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Entropia de emaranhamento de antiferromagnetos dimerizados

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(1)

Leonardo da Silva Garcia Leite

Entropia de emaranhamento de

antiferromagnetos dimerizados

Campinas

2017

(2)

Entropia de emaranhamento de

antiferromagnetos dimerizados

Disserta¸c˜ao apresentada ao Instituto de F´ı-sica “Gleb Wataghin” da Universidade Esta-dual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obten¸c˜ao do t´ıtulo de Mestre em F´ısica, na ´area de F´ısica.

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Lu´ıs Doretto

Este exemplar corresponde `a vers˜ao final da disserta¸c˜ao defendida pelo

aluno Leonardo da Silva Garcia

Leite, e orientado pelo Prof. Dr.

Ricardo Lu´ıs Doretto.

Campinas

2017

(3)

Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas Biblioteca do Instituto de Física Gleb Wataghin Lucimeire de Oliveira Silva da Rocha - CRB 8/9174

Leite, Leonardo da Silva Garcia,

L536e LeiEntropia de emaranhamento de antiferromagnetos dimerizados / Leonardo da Silva Garcia Leite. – Campinas, SP : [s.n.], 2017.

LeiOrientador: Ricardo Luís Doretto.

LeiDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Física Gleb Wataghin.

Lei1. Sistemas eletrônicos fortemente correlacionados. 2. Entropia de

emaranhamento. 3. Sólido de singletos. 4. Heisenberg, Modelo de. I. Doretto, Ricardo Luís, 1976-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Física Gleb Wataghin. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Entanglement entropy of dimerized antiferromagnets Palavras-chave em inglês:

Strongly correlated electron systems Entanglement entropy

Valence bond solid Heisenberg model

Área de concentração: Física Titulação: Mestre em Física Banca examinadora:

Ricardo Luís Doretto [Orientador] Frederico Borges de Brito

Eduardo Miranda

Data de defesa: 05-12-2017

Programa de Pós-Graduação: Física

(4)

AO INSTITUTO DE FÍSICA “GLEB WATAGHIN”, DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, EM 05 / 12 / 2017.

COMISSÃO JULGADORA:

- Prof. Dr. Ricardo Luís Doretto – Orientador – IFGW/UNICAMP

- Prof. Dr. Frederico Borges de Brito – IFSC/USP

- Prof. Dr. Eduardo Miranda – IFGW/UNICAMP

OBS.: Informo que as assinaturas dos respectivos professores membros da banca

constam na ata de defesa já juntada no processo vida acadêmica do aluno.

CAMPINAS

2017

(5)
(6)

Agrade¸co,

em especial ao Prof. Ricardo Lu´ıs Doretto, pela orienta¸c˜ao, paciˆencia e todo apoio necess´ario para realiza¸c˜ao deste trabalho.

`

a Unicamp e ao IFGW pela ´otima estrutura que oferecem aos estudantes e pesquisadores.

`

a todos os funcion´arios do IFGW, principalmente `a CPG e a secretaria do DFMC pelo excelente suporte.

`

a CAPES pela oportunidade dada atrav´es de minha bolsa de mestrado. `

a minha namorada Ingrid pelo seu companheirismo e inspira¸c˜ao.

aos familiares e amigos, sejam presentes ou distantes, que sempre me apoiaram em cada passo.

(7)

Nesse trabalho, calculamos a entropia de emaranhamento de um antiferromagneto de Heisenberg dimerizado em uma rede quadrada. Dois padr˜oes de dimeriza¸c˜ao distintos s˜ao considerados: colunar e alternado. Em ambos os casos, focamos na fase de s´olidos de singletos (VBS) que ´e descrita pela representa¸c˜ao dos operadores de liga¸c˜ao. Nesse formalismo, o hamiltoniano de spin original ´e mapeado em um modelo efetivo de b´osons interagentes com excita¸c˜oes de tripleto. O hamiltoniano efetivo ´e estudado na aproxima¸c˜ao harmˆonica e o espectro das excita¸c˜oes elementares e o diagrama de fase dos dois modelos dimerizados s˜ao determinados. Consideramos um subsistema unidimensional (cadeia) de comprimento L dentro de uma rede quadrada com condi¸c˜oes peri´odicas de contorno e calculamos a entropia de emaranhamento. Seguimos um procedimento anal´ıtico baseado na teoria de ondas de spin modificadas que havia sido desenvolvido originalmente para calcular a entropia de emaranhamento em fases magneticamente ordenadas. Em parti-cular, esse procedimento nos permite considerar subsistemas unidimensionais compostos por at´e 200 s´ıtios. Combinamos esse procedimento com o formalismo dos operadores de liga¸c˜ao na aproxima¸c˜ao harmˆonica e mostramos que, para os dois modelos de Heisenberg dimerizados, a entropia de emaranhamento da fase VBS obedece uma lei de ´area. Tanto para a dimeriza¸c˜ao colunar quanto para a alternada, mostramos que a entropia de ema-ranhamento aumenta `a medida que o sistema se aproxima da transi¸c˜ao de fase quˆantica entre as fases N´eel-VBS.

Palavras-chave: Sistemas fortemente correlacionados, Modelo de Heisenberg, S´olido de singletos, Entropia de emaranhamento

(8)

We calculate the entanglement entropy of spin-1/2 dimerized Heisenberg antiferromag-nets on a square lattice. Two distinct dimerization patterns are considered: columnar and staggered. In both cases, we concentrate on the valence bond solid (VBS) phase and des-cribe such a phase with the so-called bond operator representation. Within this formalism, the original spin Hamiltonian is mapped into an effective interacting boson model for the triplet excitations. We study the effective Hamiltonian at the harmonic approximation and determine the spectrum of the elementary triplet excitations and the phase diagram of both dimerized models. We then consider an one-dimensional (chain) subsystem of length L within a square lattice with periodic boundary conditions and determine the entanglement entropy. We follow an analytical procedure based on spin-wave theory that was originally developed to calculate the entanglement entropy of magnetic ordered pha-ses. In particular, it allow us to consider line subsystems up to 200 sites. We combine such a procedure with the results of the bond operator formalism at the harmonic level and show that, for both dimerized Heisenberg models, the entanglement entropy of the VBS phase obeys an area law. For both columnar-dimer and staggered-dimer models, we also show that the entanglement entropy increases as the dimerization decreases and the system approaches the N´eel–VBS quantum phase transition.

Keywords: Strong correlated systems, Heisenberg model, Valence bond solid, Entan-glement entropy

(9)

2.1 Distˆancias no modelo de Heitler-London, rα representa as distˆancias que

envolvem os el´etrons 1 e 2 e R representa as distˆancias que envolvem os n´ucleos. Extra´ıda da Ref. [18]. . . 20 2.2 Representa¸c˜ao esquem´atica do estado fundamental cl´assico para um

sis-tema (a) ferromagn´etico e (b) antiferromagn´etico. Os momentos magn´ eti-cos est˜ao situados sobre a rede cristalina do material e est˜ao alinhados em rela¸c˜ao a uma dire¸c˜ao espec´ıfica. . . 24 2.3 Magnetiza¸c˜ao normalizada pela magnetiza¸c˜ao m´axima, em fun¸c˜ao da

tem-peratura normalizada pela temtem-peratura de Curie [18]. A curva separa a fase ordenada da fase desordenada. A curva separa a fase ordenada da fase desordenada. Pr´oxima da magnetiza¸c˜ao total e pr´oxima da magneti-za¸c˜ao nula a curva segue um decaimento exponencial e decaimento de lei de potˆencia respectivamente. . . 25 2.4 Inverso da susceptibilidade magn´etica de trˆes tipos de materiais [18]. Em

sistemas ferrimagn´eticos, os spins primeiros-vizinhos, mas a magnetiza¸c˜ao de uma subrede ´e diferente da outra. . . 26 2.5 Representa¸c˜ao esquem´atica de um diagrama de fases em torno do ponto

cr´ıtico quˆantico rc para um sistema 3D [1]. O eixo vertical representa

a temperatura e o eixo horizontal o parˆametro de ordem. Variando-se a temperatura temos duas regi˜oes, uma ordenada e outra termicamente desordenada. A temperatura zero existe um ponto de transi¸c˜` ao rc que

separa a regi˜ao ordenada da regi˜ao desordenada. Efeitos da criticalidade quˆantica podem afetar quantidades f´ısicas a temperatura finita. . . 27 2.6 Fronteira entre o subsistema A e seu complementar B. Os subsistemas

trocam correla¸c˜oes localmente pela interface representada pela cor branca. 35 3.1 Estrutura cristalina do composto antiferromagn´etico LaCuO4. Na figura,

os ´atomos de cobre possuem momento magn´etico localizado e est˜ao alinha-dos sobre um plano, que pode ser aproximado como uma rede quadrada. Figura adaptada de [32]. . . 36

(10)

existˆencia de duas fases distintas, uma paramagn´etica quˆantica e uma fase com ordem magn´etica de longo alcance (fase de N´eel). . . 37 3.3 Representa¸c˜ao esquem´atica da a) dimeriza¸c˜ao alternada , b) dimeriza¸c˜ao

colunar em uma rede cristalina quadrada. As linhas finas e grossas cor-respondem, respectivamente, aos acoplamentos J e J0. Os pontos cinza escuro e azuis indicam os spins 1 e 2 das sub-redes adjacentes definidas pelos d´ımeros. . . 38 3.4 Representa¸c˜ao esquem´atica do diagrama de fases do modelo de Heisenberg

(3.3) com dimeriza¸c˜ao colunar, onde se observa a transi¸c˜ao entre o estado de N´eel e o s´olido de singletos (VBS). Variando-se um certo parˆametro de controle g = J0/J do sistema, a intera¸c˜ao J0 entre os pares de spins, representada pelas linhas cont´ınuas pretas, aumenta. A partir de um valor cr´ıtico gc, as intera¸c˜oes ficam t˜ao fortes que h´a a transi¸c˜ao para o estado

VBS, onde o sistema ´e dominado por singletos, representados por elipses. . 39 3.5 Rede (retangular) subjacente associada `a dimeriza¸c˜ao colunar. As

liga-¸c˜oes marcadas com um ponto vermelho representam as intera¸c˜oes J e J0 que devem ser calculadas para cada d´ımero. Os c´ırculos pretos e cinzas correspondem, respectivamente, aos spins ~S1 e ~S2 . . . . 40

3.6 Rede (retangular) subjacente associada `a dimeriza¸c˜ao alternada. As liga-¸c˜oes marcadas com um ponto vermelho representam as intera¸c˜oes J e J0 que devem ser calculadas para cada d´ımero. Os c´ırculos pretos e cinzas correspondem, respectivamente, aos spins ~S1 e ~S2. . . . 41

3.7 A primeira zona de Brillouin das dimeriza¸c˜oes, que ´e retangular para a dimeriza¸c˜ao colunar (a), limitada pelas retas ky = ±π e kx = ±π2, e tem

forma quadrada para a dimeriza¸c˜ao alternada (b), que possui os valores extremos ky = ±π e kx = ±π. A partir destes extremos podemos calcular

os pontos Γ, Y , M , X respectivos `as redes. . . 42 3.8 N´umero m´edio de singletos N0 e multiplicador de Lagrange µ para

diferen-tes valores da constante de acoplamento J0. `A medida que do acoplamento J0 decresce o n´umero m´edio de singletos diminui. . . 50 3.9 Espectro dos triplons na primeira zona de Brillouin para as dimeriza¸c˜oes

(a) colunar e (b) alternada, usando a aproxima¸c˜ao harmˆonica. Existe um gap de energia para as excita¸c˜oes que tente a zero ao aproximarmos do valor cr´ıtico Jc0. . . 50 3.10 Energia de gap para as dimeriza¸c˜oes (a) colunar e (b) alternada em termos

(11)

dire¸c˜oes. Para o caso (a) o subsistema apresenta 4 v´ertices que ir˜ao afetar os valores da entropia de emaranhamento. . . 58 4.2 Subsistema representado pela faixa azul, que cobre uma cadeia de d´ımeros. 59 4.3 Raiz quadrada dos autovalores µ2

m da matriz de correla¸c˜ao (4.20), referentes

`

a um subsistema que possui 100 s´ıtios e para as dimeriza¸c˜oes colunar (es-querda) e alternada (direita) em fun¸c˜ao de diferentes valores da constante de acoplamento J0. . . 63 4.4 Pseudo-energias kx (esquerda) e o espectro de triplons para ky = 0

(di-reita) para diferentes valores da constante de acoplamento J0. Os gr´aficos superiores, (a) e (b), se referem `a dimeriza¸c˜ao colunar, enquanto os gr´aficos inferiores, (c) e (d), s˜ao referentes `a dimeriza¸c˜ao alternada. . . 63 4.5 Entropia de emaranhamento de R´enyi (2.74) q = 1 (linha cont´ınua) e q = 2

(linha tracejada) em fun¸c˜ao do tamanho L0 do subsistema A, para diferentes acoplamentos J0. Dimeriza¸c˜ao colunar. . . 64 4.6 Entropia de emaranhamento de R´enyi (2.74) q = 1 (linha cont´ınua) e q = 2

(linha tracejada) em fun¸c˜ao do tamanho L0 do subsistema A, para diferentes acoplamentos J0. Dimeriza¸c˜ao alternada. . . 65 4.7 Criticalidade da entropia de emaranhamento S1, para L0 = 100. Pr´oximo

ao pronto cr´ıtico J0/Jc0 ≈ 1, o valor de S1cresce de maneira suave. Longe do

ponto cr´ıtico a entropia tente lentamente a um valor constante, indicando a queda da intera¸c˜ao entre os subsistemas. . . 66 4.8 Coeficiente a(J0), veja Eq. (4.62), em termos de |Jc0 − J0| para um

subsis-tema de tamanho L0 = 100. As curvas convergem a taxas diferentes. . . 67 4.9 Curvas utilizadas para determinar o n´umero de pontos utilizados para o

ajuste da uma reta ao gr´afico 4.10. Foram utilizados os valores m´aximos destas curvas como limiar. . . 67 4.10 Gr´afico log-log correspondente aos dados mostrados na Fig. 4.8, as curvas

s´olidas s˜ao os ajustes e a inclina¸c˜ao desta retas fornece o expoente cr´ıtico ν. 68 G.1 Integra¸c˜ao sobre a primeira zona de Brillouin retangular. . . 89

(12)

2.1 Temperatura cr´ıtica de alguns elementos. O primeiro grupo s˜ao materiais ferromagn´eticos caracterizados pela temperatura de Curie TC e o segundo

grupo s˜ao antiferromagnetos, caracterizados pela temperatura de N´eel TN.

Adaptado da Ref. [20]. . . 25 2.2 Susceptibilidade magn´etica de alguns materiais em torno da temperatura

ambiente. Adaptado das Refs. [23] e [24]. . . 27 3.1 Vetores primitivos do espa¸co rec´ıproco, que tamb´em d˜ao origem a uma rede

retangular para o caso colunar e uma rede quadrada para o caso alternado. 42 3.2 Valores cr´ıticos do parˆametro de ordem . . . 49 4.1 Coeficientes do ajuste S1(L0) = a L0 + b ln L0 + c, para diferentes valores

de J0, referentes as figuras 4.5 e 4.6. O coeficiente b ´e de 3 `a 5 ordens de grandeza menor que os outros parˆametros. . . 64 4.2 Comparativo entre os expoentes cr´ıticos obtidos neste trabalho e na Ref.

(13)

Lista de Figuras 9

Lista de Tabelas 12

1 Introdu¸c˜ao 15

2 Fundamentos te´oricos 18

2.1 Introdu¸c˜ao ao magnetismo . . . 18

2.1.1 Modelo de Heisenberg . . . 18

2.1.2 Fases magn´eticas cl´assicas . . . 22

2.1.3 Transi¸c˜oes de fase quˆanticas . . . 27

2.2 Fundamentos em mecˆanica quˆantica . . . 28

2.2.1 Emaranhamento . . . 28

2.2.2 Operador densidade e entropia de Von Neumann . . . 31

2.2.3 Operador densidade reduzido e entropia de emaranhamento . . . . 32

2.2.4 Comportamento da entropia de emaranhamento . . . 34

3 Antiferromagneto dimerizado e a fase s´olido de singletos 36 3.1 Introdu¸c˜ao . . . 36

3.2 Antiferromagneto na rede quadrada . . . 37

3.3 O modelo de Heisenberg para a fase VBS . . . 40

3.4 Descri¸c˜ao atrav´es dos operadores de liga¸c˜ao . . . 42

3.5 Diagonaliza¸c˜ao do hamiltoniano quadr´atico . . . 46

3.6 Equa¸c˜oes auto-consistentes . . . 48

4 Entropia de emaranhamento da fase VBS 52 4.1 Entropia de emaranhamento . . . 52

4.2 C´alculo da entropia de emaranhamento . . . 57

4.3 Discuss˜ao dos resultados . . . 62

5 Conclus˜oes 69

(14)

A Expoentes cr´ıticos e classes de universalidade 76

B Transforma¸c˜ao de Holstein-Primakoff 78

C Tranforma¸c˜ao de Bogoliubov de um hamiltoniano quadr´atico 80

D M´etodo de Newton em 2D 82

E Vetores de ordem magn´etica para a fase VBS 83

F Pseudoespectro e a matriz de correla¸c˜ao 86

(15)

Cap´ıtulo

1

Introdu¸c˜

ao

Atualmente, materiais antiferromagn´eticos tem sido bastante estudados devido `a des-coberta de um novo tipo de transi¸c˜ao de fase que pode ocorrer nesses materiais. Deno-minada de transi¸c˜ao de fase quˆantica, essa transi¸c˜ao ocorre `a temperatura zero e pela varia¸c˜ao de um parˆametro de controle como, por exemplo, a dopagem, a press˜ao sobre o material ou a intensidade de um campo magn´etico externo aplicado sobre o sistema. Nesse tipo de transi¸c˜ao de fase, a ordem do sistema ´e destru´ıda por flutua¸c˜oes de natu-reza quˆantica e a transi¸c˜ao pode ser interpretada como o resultado da competi¸c˜ao entre diferentes estados fundamentais [1]. Um dos sistemas mais estudados atualmente s˜ao os supercondutores de alta temperatura cr´ıtica, que apresentam uma transi¸c˜ao entre uma fase isolante antiferromagn´etica para uma fase supercondutora guiada pela dopagem do material. A fase supercondutora tem a propriedade de conduzir eletricidade sem resis-tˆencia devido ao aparecimento de um pareamento entre el´etrons, chamados de pares de Cooper.

A existˆencia do ponto cr´ıtico quˆantico afeta diretamente o espectro das excita¸c˜oes elementares do sistema, de modo que mesmo para temperaturas finitas ´e poss´ıvel detectar varia¸c˜oes nas propriedades do sistema. Por exemplo, aplicando press˜ao sobre um material antiferromagn´etico a temperaturas pr´oximas de zero, ´e poss´ıvel alterar levemente sua estrutura e induzir uma dimeriza¸c˜ao no material, at´e que para uma certa press˜ao cr´ıtica o material sofre uma transi¸c˜ao de fase quˆantica para a fase de s´olido de singletos, onde o estado fundamental ´e paramagn´etico [2].

O estudo do emaranhamento em sistemas de muitos corpos tem sido fundamental para a classifica¸c˜ao dessas transi¸c˜oes de fase quˆanticas [3]. Em particular, uma nova medida para caracterizar diversos tipos de sistemas tem sido utilizada recentemente na ´area de f´ısica da mat´eria condensada, a chamada entropia de emaranhamento. Essa quantidade foi introduzida por Bombelli [4] em 1986 no contexto da teoria quˆantica de campos aplicada ao estudo de buracos negros. Esta medida nada mais ´e que a entropia de Von Neumann aplicada a um sistema bipartido, onde consideramos um universo em equil´ıbrio t´ermico,

(16)

que est´a dividido entre sistema e banho. Ao contr´ario da entropia estat´ıstica, a entropia de emaranhamento n˜ao ´e uma quantidade extensiva, isto ´e, n˜ao escala com o volume do sistema, mas depende apenas do tamanho da fronteira entre as subdivis˜oes. Essa lei de ´area apresentada pela entropia de emaranhamento ´e sens´ıvel `a transi¸c˜oes de fase, de modo que seu valor cresce ou diminui dependendo do qu˜ao perto se est´a do ponto cr´ıtico quˆantico. Al´em disso, a entropia de emaranhamento tamb´em ´e sens´ıvel `as propriedades que n˜ao s˜ao capturadas pelas teorias baseadas em fun¸c˜oes de correla¸c˜ao e parˆametros de ordem como, por exemplo, as transi¸c˜oes entre fases que apresentam ordem topol´ogicas [5, 6], o que fornece uma vis˜ao alternativa e complementar sobre os sistemas de muitos corpos.

A determina¸cao da entropia de emaranhamento foi feita em diversos sistemas da ´area de f´ısica da mat´eria condensada [3, 7]. Calabrese e Cardy mostraram que para o modelo de Ising unidimensional com campo magn´etico transverso, a entropia de emaranhamento diverge quando o campo externo ´e forte o suficiente para quebrar a simetria do estado fundamental ferromagn´etico [8]. Alternativamente, Fr´enot e Roscilde estudaram a critica-lidade da entropia de emaranhamento pr´oxima `a transi¸c˜ao entre fases isolante e superfluida do modelo de Bose-Hubbard [9]. Em uma s´erie de trabalhos [10, 11, 12], Laflorencie e colaboradores calcularam tanto analiticamente quando atrav´es de simula¸c˜oes de Monte Carlo quˆantico a entropia de emaranhamento de um antiferromagneto na fase de N´eel descrito pelo modelo de Heisenberg J1-J2. Verificou-se que a entropia de emaranhamento

segue a lei de ´area e que apresenta tamb´em uma corre¸c˜ao logar´ıtmica, onde seu pr´e-fator ´e exatamente o n´umero de modos de Goldstone do sistema, em concordˆancia com o que havia sido previsto na Ref. [6]. Embora ainda n˜ao haja nenhum trabalho experimental onde a entropia de emaranhamento tenha sido medida, h´a propostas de protocolos para a determina¸c˜ao experimental dessa quantidade [13].

Neste trabalho, aplicamos t´ecnicas semelhantes `aquelas desenvolvidas nas referˆencias [9, 10, 11, 12] para calcular a entropia de emaranhamento do estado fundamental da fase de s´olido de singletos [valence bond solid (VBS)] de sistemas antiferromagn´eticos bidimen-sionais. Nessa fase, o estado fundamental ´e composto por singletos que se organizam de forma ordenada dependendo do tipo de dimeriza¸c˜ao do sistema. Wenzel e colaboradores [14] mostraram atrav´es de simula¸c˜oes de Monte Carlo quˆantico que algumas dessas dime-riza¸c˜oes podem apresentar propriedades distintas como, por exemplo, diferentes expoentes cr´ıticos. Em particular, verificou-se que a chamada dimeriza¸c˜ao alternada apresentou um comportamento cr´ıtico distinto da classe de universalidade O(3).

Para descrever analiticamente a fase VBS, utilizamos um modelo de Heisenberg bi-dimensional em uma rede quadrada em conjunto com o formalismo dos operadores de liga¸c˜ao introduzidos por Sachdev e Bhatt [15]. Com este formalismo, ´e poss´ıvel descrever bem a fase de s´olido de singleto e suas excita¸c˜oes. Essa t´ecnica foi aplicada com sucesso em diversos trabalhos como, por exemplo, as referˆencias [16] e [17].

(17)

Ap´os calcular o espectro das excita¸c˜oes elementares do modelo, calculamos tamb´em a entropia de emaranhamento de forma anal´ıtica, e mostramos que ela satisfaz a lei de ´area caracter´ıstica de sistemas que apresentam uma energia de gap finita. O comportamento cr´ıtico da entropia de emaranhamento tamb´em foi analisado, de forma que foi poss´ıvel extrair o expoente cr´ıtico ν para ambas as dimeriza¸c˜oes.

A organiza¸c˜ao deste trabalho ´e a seguinte: Faremos uma breve introdu¸c˜ao aos funda-mentos te´oricos necess´arios no cap´ıtulo 2 e modelaremos a fase VBS usando o formalismo dos operadores de liga¸c˜ao ao longo do cap´ıtulo 3. Em seguida, no cap´ıtulo 4, iremos apli-car o m´etodo descrito nas Refs. [9, 10, 11, 12] para calcular a entropia de emaranhamento do sistema. Mostraremos que para duas dimeriza¸c˜oes diferentes a lei de ´area ´e obedecida e calcularemos tamb´em seu comportamento perto da regi˜ao cr´ıtica. Apresentaremos nossas conclus˜oes e perspectivas futuras no cap´ıtulo 5. Alguns c´alculos extensos foram deixados para os apˆendices, assim como alguns detalhes num´ericos.

(18)

Cap´ıtulo

2

Fundamentos te´

oricos

2.1

Introdu¸

ao ao magnetismo

Neste cap´ıtulo, faremos uma breve introdu¸c˜ao `as ferramentas e aos conceitos b´asicos utilizados para descrever sistemas magn´eticos. Discutiremos o modelo de Heisenberg, os sistemas ferromagn´etico e antiferromagn´etico e as fases magn´eticas com ordem de longo alcance. Concluiremos o cap´ıtulo discutindo as transi¸c˜oes de fase cl´assica e quˆantica.

2.1.1

Modelo de Heisenberg

O modelo de Heisenberg ´e utilizado para descrever um sistema de spins interagentes. Para mostrarmos brevemente sua origem, vamos considerar o operador hamiltoniano para um sistema de 2 el´etrons com spin-1/2:

ˆ H = 2 X i=1 ˆ p2 i 2m + ˆV ( ~r1, ~r2), (2.1)

onde m ´e a massa das part´ıculas, ˆpi ´e o operador de momento linear, ~ri ´e a posi¸c˜ao da

part´ıcula i e V (~r1, ~r2) ´e a energia potencial de intera¸c˜ao entre as duas part´ıculas.

Sabemos que as fun¸c˜oes de onda para f´ermions s˜ao antissim´etricas perante a troca de posi¸c˜ao das part´ıculas e, assim, devemos construir os autoestados do hamiltoniano preservando essa simetria. O momento angular total do sistema est´a relacionado `a soma dos momentos angulares de cada el´etron. Para um sistema formado por dois spins S = 1/2, o estado antissim´etrico corresponde ao estado de singleto,

|0; 0i = √1

(19)

enquanto os estados sim´etricos correspondem aos trˆes estados de tripletos,

|1; 1i = | ↑↑i, (2.3)

|1; −1i = | ↓↓i, |1, 0i = √1

2( | ↑↓i + | ↓↑i ) .

As solu¸c˜oes da parte espacial podem ser antisim´etrica ou sim´etrica e as denotaremos por |q±i. Desta forma, a solu¸c˜ao completa de (2.1) ser´a o produto direto da parte espacial

e da parte de spin, o que fornece os autoestados de energia:

|ψi =    |q+i|0; 0i |q−i|1; msi , ms = 0, ±1. (2.4)

Como o hamiltoniano independe do spin eletrˆonico, a energia do sistema est´a associada apenas `a componente espacial do estado (2.4),

H|ψi = H|q±i = E±|q±i. (2.5)

Supondo que as energias E+ e E− sejam diferentes, haver´a um estado de menor energia,

o que implica que um dos estados de spin ser´a privilegiado em rela¸c˜ao ao outro. Neste caso, podemos tentar encontrar um hamiltoniano efetivo que ao inv´es de atuar sobre as coordenadas das part´ıculas atue apenas sobre os autoestados de spin, ou seja,

Hef f|0; 0i = E+|0; 0i, (2.6)

Hef f|1; msi = E−|1; msi.

Verifica-se que o hamiltoniano efetivo assume a forma

Hef f = J0 − J12S~1 · ~S2, (2.7) onde J0 = 1 4(E++ 3E−), (2.8) J12= 1 ~2 (E+− E−), (2.9) tal que H|ψi = Hef f|ψi. (2.10)

Para melhor investigar o caso E+ 6= E− e compreender o significado de J12, ´e

(20)

nas Refs. [18] e [19]. Considerando um sistema formado por dois ´atomos de hidrogˆenio, cada um possuindo um ´unico el´etron. O hamiltoniano que descreve esse sistema ´e dado por ˆ H = H0+ H1 (2.11) onde, H0 = 1 2m(p 2 1+ p 2 2) − e2 4πε0  1 r1a + 1 r2b  , (2.12) H1 = e2 4πε0  1 Rab + 1 r12 − 1 r1b − 1 r2a  , (2.13)

onde as distˆancias r1a , r1b,r2a, r2b, r12e Rab est˜ao mostradas na Fig. 2.1 O termo H0

des-creve as energias cin´eticas dos el´etrons e a intera¸c˜ao Coulombiana entre os el´etrons e seus respectivos n´ucleos, ao passo que H1 descreve a intera¸c˜ao entre os dois n´ucleos, a intera¸c˜ao

entre os dois el´etrons e um termo onde as intera¸c˜oes el´etron-n´ucleos est˜ao trocadas. A re-solu¸c˜ao completa da equa¸c˜ao de Schr¨odinger para esse hamiltoniano n˜ao ´e conhecida, mas podemos recorrer a um m´etodo variacional para obtermos alguns resultados interessantes desse modelo.

Vamos considerar o seguinte ansatz variacional para o estado fundamental do sistema |qi = c1|φ1ai|φ

2

bi + c2|φ2ai|φ 1

bi = c1|q1i + c2|q2i, (2.14)

onde c1 e c2 s˜ao constantes e |φai, |φbi s˜ao os autoestados do problema de ´atomos de

hidrogˆenio isolados, isto ´e, solu¸c˜oes de H0. Os coeficientes c1 e c2 s˜ao determinados

Figura 2.1: Distˆancias no modelo de Heitler-London, rα representa as distˆancias que envolvem

(21)

minimizando-se o valor esperado

E0 = hq| ˆH|qi

hq|qi (2.15)

que ´e um limite superior para o valor real da energia do estado fundamental. ´E interessante definir as seguintes integrais

L = hφ1,2a |φ1,2b i = Z d3r φ∗a(r)φb(r), (2.16) V = hq1| ˆH|q1i = hq2| ˆH|q2i = Z d3r1 Z d3r2H |φˆ a(r1)|2|φb(r1)|2, (2.17) X = hq1| ˆH|q2i = hq2| ˆH|q1i = Z d3r1 Z d3r2φ∗a(r1)φ∗b(r2) ˆH1φa(r2)φb(r1). (2.18)

Aqui, L ´e chamada de integral de overlap, uma quantidade que mede a superposi¸c˜ao entre os orbitais eletrˆonicos. A integral V ´e chamada de integral de Coulomb ou integral direta, e quantifica a energia eletrost´atica do sistema. A terceira integral X ´e a integral de troca. Desta forma, podemos reescrever o valor esperado (2.15) em termos das integrais (2.16)-(2.18), E0 = (c 2 1+ c22)V + 2c1c2X (c2 1+ c22) + 2c1c2L2 . (2.19)

Aplicando a condi¸c˜ao variacional

∂E0 ∂c1 = ∂E 0 ∂c2 = 0, (2.20) obtemos (c21− c22)(X − V L2) = 0. (2.21)

Em conjunto com a condi¸c˜ao de normaliza¸c˜ao para o estado |qi, verifica-se que os valores que minimizam a energia s˜ao c1 = c2 = 1/

2, de modo que o valor final da energia ser´a E±0 = V ± X

1 ± L2. (2.22)

A partir da equa¸c˜ao (2.22), nota-se que E+0 6= E0

− se L 6= 0 e/ou X 6= 0. A diferen¸ca entre

as energia E+ e E− fornece a constante J12 definida em (2.7),

J12= 1 ~2 (E+0 − E0 −) = 2 ~2 X − V L2 1 − L4 . (2.23)

Quando o overlap L ´e nulo, a constante J12´e proporcional apenas `a integral de troca X,

de modo que ´e comum o uso do nome integral de troca para se referir `a intera¸c˜ao entre os pares de spin.

Podemos generalizar essa intera¸c˜ao efetiva entre os spins dos dois el´etrons para o caso de um sistema constitu´ıdo por muitos el´etrons. Considerando que o momento magn´

(22)

e-tico efetivo do i-´esimo el´etron ´e dado por Sj, podemos generalizar a Eq.(2.7) e definir o

chamado modelo de Heisenberg ˆ

H =X

ij

Jij S~i · ~Sj. (2.24)

O valor da integral de troca Jij, tamb´em chamada de constante de acoplamento, determina

o qu˜ao forte ´e a intera¸c˜ao entre os spins. Experimentalmente, seu valor est´a relacionado, por exemplo, com a composi¸c˜ao do material (dopagem) ou com a press˜ao aplicada sobre o mesmo. Caso Jij < 0, o modelo descreve sistemas ferromagn´eticos, pois para minimizar

a energia necessitamos que os spins estejam alinhados na mesmo dire¸c˜ao. Alternativa-mente, para Jij > 0, o modelo descreve sistemas antiferromagn´eticos. Normalmente, s˜ao

desconsiderados termos de autointera¸c˜ao e supomos que a for¸ca da intera¸c˜ao ´e rec´ıproca. A soma em (2.24) inclui, em princ´ıpio, todos os spins mas, para spins localizados, uma boa aproxima¸c˜ao ´e considerar que os spins interagem apenas com seus vizinhos mais pr´oximos devido `a curta extens˜ao dos orbitais atˆomicos.

Embora o hamiltoniano de Heisenberg tenha uma forma simples, sua resolu¸c˜ao ´e com-plicada devido `as rela¸c˜oes de comuta¸c˜ao entre as componentes dos operadores de spin, isto ´e,

[Si, Sj] = i~ ijkSk. (2.25)

2.1.2

Fases magn´

eticas cl´

assicas

Vamos considerar o modelo de Heisenberg (2.24) em duas dimens˜oes espaciais, onde os spins est˜ao distribu´ıdos sobre uma rede quadrada de parˆametro de rede a = 1. Clas-sicamente, podemos considerar os operadores de spin como vetores cl´assicos de m´odulo S que apontam em uma dire¸c˜ao arbitr´aria no plano, assim,

~ Sn= S h cos( ~Q · ~Rn)ˆx + sin( ~Q · ~Rn)ˆy i , (2.26)

onde ˆx e ˆy s˜ao vetores unit´arios e ortogonais. O vetor ~Q ´e o chamado vetor de ordem e est´a ligado diretamente com a orienta¸c˜ao dos momentos magn´eticos, como mostrado abaixo. Supondo que a constante de acoplamento J12 dependa apenas das distˆancias

entre os spins, o hamiltoniano (2.24) se torna Hcl = S2

X

nm

J (| ~Rn− ~Rm|) cos[ ~Q · ( ~Rn− ~Rm)]. (2.27)

Estamos trabalhando sobre uma rede quadrada, onde ~Rn = n1x + nˆ 2y, com nˆ i sendo um

(23)

e definindo ~δ = ~Rn− ~Rm, temos que Hcl = S2N X ~ δ J (δ) cos( ~Q · ~δ) (2.28) = S2N 2J [cos(Qx) + cos(Qy)] ,

onde usamos que J (δ) = J = constante. Para encontrarmos a energia do estado fun-damental, minimizamos Hcl com rela¸c˜ao `as componentes do vetor ~Q. Considerando as

condi¸c˜oes sobre as primeiras derivadas, ∂Hcl ∂Qx = −S2N 2J a sin(Qxa) = 0, (2.29) ∂Hcl ∂Qy = −S2N 2J a sin(Qya) = 0, (2.30)

e sobre as segundas derivadas, ∂2Hcl ∂Q2 x = −S2N 2J a2cos(Qxa) ≥ 0, (2.31) ∂2Hcl ∂Q2 y = −S2N 2J a2cos(Qya) ≥ 0, (2.32)

obtemos duas solu¸c˜oes distintas dependendo do sinal da constante de troca J:

1. Caso J < 0. As componentes do vetor de ordenamento magn´etico s˜ao Qx= Qy = 0

e, desta forma, todos os spins encontram-se alinhados em uma mesma dire¸c˜ao, isto ´

e,

~

Sn = S ˆx. (2.33)

Esta ´e exatamente a ordem do estado fundamental de um material ferromagn´ e-tico. Um representa¸c˜ao gr´afica est´a mostrada na figura 2.2.

2. Caso J > 0. Aqui as componentes do vetor de ordenamento magn´etico s˜ao dadas por Qx = Qy = π, de modo que

~

Sn = S cos[π (n1 + n2)] ˆx = (−1)n1+n2 S ˆx. (2.34)

Nessa configura¸c˜ao, os spins est˜ao distribu´ıdos de modo antiparalelo em rela¸c˜ao aos seus primeiros vizinhos. Materiais que possuem esse tipo de ordenamento s˜ao chamados de antiferromagnetos. A figura 2.2 mostra uma representa¸c˜ao deste estado fundamental cl´assico onde ´e poss´ıvel ver o surgimento de duas sub-redes com diferentes orienta¸c˜oes, esse ´e conhecido como estado de N´eel.

(24)

(a) (b)

Figura 2.2: Representa¸c˜ao esquem´atica do estado fundamental cl´assico para um sistema (a) ferromagn´etico e (b) antiferromagn´etico. Os momentos magn´eticos est˜ao situados sobre a rede cristalina do material e est˜ao alinhados em rela¸c˜ao a uma dire¸c˜ao espec´ıfica.

acima, pois este ordenamento depende da temperatura do material. Uma quantidade utilizada para caracterizar sistemas ferromagn´eticos ´e a chamada magnetiza¸c˜ao que cor-responde `a soma ~ M = N X i h~Sii (2.35)

de todos os N momentos magn´eticos da rede. De modo an´alogo, para sistemas antiferro-magn´eticos, define-se a magnetiza¸c˜ao alternada como

~ Ma= N X i (−1)ih~Sii, (2.36)

que leva em considera¸c˜ao a estrutura de sub-rede do material. Estes valores quantificam o qu˜ao ordenado o sistema est´a, sendo seu valor m´aximo quando todos os spins estiverem paralelos (antiparalelos).

A figura 2.3 mostra uma medida experimental da magnetiza¸c˜ao de um material ferro-magn´etico (N´ıquel). Abaixo de uma temperatura cr´ıtica TC, chamada de temperatura

de Curie, o material est´a em uma fase ordenada, isto ´e, grande parte de seus momentos magn´eticos apontam em uma dire¸c˜ao espec´ıfica. Acima de TC, n˜ao h´a mais ordem

mag-n´etica e dizemos que o sistema se encontra em uma fase paramagn´etica. A magnetiza¸c˜ao perto do ponto cr´ıtico ´e descrita por uma lei de potˆencia de expoente cr´ıtico 1/2 (ver apˆendice A). Cada material possui um valor espec´ıfico de TC. A temperatura cr´ıtica para

sistemas antiferromagn´eticos ´e a temperatura de N´eel TN. A tabela 2.1 mostra alguns

valores de temperatura cr´ıtica para materiais ferromagn´eticos e antiferromagn´eticos. Na teoria de Landau [21], que descreve transi¸c˜oes de fase cl´assicas, a magnetiza¸c˜ao ´e o parˆametro de ordem do sistema. Como o parˆametro de ordem se aproxima de zero continuamente `a medida que a temperatura aumenta, dizemos que essa ´e uma transi¸c˜ao de

(25)

Figura 2.3: Magnetiza¸c˜ao normalizada pela magnetiza¸c˜ao m´axima, em fun¸c˜ao da temperatura normalizada pela temperatura de Curie [18]. A curva separa a fase ordenada da fase desordenada. A curva separa a fase ordenada da fase desordenada. Pr´oxima da magnetiza¸c˜ao total e pr´oxima da magnetiza¸c˜ao nula a curva segue um decaimento exponencial e decaimento de lei de potˆencia respectivamente.

segunda ordem. Landau foi o primeiro a perceber que algumas transi¸c˜oes de fases como, por exemplo, a transi¸c˜ao entre as fases paramagn´etica e ferromagn´etica est˜ao relacionadas com uma mudan¸ca de simetria do sistema. Na fase paramagn´etica, que ´e desordenada, os spins apontam para dire¸c˜oes aleat´orias, de modo que se giramos o sistema como um todo de um ˆangulo qualquer em rela¸c˜ao a uma dada dire¸c˜ao, ele ainda parecer´a o mesmo, isto ´e, completamente desordenado e aleat´orio. Dizemos ent˜ao que existe simetria de rota¸c˜ao dos spins. Por´em, para a fase magneticamente ordenada, existe uma dire¸c˜ao preferencial determinada pelo alinhamento dos spins e, assim, o sistema ´e invariante por rota¸c˜oes apenas ao longo dessa dire¸c˜ao. Nesse caso, como o sistema descrito pelo hamiltoniano (2.24) apresenta uma simetria maior que o estado fundamental, temos a chamada quebra espontˆanea de simetria. Sempre que h´a uma quebra espontˆanea de simetria existe o aparecimento dos modos de Nambu-Goldstone, que s˜ao excita¸c˜oes cuja a dispers˜ao ω(k) vai a zero quando o vetor de onda k tende a zero. Fisicamente, isto significa que o custo de

Tabela 2.1: Temperatura cr´ıtica de alguns elementos. O primeiro grupo s˜ao materiais ferromag-n´eticos caracterizados pela temperatura de Curie TC e o segundo grupo s˜ao antiferromagnetos,

caracterizados pela temperatura de N´eel TN. Adaptado da Ref. [20].

Material Temperatura cr´ıtica (K)

Cobalto 1388 Ferro 1043 N´ıquel 627 Gadol´ınio 292 Manganˆes 100 Cromo 308

(26)

energia necess´ario para gerar estas excita¸c˜oes ´e quase nulo e que o comprimento da onda associada `a excita¸c˜ao ´e da ordem do tamanho do sistema. Dois exemplos de modos de Goldstone em f´ısica do estado s´olido s˜ao os fˆonons, que ocorrem pela quebra de simetria de transla¸c˜ao cont´ınua da fase l´ıquida para uma simetria de transla¸c˜ao discreta da fase s´olida, e as ondas de spins nas fases magn´eticas que surgem da quebra da simetria de rota¸c˜ao dos spins. Outras propriedades s˜ao emergentes quando h´a quebra espontˆanea de simetria, como a rigidez do sistema e a velocidade de dispers˜ao dos modos. Para mais detalhes veja, por exemplo, a referˆencia [22].

Outra medida que caracteriza os sistemas magn´eticos ´e a susceptibilidade magn´etica χ definida pela rela¸c˜ao

~

M = χ ~H. (2.37)

Esta grandeza quantifica em um valor a varia¸c˜ao da magnetiza¸c˜ao ~M de um dado mate-rial devido a um campo magn´etico externo ~H, j´a que os momentos magn´eticos individuais tendem a se alinhar com o campo externo dependendo de sua intensidade. Materiais fer-romagn´eticos e antiferromagn´eticos podem ser diferenciados medindo-se sua susceptibili-dade magn´etica na fase paramagn´etica (desordenada), como esquematicamente ilustrado na Fig. 2.4 [23]. A susceptibilidade ´e uma quantidade adimensional que caracteriza cada material. Em alguns casos, onde a magnetiza¸c˜ao em uma certa dire¸c˜ao depende da com-ponente do campo magn´etico externo em outra dire¸c˜ao, a susceptibilidade ´e dada por um tensor de ordem 2. A tabela 2.2 mostra alguns valores de χ para um conjunto de elementos.

Figura 2.4: Inverso da susceptibilidade magn´etica de trˆes tipos de materiais [18]. Em sistemas ferrimagn´eticos, os spins primeiros-vizinhos, mas a magnetiza¸c˜ao de uma subrede ´e diferente da outra.

(27)

Tabela 2.2: Susceptibilidade magn´etica de alguns materiais em torno da temperatura ambiente. Adaptado das Refs. [23] e [24].

Material Susceptibilidade magn´etica (cm3/mol)

Cromo +1.67 × 10−4 Manganˆes +5.11 × 10−4 Gadol´ınio +1.85 × 10−1 H´elio −2.02 × 10−6 Cobre −5.46 × 10−6 Prata −19.5 × 10−6

2.1.3

Transi¸

oes de fase quˆ

anticas

Uma transi¸c˜ao de fase cl´assica pode ser observada em um material antiferromagn´etico quando o sistema passa pela temperatura de N´eel TN. Se a temperatura for maior que TN

n˜ao existir´a magnetiza¸c˜ao alternada no sistema, caso contr´ario, ir´a aparecer um ordena-mento espontˆaneo dos momentos magn´eticos. Neste caso, a temperatura ´e o parˆametro de controle que leva o sistema de uma fase para outra. Para o caso T = 0, podemos utilizar como parˆametro de controle a press˜ao aplicada ao sistema, dopagem ou o campo magn´etico aplicado. Neste caso, flutua¸c˜oes quˆanticas podem destruir a ordem do sistema caracterizando, assim, um transi¸c˜ao de fase quˆantica. A Fig. 2.5 mostra qualitativamente um diagrama de fase para um sistema tridimensional (3D) onde o valor cr´ıtico rc do

parˆametro de ordem r separa a regi˜ao ordenada da regi˜ao desordenada quanticamente. Podemos ver uma regi˜ao de desordem t´ermica acima da temperatura de N´eel, que est´a representada por um linha s´olida. ´E poss´ıvel definir uma regi˜ao de criticalidade quˆantica

Figura 2.5: Representa¸c˜ao esquem´atica de um diagrama de fases em torno do ponto cr´ıtico quˆantico rc para um sistema 3D [1]. O eixo vertical representa a temperatura e o eixo

hori-zontal o parˆametro de ordem. Variando-se a temperatura temos duas regi˜oes, uma ordenada e outra termicamente desordenada. `A temperatura zero existe um ponto de transi¸c˜ao rc que

separa a regi˜ao ordenada da regi˜ao desordenada. Efeitos da criticalidade quˆantica podem afetar quantidades f´ısicas a temperatura finita.

(28)

a uma temperatura finita situada exatamente acima do ponto cr´ıtico quˆantico (QCP), onde os efeitos quˆanticos provenientes da competi¸c˜ao entre os estados fundamentais po-dem provocar altera¸c˜oes nas propriedades macrosc´opicas do sistema. Uma discuss˜ao mais detalhada sobre esse assunto pode ser encontrada nas referˆencias [1, 25, 26].

2.2

Fundamentos em mecˆ

anica quˆ

antica

Uma breve introdu¸c˜ao dos conceitos de emaranhamento, operador densidade e entropia de emaranhamento ser´a desenvolvida nessa se¸c˜ao que ´e fortemente baseada nas Refs. [27] e [28].

2.2.1

Emaranhamento

Vamos considerar um sistema composto por dois subsistemas A e B cujos espa¸cos de Hilbert correspondentes s˜ao HA e HB. Sejam {|ϕAi i} e {|ϕBi i} respectivamente as bases

associadas aos subespa¸cos HA e HB. O espa¸co de Hilbert do sistema completo ´e dado

pelo produto tensorial dos dois subespa¸cos

HAB = HA⊗ HB. (2.38)

De forma geral, um estado arbitr´ario do sistema completo pode ser escrito como |ψABi = X m,n Am,n|ϕAmi|ϕ B ni. (2.39)

A dimens˜ao do espa¸co de Hilbert HAB ser´a o produto das dimens˜oes dos dois subespa¸cos

e os elementos da matriz A s˜ao coeficientes complexos que devem satisfazer a condi¸c˜ao de normaliza¸c˜ao

X

n,m

|An,m|2 = 1. (2.40)

Podemos ainda simplificar (2.39) usando a decomposi¸c˜ao do valor singular [29]

A = UDV∗, (2.41)

onde U ´e uma matriz quadrada unit´aria, V ´e uma matriz retangular que possui linhas ortonormais e D ´e uma matriz quadrada diagonal que possui as dimens˜oes do menor subespa¸co. Escrevemos ent˜ao

|ψABi = X n,m,k UmnDnnVnk∗ |ϕ A mi|ϕ B ki. (2.42)

(29)

Podemos escrever (2.42) em uma forma diagonal definindo |φAni =P mUmn|ϕ A mi , |φBni = P kV ∗ nk|ϕBki e Dnn = λn, isto ´e, |ψABi = min(NA,NB) X n λn|φAni|φ B ni. (2.43)

Esta ´e a chamada decomposi¸c˜ao de Schmidt, sendo {|φni} a base ortonormal de Schmidt

e λn os coeficientes de Schmidt. A soma ser´a limitada pela dimens˜ao do subespa¸co menor.

Sistema de dois spins-1/2

Para ilustrar os conceitos acima, vamos considerar um sistema de dois spins-1/2 onde podemos representar um vetor arbitr´ario do espa¸co HAB como

|ψABi = α| ↑↑i + β| ↑↓i + γ| ↓↑i + δ| ↓↓i, (2.44)

onde subentende-se que o primeiro spin se refere ao spin do subespa¸co A e o segundo spin ao subespa¸co B. Como o estado deve ser normalizado, impomos que α2+ β2+ γ2+ δ2 = 1.

Observe que a equa¸c˜ao (2.44) j´a est´a na forma diagonal de Schmidt (2.43). Considerando, em particular, que os subespa¸cos A e B s˜ao independentes, podemos escrever os estados referentes a cada subsistema como

|ψAi = a1| ↑iA+ a2| ↓iA,

|ψBi = b1| ↑iB+ b2| ↓iB,

(2.45)

de modo que o estado composto ser´a descrito pelo produto direto

|ψABi = |ψAi ⊗ |ψBi (2.46)

= a1b1| ↑↑i + a1b2| ↑↓i + a2b1| ↓↑i + a2b2| ↓↓i. (2.47)

Comparando-se as Eqs. (2.44) e (2.47), encontramos a condi¸c˜ao que caracteriza um estado do tipo produto

αδ = βγ. (2.48)

Vejamos dois exemplos para diferenciar os estados produto daqueles que n˜ao podem ser escritos como em (2.47): • Estado produto |ψABi = 1 √ 2( | ↑i + | ↓i ) ⊗ 1 √ 2( | ↑i + | ↓i ) = 1

2( | ↑↑i + | ↑↓i + | ↓↑i + | ↓↓i ) ,

(30)

onde αδ = βγ = 14. • Estado singleto |ψABi = 1 √ 2(| ↑↓i − | ↓↑i) , (2.50) onde αδ = 0 e βγ = −12.

Os estados que n˜ao podem ser decompostos como um produto de outros estados s˜ao estados emaranhados. Essa ´e uma propriedade quˆantica que n˜ao tem an´alogo cl´assico e ´e a base para a teoria de informa¸c˜ao quˆantica. Deve-se mencionar que a informa¸c˜ao sobre o emaranhamento entre os estados est´a codificado nos valores dos coeficientes de Schmidt λn.

Uma propriedade importante que diferencia os estados produto dos estados emaranha-dos segue da defini¸c˜ao da fun¸c˜ao de correla¸c˜ao

C(A,B)=< AB > − < A >< B > . (2.51)

Aqui, os observ´aveis A e B atuam apenas em seus respectivos subespa¸cos, por exemplo, para o caso de dois spins S = 1/2 descrito acima, temos que

A| ↑iA= a↑| ↑iA , A| ↓iA= a↓| ↓iA, (2.52)

B| ↑iB = b↑| ↑iB , B| ↓iB = b↓| ↓iB. (2.53)

A opera¸c˜ao < >= hψAB| |ψABi ´e o valor esperado de um observ´avel em rela¸c˜ao ao

sistema completo. Se a correla¸c˜ao for igual a zero, significa que as probabilidades de obter um resultado no subespa¸co A s˜ao independentes das probabilidades para o subespa¸co B. Usando (2.44) para calcular (2.51), obtemos

< A >= (α2+ β2) a↑ + (γ2+ δ2) a↓ < B >= (α2+ γ2) b↑+ (β2+ δ2) b↓. (2.54) Dessa forma, < A >< B >=(α2 + β2)(α2+ γ2) b↑a↑+ (α2 + β2)(β2+ δ2) b↓a↑ + (γ2+ δ2)(α2+ γ2) b↑a↓+ (γ2+ δ2)(β2+ δ2) b↓a↓, (2.55) < AB >= α2 b↑a↑+ β2 b↓a↑+ γ2 b↑a↓+ δ2 b↓a↓. (2.56)

(31)

j´a que

C(A,B) =(α2+ β2)(α2+ γ2) − α2  b↑a↑++(α2+ β2)(β2+ δ2) − β2 b↓a↑ (2.57)

+(γ2+ δ2)(α2+ γ2) − γ2  b↑a↓+(γ2+ δ2)(β2+ δ2) − δ2  b↓a↓ = 0.

A condi¸c˜ao para o primeiro termo entre colchetes (e semelhante para os demais) ´e

α2(α2+ β2+ γ2− 1) + β2γ2 = 0. (2.58)

Essa condi¸c˜ao n˜ao ´e geralmente satisfeita mas, para o caso de um estado produto, a correla¸c˜ao ser´a nula devido `a Eq. (2.48) al´em da condi¸c˜ao de normaliza¸c˜ao dos coeficientes. Portanto, estados produto, que s˜ao estados separ´aveis, n˜ao apresentam correla¸c˜ao entre si.

2.2.2

Operador densidade e entropia de Von Neumann

Um dos postulados da mecˆanica quˆantica nos diz que para um estado qualquer do sistema existir´a um ´unico operador densidade que o caracteriza [30]. No caso mais geral, um sistema quˆantico ser´a preparado como uma mistura estat´ıstica de v´arios estados |ψii,

cada um destes possuindo uma certa probabilidade cl´assica pi associada `a sua ocorrˆencia.

Neste caso, o operador densidade ´e definido como [31]

ρ =X

i

pi|ψiihψi|. (2.59)

Por exemplo, um feixe de el´etrons onde metade das part´ıculas possuem a proje¸c˜ao de seu spin na dire¸c˜ao para cima e metade na dire¸c˜ao para baixo ´e descrito pelo operador densidade

ρ = 1

2| ↑ih↑ | + 1

2| ↓ih↓ |. (2.60)

Como a soma das probabilidades deve ser igual `a unidade, identificamos a primeira pro-priedade do operador densidade,

T r(ρ) = 1. (2.61)

Considerando os autoestados do operador ρ para o c´alculo do tra¸co, temos que X

i

wi = 1, (2.62)

onde wi s˜ao os autovalores de ρ. Caso trabalhemos com um estado puro, ou seja, sem

mistura estat´ıstica de diferentes estados, ρ ser´a exatamente o projetor para esse estado, isto ´e,

(32)

Neste caso, as probabilidades s˜ao todas nulas exceto para o estado |ψi que possui 100% de probabilidade de ocorrer.

Sendo ρ um operador hermitiano, podemos usar sua representa¸c˜ao espectral

ρ =X

i

wi|aiihai|. (2.64)

Nota-se que ρ ser´a caracterizado por autovalores wi ≥ 0 e por uma base ortonormal {|aii}

que o diagonaliza. Novamente, ρ descrever´a um estado puro se todos seus autovalores forem zero, com exce¸c˜ao de um autovalor que ser´a igual a 1.

O valor esperado de qualquer observ´avel O pode ser calculado em termos de ρ, < O > =X i wihψi|O|ψii = X i wi X a X b

ha|ψiihψi|bihb|O|ai (2.65)

=X a ha| X i wi|ψihψ| ! O|ai = T r (ρ O) . (2.66)

Existe uma medida que pode determinar o grau de incerteza de um estado,

S(ρ) = −T r(ρ ln ρ), (2.67)

que, calculada na base dos autoestados de ρ, assume a forma

S(ρ) = −X

n

wnln wn. (2.68)

A partir de (2.68), verifica-se que para um estado puro S(ρ) = 0 pois wn = δni, isto

´e, a quantidade (2.67) assume seu valor m´ınimo. Por outro lado, para estados mistos haver´a a contribui¸c˜ao n˜ao nula de cada um dos autovalores de ρ e, assim, S > 0. A medida definida pela equa¸c˜ao (2.67) ´e a chamada entropia de Von Neumann que pode tamb´em ser interpretada como uma generaliza¸c˜ao para sistemas quˆanticos da entropia de Shannon, dada a forma da Eq. (2.68). Nesta interpreta¸c˜ao, S(ρ) = 0 representa nossa informa¸c˜ao m´axima sobre o estado do sistema.

2.2.3

Operador densidade reduzido e entropia de

emaranha-mento

As defini¸c˜oes do operador densidade e da entropia de Von Neumann podem ser es-tendidas para sistemas bipartidos. Um fato interessante ´e que se um sistema composto ´e descrito por um estado puro, geralmente seus subsistemas ser˜ao descritos por estados mistos, exceto se o estado composto ´e um estado produto como o estado (2.38) [31]. O operador densidade de um sistema composto formado por dois subsistemas A e B ´e dado

(33)

por

ρAB = |ψABihψAB| (2.69)

e, se usarmos a representa¸c˜ao da base de Schmidt (2.43), temos que ρAB = X n X m λnλ∗m|φ A ni|φ B nihφ A m|hφ B m|. (2.70)

O operador densidade reduzido pode ser encontrado quando eliminamos os graus de liberdade de uma das partes atrav´es do c´alculo do tra¸co parcial, desta forma,

ρA = T rB(ρ) = X m hφB m|ρ|φ B mi = X n |λn|2|φAnihφ A n|. (2.71)

Se realizarmos o procedimento an´alogo para determinar ρB, verificaremos que os

autova-lores de ρAs˜ao iguais aos autovalores de ρB. Observe que o espectro de autovalores de ρA

cont´em informa¸c˜oes sobre o emaranhamento dos subsistemas, pois s˜ao dados pelo m´odulo quadrado dos coeficientes de Schmidt λn. Valores esperados de observ´aveis podem ser

calculados diretamente a partir do operador densidade reduzido, < OA> = T r(ρ OA) = X m hφA m|hφ B m|ρ OA|φAmi|φ B mi (2.72) =X n |λn|2hφAn|OA|φAni = T rA(ρAOA).

A entropia de emaranhamento Sα ´e definida estendendo o conceito da entropia de

Von Neumann (2.67) para sistemas bipartidos. Utilizando o operador densidade reduzido (2.71), definimos Sα como

Sα = −T r(ραln ρα) = −

X

n

|λn|2ln |λn|2 , α = A, B, (2.73)

onde o tra¸co foi reescrito como uma soma usando os autovalores de ρα. A entropia de

emaranhamento condensa a informa¸c˜ao da correla¸c˜ao em um simples n´umero, ou seja, em uma ´unica medida. J´a que SA = SB, podemos desconsiderar o ´ındice α e considerar a

entropia dos dois subsistemas como uma ´unica quantidade.

Ainda ´e poss´ıvel generalizar o conceito de entropia de emaranhamento e definir a chamada entropia de emaranhamento de R´enyi de ordem q

Sq= 1 1 − q ln T r(ρ q α) = 1 1 − q ln X i |λi|2q ! , (2.74)

(34)

proprie-dades q ≥ 0 e q 6= 1. `A medida que q se aproxima de zero, a entropia de R´enyi quantifica as probabilidades mais igualmente, ao passo que para valores altos de q, as probabilidades recorrentes contribuem mais efetivamente. A entropia de Von Neumann pode ser obtida da Eq. (2.74) considerando o limite q → 1. Em princ´ıpio, ao tomarmos o limite

lim q→1Sq = 1 1 − 1ln X i |λi|2 ! (2.75)

obtemos um valor indeterminado, j´a que o termo entre parenteses ´e o tra¸co de ρα, que ´e

igual a 1. A indetermina¸c˜ao pode ser resolvida facilmente a partir da regra de L’Hopital. Usando que ∂q∂aq = aq ln a, podemos reescrever (2.75) como

lim q→1Sq = − limq→1 1 P i |λi|2q X i |λi|2q ln |λi|2 = − X i |λi|2 ln |λi|2 (2.76) ou seja, lim q→1Sq = S1 = −T r(ραln ρα). (2.77)

2.2.4

Comportamento da entropia de emaranhamento

A entropia de emaranhamento tem comportamento bem definido e espec´ıfico para diferentes sistemas f´ısicos. Na ´area de f´ısica da mat´eria condensada, um conjunto de sistemas foi estudado atrav´es de simula¸c˜oes computacionais e de m´etodos anal´ıticos. Uma revis˜ao mais detalhada sobre a entropia de emaranhamento em mat´eria condensada pode ser encontrada nas referencias [3] e [7] . A seguir, descreveremos propriedades da entropia de emaranhamento para dois tipos de sistemas que ser˜ao importantes para o entendimento deste trabalho.

A primeira classe de sistemas s˜ao aqueles que apresentam um gap de energia entre o estado fundamental e o primeiro estado excitado. Esses sistemas satisfazem a chamada lei de ´area

Sq = aqLd−1, (2.78)

onde aq ´e um coeficiente, L representa o comprimento do subsistema e d ´e o n´umero

de dimens˜oes espaciais do sistema. A equa¸c˜ao (2.78) possui uma interpreta¸c˜ao f´ısica simples: as correla¸c˜oes entre os subsistemas s˜ao proporcionais `as dimens˜oes da interface entre as duas regi˜oes, como ilustrado na Fig. 2.6. Portanto, `a medida que o sistema cresce, a entropia cresce de forma linear com a extens˜ao da superf´ıcie que divide os dois subsistemas.

A segunda classe de sistemas s˜ao aqueles que n˜ao apresentam um gap de energia entre o seu primeiro estado excitado e o estado fundamental. Em particular, para um sistema

(35)

Figura 2.6: Fronteira entre o subsistema A e seu complementar B. Os subsistemas trocam correla¸c˜oes localmente pela interface representada pela cor branca.

antiferromagn´etico na fase ordenada (fase de N´eel), foi mostrado analiticamente [6] que a entropia de emaranhamento apresenta uma corre¸c˜ao logar´ıtmica `a lei de ´area,

Sq = aqLd−1+ 1 2NGln ρs v L d−1+ γord q , (2.79)

dado que a fronteira entre as duas parti¸c˜oes seja suave e sem quinas. Estes sistemas sem gap apresentam excita¸c˜oes de baixa energia que, por exemplo, em sistemas ferromagn´eticos s˜ao as ondas de spin. As correla¸c˜oes entre os subsistemas s˜ao transportadas por essas excita¸c˜oes e, portanto, tamb´em contribuem para a entropia. Aqui, um aspecto interessante ´e que o pr´e-fator do termo logar´ıtmico em (2.79) ´e exatamente metade do n´umero dos modos de Goldstone NG associados `a quebra espontˆanea de simetria, como discutido

na se¸c˜ao 2.1.2. A ´ultima contribui¸c˜ao em (2.79) ´e um termo constante que depende da geometria do sistema como, por exemplo, a raz˜ao entre o tamanho do sistema e do subsistema.

(36)

Cap´ıtulo

3

Antiferromagneto dimerizado e a fase s´

olido

de singletos

Neste cap´ıtulo, iremos introduzir as propriedades de um antiferromagneto dimerizado e mostrar que em uma certa regi˜ao do espa¸co de parˆametros seu estado fundamental ´e dado por um s´olido de singletos. Ap´os deduzir o hamiltoniano que descreve o sistema, utilizaremos o formalismo dos operadores de liga¸c˜ao para efetuar os c´alculos de algumas propriedades da fase de s´olido de singletos.

3.1

Introdu¸

ao

Os s´olidos antiferromagn´eticos em geral apresentam uma estrutura cristalina bem de-finida, muitas vezes complexas quando em trˆes dimens˜oes. Dependendo do material, esta

Figura 3.1: Estrutura cristalina do composto antiferromagn´etico LaCuO4. Na figura, os

´

atomos de cobre possuem momento magn´etico localizado e est˜ao alinhados sobre um plano, que pode ser aproximado como uma rede quadrada. Figura adaptada de [32].

(37)

Figura 3.2: Energia de gap das excita¸c˜oes elementares do T lCuCl3, obtidas da espectroscopia

de espalhamento inel´astico de nˆeutrons [32], que mostram a existˆencia de duas fases distintas, uma paramagn´etica quˆantica e uma fase com ordem magn´etica de longo alcance (fase de N´eel).

estrutura pode formar planos de alinhamento entre os ´atomos como, por exemplo, os ´

atomos de cobre do antiferromagneto LaCuO4, mostrado na figura 3.1. Nesses casos, a

intera¸c˜ao entre os momentos magn´eticos no mesmo plano s˜ao mais intensas que as intera-¸c˜oes entre momentos magn´eticos localizados em planos diferentes, de modo que o material se comporta efetivamente como um sistema bidimensional.

No composto antiferromagn´etico T lCuCl3, esse alinhamento acontece de tal forma que

os momentos magn´eticos localizados est˜ao alinhados em cadeias unidimensionais acopladas [33]. A partir de um experimento de espectroscopia de espalhamento inel´astico de nˆeutrons neste composto [2], foi detectada a temperatura finita de T = 1.85K a emergˆencia de um estado quanticamente desordenado, uma fase paramagn´etica quˆantica. Mapeando a evolu¸c˜ao das excita¸c˜oes elementares do material, mostradas na figura 3.2, foi poss´ıvel verificar atrav´es da indu¸c˜ao de press˜ao sobre a amostra, que existe uma transi¸c˜ao entre o estado de N´eel e um estado chamado de s´olido de singletos, ou no inglˆes valence bond solid(VBS). Nas pr´oximas se¸c˜oes, iremos investigar a descri¸c˜ao desta fase.

3.2

Antiferromagneto na rede quadrada

Neste trabalho, estamos interessados em descrever um material antiferromagn´etico bidimensional atrav´es do modelo de Heisenberg (2.24). Vamos considerar momentos mag-n´eticos S = 1/2 localizados nos s´ıtios de uma rede quadrada que interagem apenas com seus primeiro-vizinhos. O hamiltoniano do sistema ´e dado por

H = X

<ij>

(38)

Na equa¸c˜ao (3.1), a intera¸c˜ao entre os spins primeiros-vizinhos s˜ao denominadas J e J0, ambas constantes e positivas e distribu´ıdas pela rede como mostrado na Fig. 3.3. Os pares de spins que est˜ao ligados pelo acoplamento J0 recebem o nome especial de d´ımeros. Dependendo da escolha das sub-redes, os d´ımeros poder˜ao se alinhar de diferentes manei-ras que denominamos dimeriza¸c˜oes. A Fig. 3.3 mostra as duas configura¸c˜oes dos d´ımeros que iremos abordar neste trabalho, a dimeriza¸c˜ao alternada e a dimeriza¸c˜ao colunar. O valor das constantes de acoplamento J e J0 dependem diretamente das integrais de troca (2.18) e de overlap (2.16). Entretando, em nosso estudo, vamos considerar J e J0 como parˆametros e vamos nos concentrar na regi˜ao J0 > J .

No limite J0 = J , o modelo (3.1) corresponde ao modelo

H = J X

<ij>

~

Si· ~Sj, (3.2)

que descreve sistemas antiferromagn´eticos cujo estado fundamental corresponde ao estado de N´eel ilustrado na Fig. 2.2b.

Agora, para o regime onde J0 >> J , a intera¸c˜ao entre o par de spins que comp˜oe o d´ımero se torna t˜ao forte que induz o emaranhamento entre esses dois spins que, ap´os atingirem o estado de equil´ıbrio, estar˜ao em um estado de singleto. Desta forma, o estado fundamental do sistema ser´a um s´olido de singletos (VBS) e n˜ao apresentar´a ordem magn´etica de longo alcance, ou seja, ser´a um paramagneto quˆantico. Nessa fase n˜ao h´a quebra espontˆanea de simetria, pois a simetria de rota¸c˜ao de spin do hamiltoniano ´e preservada pelo estado fundamental. Isto quer dizer que o valor esperado do operador de spin ~Si ´e nulo. Esta ´e uma indica¸c˜ao de que n˜ao h´a uma dire¸c˜ao de orienta¸c˜ao preferencial

dos spins como acontece nas fases ordenadas (veja Fig. 2.2).

(a) (b)

Figura 3.3: Representa¸c˜ao esquem´atica da a) dimeriza¸c˜ao alternada , b) dimeriza¸c˜ao colunar em uma rede cristalina quadrada. As linhas finas e grossas correspondem, respectivamente, aos acoplamentos J e J0. Os pontos cinza escuro e azuis indicam os spins 1 e 2 das sub-redes adjacentes definidas pelos d´ımeros.

(39)

A fase VBS possui propriedades bem diferentes da fase de N´eel, de modo que deve existir um valor cr´ıtico da raz˜ao J0/J onde a fase de N´eel ´e destru´ıda e h´a uma tran-si¸c˜ao de fase quˆantica para a fase VBS. A figura 3.4 mostra este comportamento que ´e qualitativamente igual `aquele observado para o T lCuCl3 discutido na se¸c˜ao 3.1 [2].

Outros tipos de dimeriza¸c˜oes, que n˜ao ser˜ao abordadas neste trabalho, tamb´em podem ocorrer [14, 16]. Isso acontece pois os d´ımeros podem se organizar de diversas formas que dependem exclusivamente das caracter´ısticas da estrutura cristalina do material [34].

Cada uma das dimeriza¸c˜oes poss´ıveis pode apresentar propriedades f´ısicas diferentes. Wenzel e colaboradores mostraram atrav´es de simula¸c˜oes de Monte Carlo quˆantico [14] do modelo Heisenberg (3.1) com duas intera¸c˜oes J e J0 para sistemas com milhares de s´ıtios que a dimeriza¸c˜ao alternada apresenta um comportamento cr´ıtico distinto das demais. Eles realizaram o c´alculo para v´arias raz˜oes do acoplamento α = J0/J e detectaram a transi¸c˜ao de fase quˆantica VBS-N´eel para o valor αc= 1.9096 para a dimeriza¸c˜ao colunar

e αc = 2.956 para a dimeriza¸c˜ao alternada. Perto dos respectivos valores cr´ıtico de α,

foram obtidos os expoentes cr´ıticos ν. Para a dimeriza¸c˜ao alternada, foi encontrado que νa = 0.689(5), ao passo que para a dimeriza¸c˜ao do tipo escada, que ´e equivalente `a

dimeriza¸c˜ao colunar, e para a dimeriza¸c˜ao dupla camada o resultado foi de ν = 0.709(6). Esses resultados indicam uma diferen¸ca da classe de universalidade (veja apˆendice A) entre estas duas dimeriza¸c˜oes. Com base nessa diferen¸ca, decidimos nesse trabalho analisar as dimeriza¸c˜oes alternada e colunar.

Figura 3.4: Representa¸c˜ao esquem´atica do diagrama de fases do modelo de Heisenberg (3.3) com dimeriza¸c˜ao colunar, onde se observa a transi¸c˜ao entre o estado de N´eel e o s´olido de singletos (VBS). Variando-se um certo parˆametro de controle g = J0/J do sistema, a intera¸c˜ao J0 entre os pares de spins, representada pelas linhas cont´ınuas pretas, aumenta. A partir de um valor cr´ıtico gc, as intera¸c˜oes ficam t˜ao fortes que h´a a transi¸c˜ao para o estado VBS, onde o

(40)

3.3

O modelo de Heisenberg para a fase VBS

O hamiltoniano de Heisenberg que modela o antiferromagneto dimerizado na fase VBS, na regi˜ao J0 > J , tem a seguinte forma:

H = J0X i∈D ~ Siα· ~Siβ + JX i∈D X τ ~ Siα· ~Si+τβ . (3.3)

Na equa¸c˜ao (3.3), D representa o conjunto de todos os d´ımeros e τ representa cada um dos primeiros vizinhos do d´ımero i. Neste caso, o ´ındice i indica o s´ıtio da rede subjacente definida pelos d´ımeros, que apresenta dois spins por c´elula unit´aria. Vamos utilizar os superescritos α e β para diferenciar esses spins, onde esses superescritos poder˜ao assumir os valores 1 e 2 referentes `as duas sub-redes do antiferromagneto. As Figs. 3.5 e 3.6 mostram as redes subjacentes respectivamente para as dimeriza¸c˜oes colunar e alternada e os correspondentes vetores τ em termos do parˆametro de rede da rede quadrada ori-ginal. Podemos identificar na figura as coordenadas dos d´ımeros primeiros vizinhos na dimeriza¸c˜ao colunar, que s˜ao

~

τx = 2aˆx,

~

τy = aˆy. (3.4)

Figura 3.5: Rede (retangular) subjacente associada `a dimeriza¸c˜ao colunar. As liga¸c˜oes mar-cadas com um ponto vermelho representam as intera¸c˜oes J e J0 que devem ser calculadas para cada d´ımero. Os c´ırculos pretos e cinzas correspondem, respectivamente, aos spins ~S1 e ~S2

(41)

Figura 3.6: Rede (retangular) subjacente associada `a dimeriza¸c˜ao alternada. As liga¸c˜oes marcadas com um ponto vermelho representam as intera¸c˜oes J e J0 que devem ser calculadas para cada d´ımero. Os c´ırculos pretos e cinzas correspondem, respectivamente, aos spins ~S1 e ~

S2.

Por outro lado, para a dimeriza¸c˜ao alternada temos ~

τ1 = a(−ˆx + ˆy),

~

τ2 = a(ˆx + ˆy). (3.5)

Definindo ni como um n´umero inteiro positivo, um vetor arbitr´ario ~R que descreve a

posi¸c˜ao de um d´ımero nas redes subjacentes pode ser escrito como ~

Ri = n1~τx+ n2~τy = n1~τ1+ n2~τ2. (3.6)

Os vetores primitivos da rede rec´ıproca podem ser obtidos utilizando as f´ormulas [20]

~g1 = 2π ~τ2× ~τ3 ~ τ1· (~τ2 × ~τ2) , ~g2 = 2π ~τ3× ~τ1 ~ τ1· (~τ2× ~τ3) . (3.7)

Precisaremos de um vetor ~τ3 que ´e ortogonal a ~τ1 e ~τ2. Podemos definir ~τ3 = b ˆz, por´em

como nosso sistema ´e bidimensional, ap´os realizarmos os c´alculos devemos fazer b = 0. A tabela 3.1 mostra o resultado desse c´alculo. A partir destes vetores primitivos, mostrados na tabela 3.1, podemos obter a primeira zona de Brillouin, que est´a mostrada na figura 3.7. Sua ´area ser´a ´util em nossos c´alculos e principalmente nos c´alculos num´ericos discutidos abaixo. Para a dimeriza¸c˜ao colunar, a primeira zona de Brillouin ´e retangular e sua ´area ´e igual a 2π2. Por outro lado, para a dimeriza¸c˜ao alternada, a primeira zona de Brillouin ´e um quadrado de lado l =√2π e, assim, sua ´area tamb´em ´e igual a 2π2.

(42)

Figura 3.7: A primeira zona de Brillouin das dimeriza¸c˜oes, que ´e retangular para a dimeriza¸c˜ao colunar (a), limitada pelas retas ky = ±π e kx= ±π2, e tem forma quadrada para a dimeriza¸c˜ao

alternada (b), que possui os valores extremos ky = ±π e kx = ±π. A partir destes extremos

podemos calcular os pontos Γ, Y , M , X respectivos `as redes.

Tabela 3.1: Vetores primitivos do espa¸co rec´ıproco, que tamb´em d˜ao origem a uma rede retangular para o caso colunar e uma rede quadrada para o caso alternado.

Colunar Alternada

~g1 = πaxˆ ~g1 = πa (−ˆx + ˆy)

~g2 = 2πayˆ ~g2 = πa (ˆx + ˆy)

3.4

Descri¸

ao atrav´

es dos operadores de liga¸

ao

De modo an´alogo `a teoria de Holstein-Primakoff (veja apˆendice B), onde os operadores de spin ~S s˜ao mapeados em operadores bosˆonicos de cria¸c˜ao e aniquila¸c˜ao, podemos definir operadores bosˆonicos que atuam sobre um v´acuo fict´ıcio e criam excita¸c˜oes do tipo singleto e tripleto, estes novos operadores s˜ao chamados de operadores de liga¸c˜ao [15]. Na sequˆencia, apresentaremos uma breve descri¸c˜ao desse formalismo.

Para os singletos, que possuem momento angular total S = 0, escrevemos

|si = s†|0i, (3.8)

e para os tripletos que possuem momento angular total S = 1

|αi = t†α|0i , α = {x, y, z}, (3.9) onde |s i = √1 2(| ↑↓i − | ↓↑i) , (3.10) |txi = − 1 √ 2(| ↑↑i − | ↓↓i) , (3.11)

(43)

|tyi = i √ 2(| ↑↑i + | ↓↓i) , (3.12) |tzi = 1 √ 2(| ↑↓i + | ↓↑i) . (3.13)

Calculando os valores esperados do operadores ~Sj com rela¸c˜ao aos estados de singleto

e tripleto apresentados acima, ´e poss´ıvel verificar que

S1,2= ±(s†jtjα+ sjt†jα∓ i αβγt†tjγ). (3.14)

Aqui, os ´ındices α, β e γ podem representar cada uma das trˆes componentes do operador ~

Sj, αβγ representa o tensor de Levi-Civitta e i representa a unidade imagin´aria. O ´ındice

j representa o j-´esimo d´ımero. Ao fazermos o mapeamento para os operadores de liga¸c˜ao transformamos um sistema de spins 1/2 em um sistema bosˆonico, onde podemos ter um n´umero arbitrariamente grande de part´ıculas no mesmo estado. Para resolver essa contradi¸c˜ao, impomos o v´ınculo que representa a situa¸c˜ao f´ısica onde em cada s´ıtio exista apenas um tripleto ou um singleto, o que se traduz em

s†isi+

X

α

t†tiα = 1. (3.15)

Com base nas conex˜oes entre os primeiros vizinhos dos d´ımeros indicados na Fig. 3.5, podemos escrever o Hamiltoniano (3.3) explicitamente para a dimeriza¸c˜ao colunar como

H = J0X i ~ Si1· ~Si2+ JX i  ~S1 i · ~Si+τ1 y+ ~S 2 i · ~Si+τ2 y+ ~S 2 i · ~Si+τ1 x  , (3.16)

onde somamos sobre todos os i-´esimos s´ıtios da rede subjacente. Portanto, substituindo (3.14) no hamiltoniano (3.16) e coletando os termos em fun¸c˜ao do n´umero de operadores de tripleto, obtemos H = H0+ H2+ H3 + H4, (3.17) onde H0 = − 3 4J 0X i s†isi, (3.18) H2 = J0 4 X i t†tiα+ J 4 X i X τ g2(τ ) n

s†i s†i+τ tiα ti+τ α+ sis † i+τ t † iαti+τ α+ h.c. o , (3.19) H3 = I 4 J αβγ X i n t†i+τ xβti+τxγ(s † i tiα+ t † iα si) − (i ↔ i + τx) o , (3.20) H4 = − J 4αβγ αβ0γ0 X i X τ g4(τ ) n t† tiγt † i+τ β0 ti+τ γ0 o . (3.21)

(44)

Para simplificarmos os c´alculos, introduzimos as fun¸c˜oes

g2(τ ) = 2δτ,τy − δτ,τx, (3.22)

g4(τ ) = 2δτ,τy + δτ,τx, (3.23)

e denotamos a unidade imagin´aria como I.

No estado fundamental da fase paramagn´etica, os d´ımeros se encontram no estado de menor energia, ou seja, est˜ao condensados no estado de singleto. Eventualmente, caso seja adicionada energia extra ao sistema, os singletos poder˜ao ser excitados para um estado de tripleto. Existe um gap entre estes dois n´ıveis de energia, que depende diretamente da constante de acoplamento J0. As excita¸c˜oes ir˜ao dar origem a triplons, que correspondem a estados de tripletos (spin S = 1) que se deslocam de d´ımero em d´ımero da rede similar ao que acontece com as ondas de spin na fase de N´eel. Portanto, devemos impor para o nosso hamiltoniano que todos os pares de spin localizados na rede subjacente se condensem no estado de singleto. Dessa maneira, iremos fazer nossa primeira aproxima¸c˜ao, onde os operadores de cria¸c˜ao e aniquila¸c˜ao de singletos se igualam a uma constante si = s

† i →

N0. Desse modo, obtemos um hamiltoniano efetivo para os triplons

H = H0+ H2+ H3 + H4, (3.24) onde H0 = − 3 4J 0N 0 N 2, (3.25) H2 = J0 4 X i t†tiα+ J 4N0 X i X τ g2(τ ) n tiα ti+τ α+ t † iαti+τ α+ h.c. o , (3.26) H3 = I 4 J p N0αβγ X i n t†i+τ xβti+τxγ(tiα+ t † iα) − (i ↔ i + τx) o , (3.27) H4 = − J 4αβγ αβ0γ0 X i X τ g4(τ ) n t† tiγt † i+τ β0 ti+τ γ0 o . (3.28)

Usando a transformada de Fourier sobre a primeira zona de Brillouin (BZ), com N0 =

N

2 e sendo ~Ri o vetor posi¸c˜ao do d´ımero i, escrevemos

t†i = √1 N0 X ~ k ∈ BZ e−i~k· ~Ri t† ~ kα. (3.29)

(45)

Substituindo (3.29) em (3.24), verifica-se que os termos Hi assumem a forma H0 = − 3 8J 0N oN, (3.30) H2 = X ~ k A~kt † ~t~kα+ 1 2 X ~ k B~k[t † ~t † −~kα+ h.c.], (3.31) H3 = 1 2√N0αβγ X ~ p~k ξ~k−~p(t † ~k−~p,αt † ~ pβt~kγ + h.c.), (3.32) H4 = 1 2N0αβγαµν X ~ p~k~q γ~kt†~p+~k,βtq−~~k,µt~pγt~q,ν, (3.33)

onde os fatores A~k, B~k, ξ~k e γ~k dependem das propriedades geom´etricas da seguinte forma

Ak = J0 4 + B~k, (3.34) B~k = J 2 N0 [2 cos(ky) − cos(2kx)], (3.35) ξ~k = −J sin(2kx), (3.36) γ~k = J 2[2 cos(ky) − cos(2kx)]. (3.37)

Para a dimeriza¸c˜ao alternada, podemos utilizar um procedimento similar. Entretanto, aqui, o equivalente do Hamiltoniano (3.16) ´e dado por

H = J0X i∈D ~ Si1· ~Si2+ JX i∈D  ~S1 i · ~S 2 i+τ1+ ~S 2 i · ~S 1 i+τ2 + ~S 2 i · ~S 1 i+τ2−τ1  . (3.38)

Novamente, impondo a condensa¸c˜ao local dos singletos e escrevendo o hamiltoniano no espa¸co de momentos, obtemos

Ak =

J0

4 + B~k, (3.39)

B~k = −

J

2 N0[cos(2kx) + cos(kx+ ky) + cos(kx− ky))], (3.40) ξ~k = −J [sin(2kx) + sin(kx+ ky) + sin(kx− ky))], (3.41)

γ~k = B~k. (3.42)

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