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NOVO CÓDIGO FLORESTAL: IMPLICAÇÕES E MUDANÇAS PARA A REALIDADE DO PRODUTOR DE LEITE BRASILEIRO

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NOVO CÓDIGO FLORESTAL: IMPLICAÇÕES E

MUDANÇAS PARA A REALIDADE DO PRODUTOR DE

LEITE BRASILEIRO

Enio Resende de Souza

EMATER - MG

INTRODUÇÃO

Os ecossistemas naturais e os agrossistemas existentes nas propriedades rurais, interagem e se complementam. É por meio de uma boa combinação e interação desses sistemas que a sustentabilidade das unidades rurais de produção pode ser alcançada e mantida.

A sustentabilidade das propriedades rurais depende portanto da proteção e conservação dos recursos naturais locais que mantêm o funcionamento dos ecossistemas (ciclos ecológicos). Isso inclui a necessidade de manutenção e/ou recomposição das áreas cobertas por vegetação nativa, entre as quais as áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal, mas, também, a conservação e o uso adequado das áreas produtivas e demais áreas da propriedade rural.

Nessa perspectiva, a gestão das propriedades rurais deve contemplar uma visão sistêmica de todo o espaço rural da propriedade e não apenas de suas áreas produtivas. O uso e a conservação dessas áreas devem estar embasados em conhecimentos técnicos e amparados pela legislação pertinente ao meio rural, incluindo a legislação ambiental e florestal, por meio de sistemas de produção diversificados, integrados e adaptados aos ecossistemas naturais e as estruturas existentes.

ASPECTOS LEGAIS RELACIONADOS À GESTÃO AMBIENTAL DE PROPRIEDADES RURAIS

Assim, além de adotar procedimentos técnicos adequados e boas práticas agropecuárias, algumas questões legais precisam ser observadas e cumpridas a fim de adequar as unidades rurais de produção às normas ambientais que disciplinam a instalação e o funcionamento de empreendimentos e atividades potencialmente poluidoras e, assim, regularizá-las.

Dentre as principais questões ambientais normatizadas, destacam-se o licenciamento ambiental, a outorga de direito de uso da

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água, a autorização para exploração florestal, a preservação de áreas legalmente protegidas e a destinação final de embalagens de agrotóxicos.

Nesse artigo, são enfocadas as principais questões e implicações relativas à nova legislação florestal brasileira (Lei Federal 12.651, de 25/05/2012) e mineira sobre as propriedades rurais de um modo geral, com ênfase nas propriedades dedicadas à produção de leite.

PORQUE UM NOVO CÓDIGO FLORESTAL

A aprovação do novo código florestal foi ansiosamente aguardada pela sociedade brasileira e, em especial, pelo setor produtivo rural. A dificuldade em se adequar ambientalmente às exigências da antiga legislação florestal foi motivo de grande preocupação e mereceu, sem dúvida, a revisão de suas regras, uma vez que o rigor de diversas de suas normas e a inexistência de programas de adequação no antigo código o tornaram ineficaz.

Essa situação tornou-se mais delicada e crítica com a assinatura do decreto 6.514/08, em 2008, que regulamentava a lei de crimes ambientais. Tal decreto fixava, entre outras coisas, um prazo para que os proprietários de imóveis rurais averbassem suas áreas de reserva legal junto aos cartórios, levando a maior parte dos produtores rurais a se encontrar em condições de irregularidade perante o código florestal vigente.

Diante dessas exigências, a adequação de propriedades tornou-se praticamente inviável, afetando, em especial, os pequenos produtores rurais e os produtores rurais de regiões com relevo montanhoso, como é o caso da região da Zona da Mata Mineira, onde as áreas de Preservação Permanente são mais expressivas (devido à presença de grande quantidade de cursos d'água e de áreas em situações topográficas com impedimento legal – encostas com mais de 45º de declividade e terço final de morros e montes com mais 50 metros de altura e declividade superior a 17º) e, quando somadas às áreas de Reserva Legal, chegavam, em média, a ocupar mais de 65% da área total do imóvel. No estado de Minas Gerais e na própria Zona da Mata, por exemplo, grande parte dessas Áreas de Preservação Permanente são ocupadas por pastagens e pela cultura do café, fato que levaria a

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maior parte dos produtores rurais a se encontrar em condições de irregularidade perante ao código florestal até então vigente.

O Novo Código Florestal, além de conter aspectos ambientais fundamentais, ele reconhece e incorpora importantes aspectos sociais e econômicos; flexibiliza e adéqua algumas normas; e cria Programas de Incentivo e de Regularização Ambiental.

O Novo Código Florestal é fruto de um amplo debate com a sociedade e de um pacto estabelecido entre “ruralistas” e “ambientalistas”: “Manutenção das Áreas Agrícolas” e “Manutenção das Áreas com Vegetação Nativa”.

A legislação florestal ora estabelecida cria um marco legal coerente com as necessidades de preservação e recomposição dos ecossistemas naturais e com as demandas de um país em desenvolvimento e garante aos produtores rurais mais tranquilidade na implementação das suas atividades.

Com a entrada em vigor da Lei Federal nº 12.651, de 2012, que trata da proteção da vegetação nativa e dá outras providências, cabe aos Estados adequarem a ela a sua legislação florestal. A referida lei federal substituiu o Código Florestal – Lei Federal nº 4.771, de 1965.

FUNDAMENTOS DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL

Em linhas gerais, a nova lei florestal manteve basicamente a sistemática adotada pelo antigo Código Florestal (Lei n° 4.771/1965), estabelecendo faixas protegidas nas margens de cursos d’água, lagos, reservatórios artificiais, nascentes, bem como nas encostas íngremes, nos topos de morros, veredas, dentre outros. Entre as principais alterações, vale ressaltar:

O Reconhecimento de Áreas Consolidadas

São áreas do imóvel rural com ocupação antrópica preexistente a 22 de julho de 2008, com edificações, benfeitorias ou atividades agrossilvipastoris, admitida, neste último caso, a adoção do regime de pousio.

Assim, as atividades agrossilvipastoris, que já existiam em APPs antes de 22 de julho de 2008, poderão ter continuidade e serão consideradas áreas consolidadas, desde que: não estejam em áreas de risco às pessoas e ao meio ambiente; não ocupem as faixas marginais de corpos d'água (fixadas na legislação como áreas a serem

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recompostas) e sejam observados critérios técnicos de conservação do solo e da água a serem estabelecidos no Programa de Regularização Ambiental – PRA. Sendo vedada a conversão de novas áreas. Com isso, ficam proibidos os desmatamentos nessas áreas (ressalvados os casos previstos na legislação) e a utilização de novas áreas em APPs além daquelas já ocupadas antes de 22 de julho de 2008.

Nas áreas consolidadas das APPs de encosta, topo de morro, borda de chapadas e em áreas de altitude acima de 1.800m, será admitida apenas a manutenção de atividades florestais, culturas de espécies lenhosas, perenes ou de ciclo longo, bem como da infraestrutura física associada ao desenvolvimento dessas atividades agrossilvipastoris.

Dessa forma, o pastoreio extensivo nas áreas consolidadas dessas APPs é permitido, mas deverá ficar restrito às áreas de vegetação campestre natural ou já convertidas para vegetação campestre, sendo admitido o consórcio de vegetação campestre com vegetação lenhosa perene ou de ciclo longo (integração pecuária e floresta ou silvipastoril).

Cabe aos próprios produtores rurais e, se for o caso, com o apoio de técnicos, comprovar a existências de áreas consolidadas no imóvel, por meio do Cadastro Ambiental Rural - CAR e de documentos previstos na legislação florestal. O órgão ambiental poderá comprovar a situação dessas áreas consolidadas por meio de imagens de satélite, referentes a período anterior a 22 de julho de 2008.

Os Agricultores Familiares terão apoio das Instituições Públicas ou de outras Instituições Credenciadas para registro do CAR.

Os dados do CAR de todos os imóveis do país irão integrar o Sistema de Cadastro Ambiental Rural (SICAR), cujo objetivo é administrar e monitorar a recomposição, regeneração, compensação e a supressão de áreas de vegetação nativa dos imóveis rurais de todo o país.

O Reconhecimento de Áreas em Regime de Pousio

Pousio é a prática de interrupção temporária de atividades ou usos agrícolas, pecuários ou silviculturais, por no máximo 5 anos, para possibilitar a recuperação da capacidade física do solo.

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Tratamento Diferenciado às Pequenas Propriedades Rurais ou Posses Rurais

As propriedades ou posses rurais com até 4 módulos fiscais, que desenvolvam atividades agrossilvipastoris, bem como os assentamentos de reforma agrária, as terras indígenas demarcadas e às demais áreas tituladas de povos e comunidades tradicionais que façam uso coletivo do seu território, passam a ter tratamento diferenciado pelo novo Código Florestal. Assim, as exigências para recomposição da área de Reserva Legal; para recomposição das Áreas de Preservação Permanente; para apresentação de documentos necessários para inscrição no CAR, entre outras, foram atenuadas em função dos impactos econômicos e sociais sobre as pequenas propriedades, em especial as pertencentes aos agricultores familiares.

A exigência de recomposição de APPs, no caso de atividades agrossilvipastoris desenvolvidas em áreas consolidadas, por exemplo, não poderá ultrapassar de 10% da área total do imóvel, se este tiver até 2 módulos fiscais, ou de 20%, se a propriedade tiver área entre 2 e 4 módulos fiscais.

Obs.: Módulo Fiscal é a unidade de medida expressa em hectares, fixada para cada município, a qual considera fatores como tipo de exploração predominante no município e renda obtida com a mesma.

A Adoção do Cadastro Ambiental Rural – CAR

Trata-se de um registro público eletrônico de âmbito nacional, obrigatório para todos os imóveis rurais, com a finalidade de integrar as informações ambientais das propriedades e posses rurais, compondo base de dados para controle, monitoramento, planejamento ambiental e econômico e combate ao desmatamento.

O produtor rural terá o prazo de 1 ano para se inscrever no CAR, iniciado a partir da sua implantação pelos governos federal e estadual. A inscrição do imóvel rural no CAR deverá ser feita, preferencialmente, no órgão ambiental estadual e é condição obrigatória para posterior adesão ao Programa de Regularização Ambiental (PRA).

A inscrição no CAR será feita a partir de declaração do próprio produtor rural. Ele é responsável pelos dados declarados, mas poderá contar com apoio de técnicos habilitados.

Para o registro das pequenas propriedades rurais no Cadastro Ambiental Rural – CAR, caberá aos órgãos públicos competentes ou

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instituição por ele habilitada realizar a captação das respectivas coordenadas geográficas.

Adequação dos Conceitos e Dimensões de Áreas de Preservação Permanente – APPs

Área de Preservação Permanente é área protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem,a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.

São consideradas APPs:

a) as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito regular, em largura mínima de (Tabela 1):

Largura dos Cursos d'água Naturais (Córregos, Riachos, Ribeirões e Rios)

Largura Mínima das Faixas Marginais Consideradas como APPs (em metros)

< 10 metros 30

De 10 a 50 metros 50

De 50 a 200 metros 100

De 200 a 600 metros 200

> 600 metros 500

Tabela 1 - Largura mínima das faixas marginais de cursos d'água naturais.

b) As áreas no entorno das nascentes e dos olhos d'água perenes, qualquer que seja sua situação topográfica, no raio mínimo de 50 metros.

c) As áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de 100 metros, exceto para corpo d'água com até 20 hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50 metros.

d) As áreas no entorno dos reservatórios d'água artificiais, decorrentes de barramento ou represamento de cursos d'água naturais, na faixa definida na licença ambiental do empreendimento.

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Para os reservatórios artificiais de água destinados à geração de energia ou abastecimento público, que foram registrados ou tiveram seus contratos de concessão ou autorização assinados anteriormente à Medida Provisória nº 2166/67 de 24/08/2001, a faixa da Área de Preservação Permanente será a diferença entre estes dois níveis de água da represa: o nível máximo operativo normal e a cota máxima maximorum, que é o nível de água atingido pela represa nos casos de enchentes.

No caso da instalação de reservatórios artificiais de água destinados a geração de energia ou abastecimento público, localizados no meio rural, a faixa da área de preservação permanente será no mínimo de 30 metros e no máximo de 100 metros da borda do reservatório. Tais faixas de terra deverão ser adquiridas ou desapropriadas pelos empreendedores do reservatório.

Já as acumulações de água com superfície inferior a um hectare serão dispensadas de possuírem faixa de preservação permanente em seu entorno.

e) As veredas, na faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de 50 metros, a partir do espaço permanentemente

brejoso e encharcado.

f) As encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, equivalente a 100% na linha de maior declive.

g) Os topos (terço final) de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 (cem) metros e inclinação média maior que 25°.

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h) As bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em faixa não inferior a 100m (cem metros) em projeções horizontais.

i) As áreas em altitude superior a 1.800 metros, qualquer que seja a vegetação.

A vegetação das Áreas de Preservação Permanente deverá ser

mantida pelo proprietário, possuidor ou ocupante a qualquer título,

pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado. Sendo vedada a

conversão de novas áreas para uso alternativo do solo nesses locais.

A intervenção ou a supressão de vegetação nativa em APPs somente poderá ocorrer nas hipótese de utilidade pública, de

interesse social ou de baixo impacto ambiental.

Tendo ocorrido supressão de vegetação situada em Área de Preservação Permanente, o proprietário, possuidor ou ocupante a qualquer título é obrigado a promover a recomposição da

vegetação, ressalvados os usos autorizados na lei. Flexibilizações quanto a Área de Reserva Legal – RL

Reserva Legal é a área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, com a função de assegurar o uso econômico de modo sustentável dos recursos naturais do imóvel rural, auxiliar a conservação e a reabilitação dos processos ecológicos e promover a conservação da biodiversidade, bem como o abrigo e a proteção de fauna silvestre e da flora nativa.

A localização da área de Reserva Legal no imóvel rural deverá levar em consideração os seguintes estudos e critérios: o plano de

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bacia hidrográfica; o Zoneamento Ecológico Econômico; a formação de corredores ecológicos com outra RL, com APPs, com Unidade de Conservação ou com outra área legalmente protegida; as áreas de maior importância para a conservação da biodiversidade; e as áreas de maior fragilidade ambiental.

Os percentuais de Reserva Legal são definidos de acordo com a região do país em que se situar o imóvel rural. Na Amazônia legal, será de 80%, em áreas de florestas, 35%, em cerrado e 20%, em áreas de campos gerais; se o imóvel apresentar mais de uma dessas formações, o percentual da RL será calculado separadamente. Para o resto do país, a área de Reserva Legal deverá corresponder a 20% da área total do imóvel.

Uma das mais significativas flexibilizações da nova legislação florestal é a permissão do cômputo das APPs existentes no imóvel no cálculo da sua Reserva Legal, desde que isso não implique em conversão de novas áreas para uso alternativo do solo, que a área de preservação permanente esteja conservada ou em processo de recuperação e que tenha sido requerida a inscrição do imóvel no Cadastro Ambiental Rural.

Outra relevante inovação trazida pela nova legislação florestal é a dispensa de averbação da área de Reserva Legal na matrícula do imóvel, obrigação que foi substituída pelo seu registro no Cadastro Ambiental Rural – CAR.

Já nos imóveis rurais que detinham, em 22/07/2008, área de até 4 módulos fiscais e que possuam remanescente de vegetação nativa em percentuais inferiores aos legalmente exigíveis, a Reserva Legal será constituída pela área ocupada com a vegetação nativa existente naquela data, ficando vedadas novas conversões para uso alternativo do solo.

Criação de Áreas de Uso Restrito

Nas áreas rurais com inclinação entre 25° e 45°, serão permitidos o manejo florestal sustentável (nas áreas cobertas por florestas nativas) e o exercício de atividades agrossilvipastoris (nas áreas consolidadas), bem como a manutenção da infraestrutura física associada ao desenvolvimento de tais atividades, observadas as boas práticas agronômicas. Todavia, não é permitida a exploração de novas áreas de uso restrito, ou seja, não são permitidos desmates nessas áreas.

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O Estabelecimento de Programa de Regularização Ambiental - PRA

O Programa de Regularização Ambiental permitirá ao proprietário rural regularizar as Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal, além das áreas com uso consolidado em APPs, desde que essas não estejam em áreas de risco e sejam observados critérios técnicos de conservação do solo e da água.

O PRA permitirá solucionar vários passivos ambientais dos produtores rurais e será considerado pelo governo para o acesso de produtores aos incentivos econômicos e financeiros na prestação de serviços ambientais.

Para adesão e participação no Programa serão necessários: a inscrição no Cadastro Ambiental Rural – CAR; a assinatura do Termo de compromisso de adesão ao PRA e a apresentação de Projeto de Recomposição de Áreas Degradadas e Alteradas.

A União, os Estados e o Distrito Federal terão um ano, a partir da implantação do Cadastro Ambiental Rural, para implantar Programas de Regularização Ambiental de posses e propriedades rurais, com o objetivo de adequá-las à nova legislação. Esse prazo poderá ser prorrogado por mais um ano.

O período de adesão será de 1 ano, contado a partir da implantação do PRA pelo governo do estado. Após a adesão do interessado ao PRA e enquanto estiver sendo cumprido o termo de compromisso, o proprietário ou possuidor não poderá ser autuado por infrações cometidas antes de 22 de julho de 2008, relativas à supressão irregular de vegetação em Áreas de Preservação Permanente, de Reserva Legal e de uso restrito.

O Estabelecimento da Cota de Reserva Ambiental – CRA

O proprietário ou possuidor de imóvel com RL conservada e inscrita no CAR, cuja área ultrapasse o mínimo exigido pelo Novo Código Florestal, poderá utilizar a área excedente para fins de constituição de servidão ambiental, Cota de Reserva Ambiental e outros instrumentos congêneres previstos.

Uso Alternativo do Solo

Substituição de vegetação nativa e formações sucessoras por outras coberturas do solo, como atividades agropecuárias, industriais,

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de geração e transmissão de energia, de mineração e de transporte, assentamentos urbanos ou outras formas de ocupação humana.

Manejo Sustentável

Manejo da vegetação natural para a obtenção de benefícios econômicos, sociais e ambientais, respeitando-se os mecanismos de sustentação do ecossistema objeto do manejo e considerando-se, cumulativa ou alternativamente, a utilização de múltiplas espécies madeireiras ou não, de múltiplos produtos e subprodutos da flora, bem como a utilização de outros bens e serviços.

REGULARIZAÇÃO AMBIENTAL DE PROPRIEDADES RURAIS AO CONTEXTO DO NOVO CÓDIGO FLORESTAL

A regularização ambiental de imóveis rurais (propriedades e posses rurais) tem por objetivo atender aos dispositivos da legislação, garantir a manutenção e sustentabilidade das atividades produtivas e adequar ambientalmente os empreendimentos.

O novo Código Florestal Brasileiro determina que a inscrição do imóvel rural no Cadastro Ambiental Rural - CAR é condição obrigatória para adesão ao Programa de Regularização Ambiental -

PRA, que tem como objetivo adequar e regularizar ambientalmente as propriedades e posses rurais, no que tange à Legislação Florestal.

Cumpridas as obrigações estabelecidas no PRA ou no Termo de Compromisso para a readequação ambiental das áreas rurais de

acordo com as exigências legais, fica o imóvel rural devidamente

regularizado.

Inscrição/Cadastramento Ambiental da Propriedade Rural

No caso de Minas Gerais, a inscrição do imóvel rural no CAR, deverá ser feita nas Superintendências de Regularização Ambiental – SUPRAMs ou nos Núcleos Regionais de Regularização Ambiental – NRRAs, da Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável – SEMAD. A SEMAD poderá também firmar convênios com outras instituições (órgão ambiental municipal, cooperativas rurais, sindicatos rurais ou o IBAMA), para o acolhimento do CAR. Para esse

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inscrição e cadastro é necessária a apresentação dos seguintes documentos:

1. Documento de Identidade do proprietário ou posseiro.

a. No caso de mais de um proprietário ou posseiro, Carta de Anuência dos demais proprietários ou posseiros;

b. No caso de procuração, apresentar a procuração (com firma reconhecida) e o documento de identidade do procurador.

c. No caso de pessoa jurídica, cópia do Contrato Social atualizado ou de Ata da última assembleia.

2. Comprovante de propriedade ou posse: a. Certidão de Registro do Imóvel;

b. ou, no caso de posse, documento que caracterize a posse por justo título ou, quando for o caso, Declaração de Posse por Simples Ocupação, modelo padrão do IEF, com assinatura dos confrontantes e do presidente do Sindicato Rural.

3. Identificação do Imóvel, por meio de Planta topográfica e Memorial Descritivo, contendo:

a. a identificação das coordenadas geográficas do perímetro do imóvel,

b. a localização dos Remanescentes de Vegetação Nativa, das Áreas de Preservação Permanente, das Áreas de Uso Restrito e, caso existente, a localização da Reserva Legal

c. ou, no caso de pequenas propriedades rurais, apresentação de Croqui indicando o Perímetro do Imóvel, as Áreas de Preservação Permanente e os Remanescentes de Vegetação Nativa que formam a Reserva Legal.

Obs. A pequena propriedade ou posse rural familiar (cuja área não supere a 4 Módulos Fiscais) tem direito à simplificação do processo de regularização e à isenção de taxas.

Regularização das Áreas de Preservação Permanente – APP

De acordo com o novo Código Florestal (Lei 12.651, de 25/05/2012), nas Áreas de Preservação Permanente é autorizada, exclusivamente, a continuidade das atividades agrossilvipastoris em áreas rurais consolidadas (área de imóvel rural com ocupação antrópica preexistente a 22/07/2008).

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Para imóveis rurais que possuam áreas consolidadas em APPs ao longo de cursos d'água ou ao redor de nascentes e demais corpos d'água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas

faixas marginais, contados da borda da calha ou da extremidade da

nascente ou corpo d'água, em dimensões que variam de acordo com o tamanho (número de módulos fiscais) do imóvel, com o tipo de corpo d'água (cursos d'água, nascentes, lagos e lagoas) e largura do curso d'água, conforme descrito a seguir.

Dimensão (metros) das Faixas de APP Marginais aos Corpos d'água que devem ser Recompostas, quando ocupadas com

Atividades Agrossilvipastoris Consolidadas Tamanho do

Imóvel (nº de módulos fiscais)

Cursos d'água Naturais (Córregos, Riachos e Rios) Nascentes ou Olhos D'água Lagos e Lagoas Naturais Limite máximo em relação à Área total

(%) Até 1 5 15 5 10 De 1 a 2 8 15 8 10 De 2 a 4 15 15 15 20 Acima de 4 Metade da largura do curso d'água (mínimo de 30 e máximo de 100)

15 30 -

De 4 a 10 20 (Cursos D'água com até 10m de largura) - - -

A recomposição dessas APPs (faixas marginais dos corpos d'água com ocupação consolidada) poderá ser feita, isolada ou conjuntamente, pelos seguintes métodos:

− Condução da Regeneração Natural das Espécies Nativas; − Plantio de mudas de Espécies Nativas;

− Plantio de mudas de espécies Nativas conjugado com a Regeneração Natural das Espécies Nativas;

− Plantio intercalado de Espécies Lenhosas, perenes ou de ciclo longo, exóticas com nativas de ocorrência regional; em até 50% da área total a ser recomposta (no caso de imóveis rurais com até 4 módulos fiscais).

Nas Áreas Consolidadas em APPs de Encosta (áreas com declividade acima de 45º), de Topo de Morro (1/3 final de morros ou montanhas com altura mínima de 100m e declividade acima de 25º), de

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Bordas de Chapada (100m a partir da ruptura da chapada) e de Altitude (áreas com altitude acima de 1.800m), será admitida a manutenção de atividades florestais, culturas de espécies lenhosas (cafeicultura, citricultura, fruticultura, etc.), perenes ou de ciclo longo, bem como da infraestrutura física associada das atividades agrossilvipastoris.

O pastoreio extensivo nesses referidos locais deverá ficar restrito às áreas de vegetação campestre natural ou já convertidas para vegetação campestre.

A manutenção de tais atividades é condicionada à adoção de práticas conservacionistas do solo e água.

Regularização da Área de Reserva Legal

O novo Código Florestal (Lei Federal 12.651, de 25/05/2012) determina que todo imóvel rural deve manter 20% de sua área total com cobertura de vegetação nativa, a título de Reserva Legal.

Estabelece ainda que nos imóveis com área de até 4 módulos fiscais e que possuam remanescente de vegetação nativa em percentuais inferiores a 20%, a Reserva Legal será a constituída pela área ocupada com a Vegetação Nativa existente.

Os Imóveis Rurais acima de 4 módulos fiscais, com área de Reserva Legal inferior a 20%, poderão regularizar sua situação, independente da adesão ao PRA, adotando as seguintes alternativas, isolada ou conjuntamente:

− Recompor a Reserva Legal, por meio de plantio de mudas de espécies nativas ou plantio intercalado de espécies nativas de ocorrência regional e espécies exóticas ou frutíferas, em sistema agroflorestal (podendo as espécies exóticas ocuparem até 50% da área a ser recomposta), fazendo, se necessário, o cercamento da área a fim de evitar o pastoreio e o pisoteio de animais (gado);

− Conduzir a Regeneração Natural da Vegetação Nativa na Área de Reserva Legal, fazendo, se necessário, o cercamento da área a fim de evitar o pastoreio e o pisoteio de animais (gado);

− Compensar a Reserva Legal por outra área equivalente mediante a Aquisição de Cota de Reserva Ambiental – CRA; Arrendamento de Área sob regime de Servidão Ambiental ou Reserva Legal; Doação ao Poder Público de área localizada no interior de Unidade de Conservação de domínio público pendente de regularização fundiária; Cadastramento de outra área em imóvel de mesma

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titularidade ou adquirida em imóvel de terceiro, com vegetação nativa estabelecida, em regeneração ou recomposição, desde que localizada no mesmo bioma.

Obs. É admitido o cômputo das áreas de preservação permanente

(APP) no cálculo do percentual da área de Reserva Legal (RL)

do Imóvel, desde que a área a ser computada esteja conservada ou em processo de de recuperação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Brasil é um país onde são desenvolvidas diversas atividades econômicas, com destaque para a agropecuária, responsável pela significativa produção de alimentos, fibras e produtos energéticos. Para atender a essa constante e crescente demanda, a agropecuária necessitou de espaços físicos cada vez mais expressivos e de contínuo aumento de produtividade em um processo que, via de regra, provocou pressões significativas sobre os ecossistemas e os recursos naturais.

Esse processo promoveu, em extensas áreas, a substituição da vegetação nativa por culturas agrícolas e atividades pecuárias. Novos territórios passaram a ser ocupados, provocando grande alteração em nossas paisagens naturais. Nesse cenário, surgiram muitos conflitos e inúmeras razões para que tantas discussões fossem travadas visando alterações no Código Florestal Brasileiro. Mas, a preservação e a conservação dos recursos naturais não devem ser entendidas como um empecilho para a manutenção e a expansão das atividades agropecuárias, mas sim como uma proteção para os pilares que a sustentam.

É notório que os solos, as águas, as formações vegetais nativas e a fauna silvestre são recursos vitais para a sustentabilidade da produção agrícola. Não podemos pensar nas atividades agrossilvipastoris, no longo prazo, sem nos preocuparmos com a proteção e a conservação desses recursos e dos ecossistemas naturais que eles constituem.

Destaca-se também que, nesse contexto, o produtor rural deve ser considerado um grande aliado nesse processo, um “guardião dessas riquezas naturais” que, quando bem manejadas, permitirão o tão almejado equilíbrio entre produção e conservação.

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Por essas razões, a legislação brasileira por meio do novo Código Florestal, estabelece uma série de normas e regras para conservação, proteção e recuperação das chamadas “áreas legalmente protegidas” ou “áreas com restrição legal”, entre as quais: as Áreas de Preservação Permanente, as Áreas de Reserva Legal e as Áreas de Uso Restrito. Mas, ao mesmo tempo, essa legislação reconhece a

importância da função estratégica da atividade agropecuária (na

sustentabilidade, no crescimento econômico, na melhoria da qualidade de vida da população brasileira e na presença do País nos mercados nacional e internacional de alimentos e bioenergia) e do produtor rural ao criar e estabelecer programa de incentivos aos produtores rurais que promovam a conservação e recuperação dos recursos naturais, por meio do manejo adequado e da adoção de práticas de conservação.

A legislação florestal estabelecida cria portanto um marco legal coerente com as demandas de um país em desenvolvimento, garantindo aos produtores rurais condições para regularizarem suas propriedades e tranquilidade para conduzirem suas atividades, além de proporcionar expressiva recuperação ambiental e benefícios à toda sociedade brasileira.

REFERÊNCIAS

Lei Nº 12.651, 25 de Maio de 2.012. Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para assuntos jurídicos.

Lei Nº 12.727, 17 de Outubro de 2.012. Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para assuntos jurídicos.

Decreto Nº 7.830, 17 de Outubro de 2.012. Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para assuntos jurídicos.

Referências

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