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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA PRÓ-REITORIA DE ENSINO E GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS CURSO BACHARELADO EM MEDICINA VETERINÁRIA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA PRÓ-REITORIA DE ENSINO E GRADUAÇÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

CURSO BACHARELADO EM MEDICINA VETERINÁRIA

RAÍSSA CLESE VENÂNCIO COUTINHO

BEM-ESTAR DE CÃES E GATOS NO AMBIENTE HOSPITALAR – REVISÃO DE LITERATURA

BOA VISTA, RR 2018

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RAÍSSA CLESE VENÂNCIO COUTINHO

BEM-ESTAR DE CÃES E GATOS NO AMBIENTE HOSPITALAR – REVISÃO DE LITERATURA

BOA VISTA, RR 2018

Trabalho de conclusão de curso

apresentado ao curso de graduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Roraima como pré-requisito para a conclusão do curso e obtenção do título de bacharel em Medicina Veterinária.

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Dados Internacionais de Catalogação na publicação (CIP) Biblioteca Central da Universidade Federal de Roraima

Ficha Catalográfica elaborada pela:

Bibliotecária/Documentalista: Maria de Fátima Andrade Costa - CRB-11/453-AM C871b Coutinho, Raíssa Clese Venâncio.

Bem-estar de cães e gatos no ambiente hospitalar revisão de literatura / Raíssa Clese Venâncio Coutinho. – Boa Vista, 2018.

62 f. : il.

Orientador: Prof. Dr. Caio Vitor Bueno Dias.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) - Universidade Federal de Roraima, Curso de Medicina Veterinária.

1 - Comportamento animal. 2 - Estresse. 3 - Enriquecimento ambiental. I - Título. II - Dias, Caio Vitor Bueno (orientador).

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Aos meus pais, como maneira de agradecer a dedicação a mim direcionada durante toda minha vida, inclusive na realização deste sonho; À minha irmã, por toda ajuda e por todos os gritos de estresse durante a produção deste trabalho (principalmente nas referências), E ao meu filho de quatro patas, pois poder cuidar dele futuramente, é um dos grandes motivos que me fazem persistir nesta caminhada.

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AGRADECIMENTOS

À Deus, porque dEle, por Ele e para Ele são todas as coisas.

Aos meus pais (Ozimar de Lima Coutinho e Sônia Maria Venâncio Coutinho), por serem os formadores do meu caráter. Por vibrarem comigo no momento em que passei no vestibular e acompanharem meus desesperos com as disciplinas, me incentivando a persistir e acreditando que eu podia ir mais além. Vocês me fizeram chegar até aqui. Dedicar-lhes um trabalho não chega nem perto da dedicação de vida que vocês dedicaram à mim.

À minha irmã (Rebeca Venancio Coutinho), por ser o exemplo de acadêmica no qual eu me espelhei durante a minha jornada universitária. E também por só fazer perguntas a respeito da veterinária que eu não sei responder.

À minha família paraibana que está distante fisicamente de mim (avós, tios (a), primos (as), minha vó Isaura especialmente, como eu te amo minha vó!), pelas orações e palavras de incentivo e encorajamento durante esses 5 anos;

Ao meu filho de quatro patas (Zenon Venâncio Coutinho), por entender minhas ausências e faltas de tempo do dia-a-dia que muitas vezes me impediam de levá-lo à pracinha.

Aos meus professores, por compartilharem comigo seus conhecimentos e dedicarem a nós muito mais do que tempo, mas também vontade, alegria, incentivo e força para que não desistíssemos frente aos medos, decepções e cansaços que muitas vezes a jornada universitária nos provocou. Em especial ao meu orientador: Prof. Dr. Caio Vitor Bueno Dias, pelo auxílio na produção deste trabalho e amizade firmada (Ah!!! Meu nome é com “í” professor e não com “y” haha).

Aos meus amigos, ou melhor, à PseudoParceria! Vocês são responsáveis pela melhor parte desses 5 anos. Vocês fizeram tudo ser melhor e mais leve. Foi com vocês que eu sorri das diversas piadas internas, foi em vocês que eu dei diversas ordens (me refiro aos meninos rs) mas também foi com vocês que eu desabafei quando foi necessário. Caio, Hayla, Lorenna, Lucas, Matheus e Rafael, vocês são mais que meus amigos, são meus irmãos.

À família HPet (médicos veterinários, recepcionistas, pessoal da internação, auxiliares veterinários, pessoal do almoxarifado, pessoal da limpeza, pessoal do laboratório, pessoal do administrativo e pessoal do financeiro) pelos ensinamentos, conversas, lanches, ajudas para aferir os parâmetros dos animais e pelos diversos

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brigadeiros e rifas de mim comprados. E em especial, ao Dr. Ricardo, que me acolheu como um pai desde o primeiro dia de estágio em seu hospital. O senhor sempre esteve disposto a me ensinar tudo o que sabe, para que dessa forma eu crescesse profissionalmente, ao senhor, quero dizer duas coisas: a primeira é: Muito obrigada, pois foi por meio do senhor que aprendi muitas coisas sobre a área clínica e cirúrgica de pequenos animais. E a segunda: Tenho fé em Deus que um dia o senhor vai melhorar suas piadas!

Por fim, agradeço a todos que direta ou indiretamente contribuíram com a minha jornada e à todos aqueles que venham a ler este trabalho. Espero que ele contribua com a construção do conhecimento. A todos os meus sinceros agradecimentos.

“Tudo o que fizerem, seja em palavra seja em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai” (Colossenses 3:17).

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“Não há diferenças fundamentais entre o homem e os animais nas suas faculdades mentais [...]. Os animais, como os homens, demonstram sentir prazer, dor, felicidade e sofrimento.” Charles Darwin

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RESUMO

O bem-estar animal consiste no equilíbrio físico, mental e comportamental dos animais, porém, não é algo que possa, simplesmente, ser fornecido. Contudo, este completo estado de harmonia, está diretamente relacionado com a capacidade de adaptação do indivíduo frente aos estímulos e desafios que lhe são impostos em sua rotina. O ambiente clínico-hospitalar, no que diz respeito à sua rotina e manejo adotados, pode desempenhar um papel de agente estressor, se não for bem empregado. Isso porque a alteração ambiental e a imposição de nova realidade, podem ser dificilmente enfrentadas por alguns pacientes. Esta revisão de literatura tem como proposta geral, abordar e esclarecer aspectos a respeito do bem-estar de cães e gatos em clínicas e hospitais veterinários. Objetivou-se portanto, compilar dados que auxiliem na identificação de pacientes com tais déficits, bem como realizar uma correlação entre a utilização de enriquecimento ambiental e a manutenção do bem-estar animal neste tipo de ambiente. Assim, foram apresentados os principais artifícios que vêm sendo utilizados para melhorar o bem-estar de cães e gatos durante a prática clínica-hospitalar. Entretanto, conhecer os hábitos normais da espécie, é uma medida para se evitar ou detectar precocemente a manifestação de possíveis estereotipias promovidas por este tipo de ambiente. Associar o conhecimento etológico da espécie a técnicas que colaborem para a manutenção do padrão de conforto dos animais, tais como o enriquecimento ambiental, tem se mostrado uma medida eficiente. Acredita-se que tais técnicas, se aplicadas no ambiente clínico-hospitalar, podem ser alternativas viáveis para a diminuição do estresse nos pacientes. Após a análise dos dados, essa pesquisa constatou que a implantação destas técnicas na rotina hospitalar, baseadas no comportamento da espécie alvo, apresentam relação positiva com a manutenção do bem-estar dos pacientes, sendo evidenciada através do benefício ao tratamento dos mesmos em decorrência à diminuição do estresse e da manifestação de comportamentos anormais, o que colabora para uma recuperação rápida e um tratamento eficaz.

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ABSTRACT

Animal welfare consists of the physical, mental and behavioral balance of animals, but it is not something that can simply be provided. However, this complete state of harmony is directly related to the individual's adaptability to the stimuli and challenges imposed in its routine. The hospital environment, if not well planned, regarding its adopted routine and handling, can play a role of stressing agent to the animals, because environmental change and implantation of a new reality to the animal can be difficult to be faced by some patients. This literature review aims to address and clarify aspects regarding the welfare of dogs and cats in veterinary clinics and hospitals, thus helping to identify patients with welfare deficit, as well as making a correlation between the use of environmental enrichment and the maintenance of animal welfare in veterinary clinics and hospitals. Thus, the main devices that have been used to improve the well-being of dogs and cats during clinical-hospital practice were presented. However, knowing the normal habits of the species is an indispensable step to avoid the manifestation and to help in the early detection of possible stereotypies promoted by this type of environment. Linking the ethological knowledge of the species to the mechanisms that contribute to the maintenance of the animal welfare standard has proven to be an efficient course of action. For this, some techniques of environmental enrichment, applicable to the clinical-hospital environment, can then be used as an alternative for the reduction of stress in patients. The implantation of these techniques in the hospital routine, based on the behavior of the target species, presents a positive relation with the maintenance of the patients' well being, being evidenced through the benefit to the treatment due to the decrease of the stress and the manifestation of abnormal behaviors, which contributes to faster recovery and more effective treatment.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CRA Comportamento Repetitivo Anormal SAS Síndrome de Ansiedade por Separação SGA Síndrome Geral de Adaptação

SNC Sistema Nervoso Central SNP Sistema Nervoso Periférico SNS Sistema Nervoso Simpático

TAG Transtorno de Ansiedade Generalizada UVB Espectro Ultravioleta B

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Modelos de gaiolas tradicional e enriquecida para gatos... 40 Figura 2 Brinquedos interativos para cães... 42 Figura 3 Roupa de compressão para cães... 46 Figura 4 Roupa de compressão para cães produzida com bandagem elástica 46 Figura 5 Tampões calmantes para cães... 47 Figura 6 Feromônios sintéticos de gatos e cães... 49

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 13

2 REVISÃO DE LITERATURA... 16

2.1 BEM-ESTAR NO AMBIENTE CLÍNICO-HOSPITALAR... 16

2.2 ESTRESSE... 21

2.2.1 Tipos de estresse... 22

2.2.2 Agentes estressores... 23

2.2.3 Fisiopatologia do estresse... 24

2.3 IDENTIFICAÇÃO DE PACIENTES COM ESTRESSE... 26

2.3.1 Síndrome de Ansiedade por Separação (SAS)... 30

2.3.2 Síndrome Geral de Adaptação (SGA)... 31

2.4 ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL... 32 2.4.1 Enriquecimento físico... 34 2.4.2 Enriquecimento sensorial... 34 2.4.3 Enriquecimento cognitivo... 35 2.4.4 Enriquecimento social... 35 2.4.5 Enriquecimento alimentar... 36

2.5 UTILIZAÇÃO DO ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL NO AMBIENTE CLÍNICO-HOSPITALAR... 36

2.5.1 Estrutura física do ambiente hospitalar... 38

2.5.1.1 Sala de espera... 38

2.5.1.2 Gatil... 39

2.5.1.3 Canil... 41

2.5.1.4 Área de isolamento... 43

2.5.1.5 Fatores acústicos e olfativos... 44

2.5.1.6 Cor e iluminação... 45

2.5.2 Toque de pressão... 45

2.5.3 Aromaterapia e feromônioterapia... 48

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 50

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1 INTRODUÇÃO

O bem-estar animal está correlacionado com a tentativa de adaptabilidade adotada pelos mesmos em relação ao meio em que estão inseridos, ou seja, trata-se de mecanismos utilizados, a fim de possibilitar melhor estabilidade mental e física diante de determinada situação ou realidade a que sejam submetidos (BROOM, 1986). Desta forma, bem-estar é uma característica oscilante, não se tratando de algo puramente fornecido. Contudo, é correto afirmar que pode ser facilitado pelo provimento de objetos, situações ou oportunidades que acarretem sensação agradável ao animal (BROOM; MOLENTO, 2004).

Segundo Maldonado e Garcia (2015), este conceito leva em consideração o estado animal frente à determinada situação pela qual está passando, estando suscetível à variação. Desta forma, pode enquadrar-se em um grau baixo ou ruim, o que evidenciaria uma adaptação deficiente, ou num grau alto ou bom, o qual pode ser considerado como uma eficaz adaptação por parte do mesmo. Assim, podemos dizer que o termo bem-estar se refere à resposta sentimental do indivíduo ao ambiente ou situação em que está inserido, independente de qual seja.

As maneiras pelas quais os animais manifestam suas tentativas de resolução à certos desafios rotineiros são diferentes. Enquanto alguns possuem maior e mais rápida facilidade de adaptação às mudanças ambientais, nos quais não são evidenciadas grandes alterações comportamentais e fisiológicas, outros, externalizam inúmeras reações que revelam o incômodo pelo qual estão passando naquele momento (BROOM; MOLENTO, 2004).

Essa diversidade de respostas é o ponto crucial para a percepção do grau de bem-estar dos indivíduos, pois quando o animal não consegue responder positivamente aos estímulos que recebe, o mesmo torna-se suscetível a alterações comportamentais. Estas, por sua vez podem afetar sua homeostase, dificultando ou até mesmo impossibilitando a realização de ações necessárias ou não à manutenção da vida, e que antes eram realizadas normalmente (BROOM, 2011).

A partir deste entendimento, a valorização pela garantia do bem-estar dos animais, sejam eles domésticos, de produção ou de criação, vem crescendo. Isso, devido ao concomitante crescimento da compreensão do funcionamento biológico dos mesmos por parte do ser humano (THOMAS, 2010). Aqueles que antes eram tratados como seres únicos e exclusivamente geradores de renda, através de sua produção, a

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exemplo das vacas leiteiras, hoje são vistos, muitas vezes, como membros da família, possuindo necessidades e formas de expressar seus sentimentos, ainda que diferentemente do homem (SANTANA; OLIVEIRA, 2006).

O desenvolvimento de métodos que auxiliem na manutenção das atividades fisiológicas destes indivíduos, em ambientes e realidades diferentes das quais estão habituados, ganhou expressividade em meio a pesquisadores da Medicina Veterinária. O ato de investir na qualidade de vida do animal não está associado apenas com o cuidado em não deixar faltar o alimento e água necessários, mas sim, em suprir suas outras necessidades que podem ser físicas, psicológicas, sociais e/ou comportamentais (FROEHLICH, 2015).

Tal pressuposto revela que é possível entender que animais que se encontram no ambiente clínico-hospitalar, quer seja em momento de consulta ou internação, estão fora de seu habitat e contexto “normais”, e que, portanto, são submetidos a novos estímulos e desafios. Desta forma, é necessário que esta nova condição seja apresentada ao animal da maneira mais cautelosa e adequada possível, pois, quando provocada de maneira intensa e brusca, pode afetar sua comodidade e a manutenção do seu equilíbrio físico e mental, acarretando muitas vezes, traumas psicológicos (MALDONADO; GARCIA, 2015).

Também é possível observar a crescente preocupação em fornecer um atendimento completo e eficaz, que, de acordo com Maldonado e Garcia (2015), possibilite não só a resolução do problema atual do animal, mas que, atenda às necessidades deste indivíduo enquanto o mesmo se encontrar nas dependências hospitalares. Segundo os autores, é importante perceber e corrigir desajustes corriqueiros da rotina clínica de hospitais veterinários que, muitas vezes, passam despercebidos, mas que possivelmente podem influenciar no bem-estar e até mesmo na recuperação dos pacientes.

Entretanto, a preocupação em relação ao bem-estar animal e a aplicação de mecanismos que colaborem para manutenção da comodidade dos pacientes ainda não são uma realidade absoluta no ambiente hospitalar. Portanto, realizar estudos que exponham métodos comprovados e viáveis de enriquecimento ambiental e que colaboram para o conforto dos pacientes durante a passagem neste ambiente é importante, pois, auxilia na implantação de um atendimento humanitário pela equipe médica, diminuindo o acometimento do bem-estar destes, bem como suas consequências.

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Logo, a proposta geral desta revisão de literatura é abordar e esclarecer aspectos a respeito do bem-estar de cães e gatos em clínicas e hospitais veterinários. Objetivou-se portanto compilar dados que auxiliem na identificação dos pacientes com tais déficits no ambiente clínico-hospitalar, bem como realizar uma correlação entre o conceito de bem-estar animal e a utilização de enriquecimento ambiental neste tipo de ambiente, apresentando-se assim os principais artifícios que atualmente são utilizados para melhorar o conforto de cães e gatos durante a prática clínico-hospitalar.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 BEM-ESTAR NO AMBIENTE CLÍNICO-HOSPITALAR

O bem-estar não diz respeito apenas às necessidades físicas do animal. Porém, estas também estão envolvidas na manutenção do estado de equilíbrio do indivíduo, ou seja, são necessárias para possibilitar um estado de constância entre os mecanismos físicos e psicológicos do mesmo. Segundo Figueira et al. (2014), para que o animal esteja o mais confortável possível, ele precisa dispor de cinco liberdades: 1) ser livre de fome e sede; 2) livre de desconforto; 3) livre de dores, lesões e doenças; 4) livre para expressar seu comportamento normal, e 5) livre de medo ou angústia.

Estas liberdades colaboram para o padrão científico atual de bem-estar, visto que aqueles que estão inseridos nesta realidade possuem, no mínimo, suas exigências fisiológicas mais básicas atendidas. Desta forma, as respostas que estes indivíduos apresentarão aos novos estímulos, provavelmente serão melhores do que a daqueles que não estão inseridos neste mesmo contexto. Assim, a manutenção de suas atividades será mais eficiente quando obedecido este pensamento (FIGUEIRA et al., 2014).

Considerando a demanda pelo bem-estar dos animais, clínicas e hospitais veterinários vêm mudando suas formas de entender e atender as necessidades desses indivíduos. Antigamente, priorizava-se apenas a resolução das afecções que estes apresentassem naquele momento. Hoje, por outro lado, dá-se mais valor à forma como os mesmos se sentirão durante um atendimento clínico ou tratamento. Busca-se então, a melhor forma de estabelecer contato com o paciente, para que não se sane somente a enfermidade, mas para que haja manutenção do seu conforto, do início ao fim do tratamento (MALDONADO; GARCIA, 2015).

Após diversas discussões baseadas na percepção de que animais são seres vivos cujas necessidades vão além da fome e da sede, o Animal Welfare Act (2006) listou as suas 5 principais necessidades, sendo elas: 1) ambiente adequado; 2) dieta balanceada e nutritiva; 3) exibição do comportamento natural; 4) socialização ou isolamento, dependendo da necessidade e característica de cada indivíduo; e 5) controle e prevenção de doença, dor ou sofrimento.

Estas necessidades revelam que o bem-estar animal vai além do aspecto físico, abrangendo também a necessidade de atenção por parte do tutor, a

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possibilidade de lidar com desafios, a oportunidade de lazer em conjunto, como também a de isolamento quando preciso. Desta forma, é importante levar em consideração as necessidades psicológicas dos indivíduos (AGUIAR et al., 2017).

Logo, fornecer um ambiente e dieta apropriados tem a mesma importância que garantir que o animal tenha liberdade para se comportar de acordo com as características comuns de sua espécie, como também àquelas que lhes são intrínsecas. Além disso, possibilitar-lhe a oportunidade de sociabilidade e interação com outros animais, não só auxiliaria na melhoria de seu bem-estar mental, mas também refletiria no seu físico, visto que está envolvido indiretamente com a diminuição de doenças e sofrimento provenientes de estresse (ANIMAL WELFARE ACT, 2006, item 9).

Yeats (2013), descreveu outras cinco ideias em relação ao cuidado com os animais, nomeando-as de oportunidades. Sendo assim, incluem: a) poder de seleção da dieta, levando-se em consideração a preferência gustativa; b) interação com o ambiente, proporcionando-lhe desafios que estimulem seu raciocínio; c) obtenção de prazer e entusiasmo, através do fornecimento de objetos e situações diferentes ao cotidiano daquele indivíduo; d) manifestação do comportamento normal, utilizando-se de espaço suficiente e companhia de outros indivíduos, e; e) segurança e credibilidade, baseada em um tratamento adequado que permita ao animal confiar na equipe médica.

Considerando as vontades e prazeres próprios dos animais, percebemos que, uma vez que os mesmos não lhes são proporcionados, seja por estarem fora do seu alcance ou associados a outros fatores estressantes provocados pelo homem, como por exemplo, em situações hospitalares, onde há barulho intenso ou falta de espaço e interação social suficientes, os mesmos ficam sujeitos a alterações fisiológicas. Assim, o animal que perde o domínio das 5 áreas citadas por Mellor e Beusoleil (2015), está exposto à desequilíbrios fisiológicos e comportamentais.

Em correlação com as ideias elaboradas pelo Animal Welfare Act (2006) e por Yeats (2013), as áreas de domínio dos indivíduos propostas por Mellor e Beusoleil (2015) incluem portanto: 1) adequadas nutrição e hidratação; 2) domínio ambiental; 3) boa saúde e estado funcional corporal; 4) comportamento normal; e 5) adequado estado mental.

O entendimento destes domínios, nos permite refletir sobre a existência de duas grandes áreas que envolvem o bem-estar animal: a física e a mental. Para Mellor

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(2017), ambas devem ser considerados na avaliação do animal. Portanto, podemos utilizar a escala proposta por Mellor e Beusoleil (2015) que enquadra o bem-estar animal em uma classificação que vai de bom a ruim, para determinar as condições de bem-estar a que determinado indivíduo está sujeito, de acordo com a situação a qual está submetido.

Neste modelo, os domínios de 1 a 3 são considerados fatores físicos internos, pois, estão relacionados com a fisiologia, ou seja, com o bom funcionamento do organismo, mesmo que para isso, sejam necessárias algumas ações do homem. O domínio 4, entretanto, diz respeito a relação entre animal e ambiente, visto que, para uma boa manifestação do seu comportamento natural, é importante que haja uma interação positiva entre ambos. Por último, há o domínio 5, que se correlaciona com os demais, pois, quando o quesito físico não é atendido, o equilíbrio mental também não é alcançado (MELLOR; 2017; MELLOR; BEUSOLEIL, 2015).

Tal perspectiva mostra a necessidade de se estabelecer uma relação prévia entre o médico veterinário, o tutor, e o animal, focada não apenas no momento da consulta, mas também, na sua vida cotidiana. Ao entender isto, a forma como o profissional atuará, permitirá o acesso às informações que talvez não sejam possíveis de obter no ambiente hospitalar, e que o ajudarão a diferenciar os comportamentos normais dos patológicos com maior facilidade, possibilitando desta maneira um atendimento mais preciso, humanitário e que provoque uma maior confiança na equipe médica, não só por parte do animal, mas também por parte do tutor (AGUIAR et al., 2017).

Concordando com esta perspectiva, Maldonado e Garcia (2015) afirmam que para um atendimento eficaz, é importante que o médico veterinário consiga interpretar os sinais que seus pacientes expressam nas diferentes situações a que são submetidos. Para isso, é indispensável identificar os comportamentos próprios do animal, a fim de detectar os sentimentos que eles vivenciam em tal ambiente. Desta forma, situações que lhes provoquem medo ou angústia, serão rapidamente resolvidas, evitando grandes alterações comportamentais e fisiológicas, e possibilitando dados explicativos sobre o porquê das mesmas.

Aguiar et al. (2017) afirma que o ambiente hospitalar interfere na rotina do animal e afeta seu comportamento. Portanto, pode agir como um agente estressor e influenciar negativamente na sua condição de bem-estar. A exemplo disso, citamos os horários de medicação, a manipulação dos animais pelos médicos veterinários para

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aferição dos parâmetros vitais, a realização de acesso venoso para fluidoterapia, ou até mesmo o ambiente reduzido ao qual estes são submetidos.

Lantzman (2015) explica que alguns comportamentos observados em cães e gatos são provenientes do processo adaptativo a novos ambientes. Isso inclui a relação com o ambiente físico e a experiência de socialização com outros animais e com o ser humano. Desta forma, podemos dizer que para se evitar comportamentos anormais provenientes de processos adaptativos, como por exemplo a submissão a um atendimento clínico ou internação, é necessário que a apresentação deste novo “desafio” seja feita de maneira a não gerar uma sensação desagradável, como medo ou angústia.

A realidade da clínica-veterinária nos permite entender a proposta de Maldonado e Garcia (2015) a respeito da promoção e garantia da “saúde integral” dos animais por parte do profissional médico veterinário. Em suma, “saúde integral” não diz respeito apenas ao conforto físico; mas vai além, pois é preciso abranger 3 áreas: família, animal e ambiente. Assim, além do físico será possível garantir também o bem-estar mental do indivíduo, já que ambos estão diretamente interligados.

Enxergar o ambiente clínico-hospitalar como um potencial estressor para o animal, o qual limita a manifestação de seu comportamento, é entender que neste ambiente tudo está sendo interpretado como algo arriscado pelo mesmo. Desta maneira, poderá provocar um sentimento de medo e uma reação de tentativa de fuga. Assim, detectar previamente e diminuir a ocorrência de possíveis fontes de estresse como: superlotação, barulho excessivo e espaço insuficiente, colaboram para o padrão de bem-estar que o indivíduo manifestará naquele ambiente (AGUIAR et al., 2017).

O ambiente clínico-hospitalar, desde sua construção até seu funcionamento, deve estar, segundo Maldonado e Garcia (2015), em estreita sintonia com as necessidades do animal. Para os autores, as escolhas do material utilizado na construção, as condições climáticas, o espaço que será fornecido ou até mesmo os odores presentes no ambiente são fatores muitas vezes negligenciados, mas suas importâncias devem ser consideradas para a manutenção do padrão de bem-estar do paciente durante sua experiência no local.

Para tanto, é importante que se tenha conhecimento do comportamento normal da espécie alvo, respeitando não só suas necessidades básicas, mas compreendendo seus comportamentos intrínsecos que diferem dos demais, mesmo

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que sejam da mesma espécie. Portanto, o comportamento próprio de cada indivíduo precisa ser considerado pelo médico veterinário responsável, tanto para o bem-estar do animal em questão, como para o sucesso do tratamento adotado (BROOM; FRASER, 2010).

Considerando tais necessidades, Maldonado e Garcia (2015) listaram seis regras para a instauração de um programa adequado de bem-estar animal na rotina clínico-hospitalar de cães e gatos. Estas, por sua vez, favorecem a interação com o ambiente e possibilitam uma experiência mais agradável e menos traumatizante, permitindo assim que as próximas visitas não sejam entendidas como uma situação de risco, mas sim como algo rotineiro e comum, que não trará consequências ruins ao seu bem-estar.

As seis regras têm como objetivo: a) garantir o melhor e mais adequado tipo de cuidado aos animais; b) criar condições que proporcionem o uso da estrutura e dos recursos hospitalares pelos pacientes; c) detectar rapidamente possíveis problemas, a fim de evitar grandes transtornos ao tutor e ao paciente; d) buscar sempre a longevidade dos animais, utilizando-se de artifícios que possibilitem tal objetivo; e) estimular os funcionários a trabalharem com maior comprometimento, através de propostas que reconhecem o desempenho dos colaboradores; e f) estimular a comunidade quanto a necessidade de uma relação equilibrada e de afinidade entre o serviço veterinário e o animal (MALDONADO; GARCIA, 2015).

Com isso, entendemos que a promoção de mecanismos que colaborem para o bem-estar na rotina clínico-hospitalar, diminui a ocorrência de estresse nos pacientes, fato demonstrado pela capacidade de resposta às diversas alterações fisiológicas ou ambientais. Quando respeitamos os limites dos animais, suas vontades e escolhas, a homeostasia não é intensamente acometida, ou seja, o estímulo negativo não é suficiente para afetar em grande medida o organismo do paciente, nem há ocorrência de respostas fisiológicas adaptativas exacerbadas por parte do mesmo, evitando-se assim a instalação de um quadro de estresse (LAURINO, 2009).

A fim de entendermos melhor o que caracteriza tal condição, conceituaremos e descreveremos o que é estresse e os fatores a ele associados que, em maior ou menor grau, cooperam para que animais em condições fisiológicas ou ambientais adversas, sejam acometidos, manifestando alterações comportamentais indesejáveis.

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2.2 ESTRESSE

Em estado normal, o organismo busca a garantia e controle da homeostasia, ou seja, equilíbrio do funcionamento dos órgãos e sistemas como um todo, para a adequada realização das atividades do indivíduo, e consequente manutenção da vida. Entretanto, este equilíbrio pode ser afetado por agentes de caráter intrínsecos e/ou extrínsecos, exigindo que mecanismos fisiológicos opostos sejam iniciados, a fim de reestabelecer a normalidade e promover manutenção das atividades primárias e secundárias e, portanto, a estabilidade do funcionamento do organismo (MARIA; MAIORKA, 2015).

O estresse é provocado pela ação conjunta de diversas reações biológicas no organismo, que são desencadeadas como forma de resposta a um agente estressor. Por agente estressor, entendemos tudo aquilo que provoca um estímulo atípico no animal, seja de caráter físico, químico ou emocional. Desta forma, estresse é um estado de desconforto sentido pelo animal após exposição à situações que lhe provoquem sensações indesejáveis (BLOOD; STUDDERT, 2002).

Para Sarafino (1994), porém, o estresse não se restringe a um mecanismo estímulo-resposta, pois, trata-se de uma situação onde o indivíduo tem papel ativo, e, dependendo de suas reações, as consequências causadas pelo agente estressor podem ser alteradas. Isso, devido a artifícios oriundos do próprio organismo, os quais, promovem manifestação de comportamentos, percepções ou emoções distintas.

Desta forma, a maneira pela qual o animal responderá ao estímulo estressor dependerá como ele o interpretará. Assim, indivíduos da mesma espécie podem responder de maneiras diferentes ao mesmo estímulo. Enquanto para um, a sensação que o agente estressor provoca é algo aterrorizante, para o outro, é interpretado como algo diferente, mas não demasiadamente assustador. Portanto, a intensidade demonstrada pelo animal afetado depende em parte também de si (MARGIS et al., 2003).

As respostas ao estresse se dividem em três níveis: o cognitivo, o comportamental e o fisiológico. No nível cognitivo, quatro elementos principais são levados em consideração: 1) a primeira impressão que o indivíduo tem de uma situação, a qual estará diretamente ligada com o mecanismo de reação posterior; 2) o modo como avalia o risco da situação estressora, levando em consideração seus aprendizados e experiências similares anteriores; 3) a capacidade para enfrentamento

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da situação, seus recursos e artifícios, e; 4) a escolha da ação a ser tomada, baseando-se no resultado das etapas anteriores (MARGIS et al., 2003).

Orsini e Bondan (2014) afirmam que no nível comportamental o animal pode ser influenciado e alterado por experiências que provoquem aprendizado. Assim, estímulos negativos, que posteriormente são transformados em impulsos nervosos, são recebidos, entendidos e respondidos muitas vezes, de forma negativa, causando um impacto emocional, e consequentemente, um sentimento de aversão. Desta forma, estímulos provindos de situações estressoras, são responsáveis por alterações comportamentais, visto que é uma das formas que organismo encontra para manifestar os sinais internos.

Por fim, o nível fisiológico, considera as alterações sofridas no organismo, no que diz respeito ao funcionamento de seus órgãos e sistemas, como também a ação de hormônios, cujos efeitos possibilitam reação, adaptação e defesa frente aos estímulos recebidos. Nesse processo, todas as funções do organismo são intensificadas, como por exemplo: alterações cardiovasculares, provocando aumento do débito cardíaco e pressão arterial; aumento da frequência respiratória; maior disponibilidade energética para o sistema muscular, e a liberação de neurotransmissores como a adrenalina, noradrenalina e serotonina (PAGLIARONE; SFORCIN, 2009).

2.2.1 Tipos de Estresse

Existem dois tipos de estresse: o eustresse e o distresse. O primeiro gera um estímulo considerado benéfico, pois, ainda que possibilite desafios, não é suficiente para ultrapassar os mecanismos de homeostase do organismo, portanto, não provoca alterações fisiológicas e comportamentais negativas. Já o segundo provoca estímulos maléficos, pois ultrapassa o nível ótimo de capacidade ao estresse e provoca ao animal sensações indesejáveis, como medo e angústia, sendo também responsável pela ocorrência de alterações fisiológicas e comportamentais muito intensas em resposta à perda da homeostase (FEVRE; MATHENY; KOLT, 2003).

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2.2.2 Agentes estressores

Os agentes estressores classificam-se em três grandes grupos distintos e consideram fatores como duração, intensidade e principais características. Quanto à duração podem ser agudos ou crônicos. A intensidade pode variar entre alta, média, ou baixa potencialidade de acometimento do organismo. Quanto às características, os agentes estressores podem ser: a) físicos – temperatura, barulho e radiação; b) químicos – medicamentos e agentes tóxicos, ou; c) sociais – dominância, mudança de habitat e presença de novos indivíduos (PACAK; MCCARTY, 2007).

Estressores cuja ação se dá diretamente sobre o corpo são denominados agentes somáticos e estão relacionados com danos físicos. Por outro lado, àqueles que envolvem os sentimentos e a consciência do animal, são denominados estressores psicológicos. Por fim, os que causam alterações no comportamento, modificando a expressão e a ocorrência de ações rotineiras, são tidos como estressores mistos e, geralmente, estão relacionados à ocorrência de alguma afecção ou condição adversa crônica (CARRAMENHA; CARREGARO, 2012).

O estresse pode atuar tanto em animais de vida livre, através dos desafios diários de caça e fuga, como em animais mantidos em confinamento. Porém, para Orsini e Bondan (2014), o confinamento potencializa as respostas dos indivíduos frente aos estímulos recebidos. Isso ocorre devido a impossibilidade de fuga do ambiente “ameaçador”, fazendo com que o animal receba estimulação negativa ininterrupta e se mantenha em constante tentativa de adaptação. Além disso, esta reclusão, por mais completa que seja, não reflete exatamente o seu habitat natural, alterando, portanto, a normalidade de seu comportamento.

Autores como Rio (1995) e Orsini e Bondan (2014) concordam que a rotina monótona também pode se enquadrar como um agente estressor. A frequente realização de atividades iguais ou similares provoca o condicionamento do animal, e diante da inexistência de novos estímulos, o organismo não emite novas respostas, tendendo ao ócio. Animais confinados, por exemplo, geralmente possuem horários fixos de alimentação e dieta específica, não havendo, portanto, opção de escolha e nem a realização de algum tipo de esforço para sua conquista. Desta forma, é reduzido o domínio de suas próprias vidas e ampliada a submissão que lhes é imposta.

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Em contrapartida, a sobrecarga física e/ou psicológica não é interessante, pois, o excesso causa desgaste e traz consequências negativas, afetando o desenvolvimento de atividades necessárias ao bem-estar do animal. Sendo assim, é necessário dosar a estimulação para que não seja nem insuficiente nem exagerada. Contudo, os limites mínimos e máximos de estimulação só serão adequados em situações onde há um conhecimento prévio das condições de adaptação tanto da espécie, como também do indivíduo (ORSINI; BONDAN, 2014).

2.2.3 Fisiopatologia do estresse

Diante de ataque, o organismo utiliza dois sistemas de respostas fisiológicas: o sistema nervoso e o sistema endócrino. O sistema nervoso é acionado por receptores sensitivos, localizados no cérebro do animal, onde ocorre feedback negativo em relação à ação dos estressores. A posteriori, o Sistema Nervoso Periférico (SNP) também é sensibilizado. Por outro lado, através da liberação na corrente sanguínea de hormônios que agirão a nível de órgãos efetores, o sistema endócrino influencia nas respostas do organismo. A liberação hormonal, porém, depende do comando cerebral, o que revela a interação e dependência entre os dois sistemas (ARALDI-FAVASSA; ARMILIATO; KALININE, 2005).

Quando os estímulos provocados causam desequilíbrio no organismo, as informações são enviadas ao Sistema Nervoso Central (SNC) e, após recebidas e interpretadas, são enviadas às áreas motoras, e posteriormente, reenviadas o SNP, a fim de provocar uma reação pelo animal. A resposta pode ou não obedecer um padrão característico da espécie, pois tal fato depende também, dos atributos individuais do animal. Em geral, visualizam-se a adoção de postura de defesa, vocalização ou medidas para se esconder (ORSINI; BONDAN, 2006).

Em situações anormais ou de emergência, o animal sente a necessidade de fugir do local, escapando assim da situação estressora. A esta condição dá-se o nome de “estado de fuga ou luta”. Nela, o organismo se utiliza de ações reflexas e pouco duradouras, quase que instantâneas, como medida de defesa. Entre elas, podemos citar: aumento das frequências cardíaca e respiratória e tremores musculares (SARAFINO, 1994). Sendo assim, o Sistema Nervoso Simpático (SNS), juntamente com o sistema endócrino são ativados, visando mediar respostas defensivas através da mobilização completa do organismo (SANTOS; CASTRO, 1998).

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No estado de “fuga ou luta”, o organismo do animal desencadeia um conjunto de ações que estimulam o SNS. A partir disso, as glândulas adrenais ficam encarregadas de secretar catecolaminas, tais como adrenalina e noradrenalina. As catecolaminas, por se tratarem de hormônios e neurotransmissores envolvidos em situações de estresse, provocam a nível sistêmico, uma série de alterações fisiológicas, que preparam o organismo para atividades que exigem maior esforço e desgaste, como é o caso da necessidade de fuga. (SANTOS; CASTRO, 1998).

Dentre as alterações sistêmicas provocadas no estado de “fuga ou luta”, estão: o aumento da frequência e força de contração cardíacas; concentração de sangue nas regiões centrais, para garantir a funcionalidade dos órgãos vitais; aumento da frequência respiratória, para expandir a quantidade e disponibilidade de oxigênio ao organismo; glicogenólise, ampliando o nível de energia para realização de atividades musculares e; aumento de células de defesa, como os linfócitos, para que, em caso de dano ao organismo, este já se encontre preparado para responder adequadamente (ORSINI; BONDAN, 2006).

Outra situação é a do “estresse crônico”1, que causa diversas alterações

metabólicas indesejáveis, devido ao constante estímulo da região cortical das glândulas adrenais. Estas, acabam liberando elevadas quantidades de cortisol, por um período prolongado, resultando em alterações comportamentais e físicas intensas nos animais acometidos. Além destas, outras glândulas também são estimuladas a secretarem substâncias, porém, suas funções são controladas pela hipófise, enquanto o hipotálamo, localizado no cérebro e o sistema límbico são responsáveis pelo controle de estímulos recebidos (CARRAMENHA; CARREGARO, 2012).

Da mesma forma como ocorre no estado de “fuga ou luta”, o organismo tende a defender-se do agente estressor. Isso ocorre através de informações bioquímicas e neuronais, enviadas ao cérebro em forma de estímulo. Os estímulos recebidos, agem sobre as glândulas endócrinas, que secretam suas substâncias na corrente sanguínea, com o objetivo de atingir as células e tecidos-alvo e provocar efeitos neutralizadores. No “estresse crônico”, a ação hormonal é de caráter duradouro, predispondo o animal a alterações como: danos musculares, hipertensão arterial,

1 Causado por estímulos agressores crônicos aos quais o animal está exposto a mais tempo e que promovem reações sistêmicas intensas.

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poliúria2, polidipsia3, perda de peso e queda na resposta imunológica

(CARRAMENHA; CARREGARO, 2012).

Desde meados da década de 1920 que Cannon (1929) explica os efeitos positivos e negativos da estimulação do organismo por meio do estresse. Apesar de proporcionar capacidade de fuga e defesa, e garantir a sobrevivência do animal, uma estimulação excessiva frequente e extensa, pode provocar alterações fisiológicas intensas e desgastantes, muitas vezes tornando-se irreversíveis. Logo, o estresse é um processo adaptativo ao qual o animal está sujeito, e ao ser submetido a este, é esperado que ele responda de maneira adequada. Porém, diante de um estímulo recorrente, as alterações são significativas e, portanto, desfavoráveis.

2.3 IDENTIFICAÇÃO DE PACIENTES COM ESTRESSE

Como mencionado anteriormente, alguns estímulos provocam respostas que objetivam a manutenção da vida e o retorno ao equilíbrio e homeostasia. Entretanto, cada um deles induz a respostas fisiológicas diferentes, que dependem de fatores como: o tipo de estímulo, sua duração e intensidade. Desta forma, reações conjuntas, oriundas de todo o organismo são promovidas para combatê-los (ACCO; PACHALY; BACILA, 1999).

Algumas alterações físicas, mentais ou comportamentais podem estar associadas ao estresse. Nestas condições, o animal demonstra características incomuns ao seu comportamento, evidenciando anormalidades. Dentre elas citamos: mudanças repentinas de humor, sobressaindo a agressividade, ansiedade, falta de apetite, fadiga, estereotipias, tristeza, lesões por esforço repetitivo, medos ou fobias provenientes de traumas e depressão (ARCURI, 2015).

Para perceber as variações de conduta e tratá-las de maneira adequada, é necessário conhecer o comportamento normal da espécie e as particularidades do animal em questão. De acordo com Snowdon (1999), é impossível garantir bem-estar sem que haja um conhecimento prévio a seu respeito. Assim, toda e qualquer intervenção no habitat ou rotina do indivíduo, deve basear-se em estudos cuja eficácia se comprova, a fim de não comprometer o conforto do animal, evitando a ocorrência de estresse.

2 Alteração caracterizada pelo aumento da produção e excreção de urina pelo organismo.

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O grau de estresse nos animais pode se basear em diversos critérios, como a biologia e comportamento do indivíduo em condições normais. Porém, sua percepção e comprovação deve associar-se a indicadores fisiológicos e etológicos4

da espécie, para que comportamentos particulares do animal não sejam confundidas com alterações patológicas (BROOM; FRASER, 2010). A partir disso, avaliações baseadas em dosagem hormonal, alteração de parâmetros fisiológicos ou comportamentais e presença de lesões e/ou afecções podem ser corretamente aplicadas.

A dosagem hormonal é um importante indicador do estresse nos animais, caracterizando o comprometimento de seu bem-estar. Hormônios provenientes do eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal como o cortisol, que é secretado pelo córtex da adrenal em condições normais, podem apresentar concentrações séricas aumentadas diante de situações de estresse. Assim, sua dosagem é frequentemente utilizada para indicar tanto o grau de estresse que acometeu o animal como para classificar o quadro detectado como agudo ou crônico (ELIAS; CASTRO, 2005).

O nível de cortisol como fator avaliativo do estresse, além de ser um parâmetro confiável, é de fácil execução, pois trata-se de um método pouco invasivo, já que utiliza amostras de saliva ou urina. Em animais estressados, cuja concentração circulante de cortisol encontra-se elevada, é comum a ocorrência de alterações fisiológicas como taquicardia, hipertensão e hiperglicemia. Além disso, alterações no leucograma, como linfocitose e eosinopenia também podem ser causadas pela ação deste hormônio nas células e órgãos-alvo (MORMED et al., 2007).

A avaliação e interpretação das alterações hematológicas por meio do leucograma, por sua vez, revelam a influência do estresse sobre a imunidade do animal. Apesar do grau e da intensidade das respostas emitidas pelo indivíduo, sua imunidade sempre estará comprometida. Isso se dá devido as diferenças leucocitárias geradas pelo estresse, que os mantém suscetível a doenças secundárias como: as respiratórias e entéricas, visto que são os sistemas mais comumente afetados (LAURINO, 2009).

São esperadas alterações5 no leucograma de animais estressados.

Entretanto, elas dependerão do tipo de estresse vivenciado. Em casos de estresse

4 Conhecimento a respeito do comportamento social e individual dos animais de acordo com sua espécie e seu habitat natural.

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agudo, é comum a ocorrência de neutrofilia e linfocitose, podendo ou não haver o aumento de monócitos e eosinófilos. Já no estresse crônico, a neutrofilia e monocitose também são evidenciadas, entretanto, ocorrerá linfopenia e eosinopenia (LAURINO, 2009). É importante, portanto, que o médico veterinário diferencie leucocitoses, provenientes de processos fisiológicos em resposta ao estresse, das de origem patológica, evitando assim um diagnóstico equivocado (SILVA et al., 2008).

Outra forma de avaliação dos índices de estresse, é pela alteração comportamental. Porém, apesar de ser um importante parâmetro, frequentemente é mal-empregado, devido à falta de conhecimento etológico6 por parte do avaliador, o

que mascara ou até mesmo impossibilita a análise. A incapacidade de exercer suas funções normais e a demonstração de comportamentos indesejáveis, muitas vezes danosos para si, para o ambiente e/ou indivíduos que os cercam, são fatores que podem auxiliar no diagnóstico (ARCURI, 2015).

De acordo com Duncan (2005) a alteração comportamental pode ser classificada em cinco categorias de comportamentos: 1) os indesejáveis, por meio da promoção de lesões; 2) simulatórios, realizados mesmo sem estímulo algum; 3) apáticos, frente à estímulos externos; 4) fuga, caracterizado por estado de alerta e desejo de sair do ambiente ao qual se encontra, e; 5) estereotipados, tratando-se de ações repetidas e sem funcionalidade fisiológica alguma. Independente de qual seja o tipo de comportamento anormal, qualquer um deles é prejudicial à saúde do animal, requerendo agilidade de diagnóstico e tratamento.

A predileção involuntária do animal por algum objeto, ambiente ou pessoa, pode indiretamente evidenciar suas preferências. De igual maneira, a esquiva e a postura de ataque ou defesa refletem sua aversão diante de situações e/ou pessoas que lhes causaram algum tipo de trauma ou experiência ruim. Assim, considerar tais manifestações comportamentais nos permite associar o grau de bem-estar ou estresse provocado diante de uma exposição a algum objeto ou situação, evitando a realização de procedimentos que alterem o humor e o estado de comodidade do animal (ABE, 2012; ETIM et al., 2013).

Dentre os comportamentos anormais, a ocorrência de estereotipias é uma das mais importantes, pois, trata-se da repetição de ações que geralmente não apresentam função fisiológica alguma, mas que funcionam como resposta ao

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ambiente estressor cotidiano no qual o animal está inserido, ou seja, estão relacionadas ao sentimento experimentado em determinadas situações. Desta forma, pode-se dizer que é um comportamento repetitivo anormal (CRA), a fim de possibilitar sensação de segurança e proteção. As estereotipias podem possuir caráter locomotor, de manifestação corporal não locomotora ou oral (PIERRELEVÉE, 2015).

De acordo com Pierrelevée (2015), as estereotipias revelam que o estado de sanidade mental do animal está ameaçado, visto que, são ações indicativas de estresse e demonstram que alguma necessidade do indivíduo não está sendo suprida. Entretanto, a avaliação e o diagnóstico da estereotipia devem considerar o ambiente e a situação do animal, para que desta maneira seja possível eliminar os estressores e a reestabelecer seu estado de bem-estar.

Este cenário explica o motivo pelo qual muitas vezes em clínicas e hospitais veterinários, encontramos animais inquietos, que vocalizam incessantemente, que se recusam a comer, ou até mesmo isolam-se da presença de outros animais ou dos assistentes médicos. Trata-se de uma forma de enfrentamento do animal à situação estressora. Outros comportamentos como a apatia, frustração, movimentos repetitivos, salivação, vocalização, piloereção, entre outros, podem indicar baixas condições de bem-estar, permitindo aos profissionais que o manejo adotado seja repensado (ARCURI, 2015).

Outra forma de avaliar o grau de estresse animal é através da presença de lesões e ferimentos, bem como de dificuldades de locomoção ou alterações de postura. Estes, segundo Broom e Molento (2004) são indicadores de um baixo grau de bem-estar, que alertam para a possibilidade de incoerência das instalações ou manejo empregados7. Assim, é possível afirmar que animais com menores incidências

de lesões, geralmente apresentam níveis mais baixos de estresse, devido preservação das sanidades física e mental, associadas à integridade corporal.

Em ambientes clínico-hospitalares, duas principais síndromes que devem ser atentamente observadas, podem acometer o animal: a Síndrome de Ansiedade por Separação (SAS) e a Síndrome Geral de Adaptação (SGA), que se relacionam com a manifestação de alterações fisiológicas para reagir ao agente estressor, que neste caso é o ambiente hospitalar (FIGUEIRAS; HIPPERT, 1999). Nestas condições, a realização de procedimentos comuns e rotineiros e a privação do contato com seus

7 Na estrutura, referimo-nos a utilização de piso inapropriado, a construção de baias de tamanho, formato ou outras características inadequadas à espécie, entre outros aspectos.

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tutores, afetam o bem-estar do animal e desestabilizam sua homeostase (MALDONADO; GARCIA, 2015).

2.3.1 Síndrome de Ansiedade por Separação (SAS)

Cães comumente sofrem de SAS. Ao serem afastados de seus donos, apresentam alterações fisiológicas e/ou comportamentais que podem afetar negativamente o seu bem-estar (NOVAIS; LEMOS; JÚNIOR, 2010). A SAS geralmente está relacionada à animais de companhia que, ao serem submetidos ao estímulo de separação, seja ela momentânea ou definitiva, interpretam esta ação como uma espécie de abandono, e desta forma, acabam experimentando um estresse intenso com efeitos que são prejudiciais à saúde (BEZERRA; ZIMMERMANN, 2015). De acordo com Rossi (2008), os cães entendem o ato de estar só, como a suscetibilidade à morte, mesmo que nunca tenham vivido com outros animais. Este é um comportamento instintivo herdado de seus ancestrais, os lobos, que vivem em grupos para proteger uns aos outros e facilitar a obtenção de alimento. Isso explica a necessidade de companhia que a maioria dos cães apresenta e a sua relação de intimidade com os seres humanos, pois, para estes, o vínculo com outros animais ou com seus tutores é uma peça fundamental para a manutenção de seu equilíbrio fisiológico (MACHADO; SANT’ANNA, 2017).

Os portadores da SAS apresentam comportamento mais emotivo que o de animais normais. São, portanto, indivíduos que facilmente demonstram angústia, medo, inquietude, agressividade, depressão ou estresse quando separados dos seus familiares, sejam eles animais ou humanos, vistos emocionalmente como família. Além disso, pode ser que ao estarem perto de seus tutores, requeiram maior atenção, a fim de suprir emocionalmente faltas passadas ou prevenir-se em casos de ausências futuras (FREITAS; RAHAL; CIANI, 2006).

Outra alteração característica da SAS, é a necessidade de proximidade com o tutor. Desta forma, o animal o acompanha, literal e incessantemente, em todas as atividades executadas em casa, muitas vezes dificultando até mesmo a movimentação deste8. Usualmente, há ainda a perda do apetite ao se encontrarem

8 Nestes casos, é comum acontecerem acidentes tanto com o animal como com o tutor que está suscetível a tropeçar ou pisar no animal.

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sozinhos no ambiente, o que consequentemente acarretará posterior perda de peso (BEZERRA; ZIMMERMANN, 2015).

De acordo com Beaver (2003), as alterações comportamentais em cães que são separados de seus tutores, começam a se manifestar num período entre 5 e 30 minutos após a separação. Entretanto, há animais que pressentem o momento de saída do tutor, e antes mesmo do fato ocorrer, já demonstram sinais de ansiedade e inquietação. Estes sinais, podem persistir durante todo o tempo de ausência do tutor ou minimizar e até desaparecer em caráter de horas. Estes dois últimos porém, só em casos onde o animal acometido pela SAS consegue lidar melhor com a situação.

Como exemplos peculiares de comportamentos anômalos em animais com SAS, citamos: a) movimentação excessiva; b) vocalização, a qual pode incluir choros, uivos ou miados; c) micção ou defecação em locais inapropriados; d) comportamentos destrutivos; e) autolimpeza exacerbada ou automutilação; f) movimentos repetitivos sem funcionalidade específica; g) tremores musculares intensos, e; h) náuseas e vômitos (MACHADO; SANT’ANNA, 2017).

É importante destacar que tais sinais podem se apresentar em vários graus: leve, moderado e exacerbado, principalmente se o intuito do animal for chamar a atenção do seu tutor, mas sem obter a atenção e o carinho ao qual estava preparado para receber (BEAVER, 2003). Diante desta realidade, estudos sobre o comportamento animal se intensificaram na medicina veterinária, principalmente, com a crescente busca dos profissionais da área, pelo entendimento das consequências causadas pelo déficit de bem-estar na saúde dos animais (MACHADO; SANT’ANNA, 2017).

Assim, clínicas e hospitais veterinários buscam novas técnicas que permitam minimizar o impacto da rotina hospitalar na qualidade de vida dos animais. Neste caso, enquadra-se o uso de enriquecimento ambiental para diminuir o estresse dos pacientes, o qual, facilita o tratamento e a recuperação dos mesmos. Além disso, ameniza traumas e diminui reações negativas em casos de visitas futuras ao ambiente hospitalar.

2.3.2 Síndrome Geral de Adaptação (SGA)

No espaço de tempo entre a ocorrência do estímulo estressor e a resposta do animal, acontecem reações fisiológicas conhecidas como Síndrome Geral de

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Adaptação (SGA) (FERREIRA, 2008). A SGA representa um grupo de respostas emitidas pelo animal em decorrência de um fator estressante e cujo objetivo, é manter o funcionamento do organismo em ordem. A SGA é constituída por três fases que se diferem pelo tempo e alterações fisiológicas manifestadas. São elas: fase de alarme, fase de resistência e fase de exaustão (ORSINI; BONDAN, 2014).

A primeira, caracteriza-se pela exposição do animal a um agente estressor, que será reconhecido pelo SNC e provocará uma resposta imediata, colocando-o em estado de “fuga ou luta”. Ao detectar o perigo, o hipotálamo ativa o sistema nervoso autônomo simpático, liberando catecolaminas e alterando os parâmetros fisiológicos, como o aumento da frequência e débito cardíacos e vasoconstrição periférica, que, se não sanados num período entre 6 e 48 horas após iniciados, provocarão alterações mais severas como atrofia de órgãos linfoides (MARIA; MAIORKA, 2015).

Permanecendo a situação estressora e as alterações provindas da fase de alarme, inicia-se a fase de resistência. Entretanto, Maria e Maiorka (2015) afirmam que se o agente estimulante for reduzido, o animal experimentará um efeito de adaptação, o que consequentemente possibilitará seu retorno ao estado de normalidade. Porém, se o estímulo for intenso e persistir, o estado de equilíbrio do organismo será atingido, e outras alterações poderão ocorrer, inclusive o óbito.

Já na terceira e última fase, denominada fase de exaustão, são facilmente percebidas alterações comportamentais provenientes de dano ao sistema nervoso do animal. Entretanto, chegar nesta fase é algo raro, pois a maioria dos animais, quando submetidos a estímulos intensos e persistentes, acabam não suportando seus efeitos, e vão a óbito9 (MARIA; MAIORKA, 2015). Para evitar isso, o enriquecimento ambiental

pode ser uma ferramenta eficaz.

2.4 ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL

Enriquecimento ambiental é o conjunto de ações que promovem a alteração do ambiente físico e/ou social de animais confinados, com o intuito de desenvolver uma rotina que atenda às suas necessidades de maneira menos estressante ao mesmo tempo em que atue na manutenção do bem-estar (PIZZUTTO; SGAI; GUIMARÃES, 2009).

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De acordo com Broom e Fraser (2010), é comum que cães mantidos confinados ou sob isolamento manifestem anormalidades comportamentais, como a automutilação. Isso muitas vezes é reflexo da falta de complexidade do ambiente em que se encontram, o que pode ser minimizado com a introdução de objetos e situações diferentes e criativas na rotina do animal, que o estimulem a manifestar comportamentos comuns de sua espécie (SANDERS; FEIJÓ, 2007).

De acordo com Hötzel, Nogueira e Filho (2010) o confinamento geralmente provoca ociosidade e, muitas vezes, impossibilita o animal de manifestar seu comportamento normal. Como consequência, surge um estado emocional negativo, no qual, sentimentos como ansiedade e frustração se tornam comuns.

Para evitar tais quadros, é necessário promover um ambiente menos estressante, cuja estrutura atenda às necessidades físicas e emocionais do animal. Assim, consequências negativas provenientes do estado de isolamento e/ou confinamento, como é o caso de animais que se encontram internados em hospitais veterinários e que têm sua rotina alterada, podem ser minimizados.

Entretanto, para aplicação de enriquecimento ambiental, é importante conhecer a espécie em questão, suas peculiaridades, bem como suas preferências e aversões. Desta maneira, a escolha das técnicas a serem aplicadas será mais adequada, alcançando assim, resultados satisfatórios (PIZZUTTO; SGAI; GUIMARÃES, 2009).

Para Beresca (2014) é importante cumprir com os objetivos propostos por esta técnica, considerada a chave para alcançar a melhora da qualidade de vida do animal. Segundo a autora, deve-se priorizar: a realização de mais atividades, a melhor interação com os manipuladores e a diminuição de estresse e das estereotipias, evitando as consequências destas, como a automutilação, permitindo assim que os indivíduos exibam características próprias da espécie.

Nesta mesma perspectiva, Davey (2006) explica que o enriquecimento ambiental pode ser aplicado a partir de duas técnicas principais. A primeira consiste na promoção estruturada de recintos naturalísticos, onde o animal tenha acesso a ambientes que mimetizem o habitat natural; isso se aplica, principalmente, a animais mantidos em cativeiro. A segunda por sua vez, direciona-se as clínicas e hospitais veterinários, e está associada à utilização de artifícios temporários, que estimulem o paciente a usar seus cinco sentidos.

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De acordo com Corat (2009), o enriquecimento ambiental está dividido em cinco grupos: 1) físico; 2) sensorial; 3) cognitivo; 4) social, e; 5) alimentar. E é por meio deles que o animal escolhe como interagir com o meio e dominar o ambiente. Para compreendermos a relevância de cada um deles, os descreveremos a seguir.

2.4.1 Enriquecimento Físico

A principal característica do enriquecimento físico é a preocupação em reproduzir com o máximo de similaridade, o ambiente físico onde o animal vive e com o qual está acostumado. Para isso, ferramentas como o aumento do tamanho e da complexidade podem ser utilizadas, objetivando uma maior interação entre o mesmo e o ambiente. Além disso, a utilização de acessórios internos ou externos, de caráter temporário ou permanente, são outras possibilidades para a estruturação de todo o cenário (CORAT, 2009).

Quando se avalia o contexto de confinamento, promovendo uma espécie de comparação com o habitat natural, é comum perceber a ocorrência de falhas de estruturação. Isso ocorre porque, geralmente, os elementos utilizados são pobres, não possuindo complexidade suficiente para gerar curiosidade no animal. É importante o uso de opções que provoquem maior interesse e proporcionem diversas sensações e comportamentos, pois apenas dessa forma os confinados desfrutarão adequadamente do ambiente (CORAT, 2009).

Broom e Fraser (2010) exemplificam a importância do enriquecimento físico para os animais explicando que gatos, quando comparados com outras espécies, demonstram maior necessidade de um ambiente mais elaborado e, portanto, mais complexo para atingir um adequado grau de bem-estar. Estes animais sentem-se mais confortáveis quando dispõem de plataformas que permitam a visualização do ambiente em plano superior. Além disso, são necessários locais que sirvam como esconderijo, visto que, diferentemente dos cães, gatos muitas vezes optam pelo distanciamento de outros animais e pessoas não familiares.

2.4.2 Enriquecimento Sensorial

O enriquecimento sensorial é mais subjetivo e visa principalmente o estímulo aos cinco sentidos do animal. Para cada um deles existem opções, por exemplo: 1) o

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tato pode ser estimulado por objetos e estruturas que despertem o interesse pelo toque; 2) o olfato, por meio de diferentes tipos de aromas, que o ajudem a perceber a presença de novos indivíduos, alimentos e objetos no recinto ou até mesmo, a se comunicar com os outros animais; 3) a visão, através de estimulantes como: vídeos, imagens ou grades que lhe possibilite ver os outros animais; 4) a audição, através de músicas ou vocalizações, e; 5) o paladar, através da inclusão de novos sabores ou pela alteração no manejo alimentar (CORAT, 2009; SILVA, 2011).

2.4.3 Enriquecimento Cognitivo

O enriquecimento cognitivo se baseia em técnicas que levem o animal a utilizar sua capacidade de raciocínio lógico. Para tal, é possível utilizar diferentes tipos de “quebra-cabeças”, que o desafiem a testar sua capacidade intelectual. Logo, as atividades apresentadas precisam ser resolvidas em tempo pré-determinado e, diante da resolução do desafio, ao final, haverá recompensa que pode ser apresentada por um petisco ou objeto que lhe agrade (GARCIA; BERNAL, 2015).

No processo de enriquecimento cognitivo, o animal faz uma associação entre o desafio e a obtenção de um prêmio, isso o estimula a se esforçar para resolver o problema, gastando energia e tempo com atividades recreativas, que estimulam a mente e que, se não fossem redirecionados, acabariam por se manifestar por meio de comportamentos estereotipados (CARPES, 2015).

2.4.4 Enriquecimento Social

O enriquecimento social por sua vez, oportuniza a interação com outros animais, da mesma ou de diferentes espécies, refletindo o que comumente ocorre no habitat natural (SANDERS; FEIJÓ, 2007). Diante das vivências interacionais, os animais estão sujeitos à manifestação de comportamentos que visam o bem do conjunto. Isso ocorre quando compartilham a área do recinto e os seus objetos de maneira harmônica, estabelecendo relação de protocooperação.

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No caso dos cães que vivem sob companhia10, a privação de contato social

afeta o sentido de segurança destes. Este fato, porém, pode ser amenizado se lhes forem possibilitadas situações de contato com outros cães, principalmente em situação de ausência do tutor, pois os mesmos servirão como companheiros temporários durante o período de confinamento necessário (BROOM; FRASER, 2010).

2.4.5 Enriquecimento Alimentar

Por último, temos o enriquecimento alimentar, que consiste na alteração da forma de disponibilização dos alimentos, incitando os animais à “caça” (GARCIA; BERNAL, 2015). Nesta técnica, também é possível estimular o interesse pelo alimento através da alteração da dieta, dos horários e da frequência de fornecimento. A exemplo disso, alimentos congelados ou escondidos em locais de difícil acesso estimulam o comportamento exploratório. Neste caso, ocorrerá utilização dos órgãos do sentido para descoberta do local onde se encontra o alimento, havendo associação deste enriquecimento com o cognitivo (SILVA, 2011).

Gatos preferem dietas mais variadas. Além disso, por não possuírem números elevados de papilas gustativas que lhes permitam diferenciar muitos sabores, se atraem mais por alimentos mornos. Animais mantidos por um único tipo de dieta nutricional por vários dias, estão predispostos a apresentarem maiores deficiências nutricionais se comparados com outros que desfrutam de uma dieta variável. Isso nos permite entender que o manejo nutricional adequado a cada espécie, quando bem planejado e aplicado, é benéfico à saúde do animal (BROOM; FRASER, 2010; SILVA, 2017).

2. 5 UTILIZAÇÃO DO ENRIQUECIMENTO AMBIENTAL NO AMBIENTE CLÍNICO-HOSPITALAR

Apesar de comumente negligenciado na rotina clínica veterinária, a diminuição do estresse dos pacientes por meio de artifícios adotados pela equipe do

10 Na natureza ou em ambientes de convívio com outros animais da mesma espécie. No caso de cães domésticos, há uma associação onde seus tutores são vistos como membros da família, ou seja, componentes da matilha.

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