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As mulheres afros-descendentes inspiram sambas-enredo das agremiações carnavalescas paulistanas ( ) ZELIA LOPES DA SILVA *

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As mulheres afros-descendentes inspiram sambas-enredo das agremiações carnavalescas paulistanas (1974 - 1988)

ZELIA LOPES DA SILVA*

As questões relativas às mulheres ganharam visibilidade mundial em 1975 com a decretação pela Organização das Nações Unidas - ONU do Ano Internacional da Mulher e o dia 8 de março o Dia Internacional da Mulher. Tais resoluções foram resultantes dos embates feministas ocorridos nos Estados Unidos da América, Europa e alhures contra as diferentes formas de opressão a que as mulheres estavam submetidas. O objetivo da ONU foi abrir espaço para a promoção de debate mundial de valorização e de combate a todas as formas de preconceitos praticadas contra as mulheres. O Brasil oficial, dominado pela ditadura dos militares, ignorou o assunto considerando que muitas das mulheres militantes políticas foram presas e centenas delas terminaram mortas sob tortura nos porões da repressão instituída por esses governos. Esse foi o tratamento dado aos seus opositores, independentemente do sexo2.

Esse contexto opressor e violento vivido no Brasil parece não ter influenciado a escolha dos tributos às mulheres pelas escolas de samba, classificadas nos diferentes Grupos, mesmo porque as homenagens tiveram trajetória própria considerando que os sambas-enredo dedicados às mulheres, brancas ou negras, remontam à década de 1950. Contudo, as indicações mais expressivas de sambas-enredo sobre temas femininos ocorreram na década de 1980, sem que houvesse inter-relação com o término da ditadura militar em 1985, considerando que foram poucas escolas de samba dos Grupos Especial e Grupo I, de maior visibilidade e prestígio, que trouxeram tal tema.

A cartografia do assunto traz algumas surpresas. Não obstante o recorte desse artigo ser o período de 1974 a 1988 cujos sambas-enredo dos Grupo 1 e Grupo Especial abordaram o gênero feminino, convém apresentar algumas informações gerais sobre os

* Universidade Estadual Paulista – Unesp. Livre-Docente integrante do Programa de Pós-Graduação em História da Unesp. Aposentada.

2 Maria Amélia de Almeida Teles traz no texto Violações dos direitos humanos das mulheres na ditadura os seguintes dados: O Projeto Brasil Nunca Mais analisou os casos de 7.367 militantes processados pela justiça militar, e destes 12% eram mulheres. O Estado Maior do Exército fez um levantamento de presos políticos que se encontravam nos quartéis, num determinado momento do ano de 1970 e chegou a um total de mais de 500 militantes. Desse total, 56% eram estudantes, com idade média de 23 anos, 26% eram mulheres. Na Guerrilha do Araguaia, ocorrida no sul do Pará, entre 1972 e 1975, dos 70 guerrilheiros desaparecidos, 17% eram mulheres (Apud Teles, 2011:1008).

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motes de seu aparecimento na década de 1950 ao ano de 1991, data de inauguração do Sambódromo Grande Otelo que consagra o carnaval-show, de luxo, seguindo o paradigma dos festejos carnavalescos do Rio de Janeiro.

O retrospecto dessas indicações é indicativo de presença acanhada dessas protagonistas nesses eventos, o que não faz jus as suas contribuições ao país. Tanto é assim que apenas trinta e oito sambas-enredo de escolas de sambas dos Grupos Especial, 1, 2, 3, 4 e Vaga Aberta dedicaram às mulheres esses tributos. Os dados são os seguintes: na década de 1950 tem-se apenas um samba-enredo; na década seguinte são quatro enredos; durante a década de 1970 tem-se dez sambas-enredo; na década de 1980 esse número sobe para dezenove enredos e, em 1990 e 1991, quatro enredos homenageiam o gênero feminino3, sendo que nenhum deles foi do Grupo Especial ou Grupo 1.

Essa performance de temas sobre o gênero feminino é ainda mais limitada se tomarmos os enredos das escolas de samba classificadas nos Grupo 1 e Grupo Especial4 que tinham maior visibilidade nas passarelas do samba e na mídia. Por exemplo, seguindo o recorte desse texto (1974 e 1988) centrado nas escolas dos Grupos Vips tem-se a presença de seis sambas-enredo sobre mulheres, sendo apenas três deles dedicados a mulheres negras que se tornaram musas inspiradoras para estruturar os desfiles de algumas dessas escolas de samba, já sob a oficialização desses festejos na cidade. Essa diminuta presença de mulheres negras como motes dos desfiles carnavalescos não corrobora a sua trajetória histórica. No passado, essas mulheres negras tiverem papel fundamental na participação da luta para romper os grilhões da escravidão. Após a abolição da escravidão, em 1888, elas se destacaram reorganizando e sustentando as suas famílias, com o seu trabalho, na condição de profissionais domésticas, cozinheiras, quituteiras, lavadeiras, etc. (VELLOSO, 1990). Ou seja, tal situação certamente traduz-se em postura traduz-sexista, considerando a trajetória aguerrida das mulheres negras, durante e após o cativeiro. Além de serem ignoradas em certas situações, tiveram que enfrentar o machismo e, também, as dificuldades de seus maridos (ocasionais ou não) para arranjar

3 Por exemplo, têm-se sambas-enredo sobre “Iansã” e sobre mulheres genericamente nomeadas de “negras preciosas”.

4 As letras dos sambas-enredo foram publicadas no Portal da SASP - Sociedade Amantes do Samba Paulista, fato que viabilizou esta pesquisa.

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emprego na nova ordem social brasileira e paulistana durante as primeiras décadas do século XX (ANDREWS, 1998).

Considerando tais informações, a análise volta-se para entender quem eram essas mulheres negras, consideradas símbolos étnicos e memória da resistência escrava que foram escolhidas para os sambas-enredo, seguindo as tradições das culturas africanas, que foram exibidas nas passarelas durante o carnaval.

Adentrar o mundo feminino com a carnavalização da vida de algumas mulheres nesse período impõe desafios, considerando que parte dele foi marcado pela supressão das liberdades políticas e de expressão. Aparentemente tais características não afetaram as criações dos carnavalescos das escolas de samba. Contudo, é conveniente ressalvar que as agremiações tinham que se adequar às regras exigidas pelos carnavais oficiais, cujos temas deveriam voltar-se para o folclore (lendas, mitos, etc) e a história do Brasil de modo a lhes conferir o perfil de brasilidade desejada pelos circuitos oficiais.

Independentemente de tais vínculos, cabe lembrar que o carnaval é um tema transnacional tendo como referência as obras de autores como Mikhail Bakhtin (1987) e Emmanuel Le Roy Ladourie (2002) que passaram a se constituir em paradigmas para análise do evento, com forte influência entre os pesquisadores brasileiros. Apesar disso, as pesquisas sobre o assunto desenvolveram-se lentamente tanto no exterior quanto no Brasil. Até bem pouco tempo o interesse dos pesquisadores brasileiros sobre o carnaval ainda era tímido, embora as pesquisas tenham avançado além do eixo Rio/São Paulo (RT&F,v. 13, n. 1, 2020).

Para essa análise as fontes pesquisadas e disponíveis foram as letras dos sambas enredos constantes da SASP, a imprensa do período e os desfiles de algumas dessas escolas. Os estudos referentes à participação das mulheres negras nos carnavais paulistanos pautam-se pelos indícios dessa presença que aparecem em algumas fotos dos desfiles, em vídeos da TV Cultura, nos registros dos memorialistas das escolas de samba e nos depoimentos de algumas delas para projetos de pesquisa individuais ou institucional, como o Projeto Carnaval Paulistano do MIS – Museu da Imagem e do Som.

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Os estudos brasileiros projetaram-se a partir das reflexões de Maria Isaura Pereira de Queiroz (1992) e Roberto da Matta (1997), ambos com foco nos carnavais do Rio de Janeiro que já foi (e continua sendo) bastante pesquisado. Suas reflexões tornaram-se paradigmas para as investigações posteriores, ora alinhados a uma interpretação, ora a outra, considerando os posicionamentos divergentes dos autores sobre tal fenômeno.

Contudo, as análises de Queiroz ganharam proeminência e passaram a definir os caminhos para os estudos de tais folguedos até 2000. Essa reviravolta significou a interposição de suas interpretações, já consagradas sobre esses folguedos, que se definiam pela periodização firmada pela autora, na longa duração: o período colonial, com o entrudo, seguido de o grande carnaval (ou carnaval burguês) de 1850 até a década de 1930 e, a partir daí, o carnaval popular, com o predomínio das escolas de samba, modelo que teria se consagrado no país.

Os carnavais de São Paulo foram analisados seguindo esse paradigma, considerando que os primeiros estudos sobre o assunto foram de Ieda Marques Britto (1986) e Olga von Simson (2007)5, ambas sob orientação de Queiroz. As interpretações de Simson trouxeram a mesma concepção defendida por Queiroz; e, também, a periodização sobre o carnaval brasileiro que Queiroz atribui a Simson e que foi partilhada por ambas.

Em meados dos anos 1980, as pesquisas sobre os carnavais ocorridos na cidade de São Paulo eram bastante reduzidas. Os destaques eram as pesquisas de Ieda Marques Britto e de Olga von Simson, já mencionadas acima. Além desses estudos, Maria Isaura P. Queiroz abordou o assunto no livro Carnaval brasileiro: o vivido e o mito, publicado em 1992, que reuniu textos divulgados na França e no Brasil. O primeiro capítulo do referido livro foi publicado na França em 1985 e o segundo saiu na revista da SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência em 1984. Na mesma revista foi publicado o terceiro capítulo em 1986. As interpretações de Queiroz também se estenderam aos carnavais de outras regiões, inclusive os de São Paulo. A autora embora não tenha estudado especificamente os carnavais paulistanos, decretou o seu esgotamento

5 Ao fazer o balanço dos estudos sobre o carnaval brasileiro Simson (2007) esclareceu que as pesquisas foram feitas, primeiro pelos jornalistas, depois pelos foliões e somente posteriormente chegou à academia, inicialmente com as pesquisas dos sociólogos e antropólogos. Posteriormente, acrescentaria, apareceram as investigações dos profissionais das artes plásticas e, na sequência, dos historiadores, dos geógrafos, entre outros interessados.

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nos anos 1930 insistindo que nos anos seguintes teria havido uma debacle dessas festividades na cidade, para emergir no final da década de 1950, com as exibições das escolas de samba.

Na atualidade, outros estudos apareceram sobre os carnavais paulistanos, centrados ou não nas escolas de samba. Destacam-se a publicação de Leila Blass, Desfile

na avenida, trabalho na escola de samba: a dupla face do carnaval (2007); os livros de

minha autoria (SILVA, 2008, 2015) e também de Alessandro Dozena, sob o título A

Geografia do Samba na cidade de São Paulo (DOZENA, 2011), da área de geografia

urbana. E, em 2015, veio a público a obra Transformações na Avenida. História das escolas de samba da cidade de São Paulo (1968-1996), de Bruno Sanches Baronetti (2015). As pesquisas de Dozena e Baronetti focaram a trajetória da agremiação Vai Vai, nas modalidades de cordão e escola de samba.

As pesquisas sobre as mulheres e sua participação nos carnavais de São Paulo, capital e, os tributos a elas nos sambas-enredo esbarram em algumas dificuldades que envolvem a precariedade de fontes sobre o tema e até mesmo sobre essas mulheres. As brincantes paulistanas embora fossem participantes recorrentes dos carnavais da cidade, poucas pesquisas se dedicaram às ditas folionas. Olga von Simson (1992) escreveu um artigo geral sobre o tema, e nele faz referências às folionas de São Paulo. A autora desse texto também publicou dois artigos sobre essas brincantes, um sobre as folionas negras e o outro enfocando as mulheres, independentemente da cor, que foram homenageadas nos sambas-enredo (SILVA, 2018; 2018a).

Essas investigações oferecem subsídios sobre os enredos dedicados ao gênero feminino. Nesses registros, identificados desde a década de 1950 até 1968, existem evidências de sambas-enredo com motes sobre mulheres. Eles se apoiaram em critérios que ultrapassaram a cor (branca ou negra) sinalizando duas situações: a visibilidade dessas mulheres no passado que se projeta para o presente; e, na contemporaneidade, o seu envolvimento com o samba.

Em 1968, com a oficialização do carnaval a obrigatoriedade do enredo/tema foi definida. Mas tem-se antes deste ano algumas mulheres que foram escolhidas pela sua projeção no imaginário coletivo em decorrência de suas façanhas amorosas, tais como: Chica da Silva, a Marquesa de Santos (Domitila de Castro Canto e Melo) e a personagem

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Isaura que foram as escolhidas para os enredos de 1959, 1961 e 1962 pela Escola de Samba Nenê da Vila Matilde6, antecipando-se entre as congêneres.

Nas décadas de 1970 e 1980 as escolas de samba paulistanas dos Grupos Vips trouxeram sambas-enredo sobre o gênero feminino. Por exemplo, Camisa Verde Branco, Acadêmicos do Ipiranga e União Independente da Vila Prudente, na conjuntura estudada, abordaram personalidades que se projetaram em tempos distintos: a primeira, a bela índia Paraguaçu (1980) que se envolveu com o português Diogo, o Caramuru, e com ele foi para a Europa travestindo-se numa francesa ao tornar-se Catarina; a segunda trouxe em seu enredo Dona Beja (1980), cortesã do século XIX, das Minas Gerais que encantou os homens da elite, com a sua beleza e seu poder de sedução; e a última, a cantora Elis Regina (1984) que foi celebrada, no enredo, pelo talento e alegria voltados para a música.

Além das musas citadas, nessas décadas os sambas-enredo apresentados pelas escolas de samba Camisa Verde e Branco, Imperador do Ipiranga e Unidos do Peruche, falaram sobre as mulheres negras, voltando-se para personalidades míticas que transitam entre a rebeldia, o poder de sedução e o poder divino, este último capaz de assegurar a emergência de filhos fortes e iluminados, aptos para lutar contra o preconceito e a opressão, no período da escravidão e na contemporaneidade. São esses sambas-enredo sobre as ditas mulheres negras que serão analisados no tópico subsequente desse texto. As mulheres negras nas passarelas: símbolos identitários?

Antes de prosseguir na análise desses enredos convém esclarecer que muito embora a produção especializada seja precária sobre as mulheres negras envolvidas nos folguedos momescos, os registros referentes a essas protagonistas voltam-se para as bandeira e passistas, conquanto antes os clics fossem para as rainhas, porta-estandarte e pastoras. Eventualmente menciona-se a participação de algumas mulheres

6 Os motes das homenagens foram figuras femininas que se projetaram no imaginário coletivo por suas façanhas singulares e amorosas, tais como: a escrava Chica da Silva que conquistou o desembargador e contratador dos Diamantes das Minas Gerais, o português João Fernandes de Oliveira. Além da conquista de sua liberdade, formou com ele numerosa família, independentemente das posições contrárias da Igreja Católica e da Coroa portuguesa; a Marquesa de Santos (Domitila de Castro Canto e Melo), mulher da nobreza que escandalizou a corte do Imperador D. Pedro I por sua relação amorosa com o Monarca, com o qual teve cinco filhos; e, a personagem Isaura, do romance de Bernardo Guimarães que sofreu todo tipo de barbárie nas mãos de seu senhor, até ser resgatada de suas garras pelo seu salvador e futuro marido.

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que se dedicam à infraestrutura da escola, como as costureiras que transformam os tecidos em personagens diversos ou as cozinheiras, dedicadas à elaboração da famosa feijoada que fazia parte da identidade do grupo7 e conferia prestígio à própria agremiação.

Outro aspecto, a despeito do machismo e sexismo existentes que perpassam essas agremiações, diz respeito a sensibilidade e interesse de algumas dessas escolas, nessa conjuntura, para abordar o universo feminino. O destaque foi a Escola de Samba Camisa Verde e Branco que em 1974 e 1980 trouxe para Avenida sambas-enredo sobre as mulheres, indígena e negra como mote de seus desfiles. Entrementes, essa síntese exposta no Quadro 1 traz informações apenas sobre os sambas-enredos referentes às mulheres negras, objeto dessas reflexões. Tem-se a denominação da escola, o nome do Presidente da agremiação, o título dos enredos, o ano do desfile, a classificação final e os grupos que agregaram essas escolas em conformidade com a avaliação de seus desfiles feita pelo júri oficial, instituído pela Comissão Oficial da Prefeitura, em comum acordo com a UESP – União das Escolas de Samba Paulistanas.

Quadro 1 – Homenagens às mulheres negras8 com sambas-enredo

Grupo 1 e Grupo Especial (1974-1988)

Nome da escola Presidente da agremiação Temas dos enredos Ano do desfile Classificaç ão Grupo Camisa Verde e Branco Carlos Alberto Tobias

Uma certa Nega Fulô 1974 1º lugar G1 Imperador do Ipiranga (Fundada em 1968) Laerte Toporcov

Festa para uma rainha negra 1986 7º lugar G1 Unidos do Peruche (Fundada em 1956) Carlos Alberto Caetano – (1956 -1985) Walter Guaríglio (1985/1995) Filhos da Mãe Preta 1988 5º lugar Grupo Especial

7 A feijoada era uma das formas para arrecadar recursos para a agremiação realizar suas atividades cotidianas e ajudar a organizar os seus desfiles, considerando que as verbas oficiais eram insuficientes, segundo as diretorias das diferentes escolas.

8 Os outros sambas-enredo dedicados às mulheres de outros grupos sociais na década de 1980 foram os seguintes: Em 1980 a Camisa Verde e Branco (G1) trouxe o samba-enredo Acima de tudo mulher (sobre a índia Paraguaçu) que ficou em 2º lugar; Acadêmicos do Ipiranga (G1) homenageou a protagonista foi Dona Beja, feiticeira do Araxá (12º lugar); E União Independente de Vila Prudente (G1) prestou tributos a Elis Regina – O som da festa eterna desta musa (8º lugar).

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Fonte: SASP - Sociedade Amantes do Samba Paulista. (Todos esses sambas-enredo têm áudio nesse Portal).http://www.sasp.com.br/A_CARNAVAIS.asp#.WejskGhSyUk Acesso em 19/10/2017.

VUCOVIX, Irene. O Carnaval cada vez mais difícil. O Estado de S. Paulo, 23/01/1983.

Os temas dos enredos dos Grupo 1 e Grupo Especial que enfocaram três personalidades negras (além de outras mulheres citadas na nota 7, abaixo), ou “mulheres símbolos”, referem-se a entidades míticas, do campo simbólico e cívico. Uma delas, “a rainha Luiza Mahin”, protagonizou os acontecimentos de sua contemporaneidade ao se tornar uma das líderes rebeldes da revolta dos Malês programada para ocorrer, na Bahia, entre 25 e 27 de janeiro de 1835; a outra, chamada de Nega Fulô era personagem de romance e Mãe Preta uma divindade africana. Os poetas objetivavam não apenas plasmar aspectos do universo feminino, mas também demarcar as referências do próprio grupo.

O samba-enredo Uma Certa Nega Fulô (1974) traz uma personagem de romance do mesmo nome. Com esse enredo dos compositores Ideval, Zelão e Miro (1974) a Escola

de Samba Camisa Verde e Branco sagrou-se campeã, fato inédito nesses enredos

dedicados às mulheres. Os compositores foram bem-sucedidos ao cantar em seus versos a proeza de uma mucama que se tornou senhora, rompendo assim os grilhões da escravidão, via casamento com o senhor branco. Os versos são os seguintes:

Da senzala a nobreza/Seu amor, sua beleza/As cantigas de ninar/Veio ao salão para dançar/Ô abram ala, pois chegou Nega Fulô/E chegou de verde e branco/Espalhando seu encanto/Uma filha de Nagô/Embala o Erê, o Grauna/Pode embalar/Nas mãos de Catambú/Este negro vai trabalhar/Esta mucama/Que se tornou grande senhora/Não podia imaginar/Novo romper da aurora/Grilhões caíram/E o negro então sorriu/Com o branco ao seu lado/Sob este céu cor de anil/Sob este céu cor de anil/Vamos cantar minha gente/La la laue/Dunga tará/Tará sinherê (SASP. Acesso em 19/10/2017 e em 7 e 10/01/2018).

Em que pese ser uma personagem de ficção, a mucama, no sistema escravista brasileiro, foi uma escrava jovem e bonita que partilhou o convívio diário com os seus senhores, cumprindo diversas tarefas no interior da casa, como: amamentar os filhos de sua senhora, costurar, cozinhar, fazer o penteado e vestir as sinhás, acompanhar às suas sinhás e sinhás moças em seus passeios, etc. e, por isso, detinha certas regalias (MONTELEONE, 2019). Tornou-se uma personagem que despertou sentimentos diversos entre os demais escravos e povoou certo imaginário social das épocas seguintes,

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em relação a um possível conformismo e, também, as possibilidades de ruptura dos grilhões da escravidão, por meio de laços afetivos com seus senhores.

Em 1986, a Escola de Samba Imperador do Ipiranga apresentou na Avenida o samba-enredo Festa para uma Rainha Negra, elaborado pelos compositores Mestre Lagrilla e Ideval que homenagearam Luiza Mahin, pertencente a nação nagô-jeje, da tribo Mahi. Luiza dizia que era rainha africana que fora vendida como escrava. Conseguiu sua liberdade em 1812 e fez de sua casa “o quartel general das rebeliões escravas da Bahia” (Dicionário Mulheres do Brasil, 2000: p. 346). Tornou-se protagonista da revolta dos Malês, ocorrida na Bahia em 1835, o que não era exceção uma vez que nas revoltas anteriores, como a de 1814, analisada por João José Reis, outras mulheres escravizadas também participaram de revoltas.

Essa revolta pode ser entendida, como observa Reis, no âmbito das rebeliões negras que sacudiram a Bahia, desde o início do século XIX em sucessivos levantes (1807, 1809, 1813, 1814, 1826, 1828 e 1830), envolvendo as mais diversas etnias e grupos. Realça o autor, sobre esse processo, os aspectos mais gerais dessas rebeliões:

A Bahia foi palco de um ciclo de revoltas e conspirações escravas durante a primeira metade do século XIX, a mais conhecida das quais seria a Revolta dos Malês, de 1835. A historiografia desses movimentos estabelece que, até a década de 1820, eles foram levados a cabo por escravos haussás, depois substituídos pelos nagôs, africanos falantes do iorubá entre os quais se incluíam os malês, ou seja, nagôs islamizados. Haussás e nagôs foram embarcados como cativos em portos situados ao longo da Costa da Mina — o litoral do golfo do Benim —, assim chamada pelos portugueses e brasileiros, mas conhecida por outros europeus como Costa dos Escravos, a significar que o comércio de gente representava sua principal atividade até meados do século XIX (REIS, 2014: 69).

A homenagem a Luiza faz parte da exaltação à memória dos levantes dos escravos entre os afros-descendentes. A conjuntura dos anos 1980 ficou marcada por maior participação política dessa comunidade, trazendo à tona os seus heróis e heroínas que lutaram para romper os grilhões da escravidão. Sabe-se que Luiza participou da rebelião dos Malês, que foi sufocada, antes mesmo de sua eclosão, com violência desmedida. Houve muitas mortes, tortura e expulsão de muitos rebeldes para a África. A protagonista fugiu para o Rio de Janeiro continuando a sua militância rebelde. Foi presa e o seu paradeiro perdeu-se nas brumas da opressão, considerando que seu filho, Luiz Gama (que à época tinha dez anos), já adulto, saiu a sua procura, após comprar a própria liberdade.

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Gama embora tenha nascido livre, fora vendido pelo próprio pai, um português, que ele se recusou a declinar o nome, mesmo depois de tornar-se poeta e advogado reconhecido, notadamente pelo seu engajamento na luta pela abolição da escravidão. As suas tentativas para localizar a mãe foram infrutíferas, não conseguindo saber se morrera na prisão ou se fora deportada.

O samba-enredo dedicado a protagonista traz um tom épico em sua narrativa. Não se trata de uma alegoria ou metáfora e sim louvor à guerreira Luíza que lutou para libertar os negros do cativeiro. O samba de ritmo rápido visou o acompanhamento da tensão da trama.

Os versos assim se expressam:

Uma época distante, senhor/lá pra os lados da Bahia/Era lei do cativeiro senhor/para o negro que sofria/A razão chegou mais forte porque/a revolta dos Malés/Nega “Luíza” mulher sofrida/entra na luta filha de Gegê/Ole ola lala/acende a fogueira, o batuque não pode parar/Ole ola lala/segura na barra da saia, senão ela pode queimar/Menino toca o ganze ou ganzá/esta noite é pra cantar/Aqui só há alegria e amor/hoje é festa no Congar/O terreiro enfeitado e no céu/a lua clarear/Não chores não, corre pra ver/Luiza rainha, filha de Gegê/Ole ola lala/acende a fogueira, o batuque não pode parar/Ole ola lala/segura na barra da saia, senão ela pode queimar/Bate a cabeça no chão, oh senhor/ela acabou de chegar/No tempo da escravidão, o que fez?/Guerreou pra nos salvar/Para a deusa de bronze, o que?/Oferendas vamos dar/E esta noite é pra você/nossa rainha filha de Gegê/Ole ola lala/acende a fogueira, o batuque não pode parar/Ole ola lala/segura na barra da saia, senão ela pode queimar (SASP. Acesso em 19/10/2017 e em 7 e 10/01/2018).

O terceiro enredo discutiu o centenário da abolição da escravidão no Brasil. Os compositores Joaquim e Benê da Escola de Samba Unidos do Peruche optaram, no samba-enredo Filhos de Mãe Preta (1988), por uma perspectiva transoceânica para falar da luta pela liberdade dos negros. Os elementos simbólicos (as divindades protetoras de matriz afro) foram acionados para pensar tais acontecimentos, optando a Escola de Samba Unidos do Peruche evocar os grandes líderes negros, espalhados pelo mundo, que lutaram pela liberdade dos seus, em tempos distintos, tais quais: Zumbi (líder rebelde no Brasil colônia), Luther King (EUA) e Mandela (África do Sul). Foram vistos como pessoas iluminadas pelas causas defendidas demonstrando que eram filhos de Mãe Preta e netos de Iorubá, símbolos máximos culturais e marcos memoriais para o grupo. O ritmo do samba-enredo acompanhou a trama do enredo e foi marcado de forma densa, com batuque

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acelerado dos tambores visando assim acertar o compasso, de acordo com o conteúdo da trama. Os versos, abaixo, expõem o mote do enredo:

Atôtô Oabaluaê/Atôtô Oabaluaê/Vem oh claridade/a Peruche canta a liberdade/Ê! Mãe África/espalhando seus filhos no mundo/Esse banzo tão profundo/que despertam num segundo/Quando alegre a caminhar/tantas estrelas a brilhar ao léo/Não é brinquedo de Isabel/Pixinguinha e Clementina/Uma força que domina/uma luz que vem do céu/Oiá, ieo/da raiz a flor mais bela/Oiá, ieo/é Zumbi é Luther King e Mandella/Negras pedras preciosas/levam o barco a remar/Essa gente tão formosa/ilumina meu cantar/Quilombo/um canto livre ecoou/Malê Gegê filho de Zambi/Anuanas que vem de Nagô/Filhos de Mãe Preta/netos de Yoruba/Contagiando o mundo/exaltando os Orixás (SASP. Acesso em 19/10/2017 e em 7 e 10/01/2018).

Cabe assinalar que o enredo Os Filhos de Mãe Preta não traz nenhuma analogia ao monumento Mãe Preta, originário de negociações dos negros paulistanos para sua inserção nos marcos memoriais do IV Centenário da cidade de São Paulo, em 1954. O monumento em tela se inscreve em disputas da pós memória do grupo no Estado de São Paulo e em outros estados brasileiros para firmar o seu papel no constructo da Nação. Nesse sentido, tais querelas apresentam outras questões como, por exemplo, o reconhecimento de sua participação no forjamento da brasilidade e riqueza do país (Oliveira, 2007), diferentemente dos versos dos compositores que discutiram os sentidos do centenário da abolição da escravidão no Brasil, articulados àqueles que deram à vida pela causa da liberdade.

Os compositores trouxeram para o centro das reflexões os líderes negros que lutaram pela liberdade, em momentos históricos e espacialidades distintas. Os exemplos foram as lutas pela libertação dos negros da escravidão, por Zumbi dos Palmares que confrontou o Império português por vários anos; Luther King e Mandela que, na contemporaneidade, continuaram a peleja para garantir direitos civis e políticos para os negros que eram cerceados nessas pretensões nos EUA e na África do Sul.

Trata-se de um samba-enredo emblemático por debater o centenário da abolição da escravidão no Brasil, deixando claro que as questões antigas, relativas à questão da liberdade, ainda estavam em evidência para os negros, cuja marginalidade social era uma realidade no país.

Analisando esses sambas-enredo sob um prisma mais abrangentes veem-se que eles discutiram dimensões distintas do universo dos afrodescendentes. Ou seja,

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evidenciam os seus heróis e heroínas que lutaram pela sua liberdade, as divindades que conferiam proteção e iluminavam os caminhos de seus guerreiros e, também, outras formas de rompimento dos grilhões que passaram pelo poder de sedução e afeto entre a escrava e seu senhor. Em outras palavras, as opções recaíram sobre mulheres poderosas que confrontaram a sociedade da época (que exigia atitudes comportadas, recato e submissão aos padrões vigentes, sob o domínio masculino), ou aquelas que (simbolicamente) podiam expandir os seus poderes sobre os seus protegidos.

Conclusão

Nesse epílogo cabe relembrar os limites nos enfoques dos temas dos sambas-enredo sobre as mulheres negras nas décadas de 1970 e 1980 em relação à anterior que fora marcada pela censura e ausência de liberdade de expressão. Em termos gerais, os elementos críticos nos sambas-enredo só aparecem quando as ações das protagonistas carnavalizadas conduzem nessa direção sugerindo uma linha de continuidade de seus conteúdos nessas décadas.

Exemplo disso são as representações sobre essas mulheres negras. Ao mesmo tempo que valorizam os seus traços culturais de matriz afro e as diferentes formas das mulheres lutarem pela abolição da escravidão indicando ruptura, também evidenciam reforço de um mundo idílico, sem conflitos ou tensões. O que significa dizer que essas lutas poderiam ser no campo de batalha ou quebrando os grilhões dos preconceitos com casamentos inter-raciais, proibidos pelas elites e instituições que deram sustentação ao regime escravista, ao longo dos séculos.

Assim, se o objetivo maior era a demarcação da identidade do grupo de acordo com os valores culturais originários da mãe África expressos nos cultos aos seus orixás, a ambiência e os preparativos eram fundamentais nesse processo. Eles propiciavam sociabilidades múltiplas forjadas nos encontros festivos que faziam parte do calendário dessas agremiações, tais como: os bailes, os ensaios e as feijoadas que garantiam momentos agregadores ao grupo e, também, ocasiões para receber convidados externos (a imprensa, os políticos), entre outros. Esses objetivos foram alcançados?

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ANDREWS, George Reid. Negros e brancos em São Paulo. (1888-1988), Tradução: Magda Lopes. Revisão Técnica: Maria Lígia Coelho Prado. Bauru/SP: EDUSC, 1998. BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na idade média e no renascimento. Tradução de Yara Frateschi Vieira. São Paulo: HUCITEC/EDUnB, 1987.

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Referências

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