ITCD
O ITCD é imposto previsto na Constituição Federal como de competência dos Estados e Distrito Federal, nos termos do Artigo 155, I, CRFB. Possui como fato gerador a transmissão causa mortis de bens móveis e imóveis e as doações de bens móveis e imóveis. Vejamos:
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos.
Sobre o tema, o STJ já decidiu:
O fato gerador do imposto de transmissão (art. 35, I, do CTN) é a transferência da propriedade imobiliária, que somente se opera mediante o registro do negócio jurídico junto ao ofício competente. Nesse sentido, acerca do ITBI, já decidiu o STJ: REsp 771.781/SP, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJ 29/06/07; AgRg no AgRg no REsp 764.808/MG, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJ 12/04/07.
3. O recolhimento do ITCMD, via de regra, ocorre antes da realização do fato gerador, porquanto o prévio pagamento do imposto é, normalmente, exigido como condição para o registro da transmissão do domínio.
Assim, no presente caso, não é possível afirmar que o pagamento antecipado pelo contribuinte, ao tempo de seu recolhimento, foi indevido, porquanto realizado para satisfazer requisito indispensável para o cumprimento da promessa de doação declarada em acordo de separação judicial. RESP 1.236.816.
Quando ocorre o fato gerador do ITCMD?
O fato gerador do ITCMD especificamente no que diz respeito à doação será:
a) no tocante aos bens imóveis, a efetiva transcrição realizada no Registro de Imóveis (art. 1.245 do Código Civil); b) em relação aos bens móveis, ou direitos, a transmissão da titularidade, que caracteriza a doação, se dará mediante
tradição (art. 1.267 do CC). Em alguns casos, a lei exige
também o respectivo registro administrativo.
É o caso, por exemplo, da transferência de um veículo, que deve ser registrada no DETRAN.
Bem como é importante saber o teor das seguintes súmulas do STF:
Súmula 112-STF: O imposto de transmissão "causa mortis" é devido pela alíquota vigente ao tempo da abertura da
sucessão e
Súmula 331-STF: É legítima a incidência do imposto de transmissão "causa mortis" no inventário por morte presumida. O Sujeito Ativo do imposto é o Estado membro, conforme os seguintes critérios:
Bem imóvel: Tanto faz se a transmissão for doação ou causa
mortis; Estado onde localizado o bem imóvel (obrigatoriamente).
Bem móvel: Doação Estado de domicílio do doador;
Bem móvel: Transmissão causa mortis Estado onde é
processado o inventário ou arrolamento.
Vejamos a previsão constitucional sobre o tema, que é muito cobrada em provas de concursos públicos:
§ 1º O imposto previsto no inciso I:
I - relativamente a bens imóveis e respectivos direitos, compete ao Estado da situação do bem, ou ao Distrito Federal II - relativamente a bens móveis, títulos e créditos, compete ao Estado onde se processar o inventário ou arrolamento, ou tiver domicílio o doador, ou ao Distrito Federal;
III - terá competência para sua instituição regulada por lei complementar:
a) se o doador tiver domicilio ou residência no exterior;
b) se o de cujus possuía bens, era residente ou domiciliado ou teve o seu inventário processado no exterior;
O lançamento do ITCMD, via de regra, será efetuado por declaração. Caso não ocorra a declaração no prazo devido, o STJ fixou recentemente a seguinte tese1:
No caso do Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação – ITCMD, referente a doação não oportunamente declarada pelo contribuinte ao fisco estadual, a contagem do prazo decadencial tem início no primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado, observado o fato gerador, em conformidade com os arts. 144* e 173, I, ambos do CTN.
STJ. 1a Seção. REsp 1.841.798/MG, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 20/04/2021 (Recurso Repetitivo – Tema 1048) (Info 694).
Vale salientar que o mesmo parágrafo primeiro prevê que a alíquota máxima do ITCMD será de 8% e fixada pelo Senado Federal (Resolução n° 09/1992 do Senado). Cuidado! É a alíquota MÁXIMA!
Em relação ao tema, é importante verificarmos o julgado recente do STF sobre o tema:
É vedado aos estados e ao Distrito Federal instituir o ITCMD nas hipóteses referidas no art. 155, § 1º, III, da Constituição Federal sem a intervenção da lei complementar exigida pelo referido dispositivo constitucional.
STF. Plenário. RE 851108/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 27/2/2021 (Repercussão Geral – Tema 825) (Info 1007)
Para o Tribunal, a hipótese seria de Lei Complementar Nacional, notadamente em razão do elemento extraterritorialidade presente no caso, sendo necessário debate no Congresso Nacional.
A base de cálculo será o valor venal dos bens transmitidos ou doados. É importante também salientar que o ITCMD pode ser progressivo. Vejamos:
De acordo com o decidido no RE 562.045/RS, é possível estabelecer alíquotas progressivas para o imposto de transmissão, mesmo que ausente autorização expressa na CRFB.
Aplica-se o princípio da capacidade contributiva objetiva, que leva em consideração o valor da coisa, não pode ser utilizado critério de parentesco para aumentar a alíquota, tendo em vista que não é fator apto à auferir a capacidade contributiva.
Esse julgado foi alvo do meu TCC, então conheço ele por completo, não acho necessário que vocês leiam, salvo se estiverem se preparando para uma segunda fase ou prova oral.
Ainda relacionado ao tema, vejamos as lições do Professor Márcio André Lopes Cavalcanti:
Trata-se de imposto real. Imposto real
Ocorre quando há incidência sobre algum elemento econômico de maneira objetiva, não levando em consideração a situação pessoal do contribuinte. Em palavras simples, imposto real é aquele que incide objetivamente sobre uma coisa, sem levar em conta a pessoa do contribuinte.
É importante mencionar que a Resolução do Senado prevê, em seu artigo 2º, a possibilidade do ITCMD progressivo. Vejamos:
Art. 2º As alíquotas dos impostos, fixadas em lei estadual,
poderão ser progressivas em função do quinhão que cada herdeiro efetivamente receber, nos termos da Constituição
Federal.
Outro ponto importante sobre o ITCMD é que no arrolamento sumário o juízo não pode reconhecer causas sobre isenção. Vejamos o julgado do STJ sobre o tema, que já foi cobrado pela CESPE na prova da PGE-SE:
PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL
DO CPC. ARROLAMENTO SUMÁRIO POST MORTEM. RECONHECIMENTO JUDICIAL DA ISENÇÃO DO ITCMD. IMPOSSIBILIDADE. ARTIGO 179, DO CTN.
1. O juízo do inventário, na modalidade de arrolamento sumário, não detém competência para apreciar pedido de
reconhecimento da isenção do ITCMD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação de quaisquer Bens ou Direitos), à luz do disposto no caput do artigo 179, do CTN,
verbis:
"Art. 179. A isenção, quando não concedida em caráter geral, é efetivada, em cada caso, por despacho da autoridade administrativa, em requerimento com o qual o interessado faça prova do preenchimento das condições e do cumprimento dos requisitos previstos em lei ou contrato para concessão.
Temas Repetitivos: Tema 391
Ainda relacionado ao enredo, temos o seguinte julgado do STJ:
A homologação da partilha no procedimento do arrolamento sumário não pressupõe o atendimento das obrigações tributárias principais e tampouco acessórias relativas ao imposto sobre transmissão causa mortis.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.751.332-DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 25/09/2018 (Info 636).
Em relação ao prazo prescricional, é interessante sabermos o seguinte julgado do STJ. In verbis:
PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. INVENTÁRIO. ITCMD. TERMO A QUO DECADENCIAL PARA LANÇAMENTO DO TRIBUTO. HOMOLOGAÇÃO DO CÁLCULO.
1. Nos termos do art. 173 do CTN, somente no primeiro dia do exercício seguinte ao ano em que o lançamento poderia ter sido realizado é que começa a transcorrer o prazo decadencial de 5 anos para a constituição do crédito tributário.
2. No caso, tratando-se de inventário, compete ao juiz, depois de ouvida a Fazenda Pública, proceder ao cálculo do imposto de transmissão causa mortis, conforme dispõem os arts. 1.012 e 1.013 do CPC.
3. Consequentemente, enquanto não homologado o
cálculo do inventário, não há como efetuar a constituição
definitiva do tributo, porque incertos os valores
inventariados sobre o qual incidirá o percentual da exação, haja vista as possíveis modificações que os cálculos
sofrerão ante questões a serem dirimidas pelo magistrado, nos termos dos arts. 1.003 a 1.011 do CPC.
Outro julgado interessante que pode vir a ser cobrado em provas é sobre a repetição de indébito. Vejamos:
Se uma decisão judicial anula a promessa de doação de bem imóvel e o ITCMD desta futura doação já havia sido pago,
surge o direito à repetição do imposto recolhido a partir da data do trânsito em julgado da decisão anulatória.
STJ. 1ª Turma. REsp 1236816-DF, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 15/3/2012.
O prazo para pleitear a repetição de indébito será de cinco (5) anos, conforme previsão legal no CTN. In verbis:
Art. 168. O direito de pleitear a restituição extingue-se com o decurso do prazo de 5 (cinco) anos, contados:
II - na hipótese do inciso III do artigo 165, da data em que se tornar definitiva a decisão administrativa ou passar em
julgado a decisão judicial que tenha reformado, anulado,
revogado ou rescindido a decisão condenatória.
Art. 165. O sujeito passivo tem direito, independentemente de prévio protesto, à restituição total ou parcial do tributo, seja
qual for a modalidade do seu pagamento, ressalvado o disposto no § 4º do artigo 162, nos seguintes casos:
III - reforma, anulação, revogação ou rescisão de decisão condenatória.
No tocante à possibilidade de renúncia, deve ser observado o seguinte:
Renúncia translativa Gratuita (tranferência gratuita da
quota): incide dois ITCMD, um causa morte e outro na doação.
Renúncia translativa onerosa (o herdeiro transfere mediante
pagamento): incide ITCD e ITBI(se for bem imóvel).
Renúncia abdicativa (em favor do monte): não incide ITCMD
nem ITBI.
No tocante à atuação da Procuradoria Geral do Estado, o STF possui recente julgado sobre o tema. Vejamos:
As disposições legais sobre a forma de cobrança do Imposto sobre Transmissão “Causa Mortis” e Doação de quaisquer Bens ou Direitos (ITCMD) pela Procuradoria Geral do Estado e de sua intervenção em processos de inventário, arrolamento e outros de interesse da Fazenda Pública são regras de procedimento que não violam o Código de Processo Civil. Neste caso, são normas eminentemente procedimentais, autorizadas pelo art. 24 da CF/88, que prevê a competência concorrente da União e dos Estados.
A possibilidade de a Procuradoria-Geral do Estado intervir e ser ouvida nos inventários, arrolamentos e outros feitos em nada atrapalha o processo. STF. Plenário. ADI 4409/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 6/6/2018 (Info 905). Bons Estudos!
Equipe CTPGE
Fonte: Dizer o Direito, Impostos Estaduais.