1 Graduando em Medicina Veterinária pela Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Agrárias - Campus III.
Departamento de Ciências Veterinárias, Areia - Paraíba – Brasil, CEP: 58397-000, e-mail: kennedy.palitot@gmail.com.
2Graduando em Medicina Veterinária pela Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Agrárias - Campus III.
Departamento de Ciências Veterinárias, Areia - Paraíba – Brasil, CEP: 58397-000, e-mail: lima.cavn@gmail.com. 3
Graduando em Medicina Veterinária pela Universidade Federal da Paraíba, Centro de Ciências Agrárias - Campus III. Departamento de Ciências Veterinárias, Areia - Paraíba – Brasil, CEP: 58397-000, e-mail: marcio_ribeiro3@hotmail.com. 4 Graduando em Medicina Veterinária pela Universidade Federal da Paraíba, Centro de
Ciências Agrárias - Campus III. Departamento de Ciências Veterinárias, Areia - Paraíba – Brasil, CEP: 58397-000, e-mail: genesiorpbj@gmail.com. 5 Professora adjunto do Departamento de Ciências Veterinárias, Universidade Federal
da Paraíba, Centro de Ciências Agrárias - Campus III., Areia - Paraíba – Brasil, CEP: 58397-000, Telefone: (83) 33622300 Ramal: 3248, e-mail: anne@cca.ufpb.br
Recebido para publicação em 29/06/2012 Aceito para publicação em 03/08/2012
ZOOTERÁPICOS COMO FORMA DE TRATAMENTO ALTERNATIVO NAS COMUNIDADES RURAIS DO MUNICÍPIO DE BONITO SANTA FÉ, PARAÍBA
Kennedy Moreira Palitot1*, Ricardo Pereira Lima2, Marcio André Ernesto do Rego3, Genésio Rodrigues de Paula Borges Junior4, Anne Evelyne Franco de Souza5.
Resumo: Zooterápicos são remédios elaborados a partir de partes do corpo de animais, de produtos
de seu metabolismo, como secreções corporais, partes do seu corpo ou seus subprodutos. O objetivo deste trabalho foi avaliar o conhecimento, utilização e indicação de medicamentos zooterápicos no tratamento das enfermidades corriqueiras dos animais de produção e estimação por produtores da zona rural do município Bonito de Santa Fé, localizado no sertão Paraibano. O trabalho foi realizado aplicando-se questionários, totalizando cem, com perguntas objetivas e abertas aos agricultores do município, os quais criam animais de produção e estimação. 40% dos entrevistados disseram conhecer algum tipo de zooterápico. Quanto à consulta veterinária, 70% disseram nunca terem levado seu animal ao médico veterinário. Dos 30% que levaram seus animais ao Veterinário, 93,34% responderam não ter recebido indicação para tratamento zooterápico. Para aqueles entrevistados, que de alguma forma utilizaram zooterápicos, seja por indicação do profissional ou conta própria, 100% responderam que houve melhora, não notou efeito colateral, repetiria o tratamento e ainda indicaria o mesmo para outras pessoas. Os produtos usados como medicamentos zooterápicos descritos pelos produtores foram: a manteiga feita de leite bovino (Bos taurus, Bos indicus), sebo de carneiro castrado (Ovis aries), banha de suíno (Sus domesticus) e banha de cágado (Phrynops hogei). Portanto este trabalho mostra a importância do tratamento alternativo para os moradores, mostrando-se efetivo quando utilizado. A presença de conhecimentos técnicos e assistência Médica Veterinária nessa região é insuficiente nessas comunidades.
Unitermos: medicina popular, etnobiologia, medicina veterinária.
ZOOTHERAPY AS FORM OF ALTERNATIVE TREATMENT IN THE RURAL COMMUNITIES OF THE MUNICIPAL OF BONITO DE SANTA FÉ, PARAÍBA, BRAZIL Abstract: Zootherapys are medicines elaborated starting from parts of the body of animals, of
products of your metabolism, as corporal secretions, parts of your body or your by-products. The objective of this work was to evaluate the knowledge, use and indication of medicines zootherapys in the treatment of the current illnesses of the production animals and estimate for producing of the rural zone of the Bonito de Santa Fé, located in the high interior of the Paraíba, Brazil. The work
was accomplished being applied questionnaires, totaling a hundred, with objective questions and open to the farmers of the municipal district, which create production animals and estimate. 40% of the interviewees said to know some zootherapy type. With relationship to the veterinary consultation, 70% said they have never taken your animal to the veterinary doctor. Of the 30% that took your animals to the Veterinarian, 93,34% answered not to have received indication for treatment zootherapyo. For those interviewees, that in some way they used zootherapy, be for the professional's indication or it counts own, 100% answered that there was it gets better, didn't notice collateral effect, would repeat the treatment and it would still indicate the same for other people. The products used as medicines zootherapy described by the producers they were: the butter done of bovine milk (Bos taurus, Bos indicus), suet of castrated sheep (Ovis aries), swine fat (Sus domesticus) and freshwater turtle fat (Phrynops hogei). Therefore this work shows the importance of the alternative treatment for the residents, being shown cash when used. The presence of technical knowledge and Veterinary Medical attendance in that area are insufficient in those communities.
Uniterms: popular medicine, ethnobiology, veterinary medicine INTRODUÇÃO
A medicina popular apresenta-se como um conjunto de aspectos cognitivos, ideológicos, comportamentais e emocionais relacionados às práticas de cura e modificados historicamente (Silva, 2004). Neste contexto, várias alternativas são encontradas pelos pequenos produtores nas regiões mais carentes do nosso país. No Brasil, a manifestação da medicina popular e, particularmente da zooterapia, configura uma interação de elementos indígena, africano e europeu, participando da história da medicina desde o princípio da colonização, conforme (Rocha, 1960) citado por (Silva 2004). O uso de animais como fontes de medicamentos é um fenômeno transcultural historicamente antigo e geograficamente disseminado (Neto 2005). Muitas sociedades mantêm esses costumes, sendo o tratamento feito a base desses medicamentos, como uma alternativa terapêutica importante no tratamento dos seus animais. Atualmente, tanto os animais de companhia (gato, cachorro, etc), como de produção (ovelhas, bois, etc) tem sido cada vez mais tratados com homeopatia.
A zooterapia é um termo amplo, que pode ser entendida como o movimento conhecido como “terapia animal assistida”, em que, por meio de certas práticas terapêuticas, animais como cães, gatos e cavalos são empregados como co-adjuvantes no tratamento e melhoramento de diversos estados patológicos humanos, como, por exemplo, as deficiências mentais (Silveira, 1998). No entanto, o termo aqui empregado refere-se, stricto sensu, ao registro do uso de remédios elaborados a partir de partes do corpo de animais, de produtos de seu metabolismo, como secreções corporais, partes do seu corpo ou seus subprodutos. Na medicina, o animal inteiro ou os produtos e substâncias dele extraídos têm sido utilizados como recursos terapêuticos em diferentes culturas humanas desde tempos antigos (Neto 2005). Para Silva (2004), A obtenção dos remédios se dá mediante a utilização do espécime inteiro, de partes dos seus corpos ou produtos extraídos deles, como a banha e sebo (gordura).
Com a utilização indiscriminada dos medicamentos como antibióticos, bactérias patogênicas desenvolvem resistência, tornando-se difícil o seu tratamento. Para Zarde (2008), males que provém de cruzamentos genéticos equivocados, alimentação cada vez mais artificial, atividade reprodutiva com influência de produtos químicos e, principalmente, instalações totalmente inadequadas. As terapias alternativas também não devem ser usadas sem controle no tratamento de animais de estimação, é extremamente necessário o aconselhamento com o médico veterinário e, se possível,
também com um farmacêutico, que detém o conhecimento científico sobre o uso farmacológico desses produtos de venda livre (Souza et al., 2012). Quando falamos de animais de produção, ou seja, aqueles que fornecem alimentos aos humanos, temos o agravante de que a quantidade residual dos tratamentos químicos, permanecem nos produtos/derivados quando consumidos. Esta é essencialmente uma questão, de saúde pública, pois tem contribuído para a transferência da resistência dos agentes patogênicos aos tratamentos do animal para o homem (Zarde 2008).
O objetivo deste trabalho foi fazer um levantamento dos medicamentos zooterápicos utilizados pelos produtores da zona rural do município de Bonito de Santa Fé, no sertão da Paraíba. Além dos efeitos colaterais, forma de utilização e preparo desses produtos de origem animal.
MATERIAIS E MÉTODOS
Esta pesquisa foi realizada na cidade de Bonito de Santa Fé-PB, priorizando os moradores da zona rural, durante o mês de Janeiro de 2012, com 100 (cem) entrevistados, todos estes com contato direto com criações, sendo para o próprio consumo ou em caráter comercial. Foram entrevistados produtores rurais, peões, vaqueiros, donas de casa e proprietários de estabelecimentos comercias de produtos veterinários, onde os mesmos relataram seus conhecimentos sobre a utilização de subprodutos e/ou produtos derivados dos mesmos, estes comuns da região, no tratamento de doenças de seus animais.
Foram aplicados questionários (Anexo 1), onde o entrevistado respondia questões objetivas e subjetivas sobre a utilização de zooterápicos para tratamentos alternativos de doenças tidas como brandas pela avaliação pessoal do dono do animal, obtendo-se assim, a indicação da enfermidade e o produto a ser usado no referido tratamento, onde os mesmos nos forneciam os nomes populares destes produtos zooterápicos e sua aplicação. O projeto, bem como o instrumento de pesquisa (questionário), foram analisados previamente por um relator e aprovados em reunião departamental (DCV-CCA-UFPB).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De todos os entrevistados, 40% afirmam conhecer algum medicamento de origem animal, enquanto 60% não tinham conhecimento de qualquer tipo de medicamento zooterápico. Entretanto, para aqueles criadores que, em algum momento usaram zooterápicos, 100% avaliaram que houve melhora dos animais, com este tratamento (Figura 1).
Figura 1 - Emprego de zooterápicos no tratamento de doenças de animais domésticos por
Estes mesmos produtores rurais ainda responderam se já haviam levado seus animais para consulta ou se o médico veterinário teria ido visitar suas propriedades pelo menos uma vez. Surpreendentemente, constatou-se que apenas 30% afirmaram já ter levado seus animais doentes para consulta com profissional especializado em clínicas médico-veterinárias. Os 70% que afirmaram nunca ter levado seu animal doente a uma consulta demonstram a baixa atuação do profissional qualificado nessa região.
Destes 30% que afirmaram ter havido uma consulta médico veterinária aos seus animais, 93,34% foram medicados tradicionalmente com alopatia. Apenas 6,66% afirmaram ter recebido indicação de tratamentos zooterápicos pelos profissionais (Figura 2).
Figura 2 – Avaliação da atuação dos Médicos Veterinários e indicação de medicamentos
zooterápicos para o tratamento das enfermidades que acometem os animais da zona rural do Município de Bonito de Santa Fé-PB, janeiro/2012.
Quanto ao surgimento de efeitos colaterais pelo uso de zooterápicos, 100% dos entrevistados que afirmaram fazer uso desse tipo de tratamento alternativo, não constataram qualquer efeito colateral. Quando questionados se repetiriam este tipo de tratamento, 100% dos entrevistados afirmaram que sim e ainda que indicariam esta forma de tratamento para outras pessoas utilizarem em seus animais domésticos criados em suas propriedades (Figura 3).
Figura 3 – Satisfação e indicação do uso zooterápico como tratamento alternativo das enfermidades
que acometem os animais domésticos da zona rural de Bonito de Santa Fé-PB, janeiro/2012.
Os principais produtos de origem animal usados como medicamentos zooterápicos no tratamento de enfermidades dos animais domésticos pelos entrevistados da zona rural do município de Bonito de Santa Fé-PB encontram-se na Tabela 1, onde também estão descritos as forma de aplicação, indicação e sua origem.
Tabela 1 – Principais zooterápicos utilizados no tratamento de doenças dos animais domésticos da
zona rural de Bonito de Santa Fé-PB, janeiro/2012. Nome popular do animal Nome científico do animal Produto ou Parte usado Indicação Forma de aplicação
Bovino Bos taurus, Bos
indicus Manteiga (leite de vaca) mamária, cascos, infecção na Infecção da glândula mucosa oral e edemas.
Tópico e oral (garrafada) Ovino Ovis aries Sebo do carneiro
castrado inflamação nas articulações e Luxações de membros, cortes profundos.
Tópico
Suíno Sus domesticus Banha Cortes superficiais, queda de pelo.
Tópico Cágado Phrynops hogei Banha Inflamações e ferimentos. Tópico
Para Ortencio (1997), no tratamento das distensões musculares, luxação, pancada e torção pode ser indicado sebo de carneiro castrado esfregado ou passado (derretido) sobre o local. Esse tratamento também é usado pelos produtores da região pesquisada para o mesmo prognóstico.
CONCLUSÃO
O uso de medicamentos zooterápicos entre os moradores da zona rural de Bonito de Santa Fé-PB no tratamento de enfermidades em seus animais de estimação e/ou de produção é bastante frequente. A escolha deste tipo de tratamento é de grande relevância no que condiz ao contesto cultural e sócio-econômico da cidade, tendo em vista a facilidade de acesso, preparo e o baixo custo destes produtos. A utilização da manteiga da terra, esta que é um derivado do leite bovino, produto este de baixo custo e fácil manipulação e acesso pelos produtores foi o mais citado nesta pesquisa.
Os produtos de origem animal mostraram-se de grande valor terapêutico diante dos testemunhos prestados pelos entrevistados, resultados estes representados nos gráficos anteriores, assim, como comprovou-se a ausência do Médico Veterinário, junto aos pequenos produtores rurais do município, bem como a falta da prestação de serviços às comunidades, sendo indicados apenas medicamentos comerciais, de alto valor financeiro, onde inviabilizaria para muitos destes pequenos produtores o tratamentos de seus animais devido às baixas condições econômicas destes.
REFERÊNCIAS
Barbosa J. A. A.; Alves R. R. da N.; “um chá de que?” – Animais utilizados no preparo tradicional de Bebidas Medicinais no agreste Paraibano. BioFar. 4 (2): 1 - 12.
Neto, E.M.C.; Pacheco, J.M. (2005). Utilização medicinal de insetos no povoado de Pedra Branca, Santa Terezinha, Bahia, Brasil. Biotemas, 18, (1): 113-133.
Ortencio, W. B. Medicina popular do Centro-Oeste. Pag. 147. 2ª ed. Ver. e atual – Brasília: Thesaurus, 1997. (online) - http://books.google.com.br. Acesso em: 14 de julho 2008.
Rocha, L. A. 1960. História da medicina em Pernambuco: séculos XVI, XVII, XVIII. Arquivo Público Estadual, Recife, Brasil, 280 pp.
Silva, M.L.V.; Alves, A.G.C.; Almeida, A.V. (2004b). A zooterapia no Recife (Pernambuco): uma articulação entre as práticas e a história. Biotemas, 17 (1): 95-116.
Silveira, N. 1998. Gatos: a emoção de lidar. Editora Leo Christiano, São Paulo, Brasil, 80 pag. Zardo, V. F. (2008) Homeopatia em Animais de Produção. In. AGROPECUÁRIA SAUDÁVEL: da prevenção de doenças, pragas e parasitas à terapêutica não residual. Lages: Epagri; Udesc, 2008. cap.4, pag.22-31.
Souza, A. E. F. de; Nascimento, H. H. de Lima; Mayer, K. D. de G.; Gomes, M. K. de O. Etnobotânica: Importância do conhecimento popular nas indicações de plantas medicinais para tratamento de enfermidades de animais de companhia. Biofar, 7 (2): 66-73
ANEXO 1
MODELO DE QUESTIONÁRIO
Aplicador Questionário Nº: (1) - Dados pessoais
Nome do entrevistado:
Idade: Sexo: ( ) masculino ( ) feminino Grau de instrução (escolaridade):
[ ] analfabeto [ ] 1° grau completo [ ] 1° grau Incompleto
[ ] 2° grau completo
[ ] 2° grau completo incompleto [ ] 3° grau completo
[ ] 3° grau incompleto Profissão:
Local: [ ]Área urbana [ ] Área sub-urbana [ ] Área rural (2) Dados do animal
Raça:
Espécie: Idade:
Medicamentos de origem animal
1- Conhece algum medicamento de origem animal? SIM [ ] NÃO [ ]
2- Qual? E para qual doença? SIM [ ] NÃO [ ]
R:
3- Já levou seu animal ao medico veterinário? SIM [ ] NÃO [ ]
4- Se já, ele indicou algum tratamento alternativo com estes medicamentos em especifico? SIM [ ] NÃO [ ]
5- Se sim, para qual(ais) doença(s)? R:
6- Se já utilizou deste tipo de medicamento notou alguma melhora do animal? SIM [ ] NÃO [ ]
7- Se sim, com quanto tempo foi apresentada esta melhora? 8- Se já fez uso destes medicamentos, onde costuma encontra-los? 9- Você já os fabricou?
SIM [ ] NÃO [ ]
10- Se sim, quem lhe ensinou? R:
11- Qual a forma de preparo (chás, lambedô, emplastro, xarope, uso tópico, garrafada, etc)? R:
12- Utilizando estes medicamentos, notou algum efeito indesejado no tratamento do animal? SIM [ ] NÃO [ ]
13- Se sim, quais? R:
14- Você utilizaria o mesmo tratamento, em um novo caso da mesma doença em seus animais? SIM [ ] NÃO [ ]
15- Se não, porquê? R:
16- Tendo em vista os efeitos deste tipo de tratamento, você o indicaria para outros proprietários? SIM [ ] NÃO [ ]