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O PROJECTO TOTALITÁRIO DO PAIGC/PAICV A «DEMOCRACIA» NACIONAL REVOLUCIONÁRIA JOSÉ TOMAZ WAHNON C. VEIGA

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JOSÉ TOMAZ WAHNON

DE CARVALHO VEIGA

é natural da cidade da Praia, onde

nasceu em Maio de 1951 e fez os estudos

primários e secundários. Licenciou-se

em Gestão de Empresas pelo Instituto

Superior de Economia (actualmente

ISEG) da Universidade Técnica de Lisboa,

e é titular de um Mestrado em

Administração de Negócios (MBA) pela

Universidade Politécnica de Madrid.

Foi técnico superior do Banco de Cabo

Verde (1982-1984), Director Financeiro,

Director Comercial da Shell Cabo Verde

(1984-1991) e Director da Região Sul da

mesma empresa (1998-2000). Foi

membro do Governo, como Secretário de

Estado de Finanças (1977-1979), Ministro

das Finanças e Plano (1991-1993), Ministro

da Coordenação Económica (1994) e

Ministro dos Negócios Estrangeiros

(1995).

mons tração de que o regime de partido único instituído pelo PAIGC/CV em Cabo Verde nos anos 1975-1990, foi um regime totalitário, em que um grupo de pessoas se arrogou o direito ao monopólio da actividade política no país, excluindo todos os outros, e que desta opção política fundamental resultou um regime de «liberdade mortificada», em que a ideologia do PAIGC/CV foi metamorfoseada em verdade absoluta e elevada à categoria de ideologia oficial do Estado, imposta à sociedade cabo-verdiana através de uma comunicação social estatizada e transformada na voz do dono, pela via do sistema educativo e de outros meios mais subtis.

Um regime em que não havia liberdade de expressão, nem liberdade de manifestação, nem tão pouco direito à greve; um regime que estatizou a economia e relegou o sector privado para uma margem estreita da actividade económica, não por qualquer ne ces -sidade real mas por opção ideológica; um regime que usou a tortura em momentos críticos reveladores da sua natureza repressiva, e que identificava conspiração em qualquer manifestação de dissensão ou contestação; um regime de impunidade e de poder discricionário, em que as instituições pretensamente representativas mais não eram do que simples encenações para mascarar a sua natureza ditatorial.

Em suma, foi um regime em que todo o poder estava concentrado nas mãos dos principais dirigentes do partido único, que procurou, nalguns casos com grande sucesso, noutros com menos, penetrar e dominar todas as esferas da vida social, ou seja, um regime totalitário, à medida do país.

Nacional Revolucionária, é a autoproclamação e o exercício do poder pelo PAIGC/CV, como força di ri -gente da sociedade e do Estado. Praticamente toda a sua acção nas esferas política, social, económica e cultural, decorre deste pressuposto básico, cen -tral, definidor da visão política do PAIGC/CV. A partir do momento em que um partido se au to pro clama «Força Dirigente da sociedade e do Es -tado» (note-se: da sociedade e do Estado!) não pode partilhar o poder, não aceita ser questionado, não permite a palavra aos que dele discordam, não admite que os que se lhe opõem se organizem em partidos ou em qualquer organização de natureza política, usa todos os meios coercivos para impedir a expressão da dissidência e a contestação, controla ou tenta controlar todas as facetas da vida social.

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O P R O J E C TO T O TA LI T Á R IO D O P A IG C /P A IC V - C A B O V E R D E 1 9 75 -1 9 9 0

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O PROJECTO TOTALITÁRIO

DO PAIGC/PAICV

CABO VERDE 1975-1990

ISBN: 978-989-8894-53-3

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DEMOCRACIA

»

NACIONAL

REVOLUCIONÁRIA

O PROJECTO TOTALITÁRIO DO PAIGC/PAICV

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FICHA TÉCNICA:

Edição: LPC - Livraria Pedro Cardoso Sede Fazenda Praia, Cabo Verde Telefone:(+238) 260 15 07 / 08 / 09 livrariapedrocardoso@gmail.com

Título: A «DEMOCRACIA» NACIONAL REVOLUCIONÁRIA O Projecto totalitário do PAIGC/PAICV, Cabo Verde 1975-1990 Autor: José Tomaz Wahnon C. Veiga

Design e paginação: Inês Ramos [inesramos.designer@gmail.com] © do autor. Direitos desta edição reservados à Livraria Pedro Cardoso 1.ª edição: Março de 2021

Reimpressão: Maio de 2021

Impressão e acabamento: ARTIPOL – Artes Tipográficas, Lda. ISBN: 978-989-8894-53-3

Depósito Legal: 480330/21 Tiragem: 250 exemplares

É expressamente proibido reproduzir, no todo ou em parte, sob qualquer forma ou meio, nomeadamente fotocópia, esta obra. As transgressões serão passíveis das pena -lizações previstas na legislação em vigor.

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DEMOCRACIA

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NACIONAL

REVOLUCIONÁRIA

O PROJECTO TOTALITÁRIO DO PAIGC/PAICV

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Aos meus quatro amores: Manuela Melina Melanie Tomás Em memória de Maria Helena Lopes da Silva Euclides Joaquim de Aguiar Fontes

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AgrAdecimentos

os meus primeiros agradecimentos vão para mário silva, cuja in -sistência ao longo de vários anos acabou por vencer a minha resistên-cia a escrever.

o meu querido amigo mário Barbosa encorajoume com conse -lhos muito úteis que procurei seguir.

Agradecimentos, também, para a Livraria Pedro cardoso, que cui -dou da edição deste ensaio, com o esmero e o profissionalismo que lhe são, justamente, reconhecidos.

os meus maiores agradecimentos vão para daniel santos e Ar min -do Ferreira, que visitaram demoradamente o manuscrito inicial e me convenceram, com a sua crítica impiedosa, a rever alguns pontos de vista e opiniões que perfilhava quando iniciei a escrita. Ambos podem queixar-se de que, teimosamente, insisti em manter alguns trechos dis-pensáveis.

Um agradecimento muito especial à minha esposa manuela, mi -nhas filhas melina e melanie, meu neto tomás, pela infinita paciência perante os meus assomos de mau humor e desassossego, sempre que, ao reler e rever escritos desses tempos idos, a minha mente recriou o ambiente sufocante prevalecente no passado de ditadura.

É desnecessário reafirmar que as opiniões manifestadas no texto, e os erros que possivelmente contém, são da minha exclusiva responsa -bilidade.

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Nota sobre a ortografia: na redacção deste texto, o autor não seguiu o Acordo Or -to gráfico de 1990.

Nota sobre siglas: o autor utiliza a sigla PAIGC/CV para se referir indistinta-mente ao Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV). Esta opção resulta da as sump ção do legado histórico do PAIGC pelos criadores do PAICV, após o golpe de Estado de Nino Vieira na Guiné Bissau em 14 de Novembro de 1980. Em certos casos, o autor utili za as siglas próprias PAIGC ou PAICV para evitar imprecisões, no mea da mente quando o autor se refere aos congressos desses partidos, ou em cir cuns tâncias em que a utilização da sigla PAIGC/CV pode induzir em erro ou cau -sar alguma dificuldade de enquadramento.

Preferi também mencionar apenas as iniciais de algumas pessoas citadas no livro, nomeadamente no caso das expropriações, e nos exemplos de in ter co municabilidade entre os aparatos administrativos do PAIGC/PAICV e do Estado.

Nota sobre sublinhados: o autor utiliza o itálico, e tamanho de letra inferior para as citações. Os sublinhados a negrito são do autor destas linhas, quando não cons -tam do original, e são referidos como tal.

Nota sobre as fontes: as principais fontes utilizadas são documentos oficiais do PAIGC/CV, incluindo resoluções e documentos aprovados em congressos, de cla ra ções de dirigentes e artigos oficiais em jornais e revistas desse partido, revistas e docu mentos de informação interna e externa, boletins oficiais, jornal oficial do Go ver -no (Voz di Povo), e actas das sessões do Conselho de Ministros.

Consultei a bibliografia apresentada no fim do livro.

As notas de rodapé de cada página indicam as fontes com o detalhe possível, de mo -do a facilitar a consulta pelos interessa-dos.

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PrimeirA PArte

Prólogo e introdução

«Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o presente controla o passado.»

george orwel

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PróLogo

decidi escrever estas linhas depois de ter lido a descrição da his tó ria recente de cabo Verde, apresentada no Manual de História e Geo -grafia de Cabo Verde do 6.º ano de escolaridade1.

Pareceu-me uma autêntica adulteração da história recente do país, incluindo mensagens deturpadas, para não dizer falsas (exemplo: na página 40, afirma-se que a luta armada na guiné durou duas décadas), que o meu neto, e outros jovens como ele, tiveram de assimilar.

o relato apresentado é, pura e simplesmente, a versão do partido que detinha o monopólio do poder político nos anos 1975-1990, o PAigc/cV, transcrita para um manual escolar oficial, dirigido a pré--ado lescentes.

não se afigura razoável que se esteja a condicionar préadolescen -tes de 11/12 anos com contos de fada sobre o nosso passado recente, escondendo cuidadosamente tudo o que de altamente negativo esse passado também encerra, nomeadamente a natureza ditatorial do re gi me de partido único implantado em cabo Verde no pósin de pen -dência.

o passado é o passado, não deve ser falsificado, nem reescrito em função das conveniências.

Ao descrever o que se passou no país nessa época, devemos cingirnos aos factos, neste caso, a existência e a natureza repressiva e ma ni -puladora do regime totalitário, seja qual for a designação que os seus defensores de então, e de agora, lhe queiram atribuir. de outro modo, estaremos a lançar uma cortina de fumo sobre a realidade do que acon teceu no país nesse período, a contribuir para falsificar a história re -cen te de cabo Verde, a desinformar e a tentar manipular a mente de pré-adolescentes de 11/12 anos, como, aliás, foi prática do PAigc/cV durante os 15 anos da sua ditadura unipartidária.

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1) ministério da educação, História e Geografia de Cabo Verde, 6º ano, caderno ex pe -ri mental. Praia: 2018, pp. 35-48.

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Pretendo contribuir, com este ensaio, para ajudar a dissipar, de algum modo, a imensa e espessa neblina que foi lançada sobre a reali -dade dos primeiros 15 anos de independência. esta é a minha princi-pal motivação para escrever sobre o regime do PAigc/PAicV no cabo Verde de 1975 a 1990.

espero que outros se venham a interessar e se debrucem, com ver-dade, sobre esse período, que tanto marcou a nossa história de país independente.

os manuais escolares de cabo Verde e os defensores actuais do regime de então, eufemisticamente, designam o período 1975-1990 como sendo o de «construção do estado». o que se omite, é a natu -re za do estado e do -regime que se «construiu»; um -regime totalitário que manietou e amordaçou os caboverdianos, impôslhes a sua ideo logia como verdade absoluta e inquestionável, um regime que supri -miu a liberdade e procurou aprisionar a mente dos cabo-verdianos.

o PAigc/cV não conseguiu realizar os seus desígnios mais pro-fundos, consubstanciados no que chamava «a criação do homem novo de personalidade desenvolvida», mas foi extremamente bem-sucedido no aprisionamento da nossa memória colectiva. os que não viveram os tempos «áureos» do regime de partido único, dificilmente virão a conhecer a verdade do que se passou nessa época, depois da intensa lavagem ao cérebro realizada, paradoxalmente, nos anos que se se gui -ram à instauração da democracia em 1991.

contrariamente à maior parte dos países do leste europeu, que fize ram o reconhecimento do seu passado de tirania comunista, o regime democrático cabo-verdiano fez o contrário. num certo senti-do, e sob diferentes formas, vem-se assistindo a uma apologia do regime totalitário do PAigc/cV. e quando não se faz essa apologia, envolve-se esse período numa aura romântica, em que «todo o povo estava engajado nas tarefas da reconstrução nacional». e essa ficção perdura até aos dias de hoje, mistificando os mais jovens e outros menos jovens.

o meu propósito ao escrever estas linhas é muito limitado e está fo calizado na demonstração de que o regime de partido único instituído pelo PAIGC/CV em Cabo Verde nos anos 19751990, foi um regime to

-ta litário, em que um grupo de pessoas se arrogou o direito ao monopólio

da actividade política no país, excluindo todos os outros, e que desta

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imposta à sociedade cabo-verdiana através de uma comunicação social estatizada e transformada na voz do dono, pela via do sistema educa-tivo e de outros meios mais subtis.

Um regime em que não havia liberdade de expressão, nem liber-dade de manifestação, nem tão pouco direito à greve; um regime que estatizou a economia e relegou o sector privado para uma margem estreita da actividade económica, não por qualquer necessidade real mas por opção ideológica; um regime que usou a tortura em momen-tos críticos reveladores da sua natureza repressiva, e que identificava conspiração em qualquer manifestação de dissensão ou contestação; um regime de impunidade e de poder discricionário, em que as insti-tuições pretensamente representativas mais não eram do que simples encenações para mascarar a sua natureza ditatorial.

em suma, foi um regime em que todo o poder estava concentrado nas mãos dos principais dirigentes do partido único que procurou, nalguns casos com grande sucesso, noutros com menos, penetrar e dominar todas as esferas da vida social, ou seja, um regime totalitário, à medida do país.

não pretendo transmitir uma visão desastrosa desse período da nossa história. muita coisa positiva foi feita pelos governos de então, em áreas como a saúde e educação, segurança social, igualdade da mu -lher e protecção da criança, por exemplo. e nessas áreas, os governos de então diferenciaram-se, pela positiva, de outros governos africanos da mesma matriz ideológica, no pós-independência.

Ainda assim, ocorreram, igualmente, situações de extrema gravi-dade na sociegravi-dade cabo-verdiana, com reflexos que ainda hoje são evi-dentes, nomeadamente as que resultaram da imposição da ideologia totalitária.

o foco da minha atenção é, assim, repito, a lógica de concretização de um modelo de exercício do poder, em que o monopólio da actividade política legítima foi outorgado a um único partido, com ex clu -são de quaisquer outros, em que a ideologia desse partido se transfor-mou em ideologia oficial do estado, e as implicações que essa opção teve na forma de governar o país.

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É disso que trata o presente ensaio. não tenho competência, nem a pretensão de fazer a história desse período, o que deixo ao cuidado dos historiadores.

Uma nota pessoal. Fui militante do PAigc entre 1970 e 1979 e se -cre tário de estado das Finanças de Janeiro de 1977 a Fevereiro de 1979. Abandonei por iniciativa própria o PAigc em Fevereiro de 1979, por ter deixado de me identificar com esse partido e ter rompi-do com o rompi-dogma rompi-do partirompi-do único.

Pouco depois, em Abril do mesmo ano, depois de ter abandonado o partido, fui «expulso», alegadamente por «fraccionismo trotskista», «conspiração», «tentativa de tomar o poder no partido», entre outros epítetos; fui transformado, como outros dissidentes com quem tinha afinidades pessoais e políticas, em «inimigo do povo» e, como tal, co -locado no pelourinho da vendetta popular. seguiram-se tempos difí-ceis, bem descritos por euclides Fontes no seu livro póstumo “Uma História Inacabada”2 e por Humberto cardoso na sua obra seminal

“O Partido Único em Cabo Verde, Um Assalto à Esperança”3.

esses tempos difíceis não deixaram quaisquer marcas na minha pessoa. Ficou apenas o amargo de boca de ter também contribuído, de al -gu ma forma, para a implantação do regime totalitário em cabo Verde no pós-independência, enquanto estive associado ao PAigc. Assumo o meu passado político por inteiro.

conheço alguma coisa do que se passou no país nessa altura, tendo estado envolvido em actividades partidárias clandestinas em Lisboa, nos meus tempos de estudante universitário, e em cabo Verde a par-tir de setembro de 1973. Pude constatar directamente a muito fraca presença organizacional do PAigc em cabo Verde antes do golpe militar de Abril de 1974 em Portugal. estive também ligado à implan-tação das estruturas partidárias na ilha de santiago durante os meses que se seguiram ao 25 de Abril.

À semelhança de muitos estudantes da minha geração que pas-saram pelas universidades europeias, fui influenciado pelas diversas

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2) euclides Fontes, Uma História Inacabada, Praia: Livraria Pedro cardoso, 2018. 3) Humberto cardoso, O Partido Único em Cabo Verde, Um Assalto à Esperança, 1.ª ed. Praia: incV, 1993.

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dências (infelizmente, na mesma altura, deixei de ler ficção e outros ensaios não políticos, um hábito que tinha adquirido desde muito jovem por influência do meu pai), e o que estava disponível sobre a colonização e as lutas de libertação, e admirei as principais figuras do movimento comunista internacional que era, talvez, o principal su -por te das lutas pela independência das colónias.

A intenção de mudar o mundo que animava muitos jovens desses tempos, encontrou na ideologia comunista, e nos seus mitos, a cer te -za de que era possível construir um mundo melhor. A defesa da igual-dade, a nobreza dos fins preconizados pela narrativa comunista, a pro messa de eliminação da exploração do homem pelo homem, que, pre tensamente, se propunha atingir, ressoaram na minha alma e atraí -ram-me profundamente. nunca imaginei, nessa época, que todos os que prometeram o céu na terra, acabariam por transformá-la num inferno para os seus milhões de vítimas.

Batalhei na leitura completa dos três volumes de O Capital, o principal livro de Karl marx, bem como todos os livros desse autor tra -duzidos na altura, e passei a ser admirador do grande economista, até aos dias de hoje. mas deixei, desde os primeiros meses de 1979, de admirar ou reconhecer o profeta falhado que havia em marx, e mais tarde rejeitei as suas teorias sobre o estado e o devir das sociedades, o materialismo dialéctico, o materialismo histórico, e a pretensão de conhecer as leis do desenvolvimento histórico das sociedades, teorias e concepções que, ao tempo, perfilhara convictamente.

Fui admirador de Lenin, mao Zedong, trotski e che guevara. Fui le ninista (li todos os livros de Lenine traduzidos na altura, e absorvi as suas teorias sobre a vanguarda do proletariado e o pretenso «de pe re ci men to» do estado), maoista (consegui até um exemplar do fa mo so li -vri nho vermelho de citações de mao, e a chamada revolução cul tural exer ceu grande influência sobre mim), trotskista (li a bio gra fia em três vo lumes que lhe dedicou o historiador isaac deustcher e tu do o que es tava disponível sobre essa figura trágica, e achava a sua teo ria da revo -lu ção permanente muito apelativa), e guevarista, cuja po se heroica de de safio ao imperialismo suscitava em mim uma empatia muito grande.

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JOSÉ TOMAZ WAHNON

DE CARVALHO VEIGA

é natural da cidade da Praia, onde

nasceu em Maio de 1951 e fez os estudos

primários e secundários. Licenciou-se

em Gestão de Empresas pelo Instituto

Superior de Economia (actualmente

ISEG) da Universidade Técnica de Lisboa,

e é titular de um Mestrado em

Administração de Negócios (MBA) pela

Universidade Politécnica de Madrid.

Foi técnico superior do Banco de Cabo

Verde (1982-1984), Director Financeiro,

Director Comercial da Shell Cabo Verde

(1984-1991) e Director da Região Sul da

mesma empresa (1998-2000). Foi

membro do Governo, como Secretário de

Estado de Finanças (1977-1979), Ministro

das Finanças e Plano (1991-1993), Ministro

da Coordenação Económica (1994) e

Ministro dos Negócios Estrangeiros

(1995).

O meu propósito ao escrever estas linhas é muito limitado e está focalizado na de -mons tração de que o regime de partido único instituído pelo PAIGC/CV em Cabo Verde nos anos 1975-1990, foi um regime totalitário, em que um grupo de pessoas se arrogou o direito ao monopólio da actividade política no país, excluindo todos os outros, e que desta opção política fundamental resultou um regime de «liberdade mortificada», em que a ideologia do PAIGC/CV foi metamorfoseada em verdade absoluta e elevada à categoria de ideologia oficial do Estado, imposta à sociedade cabo-verdiana através de uma comunicação social estatizada e transformada na voz do dono, pela via do sistema educativo e de outros meios mais subtis.

Um regime em que não havia liberdade de expressão, nem liberdade de manifestação, nem tão pouco direito à greve; um regime que estatizou a economia e relegou o sector privado para uma margem estreita da actividade económica, não por qualquer ne ces -sidade real mas por opção ideológica; um regime que usou a tortura em momentos críticos reveladores da sua natureza repressiva, e que identificava conspiração em qualquer manifestação de dissensão ou contestação; um regime de impunidade e de poder discricionário, em que as instituições pretensamente representativas mais não eram do que simples encenações para mascarar a sua natureza ditatorial.

Em suma, foi um regime em que todo o poder estava concentrado nas mãos dos principais dirigentes do partido único, que procurou, nalguns casos com grande sucesso, noutros com menos, penetrar e dominar todas as esferas da vida social, ou seja, um regime totalitário, à medida do país.

O traço mais saliente do regime da «Democracia» Nacional Revolucionária, é a autoproclamação e o exercício do poder pelo PAIGC/CV, como força di ri -gente da sociedade e do Estado. Praticamente toda a sua acção nas esferas política, social, económica e cultural, decorre deste pressuposto básico, cen -tral, definidor da visão política do PAIGC/CV. A partir do momento em que um partido se au to pro clama «Força Dirigente da sociedade e do Es -tado» (note-se: da sociedade e do Estado!) não pode partilhar o poder, não aceita ser questionado, não permite a palavra aos que dele discordam, não admite que os que se lhe opõem se organizem em partidos ou em qualquer organização de natureza política, usa todos os meios coercivos para impedir a expressão da dissidência e a contestação, controla ou tenta controlar todas as facetas da vida social.

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DO PAIGC/PAICV

CABO VERDE 1975-1990

JOSÉ TOMAZ WAHNON C. VEIGA

ISBN: 978-989-8894-53-3

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