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Relatório de Tecnologias no Ensino Fundamental II | Fevereiro / 2017
Capítulo 2 → EDUCAÇÃO PARA NATIVOS DIGITAIS
EDUCAÇÃO PARA
NATIVOS DIGITAIS
Capítulo 2 → EDUCAÇÃO PARA NATIVOS DIGITAIS
Marc Prensky é conhecido como o criador do termo “nativos
digitais”. Segundo ele, são pessoas que nasceram a partir da década de 1990 e cresceram com as
tecnologias digitais à sua volta. Para os que nasceram no final do século XX e no início dos anos 2000, o convívio com o digital aconteceu ainda mais cedo e com mais intensidade. Matriculados atualmente no Ensino
Fundamental II, os adolescentes do século XXI acessam a internet, jogam videogames, escutam
música online e carregam celulares no bolso.
Esse cenário mudou
a maneira de pensar,
processar informação
e se relacionar com a
aprendizagem. Com isso,
é necessário refletir: a
tecnologia já está mesmo
acessível à maioria dos
jovens brasileiros? E como
eles se relacionam com ela?
Prensky afirma que um
ambiente totalmente
digital muda as estruturas
cerebrais das pessoas,
fazendo com que fiquem
muito mais adaptadas
e permeáveis às novas
tecnologias!
Capítulo 2 → EDUCAÇÃO PARA NATIVOS DIGITAIS
Relatório de Tecnologias no Ensino Fundamental II | Fevereiro / 2017 15
Fonte: Internet na Escola, Cenário Atual da Conectividade das Escolas (http://bit.ly/internet-na-escola) + Cetic.br, TIC Kids Online 2015 (http://bit.ly/tic-kids-online) + INEP, Censo Escolar 2015 (http://bit.ly/censoescolar15)
Uma pesquisa realizada em 2015 pela Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação) com crianças e
adolescentes entre 9 e 17 anos levantou o cenário do uso de tecnologia por
esses jovens. Ela apontou como a
maior parte dessa geração já tem a internet como uma realidade muito presente em seu cotidiano.
Por outro lado, os dados levantados pelo Censo Escolar/INEP 2015
apontam que ainda existe uma grande
barreira de acesso à conexão de boa qualidade nas escolas. Apenas 56%
das 112 mil instituições públicas de Ensino Fundamental têm acesso à
internet. Dessas, somente 49 mil (44%) possuem conexão banda larga.
“Em todas as frentes de atuação – escolas públicas urbanas e rurais – os
índices de velocidade das conexões à Internet (em média 2 Mpbs para
download em escolas urbanas e 512 Kbps nas rurais) não permitem, em
geral, o uso pedagógico satisfatório das tecnologias educacionais”
---Por que e como conectAr todAs As escolAs, do movimento internet nA escolA
PROPORÇÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
*USUÁRIOS DE INTERNET
56% 85% 71% 90% 88%
80
%23,7
5,9
3,4
MILHÕESusuários de internet no país
MILHÕESdesconectados
MILHÕESnunca acessaram a rede
são usuários de internet
Fonte: Internet na Escola, Cenário Atual da Conectividade das Escolas (http://bit.ly/internet-na-escola) + Cetic.br, TIC Educação 2015 (http://bit.ly/tic-educacao-15)
EXPERIÊNCIA
INSPIRAD RA
A MELHOR
INTERNET DA
CIDADE? É NA
ESCOLA!
A Campanha Internet na Escola defende que as escolas tenham internet de pelo menos 10 Mbps. Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann, que lidera a iniciativa junto ao Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio, afirma: “Não somente o aluno, mas também o professor ganha muito com a internet no ambiente escolar. Ganha na organização
do tempo em sala de aula, o que o possibilita atuar de maneira mais intensa como orientador na formação dos alunos e mediador do processo de aprendizagem”.
A expectativa é sensibilizar o governo federal para que assine um compromisso formal por internet rápida nas escolas públicas em todo o território nacional.
Segundo 81% dos diretores
de escolas públicas, a baixa
velocidade da internet
(inferior a 2Mbps em 41%
das escolas) restringe as
possibilidades de uso efetivo
da rede - TIC Educação 2015
Capítulo 2 → EDUCAÇÃO PARA NATIVOS DIGITAIS
Relatório de Tecnologias no Ensino Fundamental II | Fevereiro / 2017 17
Fonte: Roberto Esteban, A falácia dos nativos digitais (http://bit.ly/falacia-nativos-digitais) + Elson Silva e Raquel Moraes, O letramento digital em uma escola pública fundamental (http://bit.ly/pesquisa-letramento)
TER ACESSO
NÃO SIGNIFICA
TUDO
Usar a internet com fluidez não significa entendê-la criticamente, ser capaz de explorar todo o seu potencial, ter maturidade para lidar com o mundo digital ou saber filtrar e avaliar conteúdos acessados. Por isso, é preciso
trabalhar o letramento digital dos adolescentes.
A tecnologia na educação deve contribuir para o
desenvolvimento dos adolescentes como estudantes e como
cidadãos. A ideia de que eles são nativos digitais pode levar familiares e educadores a
negligenciarem o seu letramento digital. A consciência crítica
do recurso digital precisa ser trabalhada ativamente – tarefa que, no contexto da escola, é
desempenhada pelos professores.
O letramento digital é mais
do que o conhecimento
técnico relacionado ao uso
do computador. A linguagem
digital inclui a habilidade
para construir sentido a
partir de textos multimídias
e a capacidade para
localizar, filtrar e avaliar
criticamente informações
daquele material.
Capítulo 2 → EDUCAÇÃO PARA NATIVOS DIGITAIS
POR MAIS ACESSO E USO CRÍTICO
– TECNOLOGIA PARA A EQUIDADE DE GÊNERO
A era do aumento do acesso às tecnologias digitais é também um
período de crescimento do movimento feminista, com adesão
de muitas adolescentes às manifestações e iniciativas online e off-line pela equidade de gênero. Com relação à Tecnologia e Educação, isso se reflete em mais estímulo à participação das adolescentes em cursos, eventos, hobbies e profissões ligados ao universo digital e reconhecimento das meninas e mulheres que já estão envolvidas na área tecnológica. Além disso, surgem propostas de combate a uma visão estereotipada em que áreas como programação e engenharia eram vistas como masculinas.
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Relatório de Tecnologias no Ensino Fundamental II | Fevereiro / 2017 19
Fonte: Blog Mulheres na computação (http://bit.ly/m-na-computacao) e Technovation Brasil (http://bitl.y/technovationbrasil)
EXPERIÊNCIA
INSPIRAD RA
MULHERES NA
COMPUTAÇÃO
Camila Achutti, uma jovem cientista da computação, foi a única mulher entre 50
homens em suas aulas na Universidade de São Paulo. Movida pelo interesse
pessoal, ela descobriu que, na década de 1970, as mulheres representavam 70% dos estudantes no mesmo curso – e isso a intrigou: por que hoje há tão poucas na
tecnologia?”
Além de criar o blog Mulheres na
Computação para contar sua experiência, Camila tornou-se embaixadora da
Technovation Challenge, feira que desafia meninas de 10 a 18 anos a desenvolverem um aplicativo para celular e um plano de negócios com foco em resolver problemas das suas comunidades.
Durante 12 semanas, elas trabalham em times e recebem tutoria de uma mentora da indústria, que orienta o projeto
desde a identificação do problema ao
desenvolvimento, e oferece insights sobre a realidade de trabalhar na área de ciências da computação. As garotas que apresentam os melhores projetos regionais são selecionadas para concorrer a prêmios internacionais com outras meninas do mundo. A competição tem o apoio de grandes empresas, como Twitter, Facebook e Dropbox.
“As pessoas ainda não entendem
a necessidade de colocar essa
tecnologia a nosso favor. Por
que precisamos dela? Pois, no
geral, as pessoas não estão
acompanhando a tecnologia.
Vamos criar muitos analfabetos
digitais, principalmente as
meninas, se não mudarmos isso”
---cAmilA Achutti Capítulo 2 → EDUCAÇÃO PARA NATIVOS DIGITAIS
Capítulo 2 → EDUCAÇÃO PARA NATIVOS DIGITAIS
#GIRLTECHPOWER
Fonte: PrograMaria (bit.ly/dados-programaria), Girls Who Code (bit.ly/gwhocode) Iniciativa lançada em São Paulo, no ano de 2015, a PrograMaria empodera mulheres por meio de tecnologia e programação e possui três frentes de atuação: inspirar, debater e aprender. Ela produz reportagens e artigos, promove debates, workshops e cursos de introdução à programação para
mulheres.
Iniciativa de Reshma Saujani, advogada e ex-deputada pela cidade de Nova York, o Girs Who Code é uma organização nacional sem fins
lucrativos dedicada a encorajar meninas a entrar no mundo da tecnologia. Para isso, oferece formações extra-classe e cursos imersivos de verão – com salas de aula em empresas como o Facebook, Microsoft e AT&T – gratuitos para alunas inscritas na Educação Básica. Os programas são baseados em três pilares: irmandade, aprendizagem por projetos e parceria com empresas de tecnologia de referência.
GIRLS WHO CODE PROGRAMARIA
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Relatório de Tecnologias no Ensino Fundamental II | Fevereiro / 2017 21
Na escola, 74% das meninas
demonstram interesse nas áreas de
Ciência, Tecnologia, Engenharia
e Matemática, mas quando chega
a hora de escolher uma graduação,
apenas 0,4% dessas meninas
escolhem Ciência da Computação.
E isso não é uma realidade exclusiva desse curso: o PrograMaria fez um pedido via Lei de Acesso à Informação para o MEC/Inep e identificou que a representatividade feminina nos cursos relacionados à computação não só é baixa, mas tem caído ao longo dos anos.
Fonte: PrograMaria (http://bit.ly/programaria-acesso)
PRESENÇA DE MULHERES NOS
CURSOS DE COMPUTAÇÃO
*58MIL
matrículas nos cursos da área de computação *Valores aproximados
Em 1993
30MIL
mulheres matriculadas315MIL
matrículas nos cursos da área de computação
Em 2013
48MIL
mulheres matriculadasREPRESENTATIVIDADE
37,3
% mulheres matriculadasEm 1993
62,7
% homens matriculados15,5
% mulheres matriculadas84,5
% homens matriculadosEm 2013
Capítulo 2 → EDUCAÇÃO PARA NATIVOS DIGITAIS
AS
POSSIBILI-DADES VIA
CELULAR:
PARA MUITO
ALÉM DA SALA
DE INFORMÁTICA
Como a conexão nas escolas ainda deixa a desejar e apenas 51% das ins-tituições de ensino públicas de Ensi-no Fundamental possuem laboratório de informática, esses jovens buscam alternativas para o uso da internet e o celular se torna um grande aliado para a inclusão da tecnologia na educação. Aceitar o uso dessa tecnologia com função pedagógica pode criar um cli-ma de consideração e respeito e confi-gurar novas propostas de aula. Além disso, pode desencadear um movimen-to em cadeia: quanmovimen-to maior a
deman-da por tecnologia na escola, mais energia a equipe irá despender para consegui-la, mais rápido a Secretaria terá que se articular para garanti-la.
Bring Your Own Device
(BYOD) – em tradução
livre: “Traga seu próprio
dispositivo”: tendência
que encoraja estudantes
e professores a levar seus
equipamentos para as aulas.
Neste contexto, os celulares
ganham destaque, já que
61% dos jovens entre 12 e
17 anos possuem um
aparelho próprio.
Capítulo 2 → EDUCAÇÃO PARA NATIVOS DIGITAIS 23
AS
POSSIBILI-DADES VIA
CELULAR:
PARA MUITO
ALÉM DA SALA
DE INFORMÁTICA
O celular é um dos dispositivos mais próximos da geração atual. Em muitas cidades do interior do país, é possível ver jovens sentados do lado de fora dos tele-centros usando seus celulares em vez dos computadores daquele espaço público.
O número de smartphones disponíveis no mercado a preços variados pode
ser um trunfo para inclusão digital na educação. O aparelho, hoje com tantas funções, substitui facilmente um com-putador ou notebook e pode ser usado no caminho da escola, na própria ins-tituição, em casa e em outros espaços que os adolescentes frequentam.
PARA CLARIFICAR DADOS
• O celular ganha cada vez mais espaço: 85%
afirmaram se conectar à internet por meio de celular e 45% afirmaram usar
computador de mesa. Em 2013, a propor-ção era de 53% e 71%, respectivamente.
• Nas áreas rurais, o celular mostrou ser o único dispositivo de acesso à internet para 49% das crianças e adolescentes.
• Do percentual total de jovens de 9 -17 anos que usa o celular para acessar a internet, 74% o faz via wi-fi e 47% usa pacote 3G. • A frequência de uso da rede cresce con-forme avança a idade: 64% das crianças de 9 a 10 anos, 78% das crianças de 11 e 12 anos, 86% dos adolescentes de 13 a 14 anos e 87% dos adolescentes de 15 a 17 anos
utilizam a Internet todos os dias ou quase todos os dias.
Fonte: Cetic.br, TIC Kids Online 2015 (http://bit.ly/tic-kids-online)
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Fonte: Projeto Escola com Celular (bit.ly/escolacomcelular)
EXPERIÊNCIA
INSPIRAD RA
PROJETO
ESCOLA COM
CELULAR -
FUNDAÇÃO
VANZOLINI
Capítulo 2 → EDUCAÇÃO PARA NATIVOS DIGITAIS
Com o objetivo de aproximar da realidade do aluno o conteúdo abordado em sala de aula e a
forma como ele é dado, o projeto incentiva o uso das tecnologias pelos professores e alunos
participantes. Após uma pesquisa a respeito do uso das tecnologias, é oferecido um curso on-line
que apoia os professores com
atividades e propostas para usar o celular como ferramenta de ensino. O uso é estimulado para pesquisa, documentação em vídeo ou registro fotográfico, propostas com sustentabilidade, ação na comunidade próxima a escola, entre outros.
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Relatório de Tecnologias no Ensino Fundamental II | Fevereiro / 2017 25
Fonte: Blog da Professora Isabel Aguiar (bit.ly/profisabel)
EXPERIÊNCIA
INSPIRAD RA
E PODE MESMO
USAR O
CELULAR EM
SALA DE AULA?
A professora Ana Isabel Aguiar, que dá aulas de História no Instituto Frei João Pedro de Sexto (Fortaleza-CE), aplicou o uso de celular de
maneira pedagógica em sua sala numa experiência em 2013. O projeto propôs que os alunos
discutissem o uso do celular em sala de aula. O resultado foi um vídeo produzido com os aparelhos dos
próprios estudantes. A comunicação entre o grupo deveria ser feita por mensagens de texto e a princípio era uma atividade individual.
Depois dessa primeira atividade, a professora liberou o uso de celular em sala de aula e hoje dá dicas e escreve artigos sobre a experiência em seu blog e revistas da área.
“Concordo plenamente com uso
de novas tecnologias em sala
de aula, pois o mundo ao nosso
redor muda constantemente
e a educação não deve estar
privada dessas mudanças. Com
técnicas de ensino provenientes
do século passado, o aluno
chega a se interessar mais
pelo rápido e fácil acesso
oferecido pelos aparelhos de
smartphones do que pelas
técnicas de ensino tão comuns
nas escolas brasileiras, como
por exemplo o ‘copiar na lousa’”
---dePoimento de um Aluno do 8 Ano que PArticiPou dA eXPeriênciA.
Capítulo 2 → EDUCAÇÃO PARA NATIVOS DIGITAIS
EDUCAÇÃO PARA
NATIVOS DIGITAIS
Neste capítulo, você soube mais sobre o acesso à internet por estudantes, uso dos recursos digitais durante o processo de aprendizagem e
desenvolvimento. Mais do que isso, viu que o celular pode ser uma poderosa ferramenta para a introdução da tecnologia na educação, independente das
limitações de infraestrutura da escola.
No capítulo 3, explore quatro pilares importantes para incluir de fato o uso de tecnologia na escola. Afinal,
basta ter um computador conectado à internet?