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1. A Língua Como Instrumento de Comunicação e Poder: A Importância da padronização da escrita da língua

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Academic year: 2021

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YAATHE: O ENSINO BILINGUE COM A PROBLEMÁTICA DE UMA ESCRITA PADRÃO

Yracoama Cruz da Silva1 Introdução

No começo dos tempos a instituição escolar entre grupos indígenas serviu de instrumento de imposição de valores e negação de identidade e cultura diferenciadas, mas com a educação indígena no Brasil pode-se assegurar o acesso a conhecimentos gerais sem precisar negar as especificidades culturais e identidade de determinado grupos. Hoje, a constituição federal assegura as comunidades indígenas uma educação diferenciada, com a utilização de suas línguas maternas no processo de ensino aprendizagem e a utilização de um calendário próprio de acordo com sua cultura e as necessidades de cada povo. Como diz no artigo 210, paragrafo 2º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988:

“O ensino fundamental regular será ministrado em língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas também a utilização de suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem.”

No entanto, as línguas indígenas ainda continuam prestes a extinção, muitas tribos hoje sofrem com a suas percas culturais. Com isso a necessidade de preservação das línguas por meio da escrita, por serem línguas de tradições orais passada de pai pra filho, fica ainda mais fácil desaparecerem com todo o acesso ao mundo globalizado, fazendo com que o desenvolvimento intelectual desse povo se difunda. Diante de todas as evidencias acima citadas constituiu-se a relevância deste trabalho, pois a língua Yaathe da tribo Fulni-ô, existente no município de Águas Belas PE, vem resistindo até os dias de hoje, por ter na sua aldeia escolas que procuram ensinar a língua na forma escrita. Mas encontram dificuldades para esse ensino, pois como se pode ensinar a escrita sem uma padronização? Por conta desse questionamento tornam-se necessários estudos que ajudem nessa padronização, observando que os linguistas interessados no estudo dessa língua milenar, utilizaram em suas pesquisas maneiras diferentes de se escrever, contudo busca-se uma melhora significativa da didática nas escolas, contribuindo, então para sua preservação.

Esse trabalho também visou atender as necessidades do educador para com o educando, confeccionando seu próprio material didático como cartilhas e apostilha, fazendo com que seus alunos aprendam entendendo seus direitos e deveres. E como a construção de uma língua indígena escrita é tarefa social, a sistematização da língua escrita Yaathe Fulni-ô é um meio de fortalecimento cultural assegurando assim sua própria identidade.

1. A Língua Como Instrumento de Comunicação e Poder: A Importância da padronização da escrita da língua

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Índia Fulni-ô, Águas Belas – PE, estudante do curso de Letras pela Universidade Estadual de Pernambuco (UPE).

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Existe hoje no Brasil cerca de 220 povos indígenas, o número de línguas indígenas ainda faladas é pouco menor, cerca de 180, dos mais de vinte desses povos agora falam só o português, alguns passaram a falar a língua de um povo vizinho, e com isso vão perdendo totalmente a sua identidade cultural juntamente com a sua língua.

A linguagem verbal possibilita ao homem representar sua realidade física e social e, desde o momento em que é apresentada, conserva um vínculo muito estreito como pensamento. Possibilita não só a apresentação e a regulação do pensamento e da ação, próprios e alheios, mas também, comunicar ideias, pensamentos e intenções de diversas naturezas e, desse modo, influencia o outro e estabelece relações de interpessoais anteriormente inexistentes. Produzir linguagem significa produzir discursos, significa dizer alguma coisa para alguém que as escolhas feitas ao dizer, ao produzir um discurso, não são aleatórias, ainda que possam ser inconsciente, mas decorrentes das condições em que esse discurso é realizado.

Todos os componentes de uma língua – seu sistema de sons, seu sistema morfológico e sintático e seu vocabulário, assim como suas estratégias de construção do discurso – mudam no curso do tempo, em consequência social do povo que fala e a influencia de outras línguas com que ela entra em contato em determinadas circunstâncias.

As Línguas indígenas eram faladas por todos aqueles que habitavam o Brasil, o tupi foi falado por os portugueses x nativos, a língua indígena tupi oficialmente nacional do Brasil, quando os portugueses falavam as duas línguas absorvendo através da convivência, ainda assim não houve seu reconhecimento, onde os europeus utilizam as riquezas das línguas indígenas.

As línguas indígenas brasileiras se transformam em um acervo de riquezas para o Português, pois por ser instrumento de comunicação deixam heranças nas falas, pela sua e contato. Para os povos indígenas, a importância da língua falada é de grande valor, marcando sua identidade, é também uma forma de fortalecimento cultural, para os indígenas é o fator principal da existência de um povo que cultiva e respeita sua língua, seu tronco linguístico, sua família e o seu grupo ou etnia.

A língua é uma fonte real de diálogo, de escrita e, é um fator principal que é necessário para se ter uma comunicação adequada, como também uma forma de solucionar qualquer mal entendido, seja na fala ou na escrita, a linguagem que é utilizada é de total importância para uma compreensão do que é falado e escrito.

É interessante ressaltar que a linguagem e a escrita estão atreladas, caminham sempre juntas, as mesmas são práticas complementares, fortemente relacionadas, que se modificam mutuamente no processo de letramento, a escrita transforma a fala (a constituição da “fala letrada”) e a fala influência a escrita (o aparecimento de traços da oralidade nos textos escritos). São práticas que permitem ao aluno seu conhecimento sobre os diferentes gêneros, sobre os procedimentos mais adequados para lê-los e escrevê-los e sobre as circunstâncias de uso da escrita.

2. Formação histórica do povo Fulni-ô

A tribo Fulni-ô é constituída da união de cinco grupos, que no tempo da colonização habitavam o interior do estado de Pernambuco em regiões vizinhas entre si, que eram as margens do rio Ipanema, Serra dos Cavalos, Buíque e Vassouras, hoje conhecida como Cacimba Cercada. Ligadas ao mesmo linguajar e crenças religiosas os Carnijós, Fôla, Floklassa, Tapuia e Brobadás formaram os clãs familiares que originou a organização dos Fulni-ô dentro dos seus rituais sagrados.

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Hoje, os índios Fulni-ô habitam a microrregião do vale do Ipanema, no agreste de Pernambuco, no município de Águas Belas, a cerca de 320 km da capital do Recife e 87 km da cidade de Garanhuns. O município apresenta uma população de 35374 habitantes em uma área total de 886 km2 (CONDEPE, 1981; CONDEPE/FIDEM, 2006). O Território indígena possui uma área de aproximadamente 11500 ha e dista 500 metros do seu centro geográfico representado pela cidade de Águas Belas (CONDEPE, 1981; Sá, 2002). Atualmente a comunidade Fulni-ô é composta por 3665 pessoas na aldeia sede, 137 pessoas na aldeia Xixiakhlá e 517 pessoas desaldeiadas que moram na cidade de Águas Belas, em sítios ou na Serra do Comunati (Pólo-Base da FUNASA, 2007). Além dessas localidades, existe uma reserva especial para os Fulni-ô, chamada de “Ouricuri” (definição que foi dada devido a importância da palmeira de nome vernacular “Ouricuri”, que têm grande valor cultural/ medicinal para os Fulni-ô: “Na

palha eu nasci, na palha eu vivo, construo minhas casas e do coco me alimento e ainda uso como remédio”). Esta reserva segue-se anualmente, iniciando no período de

setembro a dezembro, onde todos os Fulni-ô se deslocam para esta localidade, vivendo e vivenciando seus costumes e tradições, onde não é permitido a entrada de demais índios (com exceção aos Kariri-Xoxós) ou não-índios sem autorização. Este acontecimento faz com que se perpetue os costumes e tradições originalmente dos Fulni-ô, entre elas se faz primordialmente o uso constante da língua Yaathe, que é através dela que esses conhecimentos são repassados de pai para filho.

Com a diversidade de línguas e culturas existentes no Brasil, no interior do estado de Pernambuco, tem o exemplo do tronco linguístico Macro-jê, do qual pertence à língua YAATHE (nossa língua, nossa boca, nossa fala) falada pelos Fulni-ô, que segundo estudos anteriores, não existe nenhum trabalho de comparação linguística ou documentos históricos que possam atestar a origem da língua. Porém, ela foi classificada pelo professor Aryon Rodrigues, em 1986, como pertencente ao tronco macro-jê, mas sem relação de família, o que significa que a língua é isolada, pois não há outra do tronco com a qual possa ser agrupada. O Yaathe é considerado irmão do macro-jê. Dentre os onze povos indígenas do estado, que são Pankararú, Xucurú, Truka, Fulni-ô, Kambiwá, Kapinawa, Atikun, Pankaiuká, Pankará, Tuxa e Pipipã, o Fulni-ô é o único povo que ainda possui sua língua materna, os tornando um povo bilíngue falante do Yaathe e Português. A preservação da língua confere a eles grande singularidade e viabilidade entre as demais etnias do nordeste, representando um marco muito forte de resistência desse grupo.

Segundo alguns estudiosos a denominação FULNI-Ô tem dois significados etimológicos. O primeiro atribuído por Boudin (1949,32), o qual seria aqueles que „tem um topete de cabelo sobre a cabeça (FU=vertex, LI=cabelo, NI KA (NÊ KA)=ter, onde o adjetivo clássico, FU-LI-NI-HO que deu: FULNI-Ô).‟ Um segundo significado hoje em dia amplamente aceito, inclusive confirmado pela auto definição dos próprios Fulni-ô que é de serem moradores da beira do rio Ipanema (FULI= rio, ENIHO= que têm, YO-Ô= nós), onde surgiu FULNIHO ou FULNI-Ô.

3. Educação Indígena

A educação escolar indígena foi imposta aos povos indígenas como um instrumento de integração, desrespeitando as formas de educar, as maneira de ser e de pensar das comunidades. O próprio Estatuto do índio, de 1973, dizia que: “a educação do índio será orientada para a integração na comunhão nacional...” sem levar em conta suas especificidades.

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Com a constituição brasileira de 1988 muda toda essa história quando reconhece os povos indígenas suas formas de organização e o direito as formas diferenciadas de ser e de viver. Assegurando-lhes, “... O direito de permanecerem índios, isto é, de permanecerem eles mesmos, com suas línguas, culturas e tradições”. O direito a uma educação diferenciada, que respeite os processos próprios de aprender e ensinar de cada comunidade e que valorize seus conhecimentos, tradições, línguas, crenças, está garantindo nos artigos 231 e 210 – parágrafo 2 da Constituição brasileira de 1988. Por isso, está nas mãos de cada comunidade a possibilidade de fazer suas escolas um lugar onde a cultura indígena é quem dá as regras. A educação escolar não pode esta mais voltada para a integração dos povos indígenas. Ela deve ser instrumento de valorização e fortalecimento das culturas indígenas. E as escolas indígenas vão sendo aos poucos transformadas pela ação das próprias comunidades. Passam a ser ferramentas de luta a defesa de seus direitos e são pensadas de maneira diferenciada em cada aldeia.

As comunidades indígenas têm o direito de elaborar os calendários, os regimentos e tudo o que diz respeito à vida escolar. A palavra final é da comunidade. Mas é preciso pensar em ir mais adiante, mudando não só as escolas nas aldeias, mas também os modos de tratamento e de organização do Estado a estas escolas.

E não é apenas elaborando currículos diferenciados, contratando professores indígenas que as escolas vão estar a serviço dos interesses indígenas. É preciso mudar toda a estrutura e toda a forma de organizar a educação indígena.

4. As escolas indígena Fulni-ô

Na aldeia campo de estudo, existe três escolas em potencial: A Escola Indígena Ambrósio Pereira Júnior, localizada no Xixiaklá, zona rural, que oferece o ensino do Yaathe fora da aldeia; Escola Indígena Marechal Rondon, localizada na aldeia sede as quais lecionam de 1ª à 8ª séries do ensino Fundamental, Educação de Jovens e Adultos (EJA) e agora Telessala e Normal Médio, e a Escola Indígena Bilíngue Antônio José Moreira (Fẽẽkhèt‟de Sekeinise Tuni-Xise), a qual faz um trabalho de preservação e incentiva ao aluno escrever e falar o Yaathe praticam atividades de contos, dança e artesanato, além de estudar a sua história de luta e resistência.

O calendário é traçado na comunidade Fulni-ô de acordo com os meses de retiro do Ouricuri, ou seja, as aulas pausam de setembro a dezembro, retornando de janeiro em diante período de férias das escolas tradicionais, mas nem todos os índios Fulni-ô estudam nas escolas indígenas, alguns alunos frequentam as publicas e particulares da cidade, pois ainda a política dentro da aldeia é grande, e contratam professores que não são formados, diminuindo o rendimento nas escolas.

O bilinguismo é trabalhado de acordo com a didática de cada professor e série ou faixa etária destinada, através de textos, frases, palavras tanto orais como escritas. O acervo de livros da língua indígena Fulni-ô é limitado, o que dificulta, por não existir um sistema de escrita e uma palavra às vezes é escrita de diferentes formas, o educador procura passar isso para os alunos usando a forma mais usada na comunidade.

Então o registro dessa língua é fundamental, assim como sua história, a medicina tradicional, cânticos/ danças e sua arte, devendo-se utilizar os meios possíveis para ajudar na preservação e na manutenção dessa língua, e a escola é a fonte principal.

O bilinguismo é trabalhado de acordo com a didática de cada professor e série ou faixa etária destinada, através de textos, frases, palavras tanto orais como escritas, e , como já foi enunciada, O acervo de livros da língua indígena Fulni-ô é limitado, o que dificulta, por não existir um sistema de escrita e uma palavra às vezes é escrita de

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diferentes formas, o educador procura passar isso para os alunos usando a forma mais usada na comunidade. Até quando isso vai acontecer?

Em primeiro lugar, precisa-se haver a união das escolas indígenas, para se realizar uma pesquisa de resgate, onde seriam entrevistados os anciões da aldeia, para a retomada de palavras que já estão em desuso e também colher a pronuncia correta das palavras que se encontram em contradição para só então registra-las. Assim os estudiosos e professores interessados na pesquisa entrariam em um consenso de qual forma de escrita mais se assemelha a forma dita pelos anciões. Só assim será possível a confecção de materiais didáticos para a melhoria das aulas de Yaathe e os alunos ficarão mais convictos tanto da escrita quanto da pronuncia das palavras em Yaathe.

A habilidade de ouvir é quem desenvolve a habilidade de falar. Isso é muito parecido com a população dos índios Fulni-ô. Quando os filhos ouvem os pais falar aprende com o sotaque mais forte. Enquanto na escola é feito treino de voz constantemente das palavras para que as mesmas sejam pronunciadas com mais clareza. Porém tem que dominar bem a pronúncia, possuir o sotaque indígena, cantar quando falar e explorar seu vocabulário sempre que necessário.

Certamente quem não fala o Yaathe, ao tentar aprender terá dificuldades em alguns desses itens: o primeiro passo poderia ser o mesmo que lhe ensinar a primeira língua; estimular a falar a partir do que ouve.

Outro ponto bastante importante é o do treino que exercita a língua; pois certas pronúncias no primeiro momento da impressão de que não será dita por aqueles que não têm a mínima noção da língua.

Pois a capacidade é a qualidade nata do ser humano, mesmo que alguns sejam mais lentos e outros mais avançados.

Inicia-se a falar através de um trabalho feito em cima da fonética e fonologia: Treinar as sílabas em Yaathe; Apresentar os fonemas em Yaathe; Demonstrar o que usa do aparelho fonético e Ter o autocontrole da respiração.

O Yaathe por ser uma língua de expressão bem “arrastada e pesada”, aparenta explorar insuportavelmente o fôlego dos pulmões, mas não é bem assim, há limites também para isso, já na música, o Yaathe pode ser bem explorado e de maneira mais fácil, executando todas as funções acima descritas.

Para ensinar a falar o Yaathe tem que dominar bem, sem mudança, pois a principal característica do Yaathe é “expressar o som exato das palavras”. Como exemplo podemos citar as palavras: SEYTO= pássaro; SEETHO= avô e SEETO= olho. Já que se trata de resgate, é necessário um especialista nativo que fale e explique bem o Yaathe, caso contrário não seria uma busca e sim uma nova língua. O trabalho da língua está centrado na consciência do domínio da fala do falante nativo praticante.

Enquanto a escrita da língua indígena é necessidade prioritária do índio, pois é um marco fortalecedor e enriquecedor da sua cultura, a língua portuguesa também o é, mas não contribui para a continuidade dos conhecimentos tradicionais, sendo uma forma de enriquecer o conhecimento do mundo de forma geral, já o Yaathe, língua nativa dos Fulni-ô e originalmente brasileira, assim como as outras línguas indígenas, trabalha a preservação de suas raízes que é a Cultura Fulni-ô.

A escrita é capaz de ajudar até mesmo o não falante a ler na língua, e isso é importante. Pois no povo Fulni-ô existe variações no sentido linguístico o que no popular diz-se “uma salada”. Uns falam bem o Yaathe e não domina o português, outros leem o que está escrito, mais não o compreende.

A língua escrita Yaathe está sendo um motivo de preocupação dentro da comunidade, pois os pais ainda não acreditam na importância da escrita Yaathe, em que ela pode contribuir na vida social e cultural do seu filho.

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Para tanto, a Escola Indígena Bilíngue Antônio José Moreira, vem se preocupando constantemente para o envolvimento contínuo dos pais, fazendo um trabalho junto com os pais e os educandos para um envolvimento mais preciso dentro do aprender da escrita Yaathe e a importância da mesma no meio em que vive.

Assim como a língua oral depende da habilidade de ouvir, de certo é preciso da atenção do receptor para depois emitir o que foi dito.

No cântico indígena, é preciso a interpretação e a manifestação da música para aprender, e de repente se “aprende”.

As canções do índio nem sempre é cantada com letras e estribilhos, mas em si carrega outro método de linguagem exclusivo da etnia.

Segundo os indígenas, conseguem entender a tradição do que é cantado sem o auxílio da língua verbal, pois está atrelado a sua religiosidade.

A língua já exigia a melodia, além do sotaque na pronúncia, e sempre isso será um desafio para os aprendizes da língua. Suas manifestações culturais incluem a dança e a música. As danças dos Fulni-ô são inspiradas em vários animais e aves, sendo o toré a mais tradicional. Existem também a cafurna, uma dança cultural resultante da influência de outros grupos e uma conhecida como coco de roda, dançada com estilo próprio e que tem origem na cultura dos negros. As músicas das danças são cantadas em português e Yaathe. E usam como instrumentos musicais, o maracá, o toré e a flauta.

Os cânticos são as animações do povo Fulni-ô é através dos mesmo que se realizam os festejos na comunidade. Hoje há grupos de cafurnas (dança típica indígena), Composição de música no Yaathe, e etc.

Com a literatura não muito diferente, além de tornar as aulas de Yaathe mais dinâmicas essa relação com literatura, também explora a criatividade e a sensibilidade dos alunos fazendo-os produzir e praticar a escrita. Como o exemplo de alguns professores que utilizam suas produções poéticas nas suas aulas. Os cânticos indígenas são fatores de muita importância para os índios, é a partir do cântico que o aprender se torna mais espontâneo, deixando-os livres e mais abertos para o desenvolvimento da aprendizagem da língua.

5. Pressupostos metodológicos

Para compreender o ensino bilíngue com a problemática de uma escrita padrão, na aldeia indígena Fulni-ô em Águas Belas – PE foi desenvolvida uma pesquisa bibliográfica, e posteriormente qualitativa entre os membros da comunidade indígena, obtido através de conversas informais, entrevistas e depoimentos, onde foram utilizados três tipos de informantes: I Os professores da escola campo de estudo; II os alunos destes professores e III a população Fulni-ô.

As pessoas entrevistadas da população foram divididas por faixa etária, onde com os membros da comunidade utilizou-se um questionário feito oralmente, já na escola campo de estudo utilizou-se um questionário escrito com todos os professores, mas para os alunos foram escolhidos apenas as salas com faixa etária entre 12 e 20 anos, também pra eles foi aplicado um questionário escrito. Foram levantados dados históricos, de conhecimento cultural e a relevância do Yaathe para a comunidade indígena como um todo e a necessidade da obtenção de uma escrita padronizada para a preservação da língua. Dentre as experiências vivenciadas na escola selecionada utilizou-se as seguintes atividades para a obtenção dos resultados da pesquisa:

Realização de entrevista;

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Reuniões com o corpo docente e discente da escola em prol da escrita padronizada da língua Yaathe;

Observações das aulas em Yaathe;

Proposta de atividade didática - pedagógica para serem trabalhadas;

6. Análise e discussões dos dados da pesquisa

Visando uma maior compreensão da educação indígena, dentro e fora da escola como prioridade dos Fulni-ô; analisando o papel do educador nesse processo, relatar-se-á uma experiência vivenciada na Escola Bilíngue, onde a educação acontece para crianças, adolescentes, adultos e os pais da comunidade.

Na referida escola é vivenciada uma prática pedagógica que visa o aperfeiçoamento da língua Yaathe através da integração de todo corpo docente e discente da escola, para permanecer e manter viva a cultura Fulni-ô. O estabelecimento escolar, como um todo, tenta vivenciar essa prática pedagógica no decorrer do processo ensino-aprendizagem na busca de aperfeiçoar seus conhecimentos teóricos práticos na luta pela preservação e valorização dos seus direitos e deveres na sociedade, onde juntos, educandos e educadores, aprendem a ser, sendo, fazendo, vivendo, e trazendo seu cotidiano para a sala de aula, onde é visível a preocupação de assegurar a sua língua como um meio de sobrevivência cultural religiosa. O trabalho é feito em conjunto, uma vez que os conhecimentos são coletivamente, construídos, havendo paciência e respeito ao ritmo de aprendizagem individual de cada aluno.

A partir da análise das práticas pedagógicas dos professores indígenas das salas “A” e “B”, cujos alunos têm a mesma faixa etária, foi visto que cada aluno é avaliado dia-a-dia, através de relatórios, perguntas orais e escritas, verificando o que cada aluno conseguiu aprender. Na escola não há notas, os alunos que conseguem avançar mais rápido, passa para uma aprendizagem mais complexa.

Percebe-se que os depoimentos variam de pessoa para pessoa, por tanto cada um tem a sua maneira de interpreta um acontecimento; quanto à diminuição dos falantes do Yaathe, hoje o número de falante do Yaathe está aumentando, observa-se que em toda comunidade os indígenas tem a consciência da importância que a língua tem para cada um, os jovens estão cada vez mais motivados com a preservação da língua, constatado também com a observação minuciosa das aulas, depoimentos, debates e entrevistas.

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Dificuldade de ensinar o Yaathe

Foram detectados os seguintes obstáculo: 1. Material didático insatisfatório; 2. Elaboração de aulas interpretativa;

3. Elaboração de um material didático que sirvam de suporte para execução das aulas;

4. Falta de uma escrita padrão para o Yaathe. Atitudes que contribuíram para a manutenção do Yaathe

1. Mais interesse em registrar uma escrita padronizada para o Yaathe. 2. Maior número de professores bilíngues.

2. Recursos didáticos que disponibilizarem em aulas mais lúdicas. Entrevista com os alunos

Foram apontadas as principais dificuldade: 1. Pronuncia e grafia do Yaathe;

2. Interpretação de um texto falado em Yaathe, para ser escrito; Entrevista com a população

A pesquisa constatou que os membros da aldeia compreendem o tributo a diminuição de sua língua materna, tendo em vista a sua realidade, na medida em que se procura a solução. E percebeu-se que acreditam na padronização da escrita da língua como uma das soluções possíveis para a melhora do ensino e a preservação da mesma.

A comunidade possibilitou ao trabalho um registro com maior veracidade, onde todos se sentiram a vontade para falar sua opinião referente a uma padronização da língua Yaathe e o coletivo de interesse étnico, todo esse processo histórico que sofreram os Fulni-ô. Proporcionando resultado minucioso da expressão de palavras proferida a respeito desse povo; comprovando de maneira eficaz na pesquisa apresentada, foram observados: 1. Variação linguística; Concordam 70% Discordam 20% Não Opinaram 10%

Opinião das Pessoas Entrevistadas Sobre a

Padronização da Escrita Yaathe

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2. Interpretação da língua (quando necessária, pois existem no Yaathe palavras com a mesma grafia porem se pronunciam de maneira diferente e a sua acentuação varia de oxítona e paroxítona, no entanto não segue uma regra, mais na escrita a casos de exceção.);

3. Preocupação com a preservação do Yaathe. Observações das aulas em Yaathe

Verificou-se que o modo operacional, tradicional e dinâmico no direcionamento das aulas, necessita de recursos para serem utilizados quando o docente está lecionando precisa de muito mais que um quadro – negro, giz, para serem utilizados pelos educadores. Uma grande dificuldade foi encontrada para desenvolver aulas mais atrativas, bem como a falta de materiais escritos e tudo o que auxiliem na elaboração das aulas.

Nas turmas observadas percebe-se um nível médio a regular de conhecimentos estabelecidos pelas atividades avaliativas promovidas pelo professor oralmente, apresentando interesse bom e comportamento adequado a situação do seu cotidiano vivenciado.

Com objetivos claros, os planejamentos da ênfase a atividades significativas para quem às vivenciam, tentando entender as necessidades de aprendizagem dos alunos envolvidos, visando um aprender prazeroso, histórico, voltado para a conscientização dos valores sociocultural do seu próprio povo.

Considerações finais

O acompanhamento e as observações do processo ensino aprendizagem na Escola Indígena Bilíngue, deparam-se com a importância do papel do educador indígena, quando são colocados em suas mãos seres que necessitam de uma aprendizagem voltada aos seus princípios históricos e culturais que precisam compreender a sistematização da linguagem oral e escrita Yaathe, podendo assim transformar os seus conhecimentos para serem compreendidos com mais respeito.

A partir do primeiro contato com a escola indígena, há uma transformação muito grande na vida desses alunos. A riqueza de possibilidades que a convivência traz ao dia-a-dia, origina assim um crescimento de todos, onde não pode e nem deve ser medido nesta pesquisa, pois é imensurável.

Os alunos da escola são vistos agora, com outros olhos, iniciando este processo a partir das famílias indígenas, que muitas vezes, diziam aos seus filhos que a aprendizagem adquirida na escola não era importante, desestimulando-o até de freqüentar diariamente a mesma. Hoje, com o trabalho feito na instituição escolar já há uma integração entre família-escola indígena, descobrindo e redescobrindo a sua importância na comunidade.

O direito a uma educação diferenciada que busca, na vivência, a fonte do crescimento individual e coletivo, na vivência, a fonte do crescimento individual e coletivo, onde se respeita e se é respeitado, tendo como ponto de partida a preservação da língua escrita Yaathe Fulni-ô, com o propósito de cada vez mais ultrapassar os seus limites, começando a valorizar e cultivar os valores étnicos e culturais do seu povo.

Os respaldos são na busca de uma aprendizagem no Yaathe, na representação da escrita Yaathe mais presente na vida estudantil indígena. A educação indígena, seguindo esta perspectiva acredita no processo de crescimento do saber de todos

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envolvidos, para que o educador indígena torne-se sensível e sensibilizado com o desenvolvimento dos educandos, percebendo que os alunos com sua história: falando Yaathe, escrevendo Yaathe, ou seja, conhecendo sua história, a importância da língua, fortalecendo sua identidade Fulni-ô e que o fazer coletivo viabiliza a riqueza que o social permite, produzindo teoria e respeitando sua própria cultura mantendo-o, viva no meio em que vive.

O desafio político-pedagógico é visto como uma prática que acontece no cotidiano planeja-se, transforma-se e requer que seja pensado enquanto se realiza. Os alunos são agentes de processo, incorporando sua linguagem, uma postura de vida um caminhar que retrata em aprendizado preciso, dando oportunidade para uma leitura de mundo e seu estar nele, respeitando as diferenças e conquistando o seu espaço na sociedade branca.

Com a análise do desenvolvimento do trabalho feito, percebe-se uma preocupação com a construção do conhecimento e da aprendizagem dos alunos. Pois os pais não incentivam os seus filhos para uma participação mais frequente na escola, não valorizam os ensinamentos que são valiosos, e que futuramente pode ocorrer danos graves. A partir dessa preocupação a Escola Bilíngue busca meios de incentivos para os alunos e pais da comunidade mostrando os dois olhares da vida, a vida indígena e a vida com o envolvimento do não índio. A vida indígena depende de uma interpretação, respeito com sua própria cultura, aperfeiçoar os conhecimentos étnicos, preservar a língua como um forte marco de resistência histórica. E o envolvimento com o branco que é preciso; pois o índio tem a necessidade de estudar na escola do branco para ter uma formação com diplomas, dominar a língua portuguesa, tornando-o necessário saber a língua para compreender as normas do mercado de consumo, as relações de trabalho, as regras de escoamento de produção e negociação de forma geral, diminuindo, dessa maneira, o desequilíbrio que se verifica nossas situações pelo pouco domínio da língua oficial.

A partir da integração de ambas as partes o trabalho flui, os índios ficam inseridos também na sociedade branca respeitando os direitos de todos. Sem deixar esquecida sua cultura, suas crenças, tradições seus rituais etc., tornando-o mais fácil compreender o mundo que são seres diferentes com uma cultura diferente, mas com o mesmo direito enquanto cidadão brasileiro.

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