MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL Procuradoria Geral Procuradoria Geral de Justiça Procuradoria da República em Alagoas
Ofício PG N.º /2014
Maceió, 22 de julho de 2014.
Assunto: RECOMENDAÇÃO CONJUNTA MPC/MPE/MPF – Portais da Transparência.
Senhor Gestor,
1. O Ministério Público de Contas, o Ministério Público Estadual e o Ministério Público Federal por meio de seus representantes legais abaixo firmados, no exercício das suas atribuições constitucionais e legais, vêm perante Vossa Excelência, para informar a respeito do Procedimento Ordinário (P.O.) n. 15/2014, instaurado no âmbito do Ministério Público de Contas, que tem como objeto verificar o cumprimento, pelos entes públicos alagoanos, do art. 48, parágrafo único, incisos II e III e do art. 48-A, ambos da Lei de Responsabilidade Fiscal (LC n. 101/00).
2. De modo mais específico, essa verificação envolve todos os órgãos do Executivo que constituam unidade orçamentária autônoma, os Legislativos municipais e as entidades da administração indireta municipal com relação à implantação de sistema que possibilite a realização de controle social da execução orçamentária. A LRF dispõe que são instrumentos de transparência da gestão fiscal “os planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas desses documentos” (art. 48, caput).
3. Além disso, estabelece que a transparência será assegurada mediante “liberação ao pleno conhecimento e acompanhamento da sociedade, em tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira, em meios eletrônicos de acesso público” e pela “adoção de sistema integrado de administração
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financeira e controle, que atenda a padrão mínimo de qualidade estabelecido pelo Poder Executivo da União e ao disposto no art. 48-A” (art. 48, incisos I e II, respectivamente).
4. O mencionado art. 48-A tem a seguinte redação:
Art. 48-A. Para os fins a que se refere o inciso II do parágrafo único do art.
48, os entes da Federação disponibilizarão a qualquer pessoa física ou jurídica o acesso a informações referentes a:
I – quanto à despesa: todos os atos praticados pelas unidades gestoras no
decorrer da execução da despesa, no momento de sua realização, com a disponibilização mínima dos dados referentes ao número do correspondente processo, ao bem fornecido ou ao serviço prestado, à pessoa física ou jurídica beneficiária do pagamento e, quando for o caso, ao procedimento licitatório realizado;
II – quanto à receita: o lançamento e o recebimento de toda a receita das
unidades gestoras, inclusive referente a recursos extraordinários.
5. Como se vê, trata-se de uma imposição aos gestores de que disponibilizem ao acesso público informações em tempo real e devidamente detalhadas sobre a execução orçamentária, além de possibilitar também o fácil acesso às ditas ferramentas de transparência fiscal. Ademais, deve-se observar a exigência de que essa funcionalidade seja ofertada em meio eletrônico e atendendo a parâmetros mínimos de qualidade, conformando os chamados “Portais da Transparência”.
6. No intuito de facilitar o cumprimento dessa obrigação e proporcionar um meio integrado de acesso às informações especificadas, o Tribunal de Contas do Estado de Alagoas, por meio da Instrução Normativa n. 001/2013, criou o SICAP-Transparência como forma de prover os seus jurisdicionados com ferramenta que atenda aos padrões mínimos de qualidade exigidos não só pela LRF, mas também pelo Decreto Federal n. 7.185/10, suprindo, assim, dificuldades operacionais e financeiras por parte dos municípios menores para implantarem seu portal próprio. Trata-se de mecanismo que a adesão e utilização são facultativas, mas que suprem o dever inscrito na LRF. No caso da não adesão, permanece a obrigação de fazer consistente em publicar em sítio próprio as informações exigidas pelo art. 48-A, da LC n. 101/00.
7. Sua instituição e efetivação são compulsórias a todos os entes da federação, tendo sido tal obrigação prevista pela Lei Complementar n. 131, de 27 de maio de
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2009, a qual também estabeleceu prazos para a devida adequação aos seus regramentos, conforme disposto no art. 73-B, inserido na LRF.
Art. 73-B. Ficam estabelecidos os seguintes prazos para o cumprimento das
determinações dispostas nos incisos II e III do parágrafo único do art. 48 e do art. 48-A:
I – 1 (um) ano para a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
com mais de 100.000 (cem mil) habitantes;
II – 2 (dois) anos para os Municípios que tenham entre 50.000 (cinquenta
mil) e 100.000 (cem mil) habitantes;
III – 4 (quatro) anos para os Municípios que tenham até 50.000 (cinquenta
mil) habitantes.
Parágrafo único. Os prazos estabelecidos neste artigo serão contados a
partir da data de publicação da lei complementar que introduziu os dispositivos referidos no caput deste artigo.
8. É de se ver, pois, que o último prazo, direcionado aos municípios com até cinquenta mil habitantes, se esgotou em 28 de maio de 2013. Entretanto, pelas informações até aqui levantadas (documentos em anexo), embora a unidade orçamentária de sua responsabilidade tenha aderido ao convênio referido na IN TCE/AL n. 001/2013, ainda não foi verificado o devido atendimento às exigências acima explanadas, em razão da não utilização da ferramenta, dado o não envio das informações devidas, o que representa conduta omissiva geradora de grave ilícito e passível de responsabilização.
9. Esclareça-se, ainda, que a mera criação de um portal em meio eletrônico não é suficiente, assim como também não é suficiente a mera adesão ao SICAP-Transparência. É necessário que seja de fácil acesso pela população e forneça as informações exigidas pela LRF e pela IN TCE/AL n. 01/2013 em tempo real. Só depois de atendidas a todas as exigências da LRF é que a obrigação pode ser tida como cumprida pelo gestor responsável.
10. Do contrário, estará passível de responsabilização no âmbito do Tribunal de Contas, mediante representação a ser formulada por este Ministério Público de Contas, que poderá pugnar pela repercussão da ilegalidade apontada no julgamento de suas contas anuais, sem prejuízo de eventual medida judicial cabível, através de comunicação ao Ministério Público Estadual, ou até mesmo por meio de efetivação de parcerias.
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11. Não bastasse isso, o próprio ente sofre a sanção contida no art. 73-C, da LRF, concernente à impossibilidade de receber transferências voluntárias, o que também pode ser objeto de eventual representação, caso persista a situação de não conformidade averiguada.
12. Frise-se, ainda, que no caso em tela é aplicável também o art. 9º, da Instrução Normativa TCE/AL n. 001/2013, que prevê a aplicação da multa prevista no art. 48, II, da Lei n. 5.604/94, na hipótese do não envio de informações, de envio incompleto, de informações inconsistentes ou da remessa fora do prazo regulamentar (tempo real – 1 dia após o registro contábil do ato).
13. Pelo exposto, RECOMENDAMOS a Vossa Excelência que, no prazo de 30 (trinta) dias, improrrogáveis, adote as providências necessárias ao cumprimento do dever de instituir e efetivar a disponibilização em meio eletrônico e em tempo real das informações concernentes à execução orçamentária do ente, seja através de sítio próprio, seja via SICAP-TRANSPARÊNCIA, ou demonstre, nesse mesmo prazo, o efetivo cumprimento dessa obrigação, sob pena de representação junto ao TCE/AL, o que será feito também na hipótese de decurso desse prazo sem manifestação, sem prejuízo da adoção das medidas cabíveis, no âmbito de suas competências, pelos Ministérios Públicos Estadual e Federal, além de comunicação aos órgãos repassadores de recursos públicos (transferências voluntárias) para os fins do art. 73-C da LRF.
14. As informações e documentos comprobatórios para fins de
acompanhamento do cumprimento da presente recomendação, devem ser encaminhadas ao Ministério Público de Contas (endereço constante no rodapé).
15. Certo de vossa plena colaboração, renovamos votos da mais alta consideração e apreço.
Atenciosamente,
PEDRO BARBOSA NETO Procurador Geral Ministério Público de Contas
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SÉRGIO JUCÁ Procurador Geral Ministério Público Estadual
ROBERTA LIMA BARBOSA BOMFIM Procuradora-Chefe Substituta
Ministério Público Federal
MARCELO JATOBÁ LÔBO Procurador da República Ministério Público Federal
TICIANA ANDREA SALES NOGUEIRA Procuradora da República