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ACÓRDÃOTRIBUNALDE JUSTIÇA DESAO PAULO
ACÔRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA
REGISTRADO(A)SOBN"
IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIWIII
*02395313*
Vistos, relatados e discutidos estes autos de AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI n" 174,446-0/0-00, da
Comarca JUSTIÇA
de SÃO PAULO, em que é requerente PROCURADOR GERAL
sendo requeridos PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE DE PIRACICABA E OUTRO:
ACORDAM, em Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "JULGARAM PROCEDENTE A AÇÃO. V.U,", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos
ROBERTO VALLIM BELLOCCHI (Presidente), MARCO CÉSAR,
Desembargadores MUNHOZ SOARES,
WALTER DE ALMEIDA GUILHERME, CANGUÇÜ DE ALMEIDA, VIANA SANTOS,
IVAN SARTORI, C. MATHIAS
JOSÉ SANTANA,
PALMA BISSON, ARMANDO TOLEDO, A,
MARIO DEVIENHE FERRAZ, JOSÉ REYNALDO, JOSÉ
COLTRO,
ROBERTO
BEDRAN, BROS PICELI, ARTUR MARQUES, REIS KUNTZ, BARRETO FONSECA,
GUERRIERI REZENDE, LAERTE SAMPAIO, ANTÔNIO CARLOS MALHEIROS E JOÃO
CARLOS SALETTI.
Ação Direta de Inconstitucionaüdade n° 174.446-0/0 Requerente; Procurador-Geral de Justiça
Requeridos; Prefeito do Município de Piracicaba e Presidente da Câmara Municipal
InconsMuctonaãífaãe. ^çãa ‘Direta. _Artigos 343, 346, mcisos I, II e III, afítieas "a ” c "6", e 348, (fa Cei Compíementar n" 224/08, do íMuntcipto de (Piracicaba, a guaí revogou o Código Q^nbutáno do Município de <Piracica6a, instituindo taj(g sobre a prestação de seroiços púbdcos, dentre eles o de (impeza de vias púb(ieas. Serviço prestado a título universal (uti universi), cujo custeio deve provir da arrecadação de impostos. Impossibilidade de tributação a títubo stnguldrpeb) 'ÍMumcípio. afronta às normas previstas nos arts 144, 160, inc II e§ 2"
ambos da Constituição (Pauíista. (Procedência da ação.
Vistos estes autos de ação direta de inconstitucionaüdade de lei n“ 174.446-0/0,
contra o Prefeito do Câmara Municipal.
proposta pelo Procurador-Geral de Justiça Município de Piracicaba e o Presidente da
Com o objetivo de ver declarada a inconstitucionaüdade da expressão “Limpeza de Vias Públicas”, constante dos arts. 343, 346, incs, I, II e 111, “a” e “b”, e 348, todos da Lei Complementar n“ 224/08, a qual revogou o Código Tributário do Município de Piracicaba, instituindo taxa sobre a prestação daquele serviço, alega o requerente, em síntese, ofensa às normas dos arts. 29, 30, inc, III e 145, todos da Constituição da República, bem como das previstas nos arts, 144, 160, inc, II e § 2“, ambos da Constituição Paulista. Para tanto, salienta que os Municípios têm assegurada sua autonomia, atendidos os princípios estabelecidos na Constituição Federal e na Estadual, Essa autonomia se manifesta
Órgão Especial
pela competência outorgada a entidades de direito público para legislarem sobre assuntos de interesse local, suplementando a legislação federal e a estadual no que couber e, ainda, instituírem e arrecadarem tributos que lhes sào próprios. Entretanto, a Carta Magna, no seu art, 145, ao conferir às pessoas políticas competência para a instituição de impostos, taxas e contribuição de melhoria, classifica juridicamente os tributos, traçando o modelo de cada um deles e vinculando o legislador ordinário, Essa regra foi reproduzida no art, 160, inc. 11, da Carta Paulista, sendo de observância obrigatória pelos Municípios, por força do disposto no art, 144, dessa mesma Carta. Daí por que, sendo a atuação estatal, hipótese de incidência das taxas, pode se constituir tanto de um serviço público como de um ato de policia. Por outro lado, ressalta que nem todo serviço público pode ser remunerado com a cobrança de taxa, mas, tão-somente, aquele que é especifico e divisível, na medida em que o serviço público geral e indivisível é passível apenas pela receita resultante da arrecadação de impostos em geral. Ocorre que, no caso, a lei questionada, ao disciplinar sobre a cobrança de taxa de serviço de limpeza das vias públicas, tem por hipótese de incidência a prestação de serviço público geral ou universal e indivisível, na medida em que beneficia um número indeterminado de pessoas. Vale dizer, a limpeza mediante varrição de ruas é serviço oferecido ã comunidade, que se beneficia como um todo, Não será possível quantificar esse serviço em relação a cada um dos beneficiados com a sua prestação, Com isso, tratando-se de serviço geral ou universal, prestado indistintamente à coletividade, sem que sejam identificáveis os seus beneficiários, ele é insuscetível de ser remunerado por taxa. Outrossim, não basta que a lei instituidora de uma taxa afirme que está prestando um serviço público especifico e divisível ao contribuinte, em razão da utilidade ou comodidade a este proporcionados, quantificando- se o benefício aleatoriamente ou sem nenhum critério pertinente. Concluindo, os dispositivos constantes da lei n® 224/08 são
manifestamente inconstitucionais, porquanto o Município aludido somente poderá se remunerar por serviço geral ou universal mediante a cobrança de impostos {fls. 2-13),
Por decisão deste relator, foi concedida a medida liminar, suspendendo a partir desse momento (efeito ex nunc), a eficácia e a vigência dos dispositivos de lei atacados, tão-somente quanto à expressão “Limpeza de Vias Públicas”, até julgamento da presente ação direta (fls. 15-8).
Sobreveio, então, a resposta informações, na qual o Prefeito do esclarece que estão sendo tomadas supressão da expressão “Limpeza
dispositivos mencionados, com encaminhamento de Projeto de Lei à Câmara de Vereadores, especifico para este fim (fls, 32-3).
escrita ao pedido de Município de Piracicaba providências visando a de Vias públicas” dos
Citado, o Procurador-Geral do Estado declara que não há interesse na defesa da lei impugnada (fls. 36-8).
Opina a douta Procuradoria Geral de Justiça pela procedência do pedido, reiterando os termos da exordial {fls, 45 46),
Em seguida, o Presidente da Câmara referido sustenta a constitucionalidade dos dispositivos de lei atacados, buscando a improcedência da presente ação. Para tanto, ressalta que a Lei Complementar citada consolidou as leis municipais, que disciplinavam o sistema tributário municipal. Salienta, ainda, que nesta consolidação não se instituiu novas normas, apenas se reuniram as já existentes, sem qualquer alteração de seu conteúdo (fls. 48-53),
Órgão Especial
Nada obstante a informação acima, o Prefeito, agora, manifesta-se pela constitucionalidade da lei atacada (fls, 61-74).
É o relatório.
Releva notar, desde logo, que a taxa é uma obrigação ex lege que nasce da realização de uma atividade estatal relacionada (serviço público ou ato de polícia), de modo específico, ao contribuinte, embora muitas vezes por ele não requerida ou sendo para ele desvantajosa. Entretanto, não é qualquer serviço público que possibilita a tributação por via de taxa de serviço, mas, tão- somente, o serviço público específico e divisível (uti singuli).
Os serviços públicos gerais, prestados uti universi, isto é, a todos os cidadãos, alcançando a comunidade e beneficiando número indeterminado de pessoas, como os ser\'iços de iluminação pública, de segurança pública, de limpeza de vias públicas etc,, não podem ser custeados por meio de taxas, mas, sim, das receitas do Estado, representadas, basicamente, pelos impostos.
Neste sentido é a lição de Roque Antonio Carrazza (Curso de
Direito Constitucional Tributário, 22^ ed., Malheiros, 2006, cap.
VIII, n° 3,1.2.2, págs, 503-5) e Aliomar Baleeiro (Direito Tributário
Brasileiro, 11“ ed.. Forense, 2006, cap. V, tit. IV, pág. 549).
Ora, a limpeza de vias pública não beneficia especificamente o proprietário, ocupante ou possuidor do imóvel defronte ao qual são executados tais serviços, mas toda a população local, atingindo a todos indistintamente. Vale dizer, não se cuida de benefício especial e objetivo, mensurável para cada contribuinte que seria beneficiado de forma especifica, mas, ao contrário,
tributo que vem a beneficiar a sociedade como um hipótese de incidência de imposto e não como taxa.
Autos n“ 174 446-0/0 Comarca de São Paulo
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cuida-se de todo, tendo
Inclusive, este egrégio Plenário já deixou assentado tal entendimento, esclarecendo que a instituição da taxa de limpeza de vias públicas é inconstitucional, na medida em que referidos serviços não podem ser considerados específicos e divisíveis (cf,, p, ex,, ADIn n" 151,688-0/6-00, rei. Des, Passos de Freitas, julgado em 11/06/08; ADIn n° 111.334-0/9-00, rei. Des, Munhoz Soares, julgado em 23/02/05; ADIn n® 104,018-0/0-00, rei. Des, Vailim
Bellocchi, julgado em 19/05/04).
O Pretório Excelso, a seu tempo, em aresto proferido pelo Min, Eros Grau, esclareceu: “É inviável a cobrança de taxa quando vinculada nâo somente a serviço público de natureza específica e divisível, como a coleta de lixo domiciliar, mas também a prestação de caráter universal e indivisível como a limpeza de logradouros públicos, varrição de vias públicas, limpeza de bueiros, de bocas- de-lobo e das galerias de águas pluviais, capina periódica e outros. Agravo regimental a que se nega provimento” (STF, 1® T., AI-AgR 497.488/MG, DJU, 08/04/05, pág, 20). No mesmo sentir, há outros precedentes da Corte Suprema (cf., p. ex., STF, 2® T., RE- AgR 366.086/MG, rei. Min. Carlos Velloso, DJU, 01/08/03, pág. 137; STF, Pleno, RE 188.391/SP, rei. Min, limar Gaivão, DJU, 01/06/01, pág. 89),
Voga nas mesmas águas o colendo Superior Tribunal de Justiça (cf., p. ex., STJ, 1® T., EDcl-RO 43/RJ, rei. Min, Luiz Fux,
DJe, 14/04/8; STJ, 1® T,, REsp 783,301/MG, rei. Min, Luiz Fux, DJU, 29/10/07, pág. 182).
Outrossim, como mencionado pelo requerente, não basta que a lei instituidora de uma taxa afirme que esta se destine a custear um serviço prestado ao contribuinte ou fruível por este, ainda é indispensável que o benefício possa ser quantificado em relação a cada contribuinte.
Órgão Especial
Se não bastasse, de acordo com o colendo Supremo Tribunal Federal, é vedada a fixação de taxas de limpeza e conservação de ruas, uma vez que tem por componentes elementos integrantes da base de cálculo do IPTU, qual seja, a área do imóvel e a extensão deste no seu limite com o logradouro público (cf,, STF, Pleno, RE
199.969/SP, rei. Min, limar Gaivão, DJU, 06/02/98, pág, 38).
Concluindo, é evidente a inconstitucionalidade da cobrança da taxa em questão, diante da ausência dos requisitos de especificidade e divisibilidade que caracterizam e autoriza a cobrança, nos termos da norma prevista no art. 160, inc, II, § 2*’, da Constituição Bandeirante, de observãnciei obrigatória pelos Municípios, segundo art. 144 dessa mesma Carta,
Pelo exposto, julgo procedente o pedido, proclamando a inconstitucionalidade das normas constantes nos arts, 343, 346, incs. I, II e III, alíneas “a” e “b", e 348, todos da Lei Complementar n° 224/08 do Município de Piracicaba, tão-somente quanto à expressão “Limpeza de Vias Públicas”, suspendendo-as desde a sua edição (eficácia ex tunc), nos termos do art, 27 da Lei Federal n’ 9,868/99.
Oficie-se à Câmara Municipal para que esta decisão passe a obrigar.
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