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PARECER JURÍDICO A DISCUSSÃO ACERCA DO AUMENTO ABUSIVO DO IPTU

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Daniel Lopes

Leão Advogados Associados

Brasília/DF, 2 de novembro de 2013

PARECER JURÍDICO

A DISCUSSÃO ACERCA DO AUMENTO ABUSIVO DO IPTU

EMENTA:

ADMINISTRATIVO. TRIBUTÁRIO. AUMENTO ACIMA DO VALOR DA INFLAÇÃO. SÚMULA 160 /STJ. PROVA DE QUE O AUMENTO SE DEU EM ÍNDICES ACIMA DA INFLAÇÃO. VALOR DE MERCADO DO IMÓVEL OBJETO DE IMPUGNAÇÃO. AUMENTO EM CARÁTER CONFISCATÓRIO. CONFISCO VEDADO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL IMPOSSIBILIDADE.

I – A CONSULTA.

Em breve síntese, tem-se que o interessado recebeu ou está na eminência de receber em sua residência o carnê do IPTU, porém com um aumento abusivo relacionado tanto com o aumento da alíquota do imposto, como com a correção venal do imóvel. Ocorre que como veremos logo a seguir, esse aumento deve obedecer aos índices de inflação do ano anterior. Caso extrapole esses índices podemos classificar o aumento como abusivo e confiscatório, o que é vedado em nossa Constituição Federal de 1988.

II – DO REAJUSTE ABUSIVO – ACIMA DOS ÍNDICES INFLACIONÁRIOS

1. - Em vários municípios, o lançamento do IPTU vem causando grande

confusão entre os contribuintes, principalmente, por trazer aumentos abusivos em índices superiores a da inflação verificada no ano anterior. Tratando-se de 2012, tem-se que a inflação foi aproximadamente de 6%.

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2. - Existem lançamentos registrando reajustes de mais de 100%, que em

alguns casos chegam a ultrapassar 500%. Inconformados, os contribuintes procuram as prefeituras para reclamar e ameaçam ir à Justiça contra o aumento que entendem abusivo.

3. - Toda essa questão decorre, em boa parte, por conta da omissão de

prefeitos que não fizeram os reajustes da base de cálculo (valor venal do imóvel) anualmente, permitindo que a defasagem entre ela e o valor lançado criasse uma diferença de grande monta, quer surpreende negativamente o contribuinte.

4. - O valor venal, sendo a base de cálculo do imposto, deve ser apurado

objetivamente, tendo em conta o imóvel que deve ser considerado individualmente. Muitas vezes, imóveis com área construída similar e localizados no mesmo bairro possuem valor diferente, tendo em vista o estado de conservação, o uso a que se destinam, a qualidade da construção e acabamento, a idade dos imóveis (depreciação) etc.

5. - O lançamento deve estar o mais próximo possível da realidade. Cabe ao

contribuinte impugnar o valor exagerado, o que se prevê no artigo 148 do Código Tributário Nacional, mediante processo regular. Todavia, a eventual discussão não suspende o pagamento, a menos que o contribuinte deposite o valor questionado.

Art. 148. Quando o cálculo do tributo tenha por base, ou tome em consideração, o valor ou o preço de bens, direitos, serviços ou atos jurídicos, a autoridade lançadora, mediante processo regular, arbitrará aquele valor ou preço, sempre que sejam omissos ou não mereçam fé as declarações ou os esclarecimentos prestados, ou os documentos expedidos pelo sujeito passivo ou pelo terceiro legalmente obrigado, ressalvada, em caso de contestação, avaliação contraditória, administrativa ou judicial.

6. - A atualização do valor venal de um ano para outro pode ultrapassar a

correção monetária, desde que haja lei autorizando. Esse é o entendimento da jurisprudência, como se vê na Súmula 160 do STJ:

“É defeso ao município atualizar o IPTU mediante decreto em percentual superior ao índice oficial de correção monetária.”

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valor monetário da base se cálculo não é aumento do tributo. Portanto, a correção monetária pelos índices oficiais não é aumento. Mas o mesmo artigo diz que qualquer aumento (além da correção) só pode ser feito por meio de lei. Assim, a primeira questão a ser verificada é se o reajuste do valor venal tem fundamento em lei. Se for através de decreto, o aumento é indevido.

Art. 97. Somente a lei pode estabelecer: I - a instituição de tributos, ou a sua extinção;

II - a majoração de tributos, ou sua redução, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65;

III - a definição do fato gerador da obrigação tributária principal, ressalvado o disposto no inciso I do § 3º do artigo 52, e do seu sujeito passivo;

IV - a fixação de alíquota do tributo e da sua base de cálculo, ressalvado o disposto nos artigos 21, 26, 39, 57 e 65;

V - a cominação de penalidades para as ações ou omissões contrárias a seus dispositivos, ou para outras infrações nela definidas;

VI - as hipóteses de exclusão, suspensão e extinção de créditos tributários, ou de dispensa ou redução de penalidades.

§ 1º Equipara-se à majoração do tributo a modificação da sua base de cálculo, que importe em torná-lo mais oneroso.

§ 2º Não constitui majoração de tributo, para os fins do disposto no inciso II deste artigo, a atualização do valor monetário da respectiva base de cálculo.

8. - A apuração do valor correto do imóvel nem sempre é simples e cabe ao

contribuinte o ônus da prova de demonstrar que a correção monetária extrapolou a simples atualização. Por exemplo, determinado imóvel foi avaliado neste ano em R$ 500 mil, mas há cerca de um ano o proprietário tenta vendê-lo por valor menor e não consegue.

9. - Tal situação muitas vezes nada tem a ver com o lançamento, podendo ser

resultado da especulação imobiliária ou da crise no mercado, que pode ser setorial, localizada, como na hipótese de anúncios de obras públicas, temor de desapropriações, falta de liquidez ou financiamento, ou mesmo questões específicas relacionadas com o imóvel e que prejudicam negócios: inventários, problemas fiscais, falta de certidões, etc.

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10. - Portanto, a discussão sobre o valor venal deve ser estudada com atenção e se necessário, baseada em avaliação extrajudicial, feita por perito (engenheiro ou arquiteto), registrando-se que em juízo as avaliações feitas por corretores de imóveis geralmente não são aceitas ou podem ser questionadas.

11. - Nesse sentido vejamos o entendimento do Supremo Tribunal Federal:

“É inconstitucional a majoração, sem edição de lei em sentido

formal, do valor venal de imóveis para efeito de cobrança do IPTU, acima dos índices oficiais de correção monetária. Com base

nessa orientação, o Plenário negou provimento a recurso

extraordinário em que se discutia a legitimidade da majoração, por decreto, da base de cálculo acima de índice inflacionário, em

razão de a lei municipal prever critérios gerais que seriam aplicados quando da avaliação dos imóveis. Ressaltou-se que o aumento do valor venal dos imóveis não prescindiria da edição de lei, em sentido formal. Consignou-se que, salvo as exceções expressamente previstas no texto constitucional, a definição dos critérios que compõem a regra tributária e, especificamente, a base de cálculo, seria matéria restrita à atuação do legislador. Deste modo, não poderia o Poder Executivo imiscuir-se nessa seara, seja para definir, seja para modificar qualquer dos elementos da relação tributária. Aduziu-se que os Municípios

não poderiam alterar ou majorar, por decreto, a base de cálculo do IPTU. Afirmou-se que eles poderiam apenas atualizar, anualmente, o valor dos imóveis, com base nos índices anuais de inflação, haja vista não constituir aumento de tributo (CTN, art. 97, § 1º) e, portanto, não se submeter à reserva legal imposta pelo art. 150, I, da CF. O min. Roberto Barroso, embora tivesse

acompanhado a conclusão do relator no tocante ao desprovimento do recurso, fez ressalva quanto à generalização da tese adotada pela Corte. Salientou que o caso concreto não envolveria questão de reserva de lei, mas de preferência de lei, haja vista a existência da referida espécie normativa a tratar da matéria, que não poderia ser modificada por decreto.” (RE 648.245, rel. min. Gilmar Mendes,

julgamento em 1º-8-2013, Plenário, Informativo 713, com repercussão geral.) Vide: RE 234.605, rel. min. Ilmar Galvão,

julgamento em 8-8-2000, Primeira Turma, DJ de 1º-12-2000.

12. - Em qualquer hipótese deve o contribuinte afastar-se de soluções ilícitas ou “milagrosas”, oferecidas por supostos consultores ou intermediários. Essas ações geralmente são criminosas e o contribuinte não pode se tornar cúmplice de delinquentes.

13. - Quanto à alíquota, ela deve estar fixada por lei municipal e pode ser progressiva em razão do valor do imóvel (CF, art. 156, § 1º). Pode ainda a alíquota variar conforme o uso do imóvel. Não existindo uma alíquota uniforme no IPTU, ela pode variar de um local para outro, como determina a lei do respectivo município. Por exemplo: Em Iguape (SP), cobra-se 5% do valor venal,

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enquanto em São Paulo, capital, varia de 1,5 a 2%. A tal alíquota de 5% parece ser confiscatória, pois num espaço de 20 anos transfere-se o valor do imóvel para os cofres públicos.

Art. 156. Compete aos Municípios instituir impostos sobre: I - propriedade predial e territorial urbana;

II - transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição;

III - serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos em lei complementar. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993)

IV - (Revogado pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993)

§ 1º Sem prejuízo da progressividade no tempo a que se refere o art. 182, § 4º, inciso II, o imposto previsto no inciso I poderá: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)

I - ser progressivo em razão do valor do imóvel; e (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)

II - ter alíquotas diferentes de acordo com a localização e o uso do

imóvel. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)

14. - A Constituição (art. 150, IV) proíbe o uso de imposto com efeito de confisco. No caso do IPTU essa possibilidade não pode ser aceita, ante o que assegura o artigo 6º da mesma Constituição Federal, que considera a moradia um dos direitos sociais de qualquer cidadão. Quer nos parecer, portanto, que é necessária a fixação de uma alíquota máxima a ser definida em lei complementar, como já existe para o ISS. Sem isso existe a possibilidade de confisco.

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e

aos Municípios:

IV - utilizar tributo com efeito de confisco;

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 64, de 2010)

15. - Quem entender que o lançamento do IPTU está exagerado deve reclamar na administração municipal, o que está garantido pelo artigo 148 do CTN. Uma discussão judicial, contudo, só pode ser adequada em valores de grande monta, de preferência depositando-se o valor questionado para garantir proteção para os juros e a correção. Considere-se ainda que uma ação judicial implica em custas e honorários advocatícios a pagar, além de despesas que incluem eventual perícia

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de engenharia.

16. - Não existe advogado que em ação desse tipo possa garantir êxito. Trata-se, pois, de ação de risco que deve ser avaliado com critério. Não podemos esquecer que o imóvel pode ser penhorado para cobrança desse imposto.

17. - Dessa forma, nós da banca LEÃO ADVOGADOS ASSOCIADOS sugerimos aos contribuintes que tenham interesse em ingressar com ações de natureza individual, o ajuizamento das seguintes ações:

1º - Mandado de segurança Preventivo 2º - Ação declaratória

3º - Ação anulatória

Sendo que nas duas primeiras opções o lançamento ainda não ocorreu, ou seja, é uma forma preventiva de evitar ter de pagar por um aumento abusivo e que não está em consonância com as diretrizes constitucionais. Enquanto que na 3º opção, o lançamento tributário já ocorreu, dessa forma devemos anular o ato de lançamento.

É o que me parece. Daniel Lopes

Fontes:

Revista Consultor Jurídico Site: www.tributario.net

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