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Agricultura e meio ambiente : contexto e iniciativas da pesquisa publica

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Academic year: 2021

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Número: 122/2004 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

ADRIANA BIN

AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE:

CONTEXTO E INICIATIVAS DA PESQUISA PÚBLICA

Dissertação apresentada ao Instituto de Geociências como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Política Científica e Tecnológica

Orientadora: Profa. Dra. Sônia Regina Paulino

CAMPINAS - SÃO PAULO

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DO IG - UNICAMP

Bin, Adriana

B51a Agricultura e meio ambiente: contexto e iniciativas da pesquisa pública / Adriana Bin.- Campinas,SP.: [s.n.], 2004.

Orientador: Sônia Regina Paulino

Dissertação (mestrado) Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências.

1. Agricultura. 2. Meio ambiente. 3. Institutos de Pesquisa. 4. Ciência e tecnologia. I. Paulino, Sônia Regina. II. Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências III. Título.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

PÓS-GRADUAÇÃO EM POLITICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

AUTORA: ADRIANA BIN

AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE:

CONTEXTO E INICIATIVAS DA PESQUISA PÚBLICA

ORIENTADORA: Profa. Dra. Sônia Regina Paulino

Aprovada em: _____/_____/_____

EXAMINADORES:

Profa. Dra. Sônia Regina Paulino _____________________ - Presidente Prof. Dr. Sergio Salles-Filho _____________________

Dr. Geraldo Stachetti Rodrigues _____________________

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE:

CONTEXTO E INICIATIVAS DA PESQUISA PÚBLICA

RESUMO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Adriana Bin

A dissertação fundamenta-se na análise da internalização da variável ambiental nos institutos públicos de pesquisa agrícola (IPPAs), particularmente na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e no Instituto Agronômico (IAC). Discute-se esse processo entendendo-o como resultante de uma co-evolução entre o contexto institucional relacionado ao desenvolvimento do setor agrícola, com destaque para as trajetórias tecnológicas na agricultura, e as trajetórias organizacionais desses institutos. O fenômeno mundial de reorganização dos institutos públicos, ocorrido a partir da década de 1980, é o pano de fundo para o processo analisado, interpretado sob a ótica de construção e garantia das condições de legitimidade e competitividade dos IPPAs.

A internalização da variável ambiental constitui um processo recente e sem contornos nítidos sendo, no entanto, ilustrada pelas iniciativas formais (mandatos) e instrumentais dos institutos, notadamente aquelas relacionadas às formas de organização e gestão da pesquisa indicativas de alterações na orientação da P&D. O trabalho permitiu caracterizar e analisar a importância desses esforços organizacionais com base em três elementos principais: oferecimento de perspectivas de minimização e prevenção de impactos ambientais das atividades agrícolas pela indução ou reforço de linhas de pesquisa que incorporem o foco ambiental; contribuição no embasamento científico e tecnológico para a consideração da temática ambiental no comércio agrícola; e reforço da capacidade dos institutos de identificar, valorizar e capitalizar novos ativos e demandas considerados relevantes para a sobrevivência dessas organizações.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

AGRICULTURE AND ENVIRONMENT:

CONTEXT AND INITIATIVES OF PUBLIC RESEARCH

ABSTRACT

MASTERS DISSERTATION Adriana Bin

The present study analyses the integration of the environmental variable in public agricultural research centers, namely the Brazilian Agricultural Research Center (Embrapa) and the Institute of Agronomy (IAC). This process is understood as a result of co-evolution between the institutional context (emphasizing agricultural technological trajectories) and the organizational trajectories of the institutes. The backdrop of the analysis is the global phenomenon of reorganization of public research centers, initiated in the 80’s. Consequently, it is explained by the frame of construction and warrant of legitimacy and competitiveness for public agricultural research centers.

Integration of the environmental variable is a recent and unfinished process. However, it can be illustrated by the formal and operational initiatives of the institutes, notably initiatives related to research organization that indicate change in R&D orientation. The evaluation of importance of these organization efforts is based on three main factors: offering opportunity for minimization and prevention of environmental impact related to agriculture through incentive and reinforcement of R&D groups that demonstrate commitment to the environmental focus; contribution to scientific and technological knowledge for consideration of the environmental variable in agricultural commerce; reinforcement of the institutes’ capability to identify, value and capitalize on new assets and demands relevant to the survival of the organization.

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AGRADECIMENTOS

Certamente o momento de agradecer parece o mais natural de todos os momentos de redação de uma dissertação. Passamos dois anos pensando sobre um tema, pesquisando, escrevendo e enfim temos uma análise detalhada sobre algo específico, que mais do que representar um trabalho acadêmico, representa uma etapa de vida. Todos os finais de ciclos são duvidosos e ansiosos. O final do mestrado também. Porque ao mesmo tempo em que terminamos um trabalho que depende tanto do nosso esforço pessoal e do qual somos os maiores críticos, continuamos caminhando sem tantas certezas. Talvez seja assim sempre, pelo menos para quem busca tanto acertar e questione tanto a verdade dos acertos.

Sinto que entendi o significado da investigação e da descoberta. E mais do que isso, da criação. Sinto também que isso não seria possível sem tantas pessoas que me deram tanto apoio para executar e interpretar esse processo de aprendizado. Vejo que cada uma delas contribuiu para uma pequena parte do trabalho, fazendo uma diferença no processo, seja por meio de um texto indicado, uma conversa informal, uma idéia, uma ajuda, um abraço.

Assim, começo os agradecimentos. A Rachel, pelas primeiras conversas e por me indicar caminhos sempre com tanta atenção e carinho. Como não poderia deixar de ser, ao meu pai e à minha irmã, pelo amor, confiança e conforto de estarem sempre próximos e atentos.

A Pri, Ju, Jã e Ka, companheiras de casa e de vida, com quem pude compartilhar os êxitos e angústias de escrever uma dissertação e que tanto contribuíram para um cotidiano harmonioso e verdadeiro, nos sorrisos e nas crises. Aproveito para estender os agradecimentos para todos os amigos que estiveram comigo, mesmo que virtualmente, contribuindo com força e com flores.

Aos professores e colegas de turma do Departamento de Política Científica e Tecnológica, em especial a Paula e a Simone, pelas conversas e pelo bom humor. Agradeço também a Val e a Edinalva, por tornarem os caminhos sempre mais fáceis e agradáveis.

A todos os pesquisadores da Embrapa e do IAC que tanto colaboraram para a construção do corpo dessa dissertação e que me mostraram um pouco do funcionamento da pesquisa pública no Brasil. Em especial ao Feijão, por contribuir no descobrimento dos caminhos a percorrer no IAC, a Marília e Graciela, que me receberam com tanta atenção

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em Brasília, e ao Geraldo Stachetti, pela ajuda no desenvolvimento do projeto de Políticas Públicas da FAPESP, pela participação na banca de qualificação e por aceitar participar da banca da defesa.

Gostaria de agradecer imensamente a todos do GEOPI, com todo o respeito e admiração que tenho por cada um de vocês. Primeiramente e como não poderia deixar de ser, um agradecimento a Sônia Paulino, pela atenção, cuidado, eficiência e confiança que permearam a orientação desse trabalho, desde o momento de elaboração do projeto até o momento da defesa. Ao Sergio Salles, pelas contribuições “bibliográficas” e pessoais na participação da banca de qualificação e também por aceitar participar da banca de defesa. A Bia, por tornar o cotidiano geopiano tão agradável e integrador. A Ana Maria, Claudenício, Sônia Tilkian, Sérgio Paulino, Rui e Solange, pelo apoio intelectual, operacional e emocional. Aos estagiários Tacita, Ana e Marcelo pela torcida. Agradeço ainda pelo aprendizado resultante da minha participação no projeto de Políticas Públicas da FAPESP, realizado paralelamente ao mestrado e com contribuições fundamentais de tantos de vocês. Mais do que qualquer coisa, pela amizade e pelo carinho.

Ao Mauro, pelo amor, amizade, apoio e compreensão. E por tantas outras coisas que seria impossível traduzir.

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SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS... 1

LISTA DE QUADROS... 5

INTRODUÇÃO... 6

CAPÍTULO 1: NOVAS TRAJETÓRIAS ORGANIZACIONAIS DA PESQUISA PÚBLICA... 11

1.1. Abordagem conceitual... 11

1.1.1. Aprendizado e mudança organizacional ... 11

1.1.2. A internalização da variável ambiental nas trajetórias organizacionais ... 17

1.2. Determinantes e características da reconfiguração das trajetórias organizacionais dos IPPs... 24

1.2.1. Os imperativos de legitimidade e competitividade... 25

1.2.2. Outros elementos do contexto institucional... 27

O contexto de reorganização institucional... 28

Os processos de reorganização institucional... 30

Conclusão ... 37

CAPÍTULO 2: O CONTEXTO INSTITUCIONAL PARA A REORGANIZAÇÃO DOS IPPAS... 39

2.1. O padrão tecnológico agrícola e os impactos ambientais ... 39

2.2. A crise do padrão produtivista ... 48

2.3. Outros elementos do contexto institucional... 53

2.3.1. O mercado “verde” para os produtos agrícolas... 53

2.3.2. Regulamentações comerciais internacionais para produtos agrícolas e meio ambiente... 59

2.3.3. Bases técnico-científicas para a agricultura sustentável ... 64

A agricultura sustentável... 65

Transformação nas bases técnico-científicas da agricultura ... 68

2.4. Novas trajetórias organizacionais dos institutos públicos de pesquisa agrícola (IPPAs) ... 74

Conclusão ... 79

CAPÍTULO 3: A INTERNALIZAÇÃO DA VARIÁVEL AMBIENTAL NA EMBRAPA E NO IAC.... 83

(10)

3.2. Embrapa ... 87

3.2.1. Trajetória organizacional da Embrapa ... 88

3.2.2. Organização da pesquisa... 100

Gestão da Pesquisa... 100

Prospecção de demandas e monitoramento do ambiente externo... 100

Programação da Pesquisa... 102

Acompanhamento e avaliação de projetos... 105

Avaliação de Impactos Ambientais ... 107

3.2.3. A orientação da P&D ... 111

3.3. Instituto Agronômico ... 115

3.3.1. Trajetória organizacional do IAC ... 116

3.3.2. Organização da pesquisa... 120 3.3.3. A orientação da P&D ... 123 3.4. Um quadro comparativo... 128 Conclusão ... 133 CONCLUSÃO... 135 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 140 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA... 152 ANEXOS... 154

Anexo 1: Roteiro para entrevistas ... 155

Anexo 2: Organograma da Embrapa ... 158

(11)

L

ISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AAE Avaliação Ambiental Estratégica

AAO Associação de Agricultura Orgânica

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

Agrofuturo Projeto de Apoio à Inovação Tecnológica Agroalimentar e Agroindustrial para o Futuro

AIA Avaliação de Impacto Ambiental

ALCA Acordo de Livre Comércio das Américas

Ambitec-agro Sistema de Avaliação de Impacto Ambiental da Inovação Tecnológica Agropecuária

Ambitec-agroindústria Sistema de Avaliação de Impacto Ambiental da Inovação Tecnológica para Agroindústria

Ambitec-produção animal Sistema de Avaliação de Impacto Ambiental da Inovação

Tecnológica para Produção Animal

Ambitec-social Sistema de Avaliação de Impactos Sociais de Inovações Tecnológicas Agropecuárias

APOIA-Novo Rural Avaliação Ponderada de Impacto Ambiental de Atividades do Novo Rural

APP Área de Preservação Permanente

APPCC Avaliação de Perigos e Pontos Críticos de Controle

APTA Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

BPF Boas Práticas de Fabricação

C&T Ciência e tecnologia

CAP Comissões de Avaliação da Programação

CGE Comitê Gestor das Estratégias

CGEE Centro de Gestão e Estudos Estratégicos

CGP Comitê Gestor da Programação

CMMAD Comissão Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento

CNEPA Centro Nacional de Ensino e Pesquisas Agronômicas

CNPMA Centro Nacional de Pesquisa em Monitoramento e Avaliação de Impacto Ambiental

CNPSD Centro Nacional de Pesquisa de Seringueira e Dendê

CPA Coordenação de Pesquisa dos Agronegócios

CPATU Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Úmido

CT&I Ciência, tecnologia e inovação

CTE Committee on Trade and Environment

CTI Comitê Técnico Interno

CTMP Comitê Técnico do Macroprograma

CTS Comitê Técnico da Sede

DAS Departamento de Administração Superior

DDD Departamento de Descentralização e Desenvolvimento

DE Diretoria Executiva

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DNPEA Departamento Nacional de Pesquisa Agropecuária

DPD Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento

DPEA Departamento de Pesquisa e Experimentação Agropecuária

DreamSur Dynamic Research Evaluation for Management Program

Eco-92 II Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento

Embrapa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EMIT Environmental Measures and International Trade

Epamig Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais

EPE Escritório de Pesquisa e Experimentação

EUA Estados Unidos da América

FAO Food and Agriculture Organization of the United Nations

(Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação)

FAPESP Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo

FDA Food and Drug Administration

Finep Financiadora de Estudos e Projeto

Fontagro Fondo Regional de Tecnología Agropecuaria

FSC Forest Stewardship Council

GATT General Agreement on Trade and Tariffs

GEOPI Grupo de Estudos sobre Organização da Pesquisa e da Inovação

IAC Instituto Agronômico

IARC International Agricultura Research Centre (Centro

internacional de pesquisa agrícola)

IB Instituto Biológico

IBD Instituto Biodinâmico

IDI Índice de Desempenho Institucional

IEA Instituto de Economia Agrícola

IFOAM International Federation of Organic Agriculture Movement

IFPRI Food Policy Research Institute

IICA Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura

IMAFLORA Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola

Incaper Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural

INIA Instituto Nacional de Investigación Agropecuaria

IP Instituto de Pesca

IPEAN Instituto de Pesquisa e Experimentação Agropecuária do Norte

IPP Instituto público de pesquisa

IPPA Instituto público de pesquisa agrícola

ISO International Organization for Standardization

ITAL Instituto de Tecnologia de Alimentos

ITI Instituto tecnológico industrial

IZ Instituto de Zootecnia

LISA Low-Input/Sustainable Development

(13)

MEA Multilateral Environmental Agreement

MGE Modelo de Gestão Estratégica

MIP Manejo integrado de pragas

MP Macroprograma

NMA Núcleo de Monitoramento Ambiental e de Recursos Naturais

por Satélite

NPK Nitrogênio, fósforo e potássio

NRC National Research Council (Conselho Nacional de Pesquisa

dos EUA)

OECD Organisation for Economic Co-operation and Development

OEPA Organização estadual de pesquisa agropecuária

OGM Organismo geneticamente modificado

OMC Organização Mundial de Comércio

ONG Organização não governamental

ONU Organização das Nações Unidas

P&D Pesquisa e desenvolvimento

PAC Política Agrícola Comum

PDE Plano Diretor da Embrapa

PDU Plano Diretor da Unidade Descentralizada

Pesagro-Rio Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio de Janeiro

PIF Produção Integrada de Frutas

PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

PPA Plano Plurianual

Procensul II Programa para o Desenvolvimento da Pesquisa Agropecuária da Região Centro-Sul

Procisur Programa Cooperativo para o Desenvolvimento Tecnológico Agropecuário do Cone Sul

Prodetab Projeto de Apoio ao Desenvolvimento de Tecnologia para o Brasil

Rio +10 Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável

SAA Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São

Paulo

SAAD-RH Sistema de Planejamento, Acompanhamento e Avaliação dos Resultados do Trabalho Individual

SAPRE Sistema de Avaliação e Premiação por Resultados

SARE Sustainable Agriculture Research and Education Program

SAU Sistema de Avaliação de Unidades

SCPA Sistema Cooperativo de Pesquisa Agropecuária

SEA Secretaria de Administração Estratégica

SEG Sistema Embrapa de Gestão

SEP Sistema Embrapa de Planejamento

SGE Secretaria de Gestão e Estratégia

SIGA Sistema de Informação e Gerenciamento Administrativo

SIPA Sistema Integrado de Produção Agroecológica

SNPA Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária

SPC Sistema de Planejamento Científico

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TIC Tecnologia de informação e comunicação

TRIPs Trade-Related Aspects of Intellectual Property Rights (Acordo de Propriedade Intelectual Relacionado ao Comércio)

UC Unidade Central

UD Unidade Descentralizada

UE União Européia

UEPAE Unidade de Execução de Pesquisa de Âmbito Estadual

(15)

L

ISTA DE

Q

UADROS

Quadro 1. O Sistema Embrapa de Planejamento (SEP) e o Sistema Embrapa de Gestão (SEG)... 96 Quadro 2. Linhas de P&D segundo o foco ambiental ... 113 Quadro 3. Síntese das informações obtidas em entrevistas... 130

(16)

I

NTRODUÇÃO

A presente dissertação de mestrado resultou da confluência de interesse em três temas de pesquisa: meio ambiente, agricultura e ciência, tecnologia e inovação (CT&I). São várias as ligações entre os temas, assim como são várias as possibilidades de trabalhos desdobradas a partir deles. No entanto, a vontade de proceder a um aprofundamento sobre o papel desempenhado pela pesquisa pública e as perspectivas de integração aos trabalhos do Grupo de Estudos sobre Organização da Pesquisa e da Inovação – GEOPI, do Departamento de Política Científica e Tecnológica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), acabaram desembocando no desenho final do projeto de pesquisa e do presente trabalho, que tem por objetivo analisar a integração da variável ambiental na pesquisa agrícola, com base na abordagem da dinâmica de inovações e tendo como referência as trajetórias organizacionais dos institutos públicos de pesquisa agrícola (IPPAs).

Ao longo da história do Brasil, os institutos públicos de pesquisa apresentaram um papel destacado, tanto no que se refere ao desenvolvimento científico e tecnológico quanto pelas contribuições para a solução de problemas sócio-econômicos (Mello, 2000). O estudo desses institutos colabora fortemente para formulação de políticas de ciência, tecnologia e inovação no país e, conseqüentemente, para estratégias de fortalecimento do sistema nacional de inovação.

A partir de meados da década de 1980, observam-se transformações nos padrões organizacionais da pesquisa pública no âmbito mundial, mediante uma reconfiguração no contexto institucional (e nas trajetórias tecnológicas concernentes a esse contexto) no qual os institutos de pesquisa estão imersos. Essas transformações manifestam-se também para o caso brasileiro, configurando processos de reorganização dos institutos públicos de pesquisa, ou seja, mudanças com o intuito de obter maior flexibilidade e autonomia para lidar e se relacionar com um novo ambiente externo, garantindo legitimidade e competitividade a esses institutos (Salles-Filho et al., 2000). Passa-se a exigir dos IPPs a produção de respostas científicas e tecnológicas que permitam melhorar a competitividade das indústrias no país e a qualidade de vida da sociedade (Zouain, 2001). Todavia, apesar de apresentarem dimensões comuns, as respostas desses institutos são marcadas por especificidades, relacionadas às suas características internas, à sua história e às

(17)

características particulares do contexto no qual se localizam, configurando processos de aprendizado e trajetórias evolutivas únicos.

Uma das sinalizações desse novo contexto externo é a crescente importância da temática ambiental, principalmente pela percepção dos impactos ambientais associados às atividades agrícola e industrial. Além de representar um novo parâmetro de legitimidade para a pesquisa desenvolvida nos institutos (para atender os anseios da população em relação a produtos, processos e serviços que minimizem e previnam impactos ambientais e também da legislação ambiental), a temática ambiental inaugura e redimensiona áreas de pesquisa e impõe desafios à forma de execução da pesquisa, além de impulsionar novos padrões de competitividade atrelados à qualidade ambiental. Para o contexto da pesquisa agrícola, além de serem válidos, esses argumentos adquirem contornos específicos, indo de encontro aos questionamentos e incorporação de novos atributos de referência ao modelo agrícola produtivista.

Nesse sentido, essa temática ambiental torna-se um elemento possivelmente indutor de transformações na pesquisa pública (particularmente na pesquisa agrícola) e, paralelamente, nas organizações em que se desenvolve essa pesquisa, cabendo no presente trabalho o destaque aos institutos públicos de pesquisa. No entanto, essa temática se manifesta de diferentes formas nas trajetórias dessas organizações, dadas as especificidades inerentes às mesmas. Por isso denominá-la variável ambiental, entendendo-se variável

como aquilo que pode manifestar-se sob mais de uma forma ou aspecto, em situações ou contextos distintos.

O pano de fundo proposto para o entendimento da internalização da variável ambiental nos institutos públicos de pesquisa agrícola é o processo de reorganização desses institutos e seus desdobramentos nas trajetórias organizacionais. O enfoque a partir dos institutos públicos de pesquisa contribui para elucidar aspectos do processo de inovação vinculados à organização da pesquisa e desenvolvimento (P&D), privilegiando um tipo de ator cujo papel é historicamente central na consolidação das trajetórias tecnológicas ligadas ao desenvolvimento do setor agrícola. A análise se baseia nas iniciativas formais dos institutos relacionadas à organização e gestão da pesquisa e indicativas de alterações na orientação da P&D com vistas à consideração da problemática ambiental.

A diversidade de manifestações da variável ambiental em situações distintas é mostrada a partir da análise das iniciativas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

(18)

(Embrapa) e do Instituto Agronômico (IAC), institutos de grande importância no contexto da pesquisa agrícola brasileira. Verificam-se diferenças marcantes em suas trajetórias organizacionais, o que remete a quadros bastante distintos no que se refere à internalização da variável ambiental. A Embrapa foi fundada em 1973, no intuito de dar suporte ao processo de modernização da agricultura brasileira e centralizar a coordenação, financiamento e execução da pesquisa agrícola no âmbito federal. É coordenadora do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA), que integra ainda as Organizações Estaduais de Pesquisa Agropecuária (OEPAs), universidades e institutos de pesquisa no âmbito federal ou estadual e demais organizações públicas e privadas, direta ou indiretamente vinculadas à atividade de pesquisa agropecuária. O IAC foi fundado em 1887 tendo uma importância histórica no desenvolvimento da agricultura brasileira, principalmente por sua atuação em segmentos de grande relevância no setor. É um órgão da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), vinculada a Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA).

Neste trabalho as iniciativas de integração da variável ambiental são situadas historicamente nas trajetórias organizacionais dos referidos institutos, com ênfase nos seus processos de reorganização. Nesse sentido, pretende-se entender esses esforços, sejam eles formais e/ou instrumentais, sob a ótica da garantia da legitimidade e competitividade dos institutos, ou seja, da sua capacidade de desenvolver, valorizar e “capitalizar” esse ativo em consonância com a busca de competências essenciais e reforço do processo de aprendizado, garantindo a continuidade dessas organizações.

Assim, pode-se apontar que, por um lado, a internalização da variável ambiental é imprescindível para a identificação e divulgação sistemática e com embasamento técnico dos benefícios ambientais oferecidos pelas pesquisas dos institutos, contribuindo, se considerarmos o questionamento da sociedade quanto aos impactos ambientais associados às atividades agrícolas, para a legitimação desses institutos. Este aspecto é válido tanto para os resultados já obtidos quanto para a programação futura, uma vez que as informações geradas podem influenciar e subsidiar uma programação da pesquisa na qual a meta de prevenção e minimização da degradação ambiental e de incorporação da qualidade ambiental se consolide como um dos elementos orientadores. Por outro lado, essa internalização fomenta a competitividade dos institutos públicos num contexto demandante de tecnologias que respondam também a critérios de eficácia ambiental, bem como de

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tecnologias compatíveis com o estabelecimento de padrões ambientais no comércio agrícola nacional e internacional.

O presente trabalho se baseou em ampla pesquisa bibliográfica sobre aprendizado e mudança organizacional, reorganização de institutos públicos de pesquisa, dinâmica de inovações na agricultura, pesquisa agrícola e agricultura sustentável, e notadamente, na intersecção desses temas com a temática ambiental. O estudo dos institutos de pesquisa agrícola foi fundamentado na coleta de dados primários, por meio de entrevistas baseadas em roteiros pré-estabelecidos com pesquisadores, técnicos e gestores da Embrapa e do IAC e acesso a fontes secundárias sobre os referidos institutos, principalmente relacionadas aos seus processos de reorganização e às iniciativas de inserção da variável ambiental.

O trabalho está estruturado em três capítulos. O primeiro capítulo, “Novas

trajetórias organizacionais da pesquisa pública” trata dos processos de reorganização dos

institutos públicos de pesquisa. Identifica-se a base conceitual para o entendimento da dinâmica da inovação nas organizações e de seus processos de aprendizado. Ainda na primeira seção, procura-se fornecer elementos para interpretar a internalização da variável ambiental nas trajetórias organizacionais. A segunda seção concentra-se no fenômeno global de reorganização dos institutos públicos de pesquisa, delineando o contexto no qual esse fenômeno ocorre e as dimensões comuns a esses processos de reorganização.

O segundo capítulo, “O contexto institucional para a reorganização dos IPPAs” detalha o contexto que suporta o processo de reorganização dos institutos públicos de pesquisa agrícola e a integração da variável ambiental nesse processo. Remonta-se, inicialmente, ao histórico de consolidação do padrão agrícola moderno e seus desdobramentos em termos de impactos ambientais e na organização dos sistemas de pesquisa agrícola em âmbito mundial. Na segunda seção, caracterizam-se os elementos que direcionam o questionamento desse padrão produtivista, enquanto, na terceira seção, esses elementos são discutidos sob a ótica da questão ambiental, resultando em três pontos fundamentais: a emergência de um mercado “verde” para os produtos agrícolas, a questão ambiental nas regulamentações comerciais internacionais e o redirecionamento do foco da pesquisa agrícola para a sustentabilidade. A quarta seção fornece elementos específicos para o entendimento do processo de reorganização dos institutos de pesquisa agrícola frente ao contexto institucional delineado.

(20)

Já o Capítulo 3, “A internalização da variável ambiental na Embrapa e no IAC”, avança a discussão, apontando as transformações observadas nesses dois IPPAs no que se refere às formas de gestão e organização da pesquisa e aos indicativos de reorientação da P&D sob influência da sinalização da variável ambiental no contexto institucional. As iniciativas de internalização da variável ambiental nos dois institutos são entendidas em meio a seus processos de reorganização e históricos recentes. Ou seja, tais iniciativas estão referenciadas nas transformações externas e nas características internas dos institutos que configuram processos particulares de aprendizado.

A conclusão permite associar os casos estudados à construção conceitual e descritiva dos dois primeiros capítulos, ilustrando a atuação de organizações imersas em um determinado contexto institucional e que evoluem de acordo com sua capacidade de alterar rotinas em meio às mudanças nesse contexto. Além disso, aponta elementos comparativos para os casos estudados, delineando a forma particular de co-evolução entre o contexto institucional, com destaque para as trajetórias tecnológicas da pesquisa agrícola, e as trajetórias organizacionais da Embrapa e do IAC. No caso dos institutos públicos de pesquisa agrícola, essa trajetória configura, entre outros elementos, a internalização da variável ambiental, seja pela sua incorporação em termos de compromissos formais, na prática do planejamento de pesquisa, na orientação da P&D, na “capitalização” de resultados ambientais, entre outras formas. No entanto, mais do que representar avanços ambientais, a internalização dessa variável, analisada na presente dissertação, contribui para o entendimento da capacidade dos institutos públicos de pesquisa de adaptação e de aprendizado voltada para reforçar seu papel enquanto atores do sistema de ciência, tecnologia e inovação, e mais do que isso, sua função pública.

(21)

C

APÍTULO

1: N

OVAS TRAJETÓRIAS ORGANIZACIONAIS DA PESQUISA PÚBLICA

Este capítulo apresenta a base conceitual para o entendimento dos processos de reorganização dos institutos públicos de pesquisa e, particularmente, do fenômeno de internalização da variável ambiental em meio a esses processos.

Na primeira seção, procura-se identificar uma abordagem conceitual que auxilie na compreensão da dinâmica da inovação nas organizações. O enfoque evolucionista neo-schumpeteriano se mostra adequado, ao oferecer elementos analíticos para interpretar as mudanças sinalizadas nas trajetórias organizacionais e tecnológicas e que incidem sobre essa dinâmica da inovação.

A partir desta abordagem conceitual de referência, parte-se, na segunda seção, para o entendimento do fenômeno global de reorganização dos institutos públicos de pesquisa, delineando o contexto no qual esse fenômeno ocorre e suas dimensões comuns.

1.1. A

BORDAGEM CONCEITUAL

Entender como os institutos públicos de pesquisa agrícola internalizam a variável ambiental pressupõe que se entenda como eles funcionam. Não existe uma teoria consolidada que lide especificamente com institutos públicos de pesquisa. Existem, no entanto, abordagens que lidam com o entendimento das organizações onde ocorre pesquisa, desenvolvimento tecnológico e inovação. A seguir, apresenta-se uma abordagem conceitual para interpretar como ocorre a evolução das trajetórias dessas organizações e, notadamente, para discutir a internalização da variável ambiental.

1.1.1. Aprendizado e mudança organizacional

A abordagem neo-schumpeteriana, elaborada por vários autores (Rosenberg, 1969, 1976; Nelson e Winter, 1977; Dosi, 1982; Freeman, 1996a), propõe um conjunto de conceitos destinados a analisar a dinâmica da inovação e seus efeitos sobre o sistema econômico. Se bem que fortemente atrelada ao estudo do papel da firma capitalista, tal abordagem propõe um marco conceitual que pode ser útil também ao estudo de outros

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atores que atuam na conformação da dinâmica da inovação, tais como as organizações cuja missão consiste no desenvolvimento da pesquisa científica e tecnológica.

A seguir, são apresentados os conceitos que serão retomados ao longo deste trabalho, com o objetivo de analisar a inserção da variável ambiental nas trajetórias que dão suporte à pesquisa agrícola.

Schumpeter (1984) afirma que o processo de inovação contribui fortemente na configuração do caráter dinâmico e evolutivo do capitalismo por meio do fenômeno da

destruição criadora, ou seja, um fenômeno de mutação industrial, que incessantemente

revoluciona a estrutura econômica a partir de dentro, incessantemente destruindo-a e recriando-a. A inovação tecnológica pode ser entendida como decorrência de um processo socialmente construído pelos atores envolvidos ou interessados na geração da inovação (Hasegawa, 2001), ou seja, resultante de um contexto institucional em que se destacam as forças de mercado e resultados do desenvolvimento científico e tecnológico. Conceitualmente, a inovação diz respeito à introdução de produtos ou processos tecnologicamente novos e às melhorias significativas em produtos e processos existentes. A inovação tecnológica é implementada se tiver sido introduzida no mercado (inovação de produto) ou utilizada no processo de produção (inovação de processo). As atividades inovativas abarcam todos os passos científicos, tecnológicos, organizacionais, financeiros e comerciais que, efetiva ou potencialmente, levem à introdução de produtos ou processos tecnologicamente novos ou substancialmente melhorados (Oslo Manual, 1995).

Os problemas que se apresentam como motivadores do processo de inovação e as alternativas de respostas que decorrem dos mesmos, dependem de um padrão vigente, que pode ser ilustrado por meio do conceito de paradigma tecnológico1 (Dosi, 1984).

Um paradigma tecnológico define, no contexto, as necessidades que devem ser cumpridas, os princípios científicos utilizados para as tarefas, a tecnologia a ser utilizada. Em outras palavras, um paradigma

1 O conceito de paradigma tecnológico desenvolvido por Dosi (1984) é fortemente derivado do conceito de paradigma científico desenvolvido por Thomas Kuhn (1975), que define padrões (ou modelos) compartilhados de práticas científicas nos quais se incluem teorias e aplicações. Determinado paradigma define, além das soluções, os critérios para a escolha de problemas, dado que deverão ser considerados aqueles que possuem uma solução possível dentro dos limites do paradigma vigente. De acordo com esse autor, o padrão usual de desenvolvimento científico é dado pelas revoluções científicas, resultado da transição sucessiva de um paradigma científico a outro, ou seja, da destruição paulatina dos problemas e técnicas vigentes na busca por novas regras. “[...] consideramos revoluções científicas aqueles episódios de desenvolvimento não-cumulativo, nos quais um paradigma mais antigo é total ou parcialmente substituído por um novo, incompatível com o anterior” (Kuhn, 1975, p. 125).

(23)

tecnológico pode ser definido como um modelo (‘pattern’) de solução de problemas técnico-econômicos selecionados, modelo baseado em princípios fortemente selecionados e provenientes das ciências da natureza (Dosi, 1988, p. 224, tradução da autora).

As trajetórias tecnológicas, por sua vez, expressam a direção do avanço tecnológico dentro de cada paradigma ou o padrão de referência para as atividades voltadas à busca de solução de problemas. Diferentes trajetórias tecnológicas competem no interior de um paradigma e evoluem segundo trade-offs permanentemente colocados, que não envolvem apenas a relação econômica de custo-benefício, mas também demais aspectos institucionais (sociais, culturais, ambientais etc.), que contribuem, portanto, no direcionamento das mudanças. Entende-se ainda que esses trade-offs são definidos pelo próprio paradigma, ou seja, é ele que determina o “choice setting”.

No entanto, como esses procedimentos e direções gerais do progresso técnico se relacionam com a inovação nas organizações? De acordo com Dosi (1988), o paradigma e as trajetórias tecnológicas definem o ambiente tecnológico no qual a atividade inovativa ocorre. Caracterizam esse ambiente tecnológico as oportunidades tecnológicas (avanço científico exógeno e conhecimento endogenamente acumulado pelas organizações, as condições de mercado, as características de demanda, as necessidades sociais), limitadas aos domínios estabelecidos pelo grau de maturidade do paradigma vigente, e as condições

de apropriabilidade das inovações. O caráter de cumulatividade da mudança técnica é o

que relaciona as atividades inovativas do passado com as atividades do presente e do futuro. A cumulatividade se dá pela natureza cognitiva do processo de aprendizado, relacionada com as características de determinada tecnologia ou de organização do agente inovador, e pelos esforços despendidos em termos de recursos para a promoção da inovação.

A fim de lidar com a incerteza inerente ao processo de inovação, assim como com o caráter tácito e cumulativo das inovações, as organizações tendem a criar rotinas, isto é, padrões de comportamento para a execução da atividade inovativa. As rotinas orientam a atividade inovativa nas organizações, determinando tanto as características de operação quanto seus processos de busca, ou seja, os processos para se seguir ou se transformar as rotinas em função de percepção de mudanças. As características internas e externas das organizações determinam quais caminhos serão seguidos a partir desses processos de busca, ou seja, configuram o ambiente em que ocorrem os processos de seleção (Nelson e Winter,

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1982). As trajetórias evolutivas das organizações são, nesse sentido, determinadas pela interação entre processos de busca e seleção.

O conhecimento embutido nas rotinas define as capacidades das organizações de reação e adaptação às mudanças, configurando suas competências específicas (Teece e Pisano, 1998; Malerba e Orsenigo, 1996; Dosi, 1984). Ou seja, as competências se referem aos procedimentos para solução de problemas, ao uso e aplicação de conhecimento externo, ao domínio de tecnologias e de técnicas de produção e capacidade de resposta às demandas e aos requerimentos dos usuários (Dosi e Malerba, 1996). As competências das organizações estão relacionadas à valorização de seus ativos específicos e complementares e à definição de suas estratégias, isto é, das direções que serão dadas às suas atividades. As

competências essenciais das organizações, por sua vez, decorrem da identificação dos

ativos que devem ser valorizados pela organização, ou seja, da identificação de seus papéis na divisão de tarefas que perpassa as redes e os sistemas de inovação (Prahalad e Hamel, 1998).

Assim, em dado momento, as organizações possuem um certo conjunto de competências, dependentes de suas capacidades acumuladas ao longo do tempo e explícitas em suas rotinas. Mudanças em fatores internos e externos (ou seja, no ambiente seletivo) exigem que as organizações transformem suas rotinas para garantir sua própria sobrevivência. Entendem-se como mudanças externas as mudanças no contexto institucional2, isto é, no conjunto de regras formais e informais que moldam os comportamentos sociais, as “regras do jogo” na sociedade, determinadas conjuntamente com o paradigma tecnológico. Dosi (1988) associa o contexto institucional ao paradigma tecnológico vigente, mostrando que as transformações nesse contexto alteram as oportunidades apresentadas pelos paradigmas.

É a partir daí que se entendem os processos dinâmicos pelos quais padrões de comportamento das organizações e o próprio contexto institucional são determinados conjuntamente ao longo do tempo. Essa conformação dos padrões de comportamento configura as trajetórias evolutivas das organizações (doravante denominadas trajetórias

2 O esclarecimento sobre a definição de contexto institucional, baseado em Coriat e Weinstein (2002), tenta prevenir a associação do conceito instituição com os agentes envolvidos na produção, difusão e administração do conhecimento científico e tecnológico (ex: institutos públicos de pesquisa). Ressalta-se, no entanto, que esses agentes também contribuem para a configuração dessa estrutura institucional mais ampla.

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organizacionais) que, de forma análoga às trajetórias tecnológicas, também são

decorrentes de trade-offs permanentemente colocados pelo contexto institucional e pelo paradigma tecnológico, que induzem processos de busca e seleção.

Por fim, considera-se como contribuição essencial da abordagem evolucionista para o entendimento das organizações o conceito de aprendizagem, associado à dinâmica de inovações. O aprendizado organizacional é a base de acumulação de competências pelas organizações e se refere à capacidade de reação das organizações às mudanças a fim de garantirem sua sobrevivência. Observa-se nitidamente que a aprendizagem está ligada aos processos de busca e seleção das organizações, e conseqüentemente à evolução das trajetórias organizacionais, conforme será detalhado a seguir. Assim, tanto as competências quanto os processos de aprendizado das organizações são expressos em suas rotinas. De acordo com Levinthal (1996), é nesse sentido que se identifica o aprendizado como um instrumento poderoso da inteligência organizacional.

As competências expressam o que uma organização é e o que ela sabe. A existência de uma dimensão tácita do conhecimento explica o caráter intangível dessas competências, altamente condicionado às especificidades e experiências das organizações. Isso explica o processo de aprendizado diferenciado dessas organizações, mesmo quando atuantes em um mesmo setor econômico ou em determinada área do conhecimento. Coriat e Weinstein (2002) afirmam que a variedade de padrões organizacionais está relacionada com a diversidade das firmas, mas também dos setores e dos países aos quais pertencem.

Segundo Dosi e Malerba (1996), essas características identificadas nas organizações resultam em uma tensão entre a exploração de novas oportunidades, em resposta às alterações no contexto institucional e explícitas na alteração das rotinas, e as melhorias e adaptações em atividades já implementadas, expressas pelas competências e conhecimentos acumulados e estabelecidos. Ou seja, trata-se da escolha entre a flexibilidade e a especialização, no confronto entre a opção incerta e arriscada, que pode eventualmente resultar ainda mais lucrativa ou benéfica para o desempenho futuro da organização e a opção mais certa e possivelmente lucrativa das competências já estabelecidas.

Inclui-se nesse momento, um ponto crucial. Além de estabelecer rotinas decorrentes da acumulação de competências e da influência das formas organizacionais, as organizações devem ser capazes de se adiantar ou responder às transformações do contexto institucional, aqui entendido como o contexto ao qual as organizações estão inseridas. E

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isso leva necessariamente à modificações nas rotinas estabelecidas e também no processo de estabelecimento de rotinas (processos de busca e seleção). Esse ponto reforça ainda mais a idéia anterior das diferenças nas estratégias, comportamentos e desempenhos entre as organizações, pois elas são também influenciadas em diferentes graus pelo contexto externo. Além disso, como esse contexto é dinâmico, caracterizado por incerteza, e as trajetórias organizacionais marcadas por cumulatividade e irreversibilidade, os resultados das decisões tomadas pelas organizações não são previsíveis.

Fica claro, a partir daí, que as organizações são orientadas por processos de busca e seleção e são constrangidas pela “dependência do caminho” (path-dependence), irreversibilidades das ações, lock-in e inércia (Salles-Filho et al., 2000). Daí o caráter ambíguo do aprendizado, já que ele pode contribuir para superar esses constrangimentos e iniciar novas trajetórias ou atuar em sua natureza conservadora, guiado pela precaução. A respeito dessa segunda possibilidade afirma-se que “O conhecimento de velhas

competências pode inibir esforços para mudança de capacidades” (Levinthal, 1996, p. 28,

tradução da autora), isto é, o aprendizado pode resultar em especialização. Com isso, as organizações podem cessar suas atividades de busca prematuramente, o que as torna incapazes e inflexíveis à mudanças e as aprisiona na inércia e no lock-in organizacional. Segundo o autor, trata-se da armadilha da competência, pois as competências ora essenciais em determinado momento se tornam rígidas, impedindo a criação de novas competências. Ao focar em determinadas atividades em que se estabelece um feedback positivo entre competência e experiência, ocorre em geral afastamento de outras bases de conhecimento.

Levinthal (1996) diferencia, nesse contexto, aprendizado de adaptação, já que o conhecimento ora adquirido não se revela como condição suficiente para a adaptação das organizações às novas condições do entorno no qual atuam. O fato é que a adaptação sugere um risco não necessariamente incorporado na trajetória de aprendizado das organizações, voltadas em geral para o desenvolvimento crescente das habilidades já adquiridas. No entanto, segundo o autor, essa capacidade de adaptação ao meio, pela existência de múltiplas bases de conhecimento e pela capacidade de absorção de novos conhecimentos, é condição essencial para a sobrevivência das organizações. Dosi e Malerba (1996) afirmam que a sobrevivência está ligada à criação e absorção desses novos conhecimentos e competências, o que sugere superar as possibilidades das competências originais.

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Coriat e Weinstein (2002) fazem importantes observações acerca do tema, considerando a abordagem organizacional e institucional da inovação. O contexto institucional contribui para a formação das estruturas organizacionais, ou seja, as organizações são atores (com grande importância para o sistema de inovação) operando entre as restrições e oportunidades institucionais. Esse background é que contribui para diferentes trajetórias e performances, revelando uma co-evolução entre organizações e instituições. De forma complementar, porém não menos importante, Nelson e Nelson (2002) afirmam que o próprio ambiente externo é moldado pelas transformações internas das organizações, decorrentes da mudança técnica. Ou seja, a mudança do contexto institucional vem como um pano de fundo para subsidiar novos modos de interação exigidos pela mudança técnica (por exemplo, novas formas de organização do trabalho, novos mercados, leis, formas de ação coletiva etc.).

Em resumo, pode-se considerar a existência de uma co-evolução entre o contexto institucional, as trajetórias tecnológicas e as trajetórias organizacionais, ressaltando que tanto as trajetórias tecnológicas quanto as trajetórias organizacionais contribuem no molde desse contexto institucional. A idéia de co-evolução vem justamente para denominar a inter-relação dinâmica entre os diferentes elementos que configuram essas trajetórias. A importância da identificação dos elementos externos e internos que influenciam as transformações dessas organizações colabora fortemente para o entendimento de suas iniciativas de adaptação e internalização de novas demandas e referências no desenvolvimento do conhecimento científico e tecnológico sobre o qual se assenta o processo de inovação.

1.1.2. A internalização da variável ambiental nas trajetórias organizacionais

O processo de inovação nas organizações é fortemente determinado por características externas (contexto institucional) e internas (competências acumuladas ao longo do tempo e capacidade de reação e adaptação às transformações). A evolução dessas organizações e as conseqüentes transformações nos padrões de comportamento de suas atividades inovativas estão atreladas necessariamente às mudanças nessas características externas e internas, ilustradas pela interação entre seus processos de busca e seleção.

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Uma das mudanças observadas no âmbito mundial a partir da década de 1970 e mais intensamente na década de 1980, é a emergência da questão ambiental, notadamente no que se refere aos impactos ambientais associados às atividades agrícolas e industriais. É justamente nesse sentido que a questão ambiental passa a caracterizar o contexto institucional e permear os processos de inovação das organizações, colocando-se como fator potencialmente indutor de alterações em suas trajetórias evolutivas.

Alguns desafios são claros quando se considera a internalização da variável ambiental no processo de inovação das organizações. Numa perspectiva mais ampla, trata-se de uma discussão que compreende a relação entre políticas ambientais e políticas de ciência, tecnologia e inovação (CT&I); relação esta que converge para a possibilidade de construção de uma agenda para o desenvolvimento científico e tecnológico apta a contribuir para o alcance de objetivos ambientais, com destaque para a prevenção e remediação de impactos no meio ambiente.

O primeiro desses desafios é a dificuldade na caracterização dos problemas ambientais e na determinação dos riscos associados a eles, dada a complexidade dos sistemas naturais, marcada pelas diferentes inter-relações entre os componentes do ecossistema terrestre. Soma-se à complexidade dos sistemas naturais, a complexidade inerente à ciência e a tecnologia, caracterizada por Kemp e Soete (1992) pela crescente intensidade de conhecimento necessário para entender e para operar determinada tecnologia/operação técnica. A multidisciplinaridade, ou ainda a transdisciplinaridade, das ciências ambientais reforçam essa visão, pois o meio ambiente é um tema que abrange diferentes áreas do conhecimento.

Foray e Grübler (1996) afirmam que a incerteza faz parte do modo dominante de geração e distribuição do conhecimento científico e tecnológico, particularmente no que se refere aos problemas ambientais. Além da falta de conhecimento prévio necessário sobre os assuntos ambientais (vide a complexidade inerente a esses assuntos), há muitas vezes a falta de instrumentos adequados ou a inabilidade dos modelos científicos existentes para caracterização e mensuração de impactos ambientais. Assim, as incertezas e a falta de conhecimento não se referem apenas ao uso das tecnologias, mas também aos prováveis impactos associados ao processo de difusão das mesmas (Benedick, 1999).

Kemp e Soete (1992) apontam ainda o caráter global dos riscos ambientais, não restritos a fronteiras geográficas ou populações isoladas (mudanças climáticas, degradação

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da camada de ozônio, perda da diversidade biológica, desertificação, desflorestamento, poluição de águas, entre outros). O caráter global dos problemas se manifesta ainda nas diferentes inter-relações físicas, químicas e biológicas desses efeitos. Por exemplo, a mudança climática afeta a produção de alimentos e a sobrevivência de determinadas espécies. A redução da biodiversidade, por sua vez, pode aumentar os riscos de doenças humanas e a vulnerabilidade das plantações (Benedick, 1999).

Outra característica importante é a cumulatividade associada aos problemas de degradação ambiental, dado que pequenos problemas, muitas vezes imperceptíveis, se desenvolvem a ponto de se tornarem grandes problemas, alcançando os limites do ecossistema (e excedendo sua capacidade de suporte). Um exemplo clássico é o da emissão de componentes tóxicos. Por vários anos essa emissão pode passar desapercebida e suas conseqüências podem perdurar por várias gerações. A cumulatividade está ainda associada ao processo de difusão de determinada tecnologia, pois uma maior difusão e uso podem corresponder a um agravamento do impacto ambiental.

Considera-se, por fim, a irreversibilidade acerca dos problemas ambientais, já que em muitos casos não há como reverter um determinado quadro de degradação ambiental. A questão temporal se torna crucial nesse contexto, pela urgência das ações presentes para mudar os quadros futuros e ações futuras que reflitam mudanças de valores presentes.

Todos esses desafios apontam para as dificuldades inerentes ao desenvolvimento de novas formas de geração e difusão de conhecimentos e inovação tecnológica que considerem o atributo ambiental. O desenvolvimento de uma ciência transdisciplinar e complexa, que trabalhe com os elementos de incerteza (Healy, 1995), e ações pró-ativas em conjunto com ações reativas indicam um bom caminho. Foray e Grübler (1996) alertam que esse novo padrão de geração e distribuição de conhecimento exigido pressupõe o contato e a sistematização de uma grande e crescente quantidade de informações, além do estímulo à participação de diferentes atores na construção do conhecimento e no processo de tomada de decisão.

Considerando sua contribuição para a conservação e recuperação ambiental, a inovação tecnológica é geralmente classificada em dois grandes grupos: tecnologias limpas (clean technologies) e tecnologias de final de circuito (end-of-pipe technologies). Tecnologia limpa é aquela que resulta em novos produtos ou processos que minimizam impactos ambientais enquanto tecnologia de fim de circuito (technology end-of-pipe) é

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aquela que serve para remediar os impactos ambientais existentes (por exemplo, reduzir a poluição). Em geral, as tecnologias limpas envolvem produtos limpos (que apresentam baixos níveis de impacto ambiental ao longo do seu ciclo de vida) e processos limpos (que consomem menos recursos e emitem menos poluentes e resíduos) (Cramer e Zegfeld, 1991; Kemp e Arundel, 1998).

Além das tecnologias limpas e de final de circuito, existem as tecnologias instrumentais (ou ainda, de “diagnóstico”) que servem para medir, controlar, observar, aprender e fornecer uma base para a tomada de decisões. Esses instrumentos contribuem para o monitoramento das condições ambientais, para a avaliação ex-ante e ex-post de impactos ambientais de tecnologias (Rodrigues, 1998; Dearing, 1999; Quirino et al., 1999) e também para estudos prospectivos, pois permitem um melhor entendimento das alternativas tecnológicas disponíveis ou a serem buscadas, guiando ações e escolhas no presente. Assim, além de auxiliarem uma estratégia de promoção da inovação nas organizações (processo de planejamento e programação da pesquisa e direções para o andamento das pesquisas), podem também auxiliar na divulgação dos resultados ambientais benéficos dessas inovações.

Foray e Grübler (1996), considerando alguns dos pontos destacados, apontam quatro dilemas concernentes à questão ambiental no que diz respeito ao desenvolvimento científico e tecnológico:

i) O primeiro dilema distingue os objetivos de curto prazo dos de longo prazo, ou seja, entre a resolução da situação corrente de poluição e degradação (através do estabelecimento de normas e taxas e do uso de tecnologias de final de circuito) e a prevenção dos problemas futuros (pelo desenvolvimento de tecnologias limpas). Há de se considerar que a estratégia que prioriza o curto prazo pode reduzir a flexibilidade e incentivo para o desenvolvimento das estratégias em longo prazo, pois as tecnologias de final de circuito geralmente são mais adaptáveis e exigem menos qualificação para uso do que as limpas. Contudo, no longo prazo, essas tecnologias de final de circuito geralmente representam custos mais altos. Há de se considerar ainda que as tecnologias limpas oferecem vantagens econômicas no uso de insumos e tratamento dos resíduos. Freeman (1996b) reforça esse dilema, afirmando a dificuldade de se considerar custos e benefícios no longo prazo nos processos presentes de tomada de decisão.

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ii) O segundo dilema ocorre entre a inovação tecnológica e a regulação ambiental, pois a regulação significa mais um risco no processo de inovação ao impor padrões para que determinado produto ou processo possa ser incorporado. Romeiro e Salles-Filho (1997) abordam a importância do timing quando falam das políticas coercitivas (regulação ambiental) e das políticas para capacitação e estímulo à inovação tecnológica, além de ressaltarem a interdependência entre as duas. “Medidas coercitivas interferem no processo

inovativo, assim como este recoloca as referências daquelas” (Romeiro e Salles-Filho,

1997, p. 107). De acordo com os autores, o foco deve ser o equilíbrio entre as forças e o tempo das iniciativas para evitar o bloqueio da geração e difusão de tecnologias alternativas (entendidas como aquelas que consideram as questões de cunho ambiental).

iii) O terceiro dilema se dá entre a diversidade tecnológica e a padronização. Ou seja, entre a necessidade de se buscar tecnologias alternativas como forma de se buscar também flexibilidade para resolução de problemas e a tendência dos sistemas tecnológicos de padronização para redução de custos (pelas vantagens das economias de escala e uso de infra-estrutura comum).

iv) O último dilema ocorre entre a necessidade de acelerar a criação e a difusão de tecnologias ambientalmente saudáveis e as necessidades de diminuir irreversibilidades tecnológicas que possam ser prejudiciais ao meio ambiente. Para isso, a melhor política é adiar o uso de determinada tecnologia não completamente desenvolvida e testada e prestar atenção nas melhores oportunidades.

Assim, o desenvolvimento científico e tecnológico adaptado aos pressupostos ambientais deve refletir uma capacidade de lidar com esses desafios e dilemas. Todo esse conjunto sugere que a internalização da variável ambiental no processo de inovação, que objetiva a inclusão da eficiência e qualidade ambiental no desenvolvimento de novos produtos, processos e serviços, passa não apenas pela conscientização acerca da problemática ambiental, mas considera igualmente aspectos regulatórios e legais, assim como aspectos econômicos.

Na perspectiva neo-schumpeteriana a questão ambiental é endógena em relação às estratégias inovativas das organizações na medida em que tem o potencial de gerar vantagens competitivas, ou seja, deixa de ser uma externalidade e passa a ser um fator de referência a ser incorporado na mudança técnica. No entanto, não se trata apenas de uma reação dessas organizações às condições de mercado (ou seja, a um novo padrão de

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competitividade para produtos, processos e serviços que incorpore a qualidade ambiental ou ainda a uma estratégia das empresas visando o marketing ambiental), mas também da disponibilidade de conhecimento acumulado e disponível (tanto sobre os impactos ambientais quanto sobre as possibilidades para desenvolvimento de inovações) e dos demais elementos que compõem seu contexto institucional (com ênfase nas trajetórias tecnológicas em curso).

Kemp (1997) confirma essa perspectiva, afirmando que os determinantes para a geração de tecnologias limpas (processos de produção e produtos) são as estruturas da demanda (que alertam sobre o desempenho da inovação no mercado), as oportunidades tecnológicas (conhecimento científico e tecnológico disponível e acumulado e capacidade organizacional3) e as condições de apropriabilidade, isto é, formas de proteção de vantagens competitivas de novos produtos e processos.

Já sobre a influência das trajetórias tecnológicas nas inovações, considera-se a possibilidade de agirem tanto como incentivo (já que sua evolução leva à ocorrência de externalidades negativas, que por sua vez redesenham os limites dessas trajetórias e impõem novos desafios de superação), quanto como restrição, pelas suas forças de estabilidade e inércia (path-dependence e efeitos de lock-in) e ausência de conhecimento sobre os benefícios que uma trajetória alternativa pode oferecer. Ou seja, há todo um contexto institucional adaptado ao paradigma e às trajetórias vigentes que dificultam a evolução e internalização da variável ambiental nas trajetórias organizacionais.

Feitos os apontamentos para a geração de tecnologias limpas, verifica-se que sua adoção depende de mecanismos coercitivos (regulações e padrões ambientais), mas também de outros fatores, tais como: preço e qualidade das inovações; o conhecimento e informação dos possíveis adotantes sobre a disponibilidade de tecnologias, seu uso e efeitos; risco e a incerteza, variáveis com o próprio processo de difusão da tecnologia4 (Kemp, 1997).

3 A capacidade organizacional refere-se as bases de conhecimento das organizações e sua experiência acumulada. Partidário e Vergragt (2000) afirmam que a estratégia inovativa de organizações em relação a consideração ambiental ocorre no nível micro, sendo resultante de condições externas e internas específicas dessas organizações

4 “Em outras palavras, a mudança tecnológica, o desenvolvimento de novos sistemas tecnológicos, é o resultado de jogo amplo e complexo de forças no qual nenhum elemento pode ser percebido como dominante” (Healy, 1995, p. 616, tradução da autora).

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Insinua-se, dessa forma, que apesar de urgente (pelo caráter irreversível da degradação ambiental), o redirecionamento das atividades inovativas e do paradigma tecnológico a partir do fator de referência ambiental não é uma tarefa trivial (Foray e Grubler, 1996). A emergência da questão ambiental a torna um elemento a mais a ser incorporado no desenvolvimento de inovações, inclusive pela sua configuração enquanto fonte de oportunidades tecnológicas. No entanto, dificilmente as restrições ambientais irão se sobrepor às restrições econômicas, resultando em uma “[...] influência relativa da

variável ‘pressão ambiental’ na formação de ambientes seletivos (concorrenciais)”

(Romeiro e Salles-Filho, 1997, p. 103). Essa relatividade se relaciona com as especificidades dos diferentes ambientes seletivos e também com o grau e características da consciência ecológica que se estabelece nas organizações. De acordo com Romeiro e Salles-Filho (1997), a internalização da variável ambiental no processo de inovação é igualmente resultante de coerção (medidas regulatórias) e de um processo espontâneo decorrente de uma pretensa ou verdadeira legitimação, ambos gerando mudanças no ambiente seletivo e induzindo a busca de vantagens competitivas decorrentes da atividade inovativa.

Cramer e Zegfeld (1991) incluem ainda mais um ponto nessa discussão. Além dos desafios das políticas científicas e tecnológicas que incorporam a questão ambiental, dos determinantes para a geração e adoção de tecnologias limpas, reparadoras ou de diagnóstico, há de se considerar que as soluções técnicas isoladas são incapazes de determinar benefícios ou prejuízos ambientais. Isso determina uma relação ambígua entre tecnologia e gestão ambiental, pois a primeira apresenta um potencial igualmente positivo e negativo na garantia da qualidade do meio. O autor exemplifica essa relação ambígua discutindo as implicações ambientais das tecnologias de informação e comunicação (TICs), da biotecnologia e do desenvolvimento de novos materiais, concluindo que a potencialização dos efeitos ótimos dessas tecnologias para a gestão ambiental depende da condução e uso da tecnologia pelas organizações que a promovem e pela sociedade. Ou seja, à evolução das trajetórias tecnológicas soma-se necessariamente uma evolução sócio-econômica e institucional.

Dessa percepção decorre que os mesmos instrumentos que contribuem na divulgação dos resultados ambientais benéficos das inovações ambientais podem também auxiliar na exploração desses mesmos resultados ambientais benéficos em inovações cuja

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motivação não é de ordem ambiental. A partir disso, podem influenciar a condução e uso dessas tecnologias pela sociedade, e eventualmente, sua “capitalização” por parte das organizações onde ocorre a pesquisa e desenvolvimento, valorizando uma imagem ambientalmente responsável em função desses resultados. Isso significa que a internalização da variável ambiental nas organizações não se restringe às atividades inovativas, mas toca ainda a capacidade dessas organizações de entenderem e sustentarem esse novo fator de referência através de outras iniciativas (por exemplo, pela formalização desse tema em seus mandatos).

A mudança dos padrões tecnológicos pelas exigências ambientais (e pela busca de padrões ecologicamente sustentáveis) resulta na necessidade de convergência de diferentes trajetórias tecnológicas e de um conjunto extenso de mudanças institucionais, que representam o espaço em que esses padrões se manifestam. Como afirmam Cramer e Zegfeld (1991), o desenvolvimento tecnológico envolve não apenas uma mudança da tecnologia, mas uma mudança do ambiente social específico em que essa tecnologia é desenvolvida e aplicada. Mais uma vez, confirma-se a existência de um fenômeno de co-evolução entre trajetórias institucionais, tecnológicas e organizacionais, dado que determinado padrão tecnológico não se transforma de forma independente das organizações que representam o locus das atividades inovativas e do arcabouço institucional que sustenta esse ambiente de transformações.

1.2. D

ETERMINANTES E CARACTERÍSTICAS DA RECONFIGURAÇÃO DAS

TRAJETÓRIAS ORGANIZACIONAIS DOS

IPP

S

A abordagem conceitual de referência neste trabalho explicita os elementos orientadores para a consideração dos institutos de pesquisa como organizações que aprendem, evoluem e constroem trajetórias. A partir desse marco são evidenciados seus processos de reorganização. No entanto, apesar de ser esse um movimento geral, sinalizado a partir da década de 1980 em todo o mundo, a existência de especificidades nas organizações explica a existência também de particularidades inerentes a seus processos de reorganização, dependentes de suas competências internas historicamente construídas.

Nesse sentido, ao mesmo tempo em que os institutos públicos de pesquisa agrícola compartilham elementos comuns aos processos mais gerais de reorganização institucional,

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apresentados no item 1.2.1. e 1.2.2. a seguir, esses institutos apresentam diferenças, relacionadas ao setor e a região aos quais pertencem, assim como à sua história particular. 1.2.1. Os imperativos de legitimidade e competitividade

Conforme foi detalhado no item 1.1.1., a sobrevivência das organizações está associada à capacidade de mudança e adaptação das mesmas em decorrência de transformações verificadas no contexto externo. Para os institutos públicos de pesquisa (IPPs), essa ameaça de sobrevivência se tornou mais forte a partir de meados da década de 1980, pela intensidade das transformações verificadas nos contextos institucionais e tecnológicos nos quais estão imersos (e que serão detalhadas no item 1.2.2.). Ressalta-se que esse debate engloba o conjunto de IPPs na esfera mundial, independente da área ou setor foco de suas atividades.

[...] o processo de reorganização apresenta-se como elemento comum a todos os institutos públicos de pesquisa, o que lhe confere o caráter de fenômeno amplo, e que mesmo que apresente características que dizem respeito às diferentes especificidades setoriais e disciplinares, pode ser generalizado para todas as áreas de pesquisa, pois os fatores determinantes são gerais. As transformações ocorrem em todos os IPPs, não respeitando fronteiras nacionais e, em níveis variados, institutos de pesquisa vinculados aos mais diversos órgãos governamentais, com diferentes áreas de atuação em países com distintos graus de desenvolvimento econômico e inserção internacional, apresentaram mudanças significativas em seu perfil, organização e atuação (Ferreira,

2001, p. 31).

A reorganização desses institutos, fenômeno que se evidencia a partir da identificação dessas ameaças, é uma alternativa de sobrevivência, pela alteração das trajetórias que vinham sendo estabelecidas. Retomando os conceitos expostos anteriormente, os institutos de pesquisa são organizações que aprendem (considerando também a adaptação uma forma diferenciada de aprendizado) e que, a partir disso, modificam trajetórias, ou seja, possuem trajetórias evolutivas que se definem segundo

trade-offs permanentemente colocados, que condicionam seus processos de busca e seleção

(Salles-Filho et al., 2000; Mello, 2000).

Essa evolução de trajetórias dos IPPs (e sua sobrevivência) está associada à sua capacidade de aprendizagem e adaptação. Salles-Filho et al. (2000) afirmam que nas últimas décadas, essa sobrevivência está também associada à inserção das organizações nos sistemas e redes de inovação. Sistemas de inovação podem ser entendidos como o conjunto

Referências

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