PUBLICAÇÕES DO MUSEU MINERALÓGICO E GEOLÓGICO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA N.o 3
Memórias
e Notícias
COIMBRA IMPRENSA DA UNIVERSIDADE 1 9 2 5I N T R O D U Ç Ã O
As rochas que constituem a crusta da terra classificam-se em três grupos:
I. Rochas sedimentares. — Apresentam-se geralmente em camadas que pouco se afastam da posição horizontal, e assentam sempre sobre outras rochas de natureza diferente. Os ele mentos que as formam são ou detritos de outras rochas pre existentes ou produtos de precipitação por via húmida, ou produtos de origem orgânica.
II. Rochas ígneas. — Apresentam formas muito mais va riadas : camadas horizontais, verticais, massas cilíndricas, cú pulas, ou formas muito irregulares. Se muitas vezes assentam sobre as sedimentares, muitas outras continuam-se para o interior da Terra, sem se lhe encontrar uma base. Os ele mentos constituintes são formados, por solidificação de uma massa em fusão — um magma — e na sua disposição a gravi dade pouca influência deve ter, contràriamente ao que acontece nas rochas sedimentares. Em geral êsses elementos são for mados no local onde se encontram, como acontece nas sedi mentares de precipitação por via húmida.
R
osenbusch chama a estas rochas — eruptivas ou maciças,onde maciça se contrapõe a estratificada.
III. Rochas metamórficas. — Rochas de qualquere dos grupos anteriores podem sofrer tais transformações na sua textura,
e composição, que chegam por completo a encobrir o seu modo de formação.
Umas vezes é a aproximação no terreno dos dois tipos an teriores que origina essas novas rochas, — na chamada meta morfose de contacto — outras vezes as rochas têm caracteres especiais (xistos cristalinos), e a sua origem é ainda bastante hipotética.
Como só estudaremos as formas dos jazigos basta consi derarmos os dois primeiros tipos de rochas.
C
ap.
i— R
ochassedimentaresemestratospoucoounadaDEFORMADOS.
C
ap.
ii— E
stratosdeformadosporflexuraserugas.
C
ap.
iii— E
stratosdeformadosporfracturas.
C
ap.
iv— G
ruposderugasefracturas.
C
ap. v — J
azigosderochasígneas.
CAPÍTULO I
Chama-se estrato (1) uma camada de massa rochosa, sedi
mentar, com caracteres que a separam das camadas adjacentes. O mesmo estrato ou série de estratos pode apresentar aspectos diferentes conforme as condições em que se formou.
Diz-se então que o estrato ou estratos mudam de facies (2).
Assim há fácies terrestre; f. lacustre; f. marítima costeira
ou litoral, f. pelágica; f. abissal, etc.
(1) Ver na bibliografia as iniciaias por que são citados os diferentes autores. Não citamos a pág. quando a obra tem índice alfabético.
Tem-se também usado assentada (do fr. assise) N. D. (C.), pág 8; F. P. S., pág. 17; F. P. S. (L.), pág. 26, 14; F. H.: Stratum; R.: Schicht.
Quando o estrato é de pouca consistência ou fraca espessura chama-se
leito (fr.: lit; ing.: bed; al.: Lager. F. H ). Quando é de grande consis
tência e espessura chama-se às vezes banco [G. G. (E.), pág. 1
36
], oubancada F. P. S. (L.), pág. 17; folheto quando delgado e pouco extenso (A.
F., pág. 379).
(2) Facies G. G. ( E ) , exprime diferenças de caracteres que distinguem formações da mesma idade.
N. D. (C.), pág. 101, ...camadas que formam uma feição tão caracte rística...
B. B., pág. 226, chama feições menores às juntas; xistosidade, etc., e feições maiores a flexuras, falhas, etç,
Rochas sedimentares em estratos
pouco ou nada deformados
Num estrato há a notar a espessura (1) que pode ser
variável, dando-lhe às vezes o aspecto cuneiforme, lenti- cular (2).
Nota-se às vezes que um estrato sofreu a acção erosiva antes de sobre êle se formar outro estrato, devido a ter-se formado em águas pouco profundas onde os movimentos da crusta o trouxeram à superfície, para de novo mergulhar for mando sobre êle um novo estrato. São os chamados estratos de erosão contemporânea (3). fig. 1, B.
Dois estratos dizem-se concordantes (4) quando houve con
tinuidade na sua formação.
Se, depois de formado um conjunto de estratos há interrupção na formação de novos depósitos diz-se que há discordância (5)
de estratificação. Entre os dois depósitos houve um tempo sem formação correspondente. Diz-se que há uma lacuna (6)
de estratificação.
Em geral os estratos mais antigos sofreram a acção da erosão antes da sobreposição da mais moderna, e quando esta acção é visível diz-se que houve discordância paralela visível (7)
como em fig. 1, A, onde a linha ondeada separa as duas séries de estratos. Em B não é visível a discordância: discordân cia paralela invisível (7).
(1) Tem-se usado muito possança (do fr.: puissance). G. G. (E.), pág.
136
; C. R. (C.), pág. 9; P. O., pág. 6; C. R. (R.), pág. 8; W. L. (A.), pág. 1; B. P., pág. 10; F. P. S., pág.3
o; A. F., pág.381
; al.: Machtigkeit.(2) C. R. (C.), pág.
23
; G. G. (m). (3
) G. L.(4) G. G. (E.)t pág. 141, considera únicamente a concordância ou
discordância angulares. B. B., pág. 210 : depósitos conformáveis e inconfor
máveis (do ing. conformity).
(
5
) F. G. M. (2.0), G. L., F. H.: discordante Auflagerung. P. S.: Unconformity.
(6) G. G. (E.), pág. 141; W. L. (B.), pág. 21; P. S.: lost interval; H. C.,
Lucke.
9
Quando acontece como em C em que os estratos mais mo dernos vão tendo uma extensão cada vez maior diz-se que há uma transgressão paralela (1).
Se houve inclinação das camadas inferiores antes da for mação das mais modernas diz-se que há uma discordância
angular(2) fig. 2, A. Também se diz que ha discordância
quando as massas inferiores são rochas metamórficas ou ígneas (2) fig. 2, B.
Quando as camadas da série mais moderna se estendem sôbre uma área cada vez menor diz-se que há regressão (3).
Muitas vezes os estratos são formados fora da posição hori zontal. Diz-se então que há estratificação irregular (4) que pode
ser oblíqua(4) quando as camadas ficam inclinadas e paralelas, curvilínea quando as camadas se formam curvas, e cruzada (4)
quando proveem da sucessão alternada de duas ou mais cor rentes em diferentes sentidos.
(1) G. L., serve-se só deste critério do. espaço. M. H., serve-se só do critério do tempo. P. S: overlap.
(2) P. S., também non conformity. (
3
) G. L.(1) P. S.: piedmont river deposit.
(2) P. S.: beach deposit. H.: littoral deposits, a estes depósitos se- guem-se: dev. do banco continental [F. G. M. (1.°), pag.
35
] [shoall waterdep. (H., pag.
36
), shelf d. (P.), region neritique E. H., pág. 88. Seicht-wasser H. C.] dep. do declive continental [aktian d. (H., pag.
36
) regionbathyale E. H., Tiefsee H. C.]; dep. da zona abissal (F. C. M. 1.°).
(
3
) P. S.: top set, foreset, bottomset beds.(4) C. R. (L.), pag. 24, chama-lhe retalhos; também A. C., pag. 34. G. L.:
temoin.
(
5
) G. L. (6) G. G. (m.).Estas estratificações irregulares dão-se principalmente nos
depósitos continentais, devidos ao vento ou eólicos, ou no sopé
das montanhas (1) onde os rios depositam os materiais mais pesados devido á diminuição de velocidade, nos depósitos la- custres ou nos do litoral (2).
Nos deltas é que aparece maior variedade de estratificação como se vê na fig. 3.
Em A aparecem depósitos continentais e litorais de ca madas horizontais. Em B depósitos marinhos e litorais, com estratificação oblíqua. Em C depósitos marinhos de estrati ficação horizontal.
Podemos designá-los respectivamente por: depósitos da su- perfície, d. da vertente, d. do fundo do delta (3).
A erosão actuando sobre os estratos pode deixar aqui e além restos que mais lhe resistem, devido à sua natureza; estes restos chamam-se às vezes retalhos ou testemunhas (4)
que atestam a existência de um antigo estrato.
Casos há em que a erosão ataca uma pequena parte de um estrato, pondo a descoberto outro inferior. A estas áreas dá-se o nome de janelas (5).
Um estrato pode, na sua margem aparecer um pouco le vantado (6) ou descaído (6) passando mesmo a revirado (6)
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