa de melhoramento de plantas.

Quadro 1: Incentivos para investimento privado em pesquisa de melhoramento de plantas

Produtores não-comerciais Produtores comerciais

Tecnologia com benefícios não

apropriáveis

Baixo incentivo

• Culturas de auto-polinização desenvolvidas para consumo interno (ex.: arroz, trigo e cevada)

• Culturas com polinização aberta desenvolvidas para consumo interno (ex.: milho e sorgo)

• Culturas com propagação vegetativa (ex.: mandioca, batata e banana)

Médio incentivo

• Culturas de auto-polinização desenvolvidas para o mercado (ex.: arroz, trigo, cevada e soja)

Tecnologia com benefícios apropriáveis

Médio incentivo

• Culturas híbridas desenvolvidas para consumo interno (ex.: milho, sorgo, arroz e hortaliças)

Alto incentivo

• Culturas híbridas desenvolvidas para o mercado (ex.: milho, sorgo, arroz e hortaliças)

Fonte: Adaptado de Morris e Ekasingh (2002)

Desta forma, quanto mais apropriável forem os benefícios auferidos com os resultados do desenvolvimento de uma determinada tecnologia, maior o incentivo e interesse da iniciativa privada. Para Morris e Ekasingh (2002), os programas públicos de melhoramento de plantas, em

Conservação de germoplama Setor Privado Setor Público Pesquisa básica Pré-melhoramento Desenvolvimento de linhagens Desenvolvimento de variedades Produção de sementes

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países em desenvolvimento, deveriam se ater a cinco funções essenciais: melhoramento genético para produtos específicos, conservação de recursos genéticos, treinamento de pesquisadores melhoristas, teste e evolução de variedades e regulação da biossegurança.

No Brasil, em 2002, as atividades de pesquisa em regime de contenção, analisadas pela CTNBio, tem tipo maior participação de instituições públicas para o caso de pesquisas com animais e maior participação de instituições privadas para o caso de microorganismos e plantas, conforme pode-se observar na tabela 1.

Tabela 1: Distribuição das atividades de pesquisa em regime de contenção no Brasil, analisadas pela CTNBio em

2002, por tipo de OGM, em instituições públicas e privadas

Instituições públicas Instituições privadas Total Pesquisa em contenção

(OGM) Quantidade Percentual Quantidade Percentual Quantidade Percentual

Microorganismos 15 35,71 7 43,75 22 38

Animais 22 52,38 3 18,75 25 43

Plantas 5 11,90 6 37,5 11 19

Total 42 72,41 16 27,58 58 100

Fonte: CTNBio (2004)

Conforme afirmam Wilkinson e Castelli (2000), a indústria de híbridos é caracterizada por estruturas oligopólicas com elevado grau de concentração e padrões de concorrência baseados na diferenciação de produtos. Já a produção de variedades, onde é baixa a proteção da inovação, há numerosas empresas e o padrão de concorrência em muito se baseia em preços e não em diferenciação. Até a década de 1970, as empresas que atuavam no setor de sementes tinham na produção / comercialização de sementes ou na transformação de grãos sua atividade principal.

Com o surgimento dos OGMs e as novas possibilidades de apropriação de inovações e desenvolvimento de novos negócios, outras indústrias passaram a ter grande interesse na biotecnologia, como a indústria química, farmacêutica, petroquímica e agroalimentar. Wilkinson e Castelli (2000) destacam duas fases principais no processo de reestruturação da indústria de sementes. A primeira fase está relacionada à expansão dos mercados tradicionais de sementes, principalmente devido ao boom das commodities nos anos 1970. Já a segunda fase, esta pode ser caracterizada pelo intenso movimento de fusão e aquisição, ocorrido principalmente na década de 1990, com a formação de grandes grupos de empresas.

A lógica da formação dos grandes grupos é, em grande medida, explicada pelo alto grau de complementaridade entre as tecnologias e reunião de competências nas áreas de biotecnologia, sementes e agroquímicos. Outro importante fator é a possibilidade de conhecimento do genoma das plantas e proteção às inovações decorrentes, através de patentes. As empresas que começaram a atuar nestas diversas áreas passaram a ser chamadas de companhias de “ciências da vida”.

Pingali e Traxler (2002) afirmam que as fusões entre empresas privadas nacionais com corporações multinacionais são dirigidas pelas necessidades econômicas. Para os autores, os benefícios dos avanços em pesquisa sobre o genoma só poderão se concretizar com o desenvolvimento de parcerias entre multinacionais de países desenvolvidos e o setor público e privado nacional. A figura 5 mostra o papel dos tipos de pesquisa biotecnológica, bem como sua relação com custos e potencial econômico.

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Genoma Sequenciamento de gens, Pesquisa de traços quantitativos Constructo de gens Novos gens Bt, Outros traços qualitativos

Gens para novas culturas Milho Bt, Algodão Bt, Soja Bt, etc. Melhoramento de plantas Transgênese Backcrossing em linhagens comerciais Disponibilização de sementes Reprodução de sementes, marketing e distribuição

Fonte: Adaptado de Pingali e Traxler (2002) Figura 5: Papel da pesquisa biotecnológica

Conforme a figura, enquanto as pesquisas sobre genoma podem ter amplas aplicações para diversas culturas e diversos ambientes, os OGMs precisam passar por processos de adaptação, já que são aplicáveis para nichos agroecológicos e sócio-econômicos específicos. Assim, os benefícios potenciais dos spillovers vão se reduzindo à medida que os processos vão se direcionando para o mercado. Da mesma forma, os custos com pesquisas e número de pesquisas sofisticadas também vão se reduzindo.

Para Pingali e Traxler (2002), existem três forças interrelacionadas que estão transformando o sistema de suprimento de novas tecnologias para a agricultura, que são: (1) fortalecimento da proteção da propriedade intelectual em inovações com plantas; (2) ritmo rápido de descoberta e crescimento em importância da biologia molecular e da engenharia genética; (3) mercado mais aberto para insumos e produtos. Estas forças também tem contribuído para que haja aumento dos incentivos para investimentos privados em pesquisa.

Embora se noticie que haja uma certa crise nas empresas com divisões de agricultura, farmácia e nutrição (VALOR ECONÔMICO, 20/11/2000), as principais empresas privadas que atuam em pesquisa de OGMs no Brasil, passaram por processos de fusão e aquisição, conforme pode-se observar através dos casos da Syngenta, Monsanto, Bayer CropScience, DuPont e Dow AgroScience.

A Syngenta surgiu da fusão das divisões agrícolas da Novartis e a divisão química da AstraZêneca em 2000. A Novartis também já havia sido criada em 1996 com a união entre a Sandoz e a Ciba-Geigy, ambas de capital suíço. Segundo Santini (2002), a Syngenta gasta entre 9 e 10% do faturamento P&D na área de sementes e tinha como meta lançar até 2003 no Brasil uma semente de milho geneticamente modificada (a Protecta) resistente à lagarta de cartucho. No Brasil a empresa possui 2 usinas de sementes (Uberlândia – MG e Cascavel – PR) e mantém parceria com a Cooperativa Agrícola do Alto Parnaíba e com a Universidade Federal de Viçosa.

A Monsanto, de capital norte-americano, atua no Brasil nas áreas química e agrícola, inclusive com pesquisa em biotecnologia. A Monsanto chegou ao Brasil através da aquisição da Agroceres (capital nacional) em 1997 e em seguida adquiriu a Braskalb e a divisão de sementes da Cargill. Os gastos com P&D passou de 6% em 1996 para 10% em 2001 (SANTINI, 2002). Na fase inicial de pesquisa de OGMs, a Monsanto depende totalmente de sua matriz, que possui fontes diferenciadas de germoplasma. Com a indicação dos genes a serem utilizados, os testes são realizados no Brasil. A empresa possui no Brasil as seguintes unidades para a produção de milho:

Alta Potencial spillover e escala econômica Custos de pesquisa e sofisticação Baixa

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Santa Helena de Goiás (GO), Capinópolis (MG), Uberlândia (MG), Ipoan (SP), Andirá (PR) e Itaí (SP). Já na área de soja, a empresa possui as unidades de Não-Me-Toque (RS) e Morrinhos (GO).

A Bayer CropScience foi criada em 2002 por meio da incorporação da Aventis CropScience (capital franco-alemão) pela Bayer AG (Alemã). É importante destacar que a Aventis já havia sido o resultado da fusão entre a AgrEvo (também resultado de fusão entre a Hoesch e a Schering) e a Rhône-Poulenc (WILKINSON e CASTELLI, 2000; SANTINI, 2002; ZANATTA, 2003).

A Du Pont adquiriu em 1999 a Pionner Hi-Bred e vem se destacando na produção de sementes de milho. Segundo dados de Santini (2002), a Pionner investia de 3 a 4% de seu faturamento em P&D. Atualmente a empresa possui parceria tecnológica com a Monsanto para o desenvolvimento do Milho Bt, com resistência a insetos. A empresa possui 3 estações de pesquisa (Toledo – PR, Itumbiara – GO e Balsas - MA) e está construindo outra unidade em Passo Fundo (RS).

A Dow AgroSciences é de capital norte-americano e investe na área de biotecnologia fora do Brasil através da Mycogen e Cargill para o desenvolvimento do milho Bt. Possui 2 usinas de sementes (em Cravinos – SP e Orlândia – SP) e uma fábrica de agroquímicos (Franco da Rocha – MG). A Dow AgroScience fez a aquisição de diversas empresas de sementes, como: Dinamilho, Híbridos Colorado, FT Biogenética de Milho e Sementes Hatã. Em 1989 adquiriu a parte de sementes de milho da Zêneca. Segundo Santini (2002), a empresa vem investindo 13% de seu faturamento em P&D desde o ano de sua criação (1997).

Além destas empresas, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Cooperativa Central de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Coodetec), ambas de capital nacional, vêm realizando pesquisas na área de OGMs.

Na área de OGMs, a Embrapa vem realizando pesquisas sobre soja, mamão, feijão e batata; através de suas unidades de pesquisa em soja, trigo, recursos genéticos e biotecnologia, arroz e feijão, mandioca e fruticultura tropical, cerrados e hortaliças (CTNBio, 2003).

A Coodetec, outra empresa que pesquisa OGMs, é formada com o capital de 31 cooperativas que atuam na agricultura e biotecnologia. Possui 4 unidades no Paraná, localizadas Cascavel, Palotina, Marilúz e Ibiporan. A Coodetec mantém parcerias com a Monsanto, Aventis, Syngenta e Universidade Federal de Viçosa, inclusive com licenciamento de genes.

Segundo Wilkinson e Castelli (2000), o Brasil representa 2,33% do mercado mundial de sementes que é estimado em US$30 bilhões. Conforme os autores, outras estimativas, que incluem a produção de sementes sob controle governamental, chega a US$1,5 bilhão. Os autores destacam ainda que, ao se comparar a produção de sementes em 1989 com a média do período 1990-1998, observa-se uma retração na quantidade total produzida da ordem de 28,3%. Este fato se deve ao aumento do uso de sementes próprias pelos agricultores, correspondentes a sua reserva de grãos.

O grau de concentração na produção de sementes de soja é bastante elevado, com as 3 principais empresas (Embrapa, Monsanto e Coodetec) sendo responsáveis por 85% do mercado, conforme Kleffmann Amis (apud SANTINI, 2002). Comparando-se os dados de 2000/2001 com os apresentados por Wilkinson e Castelli (2000) a respeito da safra 1996/1997, pode-se observar que a participação da Embrapa caiu de 70% do mercado para 55%, cedendo espaço para empresas de capital privado, notadamente transnacional.

No caso da produção de sementes de milho, a situação é bastante distinta quanto a composição de capital das empresas líderes, já que a Monsanto, a Du Pont / Pioneer e a Novartis (todas transnacionais) são responsáveis por 85% do mercado.

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O fato da indústria de sementes de milho estar concentrada em empresas transnacionais se deve à presença de híbridos, que tem uma proteção “natural” (independente do aspecto legal) e, portanto, alta apropriabilidade dos resultados por parte das empresas. No caso da produção de variedades, há baixa apropriabilidade dos resultados de pesquisa, que depende dos mecanismos legais de proteção. No caso dos OGMs, há alta apropriabilidade, principalmente pelo patenteamento de genes ou processos biotecnológicos.

Considerando apenas a concentração de mercado na produção de sementes de milho híbrido no Brasil na safra 2000/2001, observa-se que a Monsanto, através das marcas Dekalb e Agroeceres, é que deteve a maior participação de mercado (50%), conforme a figura 6.

Concentração na produção de sementes de milho híbrido - 2000/2001 22% 28% 14% 5% 5% 6% 7% 13% Dekalb (Monsanto) Agroceres (Monsanto) Pioneer (Du Pont) Syngenta

Dow Agro Sciences Aventis

Agromen Outros

Fonte: Santini (2002)

Figura 6: Taxa de concentração na produção de sementes de milho híbrido no Brasil – 2000/2001

É importante destacar que a aprovação da Lei de Proteção de Cultivares (LPC), em 1997, estimulou a entrada das empresas privadas transnacionais. Como a competição na indústria de sementes se dá principalmente pela diferenciação de produtos, os investimentos em P&D são altamente significativos para explicar o sucesso das firmas.

Fazendo uma análise dos pedidos de liberação planejada de OGMs no meio ambiente, encaminhados para a CTNBio no período de março de 1997 a maio de 2002 (CTNBio, 2003), observa-se um alto grau de concentração, sendo a Monsanto responsável por 58,55% destes pedidos, a Syngenta por 10,27%, Pioneer por 7,18%, a Baskalb por 6,45%, a Agroceres por 5,55% e a Aventis por 4,55%. Assim, apenas estas cinco empresas foram responsáveis por mais de 92% do total de pedidos. Fazendo a agregação das empresas que atualmente são controladas pela Monsanto (caso da Agroceres e da Braskalb), o percentual de solicitações sob o controle desta única empresa passa para mais de 70%.

Os investimentos na ampliação da capacidade instalada e construção de novas unidades fabris, que em 1999 foi de US$ 33,4 milhões, chegou a US$ 388,9 milhões em 2000 e teve uma pequena queda nos dois anos subseqüentes, passando para US$ 310,2 milhões em 2001 e US$ 300,6 milhões em 2002 (SINDAG, 2003).

Assim como o setor de sementes, o setor de agroquímicos participou do processo de fusões e aquisições, o que vem concentrando o mercado nos últimos anos. A Novartis, que em 1998 era líder, acabou se fundindo com a Zêneca (terceira no ranking), mudando a distribuição das fatias de mercado. Outras mudanças que ocorreram foram: a Dow adquiriu a Rohm Haas, a Basf adquiriu a Cyanamid, e em 2002 a Bayer adquiriu a Aventis (que foi fruto da fusão entre a AgrEvo e a Rhône Poulenc / Rhodia).

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Por outro lado, pelo menos duas empresas brasileiras têm importante participação no mercado nacional de agroquímicos, o que é o caso da Milênia e da Hokko, com participações de 8,3% e 3,7%.

É importante destacar que as principais empresas multinacionais que atuam no setor de sementes, também possuem sólidas posições no mercado de defensivos e, com isto, se beneficiam das sinergias decorrentes. Este efeito é potencializado à medida que estas empresas se apropriam das inovações, seja através de patentes ou de mecanismos tecnológicos que impedem a cópia, e assim estabelecem barreiras à concorrência e passam a acumular competências e recursos ao longo do tempo, habilitando-as à manutenção e/ou ampliação de seus mercados.

Analisando-se a estrutura do mercado brasileiro em que atuam as empresas que pesquisam os OGMs, bem como suas estratégias, pode-se chegar a algumas conclusões prévias, apresentadas a seguir.

Em relação ao paradigma estrutura-conduta-desempenho, algumas características podem ser destacadas, conforme o quadro 2.

Quadro 2: Caracterização geral das empresas que atuam no campo dos OGMs

Aspectos Características atuais

Estrutura

- Grandes empresas atuando no mercado - Alta concentração

- Altas barreiras à entrada

- Existência de produtos diferenciados - Economia de escala

- Economia de escopo Conduta

- Estratégia de diversificação: principalmente sementes e agroquímicos - Alto índice de fusões e aquisições

- Empresas públicas trabalhando com genes licenciados - Expansão da capacidade produtiva

- Altos investimentos em P&D Desempenho

- Progresso tecnológico - Redução de custos

- Aparente eficiência alocativa

Fonte: Elaborado pelos autores

Conforme se observa no quadro 2, não é possível estabelecer uma única relação de causa e efeito entre estrutura-conduta-desempenho. Assim, a concentração de mercado tanto induz as empresas estabelecidas a investirem em P&D para tomar uma fatia de mercado de outra grande concorrente, quanto os investimentos em P&D contribuem para esta concentração. O alto índice de fusões e aquisições tanto levam a concentração de mercado quanto é condicionada pelos imperativos da economia de escopo e escala. Da mesma forma, o desempenho tanto explica quanto é explicado pela estrutura e pela conduta de mercado.

No quadro 3 avalia-se os fatores que definem o regime tecnológico dos OGMs no mercado brasileiro.

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Quadro 3: Caracterização das empresas que atuam no campo dos OGMs no Brasil Aspectos Características do setor de OGMs

Oportunidade

Aumento da área plantada com OGMs

Possibilidade de liberação definitiva para plantio de OGMs em escala comercial Alta penetrabilidade, ou seja, os conhecimentos podem ser aplicados em outras áreas

Apropriabilidade

Proteção por patentes

No caso dos híbridos, proteção adicional proporcionada pela impossibilidade de uso do grão como semente

Atuação simultânea no setor de defensivos e de sementes, proporcionando ligações entre defensivo aplicado na lavoura com a semente utilizada

A possível tecnologia terminator pode facilitar a apropriação por deixar grãos “estéreis”

Cumulatividade

Após a inserção do gene exógeno, é preciso avaliar o processo de adaptação da planta no ambiente, o que dificulta a importação de sementes de outros países

Parte da experiência acumulada no setor de agroquímicos pode ser compartilhada com o setor de sementes

Depende de uma estrutura de P&D

Necessita de muitos recursos financeiros em pesquisa Transbordamentos (spill over) entre marcas e produtos Conhecimentos de base

O conhecimento de transgenia pode ser aplicado em outros setores, como o de fármacos Baixa “tacidez” tecnológica

Relativa complexidade da tecnologia

Fonte: Elaborado pelos autores

Embora o plantio em escala comercial de plantas geneticamente modificadas esteja proibido no Brasil, as empresas vislumbram um cenário de liberação. Como o país é grande produtor de soja, milho, algodão e cana-de-açúcar, principais produtos pesquisados no país, o mercado para sementes geneticamente modificadas, principalmente resistentes a insetos e tolerantes a herbicida, é muito amplo.

Considerando que as fusões e aquisições têm sido uma das principais estratégias das empresas de biotecnologia do setor agrícola, é importante destacar os principais efeitos positivos e negativos para a indústria e para o produtor rural, conforme quadro 4.

Quadro 4: Efeitos possíveis das fusões e aquisições no setor de sementes e agroquímicos

Efeitos positivos Efeitos negativos

Indústria

- Economia de escala - Economia de escopo

- Redução dos custos de transação - Aumento das barreiras de entrada

- Concentração dos bancos de germoplasma - Baixa cooperação entre empresas

Produtor rural - Tecnologias mais produtivas

- Redução da competição - Dependência comercial

- Possibilidade de elevação de preços

Fonte: Elaborado pelos autores

Os benefícios do intenso processo de fusão e aquisição, ocorrido nos últimos 7 anos, trouxe importantes benefícios para as empresas do setor, principalmente por elevar as barreiras à entrada de novos concorrentes e buscar o aproveitamento das economias de escala e escopo, além da redução dos custos de transação, pelas sinergias geradas entre os setores de sementes e agroquímicos e por outros processos de verticalização e diversificação. O produtor, apesar de poder contar com tecnologias mais produtivas, sente sempre a ameaça da redução da competição

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e aumento da dependência comercial, o que poderá se expressar através de preços mais elevados dos insumos.

4. Conclusão

A estrutura do mercado relacionado com os OGMs para a agricultura brasileira vem passando por grandes transformações, apontando para um cenário de intensa concentração de mercado, estimulado pela aprovação da Lei de Proteção de Cultivares em 1997. O setor de sementes, principal participante do segmento de OGMs, vem se caracterizando, cada vez mais, como intensivo em tecnologia. Com efeito, os altos investimentos em P&D se tornaram imperativos na manutenção e conquista de mercados.

Dado este cenário, as empresas multinacionais foram ampliando suas participações no mercado brasileiro através de diversas fusões e aquisições, estimuladas pelo tamanho do mercado, pela possibilidade de liberação definitiva para o plantio de OGMs em escala comercial e também pelas sinergias com outras áreas de atuação, notadamente agroquímicos.

A possibilidade de proteção à inovação, seja através de patentes ou de mecanismos tecnológicos (como ocorre no caso dos híbridos), passou a desempenhar um papel decisivo no estímulo aos investimentos por parte das grandes empresas. O posicionamento no mercado destas empresas foi reforçado pela economia de escala e escopo, pelas barreiras à entrada e pela diferenciação de produtos. Tal estrutura de mercado tanto gerou quanto foi gerada pela conduta e desempenho das empresas.

As estratégias de diversificação, fusão e aquisição, altos investimentos em P&D e expansão da capacidade produtiva, contribuíram sobremaneira para o progresso tecnológico no setor. Porém, a concentração de mercado, que é causa e ao mesmo tempo conseqüência das estratégias e desempenho do setor, vem contribuindo para fomentar o debate sobre a viabilidade de liberar ou não o plantio em escala comercial de OGMs no Brasil. Embora importantes instituições públicas, como a Embrapa, venham pesquisando OGMs no país, suas participações muitas vezes dependem do licenciamento de genes, cujas patentes pertencem às grandes empresas multinacionais.

Tendo em vista a polêmica instaurada sobre os rumos dos OGMs no Brasil, torna-se importante o posicionamento do poder público para balizar as decisões de investimento neste tipo de tecnologia, reduzindo as incertezas para os agentes destas decisões.

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