• Nenhum resultado encontrado

A nova realidade para a oferta e a demanda do milho brasileiro

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A nova realidade para a oferta e a demanda do milho brasileiro"

Copied!
5
0
0

Texto

(1)

A nova realidade para a

oferta e a demanda do

milho brasileiro

Por Alan Fabricio Malinski*

O cultivo de milho no Brasil vem desde os primórdios da colonização portuguesa. No princípio o produto era utilizado basicamente para a subsistência, mas com o decorrer do tempo foi ganhando importância e transformou-se no principal insumo para a produção de aves e suínos. Com o crescimento da produção agrícola brasileira, a partir de 1960 até o ano 2000, as regiões Sul, Sudeste e o estado de Goiás respondiam por aproxima-damente 70% da oferta nacional do grão. Entretanto, a partir de 2001, a dinâmica da pro-dução do cereal começou a tomar novos rumos, sendo que, na safra atual (2015/2016) o montante da produção destes estados representou menos de 45% da colheita no país. Os fatores responsáveis por esta mudança na cadeia produtiva do milho são diversos: expansão da agricultura para o cerrado; busca por novas tecnologias pelos produtores; desenvolvimento de sementes mais adaptadas às condições edafoclimáticas de cada região; aquisição de equipamentos de melhor rendimento e desempenho; criação de técnicas redutoras de perdas físicas e de qualidade, sem desprezar a preocupação am-biental e a adoção de políticas públicas voltadas para fortalecer o setor.

A expansão da soja para o cerrado levou junto a cultura do milho, que, inicialmente, era utilizado somente como prática de rotação de cultura para incrementar palhada ao solo fraco do bioma e também para quebrar o ciclo de pragas e doenças. De acordo com relato de diversos produtores, as áreas que passavam pelo cultivo de milho nos três anos seguintes apresentavam ganho de produtividade de três a cinco sacas de soja, compara-tivamente às áreas que não realizavam esta prática.

Desta forma, os produtores adotavam o plantio de milho em aproximadamente 20% das áreas, em cada ano, com o objetivo de melhorar a estruturação do solo e aumentar o rendimento das lavouras de soja. Assim, esta técnica começou a ganhar importância em Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul.

Entretanto, a partir de 2001, o plantio do milho segunda safra passou a ganhar destaque no cerrado (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás), assim como no Paraná e em São Paulo. Como mostra o gráfico 01, a participação do milho segunda safra passou de 24% da área plantada no período 2001/2002 para os surpreendentes 63% nesta safra atual, tornando-se a principal safra do cereal.

8abr

2016

* Alan Fabricio Malinski é Assessor Técnico de Cereais, Fibras e Oleaginosas e Engenheiro Agrônomo com MBA em Agronegócio

(2)

Gráfi co 01: Evolução da área de milho e a participação do milho verão e segunda safra

Gráfi co 02: Evolução da produção do milho verão e milho segunda safra

Fonte Conab | *Estimativas

O crescimento da participação do milho segunda safra ocorreu devido ao desenvolvimen-to da variedade de soja mais precoce, que possibilidesenvolvimen-tou a liberação de área para o plantio do milho no Cerrado a partir da segunda quinzena de janeiro até início de março, período considerado ideal para o cultivo do grão. Como nestes estados as chuvas ocorriam até meados de abril, as áreas plantadas até a primeira quinzena de fevereiro tinham rendi-mento acima de 100 sacas de 60 quilos por hectare.

As lavouras semeadas na segunda quinzena de fevereiro, no entanto, tinham potencial produtivo reduzido para aproximadamente 80 sacas por hectare e as áreas implantadas a partir deste período reduziam seu potencial drasticamente. Desta forma, as áreas culti-vadas a partir da segunda quinzena de fevereiro eram realizadas com sementes de baixa tecnologia e com menor investimento em adubação e tratamentos fi tossanitários. Neste período, os produtores relataram que a opção pelo plantio do milho segunda safra era de alto risco e que o objetivo não era obter lucro com a atividade. Desta forma, o plantio do cereal era realizado em aproximadamente 20% da área com o objetivo de obter renda para suprir os custos operacionais, cumprir com a folha de pagamento dos funcionários, reduzir a ociosidade dos funcionários na entressafra e fornecer boa palhada de cobertura para a próxima safra de soja.

A partir da safra 2011/2012, contudo, os rumos do milho safrinha começaram a seguir outra direção, devido ao fato de as chuvas do Centro-Oeste terem se prolongado até meados de junho e julho. Em 2012, as lavouras que normalmente obtinham rendimento de 100 a 120 sacas, obtiveram produtividades de 160 a 180 sacas com o mesmo inves-timento em insumos e tecnologia.

Com este incremento no regime hídrico, a produtividade média de Mato Grosso passou de 66 para 95 sacos por hectare (ha) e no Mato Grosso do Sul, o rendimento passou de 55 para 85 sacas por hectare. Logo, a média brasileira do milho segunda safra chegou aos 86 sacos/ha, ante 61sacos/ha na safra anterior. Desta forma, a produção do milho segunda safra passou de 22,5 milhões para 39,1 milhões de toneladas (+43%), contri-buindo também para o aumento de área de 1,46 milhão de hectares.

(3)

Nas safras seguintes, as chuvas continuaram se estendendo até meados de junho e julho, contribuindo assim para a manutenção das produtividades nestes novos patamares. Com este novo cenário, os produtores começaram a investir em tecnologia nas áreas planta-das até a primeira quinzena de março, buscando aumentar a produção e melhorando a rentabilidade da cadeia produtiva.

Sob esta ótica, a participação do milho segunda safra, no cultivo das propriedades do Centro-Oeste e das regiões Norte e Oeste do Paraná, subiu de 20% para aproximada-mente 40%, a partir do momento em que os produtores visualizaram a possibilidade de aumentar a rentabilidade com esta cultura. Desta forma, o planejamento para a implanta-ção das lavouras em cada ano safra já está contabilizando a participaimplanta-ção do milho após a colheita da soja. Com este novo panorama da cultura, mesmo com a queda constante da área da produção do milho verão, o aumento das áreas de milho segunda safra determi-nou incremento de 19% na área plantada, a partir de 2000, resultando em um aumento de 97% na produção nacional do cereal.

Este grande salto em produtividade e produção, contudo, começou a provocar problemas aos produtores, pois não havia local apropriado para o armazenamento deste montante. Sendo assim, começou a aparecer pilhas e pilhas de milho armazenadas a céu aberto, ocasionando perda de qualidade e quantidade. Diante deste quadro, os preços do cereal após a colheita do milho segunda safra permaneciam por alguns meses abaixo dos pre-ços mínimos determinados pelo governo federal.

Como consequência, de 2010 a 2014, foi necessária a intervenção estatal por meio de programas como os de Aquisição do Governo Federal (AGF), contratos de Opção de Venda e leilões de Prêmio para Escoamento de Produto (PEP) e Valor de Escoamento do Produto (VEP), dentro do objetivo de garantir os preços mínimos aos produtores do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.

Foto 01: Milho armazenado a céu aberto em Lucas do Rio Verde - MT

Crédito: Eliandro Zaffari/Aposoja-MT Crédito: Eliandro Zaffari/Aprosoja-MT Foto 02: Milho armazenado a céu aberto em Sinop - MT

Com esta nova realidade e diante da opção de melhorar a rentabilidade do plantio do milho segunda safra, os produtores começaram a buscar formas para armazenar a pro-dução, esperando assim o melhor momento para efetuar a venda do cereal, visando aumentar os lucros. Neste contexto, o governo federal lançou em 2013 o Programa de Construção de Armazéns (PCA), para a ampliação e construção de novos armazéns com prazo de até 15 anos para pagamento, três anos de carência e taxas de juros controla-das.

Assim, muitos produtores aderiram ao programa com o objetivo de ampliar a capacidade de armazenamento na propriedade (Foto 04). Outra opção que ganhou destaque e cres-ceu com este cenário foi a utilização dos silos bolsa (Foto 03), uma alternativa de baixo custo que possibilita o armazenamento dos grãos por até três anos sem comprometer a qualidade do cereal.

(4)

Foto 03: Armazenamento de milho em silo bolsa

Crédito: Alan Fabricio Malinski Crédito: Alan Fabricio Malinski Foto 04: Armazenamento de milho em armazém

Em razão do aumento de produção dos 57,4 milhões para 84,7 milhões de toneladas na safra de 2014/2015, o Brasil assumiu a posição de segundo maior exportador mundial de milho, atrás apenas dos Estados Unidos (EUA). Devido ao fato de o milho segunda safra ser colhido no período de entressafra dos EUA e possuir boa qualidade, diversos países despertaram interesse pelo produto nacional, elevando os embarques nos últimos anos acima de 20 milhões de toneladas. Na safra 2014/2015, as exportações ultrapas-saram os 34 milhões de toneladas.

Se, por um lado, os produtores de grãos estão satisfeitos com o crescimento constante da safra de milho e com as novas rentabilidades, garantidas principalmente pelo au-mento dos valores exportados, os produtores de ovos, leite e carnes estão preocupados devido aos elevados preços do cereal. Com a forte desvalorização do Real frente ao dólar, nos últimos meses, a alta do milho no mercado nacional mesmo no período de colheita, momento em que aumenta a oferta do cereal, tem comprometido a rentabilidade das atividades pecuárias.

Esta nova realidade para as cadeias produtivas de grãos e pecuária - nas quais o produ-tor de grãos tem condições de armazenar seu produto na espera do momento ideal para comercializar, além da grande demanda do mercado externo, mostram que é o momento de os agentes do setor da produção animal proporem a elaboração de políticas públicas de longo prazo com relação ao suprimento de grãos em patamares de preços que pos-sibilitem boa rentabilidade para o setor pecuário.

A profi ssionalização dos produtores de grãos, que têm investido em tecnologia e melho-rado os sistemas de gestão das propriedades, fez com que os mesmos defi nam o preço

Gráfi co 03: Evolução da oferta e demanda e das exportações do milho brasileiro

(5)

de venda de sua produção e, caso estes valores não sejam atingidos, a opção adotada é manter o produto armazenado por mais tempo. Nesse contexto, o milho mantido no mercado interno está nas mãos de produtores capitalizados, mostrando que o agricultor alcançou um patamar de profi ssionalização de produção e gestão que possibilita geren-ciar o momento ideal de vender sua produção.

Em contrapartida, é necessário que os agentes dos setores de carnes, ovos e leite desen-volvam ferramentas para garantir a aquisição dos grãos a preços competitivos, gerando rentabilidade positiva para o setor e, consequentemente, fomentando o desenvolvimento da atividade com a agregação de valor.

A produção brasileira de grãos está alcançando um nível tal onde a tecnologia empre-gada dentro da porteira possibilita o desenvolvimento do setor devido à melhor gestão das atividades, garantindo renda ao produtor rural. Isso foi possível devido à forte mobilização dos agentes públicos que operacionalizam instrumentos necessários em momentos críticos; dos agentes privados que disponibilizam novas opções de insumos com maior efi ciência a preços competitivos; e, especialmente, dos produtores que tem administrado com efi ciência a atividade primária. Todos estes fatores têm contribuído para o agronegócio brasileiro ser reconhecido mundialmente como um dos principais fornecedores de alimentos de qualidade e sustentáveis dos pontos de vista social, ambiental e econômico.

Referências

Documentos relacionados

Figure III. 37: Water vapor-liquid interfacial tension.. 38: Ethanol vapor-liquid interfacial tension. Interfacial tension was calculated using these coefficients in

No entanto, maiores lucros com publicidade e um crescimento no uso da plataforma em smartphones e tablets não serão suficientes para o mercado se a maior rede social do mundo

O valor da reputação dos pseudônimos é igual a 0,8 devido aos fal- sos positivos do mecanismo auxiliar, que acabam por fazer com que a reputação mesmo dos usuários que enviam

O petróleo existe na Terra há milhões de anos e, sob diferentes formas físicas, tem sido utilizado em diferentes aplicações desde que o homem existe. Pela sua importância, este

Finally,  we  can  conclude  several  findings  from  our  research.  First,  productivity  is  the  most  important  determinant  for  internationalization  that 

libras ou pedagogia com especialização e proficiência em libras 40h 3 Imediato 0821FLET03 FLET Curso de Letras - Língua e Literatura Portuguesa. Estudos literários

A Cooperoeste iniciou suas atividades sob a forma de ONG, exercendo, à princípio, um trabalho de caráter excepcionalmente social, com fornecimento de alimentos para

de lôbo-guará (Chrysocyon brachyurus), a partir do cérebro e da glândula submaxilar em face das ino- culações em camundongos, cobaios e coelho e, também, pela presença