Saúde da mulher, cirurgia obstétrica e assistência ao parto: relato de experiência de um estágio extracurricular em ginecologia e obstetrícia

Saúde da mulher, cirurgia obstétrica e assistência ao parto: relato de experiência de um estágio extracurricular em ginecologia e obstetrícia

Débora Ribeiro Vieira1 Maria das Mercês Borém Corrêa Machado2

INTRODUÇÃO

O currículo acadêmico pode ser dividido entre a grade curricular obrigatória e a extracurricular, sendo a primeira àquela proposta pelo Ministério da Educação e Cultura contendo disciplinas e atividades básicas para a formação e essa pelas atividades complementares que são desenvolvidas ao longo da graduação que podem envolver estágios, pesquisas e ações sociais.

O termo currículo, de origem latina, significa o percurso percorrido que em termos acadêmicos podemos entender como o conjunto de disciplinas que o estudante precisa cumprir para a construção de sua carreira. Essas disciplinas obrigatórias estão contidas nas diretrizes curriculares de todos os cursos, no caso da Medicina, com destaque à formação do médico generalista, de atuação ética e humanizada, com enfoque na Atenção Primária em Saúde, com a promoção da saúde e prevenção de doenças (TAVARES et al. 2007).

Existem dois tipos de currículo: o formal, ou obrigatório, que é aquele que prevê as atividades que deverão ser realizadas pelo estudante durante sua trajetória acadêmica em um curso de graduação superior e o informal, também conhecido como paralelo, ou seja, aquele em que o estudante elege as atividades que deseja realizar para complementar os seus estudos. Essas atividades extracurriculares, apesar de não serem obrigatórias são de responsabilidade da instituição em que o acadêmico está em formação (PERES, ANDRADE e GARCIA, 2007).

Várias atividades fazem parte desse currículo paralelo, entre elas estágios hospitalares, iniciação científica, ligas acadêmicas, projetos de pesquisa e de extensão, atividades em que o aumento da experiência clínica é o objetivo principal.

1

Discente do curso de graduação em Medicina das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros – FIP-Moc.

2_{Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES; docente do curso}

Geralmente são atividades que articulam o tripé universitário ensino, pesquisa e extensão, e têm como o objetivo complementar a formação acadêmica e diversificar os cenários de aprendizagem, aproximando as discussões acadêmicas da realidade, com enfoque dos reais problemas da sociedade (TAVARES et al., 20017; CARNEIRO et al., 2011).

Apesar de ser um curso extenso e que demanda tempo e energia do estudante, o acadêmico de medicina se envolve em diversas atividades extracurriculares durante toda a sua formação com o objetivo de suprir as necessidades pessoais que ele identifica em seu currículo. Peres, Andrade e Garcia (2007) apontam essa atitude como “crise do currículo médico”, em que o acadêmico sente a necessidade de complementar seus estudos com atividades e experiências devido à ansiedade de uma vivência como um profissional médico.

Em uma pesquisa realizada por Tavares et al (2007), 82,5% dos acadêmicos do curso de graduação em Medicina afirmou cumprir além das atividades curriculares as atividades do currículo paralelo, dedicando em média 8,2 horas semanais para essas atividades. Segundo os autores, o principal incentivo relatado pelos acadêmicos em realizar essas atividades foi melhorar o currículo e obter maior experiência clínica para o futuro profissional.

A disciplina Saúde da Mulher é hoje um dos cinco pilares estruturais do currículo médico formal, acompanhando a Saúde da Criança, a Saúde Mental, a Clínica Médica, a Clínica Cirúrgica e a Medicina Preventiva. Durante o curso de Graduação em Medicina os acadêmicos realizam diversas atividades teórico-práticas que englobam a Saúde da Mulher. São disponíveis diversos estágios curriculares em serviços de referência para que os acadêmicos possam aprofundar seus conhecimentos em uma área tão complexa da Medicina. Durante todo o período letivo, de fevereiro à dezembro, as instituições hospitalares recebem diversos acadêmicos que além de aprenderem com a prática auxiliam na produtividade do serviço; porém, durante o período de recesso das atividades acadêmicas, o serviço perde esse auxílio e acaba tendo a eficiência dessa assistência prejudicada.

Um estágio extracurricular é aquele realizado fora das exigências da grade curricular regular de um acadêmico durante sua graduação. Ele tem como objetivo inserir o estudante em uma rotina hospitalar contribuindo para o aperfeiçoamento de

consolidando o conhecimento a partir da atuação em um ambiente prático que futuramente será parte da vivência em sua vida profissional.

A Irmandade Nossa Senhora das Mercês/ Hospital Santa Casa de Montes Claros é a maior instituição hospitalar da Macrorregião do Norte de Minas Gerais, atendendo a mais de 90 municípios.Intitulada Hospital Amigo da Criança, concedido pela UNICEF e pelo Ministério da Saúde, certificada como Hospital Acreditado, Acreditado Pleno e Acreditado com Excelência, certificações emitidas pela ONA – Organização Nacional de Acreditação e Ministério da Saúde pela excelência dos cuidados e serviços prestados; além dos títulos e certificações oferece Programas de Residência Médica e Aprimoramento Profissional credenciados pela Comissão Nacional de Residência Médica.A Irmandade Nossa Senhora das Mercês/ Hospital Santa Casa de Montes Claros recebe semestralmente centenas de estudantes de graduação que atuam em diversos setores da instituição. Porém, durante o período de dezembro à fevereiro, período de recesso das atividades curriculares dos estagiários provenientes das faculdades de medicina, a Maternidade Irmã Beata e o Bloco Obstétrico ficam sem o acompanhamento regular dos estudantes, o que acaba sobrecarregando o trabalho da equipe médica. Como a demanda do serviço é muito grande, há a necessidade de auxiliares e a alternativa foi, em parceria com as Faculdades Integradas Pitágoras, disponibilizar um estágio inédito para que voluntários preenchessemessas vagas, que até então ficariam ociosas, favorecendo o aprendizado continuado do estudante e aumentando a eficiência do serviço sem gastos extras para a instituição hospitalar.

Sendo assim, esse trabalho tem como objetivo relatar a experiência dos acadêmicos do curso de graduação em Medicina das Faculdades Integradas Pitágoras em um estágio extracurricular desenvolvido em parceria com a Irmandade Nossa Senhora das Mercês/ Hospital Santa Casa de Montes Claros, realizado na Maternidade Irmã Beata, serviço de referência regional de alto risco em obstetrícia e de assistência à saúde da mulher, durante o período de dezembro de 2016 a fevereiro de 2017.

Este trabalho relata a experiência vivenciada pelos estagiários do Curso de Graduação em Medicina das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros – FIP-Mocna Irmandade Nossa Senhora das Mercês/ Hospital Santa Casa de Montes Claros, referência em Assistência em saúde na cidade de Montes Claros – MG, no período de dezembro de 2016 a fevereiro de 2017. Consiste em um relato de experiência, cujo estudo é descritivo, através do qual foi realizado estágio voluntário supervisionado não remunerado em um serviço de referência de alto risco em obstetrícia e de assistência à saúde da mulher. As ações consistiram em atendimento no serviço de urgência da maternidade, realização de partos, cirurgias e consultas ambulatoriais em ginecologia e obstetrícia.

RELATO DE EXPERIÊNCIA

O projeto de estágio extracurricular supervisionado em Saúde da Mulher, Cirurgia Obstétrica e Assistência ao Parto foi coordenado pela Diretoria de Ensino, Pesquisa e Extensão das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros em parceria com o Núcleo de Ensino e Pesquisa da Irmandade Nossa Senhora das Mercês/ Hospital Santa Casa de Montes Claros. Após a abertura do edital específico e divulgação, os acadêmicos interessados em participar se inscreveram e se comprometeram à realizar todas as atividades voluntárias supervisionadas propostas durante o período do estágio, entre os meses de dezembro de 2016 a fevereiro de 2017. Antes do início das atividades, foram realizadas reuniões de planejamento e capacitação de todos os acadêmicos envolvidos. Nessas reuniões foram discutidas as ações que seriam realizadas, as normas técnicas do hospital e a conduta ética que deveria ser seguida.

Foram dois meses de experiência, sendo sete semanas das férias de dezembro e fevereiro em que dezenove estudantes dedicaram seu tempo ao aperfeiçoamento das habilidades em assistência à saúde da mulher, cirurgia obstétrica e assistência ao parto. Cada acadêmico ficou responsável por quinze plantões de doze horas,totalizando assim uma carga horária final de cento e oitenta horas. Durante esse período, todos tiveram a oportunidade de acompanhar como são realizados os atendimentos em um serviço de urgência e emergência em ginecologia e obstetrícia, como é realizada a assistência ao trabalho de parto de

Irmã Beata é uma instituiçãode referência para alto risco, foi possível acompanhar o seguimento de procedimentos de alta complexidade como partos gemelares, gravidez ectópica, doenças hipertensivas gestacionais, partos prematuros, crescimento intrauterino restrito, macrossomia, descolamento prematuro de placenta, feto morto, curetagens uterinas, abordagem de miomas e endometriose, videocirurgias, sepse neonatal entre diversas outras intercorrências relacionadas à saúde da mulher respeitando o binômio materno-fetal.

CONCLUSÃO

Percebe-se a importância das ações desenvolvidas pelos estudantes para os serviços hospitalares, auxiliando os profissionais, assistindo os pacientes e seus familiares. Acredita-se que tanto o hospital como os acadêmicos se beneficiaram com esse estágio pioneiro oferecido pelas Faculdades Integradas Pitágoras e pela Irmandade Nossa Senhora das Mercês/ Hospital Santa Casa de Montes Claros: os estagiários com a oportunidade de construção e consolidação do aprendizado e melhora do seu currículo acadêmicoe o hospital com a contribuição dos estudantespara a eficiência do serviço de saúde, auxiliando médicos, técnicos e enfermeiros a realizar procedimentos e favorecendo a dinâmica dos atendimentos gineco-obstétricos.

REFERÊNCIAS

CARNEIRO, Jair Almeida et al. Unimontes Solidária: Interação Comunitária e Prática Médica com a Extensão. Revista Brasileira de Educação Médica. V. 35, n. 2, p. 283 – 288, 2011.

PERES, C. M.; ANDRADE, A. S.; GARCIA, S. B. Atividades Extracurriculares: Multiplicidade e Diferenciação Necessárias ao Currículo. Revista Brasileira de Educação Médica. N. 31, v. 3, p. 203-211, 2007.

TAVARES, Ari de Pinho et al. O “Currículo Paralelo” dos Estudantes de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Revista Brasileira De Educação Médica. V. 31, n. 3, p. 254 – 265, 2007.