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N/Referência: P.º R.Co. 4/2015 STJSR-CC Data de homologação:

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Av. D. João II, n.º1.08.01 D • Edifício H • Campus da Justiça • 1990-097 Lisboa P. IR N .Z 00 .0 7 • R ev is ão : 0 2 • D at a: 16 -0 2-20 15 Relatório

1. Em requerimento subscrito pela Sra. advogada Marta G…. e em que figura como requerente José A…., é pedido o cancelamento do registo por depósito n.º 3..../2013-07-26 e da sua retificação, registada a coberto do depósito n.º ...6/2013-07-261, ambos efetuados na ficha da sociedade C…..-ACABAMENTOS TÊXTEIS LDA nos termos do art. 55.º-A/4 do CRC, pela Sra. notária Andreia ….. S…..

1.1. De acordo com o expendido no requerimento de retificação, o depósito n.º 3..../2013-07-26 foi feito na decorrência da escritura pública de “distrate de cessão de quotas”, exarada pela referida notária (responsável pelo depósito e autora da menção respetiva) e outorgada por Maria do Céu …. e Manuel B…., porém, ao contrário que está estipulado no art. 242.º-B do CSC, não foi a sociedade quem promoveu o registo do facto relativo à quota ou a sua retificação, dado que nenhum mandato foi conferido à Sra. notária para intervir em representação daquela sociedade.

1.2. À falta de poderes de representação da Sra. notária, acrescentou-se, como fundamento para o cancelamento dos mencionados registos por depósito, a “ilegalidade dos registos” que decorre da falta de indicação da causa da aquisição e do valor negativo do negócio jurídico extintivo realizado, por falta de “consentimento e/ou reconhecimento da transmissão de quota por parte da sociedade”.

1.3. O pedido de retificação, alicerçado, em síntese, na falta de legitimidade da Sra. notária para promover os registos e dos requisitos legais para o registo do ato “a título definitivo”, foi acompanhado do oferecimento de

1 Ao contrário do que é imposto pelo art. 15.º /1/m) da Portaria n.º 657-A/2006, de 29 de junho, os termos do dep. ...6/2013-07-26 não

permitem descortinar imediatamente qual o elemento retificado. Porém, do confronto com as menções constantes do dep. 3..../2013-07-26 resulta que a retificação respeitará a um dos vocábulos do nome do sujeito passivo (“Bernardino”, em vez de “Bernardo”).

DIVULGAÇÃO DE PARECER DO CONSELHO CONSULTIVO N.º 34/ CC /2015

N/Referência: P.º R.Co. 4/2015 STJSR-CC Data de homologação: 04-05-2015

Recorrente: José A…..

Recorrido: Conservatória do Registo Comercial de ……

Assunto: Retificação – registo por depósito – falta de poderes de representação do depositante. Palavras-chave: Retificação; depósito; cancelamento; processo; poderes; representação; legitimidade.

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testemunhas e da junção de documentos, entre eles, fotocópia simples da procuração forense emitida a favor da signatária do requerimento em tabela, justificando-se o interesse do requerente pela qualidade de sócio e titular de uma quota correspondente a 50% do capital social.

2. Recebido o pedido de retificação, na impossibilidade de se averbar a pendência da retificação nos termos previstos no art. 87.º do CRC, dada a natureza dos registos rectificandos, foi feita referência ao processo respetivo através de “menção de depósito” (na qual ficou a figurar como requerente e responsável a Sra. advogada, signatária do requerimento de retificação), e procedeu-se, de seguida, à notificação dos interessados não requerentes para deduzirem oposição à retificação2 através de cartas registadas com aviso de receção. 2.1. Em requerimento apresentado em nome da sociedade C…..-ACABAMENTOS TÊXTEIS LDA , e subscrito por Manuel A… (arrogado gerente, conforme carimbo aposto no dito requerimento, a despeito de no registo comercial ainda constarem como gerentes José A…. e Maria do Céu ...), ao invés da oposição legalmente admitida, aderiu-se, no essencial, ao pedido de retificação formulado e aos fundamentos nele contidos.

2.2. A titular da quota, Maria do Céu ..., por seu turno, tendo sido notificada por carta registada com aviso de receção assinado em 05/01/2015, vem deduzir oposição, no dia 16/01/2015, através de procurador com poderes forenses gerais, conforme procuração enviada por telecópia em 09/01/2015 com recurso a equipamento privado. 2.2.1. Na dita oposição, aduz-se, em síntese, que o “distrate” não consubstancia uma nova transmissão, a que deva, por isso, ser aplicado o disposto no art. 242.º-A a F do CSC; que a falta de legitimidade da Sra. notária, que agiu a pedido da oponente, a existir, teria de ser suprida com base no disposto no art. 29.º-A do CRC, antes da feitura do registo, o que não aconteceu; que o registo não pode ser cancelado pelo conservador, porquanto a lei não lhe confere poderes de qualificação do ato; e que, acima de tudo, encontrando-se pendente ação judicial destinada à declaração de nulidade do facto registado, não pode o conservador proferir decisão de mérito sobre o pedido.

2.2.2. Esta dedução de oposição foi também registada, por depósito, na ficha de registo, com atribuição inicial da responsabilidade pelo depósito à sociedade C…..-ACABAMENTOS TÊXTEIS LDA e subsequente retificação, no sentido de constar como responsável a oponente Maria do Céu ...3.

3. Sobre o pedido de retificação foi proferida a decisão de indeferimento objeto do presente recurso hierárquico, na qual começa por ser sinalizado que o requerente se fez representar por advogado com poderes forenses

2 Pese embora os registos rectificandos não respeitem à quota de 112 500,00 euros penhorada no processo executivo n.º

388/12.0TBBCL, conforme registo por depósito com o n.º 3…/2012-06-14, e a notificação prevista no art. 90.º do CRC não deva ter como destinatários senão aqueles que, sendo “titulares inscritos” ou “sujeitos ativos” de registo em vigor, possam ver os seus direitos afetados pela retificação, foi também notificada para, querendo, deduzir oposição a sociedade que figura como exequente no registo por depósito daquela penhora.

3 Este “depósito” afigura-se claramente supérfluo, já que em nenhuma passagem do Código do Registo Comercial se prevê que a

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gerais e que não foi junto o original da procuração, mas fotocópia simples, sem, contudo, se extraírem quaisquer consequências destas questões processuais.

3.1. Depois de sumariados os fundamentos de facto e de direito postos no pedido de retificação, procura-se então explicitar o regime legal do registo por depósito (tipo a que pertencem os registos rectificandos), dos vícios do registo e da sua retificação, colocando-se, a seguir, as razões que impedem a procedência do pedido de retificação, as quais se analisam, de um lado, na pendência de ação judicial tendo por objeto o registo a retificar (art. 22.º/2 do CRC) e, do outro lado, na competência exclusiva do tribunal para apurar da falta de poderes da responsável pelos depósitos em causa, do valor negativo do negócio jurídico realizado e da nulidade do registo respetivo (art. 22.º/3 do CRC).

4. É sobre esta decisão de indeferimento da retificação que versa o presente recurso hierárquico (também registado por depósito na ficha de registo), nele se invocando a nulidade da decisão do conservador, por falta de fundamentação de facto, bem como o “erro de mérito” de que a dita decisão enferma, alegando-se a este propósito que a “ilegalidade do ato de registo em causa” não integra as causas de nulidade postas no n.º 1 do art. 22.º do CRC e, portanto, não lhe é aplicável o preceituado nos nºs 2 e 3 do mesmo artigo; que, mesmo quanto aos registos por transcrição, a norma contida no n.º 2 do art. 22.º do CRC só é aplicável em caso de “nulidade sanável”; e que, de acordo com o disposto no n.º 1 do art. 82.º do CRC, os registos indevidamente lavrados devem ser retificados por iniciativa do conservador logo que tome conhecimento da irregularidade ou a pedido de qualquer interessado, ainda que não inscrito, pelo que compete ao conservador “anular e cancelar” um registo por depósito que não observe o disposto nos arts. 242.º-A, 242.º-B e 242.º-E do CSC e no art. 29.º-A do CRC.

5. Atendendo ao disposto no art. 92.º/1 do CRC, que manda aplicar a este recurso hierárquico os termos previstos nos arts. 101.º e seguintes do mesmo Código, foi emitido o despacho a que alude o art. 101.º-B/1, no qual se fez um resumo do “histórico” do processo de retificação e se procurou desenvolver os fundamentos da decisão.

5.1. A decisão de indeferimento foi então sustentada com base nos argumentos de que, não versando o pedido de retificação sobre um caso de inexatidão do registo, a nulidade de que o registo padeça, por insuficiência do título, só pode ser apurada por via intrassistemática depois de judicialmente declarada a nulidade do título; de que mesmo a nulidade prevista no art. 22.º/1b) do CRC, que pressupõe a existência de título válido, não pode ser considerada no âmbito do processo de retificação, se já estiver registada ação de nulidade do registo a retificar; e de que ao conservador não cabe dirimir conflitos, como o que ocorre no caso em apreço entre o requerente e a oponente à retificação.

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1. Antes de mais, cumpre analisar as muitas dificuldades e imprecisões processuais contidas no processo de retificação, avaliando-se, passo a passo, as implicações que cada uma delas possa ter no desenvolvimento e no valor do processado. A par disso, caberá também verificar se a decisão padece ou não da nulidade alegada e, na hipótese afirmativa, quais as suas repercussões.

Da representação do requerente

1.1. Começamos pela questão da representação do requerente, que foi aflorada na decisão produzida no processo de retificação, porém, sem qualquer desenvolvimento que pudesse espelhar o entendimento da decisora sobre o tema.

1.1.1. Como atrás se deixou relatado, das indicações dadas na decisão de indeferimento resulta que o documento junto ao pedido de retificação para prova da qualidade e dos poderes de representação da signatária constitui fotocópia simples do original, extraindo-se deste documento que à mandatária são conferidos poderes forenses gerais.

1.1.2. Ora, tendo o pedido de retificação de ser formulado por escrito (art. 84.º do CRC), a procuração passada para o efeito há de sujeitar-se à mesma forma escrita (art. 262.º/2 do CC), pelo que sendo esta uma formalidade ad substantiam, cabia ter apresentado o original (art. 364.º do CC).

1.1.3. Acresce que, na falta de disposição legal em contrário, não estando em causa a prática de ato próprio do advogado (cfr, Lei n.º 49/2004, de 24 de agosto), nem de mandato forense, que, na definição dada por João Lopes dos Reis4, envolveria a prática de atos jurídicos próprios da profissão do advogado (o que não é o caso, posto que o patrocínio judiciário não é obrigatório e não está expressamente prevista, no âmbito do processo de retificação, a representação por advogado5), seria necessária a atribuição de poderes especiais para o ato, com especificação deste ato na procuração outorgada6.

1.1.4. Não obstante, considerando o disposto no art. 115.º do CRC, que determina a aplicação subsidiária das disposições relativas ao registo predial na medida indispensável ao preenchimento das lacunas de regulamentação e a remissão que no art. 120.º do CRP é feita para o CPC, cremos que o serviço de registo teria andado bem se tivesse diligenciado no sentido do suprimento da falta da procuração (art. 48.º do CPC).

1.1.5. Tendo sido preterida tal diligência, não será já este o momento processual adequado para sanar a omissão cometida pelo serviço de registo, posto que a mesma não constitui causa de nulidade de conhecimento

4 Representação Forense e Arbitragem, Coimbra Editora, Coimbra, 2001, p. 43.

5 Como observa João Lopes dos Reis, a representação por advogado, no que respeita a atos próprios da profissão, tem a particularidade

de constituir uma intervenção qualificada pela própria qualidade do representante.

6 Note-se que mesmo em sede de pedido de registo comercial, a presunção que se elicia do art. 30.º/1/c) do CRC e que permite

dispensar a apresentação de procuração pelo advogado, notário ou solicitador é de que estes representantes têm poderes especiais para o ato. Cfr. parecer proferido no processo C.P. 3/2000 DSJ-CT, nota 11, publicado no BRN n.º 4/2000, II caderno.

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oficioso (cfr. art. 196.º do CPC) e, portanto, não é de molde a permitir a “repetição” da sequência processual com base em vício suscitado pela entidade de recurso.

1.1.6. Porém, também nos parece que, a despeito de à entidade ad quem não estar vedado o conhecimento oficioso dos pressupostos gerais, asseverando da falta ou da irregularidade do mandato e, dessa forma, da falta de prova da autoria do pedido,7 também valerá aqui a aplicação subsidiária adaptada do disposto no art. 278.º/3 do CPC; preceito que se inspira em razões de economia processual e que recomenda a apreciação do mérito, para o efeito de se averiguar se cabe ou não a confirmação da decisão recorrida e de assim se determinar, em face desse apuramento, se o processo deve findar com o indeferimento da retificação ou por causa da representação irregular.

1.1.7. Na nossa opinião, o mesmo princípio de economia processual e o interesse público subjacente à oficiosidade imposta no art. 82.º/1 do CRC recomendam que se desvalorizem os aspetos processuais atinentes ao pedido quando a retificação se prefigure como manifestamente procedente, permitindo ao conservador o aproveitamento do ato, como meio de conhecimento da irregularidade, para, a partir dele, prosseguir com a retificação do registo.

Dos poderes de representação do procurador da titular dos registos rectificandos

1.2. Também no que concerne à representação da oponente Maria do Céu ... deveria o serviço de registo ter providenciado em tempo próprio pelo suprimento da falta da procuração, porque, não estando em causa um ato próprio do advogado, nem estando expressamente prevista a representação através de advogado, não se verifica aqui uma “representação institucionalizada” (em que o representante apareça investido das especiais

prerrogativas e privilégios da sua profissão8) que dispense a especificação do ato a praticar junto do serviço de

registo.

1.2.1. Não constituindo a preterição da notificação a que alude o art. 48.º/2 do CPC (ex vi do art. 120.º do CRP, conjugado com o disposto no art. 115.º do CRC) nulidade que deva ser conhecida oficiosamente, também aqui nos parece inviável a destruição do processado por impulso da entidade de recurso, à qual não competirá senão

7 Tem sido essa a jurisprudência dominante em sede de processo civil, como se pode verificar, por exemplo, no acórdão do Tribunal da

Relação de Lisboa (processo n.º 281/12.7TBPTS.L1-6), disponível em www.dgsi.pt, na esteira da doutrina produzida, entre outros, por Miguel Teixeira de Sousa, Estudos sobre o novo Processo Civil, Lex, Lisboa, 1997, p. 477, e Amâncio Ferreira, Manual dos Recursos em

Processo Civil, 8.ª ed., Almedina, Coimbra, 2008, p. 148.

8 Citamos o comentário feito por Mário Esteves de Oliveira, Pedro Costa Gonçalves e J. Pacheco de Amorim, Código do Procedimento Administrativo Comentado, 2.ª ed., Almedina, Coimbra, p. 266, a respeito da relevância de a lei conter uma referência expressa à

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conhecer oficiosamente dos pressupostos do ato processual (dedução de oposição) e, dessa forma, da falta da procuração, desconsiderando, em conformidade, a oposição oferecida9.

Assentimento em nome da sociedade

1.3. Sobre a intervenção processual da sociedade, a mais de não se encontrar comprovada a autoria alegada no requerimento apresentado, posto que subscrito por Manuel A…. que, efetivamente, não consta do registo comercial como gerente da sociedade C…..-ACABAMENTOS TÊXTEIS LDA , sobreleva o facto de não ter sido deduzida qualquer oposição à retificação.

1.3.1. Realmente, o que dessa intervenção se retira não é senão a adesão ao pedido de retificação, como se de uma “intervenção de terceiro” se tratasse, quando, diante do esquema legal gizado nos arts. 81.º e seguintes do CRC, o consentimento que se queira prestar para a retificação pretendida há de ser manifestado desde logo no pedido de retificação.

1.3.2. Depois disso, a intervenção de terceiro (interessado não requente) só é admitida para o efeito de dedução de oposição ao pedido, ou em sede de instrução ou de impugnação da decisão tomada sobre o pedido da retificação, donde, não sendo esse o objeto do requerimento em apreço, nem estando comprovada a representação orgânica nele invocada, também não cabe admiti-lo ou ponderar o seu conteúdo.

Forma das notificações

1.4. Quanto à questão da intervenção dos interessados não requerentes e sem prejuízo do que adiante se dirá acerca da pertinência do seu chamamento ao processo em apreço, importará ainda notar que, normalmente, a notificação dos interessados, para, querendo, deduzirem oposição à retificação, deve ser realizada por via eletrónica (art. 90.º/3 do CRC), pelo que a mesma far-se-á mediante aviso publicado nos termos do n.º 1 do art. 167.º do CRC e através de funcionalidade informática adequada (art. 90.º/4 do CRC e art. 3.º-A da Portaria n.º 590-A/2005, de 14 de julho, aditado pela Portaria n.º 621/2008, de 18 de julho).

1.4.1. Só quando não for possível realizar a notificação por via eletrónica, ou porque não estão reunidas as condições técnicas necessárias ou porque a funcionalidade informática se encontra indisponível, deverá ser mobilizada a notificação por carta registada com aviso de receção, que se apresenta, assim, como via subsidiária, e não como via alternativa (art. 90.º/3 do CRC).

1.4.2. No caso presente, não se encontrando sinalizada nos autos a impossibilidade de realização da notificação pela via preferencial (via eletrónica), poderia equacionar-se a nulidade da notificação, por ter sido utilizada a via

9 Ao ser proferida decisão de mérito, sem se assumir posição efetiva acerca da regularidade da representação do requerente e da

oponente, o processo de retificação seguiu tomando a aparência como realidade. Contudo, segundo nos parece, também neste domínio deve valer o princípio da suficiência do processo, implicando que “a aparência não possa continuar a valer como realidade quando se

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subsidiária, ou seja, a carta registada com aviso de receção, e preterida a via principal, ou seja, a notificação eletrónica.

1.4.3. No entanto, para além de não se mostrar descabido o argumento de que a carta registada com aviso de receção permite maior efetividade de conhecimento pelo notificando do que a notificação eletrónica realizada através de aviso na Internet e, por isso, não é de molde a prejudicar a dedução da oposição, sucede que, a haver nulidade da notificação, por preterição das formalidades legais, também não compete à entidade ad quem o impulso da sua arguição (cfr. arts. 195.º e 196.º do CPC).

Da alegada nulidade da decisão

1.5. Segundo o recorrente, a decisão tomada no processo de retificação padece de falta de fundamentação de facto porque, tendo por objeto um “conflito a dirimir”, teria de encerrar, na sua estrutura lógica, a exposição dos factos que a sustentam, o que não acontece. Daí que se mostre eivada da nulidade a que se refere o art. 615.º/1/b) do CPC.

1.5.1. Antes de mais, importa frisar que o processo de retificação não é um processo de “partes”10, desde logo

porque o seu objeto não consiste na tutela das situações jurídicas dos sujeitos que nele intervêm, nem visa a composição de um “conflito de interesses” (que até pode não existir), antes nele se cuida da veracidade do

registo, vale dizer, da exata coincidência deste com o que se acha titulado11.

1.5.2. Com efeito, é um interesse público, não a resposta a um conflito de interesses, que está na base do processo de retificação do registo e que justamente determina a ausência de um efeito cominatório (que permita dar por confessados ou admitidos os factos alegados pelo requerente, no caso de falta de oposição dos interessados não requerentes), a possibilidade de instauração oficiosa da retificação e a iniciativa instrutória do decisor12.

1.5.3. Quanto à falta de fundamentação da decisão recorrida, embora fosse de esperar um despacho mais desenvolvido quanto à fundamentação factual, lógica e jurídica da decisão e que nesta se espelhasse, de modo mais claro e incisivo, o labor analítico que a determinou, não cremos, ainda assim, que se verifique uma absoluta

10 Embora o requerimento de retificação deva conter a identidade dos interessados (art. 84.º/1 do CRC), o pedido não é formulado contra

os demais interessados, que, por isso, não recebem a qualificação de “parte”. Não há, assim, uma relação jurídica processual estabelecida entre duas partes, enquanto titulares de interesses antagónicos, cuja tutela caiba ao conservador. O que há é o direito de intervenção de terceiros que possam ser “afetados” com a retificação, desde que seja para manifestar uma posição contrária à pretensão do requerente, sendo que é ao conservador, não ao requerente, que compete, em última instância, concretizar quais os “interessados não requerentes” a notificar nos termos do art. 90.º do CRC.

11 J. A. Mouteira Guerreiro, Noções de Direito Registral, Coimbra Editora, Coimbra, 1993, p. 259.

12Note-se que a justificação legal para a transferência da competência relativa aos processos de retificação dos tribunais judiciais para os

serviços de registo (Decreto-Lei n.º 273/2001, de 13 de outubro) assenta precisamente no facto de estes processos não estarem impregnados por uma função de justa composição do litígio.

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falta de fundamentação de facto ou de direito, posto que foram aduzidas as razões de facto (pendência de ação judicial destinada a obter a declaração de nulidade do registo retificando e falta de decisão judicial de declaração de nulidade do registo transitada em julgado) e as razões jurídicas, com invocação do disposto nos arts. 20.º, 22.º/2 e 22.º/3 do CRC, que, no entender da Sra. conservadora, tornam o pedido improcedente.

1.5.4. Por outro lado, considerando que a exigência de explicitação dos fundamentos de facto e de direito das decisões visa, acima de tudo, permitir aos interessados e às entidades de recurso o exame do processo lógico ou racional que subjaz à formação da convicção do decisor, parece-nos, em face dos contra-argumentos apresentados no recurso, que a “metodologia” seguida na construção da decisão não prejudicou o exercício do direito impugnatório e que ao recorrente não sobram dúvidas acerca das razões de facto e do enquadramento de direito feito no despacho recorrido.

Da tomada de decisão final antes da fase da instrução

1.6. Outro aspeto processual a ponderar radica na circunstância de, formalmente, não ter havido um despacho de indeferimento liminar (art. 88.º do CRC) e, portanto, após a menção da pendência da retificação, se ter prosseguido com o processo, notificando os interessados requerentes para deduzirem oposição à retificação e juntar elementos de prova, mas, uma vez recebida a oposição e decorrido o respetivo prazo, em vez de se passar à fase da instrução (art. 91.º do CRC), se ter emitido logo a decisão de mérito.

1.6.1. Realmente, diante da fundamentação alinhada na decisão recorrida, os factos que, no essencial, ditaram o indeferimento já resultavam dos dados conjugados da ficha de registo e do requerimento de retificação, sendo que nenhuma prova relevante, efetuada posteriormente, parece ter concorrido para o desfecho encontrado. Logo, na substância, a decisão tomada acabou por se reconduzir ao indeferimento liminar previsto no art. 88.º do CRC.

1.6.2. Constatando-se que a decisão não seria diferente em razão da prova testemunhal oferecida, porquanto aquela se alicerça na manifesta improcedência do pedido, por falta de verificação dos pressupostos legais contidos no art. 22.º do CRC, o ponto é então de saber se tal decisão podia ainda ser tomada nesta fase adiantada do processo de retificação ou se, ao invés, se impunha seguir a sequência processual determinada pela lei, dando cumprimento ao disposto no art. 91.º do CRC.

1.6.3. Ora, pela nossa parte, não vemos que o princípio de economia processual que inspira o preceituado no art. 88.º do CRC tenha de restringir-se à fase processual que antecede a notificação aos interessados ou que, em face das especificidades do processo, não possa ocorrer uma adequação da sua tramitação, que leve implicada uma economia de atos e formalidades e que, designadamente, permita o conhecimento do mérito,

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sem necessidade de mais provas e sempre que o estado do processo o permita (cfr. art. 547.º do CPC, com as devidas adaptações) 13.

Da impugnabilidade da decisão tomada no processo de retificação

1.7. Tendo em conta o tipo de processo sobre que versam os autos, aproveitamos o ensejo para acentuar que a aplicação do disposto nos arts. 101.º e seguintes do CRC em matéria de impugnação hierárquica da decisão de indeferimento do pedido de retificação não deve ser feita de forma automática e acrítica, antes deverá ser articulada com a estrutura própria do processo de retificação, sob pena de se postergarem o princípio da confiança e as garantias impugnatórias que o legislador entendeu por bem conceder, neste domínio, aos interessados não requerentes.

1.7.1. Não obstante o art. 92.º/1 do CRC fixar como objeto exclusivo do recurso hierárquico a decisão de indeferimento do pedido de retificação, cremos não ter sido intenção do legislador limitar a impugnação judicial da decisão de deferimento da retificação por qualquer interessado não requerente ou pelo Ministério Público (art. 92.º/2 do CRC), seja ela tomada pelo conservador, seja ela obtida em sede de impugnação hierárquica, por via da procedência do recurso e da substituição da decisão recorrida nela implicada.

1.7.2. Por isso, quando o recurso hierárquico seja deferido, não deve ser dado cumprimento à decisão no próprio dia, como se exige no art. 102.º/4 do CRC, porque esta norma foi gizada para a impugnação das decisões do conservador tomadas no processo normal de registo, onde, ao contrário do que sucede no processo de retificação, só pode intervir como impugnante o requerente ou a pessoa por ele representada e, portanto, não se concebe senão a impugnação da decisão negativa.

1.7.3. Dessa forma, quando esteja em causa um pedido de retificação, uma vez conhecida a decisão de procedência do recurso hierárquico, que, a nosso ver, deverá ser notificada ao recorrente e a todos os interessados não requerentes, só com o decurso do prazo para a impugnação judicial, sem que esta tenha sido interposta, ou com a improcedência desta, poderá ser cumprida aquela decisão.

1.7.4. Naturalmente, havendo procedência do recurso hierárquico, que substitua a decisão de indeferimento da retificação por decisão de sentido contrário, é esta decisão, proferida pela entidade de recurso, e não a decisão do conservador, que pode constituir objeto da impugnação judicial a interpor por qualquer interessado não requerente, sendo que, também neste aspeto, importa fazer uma aplicação adaptada das normas legais referentes à impugnação judicial.

Pronúncia

13 Claro que, no caso concreto, não deixou de haver algum desperdício de atividade, designadamente quando se chamaram os

interessados requerentes para deduzir oposição a uma pretensão que, de acordo com os fundamentos postos pela Sra. Conservadora, se saberia de antemão estar votada ao insucesso.

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Postas estas considerações de ordem processual, cumpre agora atentar na questão de fundo, a qual radica em saber se os registos por depósito podem ser cancelados por via intrassistemática em sede de processo de retificação e, na hipótese afirmativa, quais os pressupostos para o efeito.

Do registo por depósito

1. Como se sabe, o registo por depósito constitui uma modalidade de registo introduzida pela Reforma do Registo Comercial levada a cabo pelo Decreto-Lei n.º 76-A/2006, de 29 de março, cuja disciplina jurídica “progrediu” com a possibilidade de o registo ser efetuado, não pelo serviço de registo, mas pelo próprio requerente (art. 55.º-A/4 do CRC e art. 12.º/3 da Portaria n.º 1416-A/2006, de 19 de dezembro).

1.1. Já muito se escreveu, no meio académico e fora dele, sobre este tipo de registo14, mas o que neste

processo importa realçar é realmente o facto de este registo consistir no mero arquivamento de documentos (art. 53.º-A/3 do CRC)15, sem sindicância formal ou substantiva por parte do serviço de registo, e numa menção do registo por depósito na ficha da sociedade; menção essa que tanto pode ser feita pelo próprio requerente (nas condições previstas na aludida Portaria n.º 1416-A/2006) como pelo serviço de registo, exclusivamente com base no pedido de registo (arts. 14.º/2 e 15.º/3 do Regulamento do Registo Comercial, aprovado pela Portaria n.º 657-A/2006, de 29 de junho, e suas alterações) e, portanto, sem qualquer consulta ao documento arquivado. 1.2. Assim, salvo na hipótese prevista no art. 29.º-A do CRC, em que a promoção do registo pode ficar a cargo do conservador e, por isso, lhe compete o controlo da viabilidade do ato, o papel que é reservado aos serviços de registo no âmbito do registo por depósito não vai além do arquivamento do documento oferecido, cuja regularidade formal e a validade dos atos nele contidos não cabe ao serviço apurar, e da menção feita na ficha do registo exclusivamente base nas indicações dadas no pedido; isto quando a aquela menção não seja feita desde logo pelo próprio requerente16.

1.3. Bem se compreende, portanto, que o preceituado no art. 32.º/1 (só podem ser registados os factos constantes de documentos que legalmente os comprovem); no art. 47.º (princípio da legalidade); no art. 48.º/1/b) (recusa do registo por ser manifesto que o facto não está titulado nos documentos apresentados); e no art.

14 Cfr. Código das Sociedades Comerciais Anotado, coordenado por António Menezes Cordeiro, Almedina, Coimbra, 2014, pp. 708 e ss. 15 Sobre a alegação feita pelo recorrente de que os documentos que titulam os factos sujeitos a registo por depósito não são arquivados

nas conservatórias, lembramos a sucessão legislativa levada a cabo pelo Decreto-Lei n.º 8/2007, de 17 de janeiro, que alterou o n.º 4 do art. 53.º-A do CRC no sentido de dispensar o arquivamento dos documentos tituladores de factos relativos a quotas e partes sociais e respetivos titulares que não respeitassem a ações ou providências judiciais, passando o registo por depósito à consistir apenas na menção do facto na ficha, e pelo Decreto-Lei n.º 247-B/2008, de 30 de dezembro, que revogou este n.º 4, retomando-se o arquivo destes documentos, de acordo com a regra geral posta no n.º 3 do mesmo artigo, também reformulada em conformidade pelo dito Decreto-Lei n.º 247-B/2008.

16 Quando o pedido seja entregue por via eletrónica, o requerente surge assim equiparado, em termos de competência para o registo, ao

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48.º/1/d) (recusa do registo por manifesta nulidade do facto), não cubra senão o espectro dos registos por transcrição, precisamente porque só o registo por transcrição é feito com base no documento que constata ou autentica os factos sujeitos a registo; só o registo por transcrição é alvo de um juízo de valor sobre a regularidade formal dos documentos apresentados e a validade substantiva dos factos submetidos a registo; só o registo por transcrição é objeto do controlo preventivo de legalidade que desde sempre caracterizou a atividade registal.

Dos vícios do registo por depósito

2. Da mesma forma, só padecem da nulidade prevista no art. 22.º/1/b) do CRC (registo feito com base em título insuficiente para a prova legal do facto registado) os registos recobertos pela qualificação registal, porque só esses demandaram a prova legal do facto perante o serviço de registo e foram efetuados com base nos elementos constantes dos documentos apresentados (art. 53.º-A/2 do CRC), sendo que nesta nulidade se inserem quer os casos em que o facto não se encontra titulado nos documentos apresentados (o título existe e é válido mas não foi apresentado para efeitos de registo), quer as hipóteses em que o facto jurídico publicitado é nulo ou foi anulado (invalidade extrínseca ou consequencial).

2.1. São, aliás, vícios de nulidade privativos dos registos por transcrição todos os que estão fixados no art. 22.º/1 do CRC, pelo que, se quisermos partir do entendimento de que as causas de nulidade do registo estão taxativamente fixadas na lei17; de que, por isso, não há nulidade do registo quando falte uma disposição legal que expressamente a preveja, diríamos que ao registo por depósito apenas está reservado o vício da inexatidão, quando se mostre lavrado em desconformidade com o título que lhe serviu de base (pedido de registo) ou quando enferme de deficiências provenientes desse título (art. 23.º do CRC).

2.2. A ser assim, como nos parece que é, também não haverá fundamento para compulsar o art. 22.º/2 do CRC, como ocorreu na decisão recorrida, uma vez que o acontecimento ou estado de coisas previsto naquela norma não se verifica no caso em apreço: ali está em causa um registo nulo por transcrição, e o que aqui existe é um registo por depósito, sem qualquer causa de nulidade tipificada na lei.

2.3. Muito incongruente se mostraria, de resto, um sistema jurídico que vedasse ao conservador qualquer tipo de controlo preventivo de legalidade dos factos jurídicos sujeitos a registo por depósito, como deliberadamente acontece desde a Reforma do Registo Comercial; que mandasse alicerçar o conteúdo do registo no pedido respetivo, e não nos elementos constantes dos documentos arquivados; e que imediatamente a seguir cominasse o registo com o vício mais severo (a nulidade), com base na insuficiência do documento depositado

17 Neste sentido, parecer n.º 73/96 do Conselho Consultivo da Procuradoria Geral da República, publicado no DR n.º 268, II série, de 20

de novembro de 2000, parecer do Conselho Técnico do IRN, I.P., proferido no processo R.P. 9/98 DSJ-CT, publicado no BRN 7/98, II caderno, e J. A. Mouteira Guerreiro, Noções…, cit., p.94.

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para a prova legal do facto registado ou a pretexto do valor negativo deste facto, permitindo ao conservador expurgá-lo em sede de retificação18.

2.4. Daí que, para nós, se prefigure como manifestamente improcedente o pedido de retificação formulado nos autos, na parte em que se alicerça na invalidade substantiva da transmissão da quota, por falta de consentimento da sociedade, posto que esse valor negativo, a existir, não seria de molde a contaminar o registo. 2.5. Ainda que, por mera hipótese de raciocínio, pudéssemos admitir que a falta de consentimento da sociedade a que alude o art. 228.º do CSC implica a invalidade da retransmissão da quota, como defende o recorrente, e não a sua ineficácia perante a sociedade (como se retira do art. 228.º/2 do CSC)19, teríamos sempre de concluir que tal invalidade não se alastra ao registo, dado que o registo por depósito, ainda que desconforme com a realidade extratabular ou substantiva, estaria sempre regularmente efetuado, de acordo com os elementos constantes do pedido.

2.6. Queremos com isto dizer que a extinção do registo por depósito, de conteúdo desconforme com a realidade substantiva, designadamente quando se verifique a nulidade ou a anulação do facto registado e mesmo quando aquela nulidade se mostre manifesta no momento do pedido, só poderá verificar-se no processo normal de registo, através de novo depósito do documento judicial ou extrajudicial que titule a extinção do facto registado (cfr. art. 15.º/1/l) do Regulamento do Registo Comercial).

3. Outra razão alegada pelo recorrente para cancelar o registo consiste na falta de legitimidade da Sra. notária que requereu e efetuou os registos por depósito em tabela, a qual, ao contrário do que declarou no âmbito do pedido online, não interveio em representação da sociedade, posto que nenhuma relação de mandato ou emissão de procuração da sociedade existiu a seu favor.

3.1. Numa situação como a dos autos, que versa sobre a retransmissão de quota decorrente de uma revogação contratual sem efeitos retroativos20, cremos não haver dúvidas de que a legitimidade para o pedido pertence à sociedade, a quem também compete o controlo da legalidade do ato, pelo que, fora das condições previstas no

18 Não vemos realmente o para quê de uma lei que excluísse o controlo preventivo da legalidade dos atos no momento do pedido, mas,

ao mesmo tempo, impusesse o seu controlo sucessivo, oficioso e a todo o tempo, através do processo de retificação, ainda mais quando se sabe que a retificação nem sempre permitirá repor o status quo ante (cfr. art. 83.º do CRC).

19 Cfr. pareceres proferidos nos processos R. Co 3/2009 SJC-CT e R. Co 24/2010 SJC-CT.

20 Sobre o modo de refletir no registo as vicissitudes do direito operadas pela cessação contratual, consoante os seus efeitos, cfr.

processo C.P. 17/2014 STJ-CC.

Segundo Pedro Romano Martinez, Da Cessação do Contrato, Almedina, Coimbra, 2005, p. 110, por via de regra, a revogação de um contrato não tem eficácia retroativa, pelo que a extinção do vínculo só produz efeitos ex nunc, mas a autonomia privada permite que as partes acordem quanto ao efeito retroativo da revogação. Nesta hipótese, há, contudo, que atender a direitos de terceiro constituídos ao abrigo da relação contratual cessante, justificando-se tomar em conta o disposto no art. 435.º do CC.

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art. 29.º-A do CRC, o pedido formulado por quem não represente a sociedade só pode ser rejeitado, nos termos do art. 46.º/2/b) do CRC.

3.2. Porém, sendo o pedido formulado por notário que declare atuar em nome da sociedade (art. 29.º/5 do CRC), nada obstará, do ponto de vista da legitimidade e da representação para o ato, a que o registo se faça (ou possa ser feito pelo próprio requerente por via eletrónica), posto que é a própria lei a estabelecer a presunção de que o notário (o advogado ou o solicitador) tem a qualidade que se arroga e os poderes para o ato (art. 30.º/1/c) do CRC).

3.3. O ponto é, mais uma vez, de saber se o registo padece de algum vício, como pretende o recorrente, ou se, ao invés, deverá manter-se como registo válido, pese embora o requerente e responsável pelo registo não represente a sociedade e o registo tenha sido realizado a coberto de uma falsa qualidade do seu requerente, como se alega ter ocorrido no caso em apreço.

3.3.1. Ora, a despeito de todas as razões adiantadas pelo recorrente quanto aos efeitos negativos que a invocação da “falsa qualidade de representante” poderá implicar, a verdade a lei não prevê nenhuma causa de nulidade do registo por depósito, e não será certamente o intérprete ou aplicador do direito a criá-la, como se de uma incompleição do sistema normativo se tratasse21.

3.3.2. Mas ainda que se quisesse defender que há outras causas de nulidade do registo, para além das que estão indicadas no art. 22.º do CRC, e que a falta de legitimidade do requerente é uma delas, um tal vício, assente na violação de norma imperativa (art.29.º/5 do CRC), não poderia ser resolvido senão por via judicial, uma vez que a competência para a expurgação de registos no âmbito do processo de retificação é restrita às hipóteses previstas na lei, que versam sobre registos por transcrição22.

Da aplicabilidade do processo de retificação ao registo por depósito

4. De acordo com o disposto no art. 82.º do CRC, o processo de retificação, enquanto via intrassistemática de reposição da regularidade registal, só poderá ser mobilizado para correção de erros técnicos, como é o lançamento do registo em ficha distinta daquele em que deveria ter sido lavrado, para retificação dos registos inexatos e para a expurgação dos registos indevidamente lavrados que sejam nulos nos termos das alíneas b) e d) do n.º 1 do art. 22.º do CRC (categoria a que só podem pertencer os registos por transcrição, como bem reconhece o recorrente).

21 Como se sublinha no Parecer n.º 73/96 do Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República, cit., em linha com os

ensinamentos de Castro Mendes, Direito Civil, Teoria Geral, Vol. III, 1979, a nulidade dos atos é uma pena muito grave e de efeitos transcendentes, porque produz a morte civil dos mesmos atos e, por isso, só a deve haver quando a lei por motivos de grande conveniência pública, a tenha expressamente cominado.

22 Cfr. o art. 20.º do CRC, na parte em que expressamente limita o cancelamento em execução de decisão administrativa aos casos

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4.1. Ainda assim, em face do disposto no art. 22.º/2 do CRC, o processo de retificação para cancelar registos nulos só se justifica enquanto alternativa à ação de declaração de nulidade do registo, pelo que não poderá ser interposto se esta estiver registada, uma vez que o resultado pretendido (cancelamento do registo nulo) será alcançado com a conversão em definitivo a que alude o art. 69.º/4 do CRC e já se encontra acautelado com a “reserva de lugar” que o registo provisório por natureza da ação concede23.

4.2. Se já houver decisão judicial transitada em julgado a declarar nulo o registo ou o facto registado, também não há por que lançar mão do processo de retificação, uma vez que o cancelamento poderá ser obtido no processo normal de registo, nos termos do art. 20.º do CRC e com base naquela decisão.

4.3. Mas tudo isto, naturalmente, para os registos por transcrição, porque, como atrás dissemos, só sobre estes podem versar as causas de nulidade inscritas nas alíneas b) e d) do n.º 1 do art. 22.º do CRC; porque só os registos por transcrição são cancelados com base em prova documental; e porque, sendo o cancelamento do registo por depósito feito por depósito (com base nos elementos que resultam do pedido, e não do documento arquivado), a obtenção de uma decisão de retificação que pudesse constituir o documento que titula a extinção do registo e que pudesse, assim, ser objeto de arquivamento no âmbito desse depósito demandaria a atribuição de uma competência específica para o efeito ao conservador e, acima de tudo, implicaria um valor negativo do registo a cancelar tipificado na lei.

4.4. Perante o quadro legal vigente e na falta de outros subsídios interpretativos, cremos, assim, que a aplicação do processo de retificação aos registos por depósito se cinge à correção do vício da inexatidão (art. 23.º do CRC) ou do erro técnico (art. 82.º/5 do CRC) e estará talhada sobretudo para as situações de inexatidão do registo promovido nos termos do art. 29.º-A do CRC, sendo que, para os casos de desconformidade com o pedido ou para a inexatidão proveniente de deficiência do título (pedido de registo), o sistema parece estar preparado para permitir a retificação mediante novo depósito, com menção efetuada pelo próprio interessado quando promovida por via eletrónica, por isso, sem apreciação de viabilidade pelo conservador, como aliás bem se ilustra no caso dos autos, com o dep. ...6/2013-07-26.

4.5. Mesmo que, aceitando a taxatividade das causas de nulidade, se quisesse entender que da estrutura da

norma contida no art. 81.º/1 do CRC é possível extrair um “conceito genérico e multiforme de registo indevidamente lavrado”, habilitando ao cancelamento do registo que manifestamente “nunca deveria ter sido

23 Como observa Mónica Jardim, Efeitos Substantivos do Registo Predial - Terceiros para Efeitos de Registo, Almedina, Coimbra, 2013,

pp. 773, a eliminação do registo no processo de retificação visa precisamente prevenir uma futura invocação e declaração judicial de nulidade.

Embora a autora tenha escrito sobre registo predial, notamos que o entendimento servirá igualmente no âmbito do registo comercial, dada a similitude entre o disposto no arts. 16.º/1/b) e 120.º e seguintes do CRP e as normas que se encontram vertidas nos arts. 22.º/1/b) e 82.º e seguintes do CRC.

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registo”24, ainda assim sobraria como argumento o facto de o registo de transmissão de quota em tabela, pedido

por notária que se arrogou como representante da sociedade, surgir com a «aparência de legalidade» quanto à legitimidade para o pedido, inviabilizando desde logo a sua rejeição nos termos do art. 46.º/2/b) do CRC.

4.6. Se alinharmos com o entendimento de Mónica Jardim25, de que, em regra, os registos suscetíveis de ser

eliminados (rectius, cancelados) por via do processo de retificação, independentemente de qualquer decisão judicial acerca da existência do vício, são só os registos indevidamente lavrados, ou seja, aqueles que deveriam ter sido recusados no momento da qualificação26, e o aplicarmos, com as devidas adaptações ao registo por depósito, temos que um registo por depósito que não podia ser rejeitado também não poderá agora ser cancelado em sede de processo de retificação, justamente por não quadrar com o conceito de registo indevidamente lavrado ínsito no art. 81.º/1 do CRC, e por envolver factualidade controvertível (falsa qualidade de procurador), externa ao processo de registo (cfr. art. 30.º do CRC) e que só em sede judicial poderá ser comprovada.

Do cancelamento do registo por depósito dos autos

5. Dito isto, porque todo o problema jurídico demanda uma solução, julgamos que a falta da qualidade e dos poderes de representação da requerente do registo por depósito, não constituindo causa de nulidade do registo nem permitindo o cancelamento deste registo por via intrassistemática, também não tem necessariamente de significar uma aversão da sociedade relativamente ao registo efetuado.

5.1. É que, estando em causa um facto jurídico (transmissão de quota) sujeito a registo obrigatório (art. 15.º/1 do CRC), a sociedade, até pelo dever de lealdade que impende sobre os gerentes, tem a obrigação de proceder ao registo, logo que tome conhecimento do facto e disponha dos documentos respetivos (art. 242.º-B do CRC)27, desde que se verifique a regularidade formal do título e a validade do ato nele contido a que alude o art. 242.º-E do CSC.

24 Não é esta a posição da relatora, que, tal como se retira da declaração de voto junta ao processo R.P. 53/2014 STJ-CC, continua a

alinhar com a interpretação de que os registos indevidamente lavrados suscetíveis de retificação são apenas registos que enfermem de nulidade nos termos das alíneas b) e d) do n.º 1 do artigo 22.º do CRC, como resulta da leitura conjugada dos n.ºs 1 e 2 do art. 82.º do CRC. Quaisquer outros registos indevidamente lavrados ou quaisquer registos desconformes com a realidade substantiva só poderão ser sindicados por via extrassistemática, ou seja, no foro judicial, tal como, de resto, acontece com os demais casos de nulidade previstos no aludido art. 22.º.

25 Efeitos Substantivos do Registo Predial…, cit., pp. 773/774.

26 Terá sido neste fio de pensamento que a recorrida se colocou, quando, no contexto dos autos, elegeu a declaração de nulidade do

título como pressuposto essencial do cancelamento do registo.

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5.2. Do mesmo modo, também lhe competirá a ratificação do pedido efetuado pelo falso procurador (art. 268.º do CC), como forma de exercício ex post facto daquela obrigação de promoção do registo, uma vez verificadas a validade do facto registado e as demais exigências legais previstas no art. 242.º-E do CSC.

5.3. Naturalmente, não se cogitará sequer a possibilidade da legitimação representativa subsequente nos termos do art. 268.º/1 do CC28, se, depois de analisados os documentos arquivados com o registo, se concluir pela nulidade do facto registado. Nesta hipótese, a solução poderá passar então pela arguição judicial da nulidade (como, de resto, terá acontecido no caso dos autos, conforme Dep. 26/ 2014-01-15), ou pela obtenção do acordo entre as partes acerca da invalidade do negócio, de forma a lograr o cancelamento do registo por depósito, a efetuar nos termos dos arts. 53.º-A/3 do CRC, e 14.º/2 e 15.º/1/l) do Regulamento do Registo Comercial). 6. Pelo exposto, entendemos que este problema não pode ser configurado como um erro de registo suscetível de ser corrigido no processo de retificação, pelo que propomos a improcedência do recurso.

___________

Em conformidade, firmamos as seguintes

CONCLUSÕES

I – Em face do disposto no art. 22.º/1 do Código do Registo Comercial, as causas de nulidade do registo previstas na lei são privativas do registo por transcrição, não sendo, por isso, aplicáveis ao registo por depósito.

II – A hipótese normativa contida no artigo 22.º/1/b) do Código do Registo Comercial não se ajusta ao regime jurídico do registo por depósito, desde logo porque este registo é feito com base nos elementos constantes do pedido (artigos 14.º/2 e 15.º/3 do Regulamento do Registo Comercial), e não com base no documento que legalmente comprova o facto.

III- O registo por depósito que se mostre desconforme com a realidade substantiva não pode ser cancelado no âmbito do processo de retificação previsto e regulado nos artigos 82.º e seguintes do Código do Registo Comercial, designadamente por falta de disposição legal que estabeleça a invalidade desses registos e que confira ao conservador os poderes necessários à sua expurgação tabular.

28 Carlos Alberto da Mota Pinto, Teoria Geral do Direito Civil, 4.ª edição por António Pinto Monteiro e Paulo Mota Pinto, Coimbra Editora,

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IV – O cancelamento do registo por depósito é feito mediante novo registo por depósito, a realizar através do arquivamento do documento comprovativo da extinção do facto registado ou da decisão judicial transitada em julgado que o determine, e de menção efetuada nos termos do artigo 15.º/1/l) do Regulamento do Registo Comercial.

Parecer aprovado em sessão do Conselho Consultivo de 29 de abril de 2015.

Maria Madalena Rodrigues Teixeira, relatora, Luís Manuel Nunes Martins, Carlos Manuel Santana Vidigal, Ana Viriato Sommer Ribeiro.

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