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Palavras chave: Zona não edificante; Preamar máxima; Praia do Porto.

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Academic year: 2021

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SUBSÍDIOS AO GERENCIAMENTO COSTEIRO: DEFINIÇÃO DA ZONA NÃO EDIFICANTE DA PRAIA DO PORTO (PE) PARA USO E OCUPAÇÃO DA ORLA

Valdir do Amaral Vaz Manso¹ Renê Jota Arruda de Macêdo² Elida Regina de Melo e Silva¹ Natan Silva Pereira² Carlos Fernando de A. Soares Junior² Miguel Sebastião Maia C. Arrais¹

Flavio Porfírio Alves ¹ Departamento de Geologia da UFPE. Laboratório de Geologia e Geofísica Marinha – LGGM; Email: vazmanso@uol.com.br;

² Programa de Pós-Graduação em Geociências da UFPE. Email: renemacedo@hotmail.com; RESUMO

O litoral sul do Estado de Pernambuco vem sendo alvo de investimentos públicos e privados nos últimos anos, resultante do desenvolvimento econômico e dos atrativos turísticos naturais. A praia do Porto, localizada a aproximadamente 100 km do Recife, é uma área não urbanizada com alto potencial turístico a ser explorado. Frente à especulação imobiliária iminente na região, este trabalho teve como objetivos caracterizar o ambiente praial e delimitar a faixa da zona não edificante na praia do Porto para fins de uso e ocupação do solo na região costeira. Foram realizados levantamentos topográficos, caracterização sedimentar, mapeamento da linha de preamar máxima e delimitação da zona não edificante da orla através da Lei de Brunn sob diferentes cenários de elevação do nível do mar. Constatou-se que a faixa de praia apresenta sedimentos com granulação na fração areia média e larguras de faixas de praias distintas para diferentes setores com características de estados morfodinâmicos intermediários e reflectivos. A faixa de praia ao norte apresenta maior estabilidade que a faixa sul, por estar localizada em parte, atrás de um afloramento granítico. Os limites da zona não edificante foram de 23,39 m para o cenário otimista, 48,08 m para o intermediário e 72,77 m para o pessimista. O menor limite ficou muito próximo das mudanças sazonais de curto prazo da morfologia praial. Para o presente estudo, aconselha-se utilizar os limites calculados para os cenários intermediário e pessimista de elevação do nível do mar. A Lei que rege a política de ocupação da zona costeira em Pernambuco contempla os limites de ocupação da orla, pois propõe faixas de 33 m a 100 m para áreas não urbanizadas.

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ABSTRACT

The southern coast of the State of Pernambuco has been the target of public and private investment in recent years, as a result of the economic development and natural touristic attractions. The Porto beach, located approximately 100 km from Recife, is a non- urbanized area with high tourist potential to be exploited. Faced with the impending real estate speculation in the region, this study aimed to characterize the beach environment and the coastal building zone limit to Porto beach for use and occupation of the coastal region. Topographic surveys were conducted along with sediment characterization, mapping of the high water line and the coastal building zone limit through the Brunn’s Law under different sea level rising scenarios. The beach sediments of the study area are composed by medium sands. The sector presents different beach widths and they were characterized in intermediate and reflective morphodynamic states. The northern stretch has a higher stability than the southern one due to its location partly behind a granite outcrop. The calculate coastal building zone limits were 23.39 m for an optimistic scenario, 48.08 m for an intermediate and 72.77 m for a pessimist. The smallest limit was very close to the short-term seasonal beach morphology changes. For the present study, we recommend using the limits calculated for the intermediate and pessimistic scenarios of rising sea level. The law that governs the policy of occupation in Pernambuco coastal zone includes the limits of occupation of the shore, because it proposes ranges of 33 m to 100 m for non-urbanized areas.

Keywords: Coastal building zone; High water level; Porto Beach.

INTRODUÇÃO

O litoral pernambucano possui aproximadamente 187 km de extensão, sendo composto principalmente por praias arenosas com diferentes tipos de morfologias. Cabos, saliências, tômbolos, enseadas e recifes são algumas das feições geomorfológicas encontradas nesta região que lhe conferem uma beleza peculiar. As praias mais afastadas do núcleo metropolitano do Recife são os principais destinos escolhidos pelos turistas com uma demanda cada vez maior. Investimentos públicos e privados vêm sendo aplicados na construção de empreendimentos turísticos, imobiliários e

obras de infraestrutura, principalmente no litoral sul. Isto resulta do desenvolvimento do Porto de Suape, localizado no distrito industrial entre os municípios do Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, e do potencial turístico da região. A expansão urbana nestas áreas costeiras ocorre, na maioria das vezes, de forma irregular (Madruga Filho, 2004; Araújo et al., 2007) causando degradação do ambiente praial (Pereira et

al., 2003). Diversos trabalhos realizados

no litoral pernambucano apontam a forma desorganizada de uso e ocupação do ambiente praial como agente desencadeador e acelerador dos processos erosivos (Borba, 1999; Macêdo et al., 2010; Mallmann & Araújo, 2010). A

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construção de estruturas rígidas na pós-praia impede a deposição e retirada de sedimentos que ocorre ciclicamente durante o verão e o inverno. Varela (2010) analisou a variação da linha de costa na Ilha de Itamaracá, no litoral norte do Estado, e identificou que em grande parte da praia a mesma se manteve estável com poucas faixas com recuos. Observou-se então que ocorreu o avanço das construções sobre a pós-praia. Todos os problemas erosivos encontrados estavam relacionados à construção de edificações na faixa de praia. Costa et al. (2008) analisaram o crescimento urbano da praia de Boa Viagem, localizada no litoral sul, e suas consequências destacando que a impermeabilização do terreno, imobili-zação de dunas além de outros fatores de origem antropogênica resultaram no acentuado balanço negativo de suprimento sedimentar à praia causando erosão. Apesar dos problemas associados à erosão, boa parte da costa, aproximadamente 75% de sua extensão, apresenta ocupação além da pós-praia ou ausente, com trechos ainda com vegetação nativa bem preservada (Araújo et al., 2007). Ao visualizar o cenário de desenvolvimento econômico regional e a demanda por imóveis, observa-se uma iminente ocupação dessas áreas ainda pouco exploradas do litoral pernam-bucano, principalmente no litoral sul. Logo, frente às diversas problemáticas de processos erosivos por qual passam as praias do núcleo metropolitano do Recife este trabalho tem como objetivo realizar

uma caracterização geoambiental da praia do Porto, localizada no litoral sul do estado. Esta praia foi escolhida como objeto de estudo pelo seu potencial turístico, ser bem preservada e está distante da capital Recife, não apresentando indícios de erosão. Portanto, espera-se que através da análise dos parâmetros sedimentológicos, morfodinâ-micos e cálculos de taxa de retrogradação da linha de costa, este trabalho possa definir a zona não edificante para cada ponto referido na praia do Porto. Para fins de gerenciamento costeiro, esta é considerada uma medida preventiva à erosão costeira, pois dá subsídios ao planejamento de uso e ocupação do ambiente praial.

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A área investigada localiza-se em um trecho de 1,3 km do litoral sul de Pernambuco conhecido por Praia do Porto. Estende-se desde a foz do rio Una até as coordenadas UTM 9025190 N(m) e 266506 E (m) no datum SAD 1969 (Fig. 1). A linha de costa apresenta uma rica diversidade em seus aspectos morfoló-gicos, com ocorrência de rochas graníticas aflorando, trechos retilíneos e uma pequena enseada ao norte da praia. Todos esses ambientes formam um conjunto de inegável beleza cênica, o que justifica a forte aptidão para as atividades de turismo, recreação e lazer.

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Figura 1 - Mapa de localização da Praia do Porto.

As formações quaternárias presentes são os terraços marinhos holocênicos (Fig. 2A e B) com altitudes variáveis em relação à preamar atual e os depósitos de praias. Sempre mais externo, o terraço marinho margeia a costa recebendo sedimentos trazidos da praia pelos ventos, que vêm reforçar pequenas dunas frontais já existentes. Embora seja esta a unidade geomorfológica predominante, registram-se na área pequenos cordões litorâneos, arrumados em fileiras paralelas havendo depressões intermediárias, que no inverno tornam-se alagadas. A área apresenta perfis praiais completos, isto é, a presença dos setores de pós-praia, estirâncio e antepraia bem individualizada com declividade alta. A conformação morfológica da linha de costa, em função da existência de vários afloramentos rochosos (graníticos),

inclusive na plataforma adjacente, em profundidades variáveis, torna este segmento de praia naturalmente protegido, visto que as referidas estruturas naturais participam do processo costeiro como armadilha do sedimento que está na deriva litorânea.

A existência de formas geomorfológicas como saliências por si só representa uma área onde há fixação de sedimentos com pouca ou quase nenhuma alteração morfológica. Pode-se também considerar a existência de uma linha de recifes ao largo (aproximadamente 1.550 m, com profundidade acima de 8 m) como um anteparo natural, visto que a energia das ondas incidentes é dissipada tornando a área de plataforma rasa adjacente com pouca agitação marítima e possibilitando a deposição contínua dos sedimentos por deriva litorânea.

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Figura 2 - Caracterização das feições de praia que ocorrem na área de estudo.

MATERIAIS E MÉTODOS

A área de estudo foi individualizada em 3 setores (Fig. 3) segundo as feições geomorfológicas observadas em campo como: berma, inclinação do perfil praial e sua morfologia. A praia do setor 1 possui 527,37 m de extensão localizada no limite norte nas coordenadas UTM 9025190 N (m) e 266506 E (m) limitada a sul por um pontal granítico. A praia do setor 2 é o menor dos setores com 142,24 m, encontra-se encaixada entre dois pontais graníticos na região central da Praia do Porto. Por fim, o setor 3 apresenta 443,55m limitado a norte no Pontal granítico e limita-se a sul com o Rio Una.

Para caracterização sedimento-lógica foram feitas 6 amostragens dos sedimentos do estirâncio ao longo de toda extensão da área estudada, sendo duas no setor 1, uma no setor 2 e 3 no setor 3, espaçadas de 50 m a 250 m umas das outras. Em seguida, as amostras foram analisadas no Laboratório de Geofísica e Geologia Marinha (LGGM) da UFPE para

classificação e determinação dos parâmetros estatísticos (diâmetro médio e desvio padrão) segundo as equações de Folk & Ward (1957). Também foi analisado o grau de arredondamento dos grãos visando à identificação da maturidade destes em função da competência abrasiva do agente de transporte, através da observação de angulosidades ou não na superfície do grão (Toldo Jr., 1998). A determinação dos estados morfodinâmicos (Wright & Short, 1983) e parâmetros morfométricos dos perfis praiais foi realizada através do levantamento topográfico transversal à praia. Segundo Wright & Short (1983), a análise de perfis permite observar a variação morfológica de uma praia e definir seu estado morfodinâmico. Logo, foram realizados 2 levantamentos sendo um no setor 1 e o outro no setor 3 seguindo a metodologia de Emery (1961), utilizando-se de uma régua, trena e teodolito.

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Figura 3 - Setorização da área de estudo, localização dos perfis topográficos e dos pontos de amostragens dos sedimentos.

A linha de preamar máxima (High

Water Level - HWL) corresponde à linha

da interface entre a praia seca e úmida formada pelo runup máximo das ondas da última maré alta (Boak & Turner, 2005). Para este trabalho, foi utilizada a escarpa de berma e a linha de vegetação como indicador da linha de preamar, pois a

vegetação praial localiza-se muito próxima às escarpas de berma e ao limite de atuação das ondas de períodos de preamar (Fig. 4A e B). Justamente por estes indicadores estarem muito próximos espacialmente, e até havendo intersecções entre eles, preferiu-se utilizar o mais visível em campo.

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O mapeamento da linha de preamar foi realizado através de levantamento geodésico utilizando dois receptores GPS L1/L2 HIPER da TOPCON, sendo um receptor estático de referência na base em Barreiros, georreferênciado ao Sistema Geodésico Brasileiro (SGB), e o outro no campo como receptor móvel (Rover). O receptor base permaneceu fixo sobre uma estação de referência coletando dados, enquanto um outro receptor percorreu as estações de interesse (receptor móvel), permanecendo parado por cerca de 5 a 20 minutos para coletar dados dos pontos de interesse. O processamento e o ajustamento dos dados foram executados através do software GNSS Solution. Todas as coordenadas determinadas tiveram como referencial planimétrico o datum SAD 1969.

A zona não edificante ou faixa de segurança de praias corresponde a uma porção terrestre da zona costeira onde se estabelece um limite de construção de edificações a fim de preservar a paisagem e orientar as ações de controle e restrição de atividades que possam alterar o ambiente (Muehe, 2001). Neste mesmo âmbito, são levadas em consideração as respostas morfológicas do perfil praial frente às diferentes condições morfodinâmicas sazonais sob diferentes escalas de tempo (meses, décadas e séculos). Portanto, os limites da zona não edificante devem contemplar os processos naturais de recuo e progradação da praia em função do seu balanço sedimentar e aumento do nível do mar, assim como uma distância mínima de ocupação da costa de modo que não altere as características ambientais nem acelere os processos erosivos. A delimitação dos

limites terrestres para Muehe (2001) se daria a partir do reverso da duna frontal (quando houver) até 50 m em direção ao continente. Na praia do Porto não há formação de dunas frontais, optando-se pelo limite de preamar máximo como ponto inicial das medidas da zona não edificante. Para o estabelecimento destes limites deve-se considerar o ajustamento do perfil praial como resposta a uma possível elevação do nível médio do mar. Esta resposta é considerada em termos de recessão horizontal (R) do perfil e do aumento do nível do mar (S). Assume-se que o novo perfil seja intersectado no mesmo nível da linha d’água anterior e que a forma do perfil não mude, assim como o volume do perfil tenha se mantido constante (Dean & Dalrymple, 2004). A determinação da zona não edificante foi obtida a partir da equação (1) de Bruun (1962):

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Onde:

R = recuo erosivo da linha de costa devido à elevação do nível do mar (m);

S = elevação do nível do mar (m);

L* = distância do perfil ativo (m), medindo-se a distância entre a elevação máxima do perfil ativo (altitude da linha de costa) e a profundidade de fechamento (h*) – Medida no mapa batimétrico do Projeto Granulados Marinhos (Granmar/PE);

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B = altura do perfil ativo (m), que é a feição emersa ativa até a linha d’água (berma ou cordão litorâneo);

h* = altura entre a profundidade de fechamento (m) e o nível inicial do mar;

Os dados de elevação do nível do mar foram obtidos a partir do relatório do Painel Intergovernamental para Mudanças

Climáticas (IPCC, 2007) no qual há previsões de variações do nível do mar sob diferentes cenários climáticos para o século XXI. O relatório do IPCC dispõe de 6 cenários. Para este trabalho, serão utilizados apenas 3, os extremos otimista e pessimista e o valor central (intermediário) destes cenários obtidos através do cálculo da mediana (Tabela 1).

Tabela 1 - Dados de aumento do nível médio do mar

Instituição Cenário ENM*

(m/Século)

IPCC

Otimista 0,18 Intermediário 0,37 Pessimista 0,56

*ENM - Elevação do Nível do Mar. Fonte: IPCC, 2007.

O valor da profundidade de fechamento (h*), que é a profundidade na qual não há mudança morfológica significativa do fundo, foi adquirido por meio da equação empírica (2) de Hallermeier (1981):

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Onde Hsx é a altura das ondas de tempestade que excedem apenas 12 horas por ano e Tsx é o período associado a esta. Para fins práticos, Hallermeier (1981) propôs uma aproximação simples através da equação (3), já que os dados de Hsx e Tsx são difíceis de serem calculados ou adquiridos:

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Onde:

= média anual da altura significativa das ondas (m);

= desvio padrão de .

Os dados de e foram obtidos a partir do trabalho de Assis (2007) que analisou a hidrodinâmica da zona costeira central pernambucana através da série histórica dos parâmetros de onda (Tabela 2).

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Tabela 2 – Parâmetros de onda segundo Assis (2007).

Período (m) Ts (s) (m)

1976 a 77; 1981 a 83; 2005 1,61 0,35 6,7 3,57

RESULTADOS E DISCUSSÃO Sedimentologia

Os sedimentos da faixa de praia (pós-praia, praia e antepraia) apresentam composição mineralógica essencialmente quartzosa, com um pequeno aporte de material bioclástico, esparsa ocorrência de minerais pesados e fragmentos de rochas. O quartzo se apresenta em todos os setores do perfil como subanguloso a subarredondado (Tucker, 1981), com esfericidade variando de 0.3 a 0.7 (baixa e média) e com textura superficial do tipo polida. Os sedimentos que compõem o estirâncio das praias da área de estudo,

nos 3 setores estabelecidos, apresentam uma grande homogeneidade granulométrica (Tab. 3). São formados por areia média, coloração creme, moderadamente a bem selecionada, assimetria positiva e localmente apresentam uma pequena quantidade de areia grossa devido à presença de fragmentos biodetríticos. O diâmetro médio dos sedimentos da zona de estirâncio mostra uma pequena variação entre 0,30 mm a 0,43 mm, denotando homogeneidade nos processos hidrodinâmicos atuantes na área, tais como ondas e correntes litorâneas.

Tabela 3 - Parâmetros de Folk & Ward (1957) da área estudada

Amostra

Localização

(UTM) Mediana Diâmetro

Médio (mm) Desvio Padrão Classificação N(m) E(m) 01 9024941 266268 0,40 0,34 0,72 Areia Média 02 9024860 266231 0,41 0,36 0,65 Areia Média 03 9024636 266204 0,38 0,33 0,58 Areia Média 04 9024426 266042 0,42 0,43 0,59 Areia Média 05 9024301 265948 0,40 0,40 0,51 Areia Média 06 9024129 265827 0,22 0,30 0,46 Areia Média

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Morfodinâmica - Perfis Topográficos As praias dos setores estudados apresentaram características de estados morfodinâmicos intermediários a reflectivos (Fig. 5), segundo a classificação de Wright & Short (1983), com elevada declividade da face de praia (8º a 8,5º) e reduzida largura da zona de surfe (arrebentação) ou ausência desta. O

perfil 1 apresentou declividade mais suave na pós-praia com a presença de um cordão holocênico vegetado. O perfil 2 apresenta uma declividade maior na face de praia em relação ao perfil 1, provavelmente influenciado pela incidência direta das ondas neste trecho da costa, pois o perfil 1 está localizado mais à norte a sotamar de um afloramento granítico.

Figura 5 - Representação topográfica dos perfis 1 e 2.

As ondas que chegam obliquamente à costa incidem com sentido predominante ESE (Assis, 2007), que geram uma deriva S-N (Bittencourt et al., 2005), são dissipadas por refração no afloramento rochoso formando uma zona de sombra onde está localizado o perfil 1.

Os perfis 1 e 2 medidos possuem extensão de 76 m cada. Apesar de apresentarem mesma extensão nos gráficos da Figura 5 o perfil 1 possui uma menor faixa de praia emersa que o perfil

2. O próprio método topográfico impossibilita a leitura de visadas em maiores profundidades porque depende da profundidade, ação das ondas e da segurança do operador dos equipamentos.

A pós-praia medida em ambos os perfis divergiu consideravelmente sendo que no perfil 1 a sua extensão é de 22 m e no perfil 2 de 40 m (Tab. 4). Segundo Dolan et al., (1978) a largura da pós-praia pode indicar o grau de mobilidade de uma praia, ou seja, quanto maior for a largura

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maior será a suscetibilidade a processos erosionais.

Tabela 4 - Aspectos morfométricos dos perfis praiais.

Perfi l Localização Largura (m) Comprim ento Total (m) Alt. (m) Berm a Declivid ade (º) Latitu de Longitu de Pós-Praia Estirân cio Antepr aia 1 90249 23 266290 22 24 30 76 0,60 8 2 90242 25 265913 40 23 13 76 1,3 8,5

As larguras dos estirâncios nos perfis medidos foram praticamente iguais com diferença de apenas 1 m. A antepraia dos perfis divergiram substancialmente em largura, isto ocorre devido a possibilidade de realizar medidas em maiores distâncias no perfil 1 do que no perfil 2, devido a inclinação desta porção da praia submersa. Constata-se também uma grande variação da altura absoluta da crista da berma entre os setores no período medido, conforme mostra o gráfico da Figura 6. Estas variações estão relacionadas com fatores diversos, entre

os quais se destacam a localização do ponto cotado nos setores estabelecidos, a variação do nível energético da onda incidente (refração decorrente de altos fundos na plataforma continental adjacente) e a presença marcante dos promontórios graníticos nos referidos setores de praia. A altitude absoluta máxima foi registrada no setor 2. Os setores 1, 2 e 3 apresentaram respectivamente as seguintes médias das alturas absolutas dos pontos de crista de berma medidos: 4,45 m, 4,61 m e 3,99 m.

Figura 6 - Altitudes absolutas da crista da berma dos setores 01, 02 e 03.

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Tabela 5 - Valores das altitudes absolutas máximas e mínimas dos setores 1, 2 e 3.

Setor

Altitude Absoluta (m)

Comprimento (m) Máxima Média Mínima

01 4.830 4.45 3.170 527,37

02 5.510 (*) 4.61 3.600 142,24 03 4.490 3.99 3.080 (**) 443,55 *Altitude absoluta máxima; **Altitude absoluta mínima

Linha de Preamar e Limites da Zona Não Edificante

A linha de preamar máxima juntamente com os limites de retrogradação da linha de costa para os cenários de ENM estão disponíveis na Figura 7 e os valores da retrogradação em

décadas na Tabela 6. As zonas não edificantes correspondem às distâncias entre a linha de preamar e a linha que indica a retrogradação para os 3 cenários estudados. Logo, quanto maior a distância entre as linhas maior será a área de faixa de proteção da praia

.

Figura 7 - Determinação da linha de preamar máxima e as linhas de retrogradação (R) que correspondem à zona não edificante sobre diferentes cenários de ENM.

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Tabela 6 - Valores de retrogradação da linha de costa por década. Ano Otimista Intermediário Pessimista

2000 0 0 0 2010 2,33 4,80 7,27 2020 4,67 9,61 14,55 2030 7,01 14,42 21,83 2040 9,35 19,23 29,10 2050 11,69 24,04 36,38 2060 14,03 28,84 43,66 2070 16,37 33,65 50,93 2080 18,71 38,46 58,21 2090 21,05 43,27 65,49 2099 23,39 48,08 72,77 DP* (σ) 7,39 15,20 23,01 *DP - desvio padrão Previamente ao cálculo de retrogradação da linha de costa foram utilizados valores médios das medidas nos 3 setores para as variáveis da fórmula de Bruun (1962). Logo, a altura absoluta média da berma (B) para os três setores foi de 4,35 m. A distância do perfil ativo (L*) medido no mapa batimétrico do Projeto Granulados Marinhos (Granmar/PE) foi de 1.484 m da linha de preamar máxima até a isóbata de 7 m, que foi o valor calculado para a profundidade de fechamento (h*) neste trecho do litoral.

Considerando-se os três cenários de ENM obtidos a partir dos dados do IPCC (2007) teríamos uma retrogradação variada dentro de 100 anos (2000 - 2099). No gráfico da Figura 8, estão dispostos os recuos da linha de costa para a praia do Porto sob os diferentes cenários. Foi considerado um aumento hipotético de forma linear ao longo do período analisado, dividindo-se o valor final por 10 para determinada ENM, obtendo-se a elevação média em décadas.

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Figura 8 - Taxas de retrogradação da linha de costa sob diferentes cenários de elevação do nível do mar.

Para o cenário otimista (ENM = 0,18 m/século), o desvio padrão calculado foi de ±7,39 m. Em 2010 teríamos uma retrogradação da linha de costa da ordem de 2,33 m. Em 2050, o recuo alcançaria 11,69 m, sendo que em 2099 o recuo máximo seria de 23,39 m. Percebe-se que a linha R para o cenário otimista ainda contorna a faixa de praia e parte da vegetação rasteira costeira. No cenário intermediário (ENM = 0,37 m/século) os recuos da linha de costa ao longo do século seriam um pouco mais de duas vezes os valores dos recuos do cenário anterior. O desvio padrão para o cenário intermediário foi da ordem de ±15,20 m. Para esta ENM teríamos recuos de 4,8 m em 2010, 24,04 m em 2050 e 48,08 m no final do século. Por último, as taxas de retrogradação da costa seriam mais acentuadas no cenário pessimista com uma ENM de 0,56 m/século. Em apenas 10 anos da série histórica o recuo seria de 7,22 m, ao passo que em 2050 o recuo alcançaria 36, 38 m no sentido continente, superando em mais de 10 m o valor máximo do cenário otimista. No final do

século (2099) o recuo da linha de costa seria de 72,77 m. O desvio padrão para este último cenário foi de ±23,01 m.

Os valores dos modelos de recuos diferenciados para cada cenário de ENM indicam o quanto à linha de costa se movimentará em direção à retro terra. Portanto, para fins de gestão da zona costeira do ponto de vista do uso e ocupação do solo, os limites da zona não edificante ou faixa de segurança de praia, podem variar em função da escolha do cenário apropriado e da escala de tempo utilizada (década, quinquênio, ou século).

CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES

A área de estudo apresentou faixa de praia constituída essencialmente de sedimentos quartzosos, com fração areia média e significativa presença de material biodetrítico. Do ponto de vista morfodinâmico, os 2 perfis transversais traçados nos setores 1 e 3 revelaram morfologias distintas da praia do porto. O

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perfil 1 do setor 1 apresentou uma faixa de praia estreita e inclinação do estirâncio em 8º, ao passo que o perfil 2 do setor 3 possui uma largura maior da praia subaérea com inclinação da face de praia de 8,5º. A largura da faixa de praia indica o grau de mobilidade desta área, consequentemente, maiores variações morfológicas e susceptibilidade à erosão podem ocorrer para a praia do perfil 2. O perfil 1, por ter menor largura, possui maior estabilidade frente a processos erosivos em relação aos demais trechos estudados, provavelmente em função de sua localização próxima ao afloramento granítico que o protege das ondas incidentes. Ambos os perfis apresentaram características de estágios morfodinâmicos reflectivos e intermediários. Dentre os 3 setores, o setor 2 possui uma cota média da altura da berma superior aos demais e o setor 3 com altitudes médias mais baixas.

A determinação da zona não edificante a partir da linha de preamar máxima permitiu visualizar as distâncias mínimas de uso e ocupação da faixa costeira na praia do Porto. Além disso, percebe-se que mesmo num cenário otimista (ENM = 0,18 m) altas taxas de retrogradação poderão ocorrer na linha de costa, cerca de 23,39 m, neste exemplo. Observou-se que esta retrogradação fica muito próxima das mudanças sazonais anuais da praia do Porto que são inerentes a morfodinâmica desta faixa costeira. Dentro desta perspectiva, a Lei Estadual Nº 14.258/2010 que rege a política de gerenciamento costeiro no Estado de Pernambuco, no Artigo 10 parágrafos 2º e 3º, institui uma zona não edificante na faixa de 33 m a partir da linha de preamar para áreas urbanizadas e de 33 m a 100 m para áreas não urbanizadas. Portanto, para a área da praia do Porto que é considerada uma região não urbanizada, a Lei de Gerenciamento Costeiro atende as exigências propostas para este estudo sobre os diferentes cenários de ENM. Porém, faixas de praias mais largas

apresentam maiores mobilidades do perfil praial, que é função de seu estado morfodinâmico (Short & Hesp, 1982), sendo então necessário levar em conta um monitoramento de períodos anuais da morfologia costeira para identificar e quantificar a variação da linha de costa. Consequentemente serão necessárias faixas de zona não edificantes mais largas que atendam a dinâmica daquela região. Logo, as faixas calculadas para os cenários intermediário e pessimista são as mais apropriadas para serem utilizados como limites de ocupação nesta região.

Ressalta-se ainda que as linhas de retrogradação resultantes deste trabalho correspondem a uma média dos processos erosivos ao longo da área de estudo, pois considerou-se para o cálculo de R uma altura média da berma (B) para toda a faixa de praia. Portanto, as taxas de recuo sobre cenários reais irão variar de acordo com as cotas reais da berma em cada trecho da praia do Porto.

Convêm salientar que qualquer alteração artificial da morfologia das praias da área, inclusive na área considerada não edificante, poderá alterar significativamente os resultados obtidos, principalmente aqueles referentes à estabilidade do litoral e à determinação da faixa de retrogradação, sendo imprescindível, nestes casos, um novo estudo para verificação dos resultados e definição das novas características que a praia assumirá.

REFERÊNCIAS

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