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Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo, 18(1), 170-172, mar. 2015 http://dx.doi.org/10.1590/1415-4714.2015v18n1p170.13
Psiquiatria de ligação na prática clínica
Diogo Telles Correia Lisboa: Lidel, 2011, 228 págs.
Os mundos da psiquiatria
*1 Universidade de Lisboa (Lisboa, Portugal).
Ana Lúcia Moreira*1
Desde as suas origens que a psiquiatria se constitui em inter-relações. Os tratamentos psicofarmacológicos vieram revolucionar a prática psiquiátrica e, o que mais releva, as perspectivas dos seus beneficiários. Das prisões aos asilos, dos asilos aos hospitais, assiste-se cada vez mais à integração dos doentes em serviços não psiquiátricos. Fruto do aumento de conhecimentos sobre as causas e factores moduladores das doenças psiquiátricas, é hoje possível trabalhar em conjunto com outras especialidades para o melhor tratamento da pessoa no seu todo.
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doenças e apresentações físicas. A este propósito, o coordenador do livro elabora sobre as características, destacando diferenças e semelhanças que se têm estabele-cido em medicina psicossomática e psiquiatria de ligação.
Porque a complexidade dos casos pode complicar a avaliação têm sido validados instrumentos para melhor compreensão dos mesmos. Conhecer as estra-tégias de coping permite ao clínico conhecer melhor o doente e desenvolver com este estratégias potencialmente mais adaptativas; além disso, permite extrapolar para reações a propostas e acontecimentos que possam advir. As escalas dirigidas a uma melhor caracterização dos sintomas ou, mesmo, instrumentos diagnósticos, podem ter reflexo no tratamento. Podem ainda ser colhidos dados sobre adesão tera-pêutica, qualidade de vida, ou outros. Sejam estes colhidos por auto ou heteropreen-chimento são um importante componente na prática clínica e, quando haja interesse, em investigação.
Feita a observação, e porque as doenças médicas concorrem tão frequente-mente com doenças do foro psiquiátrico, pode ser necessária a instituição de psico-fármacos. Há que dirigir a escolha segundo as indicações do fármaco, porém, há que estar igualmente atento aos efeitos adversos e interações medicamentosas. E não só da(s) característica(s) do(s) fármaco(s) depende a resposta. Com o advento dos antipsicóticos atípicos importa relembrar a síndrome metabólica, cujos critérios afinal dependem de vários factores, desde aqueles, a outros fármacos, a aspectos individuais. Ressalta aqui a faceta endocrinológica; neste livro é igualmente destacado o papel da prolactina e, que outro período mais susceptível a modifi-cações hormonais, a gestação. Na prática clínica a mulher grávida com necessi-dade de tratamento psicofarmacológico constitui um dos maiores desafios dada a escassez de estudos relativamente a outras populações. O capítulo “Psicofármacos na gestação” sumariza esses mesmos dados e o leitor é convidado à leitura do artigo que lhe deu origem pelos mesmos autores.
Nem só de psicofármacos se faz psiquiatria de ligação. A intervenção psicológica é crucial no apoio a alguns doentes, como aliás se pode tornar claro após uma cuidada avaliação. Os mecanismos de coping podem elucidar sobre a forma como o doente lida com a sua doença, nas suas crenças, no seu sistema familiar, na comunicação com os outros. Na sua abordagem podem ser promovidas modificações de comportamento que permitam estratégias mais adequadas a uma maior qualidade de vida. Para além do doente, a família, o profissional de saúde, e, em geral, as pessoas envolvidas, bene-ficiam de competências de comunicação. E, relativamente às últimas, este livro não podia deixar de referir o luto patológico e a transmissão de notícias difíceis.
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Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo, 18(1), 170-172, mar. 2015
O livro Psiquiatria de ligação na prática clínica sintetiza conhecimentos de relevo a todos os que queiram exercer ou investigar na abrangente fronteira entre a saúde física e mental.
Citação/Citation: Moreira, A. L.(2015, março). Os mundos da psiquiatria. Resenha do livro
Psiquiatria de ligação na prática clínica. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Funda-mental, 18(1), 170-172.
Editor do artigo/Editor: Profa.Dra. Sonia Leite
Recebido/Received: 24.10.2014/ 10.24.2014 Aceito/Accepted: 13.12.2014 / 12.13.2014
Copyright: © 2009 Associação Universitária de Pesquisa em Psicopatologia Fundamental/ University Association for Research in Fundamental Psychopathology. Este é um artigo de livre acesso, que permite uso irrestrito, distribuição e reprodução em qualquer meio, desde que o autor e a fonte sejam citados / This is an open-access article, which permits unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the original authors and sources are credited.
AnA LúciA MoreirA
Psiquiatra no Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar de Lisboa Norte, EPE; Docente Livre pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (Portugal).