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Determinantes dos diferenciais de salários entre profissionais qualificados para inovar na indústria brasileira de tecnologia da informação e comunicação

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Academic year: 2017

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HAMILTON JOSÉ MENDES DA SILVA

DETERMINANTES DOS DIFERENCIAIS DE SALÁRIOS ENTRE PROFISSIONAIS QUALIFICADOS PARA INOVAR NA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE TECNOLOGIA

DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Economia de Empresas da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Economia.

Orientador: Prof. Dr. Gilson Geraldino da Silva Jr.

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Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB

26/07/2012

S586d Silva, Hamilton José Mendes da Silva.

Determinantes dos diferenciais de salários entre profissionais qualificados para inovar na indústria brasileira de tecnologia da informação e comunicação./ Hamilton José Mendes da Silva – 2012.

102f. il.; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2012. Orientação: prof. Dr. Gilson Geraldino da Silva Jr.

1. Qualificação profissional. 2. Salários. 3. Inovação Tecnológica. 4. Economia. I. Silva Jr., Gilson Geraldino da, orient. II. Título.

CDU 331.2

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Dissertação de autoria Hamilton José Mendes da Silva, intitulada “DETERMINANTES DOS DIFERENCIAIS DE SALÁRIOS ENTRE PROFISSIONAIS QUALIFICADOS PARA INOVAR NA INDÚSTRIA BRASILEIRA DE TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO”, apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Economia de Empresas, em 27/08/2011, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:

___________________________________________________________ Prof. Dr. Gilson Geraldino Silva Jr.

Orientador

___________________________________________________________ Prof. Dr. Rogério

Examinador Interno - UCB

__________________________________________________________ Profa. Dra. Fernanda De Negri

Examinadora Externa - UNICAMP

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AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a todos que colaboraram para a conclusão deste curso de Mestrado em Economia, especialmente:

- À minha esposa Ivana, pelo apoio e compreensão durante minha vida acadêmica, e em especial, pelo apoio incondicional durante a elaboração desta dissertação;

- Aos meus filhos Ana Carolina, Luiz Gustavo e Otávio Augusto, pela compreensão e paciência durante os momentos em que estive ausente, e pelo constante incentivo;

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“É melhor tentar e falhar, que preocupar-se e ver a vida passar; é melhor tentar, ainda que em vão, que sentar-se, fazendo até o final (...)”

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RESUMO

Referência: SILVA, Hamilton José M. Determinantes dos diferenciais de salários entre profissionais qualificados para inovar na indústria brasileira de Tecnologia da Informação e Comunicação, 102 folhas. Dissertação de Mestrado em Economia de Empresas – Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2011.

Nesta dissertação, apresentamos evidência empírica de diferenciação salarial de profissionais qualificados para inovar na indústria brasileira de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC). Entre os determinantes, variáveis demográficas, como gênero e faixa etária; e impacto das importações sobre os salários desses trabalhadores, controlando por segmento e principais pólos produtivos da indústria de TIC. A distribuição dos trabalhadores nos pólos-setores também é explorada. Os principais resultados são: i) há evidência de diferenciação salarial dos engenheiros que atuam na indústria de TIC relativamente aos salários médios percebidos por profissionais de nível superior, tanto a nível nacional quanto no âmbito local; ii) há evidência de que as importações em cada segmento de TIC afetam – negativamente -- os salários desses profissionais; iii) há evidências de que a experiência profissional influencie no diferencial de salário dos talentos, contudo, com baixa magnitude.

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ABSTRACT

In this dissertation we analyze statiscal evidences of wages diferencial by skilled workers to implement innovation in Brazilian manufacturing Information, Technology and Communication – ITC and imports impacts on those worker wages. We also control by ITC segments and principal manufacturing ITCs cities. The principal results are: i) there´s statiscal evidences of wages diferencial in favour of the engineer whose work in brazilian ITC industry, both national and local dimension; ii) ) there´s statiscal evidences that talents (engineer and other professional with correlated skills) wages are impacted by trade; and iii) ) there´s statiscal evidences that talent’s wages are affect by professional experience but the effect is too small.

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LISTA DE SIGLAS

ABDI – Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial

ABIMO - Associação Brasileira das Indústrias de Equipamentos Medico e Odontológicos ABINEE – Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica

ATM – Automatic Teller Machine

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BRASCOM - Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação –

CNAE – Classificação Nacional de Atividades Econômicas

CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico DRAM – Dynamic Random Access Memory

DWDM – Dense Wavelenth Division Multiplexing FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos

FNDCT – Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPEA – Instituto de Pesquisas Econômicas

OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico OECD – Organisation for Economic Co-operation and Development MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia

MDIC – Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior

PADIS - Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Indústria de Semicondutores PABX – Private Automatic Branch eXchange

PDP – Política de Desenvolvimento Produtivo P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

PPB – Processo Produtivo Básico

RFID – Radio Frequency Identification Device RHAE – Recursos Humanos em Áreas Estratégicas SECEX – Secretaria de Comércio Exterior

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LISTA DE FIGURAS

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1: investimentos privados em P&D como proporção do PIB: Europa, EUA...46

e Brasil (%) TABELA 2: evolução de indicadores das empresas beneficiárias dos incentivos da Lei no 8.248, de 1991, no período 2006 a 2009...51

TABELA 3: comparativo 2000 e 2006 de indicadores relativos aos principais segmentos industriais de TIC sediadas em países membros da OCDE...59

TABELA 4: indicadores para P&D na indústria de TIC, Brasil vs OCDE...65

TABELA 5: salários (em R$) dos profissionais qualificados e dos talentos...70

TABELA 6: prêmio salarial dos profissionais qualificados e dos talentos (%)...70

TABELA 7: variáveis explicadas por percentis...71

TABELA 8: contingente de profissionais qualificados nos pólos industriais de TIC...72

TABELA 9: profissionais de nível superior por faixa etária...72

TABELA 10: talentos (engenheiros e não engenheiros) por faixa etária...70

TABELA 11: importações em relação ao faturamento da indústria de TIC (%)...73

TABELA 12: variáveis explicativas por percentis...74

TABELA 13: (WTal_ Eng pólo – WNS País) vs importações e talentos engenheiros...78

TABELA 14: (WTal_ Eng pólo – WNS Pólo) vs importações e talentos engenheiros...81

TABELA 15: (WTal_ Não Eng pólo – WNS Pais) vs importações e talentos do sexo masculino...81

TABELA 16: (WTal_ Não Eng pólo – WNS Pólo) vs importações e talentos sexo masculino...82

TABELA 17: (WTal_ Eng pólo – WNS País) vs importações e talentos sexo masculino...82

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TABELA 19: (WTal_ Não Eng pólo – WNS País) vs nível superior...83 (sexo masculino e faixa etária)

TABELA 20: (WTal_ Não Eng pólo – WNS País) vs talentos...84 (sexo masculino e faixa etária)

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1: prioridades para P&D em TIC definidas pela OCDE...60

QUADRO 2: descrição de variáveis usadas nas regressões...91

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GRÁFICOS

GRÁFICO 1: profissionais de nível superior no pólo produtivo de Belo Horizonte...93

GRÁFICO 2: profissionais de nível superior no pólo produtivo de Campinas...93

GRÁFICO 3: profissionais de nível superior no pólo produtivo de Curitiba...94

GRÁFICO 4: profissionais de nível superior no pólo produtivo de Florianópolis...94

GRÁFICO 5: profissionais de nível superior no pólo produtivo de Ilhéus...95

GRÁFICO 6: profissionais de nível superior no pólo produtivo de Manaus...96

GRÁFICO 7: profissionais de nível superior no pólo produtivo de Porto Alegre...98

GRÁFICO 8: profissionais de nível superior no pólo produtivo de Sta Rita do Sapucaí...98

GRÁFICO 9: profissionais de nível superior no pólo produtivo de São Carlos...97

GRÁFICO 10: profissionais de nível superior no pólo produtivo de São Paulo...97

GRÁFICO 11: Salário talentos/salário NS, pólo produtivo de B.Horizonte...98

GRÁFICO 12: Salário talentos/salário NS, pólo produtivo de Campinas...98

GRÁFICO 13: Salário talentos/salário NS, pólo produtivo de Curitiba...99

GRÁFICO 14: Salário talentos/salário NS, pólo produtivo de Florianópolis...99

GRÁFICO 15: Salário talentos/salário NS, pólo produtivo de Ilhéus...100

GRÁFICO 16: Salário talentos/salário NS, pólo produtivo de Manaus...100

GRÁFICO 17: Salário talentos/salário NS, pólo produtivo de Porto Alegre...101

GRÁFICO 18: Salário talentos/salário NS, pólo produtivo de Santa Rita.do Sapucaí...101

GRÁFICO 19: Salário talentos/salário NS, pólo produtivo de São Carlos...102

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...16

2 REVISÃO DE LITERATURA...20

2.1 Estudos realizados por pesquisadores brasileiros...20

2.2 Estudos realizados para outros países...31

3 A INDÚSTRIA DE TIC NA ECONOMIA CONTEMPORÂNEA...44

3.1 A indústria brasileira de TIC...47

3.2 A indústria de TIC em países da OCDE...58

3.3 Principais mecanismos de incentivo à produção e à realização de P&D pela indústria brasileira de TIC...63

3.4 Perspectivas para a indústria brasileira de TIC...65

4 ANÁLISE EMPÍRICA...68

4.1 Base de dados...69

4.2 Estatísticas descritivas...69

4.3 Especificações das regressões...75

4.4 Resultados das Regressões...79

5 CONCLUSÃO...85

REFERÊNCIAS...87

APÊNDICE A: quadro 2: descrição de variáveis usadas nas regressões...91

APÊNDICE B: quadro 3: segmentos-pólos produtivos de TIC...92

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1 INTRODUÇÃO

A indústria de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) converteu-se nas duas últimas décadas do século passado num dos impulsionadores da economia contemporânea, alcançando em 2006 valor de transações da ordem de US$ 3,5 trilhões -- conforme dados difundidos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) -- cifra que levou a indústria de TIC a suplantar o faturamento da indústria automobilística e do setor petrolífero nos países com maior corrente de comércio, particularmente a China, país que assumiu a liderança na fabricação de bens de TIC com produção de equipamentos eletrônicos que alcançou US$ 413 bilhões em 2008 (OCDE, 2008). No Brasil as cifras são bem mais modestas embora apresentem uma tendência à expansão que tem gradativamente alçado a indústria de TIC a uma posição de destaque (Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT, Relatório Estatístico – RDA, 2009).

Neste contexto, a mão de obra qualificada e os talentos para inovação são ativos estratégicos essenciais, pois sem eles não há inovação em alta tecnologia, como TICs. Conforme dados veiculados pela Secretaria de Política de Informática, do Ministério da Ciência e Tecnologia (Relatório Estatístico preliminar – RDA 2009), a indústria de TIC empregou em 2009 cerca de 97 mil profissionais, dos quais 23 mil com nível superior de escolaridade sendo que destes 6,7 mil atuam em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Em alguns segmentos o mercado brasileiro alcançou volumes expressivos a ponto de se converter no 3o mercado mundial de microcomputadores, com comercialização de 14 milhões de unidades em 2010 (IDC Brasil, “IDC Brazil Quarterly PC Tracker 2011”) e 62 milhões de aparelhos telefônicos celulares (SEPIN/MCT, Simpósio de Avaliação da Lei de Informática, dezembro/2010). O número de empresas fabricantes que conta com incentivos fiscais no âmbito da Lei no 8.248, de 1991 (“Lei de Informática) alcançou 500 empresas em 2010 com um faturamento de cerca de US$ 50 bilhões.

Mas a importância das TICs não se resume à sua expressão econômica per se mas a sua característica singular de agregar valor aos mais diferentes setores econômicos, seja em serviços, na indústria de transformação ou no comércio, em suma perpassando literalmente quase que a totalidade das atividades da economia moderna.

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informática, automação e energia, telecomunicações e equipamentos médico-hospitalares -- possui baixa capacidade de competição internacional, com as exportações respondendo por parcela inferior a 15% do faturamento setorial, sendo que o déficit anual da balança comercial de produtos eletroeletrônicos já ultrapassa US$ 20 bilhões (ABINEE, 2010).

Uma das razões para esse desempenho modesto no mercado externo decorre do fato de que o País não tem demonstrado capacidade para concorrer com os custos do sudeste asiático e o volume de recursos aplicado em P&D e contingente de recursos humanos alocados a tal atividade não tem viabilizado que o Brasil implemente com êxito uma estratégia de catchup suficiente para alcançar os países líderes.

Conforme estudos divulgados pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI, 2009), uma das principais deficiências a ser superadas concerne à dispor de recursos humanos qualificados para realizar P&D -- engenheiros, matemáticos, físicos e profissionais afins, isto é, talentos para inovar -- numa proporção adequada a converter a indústria local num setor inovativo com o surgimento de empresas nacionais capazes de disputar a liderança, inclusive pela ocupação de espaço no mercado externo, em seus segmentos de atuação, replicando em TICs o que ocorreu no setor aeronáutico em que a EMBRAER logrou deslocar fornecedores tradicionais, respaldada principalmente em produtos inovadores, se tornando um global player.

Para que surjam empresas de TIC competitivas no País é importante avaliar se essa indústria tem ampliado seu contingente de profissionais mais qualificados, e se dentre esses a proporção de talentos tem se expandido. Particularmente oportuno vem a ser identificar se essa indústria mostra-se atrativa perante outros setores no tocante aos salários percebidos por seus profissionais mais qualificados.

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Quanto a escolha das TICs como objeto de estudo o País trata-se de um tema que novamente tem ocupado um espaço crescente na agenda política tanto pelo comportamento da balança comercial do setor quanto pela preocupação crescente com a inclusão digital enquanto elemento importante no processo de inclusão social.

O papel fundamental das TICs – enquanto elemento catalisador do desenvolvimento econômico no contexto do atual paradigma tecnológico, e sua relação quase que simbiótica com a questão da inovação – foi definitivamente incorporado à agenda nacional da promoção da Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (P,D&I) por meio de sua inclusão entre os seis programas mobilizadores em áreas estratégicas da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP), conforme figura 1, lançada em 2008 sob a coordenação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Política de Desenvolvimento Produtivo (MDIC, 2006).

Figura 1: programas mobilizadores da PDP

Fonte: ABDI (2007).

A escolha das TICs como um dos programas que alicerçam a PDP de certa forma resgata (e reforça) o reconhecimento da necessidade do País torna-se um protagonista num setor cujo papel já vem sendo alvo de estudos acadêmicos há mais de 2 (duas) décadas.

Neste estudo elaborou-se um levantamento do contingente de profissionais com grau superior de escolaridade, e dentre esses, a quantidade de talentos, procurando-se identificar a distribuição desses profissionais por gênero e faixa etária; além de coletar evidências quanto à possível existência de prêmios salariais em 10 (dez) dos principais pólos industriais de TIC situados no País, abordando um período de 10 (dez) anos -- 2000 a 2009 -- a saber: Belo Horizonte, Campinas, Curitiba, Florianópolis, Ilhéus, Manaus, Porto Alegre, Santa Rita do Sapucaí, São Carlos e São Paulo. Nestes, foram analisados os seguintes segmentos: informática, energia e automação, telecomunicações e equipamentos médico/hospitalares.

Particularmente procurou-se verificar se a escassez de engenheiros e outros perfis profissionais afins (tais como os físicos e matemáticos), apontada tanto em estudos publicados

Programas Mobilizadores

Nanotecnologia Complexo

industrial da Defesa Energia

Nuclear

Biotecnolo gia Complexo

industrial da saúde

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pelo IPEA (DE NEGRI et al., 2010), quanto pela ABDI (Talentos para Inovação na Indústria, 2009) como prováveis elementos restritivos para o êxito de políticas de fomento à inovação em TIC, tem se refletido em prêmios salariais para essas categorias de profissionais; e, caso confirmado, se algumas variáveis indicadas na literatura – como por exemplo, gênero, idade do profissional e valor das importações setoriais -- se mostram significantes para essa diferenciação salarial na amostra escolhida.

Esta dissertação está estruturada da seguinte forma: no capítulo 2 apresenta-se uma revisão de literatura destacando alguns textos cujos conceitos alicerçam esta pesquisa; o capítulo 3 contém uma exposição sucinta das fontes de dados em que se fundamentou a pesquisa, acrescida de uma exposição sintética do arcabouço teórico e metodológico empregados; no capítulo 4 apresenta-se e discute-se os resultados da análise empírica.

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2 REVISÃO DE LITERATURA

Conforme já assinalado na Introdução, o principal objetivo deste trabalho de pesquisa concerne em realizar um estudo prospectivo do perfil da mão de obra qualificada e disponibilidade de talentos para inovação na indústria brasileira de tecnologia da informação (TIC), com ênfase na avaliação da existência de diferencial de salário entre os profissionais qualificados -- e particularmente no tocante aos profissionais com o perfil mais propenso a realizar P&D e inovar, consoante caracterização de perfil proposta na literatura – além de procurar verificar se, constatado esse diferencial, se os dados disponíveis permitem identificar elementos com evidência estatística de influir nesse prêmio salarial.

Neste sentido, nas próximas seções aborda-se inicialmente textos que discutiram a evolução da legislação de fomento à industria brasileira de TIC; a seguir, estudos cujo foco é a inovação -- dado que se trata de um elemento essencial a um setor produtivo alicerçado em conhecimento como é o caso das TICs – finalizando-se com a identificação de estudos cuja ênfase reside na investigação de elementos que ensejam diferenciação salarial de trabalhadores, sendo que neste caso buscou-se identificar trabalhos que discutissem eventuais efeitos da globalização e da expansão da corrente de comercio mundial sobre os salários de trabalhadores qualificados.

2.1 ESTUDOS REALIZADOS POR PESQUISADORES BRASILEIROS:

a) Política industrial para o setor de TIC

Um dos estudos pioneiros da indústria brasileira de TIC foi realizado por Tigre, P. (1984). Tigre discutiu, entre outros aspectos, o perfil da indústria de computadores e periféricos no tocante a suas vantagens e desvantagens competitivas, capacidade de competir com as multinacionais e estratégias tecnológicas, observando-se que o marco regulatório vigente estabelecia a reserva do mercado doméstico para os empreendimentos de capital nacional. Uma das principais conclusões a que chegou Tigre foi de que empresas de capital nacional em países em desenvolvimento não conseguiriam viabilizar-se – na indústria de computadores e periféricos - sem que o governo estabelecesse barreiras à entrada ou à atuação de multinacionais, o que de certa forma referendou a política então em fase de institucionalização (o que se deu por meio da aprovação da Lei no 7.232, de 1984).

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cerne da reserva de mercado – embora a legislação à época previsse incentivos para estimular outros segmento, especialmente, o setor de microeletrônica.

Assim, Piragibe (1985) analisou a trajetória da indústria de computadores, tanto no contexto nacional quanto mundial, apresentando – neste último caso - um levantamento dos países que empreenderam esforços de pesquisa para desenvolver alternativas tecnológicas no campo computacional e o tempo transcorrido entre o início do desenvolvimento e o primeiro lançamento comercial. No plano nacional Piragibe utiliza-se de estatística descritiva para levantar um panorama do estágio então alcançado pela indústria nacional de informática em termos do parque instalado, evolução do faturamento, pessoal empregado e demanda local atendida.

A partir da década de 90, no que se pode qualificar como um segundo estágio das políticas públicas de fomento ao setor de TIC, surgem trabalhos que procuram avaliar a eficácia da política no tocante à capacitação tecnológica do parque produtivo local. Fajnzylber (1994) elaborou um interessante estudo dos resultados alcançados pela política de fomento ao setor de TIC desde as primeiras iniciativas implementadas pela CAPRE até o inicio do Governo Collor (1990), abrangendo um período de aproximadamente 15 (quinze) anos. O autor chama atenção para o fato de que se tratou – desde o início da industrialização no País até o período abordado em sua pesquisa - de um caso único de política de estímulo ao setor industrial no Brasil em que o objetivo explícito não era a substituição de importações mas sim o desenvolvimento da capacitação tecnológica da indústria nacional.

Um outro aspecto captado por Fajnzylber (1994) foi de que as autoridades brasileiras incumbidas da implementação da política optaram por mecanismos de regulação (controle de importações e imposição de restrições a atuação no mercado de empresas de capital estrangeiro em segmentos ocupados por empresas de capital nacional – a chamada reserva de mercado), em detrimento de instrumentos clássicos de política industrial, quais sejam, incentivos creditícios, fiscais e uso do poder de compra do Estado.

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opção política predominante no Brasil na década de 90, que caracterizou-se por preconizar o mínimo de intervenção do Estado para fomentar setores produtivos específicos, com as autoridades econômicas postulando ser importante tão somente agir sobre variáveis macroeconômicas (particularmente a taxa de câmbio, a estabilidade de preços e a abertura comercial).

Os pesquisadores destacam que a despeito de alguns desses países aparentemente endossarem a retórica neoliberal (que pautam a agenda política brasileira na década de 90), na prática utilizaram com intensidades variadas diversos mecanismos de promoção de setores econômicos intensivos em conhecimento, com destaque para o setor de TIC – valendo mencionar o emprego do poder de compra do Estado (mecanismo predominante nos EUA, especialmente no setores de defesa e aeroespacial); a subvenção econômica, o financiamento direto a P&D ou mesmo, o recurso a incentivos fiscais.

Um outro tema que gerou controvérsias – não exatamente quanto ao acerto e pertinência das medidas mas muito mais na sua intensidade e estratégia de implementação – foi quanto à abertura comercial e seus impactos sobre setores industriais cuja estruturação inicial apoiou-se fortemente no atendimento da demanda do mercado interno. Seguindo esta linha, Mazzeo, L. (1999), em Abertura Econômica: paradigma industrial e o setor de informática no Brasil, elabora “[...] uma análise setorial do processo de abertura comercial brasileira, identificando e avaliando os impactos provocados pelo fim da reserva de mercado de informática [...]”.

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A partir de 2000, com a relativa expansão das importações de equipamentos de informática e automação, não contrabalançadas pela baixa inserção da indústria local, surgem estudos acadêmicos que de forma recorrente procuraram abordar o setor de TIC com ênfase no comportamento da balança comercial.

Consoante essa abordagem, Garcia e Rosalino (2002) propuseram-se a avaliar os resultados da Lei de Informática quanto a seus impactos sobre o complexo eletrônico brasileiro como um todo. O trabalho reconhece “[...] o papel e a importância da política industrial na promoção do desenvolvimento do setor produtivo de um país” no entanto tece fortes ressalvas à eficácia dos instrumentos atuais de promoção ao setor produtivo de TIC para fomentar o desenvolvimento da cadeia produtiva do complexo eletrônico e reverter o déficit na balança comercial.

A delimitação do escopo do setor de TIC constitui-se numa questão importante para uniformizar estudos elaborados a partir de dados disponibilizados em bases públicas. Neste sentido, é oportuno mencionar um estudo publicado pelo IBGE (2009), em que essa instituição apresenta um breve panorama – essencialmente quantitativo - do setor de TIC brasileiro, no período compreendido entre 2003 a 2006, disponibilizando, entre outros dados, as evoluções do faturamento, número de empresas, indicadores de produtividade e valor adicionado. As categorias da Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE adotadas pelo IBGE para caracterizar a indústria local de TIC (classes 30, 31, 32 e 33) foram as mesmas que utilizamos no presente trabalho acadêmico. Por outro lado, vale mencionar que o universo de empresas retratado não coincide em absoluto com o conjunto de empresas beneficiárias dos incentivos da Lei de Informática na medida em que na pesquisa da IBGE estão computadas micro e pequena empresas as quais por dispor de um regime tributário diferenciado não têm motivação para aderir ao regime de incentivos propiciado pelo citado diploma legal.

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8.248, de 1991 (Brasil, “Lei de Informática”) - e alterações posteriores implementadas por meio das Leis nos 10.176, de 2001 e 11.077, de 2004 – enquanto instrumento de fomento à implementação no País de P&D em TIC e à produção local.

Vinhais, R. (2010) assinala que não obstante a relativa diversificação atingida pelo parque produtivo local de TIC induzido pelo citado diploma legal, a legislação tem se mostrado insuficiente para estimular a implantação no País de uma indústria competitiva e exportadora, persistindo uma lacuna importante na ausência de investimentos para a produção de semicondutores – donde tem resultado num déficit comercial expressivo a ponto de superar o déficit no setor petrolífero. Um outro ponto destacado por Vinhais concerne a uma tendência recente de retrocesso na fabricação local de bens com maior densidade tecnológica e na necessidade de fortalecer a engenharia local como parte da estratégia para a atração de investimentos na produção local de componentes semicondutores – considerando o pressuposto de que o desenvolvimento no País de bens eletrônicos alimentaria uma demanda por componentes que aqui venham a ser fabricados. Vinhais, R. (2010) aborda ainda o destaque atribuído por países do sudeste asiático à indústria eletrônica – notadamente Coréia do Sul, Taiwan e mais recentemente, a China, destacando o fato de que esses países implementaram políticas públicas que posicionam as TICs como um dos principais vetores de inovação e do crescimento econômico.

b) Pesquisa desenvolvimento e inovação

No tocante à importância da inovação no sistema econômico, desde Schumpeter (1985) tornou-se evidente que o principal motivador para sua obtenção pelas firmas corresponde à busca de lucros, o que faz da inovação um traço determinante da dinâmica capitalista, e em particular, da economia embasada em setores intensivos em conhecimento.

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Um estudo ou pesquisa que tente entender a capacidade de inovar de um setor produtivo exige antes de tudo um entendimento de que a inovação tecnológica não se justifica per se mas que sua importância decorre do papel da inovação no crescimento econômico e sua correlação com o desenvolvimento sustentável.

Neste sentido, Nicolosky (2001) investiga a relação entre os investimentos em pesquisa e desenvolvimento e o crescimento sustentável de um país, avaliando evidências do impacto do nível de dispêndios em P&D sobre o PIB para amostras de países desenvolvidos (EUA, Alemanha, França e Japão) e emergentes (Taiwan, Coréia, India e Brasil).

Nicolosky (2001) a par de apresentar evidências da correlação direta entre taxa anual de investimentos em P&D e o percentual de crescimento econômico ressalta os limites da abordagem brasileira para o estímulo à C&T cuja ênfase concerne ao fomento ao setor acadêmico. Por outro lado, o autor questiona a eficácia dessa abordagem para promover o desenvolvimento tecnológico posto que, “[...] para se gerar as inovações tecnológicas de que a nossa indústria necessita para ser internacionalmente competitiva, precisamos redirecionar o esforço da sociedade em P&D para apoiar o processo de geração de inovações no próprio setor produtivo” (NICOLOSKY, 2001, p.27).

Vale ainda destacar o diagnóstico de que esse investimento, insuficiente e possivelmente carente de um redirecionamento, constitui-se numa das causas do baixo nível de inovação tecnológica brasileira e a identificação empírica de variáveis e atributos que afetam a capacidade inovativa do setor produtivo nacional. Em sua, na óptica do citado autor há uma clara necessidade do País reavaliar suas diretrizes para C&T com vistas a induzir uma mudança no grau de prioridade atribuído à inovação por parte do setor produtivo.

A relação entre capacidade inovativa e aprendizagem, bem como o papel das externalidades locais no desenvolvimento tecnológico é examinado por Campos (2004), o qual sugere que a estruturação de clusters tecnológicos tem um efetivo impacto na eficiência dos dispêndios em P&D: “[...] a pesquisa e o desenvolvimento se realizam com mais eficiência quando firmas ou instituições possuem atividades geograficamente próximas, isto permite às firmas unirem recursos qualificados, assim como interagirem entre si” (CAMPOS, 2004, p.17).

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conhecimento em seus produtos e processos produtivos. Neste contexto, o Estado longe de ter sua atuação restrita à formulação de políticas horizontais norteadas pela manutenção de um ambiente macroeconômico equilibrado assume um papel ativo na implementação de políticas setoriais, especialmente em setores como o de TIC em que o conhecimento e tecnologia preponderam sobre vantagens comparativas tradicionais (como por exemplo, recursos naturais abundantes). Em outras palavras:

Na era do conhecimento, torna-se ainda mais fundamental o fortalecimento das instituições de ensino e pesquisa , dentro de uma estratégia orquestrada de planejamento de longo prazo [...] A perspectiva histórica mostra que cabem ao Estado papéis da maior importância, seja como agente estruturante da novas forças produtivas, seja como propulsor e orientador de sua difusão [...] (CASSIOLATO e LASTRES, 2005, p. 40 e 42)

No tocante aos impactos econômicos e organizacionais das TICs ao criar oportunidades para inovações nas mais diferentes cadeias produtivas, seja afetando sua dinâmica seja pela contribuição para a introdução de inovações (especialmente a nível de processo ou gestão), na visão de alguns pesquisadores alçou as TICs ao papel de “carro chefe” da economia mundial (TIGRE, 2006).

Tigre traça um amplo panorama da tecnologia no contexto da economia econômica – desde a primeira revolução industrial até a primeira década do século XXI – procurando fornecer elementos para que se entenda ou se possa identificar quais são as principais fontes de inovação na firma. Adicionalmente, discute a relação entre o ecossistema, localização geográfica e vantagens comparativas dinâmicas que viabilizam um setor econômico intensivo em conhecimento (como o de TICs) tornar-se auto-sustentável, ou por outro lado acarretam sua manutenção artificial, dependente de forma crônica de subsídios ou medidas protecionistas que sustentem vantagens comparativas estáticas.

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demanda doméstica enquanto que na China o foco concerne prioritariamente em incentivas empresas cujos empreendimentos são voltados à exportação.

A contribuição das TICs para melhorar as condições de acesso à informação codificada e a conhecimentos importantes para inovação e que possam contribuir para o desenvolvimento sócio-econômico é analisada por Albagli (2007) em artigo que a autora aborda a distinção entre conhecimento tácito e conhecimento codificado e suas respectivas contribuições para potencializar (ou catalisar) o processo inovativo. Albagli destaca o papel primordial do conhecimento tácito além de ressaltar a importância de se dispor de profissionais capacitados e de um ambiente favorável para que efetive-se a inovação:

O ambiente de inovação é portanto crucial, reunindo um conjunto de elementos materiais (empresas, instituições de ensino e pesquisa, organizações de suporte, infra-estrutura), imateriais (informação, conhecimento, capacidade de aprendizado)e institucionais (atitudes e regras sociais, políticas públicas e arcabouço legal), que compõe uma complexa rede de relações favoráveis ou não à inovação (ALBAGLI, 2007, p.6)

À medida que se dissemina a convicção de que a inovação constitui um elemento fundamental para o desenvolvimento sócio-econômico, expande-se o número de países que implementam políticas públicas que objetivam robustecer o ambiente de inovação com ênfase na formação de recursos humanos. Como parte do debate que vem conduzindo no Brasil sobre a necessidade de incentivar a incorporação de talentos pelo setor produtivo, a ABDI realizou – em 2009 – um estudo em que mapeia iniciativas inerentes à essa questão em 9 países (EUA, México, Inglaterra, Irlanda, Espanha, França, Coréia do Sul, China e África do Sul) (ABDI, 2009: ‘Talentos para Inovação: Experiências Internacionais’).

Ainda em 2009, a ABDI coordenou a elaboração do projeto “Talentos para inovação” em que – com base em informações e conceitos amplamente discutidos em oficinas de trabalho com representantes das comunidades científicas e tecnológicas e do setor produtivo – foram definidos modelos cooperativos universidade-empresa, além de requisitos curriculares essenciais para a formação recursos humanos qualificados para inovar no contexto da economia contemporânea (em que a geração do conhecimento assumiu papel preponderante); além de ressaltar a importância do País dispor de profissionais nos campos de Engenharias, Física, Matemática e Química.

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que se atingisse o elevado padrão de competitividade alcançado pelo País em setores como a indústria aeronáutica e prospecção petrolífera em grandes profundidades, com o respaldo do CTA (no caso do setor aeronáutico) e CENPES (no caso do setor petrolífero, que também tem contado com o suporte importante da COPPE, da UFRJ).

No setor brasileiro de TIC a política de incentivos vigente viabilizou o surgimento de alguns institutos privados (como por exemplo, os institutos Von Braun e Eldorado, localizados em Campinas), cujas trajetórias e contribuições ao desenvolvimento científico e tecnológico nacional são analisadas por Albuquerque e Bonacelli (2009, p. 211), os quais ressaltam o fato de que esses institutos privados “[...] dispõe de corpo técnico multidisciplinar e de alto nível, gestão profissional de projetos, formação continuada de pessoal em nível de pós-graduação stricto sensu e carteira considerável de clientes nacionais e internacionais”.

Embora destaquem o papel positivo desses institutos para o fortalecimento e diversificação do sistema nacional de inovação os autores apontam como uma fragilidade intrínseca e sistêmica sua excessiva dependência de recursos captados junto a empresas beneficiárias dos incentivos da Lei de Informática. Por outro lado, identificaram esforços na diversificação de suas fontes de receitas, inclusive firmar contratos com empresas que atuam outros setores econômicos, ou mesmo desenvolvendo mecanismos de apropriação como patentes.

A questão da magnitude dos investimentos em P&D realizada - por países líderes vis a vis o contexto nacional – na indústria de TIC é discutida por De Negri e Ribeiro (2010), os quais enfatizam o fato do setor de TIC constituir-se num dos setores econômicos mais intensivos em pesquisa e desenvolvimento, a ponto de que das 20 (vinte) empresas com maior volume de recursos investidos em P&D – a nível mundial – 7 (sete) pertencem ao universo das TICs.

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será necessário aperfeiçoar os instrumentos disponíveis e mesmo, ampliar o nível de fomento caso se almeje que o País alcance um patamar de competitividade internacional na indústria de TIC.

Entre as conseqüências do expressivo aporte de recursos a P&D nos países líderes (particularmente no âmbito da OCDE), outro aspecto marcante do setor de TIC refere-se à sua dinâmica, conforme destacam Violato e Loural (2010), com o ciclo de vida dos produtos tornando-se mais curto mas em contrapartida ocorrendo uma flexibilidade maior do sistema de inovação (ensejada entre outros aspectos pela movimento de globalização em curso na estratégia de realização de P&D por parte de grandes corporações e mesmo, com o expressivo desenvolvimento das redes de comunicação) que se traduz em barreiras de entrada mais reduzidas.

Os citados autores alertam para a carência no Brasil de recursos humanos qualificados para realizar P&D em TIC (especialmente engenheiros e profissionais de áreas afins), contudo, ao mesmo tempo destacam as oportunidades e potencial de mercado ensejadas pelas próprias carências do País (por exemplo, a ainda limitada capilaridade das redes de comunicação em banda larga); ou propiciadas por novas aplicações das TICs em infra-estrutura (como é o caso da agregação de funcionalidades de atuação e gerência remota da rede de distribuição de energia no âmbito do conceito intitulado smart grid).

c) O setor brasileiro de TIC e a crise financeira 2008-2009

Um panorama sucinto do setor brasileiro de TIC – abordando não apenas a área industrial mas também os segmentos de serviços e programas de computador – é apresentado por Lins, B. (2008), ao discutir os impactos sobre esse setor da crise que acometeu a economia mundial ao final de 2008 (e que se estendeu por todo o ano de 2009).

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programas de computador – e nos quais o País deveria dispender esforços para a viabilização de investimentos (no caso de microeletrônica) ou sua expansão e consolidação (caso do “software” ou programas de computador).

d) Impacto das TICS na qualificação da força de trabalho

O impacto da utilização crescente das TICs sobre as exigências de qualificação da mão-de-obra, no contexto da economia brasileira, é discutido por Tigre e Marques (2007), numa análise comparativa de mudanças experimentadas pelos setores financeiros e de serviços de telecomunicações no tocante ao perfil de escolaridade de vagas criadas -- a partir de meados da década de 90 -- vis a vis os postos de trabalho que foram suprimidos.

Não obstante a metodologia utilizada tenha se limitado à análise estática de bases de dados do MTE, sem o devido respaldo de técnicas estatísticas, os autores elencam alguns indícios interessantes do crescente emprego das TICs nos setores mencionados, dentre os quais destacamos:

a) tendência ao aumento -- em ritmo mais acelerado do que a taxa global de criação de empregos nesses setores -- de postos de trabalho com exigência de nível superior de escolaridade, o que na acepção dos pesquisadores denota a valorização de capacidade de raciocínio abstrato em detrimento de outras habilidades;

b) redução drástica, notadamente no setor de serviços de telecomunicações, do contingente de trabalhadores atuando em funções operacionais (como por exemplo, atividades de manutenção), ou passíveis de execução por trabalhadores, suportados por ferramentas computacionais apropriadas (exemplo: a substituição de desenhistas e técnicos em contabilidade por profissionais com formação escolar superior versados, respectivamente, em programas de computador aplicativos das categorias “Computer Aided Design –CAD” ou de análise financeira); e

c) crescimento da terceirização de atividades não relacionadas diretamente ao cerne do negócio ou sem contribuição direta para a geração de receita.

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e) Fatores determinantes da diferenciação salarial na economia brasileira contemporânea

Consoante De Negri et al (2005), a principal característica individual do trabalhador a fomentar a diferenciação salarial é ensejada pela escolaridade.

Os autores destacam ainda aspectos como profissão escolhida, a faixa etária, a experiência profissional e o gênero.

Adicionalmente aos citados atributos individuais assinalam que a diferenciação salarial pode resultar de características associadas outros elementos, dentre os quais vale destacar: o setor econômico, a produtividade ou a existência de premiação salarial vinculada à qualificação profissional.

No tocante a atividades econômicas que ofertam melhor remuneração, Negri et al. identificam tal comportamento como característica intrínseca de setores econômicos dinâmicos (característica particularmente associada à industria de TIC, conforme amplamente reconhecido pela literatura, nacional e estrangeira).

Vale mencionar ainda a constatação empírica por De Negri et al. de que na indústria brasileira em geral (sem destaque para algum setor específico) os homens auferem remuneração cerca de 30% (trinta por cento) superior à percebida pelas mulheres.

2.2 ESTUDOS ELABORADOS PARA OUTROS PAÍSES

a) Inovação e qualificação de recursos humanos

Dentre os estudos pioneiros que discutem a relação entre inovação e a capacitação dos recursos humanos que integram a força de trabalho da firma vale mencionar artigo publicado por Scherer (1967). O texto -- além de discutir de forma sucinta a relação entre capacidade inovativa e poder de mercado -- procura mostrar a existência de relação estatística significante entre o nível de concentração das firmas num dado setor econômico e a quantidade de engenheiros e cientistas formalmente empregados.

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comparativas propiciadas pela ampliação da escolaridade dos trabalhadores, postulam que “[...] trabalhadores altamente qualificados (num ensaio cujo contexto aplica-se aos trabalhadores com formação escolar superior) têm um vantagem comparativa no que concerne ao aprendizado e à implementação de novas tecnologias”, ressaltando ainda que outra vantagem para a firma em ampliar seu contingente de recursos humanos com maior escolaridade decorre da melhor adaptação desse perfil de empregados à introdução de inovações em procedimentos e em processos produtivos.

Vale ressaltar a visualização da inovação como elemento propulsor do desenvolvimento econômico, conforme postulado por Leiponen (2005), assinalando-se que essa tese e a acepção de que o retorno social da inovação pode alcançar grande magnitude concernem a entendimentos compartilhados por um número crescente de estudiosos.

Por outro lado, quando a análise se desloca da dimensão coletiva para o plano da firma individual, consoante observa Leiponen (2005) o retorno de investimentos em inovação já não se mostra tão perceptível.

Mais especificamente, Leiponen (2005) investiga – com base em dados dispostos em painel para diferentes setores da indústria finlandesa, relativamente ao período 1992 a 1996 – se há evidência estatística para afirmar-se que a qualificação da força de trabalho impacta a capacidade inovativa da firma.

Entre suas conclusões vale mencionar não apenas a confirmação dessa premissa, qual seja, a de forte relação entre inovação e qualificação técnica dos recursos humanos mas, particularmente, a constatação de que o sucesso em auferir retornos econômico a partir das inovações é potencializado quando a força de trabalho qualificada não se resume ao “staff” que atua em P&D mas abrange as mais diversas atividades empresariais (marketing, produção, vendas, entre outras).

b) Educação e capital humano

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relação não é válida para países em desenvolvimento; isto é, nesse caso, investimentos nos indivíduos além de nível básico poderia resultar em ganhos para o educando sem o correspondente benefício para a respectiva nação – consubstanciando o que é conhecido como brain drain. Tal fenômeno decorre, conforme assinala o pesquisador, do fato de que o “[...] capital humano não pode ser separado de seu detentor, e seu valor é inteiramente dependente da capacidade da pessoa (treinada ou educada) em aplicar seu conhecimento em empreendimentos economicamente lucrativos” (BOUCHARD, 2006, p.3).

c) Inovação, mobilidade e remuneração

Uma questão presente na avaliação de setores em que os recursos humanos constituem-se num ativo essencial à inovação concerne à mobilidade da força de trabalho. Essa temática assume um caráter muito singular em setores econômicos intensivos em conhecimento e em particular, na indústria de TIC. porquanto a mobilidade pode impactar o contingente de profissionais qualificados. Há que se considerar ainda o fato de que se trata de um setor em que a necessidade de treinamento e capacitação é constante,demandando investimentos expressivos, e associado a isto há o fato de que o desenvolvimento e a produção de equipamentos eletrônicos envolve conceitos científicos cuja codificação não é trivial – o que valoriza o conhecimento tácito, isto é, correspondente a uma classe de conhecimento não passível de assimilação tão somente pela leitura de manuais e livros (ou no jargão comum à indústria de transformação: conhecimento cuja assimilação dá-se intensamente pela abordagem learning by doing).

Por outro lado, num setor caracterizado pelo dinamismo e freqüência com que são introduzidas inovações (sejam incrementais ou radicais)1, a contratação periódica de profissionais que detenham competências ainda não assimiladas ou dominadas por uma dada firma naturalmente constituir-se-á numa opção bastante interessante para a incorporação do ativo mais valioso, qual seja, o recurso humano.

Por conseguinte, o estudo e a compreensão dos fatores que afetam ou mesmo fomentam a mobilidade no setor de TIC assume um caráter essencial para a formulação de políticas públicas eficazes para estimular o desenvolvimento setorial e justifica uma reflexão

1 Uma tendência acentuada – fomentada pela expansão exponencial das redes de comunicação de dados – concerne à introdução de recursos para comunicação de dados via rádio-freqüência (RF) nos mais diversos equipamentos de TIC, o que por sua vez ensejou um expressivo esforço de desenvolvimento de protocolos (tais

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cuidadosa quanto a forma de se lidar com a questão com vistas a potencializar as externalidades positivas associadas a esses eventos.

Hakim (1996) analisou a mobilidade no trabalho e a estabilidade no emprego para países industrializados – com ênfase na Inglaterra – investigando o impacto da diferença de gênero sobre essas variáveis. A autora apurou evidências estatística de que efetivamente a rotatividade da trabalhadora em determinada fase de sua vida profissional é superior à do trabalhador masculino com a mesma experiência e qualificação – o que pode ser explicado tanto pelo afastamento da mulher em função do matrimônio quanto em decorrência da prole.

Esse comportamento naturalmente que impõe um conseqüências à mulher que ingressa no mercado de trabalho na medida em que ao decidir por contratar uma profissional o investidor irá considerar o custo de oportunidade comparativamente a absorver um homem para o mesmo posto de trabalho.

Em outro artigo fundamental na análise da mobilidade Farber (1998) pesquisando a realidade norte-americana constatou que, em setores econômicos tradicionais, as relacionais trabalhistas de longo prazo são bastante freqüentes mas que, por outro lado, em novos setores (que embora não especificado pode-se incluir o setor de TIC) observa-se uma maior tendência a rotatividade da força de trabalho; e um ponto a ser ressaltado: a tendência a mudança de emprego reduz-se sensivelmente com o aumento da remuneração do empregado.

Farber propõe questionamento sobre as razões que levariam uma firma a remunerar melhor, ceteris paribus, os empregados com maior tempo de permanência no emprego; ou porque o perfil de remuneração valoriza a experiência profissional que naturalmente surgem como decorrência de relações trabalhistas de longa duração. Uma indagação imediata seria quanto até que ponto seria pertinente às firmas incentivarem tais relações de trabalho naturalmente tendentes a contribuir com custos crescentes com recursos humanos. Para Farber a resposta deve ser obtida no fato de que as relações de trabalho de longo prazo contribuem para a produção tecnológica mais eficiente.

d) Inovação, capacitação e paradigmas tecnológicos

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aspectos – tanto para o gestor público com vistas a formular ou propor medidas de estímulo ao investidor, quanto para o empreendedor (ou executivo a frente de uma firma) que deseje traçar uma trajetória que melhore explore o ambiente pró competitividade ensejado por ações do estado.

Dosi (1988) elaborou um ensaio em que discute a natureza microeconômica das atividades inovativas, com ênfase na identificação das principais características do processo inovativo e fatores que estimulam os esforços das firmas em alocar recursos visando o desenvolvimento de novos produtos e novos processos; bem como, os elementos que induzem à seleção de uma particular inovação e seu posterior ou subseqüente impacto na economia industrial.

Entre os vários conceitos apresentados vale mencionar a caracterização de inovação tecnológica consoante Dosi (1988, p.1125) e que: “[...] envolve a busca de soluções de problemas atendendo simultaneamente requisitos de custos e difusão mercadológica”; sendo oportuno ainda destacar a delimitação proposta pelo citado autor do escopo de um paradigma tecnológico:

[...] um paradigma tecnológico pode ser definido como um padrão de solução de problemas tecno-econômicos selecionados com base em princípios altamente selecionados derivados das ciências naturais, juntamente com regras específicas que propiciam a aquisição de novos conhecimentos e que esses sejam resguardados, sempre que possível, contra a rápida difusão entre os competidores (DOSI, 1988, p.1127).

Embora não tenha sido o foco do ensaio de Dosi (1988) investigar o perfil requerido para inovar, observa-se que está implícito a importância do profissional que irá materializar as inovações na medida em que há uma indissociável relação entre qualificação profissional que torne factível implementar inovação, e desses atributos com ganhos de produtividade. Com efeito, inovação constitui-se num vetor fundamental do crescimento econômico e esse é potencializado por ganhos de produtividade (que por sua vez são críticos para a melhoria nos padrões e qualidade de vida). Esses tópicos são abordados por Rao et al. (2002), num estudo comparativo entre o Canadá, EUA e outros países que compõe a OCDE.

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de tarefas cada vez mais complexas e, freqüentemente,envolvendo atividades cooperativas tornadas possíveis pela disponibilidade de infra-estrutura complexa de comunicação.

Neste contexto, Autor et al. (2003) analisam a correlação entre a expansão da utilização de recursos computacionais nos ambientes produtivos e a ampliação do emprego de mão-de-obra com nível de escolaridade superior. A constatação empírica de Autor et al. (2003) é de que concomitantemente à substituição dos trabalhadores que executam tarefas repetitivas e rotineiras, a intensificação do uso de computadores amplia as possibilidades de emprego para os trabalhadores especializados e dedicados a atividades que demandam maior capacidade cognitiva.

Por outro lado, essa transformação no ambiente de trabalho da firma moderna cria condições que podem catalisar o surgimento de inovações na medida em que a mão-de-obra meramente absorvedora de instruções e executora de tarefas passa a ser, paulatinamente, substituída por um agente crítico e capaz de interagir de forma com o ambiente em que desempenha sua missão, agora não mais restrito a atividades rotineiras mas antes abundante em tarefas complexas e que por isto mesmo, apresentando maior probabilidade de oferecer oportunidades para a introdução de melhorias por parte do trabalhador não passivo.

Perez (2003) discute com muita propriedade a questão do desenvolvimento como resultado de um processo de acumulação de competências tecnológicas, tomando vantagem de um ecossistema social favorável (o que pode ser traduzido por disponibilidade de recursos humanos qualificados e um adequado ambiente regulatório), ao mesmo tempo que ressalta sobre as oportunidades que as rupturas e emergência de novos paradigmas tecnológicos criam para os países periféricos não obstante as revoluções tecnológicas sejam (costumeiramente) introduzidas pelos países que se encontram em que em estágios tecnológicos mais avançados.

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Figura 2: uma transformação de paradigma tecnológico

Modelo de produção fordista Modelo de redes flexível Era do automóvel Era das TICs Entradas e

valores Intensiva em energia e material Intensiva em informação e conhecimento Produtos e

mercados

Produtos padronizados Produtos diversificados e adaptáveis

Operação Busca de um nível ótimo Melhoria contínua

Estruturas

Organizações centralizadas

Organizações descentralizadas

Força de

trabalho Mão-de-obra Capital humano

Fonte: PEREZ (2003)

A questão da escolha de mecanismos eficientes e eficazes para fomentar a inovação tanto pelo setor público quanto pelo setor privado é discutida por Maurer (2003) o qual mostra que o tema não admite um tratamento cartesiano. O recurso à premiação financeira tem sido recorrente na NASA, na busca de idéias para estimular o programa de pesquisa de novas tecnologias de propulsão para emprego em veículos espaciais; assim como pela DARPA, com vistas a identificar sugestões que levem ao aperfeiçoamento do projeto de robôs para utilização em qualquer terreno.

No campo da economia empírica, e particularmente no contexto de setores como o de TIC (intensivos em conhecimento), uma variável importante a considerar-se na análise do comportamento da remuneração da força de trabalho corresponde à escolaridade (por exemplo, no tocante à magnitude do efeito sobre o salário do trabalhador possuir formação escolar de nível superior). Essa temática é abordada por Heckman et al (2003) por meio de artigo elaborado com base em premissas propostas, em 1974, por Jacob Minccer´s.

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inovação muito mais complexa, conforme assinalam Zedtwitz et al (2004) ao discutir desafios ensejados pela tendência à globalização a inovação (como por exemplo, viabilizar a operação integrada de unidades de P&D atuando em rede ou preservar a interação com centros de geração de conhecimento e tecnologia de ponta).

O paradigma corrente de inovação posiciona esta como uma conquista propiciada pelo esforço interno em P&D empreendido pela firma, contexto em que fontes externas de conhecimento (sejam centros de pesquisa, públicos ou privados; universidades ou mesmo, fornecedores da cadeia produtiva da firma) assumem um papel secundário ou complementar. Chesbrough (2005) preconiza uma nova abordagem para a busca de inovação que intitula “paradigma da inovação aberta”. Consoante o modelo de ação proposto as firmas devem identificar e buscar conhecimento externo assumindo o pressuposto de que esse conhecimento é amplamente disponível e constitui-se no cerne do processo de inovação.

Ainda no tocante a fatores que impactam a remuneração do trabalhador, avaliar a relação dessa com a experiência profissional e capacitação constitui uma questão importante, tanto para pesquisadores quanto para formuladores de políticas públicas interessados em entender custos e benefícios da mobilidade nos empregos. Dustmann e Meghir (2005, p.77) discutem essas questões por meio de artigo em que conforme frisam os próprios autores, “[...] estudam o crescimento dos rendimentos de trabalhadores jovens na Alemanha”.

Hollis (2007) foi enfático ao postular que a inovação concerne ao núcleo do crescimento econômico e que, portanto, a formulação de incentivos que fomentem a ampliação das taxas de inovação deveriam constituir-se no cerne das políticas públicas. Neste artigo Hollis propõe um mecanismo alternativo à prática de conceder premiações financeiras as pesquisadores bem sucedidos (“research grants”) e às patentes, o qual denominou “Optional Broad Rewards –OBRs”, como uma nova alternativa para incentivar a inovação.

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inovação e administra as patentes; e iv) assegurar a manutenção de incentivos para a continuidade do desenvolvimento comercial de inovações.

Em países em que já há um entendimento consolidado da estreita relação entre inovação e crescimento econômico, assim como, em corporações em que crença na necessidade de investir em P&D para alcançar e ampliar a competitividade já foi internacionalizada, o debate desloca-se da pertinência de financiar P&D para estratégias de ampliar o retorno dos recursos aplicados (por exemplo, se por meio da centralização da estrutura de P&D ou promovendo sua descentralização); e que tipo de incentivos são mais eficazes para estimular os profissionais responsáveis pela gestão de P&D.

Essa temática é discutida por Lerner e Wukf (2007) em artigo que examina a correlação entre inovação e as transformações ocorridas nos mecanismos de compensação financeira da alta gerência corporativa – inclusive o escalão mais elevado responsável pelas atividades de P&D - em função dos resultados resultantes dos investimentos em P&D, adotados por grandes empresas norte-americanas ao longo da década de 90.

É oportuno mencionar a linha de pensamento defendida por Chesbrough (2005) relativamente à estratégia de inovação é corroborada por Houghton (2007), segundo o qual está em curso um movimento de globalização das atividades de P&D que pode criar oportunidades para países emergentes capturarem investimentos em P&D realizados por grandes corporações. Nesse artigo Houston analisa o que denomina de globalização da pesquisa e desenvolvimento em curso na indústria de TIC, que na sua óptica constitui um exemplo concreto da inovação aberta e concerne a uma das transformações mais impactantes a afetar atualmente a indústria de TIC.

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elemento emblemático – na óptica de Perez – concerne ao microprocessador (introduzido pela indústria de componentes semicondutores em 1971).

Para Perez o sucesso da nova revolução tecnológica viabiliza a emergência de um novo paradigma técnico-econômico o qual pode ser percebido pelos agentes, tanto pela nova dinâmica da estrutura de custos relativos quanto pela emergência de novos modelos organizacionais (como por exemplo, as firmas que atuam no comércio eletrônico), ou novos espaços para inovação (viabilizados por redes nacionais ou supra-nacionais) e que criam oportunidades empresariais sequer cogitadas no paradigma anterior (como por exemplo, o comércio de propriedade intelectual em escala planetária).

e) Inovação e diferenciação salarial

Há uma literatura diversificada da formação escolar ou nível educacional da força de trabalho, particularmente para que a firma consiga desenvolver novas tecnologias e implementar inovações. No que concerne a esse segundo aspecto, Bartel e Lichtenberg (1987, p.2), ao discutir as vantagens comparativas propiciadas pela ampliação da escolaridade dos trabalhadores, postulam que “[...] trabalhadores altamente qualificados (num ensaio cujo contexto aplica-se aos trabalhadores com formação escolar superior) têm um vantagem comparativa no que concerne ao aprendizado e à implementação de novas tecnologias”, ressaltando ainda que outra vantagem para a firma em ampliar seu contingente de recursos humanos com maior escolaridade decorre da melhor adaptação desse perfil de empregados à introdução de inovações em procedimentos e em processos produtivos.

Identifica-se ainda na literatura muitos trabalhos que apontam para a convergência com a tese de que os benefícios da inovação tecnológica revertem-se tanto em maiores ganhos para a firma quanto em melhor remuneração para os trabalhadores. Reenem (1996) examina a relação entre salários e inovação tecnológica para uma amostra de 600 firmas inglesas aplicando a metodologia de dados em painel. Uma constatação feita por Reenem (1996) e oportuna de mencionar-se é de que o prêmio para inovação não necessariamente concerne à ampliação da participação da firma no segmento de mercado em que atua, mas sua importância decorre de propiciar à firma auferir maiores lucros.

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os efeitos indicativos de transformações econômicas. Por exemplo, Bartel e Sicherman (1999) assinalam que parcela expressiva da literatura empírica denota dificuldade em identificar o efeito da educação e escolaridade no crescimento econômico, ressalvando por outro lado, que o problema pode advir da dificuldade em identificar-se proxies que captem aspectos não observáveis (ou de difícil mensuração) na qualificação do trabalhador, como habilidades inatas ou capacitação adquirida ou fortalecidas no ambiente familiar ou pela qualidade da educação a que se teve acesso.

É oportuno também ressaltar que a literatura econômica é fértil em estudos empíricos que avaliam como as mudanças tecnológicas relacionam-se com transformações no hiato de salário na classe laboral associada à escolaridade da força de trabalho, à experiência profissional dos trabalhadores e à diferença de gênero. Dentre esses vale mencionar Allen (2001), o qual avalia essas interações a partir de dados – abrangendo as décadas de 70 e 80 – relativos a 39 setores econômicos dos EUA. Entre suas constatações é oportuno destacar: i) o hiato salarial ensejado pela experiência profissional é mais expressivo em setores econômicos intensivos em P&D (o que leva o pesquisador a postular que, contrariamente ao senso comum, nesses setores as transformações tecnológicas não necessariamente são desvantajosas para os trabalhadores mais experientes);

ii) o hiato salarial de gênero tende a reduzir-se em setores mais intensivos em tecnologia; iii) há evidências estatísticas de correlação positiva entre o aumento dos investimentos em P&D e a elevação dos salários dos trabalhadores com nível superior de escolaridade;

iv) o impacto da ampliação dos investimentos em P&D tende a aumentar com a experiência dos assalariados e apresentar maior magnitude para as mulheres do que para os trabalhadores do gênero masculino; e

v) o emprego de trabalhadores com nível superior de escolaridade tem se expandido há taxas maiores do que os demais – com a ampliação dos investimentos em P&D – sugerindo a existência de complementaridade entre atividades inovativas e o aumento da qualificação da força de trabalho.

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Neste sentido, consoante Pianta (2004), estudos empíricos (com fundamentação econométrica) têm constatado que a difusão de inovações tecnológicas tende a afetar com mais intensidade as exigências de habilidades dos trabalhadores do que os salários, ressaltando, adicionalmente que estudos cotejando o comportamento dos salários vis a vis a difusão das tecnologias de informação têm considerado (as TICs) como um fator chave na aceleração no processo de ampliação das exigências de capacitação da força de trabalho.

Por outro lado, Pianta ressalta que os salários tendem a ser superiores (à média do mercado) e expandir-se mais rapidamente em indústrias intensivas em tecnologia e, em particular, para os empregados com nível superior de escolaridade ou que utilizam – intensamente -- computadores na execução de suas atividades profissionais.

Nesse contexto é oportuno destacar o papel das chamadas “funções de ganho ou rendimentos” (“earning functions”) as quais constituem uma interessante categoria de ferramentas analíticas para estudar-se o ganho auferido pelos trabalhadores em função do seu grau de escolaridade, nível de qualificação profissional além de características intrínsecas ao setor econômico em que atuam.

Dentre outros variados trabalhos abordando as “earning function” e relação entre salário e investimento ocupacional do trabalhador vale mencionar Shaw, K. (1984) e Heckman, James et al. (2003). Heckman et al. faz uma extensa retrospectiva de modelos de regressões de “earning functions” baseadas na proposta de Mincer enquanto Shaw sugere uma modificação no modelo de Mincer por meio de uma abordagem em que atribui valor à heterogeneidade da experiência acumulada pelo trabalhador, definida pela pesquisadora como “investimento ocupacional”.

Bartolo (1999) define e analisa formulações para “earning functions” investigando suas respectivas relações com o conceito de capital humano proposto na literatura, incorporando novas variáveis ao modelo clássico elaborado por Mincer (1984). Neste sentido, a partir de dados para os EUA, Canadá e Itália, a pesquisadora pôde comprovar os efeitos de variáveis sócio-demográficas na taxa de retorno salarial propiciada aos trabalhadores pela educação.

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recentemente, componentes microeletrônicos), questões como o comportamento da balança comercial, os termos de troca ou competição por inovação vis à vis competição por preços têm ganho destaque entre pesquisadores que examinam o comportamento de fatores e variáveis impactantes dos salários dos trabalhadores.

Assim, por exemplo, conforme Pavcnik et al. (2004), prêmios salariais não são explicados – essencialmente – por meio de características da firma ou do próprio trabalhador, sendo na realidade inerentes ao segmento ou setor econômico ao qual vincula-se esse assalariado, sendo que na avaliação do desempenho desse setor variáveis associadas ao comércio internacional devem ser consideradas.

O impacto das importações sobre os salários foi investigado por Alvarez, R. e Opazo, L. (2008), concluindo quanto a existência de evidência estatística de impacto negativo de importações procedentes da China sobre os salários de trabalhadores da indústria chilena, assinalando contudo que essa influência dá-se de forma heterogênea, consoante o nível de qualificação desses trabalhadores.

O efeito da inovação e intensidade tecnológica na diferenciação salarial foi pesquisado por Diaz-Chao, Ángel (2008), num trabalho empírico para empresas industriais espanholas, constatando a existência de prêmio salarial nas empresas industriais de TIC em torno de 34% relativamente ao salário médio percebido pelos trabalhadores espanhóis qualificados.

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Figura 1: programas mobilizadores da PDP
Figura 2: uma transformação de paradigma tecnológico
Tabela  1:  investimentos  privados  em  P&D  como  proporção  do  PIB:  Europa,  EUA  e  Brasil  (%)
Tabela  3:  comparativo  2000  e  2006  de  indicadores  relativos  aos  principais  segmentos   industriais de TIC sediadas em países membros da OCDE
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