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A indústria de TIC é constituída por segmentos tão distintos quanto a informática (segmento mais conhecido do grande público por incluir os computadores e seus periféricos e que, especialmente com a disseminação dos microcomputadores portáteis tornou-se de uso tão corriqueiro e importante em nosso dia-a-dia quanto os eletrodomésticos); a automação (que inclui desde equipamentos para controle de processos de emprego típico em automação industrial a aparelhos que dinamizam a atividade comercial, particularmente no comércio varejista constituindo a chamada automação comercial); conversão de energia (segmento onde se concentram os aparelhos que viabilizam a operação ininterrupta de outros equipamentos eletrônicos quando da interrupção de energia, como são os No Breaks); as telecomunicações (que com a expansão dos aparelhos portáteis móveis para telecomunicações, com grande capacidade de processamento de informações, tende a eliminar as fronteiras com o segmento de computadores); e ainda, os equipamentos de uso médico hospitalar (como por exemplo, os tomógrafos e os equipamentos de ultrassom, quase que indispensáveis ao exercício da medicina diagnóstica avançada).

Conforme bem assinalado por Vinhais (2010), todos esses segmentos industriais compartilham uma mesma base tecnológica cujo cerne corresponde aos programas de computador (software) e os componentes semicondutores ou componentes microeletrônicos, em que nesses últimos são especialmente importantes os circuitos integrados - CIs, dispositivos que com o avanço tecnológico atingiram um grau de miniaturização e eficiência enérgica que os converteu nos elementos chaves para a transformação das TICs no catalisador de muitas das transformações sócio-econômicas desde o pós-guerra, intensificadas nas duas últimas décadas.

Os investimentos em TIC correspondem a uma parcela expressiva na Formação de Bens de Capital (FBK) da Economia contemporânea, tipicamente representando entre 10 a 25% dos investimentos, ressalvando-se que uma mensuração mais precisa não é questão trivial, havendo a tendência de que esses investimentos sejam subestimados, particularmente pela dificuldade em avaliar os programas de computador e bens de TIC (tais como, por exemplo, computadores ou comandos numéricos) que são incorporados a bens de capital (OECD, ICT Outlook, 2008).

Desde o início do século XXI o setor de TIC tem experimentado importantes transformações estruturais com o crescimento da participação do “software” e dos serviços que tendem a assumir um papel economicamente preponderante, tanto em receita gerada quanto em pessoal empregado. Todavia, a indústria permanece como o elemento impulsionador das inovações e ainda responde por parcela substantiva do crescimento em TIC, permanecendo no cerne das políticas públicas dos países que buscam alcançar ou manter uma posição hegemônica (World Information Technology and Services Alliance – WITSA, 2008).

Conforme Lins (2009), o setor de TIC atua como promotor de ganhos de produtividade nos mais diferentes setores econômicos, em particular pela viabilização de novas formas de organização do trabalho, ensejadas pela expansão da automação, pelo surgimento das comunidades virtuais e pela notável expansão das redes de comunicação (cujo ápice deu-se com a consolidação da Internet, atualmente alcançando escala planetária).

Em 2006, as empresas industriais de TIC empregavam 5,6 milhões de pessoas e alcançaram um faturamento de US$ 1.785 bilhões, sendo que as empresas situadas no âmbito da “Organisation for Economic Cooperation and Development – OECD” responderam por uma parcela de 70% desses postos de trabalho.

Nesse mesmo período os investimentos em P&D das empresas industriais de TIC corresponderam a cerca de 6% do faturamento, com algumas empresas investindo montantes superior ou igual a US$ 5 bilhões (Samsung, IBM, Nokia e Siemens) e entre US$ 3 a 5 bilhões (Ericsson, Cisco e Motorola); enquanto que os investimentos médios nas 1000 firmas mais inovadoras nos demais setores alcançou tão somente 3,8% de suas receitas (Jaruzelski e Dehoff, 2007).

Conforme De Negri, F. e Ribeiro, L.C. (2010, p.7), “O setor de tecnologia da informação e comunicação (TIC) é um dos setores mais intensivos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) e um dos maiores responsáveis pelos investimentos mundiais em P&D [...]”, destacando adicionalmente que na “[...] economia norte-americana, [...], cerca de 35% dos investimentos privados em P&D são feitas por empresas dos setores de TIC”, o que corresponde a uma fração de 0,65% do PIB dos EUA, montante que na Europa alcança 0,31% do respectivo PIB, montantes consideravelmente superiores aos recursos investidos no Brasil,

não obstante a indústria de TIC em nosso País invista o equivalente a 1/4 do total investido por todos os demais setores privados (tabela 1).

Tabela 1: investimentos privados em P&D como proporção do PIB: Europa, EUA e Brasil (%)

EUA EUROPA BRASIL

Setores não vinculados às TICs Setores de TICs Total 1,23 0,65 1,88 0,88 0,31 1,19 0,4 0,1 0,5 Fonte: Lindmark et. al (2008), Ministério da Ciência e Tecnologia e IBGE/Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica - PINTEC apud De Negri, F. e Ribeiro, L.C. (2010).

A partir de 2000 a indústria de TIC vem experimentando uma intensa reestruturação envolvendo incorporações (Compaq pela Hewlet-Packard; Lucent pela Alcatel); aquisições (divisão de microcomputadores da IBM pela chinesa Lenovo); constituição de grandes “joint- ventures” Siemens-Nokia e Sony-Ericsson, que atuam em telefonia celular, infraestrutura e aparelhos telefônicos, respectivamente); colapso de grandes empresas (como foi o caso da canadense Nortel); e mais recentemente, o surgimento de grandes empresas em países emergentes, com destaque para a China (Lenovo, ZTE e Huawei, entre outras).

Uma outra alteração que vem se delineando em paises emergentes -- como é o caso do Brasil --concerne ao surgimento de médias empresas disputando a liderança com transnacionais em mercados domésticos importantes, em nichos específicos, como informática (onde a Positivo Informática disputa a liderança no mercado de microcomputadores com a Hewlett-Packard e a Dell Computadores, enquanto que a Bematech lidera o mercado de impressoras para automação comercial); o mesmo ocorrendo no segmento de automação bancária (em que a brasileira Perto disputa com as norte- americanas NCR e Diebold-Procomp a liderança no mercado de Máquinas Dispensadoras de Cédulas ou “Automatic Teller Machine – ATM’s); ou ainda no segmento de telecomunicações, no nicho de comunicação de dados por meio óptico (em que se pode citar a empresa Padtec, um dos poucos fabricantes de multiplexadores por divisão de comprimento de onda no hemisfério sul, vencedora da primeira licitação para fornecimento de

equipamentos da destinados ao Plano Nacional de Banda Larga - PNBL, promovida ao final de 2010 pela recém reativada Telebrás.

Na seqüência apresenta-se um panorama para a indústria de TIC no Brasil, começando por um retrospecto da evolução das políticas públicas de estímulo a essa indústria, secundado por alguns indicadores recentes relativos aos investimentos em P&D, pessoal empregado nessa atividade e corrente de comércio; em seguida apresenta-se uma síntese do ambiente estruturado e competências em que despontam empresas nacionais com perspectivas ou possibilidades de competição por meio de diferenciação de produtos, construídos com base no modelo atual.

3.1 A INDÚSTRIA BRASILEIRA DE TIC

3.1.1 Evolução da política industrial brasileira de TIC

A adoção no Brasil de políticas públicas objetivando a implantação da indústria de TIC remonta a 1984 quando foi sancionada a Lei no 7.232/84. A Lei no 7.232/84 instituiu a “reserva de mercado” e tinha como premissas viabilizar no País o desenvolvimento e a produção de bens de TIC privilegiando o acesso ao mercado brasileiro a produtos fabricados por empresas com capital nacional, com ênfase no segmento de microcomputadores e periféricos, e de forma geral em segmentos em que houvesse investimento do capital nacional (PIRAGIBE, 1985).

Essa política, contudo não logrou êxito, particularmente em função de ter priorizado o mercado externo e não ter imposto aos empreendedores nacionais contrapartidas de investimento em sistemas da qualidade e especialmente pecou pela não exigência de metas de investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

A opção pelo mercado doméstico refletiu de certa forma o pensamento vigente desde o início da industrialização brasileira até o final da década de 80 de estimular investimentos industriais direcionados à substituição de importações. Com essa abordagem, diferentemente do que ocorreu na Coréia, em Taiwan e mais recentemente, na China, a indústria local não reuniu condições que lhe possibilitasse alcançar ganhos de escala e de escopo, que viabilizasse a oferta ao mercado interno de bens produzidos a preços competitivos, compatíveis com os níveis de preços praticados no mercado internacional, além do modelo de política industrial atuar como inibidor da realização de pesquisa e desenvolvimento.

A combinação de preços elevados com a oferta de produtos defasados comparativamente ao mercado externo, mais a ausência de mecanismos ou instrumentos de crédito (que possibilitasse o consumo desses bens por parcelas crescentes da população) revelou-se fatal para boa parte dos incipientes empreendimentos quando da extinção da reserva de mercado, em 1992, evento que já estava previsto no corpo da Lei no 7.232/84 (FAINZYLBER, 1994).

Na realidade, mesmo antes do encerramento da reserva de mercado, com a abertura comercial implementada no Governo Collor, em 1990, tornou-se patente a necessidade de implantar novos instrumentos de estímulo à fabricação local de bens de TIC, incorporando novas premissas, dentre as quais o tratamento isonômico a investimentos produtivos realizados por empresas de capital estrangeiro com aqueles efetuados por empresas de capital nacional, do que resultou a sanção da Lei no 8.248, de 23 de outubro de 1991.

A Lei no 8.248, de 1991 (Brasil), corresponde a um dos primeiros – senão o primeiro – diploma legal a implantar no Brasil um regime de incentivos fiscais à produção industrial com ênfase no fomento à realização de pesquisa e desenvolvimento. Neste sentido, o benefício consistia na isenção do IPI que incidiria na comercialização dos bens produzidos, estabelecendo como contrapartidas não meramente a realização de investimentos fabris mas sim a obrigatoriedade de que as empresas beneficiárias efetuassem investimentos em pesquisa e desenvolvimento (GARCIA e ROSALINO, 2002).

Foi definido que o regime de incentivos iria vigorar por um período de 7 (sete) anos, estendendo-se de 1993 a 2000 e que as empresas beneficiárias deveriam investir anualmente um montante montante mínimo de 5% (cinco por cento) em atividades de P&D (em projetos de tecnologia da informação e comunicação, ou como eram então denominados, em informática e automação); sendo que desse percentual, pelo menos 2% (dois por cento) deveria ser investimento em projetos externos à empresa realizados com instituições de ensino ou com centros de pesquisa com os quais deveriam firmar convênios.

A legislação estabeleceu que para a manutenção dos incentivos as beneficiárias deveriam anualmente prestar contas ao Ministério da Ciência e Tecnologia reportando os projetos realizados no ano anterior.

Adicionalmente ao incentivo anteriormente mencionado, a Lei no 8.248, de 1991, estabeleceu critérios para o exercício do poder de compra do Estado, por meio da preferência

pela Administração Pública nas compras de bens de TIC desenvolvidos no País, desenvolvidos e produzidos; ou somente produzidos localmente, ainda que com tecnologia de origem externa.

Embora representasse um avanço em relação à legislação anterior – Lei no 7.232, de 1984 – a Lei no 8.248, de 1991, incorreu em três falhas importantes (relativamente ao declarado propósito de promover a competitividade do setor de TIC no País) e que contribuíram para que seu impacto fosse menor do que o planejado, quais sejam: i) a admissão de que os dispêndios das empresas beneficiárias com qualidade fossem equiparados a investimentos em P&D (sem pelo menos o estabelecimento de um limite para essa aplicação substitutiva); ii) a não incorporação ao modelo de fomento a setor de TIC de mecanismos de estímulo à exportação e à inserção internacional; e iii) a ausência de incentivos ou tratamento diferenciado para o desenvolvimento de tecnologia nacional com vistas a promover o esforço de inovação.

Em 2001, a legislação de incentivo à produção no País (consubstanciada na Lei no 8.248, de 1991) sofreu modificações importantes, por meio da aprovação da Lei no 10176/2001 (Brasil), regulamentada pelo Decreto no 3.800/2001, mas que somente surtiu efeitos a partir de 2002 após a aprovação dos primeiros projetos.

As principais alterações introduzidas pela Lei no 10.176, de 2001, com relação à legislação anterior consistiram em: a) exigir das beneficiárias cujo faturamento anual superasse um montante de Ufir 4 milhões a realização de investimentos em convênio com universidades e centros de pesquisa; b) a reavalização do escopo de P&D com vistas a fomentar investimentos direcionados a P&D em TIC, nos termos consagrados na literatura, tendo como referência o Manual Frascatti; c) prorrogação do prazo de vigência dos incentivos até 2009; iv) para que os investimentos externos à empresa fossem válidos, as instituições escolhidas pelas beneficiárias para a realização de convênios deveriam ser previamente credenciadas pelo Comitê da Área de Tecnologia da Informação (CATI), e uma parcela desses investimentos - em convênio - deveriam ser realizados em instituições credenciadas localizadas nas regiões norte, nordeste e centro-oeste (essa exigência foi introduzida com vistas a promover a descentralização dos recursos e ao mesmo tempo estimular as empresas beneficiárias dos incentivos a estabelecer parcerias e descobrir competências fora das regiões sul e sudeste onde se localizam a maior parte das empresas produtoras).

Em 2004, a política tecnológica de estímulo e à produção local de bens de TIC sofreu uma nova alteração com a aprovação da Lei no 11.077/2004.

As principais modificações introduzidas no regime de incentivos fiscais para bens de TIC pela nova lei (relativamente ao ambiente jurídico aprovado pela Lei no 10.176,de 2001) foram nos seguintes aspectos: a) alteração da base de cálculo para o cômputo da contra- partida de investimentos em P&D, que passou a incidir sobre o faturamento auferido pela empresa beneficiária com bens incentivados ao invés de incidir sobre o faturamento total obtido no mercado interno com bens e serviços (o que tendia a reduzir a atratividade do benefício para empresas com receita expressiva em serviços – notadamente serviços de desenvolvimento de programas de computador ou correlatos – ou a induzir tais empresas a segmentar-se em duas outras, uma com foco na indústria e outra com foco em serviços, duplicando estruturas administrativas e com aumento, artificial, de custos e perda de eficiência); b) tratamento diferenciado para os bens desenvolvidos no País comparativamente aos que fossem somente produzidos a partir de tecnologia externa; c) a modificação do valor anual do faturamento a partir do qual as beneficiárias deveriam realizar projetos de P&D em convênio com instituições credenciadas pelo já mencionado CATI, que foi elevado para R$ 15 milhões; d) e por fim, a alteração do prazo de concessão dos incentivos, que foi estendido até 2019.

3.1.2 Panorama atual da indústria brasileira de TIC

Decorridos 17 anos – 1993 a 2010 - da implantação da política de estímulo à indústria de TIC com base no modelo atual, cuja ênfase concerne a adoção de mecanismo de incentivo fiscal (redução tributária) vinculado a compromissos de investimentos mínimos em P&D, não se pode afirmar que o País logrou implantar uma indústria competitiva de TIC, considerando os dados mencionados na introdução relativamente à balança comercial do setor.

Por outro lado, há que se reconhecer que o conjunto de empresas industriais beneficiárias dos incentivos da Lei de Informática tem experimentado uma evolução contínua nos últimos anos, tanto em faturamento quanto na geração de empregos, conforme denotam os dados apresentados na tabela 2, a seguir.

Com efeito, analisando-se o período 2006 a 2009, constata-se que enquanto o PIB brasileiro apresentou uma evolução de 11.3%, o total de empresas incentivadas com fulcro na citada legislação experimentou uma expansão de 68%, enquanto que o faturamento relativo às

empresas incentivadas sofreu uma variação de 28%. Como resultado, houve um aumento da participação relativa do setor industrial de TIC na economia nacional.

Tabela 2: evolução de indicadores das empresas beneficiárias dos incentivos da Lei no 8.248, de 1991, no período 2006 a 2009

Ano 2006 2007 2008 2009

Quantidade de empresas

262 313 370 439

Faturamento total das beneficiárias (R$ milhões) 37.823, 08 42.116,50 49.185,21 48.323,65 PIB2 (R$ milhões) 2.823.067,07 2.995.031,68 3.148.857,55 3.143.014,70 Faturamento/PIB (%) 1,34 1,41 1,56 1,54 Investimentos em P&D (R$ milhões) 425, 17 537,01 633,95 579,07 RH Total RH P&D 55.388 4.108 70.221 5.261 85.087 6.043 96.814 6.746

Fonte: elaboração própria, com base em dados MCT e IPEADATA (2010).

Observa-se no ano de 2009 um decréscimo na receita das beneficiárias possivelmente refletindo os efeitos da crise que assolou a economia mundial, desde o final de 2008 estendendo-se no ano de 2009, e que embora tenha impactado inicialmente (e com mais intensidade) os setores com maior dependência do mercado externo, não deixou de afetar – ainda que aparentemente de forma não muito contundente – todos os setores que prioritária ou exclusivamente atendem ao mercado interno, e para os quais o crédito constitui um componente importante nas vendas dos bens produzidos, como é o caso do setor de TIC.

2 PIB expresso em R$ de 2009 (milhões).

Não obstante tal ressalva não se pode deixar de reconhecer que o parque produtivo brasileiro de TIC experimentou uma expansão expressiva, conforme denotam os indicadores agregados anteriormente apresentados, crescimento este que também pode ser evidenciado pelos seguintes dados:

- pode-se constatar ainda no portal do Ministério da Ciência e Tecnologia que há empresas atuando com tecnologia própria em variada gama de segmentos: comunicação óptica; centrais de comutação privada (PABX); automação bancária; automação comercial; segurança patrimonial; equipamentos médico-hospitalares e aparelhos eletrônicos para o setor automotivo (tais como: rastreadores veiculares, computadores de bordo e alarmes automotivos);

- consoante apontado pela ABINEE, o Brasil deve alcançar em 2011 o posto de terceiro mercado mundial de microcomputadores, com demanda somente inferior aos EUA e à China (estima-se que a produção local de microcomputadores alcançará um volume de 14 milhões de unidades em 2011);

- a maior parte da demanda é atendida pela produção local; com efeito, um olhar mais atento à balança comercial do setor demonstra que grande parte do déficit do setor de TIC decorre da inexistência de oferta local de componentes, e particularmente de componentes semicondutores – sugerindo que esse déficit poder ser potencializado na hipótese de inexistência de oferta local e atendimento total da demanda de equipamentos de TIC por meio de importações, o que poderia facilmente contribuir para uma situação altamente desconfortável no tocante à balança de transações correntes;

- a produção anual de aparelhos telefônicos celulares é superior a 60 milhões de unidades, o que posiciona o Brasil entre os cinco maiores mercados mundiais – sendo esse, aliás, o produto eletrônico de maior volume de exportação nos últimos anos;

- o nível de investimento em P&D do setor de TIC é superior à média do setor produtivo brasileiro, o que evidencia o efeito da política setorial na modificação do comportamento empresarial.

Particularmente no tocante à diversidade da indústria brasileira de TIC, vale mencionar que a diversificação do parque produtivo de TIC não decorre apenas dessa legislação mas reflete os esforços em incentivar o empreendedorismo tecnológico – como por

exemplo, as medidas implementadas para estimular a implantação de incubadoras e parques tecnológicos e o fortalecimento das micro e pequenas empresas de base tecnológica.

Mas a diferenciação de alguns indicadores do setor captados pela PINTEC, relativamente à indústria brasileira em geral, sugere que – não obstante suas limitações a serem discutidas mais a frente - a legislação tem tido um papel ativo na consolidação dessa indústria.

Com relação à localização a indústria brasileira de TIC apresenta atualmente uma boa dispersão motivada particularmente pelo segmento de microcomputadores relativamente ao qual observa-se que há produção em todas as regiões do País, ainda que a maior concentração ocorra na região Sudeste. A desconcentração da fabricação de microcomputadores foi possibilitada pela transformação experimentada por esse segmento produtivo que, a partir de meados da década de 90 sofreu um intenso processo de padronização de seus principais insumos, permitindo que a complexidade técnica fosse transferida para os produtores de componentes, o que ensejou a transformação dos fabricantes de equipamentos – no mundo inteiro e não apenas no Brasil, convém frisar – em montadores de partes ou módulos padronizados (que com a intensificação da agregação de funcionalidades nos componentes semicondutores pôde ser reduzidos a pouquíssimos elementos, factíveis de serem montados com baixo investimento fixo: duas ou três placas eletrônicas, um elemento fornecedor de corrente contínua ou fonte de alimentação, um dispositivo magnético para armazenagem permanente de dados ou unidade disco rígido e um dispositivo óptico ou unidade de disco óptico).

Já em outros segmentos da indústria de TIC a tendência foi no sentido de ampliação da complexidade tanto a nível de seu projeto quanto de sua produção e o aumento da densidade tecnológica, ainda que também venham tenham se beneficiado da disponibilização de circuitos integrados cada vez mais densos, originalmente desenvolvidos tendo como alvo o segmento de microcomputadores.

Tal característica contribuiu para que a fabricação de bens em segmentos como a automação bancária e a automação industrial, telecomunicações ou aparelhos médico- hospitalares se desenvolvessem principalmente em locais que contavam com boas universidades, centros de pesquisa e iniciativas de estímulo ao empreendedorismo tecnológico (incubadoras ou parques tecnológicos), ou todos esses elementos reunidos.

Assim, analisando-se os principais pólos da indústria brasileira de TIC constata-se que – exceto por Manaus e Ilhéus - nestes estão presentes esses fatores anteriormente apontados como catalisadores dos segmentos da indústria de TIC que demandam mais conhecimento e capacitação tecnológica, o que ensejou sua concentração nas seguintes localidades: Belo Horizonte, Campinas, Curitiba, Florianópolis, Ilhéus, Manaus, Porto Alegre, Santa Rita do

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