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TRAJETÓRIAS COREOGRÁFICAS - COMPOSIÇÃO ENTRE CORPO, ESPAÇO CÊNICO E AMBIENTE URBANO

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Academic year: 2021

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TRAJETÓRIAS COREOGRÁFICAS - COMPOSIÇÃO ENTRE CORPO, ESPAÇO CÊNICO E AMBIENTE URBANO

Tatiana Melitello Washiya (USP)

Tatiana Melitello, dançarina. Concluiu graduação em Comunicação Social em 1999. Formou-se em Pilates pelo CGPA. Foi bolsista dos cursos de dança no Henny Jurriens Foundation (Amsterdã). De 2000 a 2002, atuou como intérprete-criadora nos espetáculos "Fragmentos Vermelhos" e "Rosso" dirigidos por Cristina Salmistraro. De 2004 a 2009 integrou o Núcleo Artérias dirigido por Adriana Grechi, onde foi intérprete-criadora dos espetáculos "Porque Nunca me Tornei um Dançarino" (APCA 2004), "Ruído" (Rumos Dança/ItaúCultural 2007) e "Fronteiras Móveis" (APCA 2008). Entre os solos de dança criados e interpretados destacam-se "Da criação da destruição", "A Troco" (CCSP/Feminino na Dança/2005), "Alvéolos" (Proac/2007) e "Temporários Escapes" (Proac/2009). e-mail: tatimelitello@hotmail.com

Resumo

O presente artigo visa analisar o conceito de trajetórias coreográficas no processo de composição em dança contemporânea a partir da relação entre corpo e ambiente urbano. Neste contexto, considera-se que o caminho do movimento percorrido pelo corpo contêm informações que delineiam e estruturam, no tempo presente da ação, uma composição espacial cênica correlacionada às configurações espaciais realizadas pelo corpo na cidade.

Palavras-chave: Trajetórias Coreográficas, Composição, Ambiente Urbano.

CHOREOGRAPHIC PATHS - COMPOSITION OF BODY, SPACE SCENIC AND URBAN ENVIRONMENT

Abstract

This article aims to analyze the concept of choreography paths in the process of composition in contemporary dance from the relation between the body and the urban environment. In this context, it is considered that the path of movement in the body contain information that outline and structure, of the action at the presente time, a spatial composition scenic correlated to spatial configurations perfomed by body in the city.

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O presente artigo pretende levantar reflexão sobre o conceito de trajetórias coreográficas no processo de composição em dança contemporânea traçando correlações entre as configurações espaciais cênicas e a organização espacial associada à experiência cotidiana no contexto urbano.

Partindo do pressuposto que o ambiente mapeia uma organização coerente de espaço no corpo a partir das trocas que se estabelecem entre ambos, quando realizamos uma coreografia elaboramos informações, memórias, imagens e capacidades imaginativas a partir da relação entre o corpo e o ambiente, neste processo relacional desenvolvemos modos de pensar e fazer em dança.

Ao longo da história da coreografia, a noção de trajetórias coreográficas esteve implicada a uma configuração espacial que determinava os percursos a serem seguidos pelas sequências de passos. Segundo Monteiro (1998), a criação de uma coreografia se baseava na escrita de passos sobre percursos traçados em partituras. O caminho a ser percorrido, denominado por Feuillet no início do ano de 1700, se baseava "à linha sobre a qual se dança" (p.340).

Os passos a ser seguidos eram indicados sobre esses percursos com traços e signos demonstrativos e convencionais; a cadência ou os compassos eram assinalados por pequenas barras colocadas transversalmente, dividindo os passos e fixando o tempo; a música sobre a qual esses passos foram compostos aparecia no alto da página, de forma que oito compassos de coreografia equivaliam a oito compassos da música; por meio desse arranjo era possível soletrar a dança, contanto que se tivesse a precaução de nunca trocar a posição do livro, mantendo-o sempre na mesma direção (MONTEIRO,1998, p.340).

O conceito de trajetória criado na primeira metade do século XX pelo coreógrafo Rudolf Van Laban1

"Os dois pontos que criam o Percurso Espacial já definem sua natureza. Uma trajetória ou percurso entre dois pontos específico é matematicamente Central, Transverso ou Periférico" (FERNANDES, 2006, p.233).

, compreende o percurso espacial como "a trilha desenhada pelo movimento, conectando pelo menos dois pontos no espaço" (FERNANDES, 2006, p.233).

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No mesmo período, porém em outra direção, a coreógrafa Trisha Brown explora novas formas de organização espacial na dança. Em "Man Walking Down the Side of a Building2

Atualmente muitos coreógrafos e criadores propõem organizar suas idéias na forma de dança não por formas previamente estabelecidas e fixadas, mas sim por modos processuais onde a organização do material coreográfico se estrutura pelas informações e relações agenciadas pelo corpo no seu ambiente de existência.

" (1970) por exemplo, as relações espaciais cênicas são traçadas pela arquitetura do ambiente. Através de estruturas compositivas desenvolvidas por instruções abertas a interpretações Trisha Brown não fixava um caminho a ser percorrido pelo movimento, a ação podia ser iniciada e recombinada a partir de qualquer lugar e tempo.

A coreografia basicamente pautada por métodos de escrita da dança foi sendo reelaborada por uma rede de acontecimentos em diferentes épocas e lugares que possibilitaram aos dias de hoje compreendê-la por diversas estruturas de organização e modos de composição.

A compreensão de que a coreografia se utiliza de modos compositivos processuais elaborados pelo corpo no seu ambiente de existência amplia o entendimento de trajetórias coreográficas. A construção do caminho do movimento realizado pelo corpo que dança é continuamente agenciada pelas relações e informações presentes, passadas e que ainda estão por vir, implicando uma enorme quantidade de possibilidades e referenciais que colaboram à construção de trajetórias processuais, imprevisíveis e transitórias.

No campo da física mecânica a trajetória é descrita pelo lugar geométrico dos pontos pelos quais a partícula passou ao longo do tempo. As trajetórias relativamente aleatórias, por exemplo, descritas pelo Movimento Browniano3

2 Obra de Trisha Brown realizada na fachada de um edifício de sete andares rua Wooster em

Manhattan.

, assumem movimento sem direção preferencial e perturbam a medida dos tempos do percurso. Ou seja, o estado futuro de um corpo só poderá ser conhecido pela experiência a ser realizada.

3 Há trajetórias relativamente aleatórias, uma delas é descrita pelo movimento Browniano, observado

pelo biólogo Robert Brown (1773-1858). O fenômeno foi observado em 1828 pelo movimento irregular em ziguezague de grãos de pólen suspensos em gotas de água.

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Neste sentido, podemos traçar correlações entre as trajetórias aleatórias e as trajetórias coreográficas, se pensarmos em sua característica processual no campo da dança contemporânea estas não serão estabelecidas por fins absolutos, mas sim por uma variedade de experiências que ainda estão por vir no ambiente.

Segundo a teoria do Corpomídia proposta pelas professoras Helena Katz4 e Christine Greiner5

A comunicação do corpo não acontece por uma série estática de representações pois nem tudo o que se comunica opera em torno de mensagens já codificadas. Há diferentes estados e nexos de sentido que modificam o corpo, em tempo real, por mudanças que ainda estão por vir, no ambiente, no sistema sensório motor e nervoso. Com esta idéia, é o movimento que faz do corpo um "corpomídia". (KATZ; GREINER, 2005, p.133)

(2005), o corpo é um processo co-evolutivo de cruzamentos de informações com o ambiente, a contaminação destas informações são negociadas pelo corpo com as já existentes nele, desta forma a organização do material coreográfico na dança irá depender das contínuas associações e conexões que o criador continuamente realiza no seu ambiente.

Segundo as autoras, a experiência sensório-motora e afetiva de cada corpo é constantemente atualizada pelo ambiente e este conhecimento intervém na construção do corpo que dança e nas relações cênicas produzidas por este.

Algumas informações do mundo são selecionadas para se organizar na forma de corpo-processo sempre condicionado pelo entendimento de que o corpo não é um recipiente, mas sim aquilo que se apronta nesse processo co-evolutivo de trocas com o ambiente. (KATZ; GREINER, 2005, p.130)

Neste processo de agenciamento de informações pelas conexões e relações, construímos significados a partir de capacidades imaginativas e informações culturais e biológicas. Os constantes e invariáveis acordos que o corpo continuamente elabora possibilita um processo não linear e sem fins absolutos.

4 Helena Katz é doutora professora do Departamento de Linguagens do Corpo da PUC-SP e Crítica de

dança do Jornal O Estado de São Paulo.

5 Christine Greiner é doutora e pesquisadora/professora do Departamento de Linguagens do Corpo da

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Segundo o autor Mark Johnson6

Diante a esta constante elaboração de significados, podemos observar que tanto trajetórias espaciais transitórias, compreendidas por um sistema aberto, passíveis de constantes mudanças pelas novas informações do corpo, quanto trajetórias a priori determinadas são configurações e construções espaciais distintas elaboradas de acordo com o modo de composição abordado em cada obra.

(2007), os significados são preparados pelas interações do corpo com o ambiente onde são conectadas e relacionadas informações por meio da experiência. Os significados são construídos por processos relacionais e situados por um fluxo de experiência da qual um organismo biológico não existe sem ambiente e sua construção não acontece por uma mente sem corpo. Johnson afirma que os significados são construídos por experiências atuais e possíveis e aprontam um corpo provisório e integrativo entre corpo, mente e ambiente.

A professora Helena Bastos 7

[...] uma vez que se pretende trabalhar com o pensamento "dança:sistema", seu aprendizado se estabelece em diferentes níveis, em diferentes texturas, por outro lado, também um aprendizado em dança acontece de forma simultânea, se inter-relacionando nestas diferentes texturas. (BASTOS, 1999, p.34)

(1999) propõe dança como um sistema aberto, no qual distintos campos de conhecimento se interagem de forma simultânea no processo de expansão e complexidade do fazer artístico. "Dança se configura nas relações de um ambiente construído da sinestesia dos movimentos e no modo como articulamos processamos, relacionamos e criamos outros nexos dançando". Ou seja, as ações corporais em dança e o modo como estas se organizam vão depender de um conjunto de informações e capacidades imaginativas elaboradas pelo corpo em relação ao seu ambiente.

Ao traçar relações entre a organização espacial em dança associada à experiência cotidiana no contexto urbano são levantadas referências que podem ser correlacionadas ao processo de construção das composições espaciais cênicas. A

6 Mark Johnson é professor de Artes e Ciências do Departamento de Filosofia da Universidade de

Oregon.

7 Helena Bastos é coreógrafa, dançarina e professora/pesquisadora do Programa de Artes Cênicas da

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dinâmica na cidade de São Paulo, por exemplo, apresenta certas configurações espaciais que podem fornecer potentes estímulos para a composição coreográfica. Ou seja, a organização espacial associada à experiência cotidiana no contexto urbano traz referências que podem ser correlacionadas às dinâmicas de organização do espaço cênico.

Britto8 e Berenstein9 (2010) propõem o termo "Corpografia" para tratar da relação entre corpo e ambiente urbano. Segundo as autoras, a memória urbana no corpo e o registro de sua experiência na cidade formam uma única dinâmica, de forma mútua e simultânea. O corpo e a cidade não assumem instâncias independentes, não podem ser pensados de maneira separada, mas sim como um "fenótipo estendido"10

Correlacionando a dinâmica urbana composta pela relação entre corpo e a arquitetura ao processo de construção espacial cênica, observamos o corpo como um agente modificador do espaço e vice-versa. Em ambos os casos percebemos que as construções espaciais são ativas pela relação e participam da elaboração do movimento.

do corpo.

Lucrécia Ferrara (2002) designa o termo "design em espaço" para tratar do espaço não apenas como uma dimensão determinada pela arquitetura, mas também pelas marcas de apropriação dinamizadas e atualizadas pela coletividade. Segundo a autora, o espaço compartilhado se caracteriza pelo sentido de existência dos indivíduos cujos desejos e necessidades, ligados à subsistência cotidiana, inauguram os lugares da cidade, sem planos ou previsões.

Ao considerarmos que as trajetórias coreográficas são processadas por contínuas relações e constantes acordos entre corpo/espaço, o espaço cênico não se configura a priori, como um cenário a ser ocupado. Neste entendimento de composição, o espaço se processa no momento presente da dinâmica ou movimento que se realiza. Se a construção coreográfica estruturada por modos compositivos processuais elaborada

8 Fabiana Britto é professora/pesquisadora do Programa de Pós Graduação em Dança da

Universidade Federal da Bahia

9 Paola Berenstein Jacques é professora do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo

da Universidade Federal da Bahia.

10 Termo usado pelo biólogo contemporâneo Richard Dawkins como processo evolutivo das

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por um fluxo contínuo de um conjunto de informações agenciadas pelo corpo em tempo real, seus trajetos espaciais não podem ser previamente determinados.

"A partir do ato de dançar, a percepção do corpo em relação aos espaços que constrói se transforma, amplia entendimentos sobre outras possibilidades de relações do corpo com o espaço e vice-versa" (BASTOS, 2010, p.155).

As organizações espaciais, atualizadas constantemente pela presença física, pelo movimento, pela interação com o ambiente e pelos diferentes saberes que intervém nesse processo estruturam constantemente a cena. Se a todo momento processamos novas informações pela prática do fazer e pela relação com o ambiente, a construção coreográfica não se dará de forma determinada, mas sim de maneira aberta, promovendo novos acordos. A construção do movimento no presente da ação estará continuamente criando espaços e estes serão invariavelmente modificados pelas ações que o corpo organiza.

Segundo Helena Katz (2006), as tentativas de construir um desenho de espaço, um "design", envolve uma complexidade de organizações corporais que invariavelmente sofrerá alterações.

"Design é a organização das partes de um todo, de modo que os componentes produzam o que foi planejado. Só que esse arranjo é sempre improvável [...]. Cada arranjo não passa de uma entre uma quantidade enorme de possibilidades" (KATZ, 2006, p.198).

A construção espacial cênica processada pelas constantes elaborações do corpo em movimento sem um mapa a priori desenhado possibilita a construção de espaços imprevisíveis, ou seja, não configurados de antemão porque dependem das futuras relações e associações que farão parte deste processo de construção espacial elaborado pela relação entre corpo e espaço. As configurações espaciais processadas pelo movimento no presente da ação, correlacionadas às constantes e ininterruptas informações do ambiente, não compreendem um espaço determinado a priori, como um desenho planejado, mas sim uma construção espacial processada pelas invariáveis relações que acontecerão no momento de suas conexões.

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"A proposta aqui é pensar que, quando a dança acontece, ela toma uma forma que é o seu design, sem separação temporal entre instâncias. Não existe um corpo dançando que, então, vai desenhar no ar a sua dança" (KATZ, 2006, p.201).

Os modos de organização que irão estruturar o espaço na criação podem produzir novos entendimentos de trajetórias coreográficas. Se estes trajetos espaciais são estruturadas a partir de relações, podemos considerar que quando um corpo não está em deslocamento, ele também cria trajetos e relações espaciais que definem a sua dança. Por exemplo, um corpo que constrói toda sua movimentação em um só lugar modifica o espaço e constrói trajetos coreográficos tanto quanto aquele que o percorre ou atravessa.

Desta forma, podemos compreender por trajetórias coreográficas não apenas como um deslocamento do corpo de um ponto a outro, mas também o percurso do movimento no corpo que modifica e altera todo o espaço cênico.

Entretanto, não é apenas o espaço que é afetado pelas ações corporais, o próprio corpo também é constantemente alterado durante este processo.

"colaboramos para uma configuração no espaço em que o corpo torna-se um agente modificador de toda a nossa percepção neste espaço. Neste sentido, o espaço se modifica a cada ação deste corpo" (BASTOS, 2010, p.156).

O corpo alterado pela percepção do espaço e o espaço modificado pelo corpo que dança podem ser correlacionados à dinâmica experienciada cotidianamente na cidade, tanto no ambiente urbano como na construção espacial cênica o corpo e o espaço sofrem transformações mútuas e colaboram a uma organização espacial transitória. Na cidade observamos que as transformações ao longo dos tempos pelas necessidades e desejos humanos foram constituindo um espaço tecido pelas atividades de seus habitantes.

Os agenciamentos de informações que se estabelecem em fluxo relacional, feito de contínuos auto-desdobramentos e experiências que ainda estão por vir colaboram a uma construção coreográfica elaborada por trajetórias acentradas, instáveis e imprevisíveis, não configurada por formas previamente estabelecidas, mas sim por uma estrutura que se agencia no momento presente pela atenção e concentração das ações do corpo em relação aos espaços que constrói.

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Compreender as construções espaciais cênicas correlacionados à experiência urbana cotidiana possibilita expandir a compreensão de mundo em que estamos inseridos e questionar como o corpo organiza suas idéias na forma de dança nos dias de hoje. A compreensão de corpo como um processo co-evolutivo de trocas com o ambiente proposta por Katz e Greiner (2005), possibilita pensarmos esta relação em co-dependência e estruturar a dança por conexões entre diferentes saberes.

No caso de um "artista do corpo" que atua no universo da dança, a escolha de criar interações entre diferentes grades teóricas e suas novas tendências, colabora na expansão de um fazer artístico. Este "fazer" elege contaminações proporcionadas por novos entendimentos de mundo (BASTOS, 2003, p.16).

Abordar o conceito de trajetórias coreográficas no processo de composição relacionando corpo/ambiente por meio da experiência prática coloca em curso de reflexão um fazer estético vinculado ao modo de vida na sociedade.

O autor Andrew Hewitt (2005) propõe o termo "coreografia social" não apenas como metáfora para a modernidade mas também como uma organização de estrutura social. Segundo o autor, o processo de troca da estética da dança com a sociedade não é monodirecional, a dança não atua apenas como reflexo de sua sociedade mas também como agente formadora e transformadora desta, sendo capaz de produzir outras formas de resolução social, política e ideológica.

A dinâmica no ambiente urbano muitas vezes é exercitada por trajetos determinados por um ponto de partida e outro de chegada, por uma urgência de se chegar a algum lugar para alcançar logo o objetivo planejado. Este modo de se locomover na cidade pressupõe uma lógica de consumo e produção.

Segundo o autor Robert Dufour (2009), a velocidade presente na lógica do consumo produz um sujeito que vale o quanto produz. A lógica do consumo acabaria por não só consumir todos os recursos e indivíduos que estão a seu serviço, mas também por consumir-se a si próprio. Para o autor, este consumo presente no discurso capitalista acabaria por produzir um déficit das faculdades do pensamento. O “sujeito crítico”, termo utilizado pelo autor, mesmo inserido aos mecanismos de produção e compartilhando experiências comuns, reflete e analisa sua condição e pode engendrar novas formas de posicionamento.

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A experiência aliada ao conhecimento reflexivo pode possibilitar outras percepções do espaço na cidade, a outros conhecimentos e modos de experienciar os lugares no ambiente.

A construção espacial cênica processada por trajetórias lentas exploratórias, aleatórias, imprevisíveis e transitórias que se organizam pelas futuras informações e novos compartilhamentos de experiências e modificam a todo momento o corpo/espaço pela transformação dos acontecimentos, pode estar associada às surpresas percebidas quando experienciamos os lugares na cidade.

A reflexão sobre a noção de trajetórias coreográficas pressupõe na atualização de diferentes pensamentos e abordagens em relação ao assunto. Percebidas por modos compositivos, as organizações espaciais cênicas se processam por novos acordos e procedimentos que expandem as possibilidades de criação.

Os questionamentos de como um corpo elabora as construções espaciais cênicas aliados à reflexão acerca de trajetórias coreográficas pode promover novas formas de criação e composição na dança.

Referências

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