Lei
laborai
Cortes informais
de
salários
marcaram
a
era
da
troika
As
alterações
ao Código
Laborai
que
as
empresas
mais
valorizam
PRIMEIRA
UNHA
MUDANÇAS
NA
LEGISLAÇÃO
LABORAL
Cortes
informais
marcam era
da
troika
A
Comissão
Europeia
e
o
FMI começaram
e
terminaram
o
programa
de
ajustamento
a
pedir mais
flexibilidade
salarial.
As
empresas perceberam
a
mensagem
e
quando a
lei não
foi tão
longe
avançaram
para acordos
ilegais.
Lei não permite corte naretribuição. Ossuplementos só podem serretirados se seeliminar a característica que osjustifica. Aretribuiição
CATARINA ALMEIDA PEREIRA catarinapereira@negocios.pt
Constantes
altera-ções alei laborai
do-minaram o debate público durante o programa de ajusta-mento. Mas quando se pergunta a
quem estuda eaquem fiscaliza alei laborai quais foram asmaiores sur-presas aolongo destes três anos de ajustamento, aconversa resvala para
amaior frequência de decisões ile-gais. Por uma questão de sobrevi-vência, depreservação de postos de trabalho ou de mera contenção de custos, empresas etrabalhadores
avançaram, com ou sem acordo, para soluções que porvezes estão à margem da lei.
"O trabalho não declarado à Se-gurança Social e àadministração fis-calexplodiu em 2013", indica Pedro Pimenta Braz, Inspector-Geral da Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT), em declarações ao Negócios. "Háacordos informais
ile-gais com trabalhadores para reduzir retribuições. Háempresas que usam
os salários em atraso como critério
de gestão pela negativa. Isto já exis-tia nas entidades mais débeis. A di-ferença éque agora émais frequen-teeestáaentrar nasempresas mais estruturadas", descreve o responsá-vel daentidade fiscalizadora, que en-frenta um "período dedificuldades" em termos de recursos humanos e
orçamentais.
Nalguns casos, as empresas
"convidaram ostrabalhadores a pas-sar atempo parcial, reduzindo pro-porcionalmente os salários, mas obrigam-nos atrabalhar 40horas", explica o responsável pela ACT. Noutros casos, "fizeram adendas aos
contratos explicando que por difi-culdades [financeiras] osalário base passa, por exemplo, de1.000 euros para 600euros", ilustra.
Pedro Furtado Martins, advoga-do especialista em legislação labo-ra],explica que uma das críticas que ouve com mais freq uência está rela-cionada com ofacto de alei conti-nuar atravar situações decorte na retribuição. Oque não impediu al-gumas empresas deoimplementar. "Fizeram-no suportando orisco ine-rente". Nas situações que refere, "havia de facto uma situação de
cri-se e os acordos evitaram
despedi-mentos celebrados com oacordo dos trabalhadores. Agora, é indesmen-tível queesses acordos para reduzir salários são ilegais", dizoadvogado. "Não me custa aacreditar", co-menta António Monteiro Fernan-des, que pensa alegislação laborai de uma perspectiva académica. "A lei está enfraquecida porque tem uma particularidade: funciona como um instrumento de comuni-cação. Asuacapacidade de influen-ciar arealidade depende do teor da
actuação dopoder político. Ea au-toridade política tem enfraqueci-do ossistemas de protecção por-que todas asmedidas legislativas apontam nesse sentido. Oque per-manece pode facilmente deixar de serlevado asério, queé oque está
aacontecer", sustenta oprofessor deDireito doTrabalho noISCTE.
"O grau deefectividade da lei diminuiu", concorda Rosário Pal-ma RaPal-malho, professora da Facul-dadedeDireito de Lisboa, referin-do que isso acontece quando alei "não ésuficientemente flexível". "Por isso équeacontratação colec-tiva deveria serdinamizada, oque
teria avantagem deenquadrar esse
tipo depráticas", conclui.
¦
ONegócios publica uma série onde avalia três anos de progra-ma de ajustamento e perspecti-vaopós-troika. Leia diariamen-te a análise aos temas que mar-caram este período.
A FIGURA
JOÃO PROENÇA Ex-secretário geral da UGT
"Se quer mesmo saber em que
pon-toestão as negociações fale com o
João Proença", ouvia-se ao
telefo-ne, no início de 2012. Aassinatura
do acordo tripartido, queincluiu as principais alterações ao Código do Trabalho, foi segundo olíderdaUGT
uma decisão "difícil" destinada a
travar "ameaças degrande desre-gulação laborai". Mas o entendi-mento ajudou aprojectar a imagem de um país emharmoniosa concer-tação social, pelo menos nos
A FRASE
Quando um país
enfrenta
um nível
elevado de
desemprego,
a medida
mais sensata que
se
pode
tomar
é
exactamente a
oposta.
PASSOS COELHOSobre oaumento do salário mínimo, 6/03/2013
u
Sempre
que
a lei não
é
suficientemente
flexível acaba
por
ser menos
efectiva,
porque
a
flexibilidade
é
atingida fora
da lei.
ROSÁRIO PALMA
RAMALHO
Especialista em Direito do TrabalhoA
lei
funciona
como
instrumento
de comunicação.
Ea
autoridade
política tem
enfraquecido
os
sistemas
de protecção.
O
que permanece
pode
facilmente
deixar
de ser
levado a sério.
éé
ANTÓNIO MONTEIRO
FERNANDES Especialista em Direito do TrabalhoDesemprego
e
segmentação
ficaram por
resolver
Reduzir orisco de desemprego de longa duração, diminuir a
segmen-tação domercado de trabalho e cor-tarcustos com salários. Destes três objectivos anunciados no memo-rando inicial, só oúltimo foi até ao momento plenamente conseguido. Entre 2010e2013 houve uma
que-bra de 6,2%nos custos salariais do sector privado em Portugal, que o
Eurostat regista como a segunda maior na União Europeia, apenas superada pela da Grécia.
Odesemprego de longa duração seria evitado através da redução do prazo deatribuição edo montante do subsídio dedesemprego. A alte-ração que entrou em vigor em 2012 reduziu os montantes apagar e di-minuiu aduração da prestação, mas estabeleceu um regime transitório
que protege quem, na altura, tinha direito aum prazo mais longo. Ape-sar disso, num contexto recessivo, o
número dedesempregados de lon-gaduração ultrapassou omeio mi-lhão no final de2012,segundo dados doINE.E mesmo com aredução no final nãoimpediu queoprograma de terminasse com uma subida global dodesemprego de40%.
A crítica à "segmentação" do mercado detrabalho éfeita pela
Co-missão Europeia hádécadas. A ex-pressão pretende sublinhar a dife-rença entre um grupo de trabalha-dores mais protegidos pela legisla-ção laborai (como os que estão no quadro) eos que estão mais expos-tos ao desemprego eabaixos salários (como quem tem recibos verdes ou contratos aprazo). Mas é aprópria
Comissão Europeia quereconhece, no relatório sobre a10a
avaliação, queosdados mais recentes não per-mitem identificar melhorias: "A aná-lise de novas contratações (ainda) não permite tirar conclusões sobre
oimpacto das reformas laborais na segmentação, particularmente ten-doem conta aextensão temporária da duração máxima dos contratos a
prazo, que de acordo com as
autori-dades envolve 16% dos trabalhado-rescom estes contratos". Emcausa está uma medida que não constava do memorando datroika eque
per-mitiu várias renovações
"extraordi-nárias" aos contratos aprazo,
alar-gando asuaduração.
Tipicamente, "os países quetêm um regime de cessação de contrato de trabalho mais favorável que o
nosso, mais fácil, têm menos seg-mentação". Osque têmum regime
mais difícil "têm mais segmentação porque oempregador recorre ao tra-balho atermo com cautela", consi-dera Rosário Palma Ramalho, pro-fessora deDireito do Trabalho.
"A verdade équeos que estão de fora dafortaleza são cadavezmais e
cada vezmais desesperados eosque
estão dentro dafortaleza estão aser
aospoucos expulsos dela", sustenta, porseu lado, Monteiro Fernandes.
¦
0
Governo
facilitou
despedimentos
e
alargou
contratos
a
prazo.
Reforma
laborai
só
ficou a
meio depois de passar pelo
TC
Amaioria das alterações à lei laborai previstas no memorando foram im-plementadas narevisão deAgosto de 2012. Mais de um ano depois, o acór-dão do TC sobre oassunto anulou algumas delas. Osjuizes consideraram inconstitucional a norma que deixava ao critério das empresas a defini-ção de qualquer critério para escolher quem despedem na extinção de posto de trabalho, oque levou ànova revisão da lei.As cláusulas que im-punham conteúdos sobre as convenções colectivas (a nível de horas ex-tra ou férias) também foram chumbadas, apesar deseter permitido asua suspensão temporária. Osjuizes viabilizaram o banco de horas individual ou oscortes das férias e nas horas extra estabelecidos nalei geral.