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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA EEL/USP THATIANY CRISTIANY APARECIDA MONFREDINI CAVALCANTE

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Academic year: 2021

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ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA – EEL/USP

THATIANY CRISTIANY APARECIDA MONFREDINI CAVALCANTE

ANÁLISE CRÍTICA DA SUSTENTABILIDADE DOS BIOCOMBUSTÍVEIS

Lorena 2018

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THATIANY CRISTIANY APARECIDA MONFREDINI CAVALCANTE

ANÁLISE CRÍTICA DA SUSTENTABILIDADE DOS BIOCOMBUSTÍVEIS

Trabalho de conclusão de curso apresentado à Escola de Engenharia de Lorena – Universidade de São Paulo como requisito parcial para conclusão da Graduação do curso de Engenharia Industrial Química.

Orientador: Prof. MSc Antônio Carlos da Silva.

Lorena 2018

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Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Automatizado da Escola de Engenharia de Lorena,

com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

Cavalcante, Thatiany Cristiany Aparecida Monfredini Análise crítica da sustentabilidade dos

biocombustíveis / Thatiany Cristiany Aparecida Monfredini Cavalcante; orientador Antônio Carlos da Silva. - Lorena, 2018.

55 p.

Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão de Graduação do Curso de Engenharia Industrial Química - Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo. 2018

Orientador: Antônio Carlos da Silva

1. Biocombustíveis. 2. Sustentabilidade. 3. Indicadores de sustentabilidade. 4. Etanol. 5. Energia renovável. I. Título. II. Silva, Antônio Carlos da, orient.

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DEDICATÓRIA

À minha filha, Elena, que, desde o ventre, com sua chegada inesperada, renovou minhas energias.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu pai, Paulo Monfredini, pela confiança e pelo incentivo incondicional ao longo dessa trajetória.

Ao meu marido, Rafael Ribeiro, pelo apoio, paciência e compreensão em cada momento. Obrigada por aliviar minha carga e por sacrificar-se comigo, especialmente na reta final, possibilitando que esta etapa fosse cumprida. Minha vitória é sua vitória também.

Ao meu querido e paciente orientador, professor MSc. Antonio Carlos da Silva, pela ajuda na elaboração deste trabalho e pelo conhecimento transmitido em cada disciplina ministrada.

Ao Professor Doutor Carlos Roberto de Oliveira Almeida, querido professor “Carlão”, em memória, pelas gentis palavras de encorajamento durante um período difícil.

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RESUMO

MONFREDINI, T. C. A., Análise da Sustentabilidade dos biocombustíveis. 2016, 54 f. Monografia (Trabalho de Graduação em Engenharia Industrial Química) – Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, 2018.

A dependência da energia fóssil está em todas as atividades do homem, mas principalmente na agricultura e nos transportes. Embora seja um dos pilares da economia atual, a busca por uma fonte renovável de energia torna-se cada vez mais imprescindível para se atingir o desenvolvimento sustentável. Nesse contexto, os biocombustíveis ocupam papel central na substituição dos combustíveis fósseis. Além das vantagens ambientais como a redução dos gases de efeito estufa e a redução dos impactos causados no ambiente por parte dos combustíveis derivados do petróleo, os biocombustíveis apresentam também vantagens socioeconômicas como a geração de empregos e o desenvolvimento das comunidades rurais. Contudo, para se definir um produto como sustentável é preciso explorar mais do que os impactos do seu consumo final, é necessário que todos os efeitos decorrentes do seu processo produtivo, desde o preparo das matérias primas até a obtenção do produto final, sejam abordados com responsabilidade. Esse trabalho teve o objetivo de analisar não apenas os benefícios, mas os potenciais impactos associados à substituição dos combustíveis fósseis pelos combustíveis originados da biomassa, em especial o etanol e o biodiesel.

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ABSTRACT

MONFREDINI, T. C. A., Análise da Sustentabilidade dos biocombustíveis. 2016, 54 f. Undergraduate thesis in Biochemical Engineering – Escola de Engenharia de Lorena, 2018

The dependence of fossil energy is in all of human’s activities, but mainly in agriculture and transports. Despite being one of the pillars of the current economy, the search for a renewable energy source is indispensable to achieve the sustainable development. Biofuels plays a central role on the replacement of the fossil fuels. Besides the environmental advantages, as the reduction og greenhouse gases and the impacts on the environment caused by petroleum fuels, the fuels derived from biomass also bring up socioeconomic advantages as employment generation and the development of rural communities. However, to define as sustainable a product, is not enough to explore only the impacts of the final use, but the effects involved in the complete production process, from the raw materials to obtaining the final product. This study aims to analyze not only the benefits, but also the potential impacts of the replacing of fossil fuels by biofuels, especially ethanol and biodiesel.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Produção anual de etanol durante a primeira fase do Proálcool....15 Tabela 2 - Evolução da produção de álcool por safra, de 1979/1980 a 1986/1987...16 Tabela 3 - Indicadores Energéticos Econômicos Energy Indicator for Sustainable Development – EISD...38 Tabela 4 - Indicadores Energéticos Sociais Energy Indicator for Sustainable Development – EISD...39 Tabela 5 – Indicadores Energéticos Ambientais Energy Indicator for Sustainable Development – EISD...39

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS OPEP – Organização dos Países Exportadores de Petróleo Proálcool – Programa Nacional do Álcool

Petrobras – Petróleo Brasileiro S/A

MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento ONU – Organização das Nações Unidas

UNSCCUR – United Nations Scientific Conference on the Conservation and

Utili-zation of Resources

FAO – Food and Agriculture Organization OMS – Organização Mundial da Saúde

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cul-tura

PNUMA – Programa das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente UNEP – United Nations Environment Programme

GEE – Gases de efeito estufa

SEMA – Secretaria Especial do Meio Ambiente CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente MMA – Ministério do Meio Ambiente

MME – Ministério de Minas e Energia ANP – Agência Nacional do Petróleo

IUPAC – International Union of Pure and Applied Chemistry

Pró-Óleo - Programa Nacional de Óleos Vegetais para Produção de Energia PNPB – Programa Nacional de Produção e Uso do Biodisesel

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IEA – lnstituto de Economia Agrícola dLUC – direct Land Use Change iLUC – indirect Land Use Change

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IAEA – International Atomic Energy Agency

ISED – Indicator for Sustainable Energy Development

UNDESA – United Nations Department of Economic and Social Affairs EUROSTAT – European Statistics

EEA – European Environment Agency WEC – World Energy Council

ORPLANA – Organização dos Plantadores de Cana

FERAESP – Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial CCEE – Câmara de Comercialização de Energia Elétrica

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ... 11

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ... 13

2.1 O contexto internacional do petróleo ... 13

2.2 O programa nacional do álcool – Proálcool ... 14

2.3 A preocupação mundial com o meio ambiente e a evolução do pensamento ecológico ... 16

2.4 Desenvolvimento sustentável e sustentabilidade ... 19

2.5 Recursos renováveis e não renováveis ... 21

2.6 Os biocombustíveis ... 21

2.6.1 O etanol ... 24

2.6.2 O Biodiesel ... 26

2.7 Os biocombustíveis e o desenvolvimento sustentável ... 27

2.8 Os desafios enfrentados pelo mercado dos biocombustíveis... 29

2.8.1 Desafios econômicos ... 30 2.8.2 Desafios ambientais ... 30 2.8.3 Desafios sociais ... 33 2.9 Indicadores de sustentabilidade ... 36 2.10 Projetos e Iniciativas ... 41 2.10.1Protocolo Agroambiental ... 42

2.10.2Compromisso Nacional – Aperfeiçoar as condições de trabalho na cana-de-açúcar ... 42

2.10.3Projeto RenovAção ... 43

2.10.4Selo Energia Verde ... 44

2.10.5RenovaBio ... 45

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 48 5. CONCLUSÃO ... 50 REFERÊNCIAS ... 51

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1. INTRODUÇÃO

O interesse pelos biocombustíveis surgiu com a primeira crise do petróleo, na década de 70, quando os países importadores de petróleo se viam completamente dependentes dos países produtores. Essa dependência colocava os países produtores num patamar confortável de controle da demanda, e a instabilidade política de suas nações impactava diretamente os preços do barril de petróleo. Nesse contexto, os biocombustíveis representariam um potencial de autonomia energética e impulsionador da economia das nações dependentes do petróleo.

A década de 80, marcada por significativos desastres ambientais, trouxe a preocupação da comunidade internacional pelo meio ambiente. Os gases de efeito estufa, provenientes em grande parte da queima dos combustíveis de origem fóssil, seriam os grandes vilões causadores do aquecimento global além do aumento do buraco na camada de ozônio e, mais tarde, seriam associados a uma série de problemas de saúde. Surge em meio às preocupações mundiais com o meio ambiente o conceito de sustentabilidade, e com essas discussões em voga, os biocombustíveis também representariam uma fonte de energia limpa e renovável que poderia substituir, em parte ou totalmente, os combustíveis de origens fósseis e seriam os facilitadores da sustentabilidade.

Porém, com o passar dos anos e a expansão da produção e consumo dos biocombustíveis em todo o globo, a sustentabilidade desses combustíveis tornou-se uma questão polêmica. Diversas pesquisas e debates de instituições sugeririam que essa sustentabilidade seria questionável, uma vez que se basearia apenas na avaliação do produto final. Para se assegurar que os biocombustíveis sejam, de fato, sustentáveis, é necessária uma avaliação profunda de toda a cadeia produtiva, incluindo fatores econômicos e sociais, identificar os gargalos para a sustentabilidade e criar métricas e medidas corretivas para esses gargalos.

Esse trabalho tem como objetivo geral a análise, dos pontos de vista ambiental, social e econômico, da complexidade da sustentabilidade dos biocombustíveis.

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1) Demonstrar a importância de uma visão holística sobre a sustentabilidade dos biocombustíveis;

2) Identificar os desafios econômicos, ambientais e sociais gerados pelo aumento da produção desses combustíveis;

3) Apresentar os Indicadores de sustentabilidade, destacando não apenas a relevância destes, mas as limitações no exercício da análise da sustentabilidade dos biocombustíveis;

4) Divulgar os principais projetos e iniciativas do setor empenhados em promover e assegurar a sustentabilidade dos biocombustíveis.

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Para analisar os impactos sociais, econômicos e ambientais da produção e utilização dos biocombustíveis, é importante compreender os desdobramentos das décadas anteriores e as suas implicações e consequentes impactos na evolução na forma de se gerar energia.

É fundamental, portanto, compreender o histórico internacional do petróleo, que está diretamente relacionado com o despertar do interesse pelas energias renováveis; o surgimento e o amadurecimento das preocupações ambientais e, por fim, não apenas as vantagens, mas também as implicações da utilização dos biocombustíveis.

2.1 O contexto internacional do petróleo

A oscilação dos preços do barril de petróleo ao longo da história foi uma resposta direta às instabilidades políticas e econômicas, bem como aos conflitos envolvendo os principais países produtores no Oriente Médio1.

Os árabes já dominavam a produção internacional logo após a Primeira Guerra Mundial, enquanto apenas três potências ocidentais, Inglaterra, França e Estados Unidos, controlavam a exploração por possuírem, juntas, o domínio das sete principais companhias petrolíferas que atuavam no Oriente Médio, um cartel conhecido como “as sete irmãs”1, dentre as quais cinco pertenciam aos Estados Unidos.

Com a Primeira Guerra Mundial, evidenciou-se a importância do petróleo para o progresso industrial e estratégico das nações. Nesse contexto, ressurgiu a queda de braço entre os países produtores e os exploradores de petróleo pelo seu domínio e, em 1960, foi criada a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), composta por Arábia Saudita, Kuwait, Irã, Iraque e Venezuela, com o objetivo de fortalecer a soberania sobre suas reservas naturais de petróleo num mundo pós-guerra e unir forças para enfrentar as companhias internacionais

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compradoras de petróleo1. Dessa forma, em pouco tempo, estava instaurada no cenário internacional uma nova hegemonia de controle da demanda de petróleo.

Em 1973, a Guerra do Yom Kippur, violento conflito Árabe-Israelense, resultou no Primeiro Choque do Petróleo – uma forte represália árabe contra os países ocidentais como resposta ao apoio dos Estados Unidos à nação de Israel. A venda do petróleo passou a ser racionada e até suspensa aos ocidentais, impactando diretamente os envolvidos1.

Diante da vulnerabilidade causada pelas inconstâncias políticas do Oriente Médio que deixava os países importadores de petróleo submetidos a todo tipo de embargos indevidos e elevações injustificáveis de preços, o Brasil passou a investir em novas alternativas que pudessem garantir maior autonomia nesse campo. Também foram adotadas medidas restritivas ao consumo de combustíveis derivados do petróleo2.

Assim, em 1975 foi lançado o Programa Nacional do Álcool – Proálcool, marcando o início de um programa energético baseado no etanol produzido a partir da cana-de-açúcar, uma resposta nacional estratégica que visava frear a dívida externa acumulada devido aos aumentos no preço do barril de petróleo e alicerçar a independência energética brasileira3.

2.2 O programa nacional do álcool – Proálcool

O Proálcool teve como objetivo inicial a produção do álcool anidro, adicionado à gasolina, derivado da cana-de-açúcar. Contava com significativos subsídios e financiamentos governamentais e as atividades como compra, transporte, armazenamento, distribuição, adição de álcool à gasolina e determinação de preços ficavam a cargo da Petróleo Brasileiro S/A – PETROBRÁS4.

A primeira fase do Proálcool, de 1975 a 1979, representou um aumento de 300% na produção nacional de álcool e impactou num decréscimo nas importações de petróleo, correspondendo ao esperado5.

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A tabela 1 apresenta os volumes de etanol, anidro e hidratado, produzidos durante o período.

Tabela 1 - Produção anual de etanol durante a primeira fase do Proálcool

Safra Volume produzido de etanol anidro (mil m³) Volume produzido de etanol hidratado (mil m³) Volume total de etanol produzido (mil m³) 74/75 216,5 378,5 595,0 75/76 232,6 323,0 555,6 76/77 300,3 364,0 664,3 77/78 1176,9 293,5 1470,4 78/79 2095,6 395,0 2490,6

Fonte: MAPA Agroenergia (2016)

O Segundo Choque do Petróleo, consequência de novo conflito Oriente Médio, dessa vez entre Irã e Iraque, em 1979, marcou o início da segunda fase do programa brasileiro6.

Nessa fase, o governo direcionou o programa para a produção do etanol hidratado, também conhecido como etanol combustível, utilizado em automóveis movidos exclusivamente a álcool6. O governo também implementou uma série de diretrizes para impulsionar o aumento da frota de veículos movidos a álcool, como a priorização desses veículos na frota oficial, a redução de impostos e a afixação de 20% do teor de álcool a ser adicionado à gasolina.

A Tabela 2 apresenta o aumento da produção de álcool anidro, hidratado e o volume total por safra, desde a safra de 1979/1980 até 1985/1987, ou seja, compreendendo a segunda fase do Próalcool.

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Tabela 2 - Evolução da produção de álcool por safra, de 1979/1980 a 1985/1986 Safra Volume produzido de etanol anidro (mil m³) Volume produzido de etanol hidratado (mil m³) Volume total de etanol produzido (mil m³) 79/80 2715,4 681,2 3396,6 80/81 2105,3 1601,1 3706,4 81/82 1453,1 2787,0 4240,1 82/83 3549,4 2273,6 5823,0 83/84 2469,4 5394,8 7864,2 84/85 2102,6 7089,7 9192,3 85/86 3273,2 8658,4 11931,6 Fonte: Unica (2016)

Entre os anos 1986 e 2003, seguiu-se a fase de desaceleração do Proálcool, fortemente relacionada à queda do preço internacional do petróleo e estabilização do mercado mundial. Além disso, a produção brasileira de petróleo já havia se expandido com a descoberta da Bacia de Campos na década de 70, e a sua exploração ao longo dos anos 70 e 807.

No início do ano de 2003, foi lançado no mercado brasileiro o veículo flex

fuel, tecnologia que permitiu que o consumidor abastecesse seu veículo tanto com

álcool como com gasolina. Devido aos desdobramentos econômicos e ambientais da década de 90 – desvalorização do real, novo aumento no preço do barril do petróleo e acordos ambientais como o Protocolo de Quioto, que visava a redução da emissão de gases de efeito estufa – o etanol passou a ser a opção mais viável, resultando num expressivo aumento na produção e no consumo nacional. Toda essa conjuntura marcou a quarta e última fase do Proálcool6.

2.3 A preocupação mundial com o meio ambiente e a evolução do pensamento ecológico

Além do interesse econômico devido às variações no preço do barril do petróleo, outro fator que impulsionou as pesquisas e o desenvolvimento das

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energias renováveis foi a evolução do pensamento ecológico8.

Desde os primórdios da revolução industrial até a primeira metade do século XX, o foco das nações estava unicamente em progredir e crescer industrialmente e as consequências para o meio ambiente eram insuficientemente avaliadas. A industrialização, o crescimento populacional, a urbanização desordenada e o consumo excessivo principalmente de petróleo e carvão mineral resultaram em uma série de problemas no âmbito ambiental, como a contaminação do ar, do solo e das águas, o desmatamento e todo o tipo de degradação8.

O primeiro grande encontro internacional significativo objetivando discutir as questões ambientais, provavelmente tenha sido o Congresso Internacional para Proteção da Natureza, realizado em Paris em 1909. Esse encontro teve o objetivo de compor uma organização internacional responsável pela preservação da natureza8. O evento contou com a participação dos governos da Áustria, Argentina, Bélgica, Grã-Bretanha, Dinamarca, França, Alemanha, Hungria, Itália, Holanda, Noruega, Portugal, Rússia, Espanha, Suécia e Estados Unidos.

Quarenta anos se passaram até que a então recém-criada Organização das Nações Unidas (ONU) promovesse a Conferência Científica da ONU sobre Conservação e Utilização de Recursos, United Nations Scientific Conference on the

Conservation and Utilization of Resources, em inglês (UNSCCUR) nos Estados

Unidos, em 1949, um grande marco do movimento ambientalista internacional contando com a participação de poderosas organizações internacionais como a Organização das Nações Unidas para a Agricultura, Food and Agriculture

Organization, em inglês (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS). Nessa

conferência, especialistas e líderes mundiais discutiram temas como a degradação dos oceanos, rios e mares, a gestão de lixos perigosos, as mudanças climáticas e o desenvolvimento nuclear.

A Conferência da Biosfera, realizada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em Paris, em 1968, representou também um grande avanço para as questões ambientais. Resultou no lançamento do programa multidisciplinar intitulado “O homem e a biosfera”, no qual especialistas de diversas áreas aprofundariam suas pesquisas científicas nos

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impactos causados pelo homem sobre o meio ambiente e no desenvolvimento de ações que revertessem esses impactos8.

Cada vez mais, a ONU incentivou a criação e a adesão a tratados relacionados a questões ambientais e, em 1972, convocou a Conferência Mundial sobre o Homem e o Meio Ambiente. O encontro aconteceu em Estocolmo, Suécia, e resultou na criação do Programa das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (PNUMA)8. Na Declaração da Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente, parágrafo 6, em 1972 na cidade de Estocolmo, declara-se:

“Chegamos a um ponto na história em que devemos mudar nossas ações em todo o mundo, com maior atenção para as consequências ambientais. (...) Defender e melhorar o meio ambiente para as atuais e futuras gerações se tornou uma meta fundamental para a humanidade.”

Em 1987, a médica especialista em saúde pública e ex-Primeira Ministra norueguesa Gro Harlem Brundtland assumiu a presidência da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, que ficou conhecida como Comissão Brundtland e foi responsável por dois importantes legados: a introdução do conceito de Desenvolvimento Sustentável, que será apresentado mais à frente neste trabalho, e recomendações à Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, colocando os assuntos ambientais nas agendas mundiais, como nunca antes acontecera8.

Assim, em 1992, a Conferência se reuniu na cidade do Rio de Janeiro, num evento que ficou conhecido como Rio-92, e publicou um documento chamado Agenda-21, uma compilação após duas décadas de pesquisas, desde a conferência de 72, que abordava um complexo plano de ação para a proteção da atmosfera, o combate ao desmatamento e a desertificação, a poluição do ar e das águas e incluía também pautas relacionadas à pobreza e divida externa dos países em desenvolvimento8.

A Agenda-21 foi revisada em 1997 e o documento final orienta a adoção de metas jurídicas com a finalidade de reduzir os gases de efeito estufa (GEE),

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assunto em voga na ocasião devido à preocupação com as mudanças climáticas. Assim nasceu o Protocolo de Kyoto, adotado no Japão no mesmo ano, ratificado por 184 países na ocasião. Os países envolvidos assumiram a responsabilidade de limitar e reduzir a emissão dos GEE e dessa forma, desacelerar o efeito do aquecimento global8.

Os últimos anos também foram marcados por novas conferências e encontros internacionais abordando as mais variadas questões ambientais como mudanças climáticas, derretimento das calotas polares, gestão de resíduos e recursos naturais, cuidados com a biodiversidade e, entre muitas outras pautas, o desenvolvimento das energias renováveis para diminuição no uso dos combustíveis fósseis8.

No Brasil, as questões ambientais começaram a ganhar espaço em 1973 com a criação da Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), como parte do Ministério do Interior. O CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) foi criado em 1981 e em 1985 transferido para o recém-criado Ministério do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente, foi a primeira vez que a política nacional do meio ambiente ganha um ministério. Por fim, o Ministério do Meio Ambiente (MMA), vigente até os dias atuais, foi concebido em 1992 com a missão de promover a adoção de princípios e estratégias para o conhecimento, proteção e recuperação do meio ambiente, a utilização consciente dos recursos naturais através da implementação de políticas públicas8.

No segmento das energias, o atual Ministério de Minas e Energia (MME) foi criado em 1960 assumindo questões anteriormente de competência do Ministério da Agricultura9.

2.4 Desenvolvimento sustentável e sustentabilidade

Embora muitas vezes empregados como sinônimos, os termos “sustentabilidade” e “desenvolvimento sustentável” apresentam diferentes perspectivas10.

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Ambiente e Desenvolvimento da ONU – o Relatório Brundtland, “Nosso Futuro Comum”, Our Commom Future, em inglês – surgiu o conceito de desenvolvimento sustentável:

“Desenvolvimento Sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades” (Relatório Brundtland, Our Commom Future, 1987).

Embora não houvesse um consenso sobre a definição apresentada, após as catástrofes ambientais que marcaram a década de 80 (Chenobyl, o derramamento de petróleo do navio Exxon, no Alasca – 1989 dentre outras) havia o entendimento comum quanto à urgência de se construir um modelo de desenvolvimento das sociedades baseado sobre três pilares: o social, o ambiental e o econômico. Assim, crescia a corrente de pensamento que modificava a visão do meio ambiente outrora tido como um recurso a ser explorado e manipulado para uma visão que o enxergava como parte constituinte das nações modernas, de importância equivalente a economia10.

Ao longo dos anos, o termo Desenvolvimento Sustentável foi modificado e adaptado a diferentes áreas do conhecimento até ganhar sua definição mais atual que, em termos gerais, afirma que uma sociedade pode-se dizer sustentável quando possui uma organização que garante, através das gerações, o bem-estar dos cidadãos e dos ecossistemas em que está inserida10.

Sustentabilidade, por sua vez, é definida como o objetivo atingido com esse desenvolvimento10.

Dessa forma, atentando-se a definição moderna do Desenvolvimento Sustentável, Faustino e Amador10 propõem que a Sustentabilidade deve fundamentar-se em “maior autonomia, eliminação ou diminuição dos níveis de pobreza, solidariedade para com os desprotegidos, busca permanente por maior igualdade social, política e de gênero, redução da desigualdade econômica e participação efetiva e crítica dos cidadãos”. A consideração é expansão da reflexão de Sachs, em 2002, que alicerça a Sustentabilidade em oito dimensões principais: social, cultural, ecológica, ambiental, territorial, econômica e política a níveis

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nacional e internacional.

Atentando-se a esses conceitos, a análise de sustentabilidade realizada no presente trabalho a cerca da produção e utilização dos biocombustíveis se focará sobre três parâmetros: o ambiental, o econômico e o social10.

2.5 Recursos renováveis e não renováveis

As fontes de energia são divididas entre recursos não-renováveis e renováveis.

A primeira categoria compreende os recursos naturais que não podem ser regenerados ou reaproveitados em um tempo viável que sustente seu consumo. São os combustíveis fósseis, como o carvão mineral, o gás natural e o petróleo11.

A segunda inclui os recursos que podem ser restaurados a uma velocidade superior ao seu consumo. Nessa categoria pode-se citar a energia eólica, a energia solar, a biomassa (biogás) e a energia gerada pela biomassa plantada, que integra os biocombustíveis, dentro de um complexo que alguns autores denominam “agroenergia” ou “bioenergia”11 .

O termo bioenergia compõe toda a energia gerada a partir da biomassa. A FAO conceitua bioenergia como a energia que provém dos biocombustíveis, que por sua vez, consistem nos combustíveis produzidos, direta ou indiretamente, a partir da biomassa11. De uma forma geral, pode-se afirmar que a bioenergia é a energia renovável oriunda de fontes biológicas.

Dentro da grande esfera da bioenergia encontra-se o conceito de agroenergia, que trata da energia renovável oriunda da biomassa produzida pelas atividades agrícolas, onde se enquadram os biocombustíveis11.

2.6 Os biocombustíveis

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combustíveis fósseis possibilitou grande avanço nas sociedades mundiais, promoveu a revolução industrial, a geração de empregos em massa, trouxe qualidade de vida à população por meio da iluminação a gás e teve participação inclusive nas diversas formas de transportes atuais, na evolução da indústria petroquímica e na geração de eletricidade, no caso das usinas termelétricas12.

Por outro lado, somente décadas depois, uma observação crítica baseada em parâmetros ecológicos e econômicos mostrou que as décadas de desenvolvimento apoiado exclusivamente nessa estrutura gerou e acumulou diversos tipos de problemas e limitações12.

Do ponto de vista ecológico, a poluição ambiental é o principal fator apontado por ambientalistas e especialistas de diversas áreas. As elevadas emissões de monóxido de carbono e dióxido de carbono, derivado da queima destes combustíveis, são responsáveis diretamente pelo efeito estufa, aumentando o aquecimento global, intensamente discutido nas duas últimas décadas. O dióxido de enxofre, outro poluente frequentemente liberado na combustão dos combustíveis fósseis, oriundo da queima incompleta dos combustíveis fósseis, também contribui para o aquecimento global, é relacionado à chuva ácida, representando perigo às mais variadas formas de vida animal e vegetal, às lavouras, além de causar a corrosão de monumentos e construções nas cidades. Esse componente também tem efeitos danosos à saúde humana, o que configura um possível problema de saúde pública, sendo relacionado a irritações do trato respiratório, desconforto na respiração e agravamento de problemas respiratórios e cardiovasculares12.

Analisando do ponto de vista da economia, a cultura dos combustíveis fósseis foi extremamente centralizadora, permitindo que poucas nações enriquecessem e controlassem as demandas de combustíveis, como foi analisado durante a apresentação do histórico da utilização do petróleo e dos biocombustíveis12.

Como resposta reativa a todos esses problemas, os biocombustíveis surgiram representando uma melhor alternativa para a geração de energia12.

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favoráveis ao crescimento da cana-de-açúcar, a possibilidade de múltiplos cultivos ao longo do ano, intensa radiação solar característica e o desenvolvimento tecnológico e científico existentes, o Brasil obteve sucesso no investimento da produção de biocombustíveis12. O primeiro a ganhar espaço foi o etanol.

A Agência Nacional do Petróleo (ANP) define biocombustíveis como substâncias destinadas à geração de energia, derivadas da biomassa renovável que podem ser empregadas diretamente ou após alterações e podem substituir parcial ou totalmente combustíveis de origem fóssil. A biomassa refere-se a todo material de origem orgânica proveniente de vegetais11.

Surgiram e desenvolveram-se sustentados no que José Eli da Veiga chama de “cultura da sustentabilidade”, que prega a necessidade por novas formas de progresso de forma a minimizar os impactos negativos tanto no meio ambiente como na sociedade10.

Diversas são as matérias primas que podem ser empregadas para a produção dos biocombustíveis: pode-se produzir o etanol a partir da cana-de-açúcar, do milho e até mesmo da beterraba e o biodiesel pode ser obtido a partir do óleo da soja, palma, girassol, mamona, entre outros vegetais oleaginosos. No Brasil, são utilizados a cana-de-açúcar, para a produção do etanol, e principalmente a soja, para a produção do biodiesel13.

Conforme foi apresentado anteriormente, a dependência econômica dos combustíveis fósseis e o crescimento do pensamento ecológico incentivaram a busca por formas alternativas de energia e destacaram, assim, os combustíveis renováveis. Recentemente surgiu ainda a percepção do possível esgotamento das reservas de combustíveis fósseis, salientando novamente a importância da pesquisa, desenvolvimento e utilização das energias renováveis. Portanto, pode-se dizer que as questões relacionadas às energias renováveis pode-se bapode-searam inicialmente em preocupações econômicas e estratégicas e, mais tarde, ecológicas14.

O contexto histórico brasileiro e os subsídios governamentais afetaram também positivamente a supremacia brasileira no setor, especialmente na alavancada da produção destes e, apesar de o país não deter mais a posição de

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maior produtor mundial, detém ainda como vantagem a utilização da cana-de-açúcar, de eficiência energética superior ao milho, utilizado pelos Estados Unidos, atualmente o maior produtor mundial de etanol e à beterraba, utilizada na Europa15. Embora a cana-de-açúcar não seja uma planta nativa brasileira, as condições climáticas tropicais possibilitaram sua adaptação logo que a mesma foi trazida ao país, ainda no período colonial. Assim, a disponibilidade territorial e hídrica e as condições climáticas favoráveis asseguraram ao Brasil o sucesso e a vantagem competitiva na produção desses combustíveis e no desenvolvimento de tecnologias de produção16.

2.6.1 O etanol

O etanol é a substância de fórmula molecular C2H5OH, denominada oficialmente pela International Union of Pure and Applied Chemistry (IUPAC) como álcool etílico ou etanoico. O termo “bioetanol”, frequentemente utilizado na temática dos biocombustíveis, remete ao etanol produzido exclusivamente a partir da biomassa. Neste trabalho será usado o termo etanol simplesmente17.

2.6.1.1 Produção

A produção convencional do etanol a partir da cana-de-açúcar em geral compõe os seguintes processos: recebimento e limpeza da cana, extração do caldo, tratamento e concentração do caldo, fermentação, destilação e desidratação17. O processo pode variar levemente entre diferentes usinas17.

A cana-de-açúcar adapta-se perfeitamente a ambientes quentes e úmido onde se tem bem definidas duas estações, o que explica o sucesso da cultivo em solo brasileiro. A estação quente e úmida favorece a germinação e o desenvolvimento do vegetal, enquanto a estação fria e seca é excelente para a maturação, fase importante para o acúmulo de sacarose nos colmos da planta17.

(27)

2.6.1.2 Descrição do processo

Recebimento e limpeza da cana – A cana é transportada em caminhões até as usinas e segue para as moendas através de sistemas de esteiras. No transporte nas esteiras, a matéria prima é submetida a uma lavagem superficial que retira impurezas como poeira, areia e terra. Em seguida a cana é picada e passa por sistemas de armadilhas magnéticas que retiram materiais metálicos do produto17.

Extração do caldo – Nesse processo ocorre a moagem da cana por meio de rolos compressores sequenciais com o objetivo de se retirar o caldo da cana, chamado melado. Cerca de 70% em peso da cana corresponde ao melado, que segue no processo para a obtenção do etanol, e os 30% restantes correspondem ao bagaço17. O caldo é composto de água, sacarose,

Tratamento e concentração do caldo – O caldo passa por um sistema de peneiras para eliminação de resíduos físicos como restos de bagaço, areia, etc. Em seguida, ele é transferido para um tanque de decantação, onde são eliminadas impurezas remanescentes que se decantam ao fundo. Ao final, o caldo passa por um tratamento químico que remove resíduos contaminantes químicos e é então esterilizado por processo de elevada temperatura17.

Fermentação – A fermentação ocorre por meio da ação da levedura

Saccharomyces cerevisiae que converte a glicose presente no caldo em etanol com

a liberação de dióxido de carbono. O caldo limpo e esterilizado é levado às dornas de fermentação, onde a levedura é adicionada em quantidades adequadas. O produto resultando da etapa de fermentação é chamado de vinho e contém o etanol, leveduras e açúcares não fermentados17.

Destilação – Essa é a etapa do processo responsável pela recuperação do etanol do vinho fermentado através da diferença entre os pontos de ebulição dos componentes que permite que, pela evaporação e posterior condensação recupere-se as substâncias separadamente. O resultado desta etapa é o etanol hidratado17.

Desidratação – A etapa final do processo tem a finalidade de obtenção do etanol puro, retirando-se o restante de água contido. Após a desidratação o álcool

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obtido possui graduação alcoólica de 99,5 a 99,8%17.

Concluído o processo, tanto o etanol puro como o hidratado são envasados e armazenados até serem transportados às distribuidoras17.

Os requisitos de qualidade que permitem que o etanol seja comercializado são definidos pela ANP e devem ser respeitados pelos produtores, por isso é importante um rigoroso sistema de controle de qualidade. Algumas das especificações são em relação ao aspecto, grau de pureza, massa específica e teor alcoólico17. As especificações não apenas regulamentam a comercialização deste produto como também permitem a classificação em etanol comum ou etanol

premium, produto de qualidade e características superiores.

Boa parte das usinas são adaptadas de forma a reaproveitarem 100% dos resíduos obtidos no processo. O bagaço pode ser utilizado na própria usina para a co-geração de energia através da sua queima e o dióxido de carbono pode ser captado para a produção de refrigerantes17.

2.6.2 O Biodiesel

A Petrobrás define o óleo diesel como sendo uma fração da destilação do petróleo, composto não apenas por hidrocarbonetos, mas também concentrações baixas de enxofre, nitrogênio e oxigênio. Possui odor forte e característico e deve ser límpido e ausente de materiais em suspensão. Seu nome deriva do nome do engenheiro e mecânico alemão Rudolf Diesel, inventor do motor a diesel18.

O biodiesel, por sua vez, é um combustível produzido a partir de óleos vegetais extraídos de diversos tipos de matérias-primas: soja, girassol, palma, mamona, dentre outras. Também pode-se produzi-lo a partir de óleos de origem animal, como gorduras suína ou bovina. Sua origem de fontes renováveis o torna menos poluente, integrando assim a esfera dos biocombustíveis19.

Embora o conceito seja recente, as pesquisas acerca da utilização de óleos vegetais como combustível data de 1920 e, com trajetória semelhante a do etanol, foram intensificadas a partir dos dois choques do petróleo, em 1073 e 1979, quando

(29)

surgiu o Programa Nacional de Óleos Vegetais para Produção de Energia (Pró-Óleo) e outros programas menores20.

Porém, somente a partir do ano 2000, com as reestruturações da matriz energética brasileira, o interesse pelo biodiesel foi retomado com finalidades sustentáveis. A principal pauta econômica era a redução das importações de diesel; na esfera ambiental, o biodiesel deveria contribuir com os esforços relacionados à redução dos gases de efeito estufa; e, como potenciais vantagens sociais, deveria impactar na redução das desigualdades sociais na zona rural18.

Em 2005 foi lançado o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodisesel (PNPB) que construiu e fortaleceu a estrutura da cadeia produtiva do biodiesel e foi responsável pela regulamentação desse combustível em território nacional19, 20.

Dez anos depois do lançamento do PNPB, segundo a IEA (Instituto de Economia Agrícola), o programa alavancou os investimentos privados no setor de biodiesel em todo o Brasil e o mercado brasileiro se fortaleceu alcançando a produção e consumo dos Estados Unidos e Alemanha20.

2.7 Os biocombustíveis e o desenvolvimento sustentável

Como explanado anteriormente, o interesse nos biocombustíveis surgiu como uma estratégia energética e econômica em virtude da submissão do Brasil aos países produtores e exportadores de petróleo. Rapidamente os biocombustíveis ganharam importância devido às suas potenciais vantagens econômicas, ambientais e sociais, caracterizando-se como excelente impulsionador do desenvolvimento sustentável21.

Do ponto de vista econômico, os biocombustíveis cumpriram seu papel na criação de uma nova forma de geração de energia, proporcionando maior autonomia do Brasil no setor, diante de um mercado internacional petroquímico em crise e considerando a crescente demanda pelo consumo de energia21.

Considerando as vantagens ambientais, segundo a IEA, a combustão do etanol reduz os níveis de emissão de gases de efeito estufa (gás carbônico, metano

(30)

e óxido nitroso), comparado à combustão da gasolina, em cerca de 46%, quando produzido a partir da beterraba, e 31% a partir de grãos, como é o caso do etanol norte-americano, produzido a partir do milho. A pesquisa aponta ainda que esse número chega a 89% no caso do etanol produzido a partir da cana-de-açúcar21.

Além dos gases de efeito estufa, a queima da gasolina emite quantidades maiores de substâncias nocivas à saúde humana, como o monóxido de carbono, cancerígenos derivados dos hidrocarbonetos, como o benzeno, e dióxido de enxofre, responsável pelas chamadas chuvas ácidas, citadas anteriormente21.

Outra questão positiva é a facilidade de sua logística, uma vez que sendo produzido na forma líquida aproveitaria a mesma estrutura existente para o transporte e distribuição da gasolina20.

Os biocombustíveis também teriam o potencial de democratização da energia. A sua produção gerava promessas de aumento de emprego e renda na zona rural e promoção das famílias através da produção das matérias-primas do etanol e do biodiesel e ainda obtenção de bioeletricidade através da queima dos resíduos21. Este seria um ponto especialmente favorável aos países em desenvolvimento. No Brasil, em 2006 havia cerca de 2 milhões de pessoas com pouco ou nenhum acesso a energia nas zonas rurais.

Por toda essa soma de fatores – ambientais (redução dos gases de efeito estufa e utilização de uma forma de energia limpa e renovável), econômicas (independência da indústria do petróleo e potencial de produção para exportação) e sociais (geração de emprego, renda e promoção das famílias) – os biocombustíveis ganharam destaque como potencializadores do desenvolvimento sustentável no país21.

Porém, com o passar dos anos, observou-se que os desafios existentes na nova política energética nacional que incluía os biocombustíveis iam além do desenvolvimento de tecnologias e ações governamentais para assegurar a qualidade e competitividade dos biocombustíveis dentro e fora do país21. Percebeu-se a necessidade de uma avaliação sistêmica da sua real sustentabilidade.

(31)

políticas públicas voltadas à questão energética nacional, a fim de garantir o futuro do setor sucroalcooleiro e a capacidade do Estado em manter um papel estratégico no fomento da produção de etanol sem abandonar o setor petroquímico, uma vez que o país possui potencial também nesse setor. Ainda considerando-se as questões econômicas, percebeu-se a importância de se conhecer o balanço energético resultante de cada fonte energética, ou seja, a relação entre a energia produzida e a demanda energética para a sua produção, de maneira que se garanta a utilização de culturas que apresentem as maiores produtividades e as menores demandas21.

Dentro da esfera ambiental, era preciso avaliar toda a cadeia produtiva, desde o plantio das matérias-primas e percorrer todo o processo de produção para garantir que se trata de fato de uma energia limpa21. Considerar apenas os benefícios da sua aplicação é insuficiente para assegurar a sustentabilidade.

Na esfera social, a produção dos biocombustíveis apresentaria logo de imediato a vantagem de seu caráter descentralizador – enquanto a energia proveniente de combustíveis fósseis se concentraria em determinadas regiões, a energia da biomassa poderia ser produzida em praticamente todos os países – além das vantagens da geração de empregos e renda21. Porém, é importante que se avalie não apenas a geração de empregos e renda em si, mas os níveis de empregos e renda gerados. O avanço tecnológico promoveu o setor e a abertura de postos de trabalho especializado, mas a mecanização das atividades rurais teve efeito contrário sobre a mão-de-obra rural ao longo dos anos. Também seria preciso uma avaliação quanto a ampliação das fronteiras energéticas impactariam na produção de alimentos. A questão energética se tornou uma possível ameaça à segurança alimentar. E havia ainda um terceiro impacto gerado socialmente: o êxodo rural e a questão fundiária. Por tudo isso, somente uma avaliação criteriosa poderiam mostrar o real impacto social gerado.

(32)

2.8.1 Desafios econômicos

A implementação de políticas públicas nacionais de incentivos às energias renováveis são desafiadas pelas políticas publicas de países desenvolvidos que promovem altas barreiras tarifárias e subsídios aos seus agricultores, o que dificulta a ampliação do mercado internacional de biocombustíveis20.

Esse se constitui o principal desafio econômico enfrentado pelo Brasil no que diz respeito à ampliação da expressividade dos biocombustíveis na economia nacional, bem como a sua exportação20.

2.8.2 Desafios ambientais

Apesar da sua concepção dentro do conceito de sustentabilidade, os biocombustíveis nem sempre representam fontes sustentáveis de energia, uma vez que a produção das suas matérias primas pode impactar profunda e diretamente o meio ambiente. A produção dos biocombustíveis ainda se baseia na agricultura convencional, de manejo altamente produtivo, porém degradante ao meio ambiente por geralmente trazer consigo todo o pacote de práticas: o desmatamento com a finalidade de expandir as fronteiras de plantio, a monocultura e cultivo intensivo do solo, o uso de fertilizantes e outros agentes químicos para o controle de pragas, o elevado consumo de água na irrigação e até mesmo a manipulação genética das culturas envolvidas22.

2.8.2.1 O desmatamento e a ampliação das fronteiras agrícolas

O aumento da produção dos biocombustíveis gera críticas e preocupações com relação ao aumento nas taxas de desmatamento, com a finalidade de expandir as fronteiras agrícolas destinadas para o plantio da cana e da soja22.

Para analisar criticamente o aumento no uso de terras, foram desenvolvidas diversas pesquisas para estabelecer com precisão a real contribuição dos biocombustíveis nesse ponto. Assim surgiu o conceito de Mudança do Uso da Terra, direta e indireta, cujas siglas são dLUC (direct Land Use Change) e iLUC (indirect

(33)

Land Use Change)23.

O principal efeito indireto observado é relacionado à competição de terras destinadas ao uso agrícola para produção de energia com a produção de alimentos. Uma vez que cada vez mais áreas destinadas a produção de alimentos seriam substituídas, novas áreas seriam desmatadas para compensar a demanda original23. Os efeitos diretos são observados e medidos através da análise do desmatamento destinado a abertura de novas terras para a produção de agroenergia.

Mesmo com a criação dessas métricas, a questão divide opiniões e gera intensos debates23.

Um estudo pioneiro realizado pelo Dr. Langeveld, da Biomass Research, analisou a expansão dos biocombustíveis durante 10 anos nos seguintes países: Brasil, Estados Unidos, Indonésia, Malásia, China, Moçambique, África do Sul e nos 27 membros da União Européia, totalizando 34 países. No ano de 2010, esses países produziram juntos 86 bilhões de litros de etanol e 15 bilhões de litros de biodiesel. Nesse mesmo período foi observado um aumento de 25 milhões de hectares no uso de terras destinado a produção mundial de biocombustíveis24.

Entretanto, considerando-se os mesmos países o mesmo período analisado, o uso de terras destinadas ao mesmo fim teria diminuído 9 milhões de hectares, segundo a FAO24. O estudo publicado pela organização mundial conclui que o incremento na produção dos biocombustíveis não estaria associado a um aumento na demanda de terras utilizadas para o plantio das matérias primas. Isso seria explicado pela mecanização da produção, que aumenta consideravelmente a produtividade e também pela intensificação no uso da terra, o que por um lado seria um fator positivo, uma vez que não aumenta a demanda por terras, mas por outro lado, acentua a degradação do solo, o que pode ter efeito contrário e exigir novas propriedades destinadas ao plantio no futuro, ou mesmo ampliar o uso de aditivos químicos para tornar o solo fértil novamente23.

Diante dessas divergências de informações, nem mesmo os índices do iLUC e dLUC conseguem precisar claramente os resultados mais confiáveis. A principal crítica a esses modelos é que se baseiam em aspectos projetados em análises

(34)

futuras da produção de biocombustíveis, sendo fixos e estáveis e baseados em experiências passadas, enquanto os números reais são oscilantes, por responderem diretamente às demandas do mercado nacional e internacional, e não corresponderem a nenhuma projeção já realizada23.

Diante de toda a polêmica e discordância de informações, observa-se a necessidade da criação de metodologias mais assertivas e a atualização dos modelos existentes ou a criação de novos, para que a questão possa ser avaliada com mais precisão e confiabilidade. Também vale ressaltar que a demanda no uso de terras e o desmatamento, dentro do contexto de biocombustíveis, variam em cada país estudado, em virtude das diferenças de políticas públicas regularizadoras e fiscalizadoras23.

2.8.2.2 A monocultura e o cultivo intensivo do solo

No Brasil, observou-se a intensificação da monocultura da cana de açúcar durante o Proálcool, na década de 70. Há décadas conhecem-se bem os efeitos negativos desse tipo de cultura: compactação e degradação do solo, consumo excessivo de água e energia na irrigação e geração de processos de assoreamento de rios e nascentes. O sistema ainda compromete a biodiversidade, aumentando a população de insetos e diversas pragas (consequentemente aumentando o consumo de pesticidas e agroquímicos em geral) e diminuindo a população de animais silvestres22.

Até hoje a monocultura estende-se pelo país, sendo um fator tão evidente que dispensa comprovação por meio de estudos ou publicações científicas. Porém, embora suas consequências sejam conhecidas, seu impacto permanece ignorado e nem sempre levado em consideração quando se avalia a real sustentabilidade dos biocombustíveis22. Enxerga-se aqui a necessidade da avaliação profunda desse tipo de cultivo, e seus efeitos diretos e indiretos, para a geração de combustíveis sustentáveis.

(35)

2.8.3 Desafios sociais

2.8.3.1 Empregos e distribuição de renda

Um dos fatores que mais influenciaram positivamente o desenvolvimento dos biocombustíveis foi o seu potencial ligado a geração de empregos e consequente aumento na distribuição de renda25.

No início da forte expansão da produção dos biocombustíveis, observou-se de fato um positivo incremento nesses fatores. Em relação ao número de empregos gerados no setor, os postos de trabalho passaram de cerca de 380 mil, em 2002 para aproximadamente 620 mil postos registrados em 2013. O aumento foi mais significativo nos postos diretamente relacionados ao processamento da biomassa25.

Esse crescimento da geração de empregos foi substancialmente maior no início do período citado (entre 2002 e 2007), uma vez que a mecanização das atividades impactaram a geração de empregos a partir de 2007, especialmente nas terras do estado de São Paulo25.

O “potencial” observado nos biocombustíveis e a sua crescente representatividade econômica e dentro da matriz energética despertaram os interesses da comunidade técnico-cientifica, incentivando e gerando conhecimento tecnológico que permitiu a mecanização de diversas atividades e operações rurais, em especial no plantio e na colheita da cana-de-açúcar. Essa mecanização gerou uma nova situação onde o número de empregados necessários na cultura da cana-de-açúcar passou a ser significativamente menor que em outras culturas rurais, surgiu aí o forte impacto da expansão da cultura canavieira na agricultura familiar25. Dessa forma, as mudanças tecnológicas implementadas que asseguraram cada vez mais a qualidade, padronização e consequente competitividade dos biocombustíveis, tanto do etanol como no biodiesel, brasileiros, também resultaram na redução no volume de mão de obra empregada25.

(36)

2.8.3.2 A geração de energia e a produção de alimentos

A segurança alimentar é o termo utilizado para definir uma população onde todas as pessoas possuem de forma permanente acesso a alimentos suficientes, seguros e nutritivos que garantam uma vida ativa e saudável. A não garantia disso pode ocorrer por diversos fatores como a pobreza e a falta de condições básicas de sobrevivência como saneamento e água potável, e não necessariamente ocorre devido a indisponibilidade de alimentos ou da produção destes26.

A segurança alimentar pode ser analisada sobre três pilares:

Disponibilidade de alimentos – analisa como os meios produtivos (o principal deles, o solo) são utilizados para que se garanta a oferta de alimentos27;

Acesso aos alimentos – considera o poder aquisitivo da população, a nível individual e familiar, e a distribuição dos alimentos a todas classes sociais27;

Utilização dos alimentos – trata a questão da alimentação a nível nutricional. Avalia se os alimentos atendem às necessidades nutricionais, assegurando o combate a desnutrição e subnutrição populacional27.

A discussão que relaciona os biocombustíveis e a segurança alimentar refere-se ao possível comprometimento dos dois primeiros pilares. Sendo assim, é preciso analisar o impacto da ampla disponibilização de terras para finalidades energéticas em detrimento da produção de alimentos mesmo em um país com grandes áreas produtivas como o Brasil, uma vez que essa substituição pode não comprometer a produção de alimentos, mas pode encarecê-los de forma a não serem acessíveis a toda a população26.

Debates acerca do uso responsável, e porque não dizer sustentável, das terras não são recentes, mas o mais atual contempla a questão da geração de energia26.

Projeções recentes mostram que, considerando o aumento populacional nos países em desenvolvimento e a crescente demanda pelo consumo de carne, a produção de alimentos terá que duplicar até 2050. Esse índice se torna ainda mais difícil de atingir quando se avalia a real disponibilidade de terras aráveis que, após

(37)

décadas de cultivo intensivo, apresentam solos degradados e a diminuição destas terras pelo aumento da urbanização27. Nesse contexto entra a discussão da viabilidade da competição da produção de energias e alimentos.

Essa competição não se dá necessariamente entre os donos de terras, mas a prioridade quanto ao cultivo. Conforme cresce o interesse pela produção de biomassa destinada a geração de energia, diminui-se o interesse pela produção de alimentos27.

Desde 2009, FAO vem destacando sua preocupação com o assunto, afirmando que o crescimento do plantio de biomassa impacta não apenas a disponibilidade de alimentos, mas, diretamente, seus preços. Entre janeiro de 2002 e fevereiro de 2008 foi observado um aumento de 140% nos índices de preços dos alimentos, esse período coincide com o boom dos automóveis flex fuel e que trouxe o renascimento do Proálcool e a segunda expansão na produção do etanol no Brasil27.

No mesmo período foi observado um aumento na produção do etanol nos Estados Unidos e verificou-se que para a produção de 100 litros de etanol era necessária a utilização de 240 quilos de milho27.

Contudo, estudiosos dos setores afirmam que não se deve atribuir apenas a questão dos biocombustíveis ao aumento de preço dos alimentos, uma vez que as últimas décadas também foram marcadas por elevados incrementos nos

commodities, inclusive para alimentos27.

2.8.3.3 A questão fundiária e o êxodo rural

Outro desafio a ser combatido dentro da expansão dos biocombustíveis é a questão fundiária que pode ser diretamente associada ao problema do êxodo rural, sendo ambos consequências diretas da redução do emprego nos campos28.

O crescimento no número de usinas alcooleiras em diversas regiões configurou com o passar dos anos uma estrutura contratual de arrendamento de terras onde os pequenos e médios agricultores “alugavam” suas terras às usinas,

(38)

caracterizando uma concentração fundiária28.

A relação entre os usineiros e agricultores colocava os últimos em situação de. pouco poder de negociação. Os agricultores passaram a ver-se forçados a aceitar os valores e prazos de arrendamento estabelecidos pelos usineiros ou sofreriam riscos de desabastecimento de energia e veriam suas terras perderem valor, por outro lado, o valor pago nem sempre era viável28.

Muitos agricultores perderam poder aquisitivo, viram-se obrigados a vender suas terras e acabaram migrando para as cidades. Essa indireta expulsão de pequenos agricultores de suas terras foi mapeada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) pela última vez em 2011: mais de 5 milhões de pessoas saíram de suas terras entre os anos de 1999 e 2001, e entre os anos de 1985 e 1996 foram fechados mais de 940 mil estabelecimentos rurais com menos de 100 hectares22.

2.9 Indicadores de sustentabilidade

Indicadores são instrumentos geradores de dados e informações a respeito de um determinado objeto de estudo e são muito importantes para a criação e sustento de politicas públicas e na tomada de decisões29.

Os parâmetros observados e quantificados são escolhidos de acordo com o objetivo, pois refletirão na qualidade das informações obtidas ao final da análise29. Nas discussões sobre energia, o uso de indicadores limitava-se à esfera econômica e à eficiência energética apenas, e atuavam como importante componente na tomada de decisões referentes principalmente a investimentos no setor. Por esse motivo são os mais encontrados na literatura, com metodologias mais consolidadas, embora nem sempre com todos dados revelados, dada a íntima ligação com políticas no setor sucroenergético e estratégias públicas29.

Para a avaliação da sustentabilidade dos biocombustíveis, verificou-se a necessidade de indicadores voltados também às esferas ambientais e sociais, considerando-se diversos temas para assegurar a geração de dados confiáveis.

(39)

Assim, os indicadores energéticos tiveram de ser reavaliados e seus objetivos foram ampliados para atender à nova e crescente necessidade por informações.

Assim, em 1999, a Agência Internacional de Energia Atômica, International

Atomic Energy Agency (IAEA) iniciou um robusto programa para a elaboração de

Indicadores para o Desenvolvimento Energético Sustentável (Indicator for

Sustainable Energy Development – ISED) que foram oficialmente apresentados em

2001 e aprimorados em 2005 em conjunto com a IEA, o Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU, United Nations Department of Economic and Social

Affairs (UNDESA – UN-ENERGY), a Agência de Estatísticas da Europa, European Statistics (EUROSTAT) e a Agência do Meio Ambiente da Europa, European Environment Agency (EEA)30.

Os esforços conjuntos internacionais resultaram numa nova série de indicadores que passou a ser chamada Indicadores Energéticos para o Desenvolvimento Sustentável (Energy Indicator for Sustainable Development - EISD)30 com 30 EISDs divididos em fatores econômicos (ECO), sociais (SOC) e ambientais (AMB), conforme apresentado nas tabelas: tabela 3 – Indicadores econômicos; tabela 4 – Indicadores sociais e tabela 5 – Indicadores ambientais.

Tabela 3 - Indicadores Energéticos Econômicos Energy Indicator for Sustainable

Development – EISD

Código Indicador

ECO1 Uso de Energia per capta

ECO2 Uso de energia por unidade do PIB

ECO3 Eficiência da conversão e distribuição de energia ECO4 Relação reservas/ produção

ECO5 Relação recursos/ produção

ECO6 Intensidades energéticas da indústria ECO7 Intensidades energéticas do setor agrícola

(40)

ECO9 Intensidade energética residencial ECO10 Intensidades energéticas do transporte

ECO11 Percentual de combustíveis na energia e eletricidade

ECO12 Percentual de energia não baseada no carbono na energia e eletricidade.

ECO13 Percentual de energias renováveis na energia e eletricidade ECO14 Preços da energia de uso final por combustível e setor ECO15 Dependência líquida de importações de energia

ECO16 Reservas de combustíveis críticos por consumo do combus-tível correspondente

Fonte: Elaborado pelo autor.

Tabela 4 - Indicadores Energéticos Sociais Energy Indicator for Sustainable

Development – EISD

Código Indicador

SOC1 Porcentagem de residências (ou de população) sem eletrici-dade ou energia comercial, ou muito dependentes de energias não comerciais

SOC2 Porcentagem do rendimento familiar gasto em combustível e eletricidade

SOC3 Uso residencial de energia por faixa de renda e correspon-dente combinação de combustíveis utilizados.

SOC4 Vítimas mortais de acidentes por energia produzida por ca-deia de combustíveis

(41)

Tabela 5 – Indicadores Energéticos Ambientais Energy Indicator for Sustainable

Development – EISD

Código Indicador

AMB1 Emissões de gases de efeito estufa (GEE) procedentes da produção e uso de energia, per capta e por unidade do PIB AMB2 Concentrações ambientais de poluentes atmosféricos nas

áreas urbanas

AMB3 Emissões de poluentes atmosféricos procedentes dos siste-mas energéticos

AMB4 Descargas de contaminantes em efluentes líquidos proceden-tes dos sistemas energéticos, incluindo as descargas de pe-tróleo

AMB5 Área de solo onde a acidificação excede carga crítica AMB6 Taxa de desflorestamento atribuída ao uso de energia Fonte: Elaborado pelo autor.

Com o passar dos anos, a evolução da tecnologia nos setores energéticos, a modificação nas formas de colheita e plantio, no uso, distribuição e transporte da energia, as modificações observadas no meio ambiente, dentre tantos outros fatores levaram a constantes atualizações nos EISD para que estejam sempre alinhados às reais necessidades e à realidade do setor e possam, de fato, atuar como tomadores de decisão e apresentar dados e informações com as menores incertezas30.

Para este trabalho, foram pesquisados os diferentes conjuntos de indicadores atualmente existentes, aperfeiçoados por diferentes instituições de todo o mundo. A tabela 6 apresenta a relação dos principais grupos de indicadores frequentemente citados na literatura e as instituições que os desenvolveram.

Tabela 6 - Instituições ligadas à pesquisas sobre Indicadores Energéticos

(42)

- Helio International França

- Hydro-Québec Canadá

ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica Brasil ANRE Agency for Natural Resources and Energy Japão

- Petrobras Brasil

EFCHINA Energy Foundation of China China

EUROSTAT European Statistics Europa

FEPC Federation od Electric Power Companies of Japan

Japão IAEA International Atomic Energy Agency ONU

IEA International Energy Agency ONU IPCC Intergovernmental Panel on Climate

change

ONU MME Ministério de Minas e Energia Brasil

OLADE Organización Latinoamericana de Energía América Latina e Caribe

SHAKTI Shakti Sustainable Energy Foundation Índia TVA Tennessee Valley Authority EUA

UN-ENERGY

United Nations’ Interagency Mechanism

on Energy

ONU

WEC World Energy

Council

ONU Fonte: Elaborado pelo autor

Alguns países possuem conjuntos mais robustos e específicos de indicadores de sustentabilidade para as formas de geração de energia, podendo-se destacar a Helio International (França), Hydro-Québec (Canadá), Tennespodendo-see

Valley Authority (Estados Unidos), dentre outras30.

Um conjunto de indicadores que merece destaque é o World Energy Council

(WEC), originado pela ONU e embassado em pesquisas recentes, sendo referência

para muitos conjuntos de indicadores de diversos países30.

(43)

de indicadores energéticos voltados ao desenvolvimento sustentável. Os indicadores utilizados trazem informações sobre os diversos tipos de energia que constituem a matriz energética nacional, o que dificulta a avaliação criteriosa dos biocombustíveis como sustentáveis.

O Brasil também participa ativamente da instituição WEC e utiliza seus sistemas de indicadores de sustentabilidade, embora não especificamente para os biocombustíveis, como já foi mencionado30.

Uma ressalva importante é que em todos os sistemas de indicadores ou sites das instituições consultadas, percebeu-se que, embora a avaliação de sustentabilidade tenha se tornado uma avaliação de caráter multidisciplinar, o foco ainda é predominantemente na esfera econômica30.

O que se pode observar é que na esfera econômica, os indicadores são, em geral, antigos, criados anteriormente à discussão sobre sustentabilidade. Por esse motivo, são os indicadores mais robustos e claros, cumprindo ao papel inicial de servirem como auxiliadores na tomada de decisões30.

Com relação aos indicadores correspondentes às questões sociais, percebe-se que estes percebe-se relacionam à demanda energética, renda e despesas com energia e um deles apresenta uma contagem de vítimas mortais por ano relacionado à cadeia de combustíveis30. Porém, faltam parâmetros sociais a serem analisados profundamente quando se pretende avaliar a sustentabilidade, além de novamente os parâmetros existentes não serem sempre específicos para as formas renováveis de energia.

A dimensão ambiental é que a possui o maior número de indicadores. Entram em destaque as medidas de emissões de GEE e outros poluentes, além de diferentes tipos de contaminações, descarte de resíduos, etc. A defasagem aqui fica por conta da não avaliação dos impactos que a produção de biocombustíveis causam na biodiversidade29.

2.10 Projetos e Iniciativas

O cenário nacional dos biocombustíveis contou também, ao longo de alguns anos, com uma série de projetos e iniciativas, públicas e privadas, com a finalidade

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