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FORRÓ: IDENTIDADE NORDESTINA

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Academic year: 2021

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FORRÓ: IDENTIDADE NORDESTINA

Sua dança tão criativa, cheia de requebros e de conchambranças traduz o estado de espírito alegre e participativo de sua gente, nas suas mais diversas manifestações e nos seus momentos mais festivos.

Como o frevo, “folia animada, improvisada e frenética, derivado do frevar” (IN AURÉLIO BUARQUE DE HOLANDA), nascido em meio à irreverência, à ousadia, à necessidade de afirmação popular de suas manifestações folclóricas, religiosas e musicais, ou do desejo de pura diversão das camadas mais humildes, enfrentando inclusive rígidos preconceitos e proibições policiais, todos eles oriundos da classe dominante, parece também, se originou daí, o que chamamos de forró. Antes, denominado de “baile reles, forrobodó, bate-coxas, rala-bucho, baile popular, bate-chinela, etc.”(IN CÂMARA CASCUDO).

“A música nordestina, a despeito de provir

de uma região de tragédia, sempre foi muito bem humo-rada”

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Na Zona da Mata nordestina, o forró se evidenciou nos terreiros das usinas, nas comemorações dos festejos juninos e nos fins de semana, durante o plantio e nos cortes da cana.

Já no sertão daquela mesma região, ele se manifestou nos bailes de pé-de-serra e, na maioria das vezes, em casas de família, para comemorar a chegada das chuvas e as boas colheitas.

E assim se expandiu, tanto pelas cidades do interior, quanto nas zonas do baixo meretrício, também no litoral, em arraiais improvisados, com os foles ou mesmo sanfonas, às vezes de oito baixos, o zabumba e o triângulo, fazendo o nordestino vadiar no bate-coxa até o dia clarear.

A partir de 1946, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira estilizaram o baião que, até então, era mais precisamente um gênero que se definia como ritmo e modo de dançar da gente nordestina. Essa mesma gente que, já àquela época, se espalhara e compunha uma grande parte da população do Rio de Janeiro e de São Paulo. Foram, sem dúvida, o disco, o rádio e o êxodo permanente - do que se convencionou como “pau de arara”- os maiores responsáveis pela proliferação dos forrós e arrasta-pés pelo Brasil afora.

O maestro Guio de Morais, nos versos da música “Pau de Arara”, composta em parceria com

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Luiz Gonzaga e gravada em disco RCA Victor de 12.05.1952, demonstra bem o que afirmamos:

“Quando eu vim do Sertão, seu moço Do meu Bodocó

A malota era um saco E o cadeado era um nó

Só trazia a coragem e a cara Viajando num pau de arara Eu penei,

Mas aqui cheguei. (Bis) Trouxe um triângulo No matulão, Trouxe um gonguê No matulão Trouxe um zabumba Dentro do matulão Xote, maracatu e baião Tudo isso eu trouxe No meu matulão”.

Dessa forma, na discografia brasileira, tornaram-se abundantes os balanceios, pagodes, miudinhos, chamegos, rojão, saracoteco, samba/forró, xote, baião. Tudo passou a fazer parte do contexto da música de forró ou para forró.

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Em 1949, a dupla Luiz Gonzaga e Zé Dantas, lançou em disco RCA Victor, 80.06.68, o baião intitulado “Forró de Mané Vito”, onde se percebem as características do forró, do seu ambiente e de seus freqüentadores:

“Seu delegado

Digo a Vossa Senhoria Eu sou fio d’uma famia Qui num gosta de fuá Mas, trasantonte No forró de Mané Vito Tive que fazê bonito A razão vô lhe explicá. Quincola no ganzá Preá no reco-reco

Na sanfona Zé Marreco Se danaro pra tocá Daqui pr’ali, pra’lá Dançava cum Rosinha Quando Zeca de Soninha Me proíbe de dançá. Seu delegado

Sem increnca eu num brigo Se ninguém buli comigo Num sô home pra brigá. Mas nessa festa

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Seu doutô perdi a carma, Tive que pegá nas arma Pois num gosto de apanhá. Pra Zeca se assombrá Mandei pará o fole

Mas o cabra não é mole Quis partir pra me pegá Puxei do meu punhá Soprei no candieiro Botei tudo pro terreiro Fiz o samba se acabá”.

Essa foi a primeira gravação em disco, cujo título evidenciava a palavra forró como local de dança. Da mesma forma que, no corpo da letra, podemos sentir que a palavra samba é utilizada indicando esta mesma intenção.

Na década de 50, afirmava-se que “o baião urbano não parece ter sido considerado superior à música tradicional dos sanfoneiros sertanejos, indispensável nas reuniões do povo e que alegrava os forrós de pé-de-serra. E, talvez por isso mesmo, longe de levar à sua extinção, contribuiu para reavivar o gosto do povo pelo seu cancioneiro”.

No final dos anos 50 e, mais intensamente na década de 60, essa modalidade musical foi relegada pelos meios de comunicação que se

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voltaram para a Bossa Nova, o Rock, o Twist, o Yê, yê, yê e para todo o movimento da Jovem Guarda.

Luiz Gonzaga, entretanto, juntamente com outros nordestinos, mantiveram sempre acesa essa chama, trabalhando “in loco”, visitando forrós e se apresentando sobre caminhões em praças públicas e em comícios, provocando do crítico de MPB, Tarik de Souza, a seguinte frase: “Luiz Gonzaga deu definitiva cidadania nacional aos ritmos do Sertão”.

Pelas bandas desse imenso Nordeste, precisamente no Recife, em Pernambuco, uma fábrica de discos, a Rozenblit, foi a grande responsável pelo resgate e divulgação da música, do folclore, da manutenção da tradição festiva do Nordeste e do nordestino.

Embora precariamente, a princípio, esse agrupamento de nordestinos já dispersados por quase todo o Brasil, que se reuniam visando o folguedo e o lazer, tomou vulto durante a construção de Brasília, quando, de forma mais ampla, se espalharam por todo o Planalto Central e periferia.

Na década de 70, com o advento dos festivais universitários, essa música foi fonte constante de inspiração e, ao lado dos antigos valores, surgiram outros, de camadas sociais mais privilegiadas, provocando a aceitação também, pela juventude, dessas ricas fontes musicais do Nordeste. E, aos forrós de

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Mané Vito, de Limoeiro, de Caruaru, de Campina Grande, de Piancó, juntaram, então, muitos outros; alguns mais “Chics”, mantendo, no entanto, o “Cheiro do Povo”, com a boa inspiração dos poetas de ontem, como Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Abdias, Marinês, Rui de Morais, Rosil Cavalcanti, Zé Dantas, Gurdurinha, Zé do Norte, Luiz Queiroga, Ari Lobo, Zito Borborema, Genival Macedo, Genival Lacerda, Miguel Lima, Luiz Vieira, Humberto Teixeira, Rosil Cavalcanti, Jacinto Silva, só para citar alguns e dos de hoje, entrincheirados com novos fuzis: órgãos, guitarras e metais, resistindo, defendendo-se, não deixando “a peteca cair”, e assistindo “a paia avoar” e “o poeirão levantar”. Entre eles estão Alcimar Monteiro, Dominguinhos, Elba Ramalho, Nando Cordel, Jorge de Altinho, Cecéu , o saudoso Zé Marcolino, Fagner, Carlos Fernando, Maciel Melo Petrúcio Amoim, Santa, Anchieta Dali e muitos outros.

A indústria discográfica brasileira e a mídia eletrônica, misturaram gêneros, motivos de dança e de folclore, o xote, o xaxado, o baião e, até o forró virou ritmo em algumas gravações.

Certa feita, Onildo Almeida afirmou ter o forró conquistado a classe média e desbancado o pagode e o axé. Em importante depoimento foi Luiz Gonzaga quem disse: “o forró, diferentemente dos diversos gêneros musicais brasileiros, tem data, hora e

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local do seu nascimento, assim como o nome dos pais, certos e sabidos. O parto começou às quatro e meia de uma tarde de agosto de 1945, na Avenida Calógeras, no escritório do advogado Humberto Teixeira, no Centro do Rio de Janeiro, antiga Capital Federal. O trabalho de parto só findou lá para meia-noite, quando vieram ao mundo Asa Branca e Baião”.

Em meados da década de 90 surgiram algumas bandas formadas por universitários de São Paulo e do Rio de Janeiro, destacando-se, entre elas, Falamansa e Forrósacana, arrastando multidões para shows em famosas casas noturnas, a exemplo da KVA e Paulistana. Muitos desses jovens deixaram a vida universitária para viver de música, o que provocou, por parte da imprensa brasileira, o seguinte comentário: “O forró ganhou, finalmente, diploma universitário”.

Hoje, ele não é apenas local, ambiente ou estilo de divertimento. Em sua carteira de identidade, o forró é o Nordeste alegre e festivo. E, essa identidade é válida em todo o território nacional.

Renato Phaelante da Câmara Radialista, ator e pesquisador da Fundaj.

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Bibliografia consultada:

1. ENCICLOPÉDIA DA MÚSICA BRASILEIRA ERUDITA,

RICA, POPULAR. São Paulo, Art Editora, 1977, 2 v. 2. FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO. Instituto de Documentação-

HIBRA - Divisão de Fonoteca.

3. SANTOS, Alcino et al. Discografia Brasileira 78 rpm. 1902 1964

Rio de Janeiro: FUNARTE, 1982, 5 v.

4. BRASIL Musical. Rio de Janeiro: Editora art Berau, 1988. 304 p.

5. TINHORÃO, José Ramos. Música Popular:os sons que vêm da rua. Sol:

Referências

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