Sinalização Molecular
Envelhecimento
1. Instabilidade genómica e envelhecimento 1.1. função das sirtuínas
1.1. função das sirtuínas
2. A teoria mitocondrial do envelhecimento
3. Restrição calórica, sinalização celular e longevidade 3.1. função das sirtuínas
3.2. via da insulina-IGF-1, do TOR e da AMPK
Vítor Costa (vcosta@ibmc.up.pt)
Envelhecimento caracteriza-se
Envelhecimento caracteriza-se pela perda progressiva de
funções celulares diminuição diminuição da resposta a stress acumulação acumulação de danos moleculares Suscetibilidade a doenças e probabilidade de morte
Envelhecimento Cronológico: fatores de risco aumentam com o tempo Glicosilação: glucose liga-se e inibe DNA, proteínas e lípidos Stress oxidativo: danos oxidativos DNA, proteínas e lípidos Instabilidade genómica Senescência replicativa
Senescência celular / Limite de Hayflick
Células perdem a capacidade de se dividir
• associado com o encurtamento dos telómeros Ageing studies
Senescência do organismo
Envelhecimento cronológico Add life to years, not
Senescência Replicativa
Leonard Hayflick e Paul Moorhead (1965):
- fibroblastos embriónicos isolados de um indivíduo possuem um potencial proliferativo limitado in vitro
- essas células apenas são capazes de passar por um número pré-determinado de ciclos de crescimento e divisão
de ciclos de crescimento e divisão
Células senescentes permanecem metabolicamente ativas
Associado ao encurtamento dos telómeros
Fibroblastos embriónicos de rato (MEF) senescentes
Antes da senescência, na 2ª passagem.
MEFs são fusiformes. Antes da senescência, na 2ª
passagem.
MEFs são fusiformes.
Após senescência, na 8ª passagem. MEFs ficam maiores e achatadas. Zonas azuis-esverdeadas indicam a
expressão de beta-galactosidase associada a senescência
Telómeros
sequências repetitivas de DNA não-codificante (milhares de repetições tandem do hexanucleótido TTAGGG, em mamíferos)
localizados nas extremidades dos
cromossomas – funcionam para proteger os cromossomas de fusões entre
extremidades
Stewart and Weinberg (2006) Annu. Rev. Cell Dev. Biol. 22, 531-557 extremidades
A diminuição dos telómeros abaixo de certo comprimento pode provocar uma crise celular
Envelhecimento está associado a uma acumulação de danos no DNA, provocados por:
- fatores endógenos (ex., ROS)
- fatores exógenos (ex., radiação, químicos, vírus)
Mutações em genes associados à reparação do DNA, supressores Instabilidade genómica e envelhecimento
Mutações em genes associados à reparação do DNA, supressores tumorais, estabilidade genómica ou manutenção dos telómeros levam a um envelhecimento acelerado
Longevidade tem sido associada a uma maior eficiência na reparação do DNA
5 Helicases tipo RECQ no Homem: - RECQ1, BLM,WRN, RTS e RECQ5.
Deficiência Síndromes progeróides
BLM Bloom
WRN Werner
RTS Rothmund–Thomson
- Participam na reparação de quebras em dsDNA - Participam na reparação de quebras em dsDNA
- Deficiência resulta em deleções, translocações ou outras aberrações cromossomais - Síndromes caraterizados por elevada incidência de cancro
Síndrome de Werner
Sirtuínas
Histona deacetilases tipo III (HDACs)
SIRT1 tem função importante na estabilidade genómica Sirtuína Localização intracelular Substrato Função SIRT1 Núcleo e citoplasma Histona H4, NK-kB, p53, FOXO, PGC-1α, PPARγ, eNOS Sobrevivência, diferenciação, inflamação, metabolismo
Chung et al. (2010) Arch. Biochem. Biophys. 501, 79-90 eNOS
SIRT2 Citoplasma α-Tubulina, histona H4 Ciclo celular SIRT3 Núcleo e
mitocôndria
Acetil-CoA sintetase Metabolismo SIRT4 Mitocôndria ADP-ribosil transferase Metabolismo
SIRT5 Mitocôndria Proteínas mitocondriais Função mitocondrial SIRT6 Núcleo ADP-ribosil transferase,
Histona H3
Reparação de DNA SIRT7 Núcleo RNA polimerase I Transcrição de rRNA
Caraterização de mecanismos celulares básicos conservados durante a evolução:
• replicação do DNA • recombinação • divisão celular
Organismos modelo (
S. cerevisiae
,
C. elegans
,
Drosophila
)
• divisão celular
• enrolamento de proteínas • transporte intracelular • metabolismo
compreensão de doenças
Curvas de sobrevivência em diferentes espécies
Man Mouse
S. cerevisiae(replicative) C. elegans
Seis-divisões
Alterações celulares durante o envelhecimento replicativo em leveduras
Células virgens: pequenas superfície suave Células mãe: grandes rugas/cicatrizes aparência granulada
Powell et al. (2000) Microbiol 146:1023-1034
Sirtuínas e estabilidade genómica
SIRT1 de mamíferos: ortólogo do Sir2 (silent information regulator 2) de leveduras
Sir2 aumenta até 70% a longevidade em S. cerevisiae, Drosophila e C. elegans
Proteínas deacetiladas por SIRT1 e Sir2: - histonas
- proteínas envolvidas na reparação do DNA ou com função como sensores - proteínas envolvidas na reparação do DNA ou com função como sensores
Chen and Guarente (2007) TRENDS Mol. Med. 13, 64-71
Teoria da acumulação de danos oxidativos
O envelhecimento está relacionado com a acumulação de danos celulares
provocados por espécies reativas de oxigénioformadas pelo metabolismo normal das células
Denham Harman [1956]
Superexpressão de MnSOD aumenta a longevidade em Drosophila
Várias manipulações genéticas aumentam a longevidade por um mecanismo associado à indução da atividade de MnSOD
Superexpressão de uma catalase endereçada para a mitocôndria aumenta a longevidade em ratos, diminuindo danos oxidativos, deleções no mtDNA e patologia associadas ao envelhecimento
ROS são tóxicas e causam senescência ou podem ter efeitos benéficos e promover longevidade?
Ratinhos transgénicos com atividade aumentada de MnSOD não têm maior longevidade e podem apresentar atrasos no desenvolvimento e fertilidade diminuída
Efeito hormesis de ROS
A deficiência em MnSOD aumenta a longevidade em C. elegans A deficiência em catalase aumenta a longevidade em S. cerevisiae
A restrição calórica aumenta a longevidade por um mecanismo associado com o aumento do metabolismo mitocondrial e da produção de ROS N ív e is d e R O S Senescência Resposta adaptativa:
- reparação de danos celulares - indução de defesas celulares
Morte N ív e is d e R O S
- indução de defesas celulares
Proliferação, Diferenciação
ROS
ROS
Stress
Ageing Disease
Protein Oxidised protein Oxidised protein
Mitochondrial dysfunction
accumulation
Peptides / Aminoacids
Protein Oxidised protein
aggregates Oxidised protein repair Lysosomal protease 20S proteasome accumulation Envelhecimento Disfunções mitocondriais ROS Oxidação de proteínas Agregação de proteínas Danos no DNA ↓ ATP proteínas DNA Síndrome Metabólico Cancro Doenças Neurodegenerativas Senescência Apoptose
defesas antioxidantes
envelhecimento
danos oxidativos
Durante o envelhecimento replicativo, as proteína oxidadas
acumulam-se na célula mãe
radicais superóxido proteínas oxidadas mitocôndria Aguilaniu et al (2003) Science 99:1751-1753
Segregação de agregados de proteínas oxidadas durante citocinase
Chaperones (Hsp104) formam uma ponte entre agregados carbonilados e o citoesqueleto passagem dos agregados para a célula filha
Erjavec et al. (2007) Genes Dev 21, 2410-2421
Transporte de mitocôndrias reduzidas para a célula filha (Sir2-dependente)
Nyström T. (2013) Curr Biol. 23:R1037-9
Deficiência na sirtuína Sir2 aumenta a transferência de mitocôndrias oxidadas da célula mãe para a célula filha
Nyström T. (2013) Curr Biol. 23:R1037-9
CCT (chaperonina)
envolvida no enrolamento da actina atividade regulada pela deacetilase Sir2
Lippuner et al. (2014) FEMS Microbiol Rev 38, 300
Resveratrol
ativador da sirtuína Sir2 / SIRT1 estimula a biogénese mitocondrial
Folhas de gengibre usadas para revestir alimentos e bolos de arroz (mochi) - contêm resveratrol Centenários em Okinawa: 39.5 : 100 000 Restrição calórica (< 20% vs população Japonesa) Japaneses consumem menos ~ 1000 calorias/dia vs Americanos
Jeanne Calment (Francesa) faleceu aos 122 anos. O seu segredo?
azeite
vinho do porto
chocolate (cerca de 1Kg/semana) azeite
vinho do porto
chocolate (cerca de 1Kg/semana)
Envelhecimento
3. Restrição calórica, sinalização celular e longevidade 3. Restrição calórica, sinalização celular e longevidade 3.1. função das sirtuínas
Restrição calórica
Mary Crowell and Clive McCay (1934):
- Restrição calórica (RC) aumenta a longevidade em ratinhos
Redução moderada na ingestão de calorias
Intervenção mais eficaz no aumento da longevidade em diversas espécies, incluindo mamíferos
Também retarda ou reduz a incidência de doenças relacionadas com o envelhecimento: cancro, diabetes e doenças cardiovasculares
Restrição calórica e função mitocondrial
Aumento da respiração e nº mitocôndrias/célula
- requer eNOS: NO ativa SIRT1
- SIRT1 deacetila e ativa eNOS (feedback positivo) SIRT1 deacetila PGC-1α
- Peroxisome-proliferator-activated receptor γ coactivator 1α
- ativador transcricional de genes que codificam para proteínas mitocondriais Restrição calórica em ratinhos
Resveratrol (ativador de SIRT1) estimula a biogénese mitocondrial
Aumento de SIRT1, eNOS e nº mitocôndrias em biópsias musculares Restrição calórica no Homem (6 meses)
Biogénese mitocondrial e ROS
Função de SIRT1/Sir2 e via de recuperação de NAD+
Restrição calórica: - respiração
NAD+/NADH
- Estimula a via de recuperação de NAD+
Dali-Yousef et al (2007) Annals Med. 39, 335-345
Ativação de SIRT1/Sir2
- Estimula a via de recuperação de NAD+
NAM (inibidor de SIRT1/Sir2)
NAM: nicotinamida
NMN: nicotinamida mononucleótido NA: ácido nicotínico
Restrição
calórica e
Sirtuínas
Via do
Via da
insulina-
calórica e
sinalização
Via do
TOR
AMP
cinase
insulina-IGF-1
Dali-Yousef et al (2007) Annals Med. 39, 335-345
Genómica funcional: expressão genética global e envelhecimento
Restrição calórica ativa FOXO
IRS
PI3K
Insulina / IGF-1
IRS PI3K PDK1 P AKT P
P P P PDK1 Restrição Calórica AKT FOXO
Genes alvo Genes alvo
FOXO P Resposta a Stress Autofagia … AKT P P mTORC1 mTORC1
ROS
Em organismos modeloMutações no recetor da insulina/IGF-1 ou proteínas ativadas nessa via (PI3K ou AKT) aumentam a longevidade e a resistência ao stress oxidativo.
Em centenários
Existe uma correlação entre longevidade e polimorfismos em genes que codificam para o recetor de IGF-1, a AKT e o FOXO.
TOR (Target of Rapamycin)
- Ser/Thr proteína cinase altamente conservada
- Regulador do crescimento e metabolismo – resposta a: fatores de crescimento (insulina, IGF-1)
nutrientes (aminoácidos) estado energético
estado energético stress
- está presente em 2 complexos estrutural e funcionalmente distintos: mTORC1 e mTORC2
Proteólise dependente de ubiquitina Transcrição Síntese de proteínas Metabolismo mitocondrial
TOR inibe processos catabólicos TOR ativa processos anabólicos
Autofagia Degradação de mRNA Biogénese de ribossomas Transporte de nutrientes mTORC1:
• constituído por deptor, PRAS40, raptor, mLST8, mTORe TTI1-TEL2 • é sensível à rapamicina:
- composto isolado de bactérias do solo da Ilha da Páscoa
- forma um complexo com a proteína FKBP12 e liga-se diretamente ao mTORC1 - propriedades antibacterianas e antifúngicas
mTORC1
- ativa a síntese de proteínas via fosforilação de S6K e 4E-BP1 - inibe a autofagiavia fosforilação de ULK1 e ATG13
(componentes do complexo de iniciação da autofagia) Insulina / IGF-1 IRS PI3K PDK1 AKT P P P P P TSC1 TSC2
Rheb: homólogo da Ras; ativa quando ligada a GTP
TSC (tuberous sclerosis complex): GAP (GTPase-activating protein) específica para o Rheb
4E-BP1 (eukaryotic initiation factor 4E (eIF4E) binding protein 1): quando fosforilada, liberta eIF4E liga-se a mRNAs e recruta o complexo de iniciação ribossomal Rheb: homólogo da Ras; ativa quando ligada a GTP
TSC (tuberous sclerosis complex): GAP (GTPase-activating protein) específica para o Rheb
4E-BP1 (eukaryotic initiation factor 4E (eIF4E) binding protein 1): quando fosforilada, liberta eIF4E liga-se a mRNAs e recruta o complexo de iniciação ribossomal
P mTORC1 TSC2 Rheb S6K1 Autofagia 4E-BP1 P P P Síntese de proteínas GTP RhebGDP
Sinalização por aminoácidos para mTORC1
Jewell and Guan (2013) Trends Biochem Sci 38, 233-242
Rag:
- pequena GTPase ativada por aminoácidos específicos (ex., Leu) - recruta o mTORC1 para os lisossomas, onde é ativado pela Rheb
Regulação da autofagia pelo TORC1
A restrição calórica induz a autofagia via: - inibição do TORC1
- ativação de SIRT1 e FOXO
mTORC2:
• é constituído por Deptor, mLST8, Protor, Rictor, mSIN1, mTORe TTI1-TEL2 • é insensível à rapamicina
• associa-se a ribossomas por uma via ativada por PI3K, regulando: - o FOXO1 via fosforilação de Akt/PKB
- actina citoesqueleto através das proteínas PKCα, Rho GTPase e Ras Insulina / IGF-1 IRS PI3K PDK1 AKT P P P P P FOXO1 Ribossoma mTORC2 Longevidade Rho PKCα Ras Actina/citoesqueleto
Função da AMPK na regulação da autofagia
Roach P J (2011) Mol. Cell. Biol. 31, 3082-3084
AMPKinibe o mTORC1 por 2 mecanismos: - ativação da TSC1 por fosforilação numa Ser - fosforilação da Raptor
AMPKativa a Atg1/ULK1
Glucose Aminoácidos
AKT TSC1/2
AMPK
AMP
Sinalização por nutrientes e envelhecimento
FOXO TORC1 S6K PGC-1α Respostas ao stress Biogénese mitocondrial Autofagia
Envelhecimento
Tradução Biogénese de ribossomasGlucose Aminoácidos AKT TSC1/2 AMPK AMP